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O Direito nas Sociedades Primitivas Egito e Mesopotâmia Direito Grego Antigo

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O DIREITO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS
Introdução histórica
Segundo Cristiano da Paixão Araújo Pinto, pode-se ilustrar a transição das formas arcaicas 
de sociedade para as primeiras civilizações da Antiguidade mediante três fatores históricos:
 a) o surgimento das cidades cuja origem pode-se situar no Paleolítico, na Mesopotâmia. 
Pode-se dizer que o processo de destribalização teve início no século IV a . C. , tendo-se notícia 
da formação de cidades nos anos 3100-2900 a. C., na Baixa Mesopotâmia, isto é, região designada 
por Suméria, nas margens do Rio Eufrates.
b) a invenção e domínio da escrita, estreitamente ligada ao surgimento das cidades, cujas 
primeiras manifestações (cuneiformes) se deram na Mesopotâmia, por volta de 3.100 a. C.
c) o advento do comércio e, numa etapa posterior, da moeda metálica, por um sistema de 
trocas de mercadorias, e venda em mercados ou na navegação. 
A síntese desses três elementos (cidades-escrita-comércio), como esclarece o mencionado 
Cristiano da Paixão Araújo Pinto.
representou a derrocada de uma sociedade fechada, organizada em 
tribos ou clãs, com pouca diferenciação de papéis sociais e fortemente 
influenciada, no plano das mentalidades, por aspectos místicos ou 
religiosos. Há, nestas sociedades arcaicas, um direito ainda incipiente, 
bastante concreto, cognoscível apenas pelo costume e que se confunde 
com a própria religião.
A construção de uma sociedade urbana, aberta a trocas políticas, mais dinâmica e 
complexa, demandará, contudo, um novo direito, cujas primeiras manifestações ocorrem na 
Mesopotâmia e no Egito. Já o período, em Roma, é aquele conhecido como a Realeza (753 a . C. a 
510 a . C), o qual, em razão dos objetivos deste trabalho e da importância do Direito Romano, não 
será aqui estudado.
No que se refere ao direito grego, é o período que se inicia com o aparecimento da polis, 
meados do século VIII a C. , e vai até o seu desaparecimento e surgimento dos reinos helenísticos 
do século III a C., isto é, "esse período de cinco séculos corresponde aos convencionalmente 
denominados época arcaica (776 a 480 a C., datas dos primeiros Jogos Olímpicos e batalha de 
Salamina, respectivamente) e período clássico (quinto e quarto séculos a C.)".
Introdução ao estudo da história do Direito
"Na maioria das sociedades remotas, a lei é considerada parte nuclear de controle social, 
elemento material para prevenir, remediar ou castigar os desvios das regras prescritas. A lei 
expressa a presença de um direito ordenado na tradição e nas práticas costumeiras que mantêm a 
coesão social", no dizer de Antonio Carlos Wolkmer.
 Assim, falar em um direito arcaico ou primitivo implica, contudo, ter presente uma 
diferenciação da pré-história e da história do direito e ainda, quanto aos horizontes de diversas 
civilizações, no sentido de precisar o surgimento dos primeiros textos jurídicos com o 
aparecimento da escrita, tudo dependendo do grau de evolução e complexidade de cada povo.
Por isso, prossegue Wolmer: o direito arcaico pode ser interpretado a partir da 
compreensão do tipo de sociedade que o gerou. Se a sociedade da pré-história fundamenta-se no 
princípio do parentesco, nada mais considerar que a base geradora do jurídico encontra-se, 
primeiramente, nos laços de consanguinidade, nas práticas do convívio familiar de um mesmo 
grupo social, unido por crenças e tradições.
Num tempo em que inexistiam legislações escritas e códigos formais, as práticas primárias 
de controle são transmitidas oralmente, marcadas por revelações sagradas e divinas, vale dizer, 
constata-se esse caráter religioso do direito arcaico, imbuído de sanções rigorosas e repressoras, 
fato que levou os sacerdotes-legisladores a serem os intérpretes e executores destas leis (recebidas 
diretamente do Deus da cidade), onde o ilícito se confundia com a quebra da tradição e com 
infração ao que a divindade havia proclamado.
A formação do direito nas sociedades primitivas
Como se vê, no dizer de Wolkmmer, não se trata, na época, de um direito escrito mas de 
um conjunto disperso de usos, práticas e costumes, reiterados por um longo período de tempo e 
publicamente aceitos. É o tempo do direito consuetudinário, em que não se conheceu a invenção 
da escrita, em que uma casta ou aristocracia "investida do poder judicial era o único meio que 
poderia conservar, com algum rigor, os costumes da raça ou tribo
Registre-se, contudo, que a inversão e a difusão da técnica da escritura, somada à 
compilação de costumes tradicionais, proporcionaram os primeiros Códigos da Antiguidade, a 
saber, o de Hamurabi, o Código de Manu, a Lei das XII Tábuas e, na Grécia, as legislações de 
Dracon e de Sólon.
