Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Função Social da Escrita e a Alfabetização em Contextos Tecnológicos W B A 0 5 0 3 _ V 1. 0 2/245 A Função Social da Escrita e a Alfabetização em Contextos Tecnológicos Autoria: Fábio Accardo de Freitas Como citar este documento: FREITAS, Fábio Accardo. A função social da escrita e a alfabetização em contextos tecnológicos. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: Linguagem escrita: história e aprendizagem 05 Assista a suas aulas 25 Unidade 2: Educação e cultura digital 33 Assista a suas aulas 51 Unidade 3: Educação a distância (EAD) 59 Assista a suas aulas 83 Unidade 4: Letramento digital 91 Assista a suas aulas 112 2 3/2453 Unidade 5: Alfabetização digital 120 Assista a suas aulas 146 Unidade 6: Educação CTS e alfabetização científica e tecnológica 154 Assista a suas aulas 176 Unidade 7: Ferramentas digitais na educação 184 Assista a suas aulas 208 Unidade 8: Analfabetismo e exclusão digital 216 Assista a suas aulas 237 Sumário A Função Social da Escrita e a Alfabetização em Contextos Tecnológicos Autoria: Fábio Accardo de Freitas Como citar este documento: FREITAS, Fábio Accardo. A função social da escrita e a alfabetização em contextos tecnológicos. Valinhos: 2017. 4/245 Apresentação da Disciplina A disciplina “Função Social da Escrita e a Alfabetização em Contextos Tecnológicos” tem como objetivo apresentar como as mu- danças sociais e tecnológicas impactaram nos usos, nas habilidades e funções da es- crita em cada período histórico, tendo como foco principal as transformações que as tec- nologias da informação e da comunicação (TICs), nas últimas décadas, trouxeram para os processos educativos no mundo atual. Esta disciplina traz, então, os debates, as discussões e teorias que têm contribuído para pensar as práticas de alfabetização e letramento na cultura digital, a partir do uso das TICs, nos processos educativos do cotidiano escolar. São apresentadas tam- bém algumas experiências práticas a par- tir de relatos e pesquisas realizados nessas áreas do conhecimento. Assim, nas diversas unidades desta discipli- na você poderá ler, estudar e refletir sobre a necessidade de se pensar na relação entre a tecnologia e educação nos processos de alfabetização e letramento. Você verá um pouco sobre a alfabetização digital, o letra- mento digital, as metodologias, práticas e ferramentas que podem contribuir nos pro- cessos educativos na cultura digital. Esperamos que os textos desta disciplina contribuam com o desafio de inserirmos as novas tecnologias na prática educativa, uma vez que nós, educadores e educadoras, ainda estamos aprendendo a construir no- vas relações pedagógicas, dentro do con- texto da cultura digital, com a presenças das TICs. 5/245 Unidade 1 Linguagem escrita: história e aprendizagem Objetivos 1. Apresentar um breve histórico da constituição social e histórica do sis- tema da escrita. 2. Discorrer sobre o desenvolvimento da linguagem e os processos de compre- ensão do sistema de representação da escrita. 3. Distinguir as concepções de alfabeti- zação e letramento e a necessidades de estas serem vistas de modo rela- cionadas. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem6/245 Introdução Nascemos e vivemos em um mundo onde a linguagem escrita está presente o tem- po todo. As letras, as palavras escritas, fa- zem parte da nossa vida desde pequenos e se apresentam como algo natural. Por essa vivência cotidiana pouco nos perguntamos sobre a escrita: para que serve? Quais usos fazemos dela? Quais funções sociais cum- prem? Como surgiu? Como aprendemos a ler e escrever? São perguntas que ajudarão você a refletir sobre a escrita, sua história, a importân- cia dela na sociedade, o modo como se de- senvolve a linguagem escrita nas crianças e adultos. Assim, analisar a língua escrita é também pensar sobre como a sociedade está organizada. Este é um dos caminhos que você percorrerá neste texto, uma vez que há uma relação bastante forte entre o desenvolvimento da língua escrita na hu- manidade, as formas de organização da so- ciedade e os usos e funções sociais dela na história e no mundo atual. Nesta primeira unidade, você verá, de modo introdutório, alguns desses elementos, com o objetivo de ajudar a compreender o mo- mento atual e as novas questões que o con- texto tecnológico tem nos colocado sobre os usos e as necessidades da escrita, objeti- vo desta disciplina. Na sociedade da cultu- ra escrita, aprender a ler e escrever se torna uma necessidade de preparação para a vida e pressuposto para o aprendizado de novas linguagens. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem7/245 2. História e função social da es- crita Pertencer a uma cultura escrita se apresen- ta como muito mais do que apenas saber ler e escrever. A cultura escrita está relaciona- da ao modo de organização e produção da sociedade e a relação entre as pessoas que vivem nessa sociedade. Por esse motivo, ao olhar para a história da escrita desde a sua origem, é interessante sempre relacionar as funções sociais que ela desempenhou e tem desempenhado. Diferente do que acredita o senso comum, a escrita não teve, em sua origem, função principal de comunicação. Os primeiros re- gistros escritos encontrados datam de mais de cinco mil anos atrás. Foram encontrados na região da Suméria (atual Iraque, antiga Mesopotâmia) e mostram o registro de pro- priedade de bens e objetos e a contabilidade destes como controle do fluxo do comércio. A região era rota de mercadorias e dessa necessidade de controlar o fluxo de merca- dorias foi se conformando um tipo de escri- ta para registro das transações comerciais. Link Reportagem sobre os mais antigos registros escritos encontrados e qual é a função da escrita naquela sociedade. BBC BRASIL. O que diz o primeiro documento escrito da história. 2017. Disponível em: <http:// www.bbc.com/portuguese/geral-39842626>. Acesso em: 28 set. 2017. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem8/245 Britto (2005) diz que a escrita surge como poder. Tem função de registro para garantir a propriedade, a posse, o controle das mer- cadorias e o estabelecimento de normas e procedimentos. A escrita possibilitou a pro- dução de sociedades regradas e normatiza- das, tendo relação direta com a organização do trabalho, da produção, da economia e do comércio. Uma segunda característica da escrita em sua origem, segundo o mesmo autor, é a da organização do pensamento e expansão da memória. Os registros ou arte rupestres nas superfícies rochosas, dentro ou fora das cavernas, como uma escrita pictográfica, simbolizavam através de um desenho figu- rativo ou estilizado uma ideia, uma ação ou um acontecimento. Este é um primeiro mo- mento de organização do pensamento, ten- tando representar acontecimentos da reali- dade. No desenvolvimento da linguagem escrita, a humanidade produziu diversos sistemas de escrita. O sistema alfabético que usamos é um dos sistemas possíveis que foram cons- truídos na história. Atualmente, coexistem os sistemas ideográficos, que representam ideias, e os sistemas fonográficos, que re- presentam os sons da fala. São os dois tipos mais comuns no mundo hoje, que podemos encontrar, por exemplo, no alfabeto chinês e no português, respectivamente. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem9/245 Com o desenvolvimento dos sistemas de es- crita, a humanidade pôde, então, organizar a fala e o pensamento em registros escritos. A escrita torna-se uma importante tecno- logia de registro da memória, guardando ideias, raciocínios e informações fora do corpo humano. Esses aspectosda escrita, como registro, organização do pensamento e da expansão da memória, contribuíram para o desenvol- vimento do pensamento moderno, como fi- losofia ou como ciência (BRITTO, 2005). Para as sociedades modernas, o desenvolvimen- to da ciência teve uma grande importância e modificou o modo como se organizam as sociedades até hoje. A cultura escrita também tem impacto di- reto para se pensar na educação. Enquanto Link No vídeo, dividido em duas partes, podemos ver um pouco mais sobre a história da escrita como um bem cultural socialmente constituído e historicamente produzido. Parte 1: Construção da Escrita - parte 1. Direção de Fernando Passos. Roteiro: Fernando Passos. [s.i.]: Mec, 2010. 9 min., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=oXoGEHyGQzY>. Acesso em: 28 set. 2017. Parte 2: Construção da Escrita - parte 2. Dire- ção de Fernando Passos. Roteiro: Fernando Pas- sos. [s.i.]: Mec, 2010. 6 min., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BAzeoLfQerM>. Acesso em: 28 set. 2010. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem10/245 uma técnica de representação simbólica da fala e das ideias, ela sempre esteve restrita a poucos grupos de pessoas. Aquele que fala e que detém a técnica da escrita tem poder sobre os outros (BRANDÃO, 1984). Com as transformações tecnológicas nas revoluções industriais do século XIX e o ad- vento da maquinaria moderna, o modo de organização da sociedade e da produção industrial começa a exigir um tipo de traba- lhador mais qualificado, com responsabili- dade de supervisionar e gerir a produtivida- de dentro da indústria nascente. É nesse período também que a importância do ensino da escrita se amplia como forma- ção de uma mão de obra com algum conhe- cimento para atender às necessidades do mercado. Com a invenção da imprensa, o desenvolvimento das ciências e a organiza- ção das escolas modernas, ganha relevância a ideia de uma universalização da educação e da alfabetização de crianças e adultos. 