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Prévia do material em texto

formação social, histórica e 
política do brasil
Caderno de Estudos
prof. arnaldo haas Júnior
UNIASSELVI
2013
NEAD
Educação a Distância
GRUPO
CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89130-000 - INDAIAL/SC
Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090
GRUPO
EDITORA
Copyright  UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Arnaldo Haas Júnior
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
361.3
H112f Haas Júnior, Arnaldo
 Formação social, histórica e política do Brasil / Arnaldo Haas Júnior. 
 Indaial : Uniasselvi, 2013.
 
 175 p. : il 
 
 
 ISBN 978-85-7830-796-7
 I. Formação social – Brasil. 
 1.Centro Universitário Leonardo da Vinci. 
 2. Haas Júnior, Arnaldo.
 
www.uniasselvi.com.br
FORMAÇÃO SOCIAL, HISTÓRICA
E POLÍTICA DO BRASIL
apreseNtação
Caro(a) acadêmico(a)!
A partir desse momento iniciaremos os estudos relativos à Formação Social, Histórica e 
Política do Brasil. Por razões que lhe serão apresentadas no início da primeira unidade deste 
caderno, associaremos a Formação Social, Histórica e Política do Brasil aos delineamentos 
da República Brasileira. Tomando por referência eventos ligados ao advento da República e 
ao processo de afirmação desse regime político, nosso olhar será dirigido à compreensão de 
nuances das transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas em nosso país nas 
últimas décadas do século XIX até o início do século XXI.
Uma vez que não nos é dada a possibilidade de recuperação ou resgate de “toda a 
história”, faremos uma reflexão sobre temáticas consagradas pela historiografia brasileira 
que podem contribuir com a sua formação como profissional da área de Serviço Social. 
Portanto, esta disciplina aborda a compreensão dos significados mais visíveis não apenas de 
questões eminentemente políticas, mas também das estreitas e indissociáveis ligações que 
tais questões nutrem em relação a outros aspectos da sociedade brasileira. Nosso objetivo 
não será empreender uma análise detalhada sobre cada um dos eventos citados, pois, dada 
a amplitude do recorte temporal, lançaremos sobre ele apenas um olhar panorâmico.
Para que seus estudos possam ser conduzidos de maneira agradável e para que a 
produção de significados seja efetivada, a divisão deste caderno pedagógico em três unidades, 
para fins didáticos, foi pautada não apenas em uma perspectiva cronológica, atitude comum 
às narrativas historiográficas, mas também na eleição de conceitos-chave, a partir dos quais 
você poderá ampliar seu entendimento sobre as temáticas analisadas.
 Na primeira unidade, “O Advento da República no Brasil”, você tomará conhecimento da 
transição da Monarquia à República, antecedida pela e em grande medida tributária da abolição 
legal do trabalho escravo ocorrida em 1888, e dos interesses políticos que deram sustentação 
ao novo regime. Nesta unidade você também será apresentado a aspectos dos movimentos 
sociais que eclodiram na Primeira República e do processo de articulação ideológica e prática 
da luta de classes, decorrente da paulatina emergência de novos grupos sociais no espaço 
urbano industrial.
Na segunda unidade, “Novos arranjos políticos: da Revolução de 1930 ao governo de 
‘Jango’”, o vetor do texto será dado pela constatação da forte influência exercida por Getúlio 
Vargas no quadro político brasileiro. Da Revolução de 1930, passando pela instauração do 
Estado Novo, pelas políticas populistas e pelos agitados anos de 1950, você seguirá um itinerário 
que o conduzirá às vésperas da instauração do regime ditatorial militar, a “República Fardada”.
iii
FORMAÇÃO SOCIAL, HISTÓRICA
E POLÍTICA DO BRASIL
iv
UNI
Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. 
Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus 
estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. 
Desejo a você excelentes estudos! 
 UNI
A terceira e última unidade, “Do Regime Militar à Res Publica”, apresenta, inicialmente, 
um conjunto de considerações sobre o período de governo militar que vigorou no país entre 1964 
e 1985, e sobre os movimentos sociais que lhe fizeram oposição. A parte final desta unidade 
suscita um estudo sobre o processo de redemocratização experimentado pela sociedade 
brasileira ao longo da década de 1980, assim como sobre políticas de governo e de Estado 
relativas ao plano econômico e social realizadas durante os anos de 1990 e primeiros anos 
deste novo século.
Bons estudos!
prof. arnaldo haas Júnior
sUmÁrio
UNidade 1: o adVeNto da repÚblica No brasil ............................................... 1
tópico 1: a traNsição orQUestrada: coNVeNiÊNcias do reGime 
repUblicaNo ................................................................................................................ 3
1 iNtrodUção ............................................................................................................... 3
2 os iNteresses e as propostas em eVidÊNcia ............................................... 4
leitUra complemeNtar ............................................................................................ 8
resUmo do tópico 1 ................................................................................................. 10
aUtoatiVidade ............................................................................................................ 11
tópico 2: primeira repÚblica: a “repÚblica das oliGarQUias” ............. 13
1 iNtrodUção ............................................................................................................. 13
2 QUe repÚblica? QUe reGime admiNistratiVo? ............................................ 13
3 repÚblica das oliGarQUias: a articUlação e os moVimeNtos de 
coNtestação ............................................................................................................. 16
leitUra complemeNtar i ........................................................................................ 22
leitUra complemeNtar ii ....................................................................................... 24
resUmo do tópico 2 ................................................................................................. 25
aUtoatiVidade ........................................................................................................... 26
tópico 3: trabalhadores Na primeira repÚblica: coNdiçÕes À 
“lUta de classes” .................................................................................................... 27
1 iNtrodUção ............................................................................................................. 27
2 aNtecedeNtes: raíZes da iNdÚstria NacioNal .......................................... 28
3 a orGaNiZação dos trabalhadores e a lUta de classes ................... 30
leitUra complemeNtar .......................................................................................... 33
resUmo do tópico 3 ................................................................................................. 35
aUtoatiVidade ........................................................................................................... 36
aValiação .................................................................................................................... 37
UNidade 2: NoVos arraNJos políticos: da reVolUção de 1930 ao 
GoVerNo de “JaNGo” ...............................................................................................39
tópico 1: a reVolUção de 1930: GetÚlio VarGas No poder ...................... 41
1 iNtrodUção ............................................................................................................. 41
2 a dÉcada de 1920: raíZes de Um impasse Não NeGociÁVel ..................... 42
3 a aliaNça liberal e a “reVolUção” de 1930 ................................................ 44
4 primeiros aNos: oposição, coNflitos e o camiNho rUmo ao estado 
NoVo .............................................................................................................................. 49
leitUra complemeNtar .......................................................................................... 55
resUmo do tópico 1 ................................................................................................. 59
FORMAÇÃO SOCIAL, HISTÓRICA
E POLÍTICA DO BRASIL
v
FORMAÇÃO SOCIAL, HISTÓRICA
E POLÍTICA DO BRASIL
vi
aUtoatiVidade ........................................................................................................... 61
tópico 2: o estado NoVo e seUs desdobrameNtos .................................... 63
1 iNtrodUção ............................................................................................................. 63
2 o plaNo coheN ....................................................................................................... 63
3 o estado NoVo ....................................................................................................... 65
leitUra complemeNtar .......................................................................................... 73
resUmo do tópico 2 ................................................................................................. 78
aUtoatiVidade ........................................................................................................... 80
tópico 3: a dÉcada de 1950: as (im)possibilidades da democracia ....... 81
1 iNtrodUção ............................................................................................................. 81
2 a persoNaliZação do poder: o popUlismo ................................................. 82
3 o GoVerNo dUtra e o retorNo de VarGas .................................................. 83
4 de KUbitscheK a João GoUlart ....................................................................... 90
leitUra complemeNtar i ...................................................................................... 100
leitUra complemeNtar ii ..................................................................................... 101
resUmo do tópico 3 ............................................................................................... 105
aUtoatiVidade ......................................................................................................... 108
aValiação .................................................................................................................. 109
UNidade 3: do reGime militar À NoVa repÚblica .......................................... 111
tópico 1: iNstaUraNdo a NoVa ordem: os militares No poder .............. 113
1 iNtrodUção ............................................................................................................ 113
2 o Golpe e os GoVerNos aUtoritÁrios ......................................................... 114
3 os atos iNstitUcioNais e oUtras medidas aUtoritÁrias ...................... 118
leitUra complemeNtar ........................................................................................ 120
resUmo do tópico 1 ............................................................................................... 124
aUtoatiVidade ......................................................................................................... 125
tópico 2: o esGotameNto do modelo de deseNVolVimeNto .................. 127
1 iNtrodUção ........................................................................................................... 127
2 a moderNiZação coNserVadora ................................................................... 128
3 o plaNeJameNto ecoNÔmico .......................................................................... 129
4 do milaGre ecoNÔmico À crise fiNal .......................................................... 130
leitUra complemeNtar i ...................................................................................... 134
leitUra complemeNtar ii ..................................................................................... 135
resUmo do tópico 2 ............................................................................................... 140
aUtoatiVidade ......................................................................................................... 141
tópico 3: a mobiliZação popUlar, a traNsição e a NoVa repÚblica .. 143
1 iNtrodUção ........................................................................................................... 143
2 a mobiliZação popUlar .................................................................................... 143
FORMAÇÃO SOCIAL, HISTÓRICA
E POLÍTICA DO BRASIL
vii
3 a traNsição ........................................................................................................... 146
4 a NoVa repÚblica ................................................................................................ 147
leitUra complemeNtar ........................................................................................ 153
resUmo do tópico 3 ............................................................................................... 156
aUtoatiVidade ......................................................................................................... 157
tópico 4: democracia, afiNal, para QUem? .................................................. 159
1 iNtrodUção ........................................................................................................... 159
2 o reGime político pós-ditadUra ................................................................... 159
3 os “pacotes” de estabiliZação ecoNÔmica ............................................. 161
4 o plaNo real e a oNda Neoliberal de fhc ............................................... 163
leitUra complemeNtar ........................................................................................ 168
resUmo do tópico 4 ............................................................................................... 170
aUtoatiVidade ......................................................................................................... 171
aValiação .................................................................................................................. 172
referÊNcias ............................................................................................................. 173
FORMAÇÃO SOCIAL, HISTÓRICA
E POLÍTICA DO BRASIL
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UNIDADE 1
O ADVENTO DA REPÚBLICA NO BRASIL
OBjETIVOS DE APRENDIzAgEm
 a partir desta unidade você será capaz de:
	compreender as circunstâncias nas quais o regime político 
republicano foi implantado no Brasil;
	analisar aspectos do conjunto de interesses dos grupos políticos 
envolvidos na implantação da República, assim como daqueles 
que surgiram entre os anos de 1889 e 1930;
	refletir sobre alguns aspectos dos movimentos sociais na Primeira 
República;
	identificar as condições nas quais a luta de classes encontrou 
projeção no espaço urbano industrial na Primeira República.
