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DIREITO DAVI FRAGOSO BUENO - RA: C468CA-8 FLÁVIA RUSSO CARVALHO PRADO – RA: 6320040 MARCELO CASCALES MIRANDA – RA: C45EEB3 MARIANA COSTA SANTOS – RA C42EJI0 PERSIDE BARBOZA DO COUTO – RA: T403138 O PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A DIGNIDADE HUMANA São Paulo 2016 DIREITO DAVI FRAGOSO BUENO - RA: C468CA8 FLÁVIA RUSSO CARVALHO PRADO – RA: 6320040 MARCELO CASCALES MIRANDA – RA: C45EEB3 MARIANA COSTA SANTOS – RA C42EJI0 PERSIDE BARBOZA DO COUTO – RA: T403138 O PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A DIGNIDADE HUMANA Trabalho apresentado à Universidade Paulista - UNIP, como requisito parcial de aprovação do 3° semestre do curso de Direito de 2016. São Paulo 2016 “A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos, pois, pensar bem. Nisto reside o princípio da moral”. Blaise Pascal RESUMO O presente estudo foi elaborado com o intuito de demonstrar de forma sucinta dois assuntos muito complexos. Para o tanto, o estudo está divido em duas partes. No primeiro momento, apresentamos um ensaio acerca do preâmbulo constitucional. No qual, tomaremos conhecimento do vem a ser preâmbulo, quais são suas características e quais os seus conceitos. Em seguida, abordaremos o preâmbulo da nossa Constituição Federal de 1988 e falaremos a respeito das suas especifidades. Descreveremos quais são suas particularidades e a intenção do constituinte dentro desta redação. E ao final da primeira etapa, vamos abordar o tema que trata a respeito da aplicabilidade do nosso preâmbulo, e para isso, vamos apresentar doutrinas e jurisprudências com o fim de parafrasear a nossa análise sobre este tema. No segundo momento, falaremos da dignidade da pessoa humana. Antes de tudo, mostraremos o conceito da dignidade humana. O que se entende por dignidade da pessoa humana. Depois, atingiremos o contexto histórico do tema, demonstrando como e quando surgiu a dignidade da pessoa humana e todo o seu processo evolutivo, para isso, faremos um comparativo da dignidade humana em um tempo remoto e vamos acompanhar o seu desenvolvimento. Nos valeremos grandemente dos ensinamentos do Professor e Magistrado (atual Ministro do Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso. E por fim, vamos detalhar a dignidade humana e seu quadro de aplicação, normas, conceitos e aplicabilidade no contexto contemporâneo. Palavras-chave: Preâmbulo, Constituição Federal, Dignidade da Pessoa Humana ABSTRACT The present study was designed in order to demonstrate succinctly Two subjects Very Complex. For both, the study is divided TWO contradictory. At first, we present hum test about the constitutional preamble. No Wed, will take knowledge to be COMES one Preamble, what are its characteristics and what are its concepts. Next, we will cover our Preamble of the Constitution of 1988 and one will talk about their specificities. Describe what their characteristics and intention of the constituent Within this newsroom. And the end of the First Step, we will address the topic que treats Regarding the applicability of our Preamble, and for that, we will present doctrines and jusrisprudências with The End of paraphrasing Our analysis on this item. In the second time, we talk about the dignity of the human person. Before all, we show the concept of human dignity. What is meant FOR dignity of the human person. THEN, we will achieve the historical background of the topic, Demonstrating How and When did the dignity of the human person and ALL Your evolutionary process, paragraph THAT, we hum comparative human dignity in Remote hum pace and we will follow his development. In valeremos greatly from the teachings of Professor and Magistrate (current Minister of the Supreme Court) Luis Roberto Barroso. AND FINALLY, we detail a Human dignity and Its Application Framework, standards, concepts and applicability in the context Contemporary. Keywords: Preamble, the Constitution, Human Dignity SUMARIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 7 1 - O PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988........................................................ 