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ELEMENTOS INTRODUTÓRIOS À HISTÓRIA DO DIREITO UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA - URI História do Direito a) Método empregado: diacrônico e sincrônico b) Fontes: leis, obras de jurisconsultos, documentos históricos, literatura, subsídios arqueológicos... c) Objeto de estudo: as transformações ocorridas na sociedade através do análise do direito. d) Fontes da cultura jurídica ocidental: cultura greco- romana e tradição judaico-cristã. “A HISTÓRIA DO DIREITO ESTUDA AS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS DOS POVOS CIVILIZADOS NAS FASES SUCESSIVAS DE SEU DESENVOLVIMENTO.” Aracy Augusta Leme Klabin 1. O DIREITO NAS COMUNIDADES PRIMITIVAS UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA- URI História do Direito Características gerais das comunidades primitivas do Período Neolítico (10.000 a. C. a aprox. 4.000 a. C.) • Antecede à escrita. • Primeiras sociedades complexas: poder, Estado, cidades... • Sedentarização e vida em aldeias com estrutura social baseada em clãs familiares. • Poder maior a cargo do patriarca, líder religioso e político escolhido entre os mais valentes ou sábios de um grupo familiar. • Revolução Agrícola : técnicas de cultivo e emprego da metalurgia → aumento da produção, comércio e crescimento populacional. • Revolução Urbana: surgem as primeiras aldeias e cidades. Localização geográfica: • Sociedades organizadas próximas a grandes rios O direito nas sociedades primitivas • Fontes: costumes, leis não escritas, tradição, provérbios, crenças religiosas... • Ausência de escrita. • Caráter consuetudinário das normas e regras dos grupos, ou seja,informados a partir da tradição. • Ausência de codificação ou sistematização de regras de conduta. • Teor sagrado das regras e ritualização. • Normas de condutas condicionadas ao aspecto cultural. • Formação das primeiras relações de parentesco. “O homem é um ser gregário por natureza, premissa esta que justifica sua tendência a buscar consolidar uma associação direta com seus semelhantes. (...) toda e qualquer sociedade se obriga a estabelecer um corpo de regras com a finalidade maior de reger as relações que naturalmente se processam em seu seio.” Rodrigo Freitas Palma Direito na Antiguidade Oriental • Direitos cuneiformes: sumério, babilônico (Código de Hamurábi), assírio e fenício. • Direito no Egito Antigo • Direito hitita • Direito persa • Direito na Índia Antiga • Direito hebraico Direitos cuneiformes • Mesopotâmia: região de confluência de culturas. • Formação associada à Idade dos Metais. • Materializaram um direito de penas → forma mais típica de coerção social, com penas extremamente crueis (mutilações, decapitações, flagelo, apedrejamento, forca..) próprias de uma sociedade orientada pela vingança privada e nas ordálias ou juízos divinos (práticas adivinhatórias). • Ligado à noção de sagrado – “potesi”: chefiava a cidade- estado; misto de rei e sacerdote. • Direito sumério ( chegam à região 4.000 a. C.): Código de Ur Direito sumério • Os sumérios foram a primeira leva de povos a habitar a Mesopotâmia, tendo chegado à região por volta de 4.000 a. C. • Mais remota manifestação de direito escrito. “Se um barqueiro é negligente e deixa afundar o barco, ele responde por tudo aquilo que deixou afundar.” (Código de Eshnunna – 1930 a. C) • Direito penal: regras penais eram fundamentais para a coesão do grupo social. • Direito civil: diversos contratos foram descobertos em sítios arqueológicos, como contratos, compra e venda, locação, doação, empréstimos. • Não existem regras processuais associadas. • Não são direitos na atual concepção do termo, mas merecem estudo por fazerem parte do caminho percorrido pela humanidade. 