tópico 1 – a traNsição orQUestrada: 
coNVeNiÊNcias do reGime repUblicaNo
tópico 2 – primeira repÚblica: a “repÚblica das 
oliGarQUias”tópico 3 – trabalhadores Na primeira repÚblica: 
coNdiçÕes À “lUta de classes”
PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 1 está dividida em três tópicos. Ao final de cada 
um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos 
realizando as atividades propostas.
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a traNsição orQUestrada: 
coNVeNiÊNcias do reGime 
repUblicaNo
1 iNtrodUção
tópico 1
Resultado de uma convenção criada na Europa do século XIX, momento em que a 
História se constituía como disciplina, ganhava projeção institucional e aspirava à cientificidade 
a “História Contemporânea”, que haveria tido seu marco inaugural em 1789, ano de importantes 
eventos políticos e sociais responsáveis pela instauração da Revolução Francesa. Segundo 
esta convenção, com o perdão da redundância, seríamos “contemporâneos de uma História 
Contemporânea”. 
Não há como negar que a Revolução Francesa desencadeou eventos com projeções 
maiores do que aquelas restritas ao continente europeu, mas, em se tratando do nosso país, 
pensar a existência de uma “História Política do Brasil Contemporâneo” é uma atitude que 
nos remete a um recorte temporal diferenciado, principalmente porque, do ponto de vista 
político, a “História Contemporânea” brasileira ganha maior significado no espectro do regime 
republicano.
Instaurada em 15 de novembro de 1889, um século após o início da Revolução Francesa, 
a República não significou a materialização de um projeto político e administrativo para o país e 
para sua população, mas uma via conciliatória para interesses díspares de uma elite política que 
não mais se adequava ao regime monárquico. A confirmação dessa tese pode ser encontrada, 
por exemplo, na falta de respaldo popular ao ideário republicano, situação que só teve par na 
absoluta insipiência da maneira como a carcomida monarquia foi defendida nos dias seguintes 
à proclamação da República. Por outro lado, os rumos que o novo regime tomou até os anos 
trinta do século XX são testemunhos de peso considerável. Senão vejamos.
UNidade 1
UNIDADE 1TÓPICO 14
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2 os iNteresses e as propostas 
 em eVidÊNcia
Por maiores que sejam as discrepâncias entre os trabalhos de historiografia que 
discorrem sobre a transição da Monarquia à República, podemos indicar, sem maiores 
problemas, a existência de alguns pontos de convergências nas explicações que estes dão a 
ler. Em linhas gerais, 
[...] Da mesma forma que para o fim da escravidão, em geral, para se explicar 
a Proclamação da República (15 de novembro de 1889) recorre-se às transfor-
mações econômico-sociais por que passaria o país no final do século. Assim, 
teríamos a decadência das oligarquias tradicionais (leia-se, em especial, a do 
Vale do Paraíba), a imigração e o definhamento da escravidão, fenômenos que 
levariam ao aprofundamento das relações capitalistas no campo, o processo de 
industrialização e a urbanização. No interior deste ambiente, encontraríamos 
o crescimento dos partidos republicanos, a campanha pelo federalismo 
frente à centralização monárquica, a penetração das ideias positivistas no 
exército e o aguçamento da chamada Questão Militar. Caberia aos militares 
o ato de 15 de novembro de 1889 e seriam eles os primeiros presidentes, 
ficando no poder até 1894. (LINHARES, 1990, p. 187, grifo nosso).
Individualmente, todas as questões em negrito na citação anterior mereceriam um olhar 
mais atento e uma análise específica. Contudo, interessa-nos aqui entender a contribuição que 
cada uma delas deu ao processo de instauração da República. Portanto, vamos por partes, 
começando pela última delas: a Questão Militar.
Segundo uma expressão bastante conhecida entre os historiadores e cientistas sociais, 
enunciada por Aristides Lobo, o povo teria assistido à queda da Monarquia “bestializado, atônito, 
sem saber o que significava”. O fato é que, embora a existência de partidos republicanos fosse 
constatada desde 1870, o ato inaugural da República não foi obra de uma articulação política 
entre civis, mas um “evento até certo ponto misterioso para os que dele não participaram 
diretamente, ou seja, para os que não pertenciam ao seleto grupo de militares conspiradores”. 
(DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 141). 
Ao longo da segunda metade do século XIX, principalmente após o término da Guerra do 
Paraguai (1864-1870), as relações entre o governo imperial e o exército não eram das melhores. 
Nos meios militares havia um profundo ressentimento em relação ao absoluto descaso com 
que o governo tratava o exército. A falta de investimentos, tanto em infraestrutura quanto em 
contingente e treinamento, era uma das razões para o fato de o exército brasileiro viver em 
estado precário. Essa situação, contudo, não impediu a vitória brasileira, em conjunto com a 
Argentina e o Uruguai, na Guerra do Paraguai. Finda a guerra, aqueles que lutaram pelo país 
passaram a reivindicar com maior veemência a devida atenção aos seus interesses.
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FONTE: REPÚBLICA no Brasil. Disponível em: <http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro: Republica_no_brasil.jpg>. Acesso em: 7 
mar. 2010.
Associa-se ao descaso outro fato importante. Mesmo diante das condições adversas, 
a partir de 1850 o exército brasileiro enfrentava um paulatino processo de profissionalização. 
No entendimento de Del Priore e Venâncio (2003), tal processo, dentre outras consequências, 
acarretou uma modificação nos critérios de promoção, ou seja, a progressão na hierarquia 
militar, historicamente acessível apenas a membros da elite, tornou-se uma prerrogativa do 
mérito individual e possibilitou a projeção de jovens de origem humilde. Uma vez que no exército 
era possível também obter acesso à educação formal e ao conhecimento científico, criaram-se 
as condições para a propagação do ideário cientificista que ganhava forte projeção no século 
XIX, principalmente no mundo ocidental. 
