Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O JUIZ DE PAZ E A JUSTIÇA DE PAZ EDSON ALEXANDRE DA SILVA Membro do Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos e Sociais - IBRAJS Assessor de Juiz de Direito Pós Graduado em Direito Público e em Direito Processual Chegando ao nosso momento contemporâneo, a legislação vigente, contempla, a luz da Carta Magna, conforme prevê o artigo 98, II, da CF/88 (39): A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e nos Estados criarão: (...) II- justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de oficio ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas em legislação. De sorte que a Constituição do Estado de Minas Gerais sobre a justiça de paz, acentua: A lei disporá sobre a Justiça de Paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para celebrar casamento, verificar, de oficio ou face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação. Parágrafo único – A eleição do Juiz de Paz, observado o sistema majoritário e a coincidência com as eleições municipais, será disciplinada na lei.” (Art. 117, CE - MG) Sobre a Justiça de Paz, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas, pronunciou-se pelo menos por significativas vezes: a) Acerca do provimento dos cargos, Portaria no. 560/89, e Resolução no. 226/91 e b) Acerca da Investidura, o mesmo pretório, disciplinou através da resolução n.s 357/83. Dada a importância do tema, sua participação no cenário Mineiro, que o Executivo Mineiro, por ato do Exmo. Sr. Dr. Itamar Franco, então no uso das atribuições de Governador do Estado de Minas Gerais, trouxe-nos a novel Lei Estadual/MG no. 13.454 de 12 de Janeiro de 2000, que dispõe sobre a Justiça de Paz, em todo o território mineiro; visando assim disciplinar a Constituição Estadual, no pertinente a Justiça de Paz. Ainda sobre a Lei in quaestio, o Procurador – Geral da República Cláudio Fonteles, propôs Ação Direta de Inconstitucionalidade contra dispositivos da Lei Estadual Mineira 13.454/00, que trata da regulamentação das eleições e estruturação da carreira de Juiz de Paz, Fonteles entende que a norma contrariou os artigos 22, inciso I e 121, da Constituição da República Federativa do Brasil. A Lei Mineira estabelece que compete aos Juízes de Paz “celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação”. O procurador-geral não concordou com as expressões “na forma da lei” e “além de outras previstas na legislação”, pois o legislador estadual não pode, sob o pretexto de dar efetividade a normas com nítido caráter de Direito Processual ou Trabalhista. Segundo o procurador-Geral, outro erro da lei é que invadiu outro domínio exclusivo da União, quando legisla sobre Direito Processual Civil. É que o texto prevê que o Juiz de Paz é competente para arrecadar bens de ausentes ou vagos, até que intervenha a autoridade é que a norma atribuiu ao Juiz de Paz competência para “processar auto de corpo de delito, de oficio ou a requerimento da parte, e lavrar auto de prisão, em caso de ausência, omissão ou recusa da autoridade policial”, sendo que os legisladores estaduais também não possuem condão de legislar sobre matéria eminentemente a União, como o é o direito penal. Sobre o Juiz muito se disse e ainda muito se dirá. Julgar é ato solene, tanto que Piero Calamandrei em seu clássico (1) prolatou sentença ímpar: Senhor, gostaria ao morrer de estar seguro de que todos os homens por mim condenados morreram antes de mim. Porque não posso pensar em deixar nas prisões deste mundo, sofrendo penas humanas, aqueles que nelas foram encerradas por ordem minha. Gostaria, Senhor, quando me apresentar a teu juízo, de encontrá-los em espírito à tua porta, para me dizerem que sabem que os julguei segundo a justiça, segundo aquilo que os homens chamam de justiça: e, se com algum deles fui injusto sem perceber, a este mais que os outros gostaria de encontrar lá, a meu lado, para lhe pedir perdão e para dizer-lhe que, ao julgar, nunca me esqueci de que eu era uma pobre criatura humana, escrava do erro; que, ao condenar, nunca pude reprimir a perturbação da consciência, tremendo diante de um ofício que, em última instância, só pode ser teu, Senhor. Ora, o Juiz cumpre e faz cumprir as Leis; a propósito Franz Kafka (2), assiná-la em um de seus contos uma metáfora acerca da