2. CÓDIGO DE HAMURÁBI HISTÓRIA DO DIREITO UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA - URI MESOPOTÂMIA • “TERRA ENTRE RIOS” • Localizada entre os rios Tigre e Eufrates, não possuía unidade geográfica. Sua formação deveu-se à confluência de vários povos: sumérios, acádios, babilônios, assírios ... • Atual região localizada formada por partes da Síria e Iraque. • Originou-se de aldeias sedentárias datadas de 7000 a. C. • Região constituída por cidades-estado independentes e rivais. • Domínios: sumério, caldeu, assírio e babilônico. Código de Hamurábi • Encontrado em 1902, encontra-se exposto no Museu do Louvre em Paris. Consiste em uma diversidade de regras gravadas em um monumento de pedra medindo2 metros de altura por 35 centímetros de largura. • É CONSIDERADA A LEI MAIS NOTÁVEL ENTRE OS TEXTOS LEGISLATIVOS . • Hamurábi (1810 – 1750 a. C.): rei amorita que governou o império de forma centralizadora, conquistando e unificando a Mesopotâmia. Com a unificação a Babilônia tornou-se um dos maiores centros comerciais da antiguidade. • O Código de Hamurábi é uma lei religiosa, mas com poucas prescrições morais, por isso é considerado um texto objetivo e um tratado para regular o convívio. • Deus sol – Shamash “grande juiz dos céus e terras” segurando o estilete de gravar os caracteres, enquanto diante dele Hamurábi o estaria ouvindo ditar a lei. • O direito estabelecido no Código de Hamurábi não é a primeira legislação do território, mas as anteriores, de tradição suméria, não formavam uma sistematização de assuntos e não possuíam uma gama tão ampla de definições de condutas, embora estipulassem responsabilidade civil e definissem algumas práticas de celebração, como a do casamento. Características do código: • No prólogo é invocada a autoridade dos deuses , afirmando o papel de protetor e encarregado da justiça por deus exercido pelo rei. • No epílogo convida-se a respeitar o código através de promessas divinas e de castigos severos. • Artigos curtos e com casos específicos e soluções. • Regula a organização da justiça, o sistema imobiliário, o direito rural, os contratos, as obrigações em geral e o sistema punitivo... • Invoca preceitos de justiça característicos da civilização babilônica, fornecendo subsídios para a compreensão da sociedade. • Trata o sistema punitivo de acordo com a posição social da vítima, quando mais alta for a condição social da vítima, maior será a punição recebida pelo infrator. • Direito penal rigoroso com divisão dos delitos em categorias distintas e utilização da lei de talião, recorrentemente utilizada. • Previsão de penas pecuniárias. “ Se um médico fizer uma operação difícil com faca de metal em um homem livre e lhe causar a morte ou destruir seu olho, sua mão será amputada. Se um médico tratar com faca de metal a um escravo e este morrer, o médico dará outro escravo para substituir o morto. Se um arquiteto construir para outrem uma casa e ela não for bastante sólida, se a casa ruir matando o dono da casa, este arquiteto é passível de morte. Se um homem negligenciar a conservação de seu dique, se uma brecha nele se abrir e os campos se inundarem, este homem será condenado a restituir o trigo destruído por sua falta. Se um awilum roubou um bem este será morto e quem o recebeu morrerá.” Sistema de justiça • Atribuído a sacerdotes: misto de governante e administrador. • Depoimentos escritos baseados em provas e ouvida de testemunhas, sem menção a tortura. • Os templos possuíam funções públicas e privadas. • Utilização de ordálias. CÓDIGO DE MANU História do Direito • A palavra código significa um mero recurso de linguagem. • Direito indiano: sistematização do sistema decastas através do Código de Manu com redação datada do séc. II a. C. • Sociedade → sistema de castas → derivado do choque de cultural que empurrou sociedades arianas para o sul, no século 16 a.C.: • Brâmanes – líderes espirituais superiores • Ksatryas – guerreiros • Vaisyas – comerciante • Sudras – servos (excluídos do sistema) ASPECTOS GERAIS • Coletânea literária que reflete a estrutura das castas. • Reúne filosofia, religiosidade, usos e costumes da sociedade hindu. • Sistematização cultural e não jurídica. • Extenso rol de privilégios dos brâmanes organizado em 12 livros. • Entrelaçamento do comportamento jurídico e sagrado. • Dharma considerado o direito da lei ou da legalidade – representa a correta e boa ação de todos os indivíduos em qualquer momento da vida. • Vyavahara ou direito dos tribunais – considerado “o direito como é”. Conteúdo: • Corte