Em poucas palavras, é possível dizer que a crença na ciência como promotora do 
progresso, do desenvolvimento e da “civilização”, encontrou no exército um terreno fértil para 
germinar. O fruto desse plantio foi a difusão, entre seus membros, do Positivismo, doutrina 
filosófica concebida por Auguste Comte, cujo lema, “a Ordem por base, o Progresso por fim”, 
disseminou-se entre toda uma geração formada na escola militar. Não por outro motivo, o lema 
inscrito na bandeira nacional (a Bandeira Republicana), “Ordem e Progresso”, é tributário do 
ideário positivista. 
Evidentemente, não foi a força das ideias que guiava o grupo comandado pelo Marechal 
Deodoro da Fonseca a única responsável pela República. Dado o empurrão inicial, o carro 
republicano só entrou em movimento devido a uma ampla conjunção de fatores. A abolição do 
trabalho escravo certamente consta entre eles.
A assinatura da Lei Áurea foi o ato final de um processo que se estendeu por mais de 
quarenta anos. Desde 1850, com a assinatura da Lei Eusébio de Queirós, o tráfico interatlântico 
de escravos fora proibido (decorrência das pressões sofridas de parte dos ingleses, agentes 
contentores do tráfico entre a África e a América desde 1845). Durante esta segunda metade do 
FIGURA 1 – HOMENAGEM DA REVISTA ILLUSTRADA À 
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
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século ocorreu um prolongamento da escravidão até a impossibilidade de sua manutenção. Atos 
legais, como a criação da Lei do Ventre Livre, sancionada em 1871, e a Lei dos Sexagenários, 
em 1885, nada mais representaram do que a protelação do inevitável, principalmente se 
levarmos em conta que o Brasil foi um dos únicos países da América a manter a escravidão 
depois de proclamada a independência política em relação à sua metrópole.
A pressão contra a manutenção do regime de trabalho escravo desenvolveu-se em várias 
frentes. À revolta cada vez mais incisiva (e perigosa) dos escravos cativos é necessário somar 
a proliferação de clubes abolicionistas, dos quais faziam parte, por exemplo, tanto intelectuais e 
profissionais liberais, quanto membros da elite e ex-escravos. Nestes clubes constavam aqueles 
que defendiam a extinção lenta e gradual da escravidão (emancipacionistas) e aqueles que 
lutavam por sua extinção imediata (abolicionistas). Por outro lado, as próprias necessidades 
internas do capitalismo em desenvolvimento no país (é importante lembrar que a constituição 
de um mercado consumidor, com renda própria, é condição de existência para a manutenção 
do capitalismo) agiram no sentido de fomentar a abolição. Contra essas frentes ficavam os 
escravistas, defensores da existência do regime de trabalho escravo.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Golden_law_1888_
Brazilian_ senate.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2010.
UNI
A figura mostra o Senado brasileiro aprovando a lei que aboliu a 
escravidão no país, em 1888. Uma multidão está reunida no andar 
de cima e ao fundo no térreo assistindo.
FIGURA 2 – LEI QUE ABOLIU A ESCRAVIDÃO
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Se a “ordem natural dos acontecimentos”, supondo que esta exista, apontava o final do 
século XIX como o momento do suspiro final da escravidão, o ato da Princesa Isabel pode ser 
interpretado como um atropelo dessa ordem. Rompendo com a proposta dos emancipacionistas, 
a abolição significou para os escravistas “[...] uma traição, um confisco de propriedade alheia. A 
reação deste grupo não tardou a acontecer. Um ano após o ‘13 de maio’, à oposição dos militares 
somou-se agora a de numerosos ex-senhores de escravos.” (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, 
p. 258). Conforme nos fala Penna (1999), sem base econômica e política capaz de lhe dar 
sustentação, a Monarquia não resistiu a uma singela parada militar.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lei-
%C3%81urea-original-da-Lei-3353.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2010.
Do ponto de vista político-administrativo, o elemento que mais militava contra a 
Monarquia era o excesso de centralização do poder. Para que você tenha uma ideia do peso 
desta questão, é importante saber que durante o Segundo Reinado, ou seja, durante o período 
em que Dom Pedro II governou, havia uma interferência direta do governo na vida política das 
mais diversas regiões do país. Esta postura impossibilitava a livre ação de grupos oligarcas 
regionais e a sua perpetuação no poder. Por mais opaca que a ideia de República parecesse, 
havia em seus preceitos a sinalização para a implantação da descentralização e do federalismo, 
sendo estas, inclusive, as principais reivindicações do movimento republicano originado em 
1870. Ou seja, como você pode notar, contrariando os princípios da Res Publica (palavras 
de origem latina que significam “coisa do povo”), a República brasileira, tanto por ocasião da 
sua implantação, quanto em suas primeiras décadas, apresentou-se como uma interessante 
conveniência às elites nacionais.
FIGURA 3 – PUBLICAÇÃO OFICIAL DA LEI ÁUREA
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De acordo com Penna (1999), a República nasceu de maneira suficientemente pluralista 
para atender de imediato às expectativas de vários setores do quadro político nacional, mas 
não suficientemente capaz de dar abrigo aos interesses da grande massa da população, que 
continuou à margem dos canais efetivos de condução dos destinos do país. Em “Formação 
do Brasil contemporâneo”, Prado Júnior (1999) sugere que desde os tempos do Brasil Colônia 
criaram-se em nosso país estruturas de poder cujo sentido de continuidade determinou o nosso 
“sentido histórico” (pelo menos até a década de 1930). A permanência das oligarquias rurais 
(a elite agrária) direta ou indiretamente associadas ao poder de mando sustenta este ponto 
de vista. Contudo, há que se considerar que os arranjos políticos necessários à implantação 
da República, dada a multiplicidade de interesses envolvidos, logo demonstrariam o lado frágil 
dessa “transição orquestrada”. Analisaremos esta questão no Tópico 2.
leitUra complemeNtar
Notícias de JorNais sobre a proclamação da repÚblica
A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em nova fase, pois pode-se 
considerar finda a Monarquia, passando a regime francamente democrático com todas as 
consequências da Liberdade.
Foi o exército quem operou esta magna transformação; assim como a de 7 de abril de 
31 ele firmou a Monarquia constitucional acabando com o despotismo do Primeiro Imperador, 
hoje proclamou, no meio da maior tranquilidade e com solenidade realmente imponente, que 
queria outra forma de governo.
Assim desaparece a única Monarquia que existia na América e, fazendo votos para 
que o novo regime encaminhe a nossa pátria a seus grandes destinos, esperamos que os 
vencedores saibam legitimar a posse do poder com o selo da moderação, benignidade e justiça, 
impedindo qualquer violência contra os vencidos e mostrando que a força bem se concilia com 
a moderação. Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a Liberdade! Gazeta da tarde, 15 de 
novembro de 1889.
Despertou ontem esta capital no meio de acontecimentos tão graves e tão imprevistos 
que as primeiras horas do dia foram de geral surpresa. Rompeu com o dia um movimento militar 
que, iniciado por alguns corpos do exército, generalizou-se rapidamente pela pronta adesão 
de toda a tropa de mar e terra existente na cidade.
A consequência imediata desses fatos foi a retirada do ministério de 7 de junho, presidido 
pelo Sr. Visconde do Ouro Preto, que teve de ceder à intimação feita pelo Sr. Marechal Deodoro 
da Fonseca que assumiu a direção do movimento militar. À exceção do lastimoso caso do Sr. 
Barão do Ladário, que não querendo obedecer a uma ordem de prisão que lhe fora intimada, 
resistiu armado e acabou ferido, nenhum ato de violência contra a propriedade ou a segurança 
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individual se deu até o momento em que escrevemos estas linhas. [...] Jornal do Commércio, 
16 de novembro de 1889.
FONTE: Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/ Link%20
rep%FAblica.htm>. Acesso em: 8 mar. 2010.
DIC
AS!
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os 
seguintes livros:
CARVALHO, José Murilo. A Formação das almas: o imaginário da 
República no Brasil. São Paulo: Cia das Letras 1990. 
Conforme o subtítulo dá a entender, a obra do historiador José 
Murilo de Carvalho oferece ao leitor preciosas informações sobre 
o processo de construção do imaginário republicano no Brasil, ou 
seja, sobre a maneira como ideias e símbolos foram mobilizados 
no intuito de dar sustentação (e promover a aceitação) do ideário 
republicano em nosso país. 
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos 
decisivos.6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
NOVAIS. Fernando A. (org.). História da Vida Privada no Brasil. 
República: da Belle Époque à era do rádio. São Paulo: Cia das 
Letras, 1998.
As três obras discorrem sobre aspectos relativos ao processo de 
transição da Monarquia à República.