Lei: “Diante da Lei há um guarda, à porta. Desse guarda aproxima-se um cidadão da província e pede licença para entrar, mas o guarda responde que não lhe pode outorgar permissão no momento. O homem pensa um pouco e então pergunta se mais tarde ser-lhe- á permitido entrar. - “É possível, mas não agora”- responde o guarda. Estando o portão da Lei aberto, como sempre, e afastando-se o guarda para um lado, o homem curva-se e espia o interior portão a dentro. Ao observar isso, o guarda ri-se e diz: “Se tanto o seduz, tente passar contra minha proibição!” - E frisa mais: - “Forte eu sou. Eu sou apenas o guarda menos graduado. De sala para sala existem guardas, cada qual mais forte que o outro; face do terceiro deles eu já não agüento olhar nem uma vez.” Com essas dificuldades não contava o cidadão da província: a Lei deve ser acessível a qualquer um e em qualquer tempo, imaginava ele... mas ao ver mais perto o guarda, com o seu manto de peles e o nariz grande, a escura barba mongólica fina e comprida, chega à conclusão de que esperar é melhor até que lhe seja outorgada permissão para entrar.” Francesco Carnelutti (3), assinalou que: Já se disse: um homem, para ser juiz, deveria ser mais que um homem. Tem se visto que no fundo é esta justamente tal idéia, a qual inspira aquele corretivo da insuficiência do juiz que é o colégio judiciário. (grifo nosso) No Estado de Minas Gerais, a quaestio foi disciplinada recentemente pela Resolução nº 490/2005 do E.TJMG, visando dar cumprimento ao art. 1º e 10, §1º da lei nº 13.453 de 12.01.2000. A rigor, o Juiz de Paz será conduzido ao cargo pelo voto dos cidadãos (art. 98, II da CF/88 e art. 117 da CE, bem como em conformidade com a Lei Estadual nº 13.453 de 12 de janeiro de 2000. Para fins de possuir um Juiz de Paz, as localidades serão distribuídas em distritos e subdistritos judiciários, respectivamente os distritos sede e os distritos em que estejam divididos os municípios, até um ano antes da eleição para efeito da desentralização administrativa [art. 32 e 33 da lei Complementar Estadual nº 37 de 18 de janeiro de 1995] (ar. 2º da Resolução nº 490/2005 – TJMG). É requisito objetivo que o distrito possua no mínimo 1.000 (hum mil habitantes) pelos dados oficiais do último censo demográfico – IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizado nos exatos termos da Lei nº 8.184 de 10.05.91 (ar. 3º da Resolução nº 490/2005 – TJMG). Os Prefeitos Municipais deverão remeter ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais a relação dos distritos que satisfação os art. 1º e 2º da Resolução nº 490/05-TJ-MG em até 10 (dez) meses antes das eleições municipais. Segundo inteligência do art. 5º da Resolução em estudo, o E. TJMG remeterá em até 08 (oito) meses antes das eleições municipais a relação dos distritos em que se dará eleições para Juiz de Paz ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Finalmente, o Juiz de Paz, doravante será eleito segundo o principiomajoritário, para mandato de quatro anos, pelo voto direto, universal e secreto do elitorado do distrito ou do subdistrito judiciário respectivo, permitida a releição (art. 3º da Lei Estadual nº 13.454/00). Nas palavras do Insigne Magistrado Mineiro Wilson Veado: “Na verdade, recompor, refortalecer, restabelecer, pondo a Justiça de Paz em lugar de destaque, como antes, tal será a atitude inteligente por reconhecer que, sem destaque, como antes, tal será atitude inteligente por reconhecer que, sem qualquer sombra de dúvida, que a população de cada Vila Mineira, por extensão, brasileira, terá recuperado o esteio de sustentação da ordem pública local, que se visualiza na pessoa do seu JUIZ DE PAZ.” Justiça para todos: com dignidade, está é a proposta da Justiça de Paz !!! - Notas (1) CALAMANDREI, Piero. Eles, Os Juízes, vistos por um Advogado. Martins Fontes: São Paulo, 1996. (2) KAFKA, Franz. A Metamorfose. Trad. de J. A. Teixeira Aguiar. Chile: Lord Cochrane, 1988. (3) CARNELUTTI, Francesco. As Misérias do Processo Penal, São Paulo: Conan, 1995. - Bibliografia CALAMANDREI, Piero. Eles, Os Juízes, vistos por um Advogado. Martins Fontes: São Paulo, 1996. CARNELUTTI, Francesco. As Misérias do Processo Penal, São Paulo: Conan, 1995. KAFKA, Franz. A Metamorfose. Trad. de J. A. Teixeira Aguiar. Chile: Lord Cochrane, 1988.
Compartilhar