A seguir, pequeno resumo destas primeiras compilações.
O código de Hamurabi
 
Para parte das fontes históricas, o código de Hamurabi teria sido promulgado 
aproximadamente em 1694 a . C., e contem dispositivos a respeito de todos os aspectos da vida da 
sociedade babilônica, isto é: comércio, família, propriedade, herança (art. 167 a 173), adoção (ex. 
art. 185 a 194), escravidão, sendo os direitos acompanhados da respectiva punição, mas variando 
de acordo com a categoria social do infrator e da vítima.
Código de Manu 
Sua data de promulgação situa-se aproximadamente entre os anos de 1300 a 800 a. C. e foi 
redigido de forma poética: as regras são expostas em versos, composto de mais de cem mil 
dísticos (grupo de dez versos), mas que interessam, para efeito dos estudos jurídicos, os livros 
Oitavo e Nono.
Lei das XII Tábuas 
Proposta pelo tribuno Tarentílio Arasa, em 462 a . C., mas elaborada pelos Decênviros 
(eleitos em 461 a . C. ), a Lei das XII Tábuas – também chamada simplesmente de Lex, ou ainda 
Legis XII Tabularum ou Lex Decenvilaris - resultou num conjunto de 10 tábuas gravadas sobre 
bronze ou carvalho, em 451 a . C., as quais foram acrescidas mais duas tábuas no ano seguinte. 
É considerada como a fonte de todo direito público e privado para os próprios romanos. 
Seu grande valor consiste em ter sido uma das primeiras leis que ditava normas eliminando as 
diferenças de classes, isto em função de as leis do período monárquico não mais se adaptarem à 
nova forma de governo, isto é, à República; e por ter sido a que deu origem ao Direito Civil e às 
ações da lei, evidenciando-se o caráter tipicamente romano (povo prático, objetivo e imediatista).
O direito e a sociedade Mesopotâmia e Egito
A história e o direito se misturam com o desenvolvimento das sociedades constatados 
através de seus documentos, testemunhos e fontes históricas conforme. (PINTO, 2003)
“Não há direito fora da sociedade. E não há sociedade fora da história.” (PINTO, 2003, p. 
21)
Niklas Luhmann classifica três grandes grupos de manifestações do direito, o direito 
arcaico, o direito antigo e o direito moderno. (PINTO, 2003)
O direito arcaico e o antigo são verificados no Egito e na Mesopotâmia. A transição do 
direito arcaico para o antigo se deve a partir de três fatos históricos conforme o autor, O 
surgimento das cidades, a invenção e domínio da escrita e o advento do comércio, posteriormente 
a criação da moeda metálica. (PINTO, 2003)
As cidades
surgem da necessidade de agrupamento e proteção de seus elementos, com isso passam a 
se fixar e cultivar, o que ocorreu primeiramente na Mesopotâmia. A estrutura dessas primeiras 
cidades eram as cidades cercadas por muralhas, uma espécie de subúrbio extramuro e o porto 
fluvial. (PINTO, 2003)
Também é na baixa Mesopotâmia em torno de 3.100 a.C, o surgimento da primeira 
escrita, mais complexa, com maior número de sinais, aspectos ideográficos e fonéticos, a escrita 
cuneiforme. As civilizações do Egito e da Mesopotâmia,em sua geografia se desenvolveram 
praticamente no mesmo tempo histórico, sua escrita e urbanização também.
Segundo o autor, a Mesopotâmia e o Egito formaram suas civilizações próximos dos rios, 
Tigre, Eufrates e Nilo. E claro com a proximidade dos rios o plantio, agricultura, e a navegação 
fluvial foi essencial para o transporte de mercadorias e sofisticação do comércio, aumentando a 
população e propiciando um maior desenvolvimento político e economia. (PINTO, 2003)
Na política a Mesopotâmia e o Egito também continuam similares, desenvolvendo a 
monarquia como forma de governo, mais com diferenças evidentes. No Egito desde a 
consolidação da unificação dos reinos do Sul e do Norte, até o final dos períodos de 
predominância persa e início da dominação romana, consolidou-se uma monarquia unificada com 
um poder central bastante definido, titularizada pelo Faraó, sendo o mesmo considerado o próprio 
Deus na terra, sendo sua realeza egípcia nunca foi contestada. (PINTO, 2003)
Na Mesopotâmia a política era diversa, fundando cidades, designadas cidades-estados com 
alto grau de independência. (PINTO, 2003). A Mesopotâmia e o Egito na economia seu aspecto 
comum é que plantavam e utilizavam a navegação como meio de transporte. 
O Egito era rico em vários produtos minerais, mais pobre em madeira, e as condições de 
irrigação e drenagem do solo eram bastante favoráveis na extensão do rio Nilo. (PINTO,2003). Na 
Mesopotâmia havia carência de minerais (com exceção do cobre) e solo ainda que bastante fértil, 
apresenta problemas quanto a dificuldade de drenagem e contenção do avanço da vegetação 
desértica. A civilização Mesopotâmica dependia do comercio em grau sensivelmente superior ao 
Egito, o que causaram grandes reflexos no desenvolvimento do direito privado nessas duas 
cidades. (PINTO, 2003).