3. Desenvolvimento da lingua- gem e aquisição da escrita Podemos dizer que vivemos, atualmente, em uma sociedade letrada, ou que vivencia- mos uma cultura da escrita, na qual o lugar simbólico e material da escrita tem uma im- portância muito grande nas relações sociais e na organização e produção de nossa so- ciedade. Diante dessa importância, aprender a ler e escrever tornou-se uma demanda e um di- reito de todo cidadão. A educação como di- Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem11/245 reito e a demanda social de saber a língua escrita criam a necessidade de se pensar práticas pedagógicas para o ensino da lei- tura e da escrita. Os sistemas de escritas que se desenvol- veram na história da humanidade e que se apresentam tão naturais hoje foram o obje- to de estudo de muitos filósofos, psicólogos, sociólogos e educadores, a fim de compre- ender como se dá o processo de desenvol- vimento da linguagem e da aquisição da escrita nos seres humanos. Vygotsky e Emi- lia Ferreiro são dois desses teóricos que se debruçaram sobre o processo de desenvol- vimento da linguagem escrita. A partir das proposições deles, você verá como pode- mos relacionar o aprendizado da linguagem escrita e as práticas educativas. Para saber mais Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934), psicólo- go russo, desenvolveu a teoria que compreende que as relações sociais, as condições de vida e o contexto cultural em que estão inseridas as crian- ças têm relação direta com o desenvolvimento in- telectual delas. Tendo feito uma leitura crítica da produção teórica da sua época, propôs uma re- organização da psicologia, a partir do materialis- mo histórico, criando o que se tornou conhecida como a Psicologia Histórico-Cultural. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem12/245 3.1 Aprendizado do sistema de representação da escrita Foi a descoberta de que se pode represen- tar com símbolos, além das coisas e objetos, também a fala e os sons, que proporcionou à humanidade a criação de um método de escrita por letras, palavras e frases. Como objeto de estudo de Vigotsky e Emilia Fer- reiro, eles se debruçaram para saber os mo- dos como as crianças aprendem a lingua- gem escrita. Para os dois teóricos, o desenvolvimento da alfabetização ocorre em um ambiente so- cial. Para Vygotsky (1998), a criança já nas- ce em um mundo social e vai formando sua visão sobre o mundo a partir da interação com adultos e outras crianças. Esse ambien- Para saber mais Emilia Beatriz María Ferreiro Schavi (1937), psicó- loga e pedagoga argentina, se tornou referência no campo da educação por desvendar os meca- nismos pelos quais as crianças aprendem a ler e escrever. Trabalhou e estudou com Jean Piaget (1896-1980), biólogo e psicólogo suíço, que se preocupou com os processos de aquisição e ela- boração de conhecimento pela criança. As desco- bertas de Emilia e Piaget revelam que as crianças têm um papel ativo no aprendizado, construindo o próprio conhecimento, daí serem chamados de teóricos do Construtivismo. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem13/245 te social tem influência sobre o desenvolvi- mento da criança e, variando o ambiente, também variará o caminho de desenvolvi- mento. Portanto, não há uma um tipo uni- versal de desenvolvimento para todos os seres humanos. Emilia Ferreiro (1987) também coloca a im- portância do ambiente social, e diz que as práticas e relações sociais, assim como as informações, não são recebidas de forma passiva pelas crianças. Estas são ativas no seu processo de conhecimento, o que im- plica um tipo de prática pedagógica que se centre no sujeito do aprendizado, na criança e na relação que ela estabelece com o con- teúdo a ser apreendido. Para ambos, aprender a ler e a escrever não é mero aprendizado da língua escrita como um código que deve ser memorizado. Como vimos anteriormente, a invenção da escri- ta foi um processo histórico de construção de um sistema de representação. Assim, os dois autores afirmam que as crianças pre- cisam aprender o processo de construção desse sistema de representação, ou seja, precisam aprender o sistema da escrita, e não o código. Dessa maneira, colocam que o processo pelo qual passam as crianças se assemelham às dificuldades encontradas pela humanidade no processo histórico de construção desse sistema da escrita. Vygotsky (1998), em seus estudos, diz que há uma ligação entre a brincadeira de faz de conta, o desenho e a escrita como momen- tos diferentes do processo de desenvolvi- mento de linguagem escrita. Nesse sentido, Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem14/245 as primeiras relações estabelecidas pelas crianças são dos gestos como signos vi- suais, em que elas vão “demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos de- senhos; os traços constituem somente um suplemento a essa representação gestual” (VYGOTSKY, 1998, p. 142). A relação dos gestos e a linguagem escrita é vista também nas brincadeiras de faz de conta das crianças. Nessa relação, um ob- jeto pode denotar outro, tornando-se seu signo. A criança desenvolve um sistema complexo de “fala” através de gestos que, ao contar uma história com ajuda de ob- jetos, com facilidade ela conseguem “ler” a história. Dessa maneira, a representação simbólica do objeto na brincadeira de faz de conta já é uma forma de linguagem que, mais tarde, levará à linguagem escrita. Vygotsky também observa a relação do simbolismo no desenho. Nesse aspecto, re- laciona a linguagem falada com o desenho. Elas desenham como falam, contando uma história, na qual o desenho se apresenta como uma linguagem gráfica da linguagemverbal (VYGOTSKY, 1998). Gradualmente, segundo o autor, as crianças transformam traços indiferenciados, rabiscos, em figu- ras, desenhos e, depois, em signos. O de- senvolvimento disso é o entendimento e a criação de sinais escritos representativos dos símbolos falados das palavras. Esse é o momento de compreensão do sistema da linguagem escrita pelas crianças. Assim, o autor coloca algumas preocupa- ções com as implicações práticas dessas Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem15/245 descobertas. Diz, em resumo, sobre a im- portância de se ensinar às crianças a lingua- gem escrita, e não apenas a escrita das le- tras. Ao compreender esse processo interno da linguagem escrita e do sistema de signos e representações, o autor entende que não se pode pensar em um ensino mecânico de uma habilidade de aprender o código escri- to, mas que é necessário às crianças com- preenderem o processo de construção do sistema de representação da linguagem es- crita. Emilia Ferreiro (1987) compreende, da mes- ma maneira, que o conhecimento de língua escrita não se reduz ao conhecimento das letras. Suas discussões tratam da impor- tância de que possamos compreender que o aprendizado da língua escrita é um proces- so ativo e criativo de representação da lin- guagem, que não podemos confundir como um processo de codificação. Essa diferen- ciação traz novos elementos para se pensar a prática pedagógica da alfabetização. Link Neste artigo, você poderá aprofundar um pou- co mais como Emilia Ferreiro entende o processo pelo qual passa as crianças para a compreensão do sistema de representação da escrita. FERREIRO, Emilia. A representação da linguagem e o processo de alfabetização. Cad. Pesq., São Paulo, n. 52, p. 7-17, fev. 1985. Disponível em: <http://www.fcc.org. br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/679.pdf>. Acesso em: 30 set. 2017. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem16/245 A autora relembra que a invenção da escri- ta foi um processo histórico de construção de um sistema de representação e que, no processo de desenvolvimento da lingua- gem escrita, “as dificuldades que as crian- ças enfrentam são dificuldades conceituais semelhantes às da construção do sistema” (FERREIRO, 1987, p. 12). A partir dessa per- cepção, a autora diz que a criança reinventa os sistemas de escrita no seu processo de aprendizagem, pois são processos de des- cobertas e relações de como se realiza a re- presentação da língua escrita. Dessa maneira, aponta que as discussões tradicionais sobre o método utilizado para alfabetizar não levam em consideração as concepções que as crianças têm sobre o sistema de escrita. Assim como Vygotsky, Emilia entende que os métodos tradicio- nais estão preocupados com o aprendizado da técnica, das letras, e não com o proces- so pelo qual as crianças compreendem esse sistema de representação. Diante disso, a autora coloca os processos pelos quais passam as crianças no aprendi- zado da língua escrita. Diz que são nas suas produções espontâneas que as crianças vão apresentando como estão compreendendo esse sistema. As primeiras escritas infantis aparecem graficamente como linhas onduladas, bo- linhas, traços em zigue-zague. Importa, nesse momento, compreender os aspectos construtivos dessas escritas, ou seja, o que as crianças quiseram representar e os meios utilizados para diferenciar as representa- Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem17/245 ções. Aos poucos, as crianças vão passando do desenhar ao escrever. Mesmo que ainda desenhem, vão ordenando linearmente as formas, compondo ideias e, por muitas ve- zes, já com grafismos que não reproduzem o real, mas certo tipo de “letras”. Elas não inventam letras novas, pois as re- cebem da sociedade e as adotam. O esforço delas é de ir construindo formas de diferen- ciação das letras e grafismos para diferen- ciar as escritas. A quantidade de letras ou a variação entre elas muda de uma palavra para outra. O passo seguinte é a diferen- ciação das escritas para dizer coisas dife- rentes. No entanto, é “a atenção às proprie- dades sonoras do significante que marca o ingresso no terceiro grande período dessa evolução” (FERREIRO, 1987, p. 24). Inicia-se o período silábico, de relação entre letras e sílabas e, depois, a desconstrução das síla- bas em elementos menores, entrando aí no último passo da compreensão do sistema de escrita socialmente estabelecido. Tanto para Vygotsky quanto para Emilia Fer- reiro, a criança já nasce imersa na cultura da escrita. O ambiente social e as relações das crianças com adultos e outras crianças dão suporte para compreender que a língua escrita são mais que letras e palavras, e seu aprendizado é mais do que a habilidade de repetir o código, mas o esforço de compre- ensão de um sistema de representação. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem18/245 4. Alfabetização e letramento No senso comum, entende-se que alfabe- tização é o processo de ensinar e aprender a ler e escrever. Contudo, essa concepção silencia que aprender a ler e escrever se dá dentro de um contexto social específico e que é necessário saber fazer o uso da leitura e da escrita demandado pelas situações so- ciais em que adultos e crianças vivem. Como vimos anteriormente, a língua escrita é um sistema de representação socialmente constituído e foi historicamente produzido. Da mesma maneira, vimos que o processo de desenvolvimento da linguagem se dá em um ambiente social, na relação entre adul- tos e crianças, que vão aos poucos com- preendendo e desenvolvendo o sistema de representação da escrita. Assim, é também socialmente que devemos pensar a função da escrita e seus usos. Paulo Freire foi quem, no Brasil, colocou essa problemática a partir da preocupação da alfabetização de jovens e adultos. Colo- cava a necessidade de pensar a educação dentro do seu contexto social, imerso nas práticas e nos saberes do povo, com fins a compreensão dos problemas da socieda- de e da ação dos sujeitos para transformar a realidade. Dessa maneira, alfabetização apresenta-se mais do que aprender a ler e escrever, mas aprender a usar esse conhe- cimento no mundo para tentar modificá-lo. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem19/245 Diante dessas preocupações, entre os edu- cadores foi-se criando concepções diferen- tes entre, de um lado, aprender a ler e es- crever, e de outro, saber usar a língua escri- ta para as necessidades sociais cotidianas. Passou-se a chamar alfabetização somente a aprendizagem do sistema de representa- ção da língua escrita, o comum “aprender a ler e escrever”. Por outro lado, deram nome de letramento o desenvolvimento de habili- dades de uso da leitura e da escrita. Para saber mais Paulo Freire (1921-1997) foi um educador per- nambucano que, a partir das reflexões sobre suas experiências com a alfabetização de jovens e adul- tos, foi construindo a sua proposta pedagógica, a Pedagogia do Oprimido. Esta tem por centralida- de o diálogo entre educador e educando, media- do pelo contexto social em que estão inseridos e os saberes de cada um sobre o mundo, elementos básicos para o processo educativo libertador. Link Sobre a discussão de Alfabetização e Letramento vale a pena consultar o artigo de Magda Soares. SOARES, Magda. Letramento e Alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, n. 25, p. 5-17, jan./abr. 2004. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf>. Acesso em: 30 set. 2017. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem20/245 No entanto, segundo Soares (2004), não podemos perder de vista que o aprendiza- do da língua escrita precisaser visto como um processo complexo em que a alfabeti- zação esteja intrinsecamente relacionada com os usos que se pode fazer da língua es- crita, ou seja, com o letramento. Ainda que sejam termos distintos para processos que têm suas especificidades, separá-los tem sido um erro recorrente, que leva a crianças e adultos a não compreenderem a comple- xidade do sistema de representação e as funções da língua escrita em nossa cultura. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem21/245 Glossário Alfabeto: do grego alphabetos, significa um conjunto de letras de um sistema de escrita. Cultura escrita: lugar simbólico e material que a escrita ocupa na vida de uma sociedade. Sistema de escrita: socialmente constituído e historicamente produzido, é um sistema de repre- sentação criado para registrar visualmente, a partir de signos (letras) e sons (fonemas) da língua falada. Questão reflexão ? para 22/#pg Viver em uma sociedade da cultura escrita é conviver em todos os momentos da vida com a linguagem es- crita. Você viu, nesta unidade, que a história da escrita está relacionada à maneira como as sociedades se or- ganizaram ao longo da história da humanidade, e que a linguagem escrita passou a fazer parte de todas as rela- ções sociais. Escreva um pequeno texto reflexivo sobre a importância da linguagem escrita hoje e as dificulda- des enfrentadas por aquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de aprender a ler e escrever. 23/245 Considerações Finais • A cultura escrita está relacionada com o modo de organização da sociedade e a relação entre as pessoas que vivem nessa sociedade. • A escrita surge como poder, com função de registro de propriedade, posse, controle das mercadorias e estabelecimento de normas e procedimentos, tendo relação direta com a organização do trabalho, da produção, da eco- nomia e do comércio. • A escrita teve impacto na organização do pensamento e expansão da me- mória, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento moderno, principalmente a ciência. • O desenvolvimento e a aquisição da linguagem escrita ocorre em um am- biente social. • O aprendizado da língua escrita é a compreensão do processo de constru- ção do sistema de representação da linguagem escrita. • Considera-se alfabetização somente a aprendizagem do sistema de repre- sentação da língua escrita. Por letramento, entende-se o desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita. Contudo, os dois processos estão intrinsecamente relacionados e não podem ser pensados separada- mente. Unidade 1 • Linguagem escrita: história e aprendizagem24/245 Referências BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Educação Popular. São Paulo: Brasiliense, 1984. BRITTO, Luiz Percival Leme. Educação infantil e cultura escrita. In: FARIA, Ana Lúcia Goulart; MELLO, Suely Amaral (Orgs.). Linguagens infantis: outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. p. 7-16. FERREIRO, Emilia. A representação da linguagem e o processo de alfabetização. In: ________. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1987. p. 9-41. SOARES, Magda. Letramento e Alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, n. 25, p. 5-17, jan./abr. 2004. VYGOTSKY, Lev Semenovitch. A pré-história da linguagem escrita. In: _______. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 139-157. 25/245 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Linguagem Escrita: História e Aprendizagem. Bloco I Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 99267c423a719681b3ab40d7acc2ffee>. Aula 1 - Tema: Linguagem Escrita: História e Aprendizagem. Bloco II Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/1b- c52a3c8c20c048f174062838656006>. 26/245 1. O pertencimento a uma cultura escrita significa: a) Aprender somente a ler e escrever. b) Usar e praticar a leitura e escrita. c) Conhecer as letras. d) Compreender a relação entre o modo de organização da sociedade e a linguagem escrita nas relações cotidianas. e) Saber o sistema de representação da linguagem escrita. Questão 1 27/245 2. Na história da escrita, qual é a sua primeira função: a) Comunicação. b) Memória. c) Literatura. d) Contar histórias. e) Poder. Questão 2 28/245 3. Para Vygotsky e Emilia Ferreiro, o desenvolvimento e a aprendizagem da linguagem escrita se dão em um ambiente social. Os dois autores en- tendem que aprender a ler e escrever é: a) Memorizar o código escrito. b) Compreender o processo de construção do sistema de representação da escrita. c) Aprendizado da técnica da escrita. d) Aprender as letras e sua relação com os sons. e) Processo mecânico e visual de decorar as letras. Questão 3 29/245 4. Tem se compreendido alfabetização como: a) Processo educativo de ensinar o alfabeto. b) Processo educativo de ensinar as letras. c) Processo educativo de ensinar o sistema de representação da língua escrita. d) Processo educativo de desenvolvimento das habilidades de uso da leitura e da escrita. e) Processo educativo de ensinar a história da escrita. Questão 4 30/245 5. Tem se compreendido letramento como: a) Desenvolvimento das habilidades de uso da leitura e da escrita. b) Aprendizagem do sistema da escrita. c) Compreensão da técnica da linguagem escrita. d) Memorização do código escrito. e) Aprender as letras e com elas formar palavras e frases. Questão 5 31/245 Gabarito 1. Resposta: D. Pertencer a uma cultura escrita se apresen- ta como muito mais do que apenas saber ler e escrever. A cultura escrita está relaciona- da com o modo de organização e produção da sociedade e a relação entre as pessoas que vivem nessa sociedade. 