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A INEFICÁCIA DA APLICABILIDADE DA GUARDA COMPARTILHADA OBRIGATÓRIA DE ACORDO COM A LEI 1.3058/14 1 DO PÁTRIO PODER AO PODER FAMILIAR Pátrio poder foi originado do Direito Romano significa que a figura paterna era suprema, concentrando todo o poder familiar. Primordialmente os filhos era propriedade do chefe da família, cabendo a este dispor daquele da forma que lhe melhor convier, cabia à figura paterna não somente administrar os bens materiais, bem como o destino dos filhos e dos outros membros da família. Jose Virgilio Castelo¹ (2000,p.02) afirma sobre o tema: No Direito Romano, a organização era baseada na ilimitada autoridade familiar, objetivando apenas o interesse do chefe de família, concentrando-se na figura do pai, o que caracterizava o patriarcalismo. Assim, o pai poderia dispor do filho da forma que bem lhe aprouvesse. Dita autoridade patriarcal abrangia até o direito de dispor da vida, desde que ouvidos os demais integrantes da família para o judicium domesticum, indo até a mercancia. Este instituto sofreu muitas alterações ao longo da história da própria família, transformando o pátrio poder em poder familiar, pois neste não faz referência somente a figura paterna, mas sim a ambos os genitores. O código civil de 1.976 em seu artigo 379 dispusera que “os filhos legítimos, os legitimados, os legalmente reconhecidos e os adotivos estão sujeitos ao pátrio poder, enquanto menores”. O novo código de 2002 no artigo 1.630 veio e dispôs que "Os filhos estão sujeitos ao poder familiar; enquanto menores", ou seja, houve uma modificação quanto a figura que detém o poder de comandar o ceio da família, passando este poder a ambos o genitores, visando sempre o bem está de seus membros. A mulher ao longo do tempo conquistou seu espaço na sociedade, e consequentemente a legislação foi se adequando a essa nova realidade, onde homens e mulher são iguais perante a lei conforme assegura a Constituição Federal em seu artigo 5º que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”, inciso I “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”, o artigo 226 § 5º “assegura ainda que “ Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”, a mulher passou de subalterna, a administradora doméstica e da educação dos filhos e nos dias atuais encontra-se como provedora dor lar assim como seu cônjuge. No mesmo sentido está o posicionamento de Gonçalves³ (2012, p.328) “Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores. Não tem mais o caráter absoluto de que se revestia no direito romano”. Contudo o termo “poder familiar” segundo este autor é melhor do que “pátrio poder”, mas ainda não é o mais adequado, porque ainda se se remete ao “poder”, e neste caso os pais possuem mais deveres do que direitos. Atualmente regem-se os princípios de mutua compreensão, proteção dos filhos menores sob a figura paterna e materna em conjunto com os deveres a estes inerentes, sendo estes irrenunciáveis, indelegável e imprescindível. Os pais não podem renunciar, nem transferir seus deveres exceto no artigo 166 do Estatuto da Criança e do Adolescente ¹ Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. Na falta de um dos cônjuges caberá ao outro exercer com exclusividade seu poder familiar conforme respalda o artigo 1.631 do Código Civil de 2002 e o artigo 21 do Estatuto da Criança e do Adolescente, compete também o poder familiar àqueles que se identifiquem como pai ou mãe do menor na família monoparental. O artigo 1.630 do Código Civil de 2002 preceitua que os filhos menores estão sujeitos ao poder familiar, neste caso os menores não emancipados, havidos ou não no casamento, bem como os adotivos. Nenhum dos pais perderá o exercício de seu poder familiar devido ao divórcio ou separação judicial, pois o poder familiar decorre da paternidade/maternidade e da filiação. No ordenamento jurídico brasileiro preceitua o artigo 1.635 das causas de extinção poder familiar onde somente pela morte dos pais ou dos filhos, emancipação, maioridade, adoção e decisão judicial extingue-se o poder familiar. 