O direito nas civilizações Mesopotâmica e Egípcia possuía a característica como relata 
nosso autor, de ideia de Revelação Divina. 
O primeiro documento escrito na história do direito foi o código de Ur-Nammu, que 
surgiu entre 2.140 e 2.004 a.C, com o intuito de criar um meio termo entre o direito arcaico e as 
formas abstratas e gerais que compunham o direito moderno. O código dividia os homens entre 
homens livres e os escravos, bem como os funcionários que trabalhavam nos palácios e templos, 
que tinham uma liberdade limitada. (PINTO, 2003)
As normas ligavam-se predominantemente ao direito penal, existindo a importância 
concedida pelas cidades da Mesopotâmia às penas pecuniárias. Outros códigos surgem na 
Mesopotâmia, após o código de Ur-Nammu, entre outros o código de Lipit-Ishtar redigido 
possivelmente entre 1934 e 1924 a.C, contendo um prólogo, epílogo e 43 artigos e o código de 
Esnunna, mais extenso e completo possuindo 60 artigos, traz uma simbiose entre matéria civil e 
penal, que caracterizará o código de Hammurabi. (PINTO, 2003)
Este código foi promulgado aproximadamente em 1694 a.C, apogeu do império babilônico 
do rei Hammurabi, conforme autor cita, este código possuía 3600 linhas de texto, 282 artigos, que 
discorriam sobre penas definidas e até institutos do direito privado, e regulamentação do domínio 
econômico, tentativa de delimitação de salários e preços, tabelamento oficial. Delimitação do 
direito de família, a mulher torna-se proprietária de seu dote, podendo propor ação para retornar a 
sua família de origem em caso de má conduta do marido levando seu dote consigo. (PINTO, 
2003)
O código prevê também o instituto da adoção e sucessão. O direito penal trazido por esse 
código centraliza o poder nas mãos do soberano, e no que diz respeito aos delitos utilizam o 
princípio de autotutela e retaliação com penas de mutilação e castigos físicos.
A grande herança deste
código foi o a regulamentação do direito privado, contendo contratos e negócios jurídicos, 
como contrato de compra e venda, arrendamento, depósito, e essa responsabilidade civil é levada 
a sério. (PINTO, 2003)
Apesar do Egito não contar com tanto informação quanto a Mesopotâmia, há, contudo 
excertos de contratos, testamentos, decisões judiciais, e atos administrativos, grande referencia as 
normas jurídicas em textos sagrados e narrativas literárias. Seu maior legado deixado foi a 
consagração na aplicação do direito, um princípio de justiça simbolizada pela deusa Maat. A 
aplicação do direito deve ser feito para agradar ao Deus Maat, na tradução, Verdade e Ordem 
propriamente dita. E como o faraó ela Deus na terra, era através dele que se tomavam todas as 
decisões em nome de Maat. (PINTO, 2003)
O direito e a sociedade dos hititas
Os Hititas são os antepassados diretos dos turcos otomanos, aplicavam suas leis com o 
máximo de abrandamento do rigor, dispondo de composição pecuniária, não aplicavam a lei de 
Talião, ao invés de olho por olho, dente por dente, aplicavam multas e indenizações, os castigos 
corporais, pena de morte e cruéis mutilações eram muito raros, conforme narra nosso autor. 
(PALMA, 2011) 
Na política os Hititas viviam uma monarquia constitucional segundo C.W. Ceram, neste 
sistema conferia um herdeiro varão a prerrogativa de tomar assento do trono e de suceder a 
monarquia. Possuíam um conselho fiscalizador com autoridade de julgar, condenar o rei se 
necessário até a pena de morte se quisessem. (PALMA, 2011)
Em 1258 a.C foi assinado um dos primeiros tratados de paz da historia do direito entre os 
Hatusitis III e Ramses II, conforme fala o autor. (PALMA, 2011)
O direito e a sociedade persa
Os persas são de origem indo-europeia, com traços étnicos-linguistico, como conta o autor 
R.F. Palma, desenvolveram-se no planalto de Irã e construíram grande império, sobrepujando a 
hegemonia Babilônica. (PALMA, 2011)
Utilizavam a escrita cuneiforme derivada da Suméria, adaptada ao idioma local, com isso, 
foram registrados os escritos literários essencialmente religiosos, e as leis a reger o império. 
(PALMA, 2011)
Sua religião aproximava-se do credo hebraico, acreditando em uma divindade que 
representava todo o bem, a Ahura-Masda e uma do mal a Arinã. 
O direito persa admitia três crimes, crime conta a Masda, crime contra o rei, e contra o 
próximo. E apesar de sua grande severidade os roubos eram costumeiros. O direito civil na pérsia 
se destaca o direito de família, e de sucessão, regulamentaram também o matrimônio, a adoção, a 
antecipação da herança e a participação nos bens. (PALMA, 2011)
A aplicação de suas leis utilizavam veneno, crucificação, enforcamento, lapidação (morte 
por apedrejamento) durante o império de Ciro o grande houveram momentos de benevolência.