8 1.1 - CONCEITO DE PREÂMBULO ................................................................................................ 8 1.2 - A CERCA DO PREÂMBULO DA CF/88 ................................................................................. 8 1.3 - A APLICABILIDADE DO PREÂMBULO DA CF/88 ............................................................. 9 2 - A DIGNIDADE HUMANA ............................................................................................................ 11 2.1 - CONCEITO DE DIGNIDADE HUMANA .............................................................................. 11 2.2 - O CONTEXTO HISTÓRICO DA DIGNIDADE HUMANA .................................................. 12 2.3 - A DIGNIDADE HUMANA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO ................................... 13 3 - FICHA TÉCNICA ........................................................................................................................... 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 17 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 18 7 INTRODUÇÃO O presente estudo abordará dois temas fundamentais do ordenamento jurídico. A saber, o preâmbulo da nossa Constituição Federal de 1988, e com bastante afinco, a dignidade da pessoa humana. Preliminarmente, discutiremos acerca do preâmbulo constitucional definindo seu conceito, não só o atual, mas em diversos momentos da história. Falaremos, óbvio, do preâmbulo da nossa Constituição Federal de 1988, quais são seus fundamentos e princípios. Abriremos a pauta sobre como e qual o intuito de ele ser elaborado. A qual finalidade o legislador tinha intenção de o destinar. E por fim, muito importante, abriremos o tema que versa acerca da aplicação do preâmbulo no contexto contemporâneo no nosso espaço jurídico. Ao que será secundado, pelo tema demasiado importante que é a dignidade da pessoa humana. Vamos conceituar a dignidade humana da forma mais clara possível. E após deixarmos bem nítido o conceito desta dignidade, exploraremos todo o conceito histórico deste valor. Quando e como tal conceito surgiu para o ser humano. Em qual momento começamos a perceber esse potencial conceito como parte fundamental dos nossos valores. Quais foram os caminhos e motivos que levou o Estado a tutelar a dignidade como garantia máxima do ser humano, tutelando, desta forma, a dignidade com o rigor da elevada soberania da Constituição Federal. E vencida estas etapas, valeremos de nos falar sobre a dignidade da pessoa humana no contexto contemporâneo, abordando com entusiasmo a visão que as pessoas naturais têm deste conceito. Mostrando o que o legislador enxerga a respeito disto. E qual a posição do Brasil, nas relações internacionais, de fronte deste valor tão importante. E por acreditarmos piamente honra do poder judiciário, e confiarmos plenamente na veracidade do saber científico, deixamos finalmente destacadoque este estudo encontra-se livre de qualquer reflexo de doxologia, ficando puramente expresso em nossas palavras aquilo que a ciência nos traz à tona amparado pelo ordenamento jurídico brasileiro com base em sua doutrina, jurisprudência e texto de norma positiva no seu estrito sentido. 8 1 - O PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 1.1 - CONCEITO DE PREÂMBULO O Preâmbulo é o texto que antecede imediatamente os artigos de uma Constituição. A nossa Constituição Federal de 1988 dispõe a seguinte redação: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” (Vade Mecum, Ed Manole, 2014, p.7) Ele tem como finalidade apresentar uma prévia sobre os principais focos e objetivos da redação constitucional que há de o preceder. Anunciando, desta forma, os princípios e valores constitucionais mais valiosos que estarão inclusos no texto normativo, como é o exemplo das ideias que serão o sustentáculo do processo de criação da própria Constituição, bem como, todos os bens e valores que serão tutelados pelo Estado a fim de zelar pela paz comum e a ordem social. 