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INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA

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INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA
JUSSARA –GO
2016
Sociologia: origens, contexto histórico, político e social
Os mestres fundadores: Marx, Weber e Durkheim; a sociologia no Brasil
Textos adaptados
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Origens da disciplina: contexto histórico, político e social de seu surgimento
Como várias outras disciplinas modernas das ciências sociais aplicadas (economia, política, direito positivo, por exemplo), a sociologia nasce no contexto da revolução industrial na Europa ocidental, quando a reflexão sobre as organizações humanas, inclusive num sentido comparativo entre as sociedades civilizadas – em contraposição à comparação entre estas e as sociedades ditas primitivas, que redundará na antropologia –, começa a ser sistematizada pelos primeiros filósofos sociais, ou “ideólogos”, como foram chamados alguns deles, na passagem do Iluminismo para a sociedade capitalista, movimento, aliás, coincidente com a Revolução francesa. Alguns desses pensadores iluministas – entre eles Rousseau e Condorcet, por exemplo – colocam as bases de um discurso não mais simplesmente filosófico, ou apenas histórico, mas de natureza quase sociográfica sobre as formas de organização social e as instituições criadas pelos homens para regular as relações entre eles. O contratualismo inglês ou o de Rousseau, o progresso das luzes na visão desses ideólogos da sociedade civil e a evolução dos meios materiais (tecnologia), assim como as funções do Estado e os modos pelos quais os homens entram em relações de trabalho ou se organizam politicamente constituem alguns dos diversos elementos conceituais que integrarão, já no século XIX, essa nova disciplina que seria batizada pelo pensador francês Augusto Comte de “sociologia”.
Antes dele, alguns “estatísticos” tinham começado a coletar dados sobre a vida dos homens em sociedade: nascimento, morte, trabalho, criminalidade, ocupações profissionais etc. Outros, preocupados com a amplitude do sofrimento humano – naturalmente existente ou provocado pelos próprios homens – e as desigualdades existentes (algumas aprofundados nessa mesma época), se dedicaram a preconizar grandes projetos de reforma das sociedades tradicionais, ou em transição para o sistema fabril capitalista, em função de projetos algo utópicos que também se situam nas origens das doutrinas socialistas. Entre estes se destaca o aristocrata francês Saint-Simon que, com base nesse tipo de valor ideal, passa a investigar as causas da organização social de sua época, com vistas a preconizar melhorias graduais no funcionamento da sociedade.
Desse tronco derivam as diferentes doutrinas socialistas e, no plano do método, as formas de interpretar os problemas sociais e eventuais formas de superá-los.
Essa é uma era das revoluções, como intitulou Eric Hobsbawm seu estudo de história cobrindo essa passagem da antiga sociedade aristocrática e absolutista para uma outra na qual mais classes passam a ter acesso ao sistema político, em primeiro lugar a burguesia, mais adiante o proletariado. Mas, segundo ele mesmo, a era revolucionária deu lugar à era do capital, tão bem estudada por Karl Marx e seus discípulos, que faziam sociologia ainda que não de forma deliberada ou sistemática. Um desses seguidores, Herbert Marcuse, já no século XX, considerou que o surgimento da teoria social se faz sob o signo da negatividade, isto é, o fato de tentar superar o conjunto de contradições sociais negando o conjunto de relações sociais existentes em favor de formas superiores de organização social, o que revela a contribuição do hegelianismo para a configuração doutrinal dessa disciplina.
Uma análise mais sistemática desses problemas sociais será proposta tanto por pensadores franceses, como o já citado Comte, como ingleses, entre os quais se destaca Herbert Spencer, adepto do evolucionismo e da seleção natural à la Darwin. É nessa época que a sociologia deixa de lado os aspectos morais e filosóficos para penetrar em um campo mais “científico”, com estudos quantitativos sobre as sociedades humanas. Mas a influência da “biologia social” sobre essa disciplina ainda é muito forte, pois a sociedade é pensada como um corpo orgânico, cujos “membros” (os homens) precisam cumprir certas funções para o maior benefício do todo. A intenção seria o de construir a “paz social”, algo violentamente negado por Marx e seus seguidores, que vêem no princípio da luta de classes o motor da história.