2 DA GUARDA A guarda dos filhos menores porta-se da lei, sendo como consequência natural do poder familiar e dos institutos de tutela e adoção. Este instituto está previsto nos artigos 1.583 a 1.590 do Código Civil de 2002 e artigos 227 e 229 da Constituição de 1988 onde assegura aos menores serem assistidos pelos seus genitores, sendo estes responsáveis por criá-los e educa-los, sendo este dever tanto da família como do Estado e sociedade. A guarda é um processo necessário para a execução do poder familiar. Em sentindo restrito da palavra na linguagem jurídica, profere ao genitor e/ou qualquer responsável proteção para seus filhos. Reporta-se a guarda primeiramente a assistência material, a educação e desenvolvimento saudável do menor, para que este se torne útil a sociedade. Na definição de Flávio Guimarães Lauria¹ (2002, p.80) a guarda: Consiste num complexo de direitos e deveres que uma pessoa ou um casal exerce em relação a uma criança ou adolescente, consistindo na mais ampla assistência à sua formação moral, educação, diversão e cuidados para com a saúde, bem como toda e qualquer diligência que se apresente necessária ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades humanas, marcada pela necessária convivência sob o mesmo teto, implicando, inclusive, na identidade de domicílio entre criança e o(s) respectivo(s) titular(res). Nota-se que nesta definição faz menção na importância do lar, onde o menor irá residir, sendo necessária a convivência sob o mesmo teto daquele que detenha a guarda, criando neste domicilio uma identidade entre a criança e seus titulares. 2.1 PANORAMA HISTÓRICO Primordialmente, no código civil de 1916 não existia divórcio, muito menos separação judicial, época em que o casamento era perpétuo e indissolúvel, então existia o desquite em caso de separação de corpos e bens. Quando essa dissolução conjugal era amigável, cabia aos cônjuges acordarem sobre a guarda dos filhos, caso o desquite fosse judicial, os filhos menores ficaria com o cônjuge inocente, ou se ambos os cônjuges fossem culpados os filhos menores ficariam em poder da mãe. Se o juiz entendesse que não deveria os filhos ficar sob a guarda do pai ou da mãe, o juiz deferiria a guarda a pessoa idônea da família de qualquer dos cônjuges. É válido ressalvar que mais se tratava de uma punição a aquele que desse causa ao divórcio, do que o intuito de assegurar o princípio do melhor interesse da criança. Anos mais tarde com as transformações da família contemporânea, uma nova concepção a respeito do direito de família surgiu, buscando garantir de forma efetiva o direito a dignidade da pessoa humana, com a intervenção do Estado mínimo, deixar a critério dos cônjuges decidirem sobre a própria vida matrimonial, foi então promulgada a lei do divórcio n. 6.515/1977 surgindo então duas formas de dissolução matrimonial o divórcio e a separação judicial. Entretanto o código civil permanecia com seu texto punitivo aqueles que dissolviam seu matrimônio, e o modelo de guarda que predominava era unilateral, que na maioria das vezes, quem detinha essa guarda era a figura materna, dada a cultura social que concebea mulher como melhor capacitada aos cuidados dos filhos. O novo código civil instituído pela lei n. 10.406/2002, trouxe em seu artigo 1.583 que “No caso de dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal pela separação judicial por mútuo consentimento ou pelo divórcio direto consensual, observar-se-á o que os cônjuges acordarem sobre a guarda dos filhos”, e caso os pais não entrassem em consenso caberia ao juiz impor a guarda aquele que tivesse melhores condições de exercê-la, sendo estabelecido em ambos os casos o regime de visita. Percebe-se a partir daqui a intenção de preservar o princípio do melhor interesse do menor, na separação dos pais, tendo como condição primordial para se definir a guarda, o genitor que possuísse melhores condições de cuidar do menor, e não aquele que fosse inocente no processo do divórcio. Entende-se como melhores condições para cuidar do menor, não somente o fator financeiro, mas também se deve considerar a questão social, onde se observa qual genitor teria melhores condições de manutenção de bem estar do menor, levando em consideração também aspectos psicológicos. Entretanto, permaneceu-se a ser utilizada na maioria dos casos regime de guarda unilateral, sendo esta predominante no ordenamento jurídico brasileiro. Com a clara intenção em assegurar o melhor interesse da criança e disciplinar o instituto da guarda compartilhada, adveio no ordenamento jurídico brasileiro à lei n.11.698/08 que alterou os