(PALMA, 2011)
Direito e a sociedade hebraica
O direito Hebraico foi profundamente vinculado ao sagrado, uma fonte de inspiração e 
revelação divina, um conjunto de regras preceitos religiosos monoteístas conforme relata o autor. 
(PALMA, 2011). Seu antigo testamento “Tanak” contribuiu para o desenvolvimento filosófico 
doutrinário da cultura hebraica. Formado pelo Toráh (Pentateuco), Neebin (Profetas) e Ketubin 
(escritos). (PALMA, 2011)
A essência da legislação de Israel Antigo é o Toráh, o mesmo se subdivide entre o código 
da Aliança e o código da Santidade ou Sacerdotal, possuindo 613 leis, 365 preceitos negativos e 
outros 248 positivos. O direito hebraico apresenta todo seu esplendor através do Decálogo 
(asseguravam que foi o dedo de Deus que escreveu) os Dez Mandamentos. (PALMA, 2011)
Acreditamos por um tempo que o cerne das leis foi transmitido no final da Idade do 
Bronze Oriental (sec. XII a.C) no entanto outras leis foram produzidas com a instauração da 
monarquia por volta de 1020 a.C. Este processo de criação continuou por todo o séc. VIII a.C, 
quanto teve inícioa Era dos Profetas de Israel. (PALMA, 2011)
Quando estudamos as leis antigas como a de Israel, só serão compreendidas se 
considerarmos a religião hebraico como forte influencia praticando o monoteísmo. A tradição 
hebraica, assegurava a revelação divina, teve lugar entre os patriarcas Abraão e Jacob, 
acreditavam que eles firmaram um pacto com Deus.
O direito sagrado se projeta no conteúdo jurídico do chamado Antigo Testamento, o 
direito e o sagrado se fundem como um todo. (PALMA, 2011)
Paul Johnson sita “Moises é a figura central na história Judaica... Se Abrão era o 
antepassado da raça, Moisés foi a força essencialmente criativa, o modelador do povo...” O autor 
fala que na cultura Judaica Deus é o único modelo de justiça, “Tsedaka” a justiça absoluta. O 
modelo a ser seguido para a pratica do bem estava no Israel Antigo, Torah e seus mandamentos. 
No séc. VIII a.C os profetas acusavam os juízes de não praticar a justiça verdadeira, pois não se 
comoviam com as viúvas, órfãos, estrangeiros e pessoas necessitadas. (PALMA, 2011)
A lei hebraica sempre foi fundada na caridade o amor ao próximo. Todos deveriam dar o 
melhor de si para o progresso da humanidade seguir os mandamentos e cuidar dos pequenos. Os 
hebreus desenvolveram leis de caráter civilista. Os negócios jurídicos eram constantes desde o 2 
milênio a.C. Comprovam esta verdade inúmeros contratos encontrados na Mesopotâmia e seus 
entorno, uma espécie de Direito civil israelita. (PALMA, 2011)
Constatou-se o penhor, como garantia de dividas, mais não aceitando instrumentos da 
agricultura, e a inviolabilidade do lar, que também não podem ser penhorados. A herança já era 
regulamentada pelo direito mosaico, o primogênito herdava tudo e manteria sua mãe e irmãos. 
O casamento era celebrado mediante contrato conhecido como Ketubah é pago o dote aos 
pais da noiva. O divórcio era aceito pelo Torah, caso a noiva não seja virgem, desagradasse de 
alguma forma seu marido.
Existia também a defesa do consumidor, não aceitando desonestidade como meio de 
enriquecimento. O Torah preservava a vida, responsabilidade civil, aconselhando as construções a 
colocar parapeito nas sacadas a fim de preservar a vida dos moradores e evitar acidentes. 
Os hebreus não distinguiam lei e religião como o autor já relatou, em nenhum outro lugar 
da Antiguidade foi reunido tantos preceitos éticos tão universalmente aceitos por um povo. 
(PALMA, 2011)
A Torah busca a preservação dos pequenos, dos desvalidos, procurando assegurar o 
mínimo de assistência e amparo aos menos favorecidos. Sua lei amparava os órfãos, as viúvas, os 
estrangeiros e os pobres, suas leis buscavam equilibrar as relações sociais. (PALMA, 2011)
O DIREITO GREGO ANTIGO
 (meados do século VIII a. C. a século III a. C.). As legislações de Dracon e de Sólon
Introdução
Ao se iniciar o estudo da Grécia Antiga, é costume dividir sua história em vários períodos, 
a saber: o arcaico (do oitavo ao sexto século a. C.), o clássico (quinto e quarto séculos a. C.), o 
helenístico (de Alexandre Magno à conquista romana do Mediterrâneo oriental), o romano (a 
partir da derrota de Antonio e Cleópatra, por Augusto).