1.2 - A CERCA DO PREÂMBULO DA CF/88 Há três principais correntes doutrinárias acerca sobre o preâmbulo e uma posição do STF. As quais destacamos da seguinte forma: existe a tese da “Irrelevância Jurídica”, na qual diz-se que o Preâmbulo está no âmbito da política e, por tanto, sua relevância jurídica como norma é desprezível. Existe ainda a tese da “Plena eficácia”, que nos diz que o Preâmbulo possui força idêntica às normas constitucionais. Por terceiro, a tese da “Relevância jurídica indireta”, a qual nos diz que o Preâmbulo constitui parte dos princípios e características da Constituição Federal, mas deve ser observado sob a ótica de não ser confundido com as normas jurídicas constitucionais. Para Kildare Gonçalves Carvalho, o Preâmbulo espelha fundamentos filosóficos, políticos e ideológicos, conferindo legitimidade à Constituição, porém, apenas para servir de base das normas constitucionais, e não como norma por si só: 9 “O preâmbulo, do latim praeambulu, consiste numa declaração de propósitos que antecede o texto normativo da Constituição, revelando os fundamentos filosóficos, políticos, ideológicos, sociais e econômicos, dentre outros, informadores da nova ordem constitucional. (...) O preâmbulo confere legitimidade à Constituição, seja quanto à sua origem, seja quanto ao seu conteúdo, que será variável segundo as circunstâncias históricas e a ideologia que se verificaram durante a atividade dos constituintes originários.” (CARVALHO, p. 507) Para o Supremo Tribunal Federal o Preâmbulo constitucional não tem relevância jurídica no âmbito normativo e deve ser apreciado apenas politicamente por demonstrar a ideologia do constituinte. É isso que observamos pelo julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2076/AC, da qual destacamos: “O Senhor Ministro Marco Aurélio (Presidente) - Acompanho, também, o eminente relator, assentando que o preâmbulo, o introito não integra o corpo da própria Constituição. Portanto, não pode repercutir a ponto de se adentrar o campo da simetria, exigindo-se que haja adoção uniforme em todas as unidades da Federação” (ADIN n. 2.076/2002, p. 230, STF) Ainda neste sentido, posiciona-se o Senhor Ministro Sepúlveda Pertence: “Sr. Presidente, independente da douta análise que o eminente Ministro-Relator procedeu sobre a natureza do preâmbulo das constituições, tomado em seu conjunto, esta locução “sob a proteção de Deus” não é uma norma jurídica, até porque não se teria a pretensão de criar obrigação para a divindade invocada. Ela é uma afirmação de fato - como afirmou Clemente Mariani, em 1946, na observação recordada pelo eminente Ministro Celso de Mello - jactanciosa e pretensiosa, talvez - de que a divindade estivesse preocupada com a Constituição do Brasil. De tal modo, não sendo norma jurídica, nem princípio constitucional, independente de onde esteja, não é ela de reprodução compulsória pelos Estados-membros.” (ADIN n. 2.076/2002, p. 229, STF) Logo, percebemos que a doutrina majoritária e a posição do STF em relação ao preâmbulo, é de que não existe força normativa em seu texto. Sendo ele apenas uma ideologia política que transmite as intenções do constituinte em relação a Constituição Federal e aos seus princípios. 1.3 - A APLICABILIDADE DO PREÂMBULO DA CF/88 Umas das principais aplicabilidades do Preâmbulo da Constituição federal de 1988 para Alexandre de Moraes (Direito Constitucional, São Paulo: Atlas, 2005, p. 15) foi romper com os ditames da constituição anterior que era mais socialista do que democrática. Para Moraes, o Preâmbulo não tem autonomia como norma constitucional, mas tem aplicabilidade por ter de ser observado como elemento de interpretação para as normas que o sucedem. 