Além de: HUBERMAN, Léo. História da Riqueza do Homem: do 
feudalismo ao século XXI. 22 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. 
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resUmo do tópico 1
Neste tópico você viu que:
•	 Nosso estudo sobre a “Formação Social, Histórica e Política do Brasil” toma por base os 
eventos ligados à instauração e institucionalização da República Brasileira.
•	 A República não foi o resultado de um projeto político devidamente pensado para o país e 
sua população, mas uma saída conciliatória para os interesses de uma elite nacional.
•	 O exército, responsável pelo ato formal de Proclamação da República, nutria vários 
descontentamentos em relação ao governo imperial. Tais descontentamentos, aliados à 
difusão do pensamento positivista nos meios militares, foram responsáveis pelo surgimento 
da “Questão Militar”.
•	 A abolição do trabalho escravo resultou no ressentimento dos proprietários de escravos, 
membros de uma oligarquia rural. Esse ressentimento gerou o engrossamento das fileiras 
opositoras da Monarquia.
•	 O excesso de centralização do poder por parte do governo imperial ofuscava os interesses 
políticos das oligarquias regionais. As propostas de descentralização e do federalismo 
funcionaram como uma sinalização para os interesses que estas nutriam em relação à 
conquista e manutenção do poder político.
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AUT
OAT
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ADE �
1 Partindo de uma análise dos textos presentes na Leitura Complementar, teça 
alguns comentários sobre a maneira como os jornais anunciaram a Proclamação da 
República. Procure enfocar a reação da população frente aos acontecimentos do dia 
15 de novembro de 1889.
2 Uma vez que a ideia de “ordem” e “disciplina” é um dos pilares das práticas militares, 
você acha plausível a afirmação de que o exército se considerava a instituição melhor 
indicada para conduzir os rumos políticos do Brasil após a Proclamação da República? 
Justifique sua resposta.
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primeira repÚblica: a “repÚblica 
das oliGarQUias”
1 iNtrodUção
2 QUe repÚblica? QUe reGime 
admiNistratiVo?
tópico 2
Conforme você pôde ler na parte final do tópico anterior, embora a implantação da 
República tenha sido um arranjo conveniente, uma possibilidade de aglutinação de interesses 
díspares, a quantidade de interesses em jogo era muito ampla para que o processo de transição 
entre o regime monárquico e o republicano fosse tranquilo. Com efeito, nos primeiros anos do 
novo regime, principalmente enquanto os militares permaneceram no poder, o cenário político 
nacional permaneceu bastante agitado. 
A tomada do poder por parte dos civis via eleição que empossou Prudente de Morais, 
em 1894, abriu as portas para um período da história política nacional cuja nomeação é a 
mais variada. Você já deve ter ouvido falar em “Primeira República”, ou “República Velha”, ou 
“República Oligárquica”, ou, ainda, em “República do Café com Leite”. Ao longo deste tópico 
tentaremos explorar um pouco o significado desses conceitos.
Sobre os primeiros anos do regime republicano, a historiadora Emília V. da Costa 
registra que:
As contradições presentes no movimento de 1889 vieram à tona já nos pri-
meiros meses da República, quando se tentava organizar o novo regime. As 
forças que momentaneamente se tinham unido em torno da ideia republicana 
entraram em choque. Os representantes do setor progressista da lavoura, 
fazendeiros de café das áreas mais dinâmicas e produtivas, elementos ligados 
à incipiente indústria, representantes das profissões liberais e militares nem 
sempre tinham as mesmas aspirações e interesses. As divergências que os 
dividiam repercutiam no Parlamento e eclodiam em movimentos sediciosos 
que polarizavam momentaneamente todos os descontentamentos, reunindo 
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desde monarquistas até republicanos insatisfeitos. Rompia-se a frente revolu-
cionária. Representantes da oligarquia rural disputavam o poder a elementos 
do exército e da burguesia, embora houvesse burgueses e militares dos dois 
lados, em função dos seus interesses e ideais. (COSTA, 1994, p. 276).
Cabe aqui lembrar que o excesso de centralização do poder por parte do governo 
monárquico minava suas bases, pois gerava um progressivo descontentamento de parte das 
oligarquias regionais. Como na segunda metade do século XIX o carro-chefe da economia 
nacional era a exportação do café produzido em grandes latifúndios, seus proprietários não 
mais se contentavam com o distanciamento em relação ao poder de mando, de decisão em 
relação aos rumos do país. Neste sentido, a federalização – cujo modelo fora tomado dos 
Estados Unidos – e sua proposta de ampliação do poder das unidades da federação exerceu 
um apelo muito grande. Esta era a principal bandeira dos partidos republicanos.
O Partido Republicano (PR) surgiu no início da década de 1870. Em verdade, não há 
como falar na existência de um partido republicano, pois o PR jamais assumiu uma amplitude 
nacional. Como nos fala Penna (1999), suas bases eram constituídas pelas oligarquias 
regionais e expressavam seus interesses. Após a instauração da República o PR se pulverizou 
em diferentes legendas, cada qual portadora de uma estratégia que visava contemplar as 
realidades regionais. Contudo, a atomização do PR não foi suficientemente capaz de ofuscar 
a força de algumas siglas regionais. A principal delas, PRP, Partido Republicano Paulista, foi 
uma prova disto. 
O PRP foi fundado em 1872 e em pouco tempo se tornou o partido republicano com 
maior solidez em sua organização. Formado basicamente por grandes proprietários de 
terra desiludidos com a Monarquia, de acordo com Penna (1999), o PRP preservava certa 
autonomia local, principalmente em relação ao núcleo do Rio de Janeiro. O ideário defendido 
pelos republicanos paulistas procurava identificar seus interesses de classe com os da nação. 
Assumia, portanto, uma identidade liberal-conservadora. Por ocasião da tomada do governo 
das mãos dos militares, na eleição de 1894, o PRP marcou presença efetiva. Vejamos como 
isso aconteceu.
A agitação política no país após a instauração da República se devia, em grande medida, 
à ausência de um plano de governo claro e capaz de agradar a todas as correntes e interesses 
associados em 1889. Por ter sido o condutor direto do “ato fundante”, a “parada militar”, o 
exército detinha a prerrogativa de indicar o primeiro caminho a ser tomado. Dentro do exército 
não havia unanimidade do ponto de vista ideológico, mas um grupo de positivistas vinculado 
a Benjamin Constant “introduziu no debate político brasileiro a ideia de ditadura republicana. 
Tal perspectiva política fez sucesso, sendo também partilhada por aqueles que não seguiam 
os ensinamentos comtianos”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 268). 
Ainda segundo estes autores, um exemplo desta afirmação pode ser encontradono fato de que em 1891, aproximadamente um ano depois da sua eleição como presidente 
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constitucional, o Marechal Deodoro da Fonseca deu mostra da postura ditatorial, desrespeitando 
a Constituição (promulgada em 1891, a segunda Constituição brasileira e a primeira republicana) 
e fechando o Congresso.
A essas alturas você já deve ter notado que os interesses das oligarquias regionais, 
principalmente a paulista, não encontraram respaldo na postura dos militares. A centralização 
do poder em suas mãos fez com que Deodoro sofresse pressões as mais diversas, sendo 
que, devido a uma conspiração militar, acabou renunciando. Em seu lugar o Marechal Floriano 
Peixoto assume o governo. Este agiu de maneira a dar contornos ainda mais fortes à postura 
ditatorial e centralizadora do regime. 
Para além dos ataques no plano político, o governo de Floriano enfrentou duas 
manifestações de desagrado que adentraram o plano da ação direta. A primeira, denominada 
Revolta da Armada (1893-1894), longe de ser uma conspiração antirrepublicana, representou o 
descontentamento de algumas alas das forças armadas em relação aos rumos que o governo 
da república havia tomado. Ao mesmo tempo em que confrontos bélicos ligados à Revolta da 
Armada se processavam no Rio do Janeiro, nos estados do Sul do país eclode a chamada 
Revolução Federalista, cujo embate opôs grupos dominantes locais em “facções leais e inimigas 
de Floriano Peixoto”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 268). Um dos palcos desse confronto 
foi a capital de Santa Catarina, à época chamada de Desterro. Após a vitória do grupo ligado 
a Floriano (e a consequente execução de muitos dos líderes oposicionistas), a capital foi 
renomeada: assim surgia florianópolis (a cidade de Floriano).