2. Resposta: E. A escrita surge como poder. Tem função de registro para garantir a propriedade, pos- se, controle das mercadorias e o estabele- cimento de normas e procedimentos. A es- crita possibilitou a produção de sociedades regradas e normatizadas, tendo relação di- reta com a organização do trabalho, da pro- dução, da economia e do comércio. 3. Resposta: B. Para ambos, aprender a ler e a escrever não é mero aprendizado da língua escrita como um código que deve ser memorizado. Os dois autores afirmam que as crianças pre- cisam aprender o processo de construção desse sistema de representação, ou seja, precisam aprender o sistema da escrita, e não o código. 4. Resposta: C. Passou-se a chamar alfabetização somente a aprendizagem do sistema de representa- ção da língua escrita, o comum “aprender a ler e escrever”. 32/245 Gabarito 5. Resposta: A. Deram nome de letramento ao desenvolvi- mento de habilidades de uso da leitura e da escrita. 33/245 Unidade 2 Educação e cultura digital Objetivos 1. Introduzir o debate sobre o conceito de cultura digital. 2. Apresentar um breve panorama do desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação. 3. Refletir sobre os impactos da cultura digital para a educação. Unidade 2 • Educação e cultura digital34/245 Introdução Você está lendo este texto agora, provavel- mente, na tela de um computador, tablet ou smartphone, certo? Pode ser que, ao mes- mo tempo que esteja aqui estudando, es- teja navegando em algumas redes sociais. Verdade? Uma mensagem deve ter chegado neste momento no seu celular e você teve que desligar seu rádio que toca via bluetooth para se concentrar na leitura. Acertei? Mas o que isso tudo significa? Vivemos, hoje, imersos em uma sociedade na qual as nossas ações conformam os usos e as invenções das tecnologias,ao mesmo tempo em que as tecnologias têm configu- rado os nossos modos de viver. As chama- das tecnologias digitais estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano, caracterizan- do o que se tem chamado de uma cultura digital. No entanto, o que é cultura digital? Quais são os impactos dela para a área da educação? Na primeira unidade, você pôde refletir so- bre a cultura escrita, seu desenvolvimen- to histórico e os modos como as pessoas aprendem e lidam com a escrita e a leitura. Nesta unidade, partimos da ideia da cultura e da linguagem escrita como pressuposto para entendermos o contexto tecnológico atual e quais são os impactos nos processos de aprendizagem, na educação e a necessi- dade do aprendizado das novas linguagens da cultura digital. Unidade 2 • Educação e cultura digital35/245 1. Cultura digital Se lembrarmos do que estudamos na pri- meira unidade, vimos que a língua escrita é um sistema de representação socialmente constituído e foi historicamente produzido. Vale recordar que a construção da lingua- gem escrita teve como uma das consequên- cias principais a organização do pensamen- to, modificando os processos cognitivos e discursivos das pessoas, possibilitando o desenvolvimento da ciência, por exemplo. Você pôde ver como, nos diversos momen- tos da história da humanidade, dependendo das necessidades e das condições materiais que tinham, homens e mulheres produzi- ram tipos de linguagens, culturas e pensa- mentos sobre o mundo. Da mesma maneira, para falarmos sobre a cultura digital, precisamos compreender as mudanças ocorridas na nossa sociedade e quais elementos contemporâneos têm evi- denciado características desse novo con- texto tecnológico. O que seria, então, essa tal cultura digital? Cultura digital demarca uma época em que as relações humanas têm sido mediadas pelas tecnologias da informação e comuni- cações (TICs). A esse conceito se relacionam outros, como era digital, revolução tecno- científica, sociedade em rede (CASTELLS, 1999), sociedade da informação, cibercul- tura (LÉVY, 2009) etc., utilizado por diversos pensadores e pensadoras ao refletirem so- bre esse novo contexto. Unidade 2 • Educação e cultura digital36/245 A ideia de uma cultura digital remete à questão de que, como disse Gilberto Gil (2004) quando ainda era Ministro da Cul- tura, a revolução das tecnologias digitais é, em essência, cultural, o que implica dizer que as mudanças nas sociedades implicam novas tecnologias e que o uso das tecnolo- gias muda os comportamentos das pessoas. Dessa maneira, fazer parte de uma cultura nos remete ao modo de como as pessoas agem, pensam e se organizam para produ- zir e reproduzir a sua existência num deter- minado momento histórico. A cultura digital é vista como um fenôme- no histórico que aparece como respostas às necessidades do capitalismo moderno do século XX, ao mesmo tempo que se articu- la com as exigências dos conflitos militares desse mesmo século (CASTELLS, 1999). No curso histórico do capitalismo, a conquista de novos territórios, a exploração dos re- cursos humanos e naturais, a expansão dos mercados consumidores e o domínio políti- Para saber mais Nascido em 1956, na Tunísia, Pierre Lévy é profes- sor do Departamento de Hipermídia da Univer- sidade de Paris 8. Com mestrado em História da Ciência, o filósofo e sociólogo realiza pesquisas e estudos nas áreas da ciência da informação e da comunicação, e os impactos das tecnologias e da internet na sociedade. Duas de suas principais obras são As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática e Cibercul- tura. Unidade 2 • Educação e cultura digital37/245 co e econômico de países sobre outros re- configuraram as noções de tempo e espaço, assim como as necessidades de comuni- cação e circulação de informação (HOBS- BAWM, 1996). Na ideia de um mundo globalizado, em fluxo constante de trocas de mercadorias e infor- mações, foram se criando tipos de relações que demandaram a criação de tecnologias de comunicação a longas distâncias e que pudessem computar diversos dados ao mesmo tempo. O telégrafo, o rádio, o tele- fone, o computador e a internet são tecno- logias que simbolizam essas necessidades de comunicação entre as diversas áreas do globo, a fim de controle dos processos eco- nômicos, políticos e sociais (HOBSBAWN, 1996). Para Castells (1999), foi no processo da Se- gunda Guerra Mundial que as tecnologias em eletrônica e computacional tomaram forma. O código binário foi utilizado nesse momento como aparato lógico dos algorit- mos por Alan Turing, matemático e cientista da computação, para quebrar os códigos de guerra, ficando conhecido como os primei- ros passos do que viriam a ser as máquinas modernas de computar dados, ou seja, os computadores. Porém, para o mesmo autor, apesar desse momento e das tecnologias que ali surgi- ram serem o cerne do que chama de revolu- ção da tecnologia da informação, somente na década de 1970 que essas tecnologias se difundiram amplamente. Em tempo, muito rápido se desenvolveram e puderam con- Unidade 2 • Educação e cultura digital38/245 verter-se em um novo paradigma na socie- dade contemporânea. A partir dos anos 1970, muitos pensadores vão analisar os eventos da chamada Revolu- ção Tecnocientífica, ou seja, uma complexa relação entre a produção de conhecimento e informação, a partir da ciência, e o desen- volvimento de tecnologias para a produção e comunicação em nível global. O pós-guer- ra, a crise do capitalismo e a necessidade de se reconstruir globalmente mercados pro- dutores e consumidores efetivam uma cor- rida tecnológica capaz de interligar o globo em processos de comunicação instantâne- as. A sociedade em rede (CASTELLS, 1999) é esse momento em que as tecnologias da informação e comunicação possibilitaram conectar o mundo em um novo sistema de comunicação que muda completamente a relação espaço-tempo. Em diversos locais do globo, as pessoas se conectam e podem se comunicar instantaneamente. As novas tecnologias da informação permi- tem a criação dessa rede virtual de comu- nicação e circulação de dados, documentos, textos, vídeos e áudios, transformados em códigos digitais, conformando o que Lévy (2009) chamou do ciberespaço. Unidade 2 • Educação e cultura digital39/245 Tanto para Castells (1999) quanto para Lévy (2009), a partir dos anos 1970, mas princi- palmente dos anos 1990, as transforma- ções que se sucederam foram possibilitadas por esse conjunto de tecnologias que se ex- pandiram e se conectaram mediante uma linguagem digital comum, na qual a infor- mação pode ser gerada, processada, trans- mitida e armazenada, ou seja, um mundo que se tornou digital. Não podemos entender o desenvolvimen- to da tecnologia como um processo linear e evolutivo. A melhor tecnologia não é a últi- ma a ser inventada. Veremos um pouco mais sobre essa discussão sobre as relações en- tre ciência, tecnologia e sociedade na Uni- dade 6 deste curso. Por ora, precisamos ter em mente que a tecnologia carrega consigo Para saber mais Ciberespaço é “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (...), na medida em que transmitem in- formações. Consiste de uma realidade multidire- cional, artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por computadores que funcio- nam como meios de geração de acesso” (LÉVY, 2009, p. 92). Unidade 