10 Sob a ótica jurisprudencial da Senhora Ministra Cármen Lúcia, o Preâmbulo, apesar de não ser norma por si só, possui fortes valores que norteiam a Constituição e servem de subsídio para a correta interpretação e aplicação das normas constitucionais: “Devem ser postos em relevo os valores que norteiam a Constituição e que deve servir de orientação par a correta interpretação e aplicação das normas constitucionais e apreciação da subsunção, ou não da Lei 8.899/1994 a elas. Vale assim uma palavra, ainda que brevíssima, ao Preâmbulo da Constituição, no qual se contém a explicitação dos valores que dominam a obra constitucional de 1988” (ADI 2.649, voto da Senhora Ministra Relatora Cármen Lúcia, 2008) Paulo Mascarenhas confirma em seus ensinamentos a tese de que o Preâmbulo serve como fonte de interpretação e acompanhamento das demais normas constitucionais, porém, não sendo ele fonte individual de direito. “A sua utilidade consiste em esclarecer o sentido ideológico da Constituição escrita que se examina, traduzindo-se, assim, em autêntico subsídio à hermenêutica constitucional, pois, traz em si, de forma sintética, os anseios e aspirações do legislador constituinte. “(MASCARENHAS, Paulo, Manual de Direito Constitucional, 2014, p.31) Entenda-se assim que pela doutrina majoritária, e pela corrente jurisprudencial, o Preâmbulo constitucional não tem aplicabilidade como norma jurídica autônoma. Sendo desta forma, a sua aplicação considerada um subsídio dos parâmetros de interpretação da redação constitucional e aplicação ao caso concreto indiretamente, servindo como sinapses para a subsunção da norma constitucional. Cabe ainda dizer que a Constituição Federal não pode ser interpretada de forma oposta aos seus princípios, os quais estão expostos, em primeiro lugar, em seu Preâmbulo e demonstram a manifestação de vontade e a ideologia do constituinte ao desvincular a Constituição de 1988 da antiga. Agora, com um caráter muito mais livre, digna de um Estado Democrático de Direito que consagra a liberdade e os direitos individuais, as garantias sociais e a dignidade humana. 11 2 - A DIGNIDADE HUMANA 2.1 - CONCEITO DE DIGNIDADE HUMANA Se fossemos apreciar o conceito de dignidade humana sob a ótica de uma única frase, poderíamos dizer,sem receio de errar, que “A dignidade humana se fundamenta pelo princípio da integridade moral e espiritual que são naturalmente uma prerrogativa de todos os seres humanos”. Elencada no rol dos direitos fundamentais da nossa Constituição Federal e nos Direitos Humanos Internacionais, a dignidade humana constitui o princípio mor do ordenamento jurídico dentro do nosso Estado Democrático de Direito e preexiste às normas positivas. Tamanha é a importância da dignidade humana que, sendo ela plenamente percebida nos últimos dois séculos, seu peso tornou-se tão grande que surgiu uma esfera de gravidade ao seu redor capaz de atrair sobre si todos os outros princípios críticos especificados nos Direitos Fundamentais. Desta forma, como nos mostra os ensinamentos de Alexandre de Moraes, a dignidade humana é: “...um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos”(MORAES, Alexandre de, Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. SP, Ed, Atlas, 2002, p. 128.) Neste sentido, é concluso que a dignidade da pessoa humana é um direito natural do homem por ser um valor anterior a norma escrita. É também o maior princípio tutelado pela Constituição Federal. E por tão grande que é engloba o direito às demais prerrogativas essenciais a todos os seres humanos, inclusive o direito à vida. 12 2.2 - O CONTEXTO HISTÓRICO DA DIGNIDADE HUMANA Acerca do contexto histórico da dignidade humana, é preciso, antes de tudo, explicitar que a dignidade humana no âmbito constitucional pode ser elencada como um ato declaratório, haja visto que a sua instituição não se deu por vias de redação normativa, pois, como já havíamos falado, a dignidade da pessoa humana preexiste a norma escrita. Logo, constitui-se como direito natural do ser humano pelo