Nessa tradição, a sociologia aparece de fato como a ciência da luta de classes, mas os psicólogos sociais, sobretudo franceses (como Gustave Le Bon), buscam corrigir essa visão pela análise dos comportamentos humanos e das formas de sociabilidade. A fusão desses diferentes ramos das ciências sociais, inclusive o da história e o da economia, irá resultar numa das mais importantes obras já efetuados sobre o pensamento e o método da sociologia: a do pensador alemão Max Weber. Vindo da tradição da escola histórica alemã, mas também influenciado pelo marxismo (que ele procurará contestar), Weber deixa um importante legado que será recuperado por praticamente todos os sociológos do século XX,a começar pelos funcionalistas e pelos comparatistas. Com Weber a sociologia emerge, realmente, como disciplina completa e dotada de métodos rigorosos, para servir, não mais uma causa política – reformista ou revolucionária, como tinha sido o caso até então – mas um objetivo de análise científica da sociedade.
Um reformista social: Auguste Comte
Auguste Comte se vangloriava de ter libertado a análise da sociedade de suas origens filosóficas, dando-lhe status de ciência, ou de “filosofia positiva”, como ele preferia dizer. Ele vê essa passagem da religião para a metafísica e daí para a ciência positiva como um movimento ascensional, em direção de mais ordem e mais progresso para o homem em sociedade. Ele também é um reformista social, mas pretende que seu trabalho corresponde à verdadeira essência da sociedade moderna, enfim liberta das névoas do misticismo feudal e da metafísica dos antigos.
Comte era um verdadeiro continuador de Saint-Simon, pois que também via na tecnocracia e na revolução industrial os sinais precursores de uma nova sociedade. Ele foi, aliás, o inventor da palavra “sociologie”, que ele descrevia como o estudo científico da sociedade. Em sua época, estavam na moda os estudos administrativos, as “enquêtes” sociais, sobre as doenças humanas, as causas da mortalidade, a vida dos trabalhadores, as raizes da criminalidade e muitos outros problemas “sociais”, que eram medidos, comparados, colocados em progressão. Segundo Raymond Aron (Etapas do Pensamento Sociológico), no entanto, estatísticos e “investigadores sociais” como Quetelet e Le Play fizeram mais pelos progressos práticos da sociologia do que as elocubrações algo “metafísicas” de Comte. Ele próprio fazia pouco uso dessas novos métodos de investigação social, preferindo fundar a sua doutrina com roupagens prescritivas, mais até do que simplesmente interpretativas. Em outros termos, Comte pretendia estar no centro não apenas de uma nova maneira de interpretar a sociedade, como igualmente de transformá-la em seus próprios fundamentos.
A despeito de seus esforços – que no final de seus dias mais pareciam aos do fundador de uma nova religião do que de uma nova ciência – Comte não fez muitos discípulos, a não ser na própria França e em alguns países latinos, entre os quais o Brasil. O movimento republicano brasileiro, em suas várias vertentes, mas sobretudo no castilhismo gaúcho, herdou várias lições do pai fundador da sociologia, a começar pelo binômio que foi entronizado na nova bandeira, “ordem e progresso”.
Um reformista radical com ares de revolucionário: Karl Marx
Talvez Marx não tivesse plena consciência de “fazer sociologia”, mas toda sua obra, ainda na interpretação de vários mestres, como Raymond Aron, é basicamente uma sociologia convertida em princípio dinâmico da história. Apoiando-se na tradição filosófica alemã – sobretudona dialética de Hegel – e nos historiadores franceses, Marx concebia a história em termos de luta de classes e de revolução. Para Marx, as lutas de classes eram o verdadeiro “motor da história”, como ele escreveu nos primeiros textos filosóficos e no Manifesto do Partido Comunista, em colaboração com seu amigo de toda a vida, Friedrich Engels.
Marx, entretanto, subordina a política, isto é, a luta pela tomada do poder, à economia, já que ele atribuia as lutas de classes à situação de dominação provocada pelas forças econômicas predominantes na sociedade. A política seria uma espécie de superestrutura jurídica, ao passo que a infra-estrutura material era formada pelas forças materiais, das quais as mais importantes eram as forças produtivas, isto é, econômicas. Segundo o progresso destas, ocorria uma mudança nas relações de produção, ou seja, entre os principais agentes econômicos dominantes em casa época (senhor e escravo, senhor feudal e servo, burgueses e proletários). Em certos trechos de sua obra, o Estado moderno aparece como um mero apêndice do capital, em outros textos pode existir uma certa independência do político (como na análise do bonapartismo).