artigos 1.583, 1.584 do vigente Código Civil, com o intuito de substituir a regra geral da guarda unilateral a aquele que detivesse melhores condições de exercê-la, conforme previa o revogado artigo 1.584, parágrafo único, pela guarda compartilhada, por ser a medida mais favorável em atender ao princípio do melhor interesse da criança, para que este tivesse assistência e convívio de ambos os genitores, incumbindo ambos as mesmas responsabilidades e deveres. Entretanto, não existia uma lei que definisse guarda unilateral, até então predominante, ou guarda compartilhada. O artigo 1.583, § 1 o da nova lei veio conceituar essas duas modalidades de guarda: Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. § 1 o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5 o ) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. Percebe-se que no caso de guarda unilateral compete a um só genitor a detenção da guarda, obtendo assim a exclusiva responsabilidade de decidir sobre a vida da criança, restando ao outro genitor apenas supervisionar tais atribuições. De modo diverso vem o instituto da guarda compartilhada, atribuindo a ambos os responsáveis pelo menor dividir direitos e deveres relativos ao menor e as decisões sobre a vida do mesmo, ou seja, a responsabilidade é conjunta. De acordo com Silva (2011, p,102-103), a guarda compartilhada: Requer uma corresponsabilização de ambos os genitores acerca de todas as decisões e eventos referentes aos filhos: os pais conhecem, discutem, decidem e participam em igualdade de condições exatamente da mesma maneira que faziam quando estavam unidos conjugalmente, de forma que nenhum deles ficará relegado a um papel secundário, como mero provedor de pensão ou limitado a visitas de fim de semana. [...] É claro que, por ser modalidade mais evoluída de guarda exige elevado grau de responsabilidade de ambos os pais para deixarem seus ressentimentos pessoais de lado e buscarem genuíno interesse dos filhos [...] A guarda unilateral na prática coloca o genitor que a detenha, privilegiado para o exercício do poder familiar, e consequentemente o seu fortalecimento do vínculo parental. Mesmo assegurada a garantia de visita ao genitor não guardião, o regime de guarda unilateral gera desigualdade entre os genitores, exaltando o guardião e tornando o não guardião em mero fiscalizador, pai ou mãe de fins de semana, estimulando a alienação parental e falsas denúncias. Antes do conceito de guarda compartilhada ter previsão legal, o conceito de guarda era unipessoal, a lei identificava com quem ficaria a guarda e, estabelecia o regime de visitas. Para Gonçalves (2012, p.295): “Um novo modelo passou, assim, aos poucos, a ser utilizado nas varas de família, com base na ideologia da cooperação mútua entre os separandos e divorciandos, com vistas a um acordo pragmático realístico, na busca do comprometimento de ambos os pais no cuidado aos filhos havidos em comum, para encontrar, juntos, uma solução boa para ambos e, consequentemente, para seus filhos. Tal sistema é muito utilizado nos Estados Unidos da America do Norte com o nome de joint custody.” O objetivo da guarda compartilhada é manter o vínculo parental, e responsabilizar ambos os genitores quanto às necessidades da prole. A alteração do artigo 1.584 assegurava ao genitor que tivesse melhores condições de oferecer ao menor segurança, saúde, educação exercer a guarda unilateral, caso não houvesse acordo quanto a guarda dos filhos. Conforme preconiza o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente lei n. 8.069/1980 no artigo 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” O fato é que, independente de divórcio compete a ambos os genitores o poder destes em proteger seus filhos, satisfazendo suas necessidades matérias, afetivas e educacionais. O poder familiar é inerente aos genitores e não se exclui com o divórcio, devendo ser exercido em igualdade de condições entre os pais. Visando assegurar a plena assistência ao menor o artigo 1º, §2 definiu que: A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos filhos os seguintes fatores: I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar; II – saúde e segurança; III – educação. Observa-se que na definição legal de guarda compartilhada, ela é atribuída aos genitores do menor, restringindo essa modalidade de guarda para eventuais pessoas que