simples fato deste existir. Em suma, a dignidade humana inicia-se no cenário histórico do homem em um contexto relacionado diretamente com a religião por estar incutido na bíblia. Com o surgimento do movimento iluminista e a Antropologia, a dignidade humana tomou rumos filosóficos com fundamentos como a liberdade, valores morais e a moralidade, a capacidade de cada um decidir seu próprio destino, etc. E no decorrer do século XX, a dignidade da pessoa humana ganhou parâmetros políticos e passou a ser objeto tutelado pelo Estado como nos mostra os ensinamentos de Luís Roberto Barroso: “...após a 2a. Guerra Mundial, a ideia de dignidade da pessoa humana migra paulatinamente para o mundo jurídico, em razão de dois movimentos. O primeiro foi o surgimento de uma cultura pós-positivista, que reaproximou o Direito da filosofia moral e da filosofia política, atenuando a separação radical imposta pelo positivismo normativista. O segundo consistiu na inclusão da dignidade da pessoa humana em diferentes documentos internacionais e Constituições de Estados democráticos.” (Luís Roberto Barroso, A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo: Natureza Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. Versão provisória para debate público. Mimeografado, dezembro de 2010) Isto posto, dizemos que a dignidade da pessoa humana se originou dos valores e princípios morais anteriores a tutela do Estado, em rumores de uma época onde o conhecimento buscava explicações no divino. Em seguida, passou a ser objeto do conhecimento filosófico. E pouco tempo depois, o Estado tomou para si a sua tutela. Hoje, a dignidade da pessoa humana é mais do que um princípio jurídico. 13 2.3 - A DIGNIDADE HUMANA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO Apesar de ser plenamente possível afirmar que o ser humano nunca esteve separado do conceito de dignidade humana, tem sido nas últimas décadas que, de fato, este princípio tomou proporções significativas, e passou a elencar o rol de inúmeros documentos nacionais e internacionais que versam sobre direitos universais e integram o princípio da dignidade humana. No contexto contemporâneo, um dos principais avanços do ordenamento jurídico brasileiro foi elencar no rol de nossa constituição os princípios de dignidade da pessoa humana. Destarte, exemplifica o inciso III do art. 1° da nossa CF/88, da qual extraímos “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos… III - a dignidade da pessoa humana”. Na mesma proporção em que foi reconhecida como norma majoritária a redação dada pelos atos constitucionais, certos fundamentos - e dentre os principais, a dignidade da pessoa humana - foram abraçados e honrados pela tutela estatal como partes essenciais à sobrevivência digna do ser humano. Tudo isso se dá neste momento contemporâneo, precisamente, após a segunda guerra mundial, quando a comunidade internacional sentiu a necessidade de fundamentar e abrigar garantias mínimas para integridade moral e física de todos os seres humanos. Na concepção atual, é extremamente explícito que a dignidade da pessoa humana tomou proporções de importância tão relevantes que é vista sob a atual ótica do legislador como fundamento constitucional, deixando de ser um simples princípio de subsistência à norma positiva. Via de regra, a recorrência dos termos da dignidade humana, no que tange a jurisprudência do Brasil, denota a vontade da retórica argumentativa em razão dos princípios menos abstratos; isso devido a alta complexidade em se nortear parâmetros que estabeleçam com precisão o contento da dignidade humana. Como é o exemplo que apreciamos acerca da necessidade de preenchimento de lacunas jurídicas. A respeito destacamos a união homoafetiva. E enfatizamos com os ensinamentos de Luís Roberto Barroso: “No Brasil, como regra geral, a invocação da dignidade humana pela jurisprudência tem se dado como mero reforço argumentativo de algum outro fundamento ou como ornamento retórico. Existe