Toda a obra de Marx está fortemente impregnada de filosofia da história e de sociologia, mesmo se não de forma explícita. Em todo caso, todo o aparelho conceitual da sociologia contemporânea já está presente na obra de Marx e nela tem raízes indisfarçáveis.
Noções como aparelho de Estado, luta de classes, dominação política, exploração econômica, infra- e superestrutura e muitas outras, forjadas ou transformadas por Marx, fazem parte do instrumental analítico da sociologia contemporânea e foram consagradas até no vocabulário jornalístico. Mais até do que no trabalho propriamente intelectual, noções como as de “revolução” e de “luta de classes” penetraram nos movimentos sociais, sindicais e políticos e marcaram profundamente o caráter de nossa época, pelo menos até uma data relativamente recente. Mesmo o trabalho de sociólogos não comprometidos com a chamada “ruptura” com a sociedade de classes, como podem ter sido as atividades didáticas e de escritores como Max Weber e Raymond Aron, foi profundamente marcado pelas propostas políticas e pelos sistemas interpretativos oferecidos por Marx ao longo de sua obra. Esses autores, entre muitos outros, construíram suas obras respectivas num diálogo à distância, e até num certo confronto, talvez involuntário, com a sombra gigantesca de Marx.
Esse reconhecimento público em torno da grandiosidade da obra de Marx não é sem justificativa, por mais que se possa fazer críticas – que foram feitas até em sua época, por economistas como John Stuart Mill e, pouco depois, por Vilfredo Pareto – às colocações marxistas a respeito do poder político, da violência como “parteira da história”, da necessária superação do poder burguês pela ditadura do proletariado e de outras propostas desse mesmo teor. Foi Marx quem pretendeu “revolucionar” – stricto et lato sensi – o mundo burguês de sua época, fundando um outro tipo de sociedade que deveria terminar por abolir o Estado e toda dominação de classe. Idéia certamente generosa, e idealista, essa, que, no entanto se chocou com toda a realidade da dominação pura e simples. Antes de ser de classe, o poder é simplesmente poder, dos mais capazes, dos mais fortes, ou dos mais preparados a exercê-lo, sendo que o poder de classe teve muito poucas manifestações concretas na história. Esse idealismo marxista, de aspirar a uma redenção da dominação política através de uma classe pretendidamente universal, que deveria ser o proletiariado, revela o quanto de hegelianismo Marx ainda conservou na elaboração de sua interpretação sociológica da história, como revelado na excelente análise da tradição inaugurada por ele feita por Herbert Marcuse (em Razão e Revolução).
Nesse sentido, a revolução assume na obra de Marx um caráter quase mítico, talvez messiânico e prometéico: a redenção da humanidade se faria pela ruptura revolucionária, protagonizada pela classe oprimida. Esse culto estético das revoluções seria recuperado por discípulos que viviam em situações de autoritarismo radical, ou de autocracia direta, como ocorreu no caso da Rússia. Mas já não foi seguido pelos líderes operários reformistas da Europa ocidental, que não viam muitas vantagens na luta revolucionária, preferindo o reformismo gradual.
A bem da verdade, quando se examinam alguns textos de Marx e sua própria ação no movimento operário de sua época, pode-se constatar que ele foi mais reformista do que revolucionário, aconselhando os operários a lutarem por conquistas graduais que melhorassem sua vida cotidiana, até que as “condições objetivas” – a contradição entre as “forças produtivas” capitalistas e as “relações de produção” do sistema fabril, quase coletivo – pudessem oferecer uma chance real de passagem de um sistema social a outro. Já no próprio Manifesto, ele recomenda uma série de dez reformas parciais tocando o trabalho, a educação, a reforma agrária e os tributos, ao passo que na “crítica ao Programa de Gotha” (do partido social-democrata alemão) ele recomenda a acumulação de forças antes do enfrentamento final com a burguesia. Mesmo no auge das “lutas de classe” da Comuna de Paris, em 1871, Marx não entretem muitas ilusões quanto à possibilidade de um verdadeiro poder operário na ausência daquelas condições objetivas que sua análise econômica pretendeu “demonstrar”.