2 • Educação e cultura digital40/245 interesses e valores e expressa as necessi- dades e capacidades técnicas de momentos específicos da história. Contudo, Castells (1999) afirmaque a cen- tralidade dessa revolução tecnológica não está no conhecimento e na informação, mas na aplicação destes para a geração de novos conhecimentos e de dispositivos de proces- samento e comunicação da informação, em um ciclo de realimentação entre inovação e seu uso. Assim, algumas características desse novo paradigma são, segundo Castells (1999): (a) a informação é a matéria-prima sobre a qual as tecnologias agem; (b) possibilitou-se a criação de um sistema mundial em rede, e a lógica de redes pode ser vista em qualquer sistema ou conjunto de relações; e (c) a alta penetrabilidade dos efeitos das novas tec- nologias na vida das pessoas, ou seja, todos os processos da nossa existência individual e coletiva são mediados pela informação, por isso, nesse momento histórico, somos diretamente conformados (mas não deter- minados) pelos novos meios tecnológicos. Queremos dizer com isso que o âmbito da comunicação eletrônica nos aparece como normal, hoje, em todos os momentos das nossas vidas. O modo como vivemos, nos relacionamos, trabalhamos e organizamos a nossa vida material e simbólica está me- diado pelas tecnologias da informação e da comunicação. A existência da tecnologia digital é uma ruptura com o modo de vida precedente e configura a vida das pessoas imersas em uma cultura digital. Unidade 2 • Educação e cultura digital41/245 2. Implicações da cultura digital para o processo de aprendiza- gem e educação Quando dizemos que vivemos em uma cul- tura digital, precisamos olhar para a cul- tura também como um processo histórico, no qual há uma convivência entre o velho e o novo, sempre em transição. Gilberto Gil (2004) nos alerta que precisamos pensar esse novo contexto da cultura digital em um jogo entre velhas e novas tradições, matri- zes milenares e tecnologias de ponta, sig- nos locais e globais e diversas linguagens que se exprimem em suas dimensões sim- bólicas, econômicas e sociais. Link No texto de Ana Elisa Ribeiro, podemos aprofun- dar um pouco mais sobre o que chamamos de Tec- nologia Digital. O texto faz parte do interessante Glossário CEALE, disponibilizado digitalmente, o qual traz conceituações de termos sobre alfabeti- zação, leitura e escrita. RIBEIRO, Ana Elisa. Tecnologia Digital. Glossário CEALE (UFMG). Disponível em: <http://ceale. fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/ tecnologia-digital>. Acesso em: 18 out. 2017. Unidade 2 • Educação e cultura digital42/245 Por isso, é preciso pensar de que manei- ra esses elementos de épocas distintas se articulam e se reconfiguram. Dissemos, na primeira unidade, que vivemos em uma cul- tura da escrita e, agora, estamos estudando sobre a cultura digital. Como se relacionam? Como se articulam e se reconfiguram? Emília Ferreiro (1987), autora que vimos na primeira unidade, nos ajuda a pensar que os diversos códigos que foram inventados partem da mesma lógica de representação da linguagem escrita, ou seja, o processo social e histórico de constituição da lingua- gem escrita serve como base para a criação de sistemas alternativos de linguagem, os chamados códigos alternativos. O código binário é um sistema alternativo de linguagem baseado na linguagem escri- ta numérica. Transcrito em código numéri- co a partir dos números 0 e 1, os sistemas de processamento de dados foram capazes de transformar qualquer linguagem em dado ou código binário. A digitalização de diver- sos tipos de materiais analógicos pelos mi- croprocessadores permitiu que as diversas mídias, diferentes na sua forma física, fun- cional e estética, pudessem circular nessa rede informacional digital. Ainda, a vinculação entre cultura escrita e cultura digital pode ser vista na ideia do hipertexto. Tal conceito remete aos sécu- los XVI e XVII, quando os textos manuscri- tos sofriam modificações quando transcri- tos pelos copistas, e em muitos textos se faziam anotações nas margens, caracte- rizando uma escrita coletiva e uma leitura Unidade 2 • Educação e cultura digital43/245 não-linear. No entanto, a materialização do que conhecemos atualmente por hipertexto aparece na década de 1960, com Ted Nel- son, filósofo e sociólogo estadunidense. Com o advento das tecnologias da infor- mação, como vimos, as ideias do hipertexto estão na base da World Wide Web (WWW), a rede mundial de computadores, vista como um sistema de hipermídia interligada pela internet, na qual circulam documentos de vídeos, sons, imagens e textos, ou seja, in- formações do mundo real, codificadas em código binário virtual. Os famosos “links” que utilizamos a todo momento na internet, até mesmo neste texto da unidade, têm por trás a ideia dessa interligação total do co- nhecimento produzido em todo o mundo. Castells (1999), por um lado, compara a im- portância do surgimento do alfabeto com o surgimento do hipertexto, quando, pela pri- meira vez na história, foi possível integrar a comunicação oral, escrita e audiovisual em um mesmo sistema. Por outro lado, Lévy (2009) fala de uma “inteligência coletiva” na Para saber mais Em seu “Projeto Xanadu”, Ted Nelson expressou um tipo de texto em documento eletrônico, em que se agrega outro conjunto de informações a partir de recurso de hiperligações com referên- cias específicas de outros textos, palavras, ima- gens, sons, vídeos etc. A ideia da construção de um grande texto coletivo, no qual se poderia lin- car informações e conhecimentos, permitindo ao leitor escolher o caminho do texto de maneira não linear. Unidade 2 • Educação e cultura digital44/245 cibercultura, em que o advento da internet tem possibilitado a pesquisa, troca e cons- trução de conhecimento de maneira intera- tiva, coletiva e imediata, o que tem impacto direto na maneira como pensamos a apren- dizagem e a educação no mundo atual. Lévy (2009, p. 17) define a cibercultura como “o conjunto de técnicas (materiais e intelec- tuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desen- volvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. A cibercultura disponibiliza para as pessoas um mar de conhecimento e informações, contudo, pensando em edu- cação, é preciso aprender a escolher, sele- cionar e verificar a autenticidade filtrando as informações. Link Manuel Castells fala sobre a relação da escola, educação e internet no contexto atual da cultu- ra digital. MANUEL Castells - Escola e internet: o mundo da aprendizagem dos jovens. [s.i.]: Telos Cultural, 2013. (4 min.), color. Legendado. Dispo- nível em: <http://www.fronteiras.com/videos/escola- -e-internet-o-mundo-da-aprendizagem-dos-jovens>. Acesso em: 18 out. 2017. Unidade 2 • Educação e cultura digital45/245 Pensar a educação e aprendizagem nesse contexto é pensar em técnicas e práticas que têm como base as novas tecnologias, os novos ambientes virtuais e as novas lin- guagens desse contexto tecnológico. Mag- da Soares (2002) analisa que a tela do com- putador (assim como dos aparelhos móveis, como celulares ou tablets) como novo espa- ço de escrita e leitura trouxe consequências sociais, cognitivas e discursivas, propician- do novas formas de conhecimento e manei- ras de ler e escrever. Nesse mesmo sentido, Demo (2007) susci- ta a necessidade de falarmos em alfabeti- zações, no plural, nesse novo contexto tec- nológico em que estamos imersos em novas e diversas linguagens. O autor coloca que o aprendizado das letras e números se tornou mero pressuposto para o aprendizado das novas linguagens e tecnologias digitais. Assim como na sociedade da cultura escrita tornou-se obrigatório as pessoas aprende- rem a ler e escrever como preparação para a vida, para o trabalho e para as relações co- Link Entrevista com Pierre Lévyno programa Roda Viva da TV Cultura no ano de 2001. Interessante notar como as análises feitas por Lévy sobre o futuro da cibercultura se apresentam muito reais para nós nos dias de hoje. RODA Viva - Pierre Lévy. São Paulo: TV Cultura, 2001. (90 min.), color. Legendado. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=DzfKr2nUj8k&t=387s>. Acesso em: 18 out. 2017. Unidade 2 • Educação e cultura digital46/245 tidianas, na sociedade da cultura digital, se impõe como “obrigatoriedade” o aprendizado das novas tecnologias, das novas linguagens e o uso e a interação com a rede da internet para a aprendizagem e produção de conhecimento. Dessa relação e articulação entre cultura escrita e cultura digital tem se evidenciado a necessi- dade de novas práticas de alfabetizações, letramentos e modelos educativos em constante re- lação com o novo contexto tecnológico, com a cultura digital, cibercultura, sociedade em rede, sociedade da informação etc. Veremos, nas próximas unidades, as implicações dessas novas ferramentas tecnológicas para a educação em relação à educação a distância, à alfabetização digital e ao letramento digital. Unidade 2 • Educação e cultura digital47/245 Glossário TIC: Tecnologia da informação e da comunicação. Digital: refere-se aos dígitos numéricos utilizados como base para a criação do código binário, o qual é base para todo o sistema de processamento de dados digitais. Hipertexto: definido comumente como o texto em ambiente digital. Ele possibilita a interligação entre diversos textos e diversas mídias digitais a partir das hiperligações ou dos links. WWW: Word Wide Web, ou rede mundial de computadores. Questão reflexão ? para 48/#pg Descreva resumidamente sua rotina do dia de hoje e faça uma breve análise, refletindo a partir da sua relação com as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) e do mundo digital, relacionando a cultura escrita e a cul- tura digital a partir do seu cotidiano. Para ajudar, pense em quais momentos você utiliza as TICs e a necessidade de uso e prática da leitura e escrita a partir dessas tec- nologias. 