uma forte razão para que seja assim. É que com o grau de abrangência e de detalhamento da Constituição brasileira, inclusive no seu longo elenco de direitos fundamentais143, muitas das situações que em outras jurisdições envolvem a necessidade de utilização do princípio mais abstrato da dignidade 14 humana, entre nós já se encontram previstas em regras específicas de maior densidade jurídica. Diante disso, a dignidade acaba sendo citada apenas em reforço. No constitucionalismo brasileiro, seu principal âmbito de incidência se dará em situações de ambiguidade de linguagem – como parâmetro para escolha de uma solução e não de outra, em função da que melhor realize a dignidade –, de lacuna normativa – para integração da ordem jurídica em situações, por exemplo, como a das uniões homoafetivas –, de colisões de normas constitucionais e direitos fundamentais – como, por exemplo, entre liberdade de expressão, de um lado, e direito ao reconhecimento e à não-discriminação, de outro144 – e nas de desacordo moral razoável, como elemento argumentativo da construção justa. No capítulo final se procura fazer essa demonstração.” (Luís Roberto Barroso, A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo: Natureza Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. Versãoprovisória para debate público. Mimeografado, dezembro de 2010). Não obstante, no cenário contemporâneo a dignidade da pessoa humana faz parte de um amplo raciocínio da nossa corte suprema (STF) que alude de forma expressa a importância deste fundamento em todas as esferas do direito brasileiro. E faz-se de forma tão implícita que se usa a instrumentalização de tal conceito em face de processos penais - apenas por exemplo, mas cita-se o civil, o trabalhista e tantos outros quanto for possível - para assegurar aos passivos a presunção de inocência, contraditório, ampla defesa, etc. Neste mesmo sentido, a proteção máxima a integridade física e moral coibindo de todas as formas, sempre motivado pela dignidade da pessoa humana, a tortura, tratamento desumano, e tudo aquilo que degrade ou tenha aspectos cruéis. Em face do exposto, leia-se as jurisprudências: STF, DJ 16 fev. 2001, HC 79.812/SP, Rel. Min. Celso de Mello. STF, DJ 17 out.2008, HC 93782/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski. STF, DJ 20 out. 2006, HC 85.327/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes. STF, DJ 30 abr. 2010, HC 98.579/SP, Rel. p/ acórdão Min. Celso de Mello. STF, DJ 04 dez. 2009, HC 99.652/RS, Rel. Min. Carlos Britto. STF, DJ 20 mai. 2010, HC 98.067/RS, Rel. Min. Marco Aurélio. STF, DJ 19.dez.2008, HC 91952/SP, Rel. Min. Marco Aurélio. STF, DJ 5 set. 2008, HC 90.125/RS, Rel. p/ acórdão Min. Eros Grau. STF, DJ 19 dez. 2008, RE 398.041/PA, Rel. Min. Joaquim Barbosa. STF, DJ 10 ago. 2001, HC 70.389, Rel. Min. Celso de Mello. STF, DJ 05 nov. 2009, ADPF 130/DF, Rel. Min. Carlos Britto. STF, DJ 25 set. 2009, Pet 3388/RR, Rel. Min. Carlos Britto. STF, DJ 26 abr. 2010, STA 316/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes (presidente). Finalmente, ressaltamos que a dignidade da pessoa humana no contexto contemporâneo deixou de ser um princípio propriamente dito e passou a elencar o rol dos fundamentos constitucionais, de tal sorte, que nada seja julgado, tão pouco normatizado, sem 15 que se leve em consideração majoritariamente os princípios da dignidade humana, haja vista que este fundamento vale para tudo, desde uma ação de execução de alimentos, até uma condenação penal transitada em julgado. 