O objeto do presente estudo se volta para o período iniciado com o aparecimento da polis 
(metade do século VIII a. C.) e vai até o século III a. C. (surgimento dos reinos helenísticos), isto 
é, um período de cinco séculos correspondente às denominadas época arcaica (776 a 480 a. C, 
cujo marco histórico são os primeiros Jogos Olímpicos e a batalha de Salamina) e período 
clássico (quinto e quarto séculos a. C).
O estudo sobre a Grécia ficará centrado nas instituições da cidade de Atenas, utilizada 
pelos historiadores como paradigma, dada a sua importância: é dela que se tem mais informações 
(Aristófanes; oradores áticos; historiadores e a Constituição de Atenas, de Aristóteles); Atenas foi 
onde a democracia melhor se desenvolveu e o direito atingiu sua mais perfeita forma quanto a 
legislação e processo.
A época arcaica é um período de grandes transformações, entre as quais a colonização, o 
comércio, o aparecimento da moeda, o surgimento de nova classe social (plutocratas), a escrita e a 
obra dos legisladores (sabe-se que dois códigos de leis foram redigidos em Atenas, separados por 
um período de 30 anos, o primeiro por Dracon, o segundo por Solon, como se verá mais adiante).
Sobre a colonização, pode-se dizer que foi uma prática que continuou até o período 
helenístico (excesso de população, secas ou chuvas em demasia, dificuldades de alimentar a 
população, são motivos para se fundar uma apokia – lugar distante). Foi dessa forma que os 
gregos se espalharam pelo mediterrâneo.
Além de dispersarem geograficamente os gregos, a colonização estimulou o comércio e 
indústria (cerâmica, principalmente), atividades incrementadas com o aparecimento e adoção da 
moeda (Lídia, século VII a. C.), fatos que propiciaram, por sua vez, à acumulação de riquezas e ao 
aparecimento de uma nova classe, a dos plutocratas.
Com o surgimento dos plutocratas, a aristocracia perdeu o poder econômico, embora ainda 
mantivesse o poder político, por ela controlado mas, posteriormente, retirado com as reformas 
introduzidas pelos legisladores.
A obra dos legisladores: Zaleuco, Dracon e Sólon
Retirar o poder das mãos da aristocracia com leis escritas foi o papel dos legisladores, 
destacando-se, inicialmente, Zaleuco de Locros (650 a. C.), a quem é atribuído o primeiro código 
escrito de leis e ter sido o primeiro legislador a fixar penas determinadas para cada tipo de crime.
Outro importante legislador da época foi Drácon (620 a.C.), que fornece a Atenas seu 
primeiro código de leis. Ficou conhecido por sua severidade, cuja lei relativa ao homicídio foi 
mantida pela reforma de Sólon, sobrevivendo até nossos dias graças a uma inscrição em pedra. 
Foi ele o responsável pela introdução de importante princípio do direito penal: a distinção entre os 
diversos tipos de homicídio: voluntário – julgados pelo Areópago; homicídio involuntário e em 
legítima defesa, julgados pelo Tribunal dos Éfetas, composto de 4 tribunais de 51 pessoas com 
mais de 50 anos e designadas por sorteio. O Areópago (mais antigo tribunal ateniense) enviava a 
esses tribunais os casos de homicídio involuntário ou desculpável.
O Código de Sólon é completamente diferente. Vê-se que corresponde a uma grande 
revolução social. A primeira coisa que aí se observa é que as leis são as mesmas para todos. Não 
estabelecem distinção entre o eupátrida, o simples homem livre e o teta. Estes nomes nem sequer 
figuram em nenhum dos artigos que nos foram conservados. Sólon se vangloria nos seus versos 
de ter escrito as mesmas leis para os grandes e para os pequenos.
O direito antigo prescrevia que o filho primogênito fosse o único herdeiro. A lei de Sólon 
se distancia disso e afirma em termos formais: "Os irmãos repartirão o patrimônio". Mas o 
legislador não se afasta ainda do direito primitivo a ponto de conferir à irmã uma parcela da 
sucessão. "A partilha – diz ele – se fará entre os filhos". E há mais: se um pai deixa apenas uma 
filha, esta filha única, não pode ser herdeira; é sempre o agnado mais próximo que detém a 
sucessão. Nisto Sólon se conforma ao antigo direito. Ao menos, consegue dar à filha o gozo do 
patrimônio forçando o herdeiro a desposá-la.
O parentesco entre as mulheres era desconhecido no antigo direito. Sólon o admite no 
direito novo, mas colocando-o abaixo do parentesco por via masculina ["Se um pai morre 
intestado deixando apenas uma filha, o agnado mais próximo herda desposando essa filha. Se não 
deixar filho algum, seu irmão herdará e não sua irmã; e seu irmão germano ou consangüíneo, enão seu irmão uterino. À falta de irmãos, ou de filhos dos irmãos, a sucessão passará a sua irmã. 