Um outro aspecto foi mais importante tanto na obra de Marx como no destino ulterior do movimento socialista que ele ajudou a fundar: a recusa do mercado como elemento mediador das relações sociais e das próprias realidades econômicas. Marx tinha uma concepção extremamente negativa a respeito do mercado, terreno no qual ele via a predominância dos mais fortes e a espoliação dos mais fracos. Esse tipo de reação foi provavelmente despertada pela sua análise – que está presente em seus primeiros escritos e na sua obra máxima, O Capital – do fenômeno do fechamento das terras públicas aos camponeses pobres, o que fez surgir a grande propriedade de um lado e a mão-de-obra disponível para o sistema manufatureiro de outro. Essa visão se prolongou na análise do sistema fabril, para a qual contribuiu seu amigo Engels, ele mesmo dono ou administrador de fábricas de tecidos na Inglaterra: o mercado é o terreno privilegiado da exploração do proletariado, da despossessão mais completa daqueles que só tinham sua força de trabalho para vender e por isso se tornam dependentes, escravos modernos, do grande capital.
Esse tipo de preconceito contra o mercado iria influenciar poderosamente o pensamento de discípulos marxistas, e até a prática daqueles que primeiro chegaram ao poder: os bolcheviques russos. Sua recusa radical do mercado conduziu, provavelmente, o socialismo para caminhos inviáveis e insustentáveis, como pode ser provado, a posteriori, pela experiência chinesa de modernização, que pretende combinar a “ditadura do proletariado” (na verdade do partido único) com um regime de mercado que assegure um mínimo de eficácia ao sistema produtivo.
O que restou do pensamento marxista, ademais dessa enorme contribuição à sociologia contemporânea, foi essa visão humanista da “libertação do homem” das agruras da exploração capitalista e da dominação política de classe (feudal, em alguns casos, burguesa em outros). Que ele tenha se equivocado em várias predições – como a da crescente polarização social na sociedade capitalista e o aprofundamento da miséria operária – não eliminou o atrativo de seu pensamento para uma classe específica de “trabalhadores”: os intelectuais, ou seus modernos representantes, os acadêmicos e universitários. Raymond Aron, por exemplo, passou grande parte de sua vida nesse “diálogo” com os intelectuais marxistas – a começar por Jean-Paul Sartre – e nunca deixou de criticar suas ilusões românticas, mas com muito pouca eficácia, diga-se de passagem, enquanto o socialismo persistiu enquanto sistema social alternativo.
Um pensador sistemático:Weber
Max Weber começou sua carreira pelo estudo e a prática do direito, no final do século XIX, mas logo enveredou pela filosofia da história e pelo estudo comparado das religiões. Sua tese de doutoramento foi sobre a história das companhias de comércio da Idade Média, o que o fez debruçar-se nas inúmeras conexões entre história econômica e direito. Logo em seguida, sua habilitação se deu numa tese sobre as instituições agrárias da antiguidade, o que despertou a admiração do grande historiador alemão dessa época, Theodor Mommsen (introdução de Hans Gerth e C. Wright Mills aos Ensaios de Sociologia, de Max Weber).
Weber teve uma carreira essencialmente acadêmica, entrecortada por problemas psíquicos e muitas viagens fora da Alemanha, mas a partir do início do século XX ele dá início a uma produção sistemática de estudo comparado das religiões e sobre a estrutura da sociedade capitalista, que ele examinou tanto pelo lado da racionalidade econômica como pela vertente da administração burocrática. Ainda que admirador do sistema político alemão e da sua eficiência econômica, ele também colocou seu país em contraste com a América democrática, concluindo pelo bom desempenho das associações livres entre os homens e o vigor da inovação técnica numa sociedade aberta. Ele colocou essas situações em contraste com os problemas da sociedade russa, convulsionada por revoluções e incapaz de se reformar.
Sua viagem aos Estados Unidos permitiu-lhe recolher material suplementar para seu estudo já iniciado sobre a influência do fator religioso na evolução da sociedade, o que resultou em sua obra mais conhecida A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Muita polêmica se deu em torno das principais teses dessa obra, que no entanto não era apresentada por Weber como indicativa de uma correlação causal entre o protestantismo e o capitalismo, mas tão somente como reveladora de certas afinidades eletivas entre certos comportamentos religiosos, presentes em algumas seitas protestantes, e formas de organização social que tendiam a favorecer o referido espírito capitalista (frugalidade, predestinação, não rejeição do sucesso material, não aversão ao lucro, como na tradição católica, mas também a separação dos assuntos religiosos da condução do Estado).