venham cuidar do menor, distanciando-se do moderno conceito de família contemporâneo onde os vínculos de parentescos estão mais voltados para afeto. Entretanto, houve um julgado da justiça paulista, antes mesmo da lei que regulou o instituto da guarda compartilhada, procedente no sentindo de admitir guarda compartilhada entre terceiros, conforme registrou o Professor Sérgio de Magalhães Filho no seu artigo publicado na Revista Brasileira de Direito de Famílias e Sucessões do Instituto Brasileiro de Direito de Família: GUARDA DE MENOR. PEDIDO FORMULADO PELO PAI. MENOR COM 5 ANOS DE IDADE, QUE VIVE SOB A GUARDA DE FATO DE UMA TIA. Interdição da mãe do menor, por deficiência mental. Curadoria exercida pela irmã, guardiã de fato do menor. Concessão da guarda do pai não recomendada. Manutenção do menor junto à guardiã e à mãe. Solução que melhor atende, no momento, aos interesses do menor. Ação julgada procedente. Recurso provido.(TJSP, Apelação Cível 111.249-4, Relª. Zélia Maria Antunes Alves, j. 21.02.00). Conclui-se então que, não se deve ser feita uma interpretação restritiva do artigo 1.583, § 1 o da lei 11.698/08, mas sim extensiva, autorizando assim, portanto, a atuação de terceiros nessa modalidadede guarda. No mesmo sentindo, o próprio Estatuto da criança e do adolescente preconiza em seu artigo 19 as modalidades de família: Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente preocupou-se em conceituar essas modalidades de família, assim como também regulamentar a relação delas com os menores, os artigos 25 e 28 do referido estatuto conceitua família natural e substituta respectivamente, sendo a primeira àquela formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes e a segunda far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção. 2.3 GUARDA COMPARTILHADA SOB A LEI 13.058/14 Sob a ótica de que a melhor condição para o menor proveniente de uma dissolução conjugal seria a guarda compartilhada, esta conquistou espaço no âmbito doutrinário como sendo a melhor opção, pois visa assegurar em primeiro plano o bem está do menor, levando em consideração vários aspectos como seu desenvolvimento psíquico, físico e social. Conforme preceitua Monteiro (2013, p.387): Na guarda compartilhada, ambos os genitores participam igualitariamente da educação e de todos os deveres e direitos perante a prole. É solução que privilegia os laços entre pais e filhos. Nessa espécie, ambos os pais mantêm a guarda dos filhos após a dissolução da comunhão de vidas no casamento ou na união estável, ou mesmo em caso de filhos havidos de relação que não seja uma entidade familiar, de maneira que ambos mantêm a responsabilidade pela tomada de decisões, sem, contudo, que os filhos tenham dois lares. No mesmo sentido foi o entendimento da terceira turma do Superior Tribunal de Justiça neste julgado: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA COMPARTILHADA. CONSENSO. NECESSIDADE. ALTERNÂNCIA DE RESIDÊNCIA DO MENOR. POSSIBILIDADE. 1. A guarda compartilhada busca a plena proteção do melhor interesse dos filhos, pois reflete, com muito mais acuidade, a realidade da organização social atual que caminha para o fim das rígidas divisões de papéis sociais definidas pelo gênero dos pais. 2. A guarda compartilhada é o ideal a ser buscado no exercício do Poder Familiar entre pais separados, mesmo que demandem deles reestruturações, concessões e adequações diversas, para que seus filhos possam usufruir, durante sua formação, do ideal psicológico de duplo referencial. 3. Apesar de a separação ou do divórcio usualmente coincidirem com o ápice do distanciamento do antigo casal e com a maior evidenciação das diferenças existentes, o melhor interesse do menor, ainda assim, dita a aplicação da guarda compartilhada como regra, mesmo na hipótese de ausência de consenso. 4. A inviabilidade da guarda compartilhada, por ausência de consenso, faria prevalecer o exercício de uma potestade inexistente por um dos pais. E diz-se inexistente, porque contrária ao escopo do Poder Familiar que existe para a proteção da prole. 5. A imposição judicial das atribuições de cada um dos pais, e o período de convivência da criança sob guarda compartilhada, quando não houver consenso, é medida extrema, porém necessária à implementação dessa nova visão, para que não se faça do texto legal, letra morta. 