Se não houver nem irmãos, nem irmãs, nem sobrinhos, os primos e seus filhos do lado paterno 
herdarão. Se não houver primos no lado paterno (ou seja, entre os agnados), a sucessão será 
deferida aos colaterais do lado materno (quer dizer, aos cognados"]. 
Sólon introduz ainda na legislação ateniense algo de muito novo, o testamento (lembre-se 
que, antes, os bens pertenciam ao indivíduo, mas sim à família). O legislador permite, então, ao 
homem dispor de sua fortuna e escolher seu legatário [mas] o filho foi conservado como herdeiro 
necessário. Se o morto deixasse somente uma filha, não podia escolher seu herdeiro a não ser sob 
a condição de tal herdeiro desposar sua filha; sem filhos, o homem era livre para testar como 
quisesse (regra absolutamente nova no direito ateniense).
Sabe-se que Sólon proibiu o pai de vender a filha [a religião primitiva o permitia], a não 
ser que ela tivesse cometido um delito grave. É verossímil que a mesma proibição protegesse o 
filho, [permitindo a este] que chegou a uma certa idade que escape do poder paterno. Os 
costumes, senão as leis, passaram de modo pouco perceptível a estabelecer a maioridade do filho, 
mesmo que o pai ainda estivesse vivo.
Para a mulher a lei de Sólon se conformava ainda ao direito antigo, proibindo-a de fazer 
testamento, porque a mulher jamais fora realmente proprietária, podendo ter apenas em usufruto. 
Mas a lei de Sólon se afasta desse direito antigo ao permitir à mulher que retome seu dote.
Havia ainda outras novidades nesse código. Em oposição a Drácon, que concedera o 
direito de demandar em justiça um crime somente à família da vítima, Sólon o concedeu a todo 
cidadão. Mais uma regra do velho direito patriarcal a desaparecer".
Ainda no mesmo período ora estudado pode-se apontar o aparecimento de tiranos (640-
630 a.C.), entre os quais Pisístrato (546-510), déspota esclarecido cujo período coincide com 
importante fase de desenvolvimento econômico de Atenas (são desta fase as famosas moedas de 
prata com a imagem da coruja, símbolo da deusa protetora da cidade). Este tirano mantém o que 
Sólon tinha estabelecido.
Por vontade do povo, é eleito Clístenes (510 a.C.), considerado o pai da democracia grega 
porque, atuando como legislador, realizou verdadeira reforma e instaurando nova Constituição.
Posteriormente, com as guerras pérsicas (490 e 489-479 a.C.), inicia-se a era clássica da 
Grécia (séculos V e IV a.C.), destacando-se generais gregos (Milcíades, com a vitória em 
Maratona); Temístocles, com a vitória naval de Salamina; Elfíates (retira a maioria dos poderes do 
Aerópago) e, finalmente, Péricles, que estabelece a remuneração para o tempo a serviço da polis. 
 É na época clássica que se consolidam as principais instituições gregas: a Assembléia, o 
Conselho dos Quinhentos (boulê) e os Tribunais da Heliaia. Por volta de 430 a.C. (Guerra do 
Peloponeso), estima-se que Atenas tivesse cerca de 300 mil habitantes,dos quais 30 a 40 mil eram 
cidadãos e de 100 a 150 mil eram escravos (democracia escravagista?), mas pode-se dizer que 
Atenas atingiu sua maioridade e elevado grau de democracia (e que foi estendido para outras 
cidades gregas). A Assembléia do Povo era a principal das instituições e eram onde as decisões 
eram efetivamente tomadas.
A lei grega escrita como fonte de poder
É consenso que os historiadores têm dado pouca importância ao direito grego por que seu 
estudo tem sido feito mais por parte dos filósofos (que não se preocupavam muito com a verdade 
jurídica) e por romanistas, que permaneceram fechados em suas categorias tradicionais. Pode-se 
adicionar outra razão: a de que a escrita grega surgiu e se desenvolveu ao longo da história da 
civilização grega, tendo atingido sua maturidade somente após o ocaso dessa civilização. 
Estivessem a escrita, os meios de escrita e a tecnologia da produção de livros em 
adiantado estágio quando a civilização grega atingiu seu auge, como foi o caso da civilização 
romana, talvez teríamos outra história quanto ao direito grego: é que direito e escrita se 
interelacionam e se confundem com a própria história da civilização grega. A escrita surge como 
nova tecnologia, permitindo a codificação das leis e sua divulgação (em que os legisladores 
exerceram papel destacado), o que levou à participação do povo e daí, à perda do monopólio da 
aplicação do direito, então nas mãos da aristocracia.
Sabe-se que as grandes obras de Atenas do século V a.C. foram escritas em dialeto ático, 
mas a Odisséia, datada do século VIII a.C. foi escrita em dialeto jônico. O alfabeto fonético grego 
data de 776 a.C. (data em que se aponta como a realização da Primeira Olimpíada).