de justiça: responsável por administrar os julgamentos realizados pelo rei, acompanhado de assessores especiais “coisa julgada” ou proibição de julgamento em duplicidade. • Fontes deste direito: costumes “locais à classe e à família” e códigos de leis. • Utilização de provas testemunhais: homens dignos de confiança, isentos de cobiça e sem interesse pecuniário, devendo ser rejeitados os de caráter oposto (art. 49, 50,52 e 53). • Silenciar ou mentir equivale à culpa. • Proibição com o processo superior a outras culturas antigas. • Leis regionalmente diversificadas. • Proibição de jogos • Tipificação do furto e do roubo - “A ação de tirar uma coisa com violência à vista do proprietário é um roubo em sua ausência, um furto” (art. 329) • Injúria • Doenças como epilepsia, bócio, cegueira, tuberculose • Utilização de ordálias • Penas crueis e degradantes e castigos “post mortem”, definidos de acordo com a casta. • Adultério – tratado em cerca de 68 artigos → eventual possibilidade de mistura de classes: “Porque é do adultério que nasce a mistura de classes, provêm a violação dos deveres destruidora da raça humana que causa a perda do universo” (art. 350) “Que ele condene o adultero e seu cúmplice a ser queimado sobre um leito de ferro aquecido (...)” (art. 369) “Que o rei lhe faça derramar óleo fervendo na boca e na orelha se ele tiver a imprudência de dar conselhos aos brâmanes relativamente aos seu dever” (art. 269) “Um homem de baixa classe que resolve tomar o lugar ao lado de um de classe mais elevada dever ser marcado abaixo do quadril e banido, ou então, deve ordenar o rei que lhe façam um talho sobre a nádega” (art. 278) • Propriedade: pode ser adquirida por doação, permuta, compra e venda e juros vencidos. • Propriedade familiar: o pai é o único proprietário, os bens sairiam do círculo familiar somente com a sua morte. • Herança: por tradição, não há testamento. • Levirato: esposamento da viúva pelos cunhado. • Esposamento: não há interdições relacionadas à idade. • Dívidas: podem ser cobradas por meio de astúcia, ameaça e por medidas violentas (art. 125) • Mulher na sociedade hindu: considerada um pária e merecedora de humilhações. • Sujeição total ao homem. • Permite o afastamento, desde que mantenha dependência do homem. • Divórcio: direito do marido, por desobediência, embriaguez, enfermidade incurável... • “Uma mulher está sob a guarda de seu pai durante a infância, sob a guarda de seu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais conduzir à sua vontade” (art. 420) O DIREITO Hebraico História do Direito Aspectos gerais • O povo hebreu originou-se da antiga Palestina, onde habitava o território com outras tribos como cananeus e filisteus, a qual é formada por estreita faixa de terra cercada pela antiga Fenícia e pelo deserto da Arábia. Região cortada pelo Rio Jordão e banhada, na costa oeste, pelo Mar Mediterrâneo • Atual Estado de Israel e Autoridade Nacional Palestina • Tribo de origem semita, descendente de povos asiáticos que originaram hebreus e árabes. • Sociedade patriarcal e numerosa. • 1750 a. C. – migração para o Egito, permanecendo por 400 anos. • Êxodo - retorno para a Palestina liderado por Moisés. Principal elemento formador da identidade do povo hebreu. • 1000 a. C. – implantação da monarquia: Saul, Davi e Salomão • 935 a. C. – crise política e divisão em dois reinos: Reino de Israel e de Judá • 586 a 538 a. C. – cativeiro da Babilônia. • 63 a. C. – controle romano sobre o território. • 70 d. C.– expulsão da Palestina pelos romanos. • Pentateuco ou Torá – cinco primeiros livros do Antigo Testamento da Bíblia (Tanak). Compreende Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio e conserva a essência da legislação de Israel Antigo. • Totalizam 613 leis. • Propõe uma fusão de regras com aspectos religiosos relacionados ao monoteísmo • Alcançaram aceitação na comunidade cristã e judaica. • Decálogo (dez mandamentos) ou Lei Mosaica: contêm as principais regras dos hebreus. • Bíblia ou Biblos (palavra originária do grego = papiro, papel, livro) - considerada um documento histórico com a história do povo judeu e de outros povos