A necessidade de apoio ao combate das sublevações oposicionistas levou Floriano 
Peixoto a se aproximar da oligarquia regional com maior poder econômico, no Brasil da década 
de 1890. O Partido Republicano Paulista, representante desta oligarquia, surge então como 
articulador da passagem do governo das mãos dos militares para os civis. Assim, “em 1894, 
através da eleição de Prudente de Morais, é dado o primeiro passo e, em 1898, com Campos 
Sales, a transição se consolida. Inaugura-se, então, o que se convencionou denominar política 
dos governadores”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 268). A partir deste momento os 
rumos da Primeira República ficavam definitivamente traçados. O paradoxo da “democracia 
excludente”, materializado no coronelismo, ganhara corpo e projeção. O pleno domínio das 
oligarquias deu margem à constituição de uma Res Publica de fachada.
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FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1a/
Guarda _Nacional_na_Revolta_da_Armada.jpg>. Acesso em: 10 mar. 
2010.
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A ilustração mostra uma fortificação passageira, 1894. Vê-se um 
canhão de 280 mm (único no Brasil) e soldados do 4º Batalhão 
de Artilharia da Guarda Nacional. Proveniente da série Revolta 
da Armada (Museu Nacional).
3 repÚblica das oliGarQUias: a 
articUlação e os moVimeNtos 
de coNtestação
Respondendo pelos anseios das oligarquias regionais, o texto da Constituição de 1891 
previa a existência do federalismo. Embora significasse uma margem grande de autonomia 
para os estados, o federalismo dificultava o fortalecimento do governo republicano central. 
Deve-se a este fato, em grande medida, os problemas enfrentados pelos governos de Deodoro 
e Floriano. A manutenção da República passou a depender de um arranjo de forças capaz de 
lhe dar sustentação. A resposta a este imperativo foi dada pelo segundo presidente republicano 
civil, Campos Sales. A questão é que
Tentava-se garantir a reprodução do regime eximindo-o dos traumatismos e 
crises inerentes aos processos sucessórios em que “oposição” e “situação” se 
revezassem, desregradamente, no poder. A Política dos Governadores foi o 
seu nome e consistiu na aplicação dos seguintes princípios: o reforço da figura 
presidencial (a despeito da independência dos poderes) e a solidarização das 
maiorias com os Executivos (estaduais e federal). Partindo deste princípio, o 
mesmo sufrágio que elege as primeiras deve eleger o segundo, reconhecendo-
se a “legitimidade” das maiorias estaduais, comprometendo-se o Governo 
Federal a não apoiar dissidências locais. (LINHARES, 1990, p. 230).
FIGURA 4 – FORTIFICAÇÃO (REVOLTA DA ARMADA)
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A caricatura, publicada em 1898, retrata uma animada conversa 
entre Campos Sales (à direita) e Prudente de Morais. O texto diz: 
“Em família. Conversam animadamente sobre Europa, as viagens, 
as manifestações, o estado sanitário, etc. Só não tratam de 
política... Muito bem”. Campos Sales, paulista, sucedeu Prudente 
de Morais, também paulista, na Presidência da República. 
FONTE: Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Revista_Illustrada_1898.jpg>. Acesso em: 7 mar. 
2010.
A Política dos Governadores, articulada em torno dos interesses paulistas e mineiros 
(a preponderância da elite desses dois estados, São Paulo e Minas Gerais, deu margem ao 
surgimento da chamada Política do “Café com Leite”); passou a ser, portanto, a base do sistema 
político republicano entre 1898 e 1930.
ATEN
ÇÃO!
A alusão feita ao “leite” deve-se ao fato de o Estado de Minas 
Gerais ser um grande produtor de leite durante a República 
Velha. Contudo, estudos mais recentes sugerem que a alcunha 
mais correta seria “República do Café com Café”, pois o principal 
produto de comercialização mineiro também era o café. A 
legitimidade desta hipótese pode ser encontrada no interesse 
que o Partido Republicano Mineiro, cujas ações respondiam pelas 
aspirações da elite econômica do estado, manifestava no sentido 
de instrumentalizar as políticas de valorização do café. Mais à 
frente analisaremos esta questão.
FIGURA 5 – CARICATURA PUBLICADA EM REVISTA 
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Para compreender melhor o funcionamento dessa política é importante que você 
entenda duas questões. Em primeiro lugar, ao contrário do que se poderia supor, a autonomia 
dos estados garantida pela federalização não significou o total desprendimento em relação 
ao governo central. Crises econômicas gestadas desde a segunda metade do século XIX 
enfraqueceram muitos estados, principalmente os do Nordeste. Essa situação implicava a 
necessidade de estabelecimento de laços mais fortes com o governo central. Esses laços, por 
sua vez, eram constituídos via utilização de um elemento-chave nas engrenagens do poder: 
o líder local, ou coronel. 
Dadas as dimensões continentais do nosso país e devido às dificuldades ao 
estabelecimento de contato com a população do interior, o intermediário dessa ligação passava 
a ser o coronel (daí o surgimento do termo coronelismo). Detentor de uma forte influência 
sobre familiares, agregados e subalternos, o coronel recebia carta branca para agir em sua 
área de influência de acordo com interesses próprios. Em troca dessa liberdade, cooptava os 
votos da população para os candidatos que lhe fossem indicados, do executivo Estadual e 
do federal. O uso da força passou a ser uma constante, tanto em relação às pessoas simples 
quanto em relação a adversários políticos. Milícias armadas eram comuns, principalmente noNordeste, onde os coronéis usavam os serviços de jagunços. 
São Paulo e Minas Gerais souberam muito bem se aproveitar desse quadro político para 
se perpetuarem no poder, promovendo uma alternância na condução do Executivo nacional. 
Do ponto de vista econômico, um elemento marcante das políticas governamentais da Primeira 
República pode ser encontrado nas constantes interferências voltadas à valorização do café. 
Já no início do século XX essas medidas se fizeram valer, contudo, tornaram-se absolutamente 
claras a partir da assinatura do Convênio de Taubaté, em 1906. Resultado de um acordo 
entre dirigentes políticos de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, o Convênio tinha 
por objetivo a garantia de lucro para os grandes produtores via manutenção do preço. Neste 
sentido, as oscilações no mercado internacional eram corrigidas pela compra, estocagem e 
destruição de partes das safras. A diminuição da oferta resultava no aumento do preço. 
O dinheiro público usado para cobrir as perdas dos cafeicultores do Sudeste era 
motivo de discórdia. Com efeito, a ação das lideranças políticas paulistas e mineiras gerava o 
descontentamento e a revolta de outras elites regionais. Em verdade, tanto do ponto de vista 
das cisões entre as elites, quanto das manifestações de segmentos da população sem poder 
econômico, durante toda a República Velha houve situações nas quais o governo republicano 
sofreu enorme pressão. Ao longo da década de 1920, principalmente em seus últimos anos, 
a política dos governadores não mais se sustentou. Criavam-se as condições para uma nova 
etapa da República brasileira. Mas vamos por partes.
No cenário das manifestações populares, o primeiro grande teste imposto ao governo 
republicano ficou por conta da “Guerra de Canudos”. Segundo Novais (1998), as autoridades 
republicanas foram avisadas da existência do povoado de Canudos, no sertão da Bahia, já em 
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1893 (até então ele nem constava nos mapas). Sob a liderança de Antônio Vicente Mendes 
Maciel, conhecido como “Antônio Conselheiro”, pessoas simples e humildes do sertão nordestino 
montaram uma comunidade na qual vigorava o regime de posse e de trabalho solidário. Isolados 
em meio do nada, os moradores do “Arraial de Belo Monte” em hipótese alguma significariam 
perigo à República não fosse a maneira como passaram a ser representados. Evidentemente, 
alguns fatores contribuíram para isso.
Antônio Conselheiro era um líder espiritual. Sua influência sobre os sertanejos não 
deixava de ser uma pedra no sapato da Igreja. Além disso, a criação de um reduto populacional 
que oferecia abrigo aos despossuídos funcionava como um ímã para pessoas que até então 
viviam sob o mando de coronéis locais. Isto significava perda de mão de obra e a possibilidade 
de concorrência econômica. Aos elementos locais somou-se o fato de Antônio Conselheiro 
professar um vago saudosismo monárquico, o “que deu margem para ser acusado de conspirar 
contra a República e de ser, no sertão, o braço armado dos restauradores”. (DEL PRIORE; 
VENÂNCIO, 2003, p. 278). A fragilidade do regime republicano recém-implantado não permitia 
a sobrevivência de um reduto populacional acusado, mesmo que através de sofismas, de ser 
um foco monarquista. Após algumas derrotas das tropas republicanas enviadas para destruir 
Belo Monte, isso ficou ainda mais evidente. Canudos precisava ser destruído. E de fato foi, 
em 1897, totalmente destruído: não sem antes caírem todos seus últimos defensores sob o 
fogo do exército brasileiro.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fa/
Canudos_ rebels.jpg>. Acesso em: 12 mar. 2010.