Duas outras características podem ter contribuído, ainda, para obscurecimento do direito 
grego, ao longo da história:
a) a recusa do grego em aceitar a profissionalização do direito e da figura do advogado (que, 
quando existia, não podia receber pagamento) 
b) os gregos preferiam falar e ouvir a escrever: Heródoto, fez leituras públicas da sua História; os 
filósofos ensinavam mediante o discurso e a discussão; Platão (que escreveu em forma de 
diálogos) exprimiu abertamente sua desconfiança dos livros (não podem ser inquiridos e, por 
conseguinte, as suas ideias estão fechadas a correção ou ao maior aperfeiçoamento e, além disso, 
"enfraquecem a memória"); Sócrates conseguiu sua reputação apenas com uma longa vida de 
conversação, já que não escreveu uma linha sequer.
A preferência dos gregos à fala também é reforçada pelas dificuldades que a escrita ainda 
apresentava (séc. V a. C.), como a pouca disponibilidade e o alto custo do material para escrita e 
produção de obras para consumo (o papiro foi introduzido no século IV a. C., vindo de Cartago; o 
pergaminho teve sua utilização coincidente no momento em o apogeu da Grécia já tinha passado 
e Roma dominava).
O que levou os gregos a utilizarem a escrita para publicar suas leis tem sido objeto de 
controvérsias. Acredita-se que em determinado ponto da história (por volta do séc. VII a. C.), o 
povo começou a exigir leis escritas para assegurar melhor sua forma de aplicação.
É provável, também, que as primeiras leis escritas reduziram as contendas entre os 
membros da polis, aumentaram o alcance e a eficiência do sistema judiciário e culminaram, por 
fim, por aumentar gradualmente o poder das cidades, às custas das famílias e dos indivíduos.
O direito grego e suas fontes. A retórica grega como instrumento de persuasão jurídica
Os gregos não elaboram tratados sobre o direito, limitando-se apenas à tarefa de legislar 
(criação das leis) e administrar a justiça pela resolução de conflitos (direito processual).
Tem-se notícia de que os assassinatos eram resolvidos pelos membros das famílias das 
vítimas, que buscavam e matavam o assassino, dando início a disputas sangrentas sem fim. 
Somente no meio do século VII a. C., estabeleceram os gregos suas primeiras leis codificadas 
oficiais.
As fontes das leis escritas são encontradas em inserções em pedra, madeiras e bronze, mas 
não chegaram até nós como os escritos da filosofia, literatura e história porque estes foram 
constantemente citados, copiados, o que não ocorreu com as leis gregas.
Os gregos tinham muito clara a distinção (superada, neste século XXI, com o advento dos 
Estados Democráticos de Direito,) entre lei substantiva (o próprio fim que a administração da 
justiça busca; determina a conduta e as relações com respeito aos assuntos litigados) e lei 
processual (trata dos meios e dos instrumentos pelos quais o fim deve ser atingido, regulando a 
conduta e as relações dos tribunais e dos litigantes comrespeito à litigação em si).
Como forma de solução de controvérsias havia árbitros públicos (visava reduzir a carga 
dos dikastas: o árbitro era designado pelo magistrado e tinha como principal característica a 
emissão de um julgamento correspondente à moderna arbitragem, mas que deu origem à 
jurisdição, tal como em Roma) e árbitros privados (meio alternativo mais simples e mais rápido, 
realizado fora do tribunal, para se resolver um litígio, em que as próprias partes escolhiam os 
árbitros entre pessoas de sua confiança. Buscava-se a equidade).
Por outro lado, embora não chegassem a diferenciar o direito civil do penal ou o direito 
público do privado, havia uma forma de mover uma ação: ação pública (graphé) – por cidadãos 
que se considerassem prejudicados pelo Estado – e ação privada (diké) – um debate judiciário 
entre dois litigantes, reivindicando um direito ou apresentando uma defesa, adstrito às partes 
(exemplos: assassinato, propriedade, assalto, violência sexual, roubo, etc.).
Cabia à pessoa lesada ou a seu representante legal intentar a ação, fazer a citação, tomar a 
palavra na audiência, sem auxílio do advogado. Não havia, também juízes e promotores, apenas 
dois litigantes dirigindo-se a centenas de jurados (cidadãos comuns, os heliastas, sorteados 
anualmente), com julgamentos completados em um ou dois dias. Os juízes dos demos tinham a 
responsabilidade da investigação preliminar, facilitando a vida dos cidadãos no campo.
Particular característica dessa época era a utilização da retórica como instrumento de 
persuasão dos litigantes gregos, em sessões de trabalho para julgar os casos apresentados junto à 
heliaia (grande demonstração de que o povo era soberano em matéria judiciária, era o grande 
tribunal popular e onde a cidade se reunia para julgar todas as causas, tanto públicas quanto 
privadas, à exceção dos crimes de sangue que ficavam sob a alçada do areópago, o mais antigo 
tribunal de Atenas: seus membros eram os ex-arcontes). 