49/245 Considerações Finais • A cultura digital demarca uma época em que as relações humanas têm sido mediadas pelas tecnologias da informação e comunicações (TICs), em que mudanças nas socie- dades implicam novas tecnologias e o uso das tecnologias modifica o comportamento das pessoas. • O mundo globalizado demandou a criação de tecnologias de comunicação e informa- ção a longas distâncias, com o intuito de computar dados e informações para organi- zação dos processos políticos, econômicos e sociais. • O novo paradigma da cultura digital e da sociedade da informação tem início a partir da década de 1970, quando as tecnologias se desenvolveram rapidamente e se difun- diram amplamente pelo mundo. • A cultura digital tem impacto direto nas questões educacionais, e precisamos enxergar essas mudanças na sua relação com a cultura escrita. • A constituição do código binário digital só foi possível pela existência do código da linguagem escrita e numérica. O hipertexto se apresenta como outra relação entre cultura digital e escrita, numa ideia de construção coletiva do conhecimento. • Pensar a educação e aprendizagem nesse contexto é pensar em técnicas e práticas que têm como base as novas tecnologias, os novos ambientes virtuais e as novas lin- guagens desse contexto tecnológico. Unidade 2 • Educação e cultura digital50/245 Referências CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. DEMO, Pedro. Alfabetizações: desafios da nova mídia. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 15, n. 57, p. 543-564, out./dez. 2007. FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1987. GIL, Gilberto. Hacker em espírito e vontade. Aula Magna na Universidade de São Paulo. 2004. Dis- ponível em: <http://www.cultura.gov.br/o-dia-a-dia-da-cultura/-/asset_publisher/waaE236O- ves2/content/ministro-da-cultura-gilberto-gil-em-aula-magna-na-universidade-de-sao-paulo- -usp-/11025>. Acesso em: 9 out. 2017. HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2009. SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e So- ciedade, Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. 51/245 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: Educação e Cultura Digital. Bloco I Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 1987d804f5110d644453e0a1be73d7fa>. Aula 2 - Tema: Educação e Cultura Digital. Bloco II Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/4bd9c85b3cb2d9a0163dd731a3137767>. 52/245 1. O que caracteriza a cultura digital? a) A existência de tecnologias digitais. b) Saber usar o computador e navegar na internet. c) As relações humanas serem mediadas pelas TICs. d) A invenção do código binário. e) Comunicação instantânea em escala mundial. Questão 1 53/245 2. Qual é o aspecto central da Revolução Tecnocientífica? Questão 2 a) A invenção dos computadores de processamento digital. b) Desenvolvimento de novas tecnologias. c) A tecnologia passou a condicionar a vida da humanidade. d) Relação entre a ciência e o desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação em escala mundial. e) A necessidade de comunicação em tempo real. 54/245 3. O novo paradigma da sociedade da cultura digital se apresenta desde quando? Questão 3 a) Desde a Segunda Guerra Mundial. b) Com a invenção dos primeiros computadores. c) Já no século XIX. d) A partir da criação do código binário. e) A partir da década de 1970. 55/245 4. A educação na cultura digital nos faz pensar em: Questão 4 a) Utilizar obrigatoriamente as tecnologias em sala de aula. b) Técnicas e práticas educativas a partir das novas tecnologias e linguagens. c) O professor não é mais necessário, pois o aluno tem o conhecimento disponível na internet. d) O hipertexto é o tipo ideal de texto a ser trabalhado em sala de aula. e) Primeiro, precisamos alfabetizar as crianças para, depois, aprender a usar as tecnologias. 56/245 5. A sociedade em rede é: Questão 5 a) É a Word Wide Web, ou a rede mundial de computadores b) A sociedade conectada na internet c) O mundo conectado em um sistema mundial de comunicação instantânea possibilitado pe- las TICs. d) Rede dos países que comandam as tecnologias de comunicação. e) Um novo momento em que as pessoas só se comunicam pela internet. 57/245 Gabarito 1. Resposta: C. Cultura digital demarca uma época em que as relações humanas têm sido mediadas pelas tecnologias da informação e comuni- cação (TICs). 2. Resposta: D. A Revolução Tecnocientífica é a complexa relação entre a produção de conhecimento e informação, a partir da ciência, e o desen- volvimento de tecnologias para a produção e comunicação em nível global. 3. Resposta: E. Apesar do código digital e das tecnologias computacionais terem surgido na época da Segunda Guerra Mundial, é somente a par- tir da década de 1970 que essas tecnologias se difundiram amplamente pelo mundo, se desenvolveram em tempo muito rápido, ca- racterizando novo paradigma na sociedade contemporânea, da cultura digital. 4. Resposta: B. Pensar a educação e aprendizagem nes- se novo contexto tecnológico é pensar em técnicas e práticas que têm como base as novas tecnologias, os novos ambientes vir- tuais e as novas linguagens desse contexto tecnológico. 58/245 Gabarito 5. Resposta: C. Para Manuel Castells, asociedade em rede é esse momento em que as tecnologias da informação e comunicação possibilitaram conectar o mundo em um novo sistema de comunicação que muda completamente a relação espaço-tempo. 59/245 Unidade 3 Educação a distância (EAD) Objetivos 1. Conhecer a Educação a Distância (EAD), modalidade de ensino que se ampliou nos últimos anos devido ao novo contex- to tecnológico. 2. Apresentar os fundamentos da EAD. 3. Mostrar as transformações nos modelos de EAD. 4. Destacar a utilização dos Ambientes Vir- tuais de Aprendizagem (AVA) para os pro- cessos de ensino-aprendizagem na EAD. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)60/245 Introdução O advento das novas tecnologias da infor- mação e comunicação (TICs) na sociedade contemporânea – e na sociedade brasileira – tem nos mostrado que cada vez mais vi- vemos na cultura digital, a qual tem modifi- cado nosso modo de viver, se organizar e se relacionar a partir da tecnologia e do mun- do virtual. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016), em 2015, o número de inter- nautas brasileiros ultrapassou 100 milhões de usuários, número que corresponde a 57,5% da população brasileira que navega na internet. Vemos, então, que a sociedade da informação tem se expandido cada vez mais em nosso país, condicionando novas maneiras de lidar com a tecnologia. Link No livro da PNAD de 2015, disponibilizado pelo IBGE, você pode ver a evolução do percentual de pessoas com acesso à internet de 2008 a 2015, passando de 34,8% a 57,5%. Interessante tam- bém notar que a faixa de idade que mais usa a rede é entre 15 e 19 anos. Faixa etária que está em processo de formação educacional e que tem se inserido nesse mundo digital. IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios: síntese de indicadores 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: <https://biblioteca.ibge. g o v . b r / v i s u a l i z a c a o / l i v r o s / l i v 9 8 8 8 7. p d f > . Acesso em: 13 out. 2017. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)61/245 Dessa maneira, esse novo contexto tecnoló- gico e as novas tecnologias têm se expandi- do também para os contextos educativos, o que tem exigido de nós, educadores e edu- cadoras, uma reflexão mais profunda acer- ca das ações pedagógicas de inclusão dos alunos em práticas sociais com a presença cada vez maior das TICs. Se faz necessário repensar as nossas posturas diante dos pro- cessos de ensino e aprendizagem para en- tender como esse novo contexto tem rede- finido os papéis de professor e aluno. No lugar do professor tradicional, que trans- mite o conhecimento, vemos a ampliação de comunidades de aprendizagem e am- bientes virtuais, o que tem possibilitado a co-construção do conhecimento entre pro- fessor e aluno, em uma relação de troca de saberes, pesquisas conjuntas e intercâmbio de informações. Como vimos, a complexa sociedade em rede, ou a sociedade da in- formação, tem evidenciado novos tipos de relações pedagógicas a partir da constru- ção coletiva do conhecimento possibilitado pela ideia do hipertexto dentro da cibercul- tura. Nesta unidade, vamos nos aprofundar em um dos modelos educativos que se amplia- ram nos últimos anos devido ao novo con- texto tecnológico: a educação a distância (EAD). Você verá um pouco dos fundamen- tos da EAD, os modelos mais utilizados e as possibilidades construídas a partir dos am- bientes virtuais de aprendizagem (AVA). Unidade 3 • Educação a distância (EAD)62/245 1. Fundamentos da educação a distância O governo brasileiro, por intermédio do Ministério da Educação (MEC), distingue as modalida- des de ensino superior em duas: presencial e a distância. A primeira define-se pela exigência da presença do aluno em, pelo menos, 75% das aulas e em todas as avaliações; já a segunda mo- dalidade é definida “quando a relação professor-aluno não é presencial, e o processo de ensino ocorre utilizando os meios de comunicação: material impresso, televisão, internet etc.” (MEC, 2017, [s.p.]). Há, entre uma e outra, a modalidade semipresencial, na qual se tem um misto entre as duas outras modalidades, com momentos presenciais e momentos a distância. No primeiro artigo do Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, define-se educação a distância como: A modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profis- sionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos. (BRASIL, 2017, [s.p.]) Unidade 3 • Educação a distância (EAD)63/245 O atual decreto regulamenta o art. 80, da Lei nº 9.394, de 1996, conhecida como a Lei de Dire- trizes e Bases (LDB) da educação brasileira. Já naquele ano, o governo federal se propôs a incen- tivar “o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino” (BRASIL, 1996, [s.p.]). Link Você pode consultar nos links a LDB de 1996, que prevê o incentivo à educação a distância, em seu art. 80, e o Decreto nº 9.057, de maio de 2017, que regulamenta o art. 80 para os termos e interesses daquele ano. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/L9394.htm>. Acesso em: 13 out. 2017. BRASIL. Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9057.htm>. Acesso em: 13 out. 2017. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)64/245 As duas definições institucionais de educação a distância nos apontam algumas característi- cas fundamentais de tal modalidade: processo de ensino e aprendizagem não presencial, com professores e alunos em lugares e tempos distintos, e mediado pela utilização de tecnologias de informação e comunicação. No entanto, essa definição mais geral pode silenciar algumas complexidades da EAD. Vários au- tores têm escrito e pesquisado sobre ela e tentado defini-la. Na visão de Moore e Kearsley (2007, p. 2), a EAD “é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do en- sino, o que requer comunicação por meio de tecnologias e uma organização instrumental espe- cial”. Para Moran (2002), a EAD é o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. (...) mas podem estar conectados, interligados por tecnologias, principal- mente as telemáticas, como a Internet. Mas também podem ser utiliza- dos o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)65/245 Otto Peters compara o modo de operacionalização da EAD com o modo de produção industrial taylorista/fordista, definindo como: Link José Manuel Moran é professor aposentado de Novas Tecnologias na USP. Em seu site pessoal, ele disponi- biliza diversos pequenos textos sobre a temática da Educação a Distância. Sugiro que você leia alguns dos trabalhos dele. MORAN, José Manuel. Educação Online. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/moran/?page_id=22>. Acesso em: 14 out. 2017. Um método racional de partilhar conhecimento, habilidades e atitudes, através da aplicação da divisão do trabalho e de princípios organizacio- nais, tanto quanto pelo uso extensivo de meios de comunicação, espe- cialmente para o propósito de reproduzir materiais técnicos de alta quali- dade, os quais tornam possível instruir um grande número de estudantes ao mesmo tempo, enquanto essesmateriais durarem. É uma forma in- dustrializada de ensinar e aprender. (NUNES, 1994, p. 3) Unidade 3 • Educação a distância (EAD)66/245 Mesmo entendendo como uma forma in- dustrializada de educação, Peters (2003) a compreende como uma abordagem dife- rente na política educacional, não pautada apenas na aprendizagem convencional com ajuda de mídias técnicas. A aprendizagem em EAD, para o autor, tem como objetivo compartilhar conhecimentos, habilidades e atitudes, a partir do uso extensivo de meios de comunicação. Entretanto, o seu foco de análise está na organização do sistema edu- cativo, que prevê uma divisão de trabalho, princípios organizacionais e a possibilidade de instruir um grande número de alunos ao mesmo tempo. Para sistematizar as características que fundamentam a EAD, vemos como Nunes (1994), citando Keegan, sintetiza os ele- mentos centrais: • separação física entre professor e alu- no, que a distingue do ensino presen- cial; • influência da organização educacional (planejamento, sistematização, plano, projeto, organização dirigida etc.), que a diferencia da educação individual; • utilização de meios técnicos de comu- nicação, usualmente impressos, para unir o professor ao aluno e transmitir os conteúdos educativos; • previsão de uma comunicação de mão dupla, na qual o estudante se benefi- cia de um diálogo e da possibilidade de iniciativas de dupla via; Unidade 3 • Educação a distância (EAD)67/245 • possibilidade de encontros ocasionais com propósitos didáticos e de sociali- zação; • participação de uma forma industria- lizada de educação, a qual, se aceita, contém o gérmen de uma radical dis- tinção dos outros modos de desenvol- vimento da função educacional. As definições elaboradas pelos autores nos ajudam a compreender que a EAD não é uma novidade. A educação a distância tem uma história de mais de cem anos no mundo (NUNES, 2009), e também no Brasil (ALVES, 2009), mas é a partir do desenvolvimento das tecnologias de comunicação nos anos 1970 e, principalmente, das novas TICs, a partir da década de 1990, que essa modali- dade tem crescido exponencialmente. Os impactos das TICs para a EAD têm se dado particularmente nos modelos de aprendizagem e nos ambientes virtuais de aprendizagem, característicos desse novo contexto tecnológico, como veremos nos próximos pontos desta unidade. Para saber mais A Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) é uma associação científica sem fins lucrativos, que agrega profissionais, estudantes e empresas que estão envolvidos com educação a distância. Entre suas ações, a ABED tem contribuído para estimular a prática e o desenvolvimento de projetos em EAD no Brasil. Para mais informações, acessar: <http://www.abed.org.br/site/pt/>. Acesso em: 10 dez. 2017. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)68/245 2. Modelos de aprendizagem na educação a distância A história da EAD está relacionada, princi- palmente, com as tecnologias e ferramentas disponíveis a cada época, as quais condicio- nam as interações possíveis entre os atores (alunos, professores e demais profissionais) e as práticas e os processos de ensino e aprendizagem. Além disso, os modelos de ensino na EAD carregam princípios e valo- res das instituições proponentes, o que evi- dencia a filosofia das instituições nas suas propostas pedagógicas. A partir desses ele- mentos, vamos delinear os modelos de EAD que surgiram nos diversos momentos histó- ricos e os modelos atuais mais utilizados a partir das TICs. Carvalho Júnior (2013), no texto Educação a distância: uma análise dos modelos de ensino, faz um levantamento dos modelos de ensi- no e dos diversos autores e autoras que têm se dedicado ao tema. Para essa parte da uni- dade, nos basearemos no texto desse autor. 2.1 Três gerações de modelos em EAD Carvalho Júnior (2013) coloca que alguns autores dividem historicamente o ensino em EAD em três modelos/gerações, classi- ficados conforme as tecnologias utilizadas em cada época. O primeiro modelo seria o ensino por correspondência. Possibilitado pela invenção da imprensa no século XIX, nesse modelo, os estudantes recebiam o Unidade 3 • Educação a distância (EAD)69/245 material impresso por correio, estudavam sozinhos e enviavam suas dúvidas e avalia- ções de volta pelo correio. A construção do conhecimento ocorre de forma individual, com interação entre professor e aluno limi- tada e demorada. O ensino por diversos meios, ou multimeios, é como é conhecido o segundo modelo/ geração de EAD. Desenvolvido a partir dos anos 1960, utilizava-se dos diversos meios de comunicação disponíveis: rádio, televi- são, material impresso, correio e, mais tar- de, os computadores. Como vimos com Pe- ters (apud NUNES, 1994), esse modelo se utiliza da lógica industrial fordista, basean- do-se em pacotes instrucionais para atingir um número grande de estudantes. Carvalho Júnior (2003) aponta que a EAD influencia- da pelo modelo fordista prevê uma educa- ção padronizada, visando a baixos custos e grande escala. Para saber mais Fordismo trata-se de uma forma de racionaliza- ção da produção, baseada em inovações técnicas e organizacionais, que se articulam para um sis- tema de produção em massa, com a introdução, pela primeira vez, da linha de montagem automa- tizada. Sistema de produção e gestão idealizado por Henry Ford (1863-1947). Unidade 3 • Educação a distância (EAD)70/245 A lógica organizacional desses modelos reflete diretamente sobre a interação professor, aluno e demais profissionais participantes dos cursos. O autor a descreve como uma interação progra- mada e ineficiente para o processo de construção do conhecimento com qualidade. Além disso, o professor fica obrigado a seguir uma lógica e o padrão estabelecido pela insti- tuição, promovendo uma relação burocrática na prática pedagógica, retirando a autonomia da ação desse profissional. Ainda que o modelo multimeios tenha se baseado nessa lógica de ensino, as diversas mídias e tecnologias possibilitaram distintas experiências que