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sem uma elevação correspondente da creatinina sérica, ocorre regularmente em doentes com sangramento digestivo alto e com perfusão renal deficiente. Sinais clínicos de choque hemorrágico (taquicardia, taquipneia, pulsos filiformes, hipotensão, pele fria e úmida e diminuição do nível de consciência) indicam depleção mínima de 40% do volume sangüíneo circulante. DIAGNÓSTICO Questionar sobre a ingestão de AAS ou outro antiinflamatório não-hormonal, corticoesteróides, anticoagulantes, agentes corrosivos ingeridos em tentativas de suicídio ou ingesta abusiva de bebida alcoólica. A endoscopia digestiva alta é o procedimento de eleição para a localização do sangramento digestivo alto e é essencial no diagnóstico de úlceras pépticas gástricas e duodenais, neoplasias gástricas e varizes esofágicas. AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DA HDA Paciente de alto risco: Perda volemica maciça HDA varicosa Instabilidade hemodinamica Doenças associadas com potencial descompensação devido ao sangramento (ex. insuficiência hepática, insuficiência renal, IAM recente, etc.) Paciente com fatores prognósticos clínicos, volêmicos e endoscópicos de alta possibilidade de resangramento ou mortalidade TRATAMENTO 1. REPOSIÇÃO VOLÊMICA Deve-se iniciar imediatamente a reanimação volêmica com soluções cristalóides, através de cateter de grosso calibre instalado em veia também calibrosa. Se o paciente for alcoólatra, as soluções intravenosas devem incluir glicose e tiamina (Acesyl 100 mg em 1 mL; Citoneurin 1000 tiamina 100 mg e piridoxina 100 mg). Concentrado de hemácias, plasma fresco congelado e concentrados de plaquetas devem ser usados conforme necessário. Kelson Nobre Veras Condutas Práticas para UTI 130 2. CONTROLE DO SANGRAMENTO Lavagem gástrica: Não traz benefícios terapêuticos. Serve para documentar a presença de HDA e melhorar as condições para a realização da endoscopia. A endoscopia alta de urgência e a tentativa de aplicação de medidas hemostáticas através da mesma são indicadas em todos os doentes com hemorragia digestiva alta. 2.1. Varizes de Esôfago Terapia farmacológica Conduta de primeira-linha em pacientes com provável hemorragia de varizes de esôfago. Consiste no uso de vasoconstrictores seguros como a terlipressina, somatostatina ou análogos como octreotida. Somatostatina Stilamin 250 g e 3 mg 250 g em bolus seguido por infusão intravenosa contínua na dose de 250 g/hora (diluir em solução salina). Duração do tratamento: 2 a 5 dias. Octreotida Sandostatin 0,05 mg, 0,1 mg e 0,5 mg 50 g em bolus seguido por infusão EV contínua na dose de 50 g/h. Diluir 0,2 mg em 200 mL de SF/SG e correr a 50 mL/h. Duração do tratamento: 2 a 5 dias. Terlipressina Glypressin 1 mg; pó liofilizado Única destas drogas que se mostrou capaz de reduzir mortalidade, sendo atualmente o fármaco de escolha. Posologia: 2 mg EV cada 4 horas nas primeiras 48 horas, seguido por 1 mg cada 4 horas. O aumento da pressão sangüínea têm sido controlado com 150 g de clonidina EV (Clonidin 150 g). A bradicardia severa pode ser tratada com atropina. Duração do tratamento: 2 a 5 dias. Procedimentos para controle do sangramento A escleroterapia endoscópica interrompe o sangramento em 80 a 90 % dos pacientes com hemorragia aguda de varizes. As vantagens incluem controle definitivo da hemorragia, sua ampla disponibilidade, facilidade de uso e baixo custo. A laqueadura endoscópica de varizes é equivalente à escleroterapia na obtenção da hemostasia. Há menos complicações associadas, as quais incluem ulcerações superficiais e, raramente, a formação de estenoses. Tratamento com uma