6. A guarda compartilhada deve ser tida como regra, e a custódia física conjunta - sempre que possível - como sua efetiva expressão. 7. Recurso especial provido.(STJ - REsp: 1428596 RS 2013/0376172-9, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 03/06/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/06/2014) Contudo, observou-se o legislador que na maioria dos casos de dissolução conjugal o regime de guarda predominante seguia sendo a guarda unilateral. O instituto da guarda compartilhada desde seu advento na lei 11.698/08 veio enfrentando conflitos quanto a sua real essência e denominação foi então que o Deputado Anarldo Faria de Sá propôs e conquistou a aprovação do Projeto de Lei Complementar 117/2013 que teve como intenção corrigir um erro de interpretação do parágrafo 2º do artigo 1.584 que continha a expressão “sempre que possível”, derivando a sancionada lei n. 13.058/14 que veio corrigir essa lacuna e explicar o real sentindo da guarda compartilhada. Segundo Arnaldo em entrevista a revista Justiça e Cidadania em Fevereiro de 2015, essa expressão deveria ser utilizada, para que a guarda compartilhada fosse deferida sempre que os genitores estivessem aptos a exercer a paternidade. Entretanto esse entendimento não era unanime e havia magistrados, assim como membros do ministério publico que entendiam diferente da intenção do legislador, compreendendo que só concederia a guarda compartilhada se os pais se dessem bem. Arnaldo assegura ainda que quem se separa são os cônjuges, mas nunca os filhos de seus genitores, a convivência deve ser igualitária na tentativa de preservar a higidez mental da criança, convivendo com ambos equilibradamente, impondo assim o duplo referencial. A principal diferença trazida pela lei n.13.058/14 é que a guarda compartilhada deixa de ser uma opção conforme era estabelecida, e passa a ser uma regra, descartada somente em casos excepcionais como, por exemplo, quando o juiz entender inviável sua aplicabilidade, neste caso deverá ser analisada as particularidades de cada caso, ou ainda quando de fato um dos genitores não desejar a guarda. O artigo 1.584 parágrafo terceiro da referida lei veio dispor quanto à convivência equilibrada, cabendo ao juiz basear-se na orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar para determiná-la. Mesmo visando uma convivência equilibrada entre pai e mãe, juiz deverá estabelecer uma moradia de referência que melhor atenda as necessidades do menor. Os genitores devem decidir em conjunto a melhor opção quanto ao modelo de criação e educação. Essa nova lei decreta ainda que em caso de regime unilateral de guarda, ficará obrigado 2.4 GUARDA COMPARTILHADA E GUARDA ALTERNADA A lei 13.058/14 vem sendo alvo de críticas por ter seu regime de guarda compartilhada comparado com o regime de guarda alternada, com base no que dispõe em seu artigo 1.583 parágrafo segundo “Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai (...)” essa divisão em questão não deve ser vista como divisão de tempos iguais, como ocorre na guarda alternada, mas sim ambos os genitores exercendo de forma conjunta seu poder familiar de formar a garantir plenitude ao principio do melhor interesse da criança, além disso, quanto à custódia física, na guarda compartilhada conforme preconiza o artigo 1.583 parágrafo terceiro do vigente Código Civil de 2002 deve-se considerar base de moradia dos filhos aquela que atender melhor aos interesses dos mesmos. A modalidade de guarda alternada sequer está prevista em lei, é fonte de criação jurisprudencial e doutrinária. Nesta modalidade os pais separados exercem separadamente seus direitos e deveres, de forma não conjunta, conforme a própria nomenclatura existe uma alternância de períodos iguais e não um compartilhamento. O menor não possui nessa modalidade uma residência fixa, pois nenhum dos genitores possui a guarda, e a alternância de convívio dos mesmos com o menor não possui uma forma específica podendo ser diário, semanal, mensal, anual. Essa divisão poderá ser prejudicial ao desenvolvimento psicoemocionaldo menor, pois sobressai mais o interesse dos pais. Entretanto há exceção quanto à aplicabilidade dessa modalidade, podendo o juiz ao analisar o caso concreto, decretá-la se entender conveniente para o melhor interesse do menor. 