Os litigantes dirigiam-se diretamente aos jurados através de um discurso (ajudados 
algumas vezes por amigos e parentes), sendo o julgamento um exercício de retórica e persuasão, 
para convencer a maior parte de jurados.
Não havia advogado profissional, porque nenhum litigante corria o risco de admitir que 
seu discurso era na realidade um discurso fantasma, feito por um orador profissional. Como bem 
apontado por Raquel de Souza, as pessoas em Atenas que correspondem mais de perto à nossa 
idéia de advogado, não eram os oradores nos tribunais, mas aqueles que forneciam discursos 
para os clientes (logógrafos) para serem apresentados pelas partes em seu próprio benefício.
Os logógrafos eram pessoas com considerável familiaridade com as leis e o processo, e se 
utilizavam da retórica como meio eficaz de persuasão (no sentido grego original, a palavra 
retórica significava orador e se referia à arte de dizer, de eloqüência, e tinha como objetivo 
original persuadir com a força dos argumentos e com a conveniência da expressão)
As instituições gregas
As instituições gregas e que se consolidaram na época clássica, podem ser classificadas 
em instituições políticas de governo da cidade e instituições relativas à administração da justiça, 
entre as quais os tribunais (organizados em justiça criminal – o Areópago e os Efetas – e justiça 
civil – os árbitros, os heliastas e os juízes dos tribunais marítimos).
Assim, temos entre as primeiras (governo da cidade):
  Assembléia do Povo (ekklêsia), composta por todos os cidadãos acima de 20 anos e de 
posse de seus direitos políticos; se reuniam na praça pública (ágora) ou no grande teatro de 
Dionísio (quarto século), que delibera, decide, elege e julga. Constituía-se no órgão de maior 
autoridade;
O Conselho dos Quinhentos (boulê): composto de 500 cidadãos (50 para dada tribo), 
com idade acima de 30 anos e escolhidos por sorteio a partir de candidatura prévia. Eram 
submetidos a exame moral prévio pelos conselheiros antigos. O papel do Conselho, devido à sua 
dedicação total à atividade pública, era o de auxiliar da Assembléia. Assim, examinava, preparava 
as leis e as controlava;
Os Estrategos (501 a. C.), em número de 10 eleitos pela Assembléia, eram eleitos e 
reeleitos indefinidamente. Tinham que ser cidadãos natos, casados legitimamente (não eram 
elegíveis os solteiros) e possuir uma propriedade financeira na Ática que assegurassem alguma 
renda.
Sua atividade principal era administrar a guerra, distribuir os impostos e dirigir a polícia 
de Atenas e a defesa nacional. Foram aos poucos substituindo os arcontes como verdadeiros 
chefes do poder executivo;
Os Magistrados eram sorteados dentre os candidatos eleitos (não poderiam ser 
reeleitos). Havia vários tipos de magistraturas, quase sempre agrupadas em colegiado, sendo o 
grupo mais importante o dos arcontes.
  o arconte rei (basileu) tinha funções religiosas e presidia os tribunais do Areópago. 
Seis arcontes, denominados tesmótetas (thesmothétai) eram os presidentes de tribunais e, a partir 
do quarto século a. C., passaram a revisar e coordenar anualmente as leis. 
Resumindo, instruíam os processos, ocupavam-se dos cultos e exerciam as funções 
municipais.
Características e fontes do direito arcaico
Segundo Jonh Gilissen, pode-se distinguir algumas características do direito nas 
sociedades arcaicas, a saber:
a) o direito não era legislado, vez que as populações não conheciam a escritura formal e suas 
regras de regulamentação mantinham-se e conservavam-se pela tradição, isto é, os costumes eram 
transmitidos oralmente, de geração para geração;
b) cada organização social possuía um direito único, que não se confundia com o de outras formas 
de associação, com suas próprias regras, vivendo com autonomia e tendo pouco contato com 
outros povos (a não ser pelas guerras), fato explicado talvez pelas longas distâncias e, 
principalmente, pelas características geográficas de cada lugar; 
c) corolário deste pensamento é que há uma diversidade destes direitos não escritos diante de uma 
gama de sociedades atuantes, advinda da especificidade para cada um dos costumes jurídicos 
concomitantes e de possíveis e inúmeras semelhanças ou aproximações de um para outro sistema 
primitivo. De todo modo, pode-se dizer (com o mesmo Gilissen) que o direito arcaico está 
profundamente contaminado pela prática religiosa, isto é, o direito estava totalmente 
subordinado à imposição de crenças dos antepassados, ao ritualismo simbólico e à força das 
divindades. Um sincretismo nebuloso mesclava e integrava, no religioso, as regras de cunho 
social, moral e político.
d) o que é jurídico, nos dias de hoje, não pode ser aplicado às sociedades da pré-história, onde não 
havia uma diferenciação efetiva entre o que é jurídico do que não é jurídico, embora este caráter 
tivesse sido implantado paulatinamente (variando no tempo e no espaço) na medida em que, 
constrangendo (no sentido de se sentir obrigado), garantiu o cumprimento das normas de 
comportamento.

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