16 3 - FICHA TÉCNICA CONCEITOS REFERÊNCIA JURÍDICA PREÂMBULO CONSTITUCIONAL CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO PREÂMBULO, CRFB 1988 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA CRFB 1988, ARTIGO 1°, III PRIMÓRDIO DA DIGNIDADE HUMANA CÓDIGO DE HAMURABI DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA CRFB 1988, ARTIGO 26, §7° DINIGDADE DA PESSOA HUMANA CRFB 1988, ARTIGO 27 DIGNIDADE HUMANA CF 1947, ITALIANA, ARTIGO 3° A DIGNIDADE INTANGÍVEL DO HOMEM ASSEMBLÉIA DAS NAÇÕES UNIDAS DINGIDADE DA PESSOA HUMANA CF/76 PORTUGUESA A DIGNIDADE INTANGÍVEL DO HOMEM CONSTITUIÇÃO ALEMÃ DIGNIDADE NA ORDEM ECONÓMICA CRFB 1988, ARTIGO 170, I, II DIGNIDADE E A FAMÍLIA CRFB 1988, ARTIGO 226, § 7° 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos e destacamos neste breve estudo que se passou, o preâmbulo constitucional tem a finalidade de apresentar uma síntese das ideias, focos e objetivos que serão alvo do legislador ao dar redação à Constituição. Acerca disto, há três correntes da doutrina acerca do preâmbulo, e que a majoritariamente aceita nos deixa o ensinamento de que sua relevância jurídica é indireta. Desta forma, o preâmbulo não pode ter efeito de normativo quando observado de forma individual, mas há que se levar em consideração todo o seu texto na interpretação das demais normas, pois seu conteúdo expressa de forma clara e objetiva a intenção do legislador. Concluímos, desta forma, no que tange o preâmbulo, que apesar de ele não ter autonomia normativa para que seu texto tenha eficácia por si só, seu conteúdo não pode ser esquecido quando as demais normas forem observadas, e por tanto, seu texto serve como complemento à subsunção dos demais conteúdos normativos. E no que diz respeito a dignidade da pessoa humana, deixamos amplamente claro a sua importância no contexto atual. E de forma bem sucinta descrevemos em uma frase o seu sentido. “A dignidade humana se fundamenta pelo princípio da integridade moral e espiritual que são naturalmente uma prerrogativa de todos os seres humanos”. Ao abordarmos o contexto histórico e contemporâneo da dignidade humana, deixamos claro a sua importância. Hoje ela é elencada no rol da nossa Constituição Federal, além de fazer parte de diversos textos internacionais dos quais o Brasil é signatário. A dignidade humana, ficou claro, é prerrogativa do ser humano antes mesmo de termos as leis positivas, fazendo parte dos nossos valores subjetivos que antecedem a lei escrita. No contexto atual, após determinados eventos, a dignidade humana tomou proporções gigantescas na concretude da esfera jurídica, de tal sorte que, hoje, não é mais possível que ela seja ignorada e constitui mais do que um princípio, e faz parte dos fundamentos do direito, tendo de ser observada em todos os momentos, desde uma simples execução de alimentos, até uma ação penal. 18 REFERÊNCIAS Preâmbulo Constitucional, Vade Mecum, ED. Manole, 2014. Jurisprudência, Ação Direta de Inconstitucionalidade, Senhor Ministro Marco Aurélio n. 2.076/2002, p. 230, STF. Jurisprudência, Ação Direta de Inconstitucionalidade, Senhor Ministro Sepúlveda Pertence, n. 2.076/2002, p. 229, STF. Jurisprudência, Ação Direta de Inconstitucionalidade, Senhora Ministra Cármen Lúcia, n. 2.649/2002, STF. Manual de Direito Constitucional, MASCARENHAS, Paulo, 2014. Luís Roberto Barroso, A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo, 2010. Luís Roberto Barroso, A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional Contemporâneo: Natureza Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. Versão provisória para debate público. Mimeografado, dezembro de 2010. Vasco Pereira da Silva, Ingo Wolfgang Sarlet, Direito Público Sem Fronteiras, junho de 2011. Rodnei Jaime Paz, O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: O CARÁTER COMPLEXO DA SUA CONCRETIZAÇÃO EM FACE DA TENSÃO ENTRE DEMOCRACIA E CONSTITUCIONALISMO, Curitiba, 2009. INTRODUÇÃO 1 - O PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 1.1 - CONCEITO DE PREÂMBULO 1.2 - A CERCA DO PREÂMBULO DA CF/88 1.3 - A APLICABILIDADE DO PREÂMBULO DA CF/88 2 - A DIGNIDADE HUMANA 2.1 - CONCEITO DE DIGNIDADE HUMANA 2.2 - O CONTEXTO HISTÓRICO DA DIGNIDADE HUMANA 2.3 - A DIGNIDADE HUMANA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO 3 - FICHA TÉCNICA CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS
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