Exemplos de manifestações populares que resultaram em confronto com o governo 
republicano podem ser encontrados durante toda a Primeira República. No Tópico 3 desta 
unidade estudaremos a participação do Movimento Operário. No momento, além da Guerra 
de Canudos (1896-1897), podemos indicar a Guerra do Contestado (1912-1915), a Revolta da 
Vacina (1904), a Revolta da Chibata (1910) e o movimento conhecido como “Tenentismo”, que 
FIGURA 6 – MULHERES E CRIANÇAS, SEGUIDORAS DE ANTÔNIO 
CONSELHEIRO, PRESAS DURANTE OS ÚLTIMOS DIAS DA 
GUERRA
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deu origem a uma série de levantes militares durante a década de 1920. Dada a natureza do 
grupo que o compunha e a singularidade de sua proposta, o Tenentismo merece uma análise 
mais atenta.
Ao longo da década de 1920 o Brasil passou por uma série de crises econômicas. 
Em meio a crises, a contestação do poder instituído sempre ganha forças. De acordo com 
Linhares,
As rebeliões tenentistas da década foram o mais cabal exemplo da explosão 
simultânea de questionamentos “de dentro” e “de fora” do pacto político, alas-
trando-se a rebeldia desse setor intermediário da oficialidade militar justamente 
quando, em 1922, as oligarquias do Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco 
e Rio de Janeiro uniram-se contra a candidatura do eixo Minas/São Paulo, 
formando a reação republicana. (1990, p. 253).
 
O movimento tenentista teve origem em 1922 e representou uma inflexão na vida política 
brasileira. Seus idealizadores, membros da oficialidade militar intermediária, eram portadores 
de um discurso moralizador que previa a purificação das forças armadas e da sociedade como 
um todo. Sua proposta apresentava traços de nacionalismo, centralização do Estado e ataques 
frontais à oligarquia paulista. O acesso à educação formal permitia aos tenentes a construção 
de um ideário que lhes colocava na condição de porta-vozes das reivindicações populares. 
Contudo, o caráter elitista do tenentismo não comportava uma vinculação mais íntima com as 
classes populares. O “ato fundante” do Tenentismo ocorreu em 5 de julho de 1922, ocasião 
em que um levante militar mobilizou jovens oficiais no Rio de Janeiro. A ação ficou conhecida 
como “Os dezoito do forte”, uma alusão ao fato de terem sido dezoito os militares participantes 
do levante. Ao marcharem contra as tropas legalistas foram recebidos à bala. O fracasso militar 
não significou fracasso político, pois a ofensiva serviu, ao governo civil, como um indício de 
que mudanças se apresentavam no horizonte.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e5/Os_18_
do_ Forte_(2).jpg>. Acesso em: 20 mar. 2010.
FIGURA 7 – REVOLTA DOS 18 DO FORTE DE COPACABANA: TENENTES VÃO DE 
ENCONTRO ÀS FORÇAS LEGALISTAS, NA AVENIDA ATLÂNTICA
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A insipiência das manifestações tenentistas no meio urbano fez com que o movimento 
ganhasse um novo rumo a partir de 1925, momento em que teve origem a “Coluna Prestes” 
(organizada por Luiz Carlos Prestes), uma marcha pelo interior do país que se estendeu por 
mais de 24 mil quilômetros: “foram 29 meses, 10 estados da federação e uma média de 45 
quilômetros por dia”. (PENNA, 2003, p. 159). Embora a adesão popular não tenha sido a 
esperada e a Coluna tenha sofrido perseguições constantes por parte das tropas federais 
(o que resultou na dispersão do movimento, em 1927), a iniciativa – o movimento tenentista 
como um todo – resultou na abertura de um caminho para derrubada do pacto oligárquico São 
Paulo/Minas Gerais.
Em 1929, em meio a uma grave crise econômica mundial cujo epicentro ocorreu em 
Nova York, o poder econômico dos cafeicultores foi drasticamente reduzido. Neste mesmo 
ano, conforme o acordo firmado entre o Partido Republicano Paulistae o Partido Republicano 
Mineiro, o presidente Washington Luiz, paulista, deveria indicar como seu sucessor o mineiro 
Antônio Carlos, chefe do governo de Minas. Contrariando o pacto, Washington Luiz indica o 
paulista Júlio Prestes. Esta atitude resultou em uma aproximação entre Minas Gerais, Rio 
Grande do Sul e Paraíba. Formava-se a Aliança Liberal, responsável pela Revolução de 1930. 
Analisaremos esta questão na segunda unidade desde caderno.
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 12 mar. 2010.
UNI
A charge “A fórmula democrática”, de Storni, foi publicada 
na Revista Careta, em 29 de agosto de 1929. No alto são 
representadas as oligarquias paulista e mineira. 
FIGURA 8 – A FÓRMULA DEMOCRÁTICA, DE STORNI
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o brasil de eUclides da cUNha
Neste ano completa-se o centenário de morte de Euclides da Cunha (1866-1909), um 
dos mais importantes autores nacionais. Euclides viveu e produziu em um momento em que 
as ideias deterministas ainda manifestavam seu vigor com base explicativa para a realidade 
brasileira. No livro que o consagrou como um dos maiores intérpretes do Brasil, os sertões 
(1902), pode ser encontrado, para além da análise da Guerra de Canudos, um estudo sobre 
a formação do povo brasileiro e a diversidade geográfico-climática do país. A obra, dividida 
em “A Terra”, “O Homem” e “A Luta”, foi organizada de acordo com a hierarquia das ciências 
aceita na época: partindo da noção de que os fundamentos de toda a realidade repousam sobre 
“matéria”, o relato inicial baseia-se nas ciências inorgânicas (Geografia, Geologia), passando 
depois para as orgânicas (Biologia) e, por fim, para as ciências sociais (História, Sociologia). 
Obedecendo a esta sequência, Euclides começa pelo estudo da infraestrutura geológica, das 
variações do clima e do sistema fluvial, para estender-se à flora e, por último, tratar do homem 
e das injunções históricas.
Por meio dos vetores “meio”, “raça” e “história”, Euclides irá interpretar os conflitos 
entre o que considerava a área “civilizada”, ou seja, o litoral, e o interior do país, resguardado 
por um isolamento geográfico e histórico que o teria mantido vinculado ao passado. Segundo 
Euclides, a civilização avançaria sobre os sertões, impedida pela implacável “força motriz da 
História”, as raças fortes esmagando as fracas. (CUNHA, 2003, p. 9). Percebe-se, em sua 
análise, a confluência de explicações históricas e raciais, sobrevivendo os mais aptos em todos 
os terrenos, em uma clara alusão ao darwinismo social.
Enviado ao cenário da guerra de Canudos (que durou de novembro de 1896 a outubro 
de 1897) como correspondente do jornal O Estado de São Paulo, Euclides da Cunha, por ser 
militar e, ademais, comungar com a visão oficial que tratava os sertanejos como revoltosos 
antirrepublicanos, silenciou sobre as atrocidades do massacre. Revê esta posição durante os 
cinco anos que leva escrevendo os sertões. Reconhece um elemento de messianismo na 
reação dos sertanejos e condena o exército pelos excessos cometidos.
Euclides esforçava-se para compreender como o sertanejo, um mestiço, teoricamente 
portador de desequilíbrios típicos do cruzamento de raças (um “degenerado”, segundo as 
teorias deterministas), resistiu a tantas investidas do exército republicano (quatro batalhas), 
só sendo derrotado diante do poderio das armas de fogo empregadas pela última expedição. 
Os combatentes de Canudos pareciam rebelar-se até mesmo como objetos de estudo, para 
contradizer, em relação ao pensamento de Euclides, as teses do determinismo social.
Ao longo do livro, Euclides alterna a visão do sertanejo como uma sub-raça “instável”, 
“efêmera”, “retardatária” e “próxima da extinção” para “a rocha viva da nação”. Se o sertanejo 
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corria o risco de desaparecer diante da competição com os imigrantes estrangeiros, era, de 
maneira contraditória, “antes de tudo, forte”. Neto de bandeirante paulista (CUNHA, 2003, p. 