habitantes da Palestina. As primeiras versões escritas datam de 1025 a. C. e os livros que compõem a Torá foram finalizados em 398 a. C. . “Os hebreus acreditavam ser o povo eleito de Deus, a quem chamavam de Iaweh ou Jeová. Confiavam que Deus escolheria determinados membros do grupo para que esses comandassem os demais e fizessem com que os planos divinos se cumprissem. Abraão, Isaac, Jacó e Moisés teriam sido alguns desses escolhidos”. • Conjunto de regras e preceitos religiosos alicerçados no dogma religioso monoteísta. • Direito relacionado a aspectos sagrados. • Justiça – virtude divina; aspecto relacionado à cultura religiosa: Deus representa a plenitude da ideia de justiça, somente Ele é justo. • Deus libertador do povo eleito. • As atitudes humanas refletem a benevolência de Deus: caridade e amor ao próximo. “Nesse ínterim ser justo é dar o melhor de si par o progresso da humanidade, agir em conformidade com os mandamentos e, principalmente, não se descuidar jamais do clamor dos pequemos; tomar a iniciativa de ir ao seu socorro; prover ao seu sustento; defendê-los com nobreza de caráter e manter uma atitude sóbria e de respeito para com o próximo e o mundo que nos rodeia.” PALMA Leis civilistas – 2000 a. C. • Previam penhor ou empréstimo e a impenhorabilidade de bens e do lar, exceto a do fiador. Preserva-se, no entanto, os bens de quem está em penúria. • Direito de herança ao primogênito, responsável pelo sustento familiar. • Não há direito de herança para viúva, somente para irmãos, irmãs e parentes. • Casamento mediante assinatura de um contrato (ketubah). • Divórcio em não sendo a mulher virgem ou outras razões não esclarecidas. • Proibição de lucro indevido pelos comerciantes (“pesos exatos e justos” DT 25, 13:16) e usura nos empréstimos → preocupação com os interesses de consumidores. • Proteção às viúvas, órfãos, pobres e estrangeiros. • Noção de responsabilidade civil. • “Se ele for pobre não te deitarás co o seu penhor” (DT 24 12:13) • “Quem fica como fiador certamente sofrerá, mas o que aborrece a fiança está seguro.” (PR 11:15) • “Se um homem tomar uma mulher, casar-se com ela e esta depois deixar de lhe agradar por ter ele achado nela qualquer coisa indecente, escrever-lhe-á uma carta de divórcio e lhe dará na mão e a despedirá da sua casa.” (DT 24:1) • “Quando construíresuma casa nova, farás um parapeito ao redor do terraço, para que não tragas sangue sobre a tua casa, se alguém cair dela.” (DT 22:8) Direito penal – leis de caráter criminal • Imprescindíveis para manter a coesão do grupo social. • Conferem estabilidade à comunidade. • Encontram-se dispostas no corpo do Decálogo e envolvem atos que atentam contra Deus como blasfêmia e abandono fé e atos contra o próximo como homicídio, roubo, furto, adultério e falso testemunho. • Admitem a vingança para casos de homicídio culposo. No caso do homicídio involuntário ou doloso o réu poderia refugiar-se em uma das cidades designadas para asilo, onde viveria em segurança. • Prevêem a individualidade da pena. “Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos nem os filhos pela culpa dos pais. Cada qual morrerá pelo seu pecado.” (DT 24:16) • Direito casuístico. • Penas: lapidação, punições pelo fogo, decapitação ... • Talião = talis e qualis • Direito processual não muito desenvolvido, mas com algumas regras básicas. • Necessidade de apuração adequada dos fatos “Então inquirirás e informar-te-ás e com diligência perguntarás.” • Tribunal com pelo menos duas testemunhas para apuração dos fatos • Julgamento pelo rei e por tribunais formados por anciãos. • Leis ambientalistas: descanso sabático, proibição de desmatamento indiscriminado, preocupação com a higiene local, preocupação com a vida e a perpetuação da espécie, obrigação de preservar a vida animal. • Leis internacionalistas : instituto da arbitragem. • Preocupação com a pessoa e ausência de superstições. • Conteúdo moral. • Direito natural - uniu os conceitos de fé e razão. Razão não é uma opinião, mas uma recta ratio, “lei divina que nos ensina o que é justo ou injusto, certo ou errado”.
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