Participando ativamente dos trabalhos de uma associação de ciências sociais, a partir de 1908, Weber estimulou os estudos sistemáticos sobre grupos sociais, desde ligas esportivas, a seitas religiosas e partidos políticos. Datam desta época seus estudos que depois (creio que postumamente) seriam reunidos no volume Economia e Sociedade. Trata-se, provavelmente de sua obra mais importante, do ponto de vista da sociologia, muito embora ele tenha elaborado, igualmente, trabalhos sobre a metodologia das ciências sociais que ainda hoje possuem validade para uma reflexão sobre o estatuto da sociologia no conjunto das disciplinas científicas. Foi nas diversas partes de Economia e Sociedade que Weber aprofundou sua análise sistemática do poder e da burocracia, assim como sobre esses instrumentos analíticos que foram por ele chamados de “tipos-ideais”, isto é, estruturas arquetípicas de um determinado fenômeno social que recolhe elementos da realidade em suas definições mais generalizantes e puramente abstratas.
Ainda que expressos de maneira abstrata, os tipos-ideais poderiam referir-se a elementos históricos concretos e particulares, como por exemplo a racionalidade ocidental (em oposição a valores das civilizações do Oriente), ou a cidade-Estado moderna, ou ainda o próprio capitalismo, tal como ele se desenvolveu na Europa ocidental e foi transplantado para a América. Mais relevante ainda, e até hoje usados na ciência política, sua designação dos tipos-ideais de dominação política, como sendo de natureza carismática, tradicional ou racional. São referências importantes na literatura sociológica contemporânea, ainda que poucos autores se dediquem a inovar a partir desses conceitos, preferindo usá-los como três tipos opostos ou excludentes (em alguns casos sucessivos) de dominação política, quando eles poderiam talvez ser combinados para explicar toda a complexidade das sociedades concretas.
Weber possui muitos outros escritos, de natureza política, de reflexão sobre a prática da política, assim como sobre os regimes políticos contemporâneos na Alemanha e na Rússia, mas seu legado principal deve ser considerado essencialmente como um pensador da teoria sociológica em suas formulações analíticas – por ele designada como Vertehen, ou compreensão –, inclusive em bases comparativas. Nisso, como observou Raymond Aron (Etapas do Pensamento Sociológico), ele estava muito longe de Auguste Comte, que tentava ver na sociologia um conjunto de leis que permitisse organizar e dirigir a sociedade. Ele achava que as ciências sociais deveriam sempre buscar aproximar-se do ideal de compreender o mundo, sem que se tivesse entretanto a ilusão de compreendê-lo em sua totalidade, inclusive
por uma questão de cunho prático, o problema dos valores do pesquisador, que interferem na sua maneira de ver o seu objeto de análise.
Weber apreciava o método histórico de Marx, ainda que não partilhasse da maior parte, e provavelmente de nenhuma, de suas conclusões sobre o destino final do capitalismo.
Existe entre ambos, como sublinharam vários autores, uma espécie de antinomia, entre de um lado o materialismo histórico de Marx, de base essencialmente econômica, e a abordagem multicausal, mas também histórica, de Weber, privilegiando os aspectos políticos de uma formação social, ou basicamente o fenômeno da dominação (que não se resume à sua dimensão de classe). Marx tendia a subordinar o político ao econômico, ao passo que Weber enfatizava a especificidade do primeiro e sua independência em relação à esfera material ou do processo produtivo. A concepção do Estado em ambos talvez reflita essa diferença de abordagem, já que o revolucionário alemão do século XIX tendia a ver no aparato estatal um mero reflexo da dominação econômica de uma determinada classe num momento dado da história, ao passo que o sociólogo alemão reformista do século XX – que enfatizava o monopólio do uso da força legítima – reconhecia a autonomia do político em face de determinadas injunções econômicas.
Da mesma forma, a análise do capitalismo difere muito em cada um dos autores. Marx via irracionalidade e dominação brutal de classe no capitalismo, enquanto Weber enfatizava justamente os aspectos racionais do capitalismo, com aspectos similares podendo ser encontrados no Estado moderno, isto é, a racionalidade das estruturas burocráticas de qualquer governo moderno e dos sistemas de administração das grandes empresas. Onde Marx vê luta de classes para a superação do capitalismo, Weber vê a crescente afirmação da burocracia racional, ao ponto de constituir uma verdadeira “gaiola de ferro” burocrática, que aprisiona atores privados e agentes públicos numa teia de relações sociais que não tem nada daquele caráter de oposição política irredutível idealizada e também desejada por Marx. Em lugar da ditadura do proletariado, Weber via uma perigosa ditadura do funcionário público se aproximando. Ele não deixava, contudo, de reconhecer a racionalidade e a eficiência desse tipo de dominação.