104), trazendo em si a bravura do início e a autonomia do branco português, quase sem mescla 
de sangue africano (p. 105), vencendo o meio inóspito marcado pela seca e pela caatinga e, 
principalmente, sendo aquele que teve tempo de fortalecer-se fisicamente enquanto aguardava 
o desenvolvimento moral e civilizacional posterior da região (p. 117), Euclides representa o 
sertanejo como estando em “compasso de espera”, preparando-se para exercer um papel 
importante no futuro da nação.
Por outro lado, os soldados que lutaram em Canudos, em grande proporção mulatos 
vindos principalmente do Rio de Janeiro e da Bahia, que, ao final da guerra, degolaram 
barbaramente todos os prisioneiros, mesmo vivendo em contato com a “civilização”, na opinião 
de Euclides não seriam seus legítimos representantes. Ao contrário, assemelhavam-se a 
seres incapazes de fazer frente à complexidade da vida urbana em termos de suas exigências 
intelectuais e morais. Quem não se lembra da famosa frase do livro os sertões, em que 
Euclides se refere aos mulatos apontando “o raquitismo exaustivo dos raquíticos neurastênicos 
do litoral”? À fraqueza física somava uma “doença dos nervos”: a neurastenia.
 No contraste entre sertanejos e mulatos, embora ambos fossem mestiços, Euclides 
elogia os primeiros e desqualifica os segundos. O fator racial considerado “inferior” do sertanejo, 
o índio, não era de todo desprestigiado por Euclides, que acreditava estar diante de uma 
raça autóctone – o homo americanus – surgida, portanto, na América, desvinculada do Velho 
Mundo, com um desenvolvimento autônomo. Dono de coragem e resistência física, o índio 
teria vencido o meio e criado um modo de vida vigoroso. Já o fator racial visto como “inferior” 
do mulato, o negro, era, para Euclides, irrecuperável: era o homo afer, “filho das paragens 
adustas e bárbaras, onde a seleção natural [...] se fez pelo uso intensivo da ferocidade e da 
força”. (CUNHA, 2003, p. 73).
Euclides foi um homem insatisfeito em relação às suas atividades profissionais. Militar e 
engenheiro de formação, sempre aspirou ser um escritor reconhecido. Depois da publicação de 
os sertões, tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e foi eleito, também, 
para a Academia Brasileira de Letras. Propôs uma “guerra dos cem anos” para combater a 
seca do Nordeste, com a construção de açudes, poços artesianos, estradas de ferro e o desvio 
do Rio São Francisco para irrigar as áreas mais atingidas pela estiagem. Tornou público seu 
interesse pela Amazônia ao publicar, em 1904, no jornal O Estado de São Paulo, artigos sobre 
os conflitos entre Peru, Bolívia e Brasil, que via como uma disputa pelo acesso ao oceano no 
Atlântico. A morte prematura, aos 43 anos, por assassinato, aproximou sua história pessoal 
da tragédia grega que tanto admirou em vida. 
FONTE: TORRES, Lilian de Lucca. O Brasil de Euclides da Cunha. leituras da história, São Paulo, 
ano 2, n. 21, p. 60-61, 2009.
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DIC
AS!
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caNUdos Não se reNdeU
Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento 
completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, 
quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, 
dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 milsoldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-
lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la 
vacilante e sem brilhos.
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva 
maior, a vertigem. 
Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que 
se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos 
filhos pequeninos...
E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da palavra humana, o fato singular 
de não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na véspera, 
e entre eles aquele Antônio Beatinho, que se nos entregara, confiante – e a quem devemos 
preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa História?
Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5.200, 
cuidadosamente contadas.
os sertões, Euclides da Cunha. Fragmento do capítulo VI – O fim – da terceira parte, A Luta. 
FONTE: BIBLIOTECA virtual do estudante brasileiro. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro .usp.
br>. Acesso em: 24 abr. 2010.
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia o seguinte 
livro e assista ao filme:
Livro: Os Sertões, de Euclides da Cunha
Filme: Guerra de Canudos (Brasil – 1997, 169 min). Direção de 
Sérgio Resende
O filme Guerra de Canudos é uma adaptação cinematográfica da 
obra “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. Presente no conflito 
como enviado especial do jornal O Estado de S. Paulo, o jovem 
escritor narra com riqueza de detalhes suas impressões sobre o que 
presenciou no fronte. Vale a pena cruzar as informações do livro 
com aquelas apresentadas na versão cinematográfica. 
Além de: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da 
civilização brasileira: O Brasil republicano, economia e cultura. 
São Paulo: Bertrand do Brasil, 2008.
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resUmo do tópico 2
Neste tópico tivemos a oportunidade de conhecer alguns delineamentos da 
Primeira República, República Velha, ou República das Oligarquias. É importante você 
lembrar que:
•	 Após a implantação da República, os interesses dos grupos envolvidos em sua articulação 
entraram em choque. Em um primeiro momento, o governo militar foi alvo de críticas. O que 
estava em questão era a centralização versus o federalismo.
•	 Durante o governo do Marechal Floriano Peixoto ocorreram dois importantes conflitos: a 
Revolta da Armada e a Revolução Federalista.
•	 A estabilização do regime foi alcançada a partir do governo do paulista Campos Sales, 
momento no qual se implantou no Brasil a “Política dos Governadores”.
•	 A Política dos Governadores consistiu na criação de mecanismos capazes de garantir a 
perpetuação no poder das oligarquias regionais. Estabeleceu-se, então, uma troca de favores 
entre o governo federal, os governantes dos estados e chefes locais, os coronéis.
•	 Durante a Primeira República ocorreram movimentos sociais de contestação direta ou 
indireta aos rumos tomados pelo governo republicano. Dentre eles se destacam A Guerra 
de Canudos (1896-1897), a Guerra do Contestado (1912-1915), a Revolta da Vacina (1904), 
a Revolta da Chibata (1910) e o Tenentismo.
•	 Embora não tenha obtido êxito, o Tenentismo abriu as portas para os eventos que resultaram 
na quebra do pacto entre São Paulo e Minas Gerais e na Revolução de 1930.
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1 Descreva, em linhas gerais, os rumos tomados pelo governo republicano até 1930.
2 Teça alguns comentários sobre o funcionamento da “Política dos Governadores”.
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trabalhadores Na 
primeira repÚblica: coNdiçÕes 
À “lUta de classes”
1 iNtrodUção
tópico 3
O século XIX, principalmente em sua segunda metade, foi o momento de afirmação da 
hegemonia do capitalismo. Embora a Revolução Industrial tenha ocorrido já no século XVIII, 
em seus primórdios o processo de industrialização não englobava muitos setores. A partir da 
década de 1870 o sistema de produção capitalista dá um salto quantitativo e qualitativo, com 
o advento da chamada Segunda Revolução Industrial, ou Revolução Científico-Tecnológica.
De fato, o desenvolvimento da ciência e a sua aplicação no campo tecnológico resultaram 
na proliferação de descobertas e invenções que mudaram a face do mundo conhecido, 
diminuindo as distâncias, aumentando as velocidades, interligando as mais diversas regiões 
do globo terrestre. Para se ter uma ideia, neste período surgem os
[...] veículos automotores, os transatlânticos, os aviões, o telégrafo, o telefone, 
a iluminação elétrica e a ampla gama de utensílios domésticos, a fotografia, 
o cinema, a radiodifusão, a televisão, os arranha-céus e seus elevadores, as 
escadas rolantes e os sistemas metroviários, os parques de diversões elétricas, 
as rodas-gigantes... (NOVAIS, 1998, p. 9). 
O fato é que o mundo até então conhecido estava deixando de existir ou, na melhor 
das hipóteses, estava sendo transformado de tal maneira que as pessoas tinham dificuldades 
para traçar uma linha de continuidade entre o passado e o presente. Evidentemente, estas 
transformações adentravam também o campo das relações sociais. A vida, principalmente a 
vida urbana, tornava-se cada vez mais complexa. E, por maiores que fossem as diferenças 
entre a realidade brasileira e aquela relativa à Europa e aos Estados Unidos, paulatinamente 
o Brasil também acabou se inserindo neste novo cenário.
Em seus desdobramentos, a Revolução Industrial promoveu uma nítida demarcação 
de classes sociais. De um lado, segundo Karl Marx, estariam os donos dos meios de produção 
(indústrias, terras), a burguesia; do outro, os detentores da força de trabalho, o proletariado. 
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Este venderia sua força de trabalho para aquela. No relevo social, as relações estabelecidas 
entre estes dois grupos ou “classes sociais” ditariam os rumos a serem seguidos pelo capitalismo 
nos séculos seguintes. 