2.5 ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA GUARDA COMPARTILHADA Sob a reflexão de que nada é perfeito ou de total inutilidade, a lei n.13.058/14 possui seus aspectos positivos e negativos, devendo os mesmos serem observados e ponderados ao caso concreto. Os aspectos positivos de maior relevância acerca dessa modalidade destacam-se a maior responsabilização de ambos os genitores em suprir as necessidades do menor; maior comunicação dos genitores no desenvolvimento tanto físico como mental do menor; maior cooperação dos ex-cônjuges para atender as necessidades do menor, implicando em menos atrito entre ambos; O desenvolvimento moral social e psicológico do menor é o que importa quando se analisa a separação dos genitores, que por vezes o rompimento do vinculo conjugal é a melhor alternativa para que os filhos não presenciem dentro do lar discussões e falta de respeito mutuo entre seus genitores, sendo essa a melhor escolha para que a guarda compartilhada seja eficiente. Essa modalidade apresenta mais eficiente do que a unilateral pois os genitores trabalhando em conjunto, exercendo suas funções em iguais condições, motiva o equilíbrio emocional do menor. Waldyr Grisard Filho apresenta vantagens para pais e filhos no regime de guarda compartilhada nesse trecho: [...] além de proporcionar-lhes tomar decisões conjuntas relativas ao destino dos filhos, compartilhando o trabalho e as responsabilidades, minimiza o conflito parental, diminui os sentimentos de culpa e frustração por não cuidar dos mesmos, ajuda-os a atingir os objetivos de trabalharem em prol dos melhores interesses morais e materiais da prole. Compartilhar o cuidado aos filhos significa conceder aos pais mais espaço para suas outras atividades. A guarda compartilhada oferece aos ex-cônjuges a possibilidade de reconstrução de suas vidas pessoal, profissional, social e psicológica. As estatísticas comprovam que somente 25% das mães com guarda única constituem novas famílias, enquanto 45% delas, do grupo da guarda compartilhada, formam novas uniões. Não deixa a citada guarda de reafirmar a igualdade parental desejada pela Constituição Federal. Importante a observação de Grysard quanto a constituição de novas famílias dos ex cônjuges, sendo assistidos pela guarda compartilhada possuem mais espaço para outras atividades, auxiliando na reconstrução da suas profissionais, social. O deputado Arnaldo em sua entrevista aponta como um dos pontos positivos da guarda compartilhada a redução da alienação parental: [...] A alienação parental é um mal nefasto para as crianças. Quando um dos cônjuges não aceita a separação, deseja se vingar pelo fim da relação, ou, por algum motivo menor, usa a prole. E, então, dificulta a convivência dos filhos com o outro, faz denúncias falsas, não deixa que o outro participe da vida dos filhos, não passando qualquer tipo de informação[...].Não é raro quando implantam “falsas memórias”, denegrindo a imagem do outro pai para que a criança venha desenvolver uma repulsa a este [...]. Essa tortura psicológica é uma violência seriíssima contra a criança, além de causar sérias sequelas psicológicas, às vezes irreversíveis, no relacionamento entre esta e o pai alienado. Assim, a guarda compartilhada, a convivência com ambos, funcionaria como uma vacina contra esse mal, já que determina a convivência igualitária, dificultando a conduta negativa de um dos ex- cônjuges contra o outro. Quanto aos aspectos negativos da guarda compartilhada está o receio de que a criança possa ficar menos tempo com a mãe, figura imprescindível no desenvolvimento da criança; ausência de um lar fixo, de referência, causando por consequência confusão no psicológico do menor; novas batalhas judiciais por discordância entre os genitores por atos praticados isoladamente da vida civil do menor; a confusão por parte dos cônjuges que pensam está livre da pensão alimentícia por optarem pela guarda compartilhada, estes valores deverão ser divididos de forma equilibrada levando sempre em consideração possibilidade e necessidade. Aspectos sentimentais não se confundem com os econômicos. Sem sombra de dúvidas este assunto ainda tem muito que ser aprofundado, em especial por ser um instituto novo no ordenamento jurídico brasileiro que desconhece a consciência coletiva. 2.6 PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS Âmbito jurídico
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