derivação portossistêmica intrahepática transjugular consiste na colocação de um stent de metal expansível por uma área criada entre uma veia hepática e um ramo intrahepático principal do sistema porta. As derivações cirúrgicas devem ser consideradas em casos de hemorragia refratária ou ressangramento recorrente precoce que não podem ser controlados através de meios endoscópicos ou farmacológicos e quando o shunt transjugular não estiver disponível ou não for tecnicamente possível. Kelson Nobre Veras Condutas Práticas para UTI 131 2.2. Úlcera Péptica Sangramento de úlcera péptica cessa espontaneamente em pelo menos 80% dos pacientes, a maioria dos quais tem uma recuperação sem intercorrências sem uma intervenção específica. Classificação endoscópica de Forrest Classe III: úlceras de base limpa Taxa de hemorragia recorrente de 0 a 2 % Virtualmente nunca requerer intervenção urgente para hemorragia recorrente Candidatos para alta precoce (durante o primeiro dia) depois de reanimação volêmica, estabilização e instituição de terapia específica para a úlcera. Classe IIC e IIB: úlceras caracterizadas por placas pigmentadas planas ou coágulos aderentes, respectivamente. Incidência de ressangramento e intervenção urgente entre 10 a 22%, respectivamente. Requerem período mais longo de hospitalização, embora não em UTI. Classe IIA e Classe I: úlceras não sangrantes com vasos visíveis e úlceras com sangramento ativo, respectivamente. Apresentam risco mais elevado para hemorragia adicional (43 a 55%, respectivamente) e morte. Devem passar pelo menos um dia na UTI. Desde que a maioria dos episódios de hemorragia recorrente acontece dentro de três dias depois do episódio, os pacientes que têm uma evolução hospitalar descomplicada podem ser receber alta após três dias. Dieta zero: duração definida pelo risco de ressangramento. Características endoscópicas de baixo risco: iniciar dieta em seguida ao procedimento endoscópico. Características endoscópicas de risco mais alto: não receber nada por via oral ou somente dieta líquida sem resíduos durante os primeiros dois dias de hospitalização. Inibidores da bomba de prótons: omeprazol (pó liofilizado 40mg) Ataque: 80 mg diluído em SF0,9% 100 mL EV em 20 a 30 minutos Infusão contínua: 8 mg/hora nas 72 h subseqüentes (80 mg ou 02 FA em 100 mL SF0,9% a 10 mL/hora). Terapias endoscópicas: eletrocoagulação bipolar, sondas térmicas ou escleroterapia endoscópica. Avanço mais importante no tratamento de úlceras sangrantes durante a última década. Indicada para pacientes com evidência clínica de hemorragia significativa ou evidência endoscópica de sangramento ativo ou um vaso visível não sangrante. Úlceras com uma placa pigmentada, coágulo aderente ou base limpa não são beneficiadas com a terapia endoscópica. Cirurgia: quando a terapia endoscópica falha ou é indisponível. 3. Outros Cuidados Considerar intubação endotraqueal como precaução contra aspiração antes da endoscopia em pacientes com hemorragia volumosa, agitação severa ou estado mental alterado. Antibioticoprofilaxia sistêmica Pacientes cirróticos com hemorragia gastrointestinal (ceftriaxona 1g EV ao dia). Úlcera péptica perfurada (penicilinas associadas a inibidores da beta-lactamase, carbapenêmicos, fluoroquinolonas e antianaeróbio, aztreonam e antianaeróbio ou aminoglicosídio e antianaeróbio). A duração da cobertura antimicrobiana é controversa. O consenso geral corrente advoga terapia antimicrobiana por 5 a 7 dias. Kelson Nobre Veras Condutas Práticas para UTI 132 REFERÊNCIAS 1. Garcia-Tsao G, Bosch J. Management of varices and variceal hemorrhage in cirrhosis. N Engl J Med 2010; 362: 823-832. 2. Laine L