Ainda segundo Marx, uma sociedade dividida em classes, com interesses distintos, 
deve ser pensada do ponto de vista do conflito, da luta, pois interesses díspares se fariam 
valer resultando, inevitavelmente, em um confronto. Com efeito, ao longo do século XIX vários 
foram os embates, principalmente no meio urbano, entre burguesia e proletariado na Europa 
industrializada. Neste mesmo século, no Brasil, a permanência do regime de trabalho escravo 
e o incipiente desenvolvimento industrial mantiveram o país em uma situação bastante peculiar 
em relação aos acontecimentos no Velho Continente. Seria preciso a atividade industrial ganhar 
força e o trabalho livre se institucionalizar para que a luta de classes, nos moldes capitalistas, 
tomasse corpo em terras brasileiras. Neste tópico nosso objetivo será analisar este processo.
2 aNtecedeNtes: raíZes da 
 iNdÚstria NacioNal
Embora a criação das primeiras indústrias no Brasil tenha ocorrido já no período 
monárquico, do ponto de vista econômico sua importância se define a partir da implantação 
da República. De acordo com Del Priore e Venâncio (2003), o processo de industrialização 
brasileiro difere daquele ocorrido na Europa, principalmente devido ao fato de que aqui não 
houve um desenvolvimento lento a partir do artesanato e dapequena manufatura, mas um início 
caracterizado pela implantação de fábricas modernas. A importação do maquinário europeu, que 
já contava com um século de aperfeiçoamento, impulsionou nosso desenvolvimento industrial, 
dependente, desde o seu início, da influência internacional, principalmente europeia. Levando 
em conta a situação do sistema educacional brasileiro no século XIX e início do século XX – 
extremamente atrasado –, é possível entender por que a criação de tecnologias nacionais era 
algo raro. 
Dada a dependência da economia brasileira em relação à agricultura de exportação, 
durante as duas últimas décadas do século XIX e até a década de 1930, o desenvolvimento 
industrial nacional se associou à iniciativa dos grandes produtores rurais. Em um primeiro 
momento, Rio de Janeiro e Minas Gerais ocuparam posição de destaque, mas no início do 
século XX foram superados por São Paulo, que, na década de 1920, apresentava um estágio 
de desenvolvimento bem superior ao dos seus vizinhos. Nunca é demais lembrar que esta 
situação só foi possível devido aos investimentos advindos dos lucros dos cafeicultores paulistas 
no mercado internacional. Para se ter uma ideia, no início do século XX o Estado de São Paulo 
produzia sozinho mais da metade do café comercializado no mundo.
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À existência de excedentes passíveis de serem aplicados nas indústrias é necessário 
acrescentar o fato de que algumas regiões de São Paulo receberam um afluxo impressionante de 
imigrantes, principalmente depois da abolição do trabalho escravo. Ou seja, São Paulo passou 
a reunir elementos indispensáveis para o desenvolvimento industrial: capitais para investimento, 
mão de obra em abundância e a possibilidade de criação de um mercado consumidor para nutrir 
a demanda. Esta situação era mais do que evidente na capital paulista, uma cidade que, em 
aproximadamente quarenta anos (1872-1914), teve a sua população ampliada de “23 mil para 
400 mil habitantes”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 296). Evidentemente, a íntima ligação 
com o Poder Executivo nacional, respaldada pela “Política dos Governadores”, forneceu ao 
Estado de São Paulo a capacidade de administrar de maneira privilegiada crises econômicas 
tais como aquelas que atingiam seu principal produto de comercialização, o café. A manutenção 
dos lucros gerados pelo café permitia a manutenção dos investimentos nas indústrias.
FONTE: Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 10 mar. 2010.
A criação e desenvolvimento de um setor industrial, um dos grandes responsáveis pelo 
acelerado processo de ampliação dos centros urbanos, projetou um novo cenário no campo 
das relações sociais em nosso país. Nos centros urbanos, principalmente aqueles da região 
Sudeste, trabalhadores submetidos a condições precárias de vida passaram a se organizar e 
a reivindicar seus direitos. Por outro lado, os interesses de classe se faziam valer também por 
parte da burguesia, composta basicamente por empresários e fazendeiros de café. Surgiam 
as condições para disseminação do ideário da “luta de classes” em terras brasileiras.
FIGURA 9 – PANFLETO QUE AGENTES DE PROPAGANDA UTILIZAVAM 
PARA PROMOVER A IMIGRAÇÃO ITALIANA AO BRASIL
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3 a orGaNiZação dos trabalhadores 
e a lUta de classes
Não é possível afirmar que o desenvolvimento industrial durante a Primeira República 
tenha sido um privilégio da região Sudeste. Ocorre que, do ponto de vista da organização dos 
trabalhadores em torno do ideário da luta de classes, os eventos relacionados à região Sudeste 
servem como um vetor para se pensar a situação do país como um todo. Em cidades como 
São Paulo e Rio de Janeiro, os embates de classe nos fornecem preciosas indicações.
Respondendo pelo signo da continuidade, aos trabalhadores urbanos da República 
Velha foi negada a condição de cidadãos. Com efeito, durante as primeiras décadas de governo 
republicano a postura das elites dirigentes dava margem à reprodução de práticas de exclusão 
e de exploração que remontavam à época do Brasil Colonial. A abolição do trabalho escravo 
não significou o término da exploração dos trabalhadores, apenas a projetou em um novo 
relevo. Diante desta situação, os trabalhadores tiveram que se organizar na luta por direitos. 
De acordo com Penna,
A discriminação contra os operários, desenvolvida pelas classes dirigentes, 
produziu uma situação de verdadeira segregação geográfica e sociocultural. 
Assim, nasceram vilas e bairros operários, concentrando a vida dos trabalha-
dores, isolando-os das proximidades dos centros urbanos onde se instalavam 
as atividades comerciais e os bairros burgueses.
Esse isolamento propiciou maior integração dos trabalhadores assalariados. 
Não demorou muito e essa aglutinação se revelou profícua na luta travada 
entre os interesses do capital e do trabalho. (PENNA, 1999, p. 125).
O fato é que a criação desses espaços de sociabilidades, mesmo que em decorrência 
de uma política de exclusão social, trouxe consigo um elemento positivo, pois permitiu aos 
trabalhadores se reconhecerem enquanto membros de uma totalidade submetida à opressão. 
Este reconhecimento logo suscitou ações práticas materializadas em greves e outras iniciativas 
de contestação no próprio ambiente de trabalho. Ampliando o foco é necessário lembrar que as 
manifestações dos trabalhadores tinham como alvo a luta não apenas contra a exploração do 
trabalho, mas contra toda uma situação mais ampla que impunha aos trabalhadores péssimas 
condições de vida e gerava um quadro de verdadeira miserabilidade.
Na verdade, manifestações populares contra a opressão foram uma constante ao longo 
da História do Brasil. O elemento novo apresentado na Primeira República foi a forma como 
essas manifestações se desenvolveram e as concepções ideológicas que as guiaram. Del 
Priore e Venâncio descrevem da seguinte maneira esta questão:
Na transição do Império para a República, uma nova forma de fazer política teve 
início no Brasil. Por essa época começam a surgir os primeiros defensores de 
projetos socialistas, organizando partidos, sindicatos e jornais. Tratava-se de 
fato, de uma mudança radical. Basta lembrarmos que, ao exaltar o “trabalhador” 
como principal elemento da sociedade, o movimento operário brasileiro rompeu 
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com tradições seculares, herdadas da época escravista, que consideravam as 
atividades manuais aviltantes e indignas para os cidadãos – inaugurava-se, 
assim, um novo princípio de exercício legítimo do poder, que terá influência 
até nossos dias. (2003, p. 281).
 
Apresentado como uma novidade no Brasil, o projeto socialista já era uma realidade na 
Europa durante a maior parte do século XIX. E foi exatamente devido à vinda de imigrantes 
europeus para o Brasil, iniciados no ideário socialista e nas lutas pela reforma ou transformação 
radical da sociedade, que se constituíram lideranças capazes de dar sustentação à luta de 
classes. Portugueses, espanhóis e italianos compunham o grosso do fluxo de imigrantes 
para o Brasil nas primeiras décadas da República e a base da mão de obra empregada nas 
indústrias.
Penna (1999) nos fala que a tradição de luta dos trabalhadores europeus era conhecida 
desde a época das internacionais (a AIT, Associação Internacional dos Trabalhadores, fundada 
em Londres, em 1864, e a Internacional Socialista, criada em Paris, em 1889, são um exemplo 
desta afirmação).

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