fugiram desse modo padronizado de edu- cação. Apesar das análises críticas e possibilidades limitadas, o autor diz que esse é, ainda hoje, o modelo prevalente na maioria das experiências de EAD. O estudante, apesar de estar em um curso a distância, acabaria tendo pos- tura passiva no processo de socialização virtual, pois não teria a oportuni- dade de interagir livremente e socializar-se em uma estrutura padroniza- da, sem possibilidade de interação. (CARVALHO JÚNIOR, 2013, p. 50) Unidade 3 • Educação a distância (EAD)71/245 A partir dos anos 1990, com o advento das novas tecnologias de informação e comuni- cação, outro tipo de modelo ou geração de EAD se conforma, calcado, principalmente, no aparecimento das ferramentas da inter- net. Os processos de ensino e aprendizagem se modificam, perdendo a centralidade na educação de massa e colocando o foco na interação entre os atores do processo edu- cativo, em um processo coletivo da cons- trução do conhecimento. Nessa última geração, utilizam-se todos os outros meios, tecnologias e ferramentas, acrescentando as novas TICs e as possibi- lidades da web. Segundo Carvalho Júnior (2013), alguns autores caracterizam essa terceira geração com uma lógica pós-for- dista, seguindo uma perspectiva de apren- dizagem aberta, com maior autonomia para os professores e alunos, mais possibilidades de interação, menor padronização e maior flexibilidade na estrutura curricular e méto- dos de ensino. Tais elementos contribuem para maior in- teração e socialização entre alunos, profes- sores e tutores, melhorando a qualidade da construção do conhecimento, promovendo maior troca de experiências, mais discus-sões, enriquecendo a aprendizagem e pos- sibilitando mais reflexão sobre os conteú- dos. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)72/245 2.2 Formato dos modelos atuais de EAD Sobre a terceira geração/modelo, Carvalho Júnior (2013) caracteriza alguns formatos utilizados pelos modelos de EAD atualmen- te, a partir dos tipos de interação entre os atores do processo educativo. A partir de al- guns autores, Carvalho Júnior (2013) carac- teriza formas distintas que mesclam mo- mentos presenciais e a distância, e outros somente a distância. No primeiro formato, o autor distingue dois tipos: um que chama de sala de aula a dis- tância (GONZALEZ apud CARVALHO JÚ- NIOR, 2013) e outro de teleaula (MORAN apud CARVALHO JÚNIOR, 2013). O primeiro tem como princípio o formato mais presen- cial, no qual os materiais são disponibiliza- dos para os alunos anteriormente, por pla- taformas virtuais, e são marcados encontros presenciais para debates e discussões dos conteúdos estudados. Tal tipo também tem sido muito utilizado pelas diversas universi- dades (ou até outros níveis de ensino), onde professores e alunos têm uma plataforma virtual ou ambientes virtuais de aprendiza- gem (AVA), nos quais compartilham mate- riais e documentos para serem trabalhados em sala de aula. O segundo tipo, a teleaula, se aproxima da educação presencial, pois o professor le- ciona através de videoaulas, transmitidas ao vivo ou previamente gravadas. Os alu- nos podem assistir juntos, em um polo de aprendizagem, ou separados, em seus com- Unidade 3 • Educação a distância (EAD)73/245 putadores. Após verem as aulas, eles se re- únem para discutirem e aprofundarem as questões vistas na videoaula. Podem ter a supervisão de um tutor, que também faz o acompanhamento periódico online. Sobre os modelos predominantemente a distância, Carvalho Júnior (2013) também caracteriza dois tipos. Na aprendizagem in- dependente (GONZALES apud CARVALHO JÚNIOR, 2013), há uma interação mais ati- va entre professor, tutor e aluno, por meio de ferramentas online de interação. A ins- tituição disponibiliza materiais de estudo e o programa do curso para o aluno; há um monitor e tutor que acompanham o estu- dante, orientando, ajudando e avaliando os exercícios propostos; alunos estudam de forma independente, seguindo o programa do curso; e há interação entre tutores e es- tudantes, e também entre estudantes, nos AVAs e fóruns de discussões. A construção do conhecimento é coletiva e facilitada pela prática da troca e interação por meio das ferramentas virtuais. Um segundo tipo é o modelo Web (MORAN apud CARVALHO JÚNIOR, 2013), o qual se aproxima bastante do tipo anteriormente caracterizado. No entanto, o autor eviden- cia a mediação dialógica do aprendizado dos alunos, em que a função do professor se centraliza no acompanhamento e na me- diação da aprendizagem e na construção do conhecimento do aluno. Neste tipo, há a utilização primordial dos AVAs. Pode haver a utilização de webconferências também, com vistas a orientar e tirar dúvidas. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)74/245 Ainda que muito esquematizado, os diversos formatos e tipos explicitados aqui se com- binam e se articulam de diversas maneiras. Há modelos mais presenciais e outros mais virtuais, há maior ou menor utilização dos AVAs, mas todos eles têm em comum o foco na interação dos atores da prática educati- va e a utilização de diversas ferramentas e tecnologias para a medicação do processo de ensino e aprendizagem. As diversas transformações e o apareci- mento de novas TICs têm influenciado no- vos modelos de EAD. Se no início a EAD se dava por meio de material impresso enviado via correio, seu desenvolvimento possibili- tou modelos multimodais, como apontados por Moran (2002), a partir do rádio, da tele- visão, do vídeo, do telefone e dos computa- dores. Há também modificações em relação à lógica dos processos de aprendizagem, passando de uma lógica fordista (padroni- zada e em larga escala) para uma nova ge- ração de sistemas de EAD, que tem se preo- cupado menos com critérios quantitativos e número de alunos, e voltado a sua atenção para noções de qualidade, liberdade e flexi- bilidade. A sociedade da informação imersa na cultu- ra digital, como vimos, tem demandado no- vas habilidades e conhecimentos em diver- sas linguagens, assim como um novo tipo de trabalhador que esteja antenado nesse novo mundo digital, onde somente a edu- cação presencial não tem dado mais conta da dinâmica e do tempo disponível para a formação das pessoas. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)75/245 3. Ambientes virtuais de apren- dizagem Para falar de modelos de EAD no contex- to atual, é preciso destacar a utilização de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) como recurso para gerenciamento de con- teúdos e processos de ensino-aprendiza- gem. O fenômeno de convergência entre o virtual e o presencial na educação ficou conheci- do como Blended Learning, o qual apresenta novas possibilidades para as práticas edu- cacionais a distância. Anjos (2012) destaca que esse conceito permite a utilização de sistemas de gerenciamento de conteúdo e aprendizagem, conhecidos por AVA, que são utilizados com maior frequência em práticas de educação a distância, porém também fazem parte do cotidiano de cursos presenciais. O autor aponta diversas terminologias para ambientes virtuais aplicados a contextos educacionais, como “Sistemas de Gerencia- mento de Cursos (Course Management Sys- tem - CMS), Ambientes Virtuais de Apren- dizagem (AVAs) – (Virtual Learning Environ- ment - VLE) ou Sistemas de Gerenciamento de Aprendizagem (Learning Management System – LMS)” (ANJOS, 2012, p. 51). Segundo o mesmo autor, diversas são as definições sobre AVA. Alguns autores de- notam como softwares desenvolvidos para o gerenciamento da aprendizagem via web. Para outros, são “sistemas de gerenciamen- to de cursos on-line que facilitam a criação Unidade 3 • Educação a distância (EAD)76/245 de um ambiente educacional colaborativo, baseado em interface web, permitindo que o conhecimento seja construído por dois ou mais indivíduos mediante discussão e refle- xão” (ALMEIDA apud ANJOS, 2012, p. 44). De forma mais genérica, AVAs são progra- mas ou sistemas que têm por objetivo au- xiliar o processo de ensino-aprendizagem em práticas de educação a distância. Tais sistemas de aprendizado eletrônico (AE) congregam recursos e funcionalidades que foram possibilitadas pelo advento da inter- net (FILATRO apud ANJOS, 2012, p. 51). São vistos como uma sala de aula online, capaz de possibilitar a interação entre os diversos atores do processo educativo. São ambientes em que se pode disponibili- zar e armazenar materiais didáticos e conte- údos programáticos; permite a execução de tarefas e exercícios propostos nos cursos de educação a distância; possibilita a troca de experiências, discussões e construção cole- tiva do conhecimento; e contém ferramen- tas que auxiliam a mediação do processo de ensino-aprendizagem a distância. Os AVAs integram diferentes mídias e linguagens em espaços virtuais educacionais, podendo ser som, imagem, vídeo e escrita. No entanto, Anjos (2012) compreende que, com as contribuições das TICs, os AVAs pre- cisam ser vistos a partir das dimensões do aprendizado eletrônico, da gestão educa- cional e da comunicação. Unidade 3 • Educação a distância (EAD)77/245 No Brasil, os três AVAs mais utilizados são Moodle, Blackboard e TelEduc. No entanto, há também ambientes virtuais criados pe- las próprias instituições, que fornecem di- versas ferramentas e possibilidades a partir dos valores, interesses e da filosofia educa- cional da instituição. Para saber mais Um AVA consiste em uma
Compartilhar