Um pensador brasileiro, José Guilherme Merquior, inovou nesse particular, propondo em seu livro Rousseau and Weber: two studies in the theory of legitimacy (não traduzido ou publicado no Brasil, ao que saiba) uma hipótese da dominação carismático-racional, que seria representada pelo tipo de dominação exercida pelo Partido Comunista da ex-União Soviética.
Não conheço, entretanto, outras formulações brasileiras retiradas de Weber, em relação, por exemplo, ao exercício populista de poder no Brasil, que combina elementos tradicionais e carismáticos de dominação.
Um funcionalista prático: Durkheim
Émile Durkheim é o primeiro grande sociólogo sistemático do século XX, tendo formulado as bases da análise social com um rigor próximodo “cientismo”, então em vigor na academia. Seu pequeno e conhecido livro, As Regras do Método Sociológico, permaneceu, e talvez ainda permaneça, como uma das leituras obrigatórias de todos os cursos de ciências sociais no Brasil e em muitos outros países. Mas ele começou sua carreira acadêmica com uma tese de doutoramento que está na base da reflexão sobre a vida em sociedade: A Divisão Social do Trabalho.
Ele rejeitava as explicações de tipo individual ou psicológico para expor um fenômeno básico da vida em sociedade, que é a da crescente integração entre os atores sociais, a despeito mesmo do declínio dos valores religiosos e dos laços de solidariedade (típicos das comunidades menores). A divisão social do trabalho, no entanto, não é apenas encontrada nas sociedades complexas: ela já existe nas sociedades primitivas, mas assume aqui a forma de divisão sexual do trabalho. Mas é na sociedade moderna, com seu regime fabril, que a divisão se aperfeiçoa em alto grau, com base na especialização profissional. Durkheim não deixa de traçar um paralelo entre essa evolução e a diferenciação nos organismos, para formas cada vez mais complexas. Nas sociedades, ele vê a passagem da solidariedade mecânica, típica dos estágios mais elementares da vida em sociedade, para a solidariedade orgânica, mais estruturada e denotando formas superiores de coesão social.
Esse tipo de análise é reencontrada no estudo de Durkheim sobre o suicídio, que explora os casos patológicos de anomia, mas ele ainda aqui tende a enfatizar mais a ação dos fatores sociais do que psisológicos na determinação dos casos de suicídio. Ele chega a determinar três tipos de suicídio: egoista, altruista e anômico, sendo que as taxas relativas dependem da idade e do sexo e variam conforme as religiões (ele encontrou uma maior incidência nos indivíduos protestantes do que nos católicos).
Sua outra grande obra, As Formas Elementares da Vida Religiosa, não necessariamente se ocupa da antropologia das religiões primitivas, mas sim – de acordo com o princípio já estabelecido nas Regras do Método Sociológico, de que os fatos sociais devem ser considerados como “coisas” – das formas mais elementares do culto religioso, que ele exemplifica pelo totemismo (ele seleciona como estudo de caso o totemismo australiano). As principais categorias utilizadas por ele nessa análise são as de sagrado e profano, que ele recupera de Fustel de Coulanges. Como na análise da divisão social do trabalho, o que está em causa é mais o coletivo social, do que o indivíduo no plano psicológico (ver Anthony Giddens, Capitalismo e Moderna Teoria Social, p. 165).
A obra de Durkheim continuou a marcar e a influenciar as teorias sociológicas modernas, talvez mais pelo lado do método do que pela vertente de suas interpretações, que podem ter sido influenciadas pela época, com sua forte ênfase na organicidade, na anomia e na patologia e nos princípios morais e valores religiosos.
A sociologia no Brasil: os mestres da escola paulista
A formação da sociologia no Brasil também esteve fortemente impregnada de cientismo e de organicismo, como enfatizado, por exemplo, na obra de Silvio Romero (um racista confesso, mas conforme aos padrões da época) e de Euclides da Cunha, este um dos primeiros autores a propor uma interpretação social, psicológica e moral ao grande problema que ele examinou como “espectador participante”: o conflito de Canudos, que ele explica pelo primitivismo religioso de populações desprovidas de qualquer sentimento moral mais elevado, mas no qual também vê as raízes sociais de um drama maior, que poderia ser traduzido em termos de “anomia durkheimniana” (mas Euclides não faz esse tipo de análise).
O grande denunciador desse tipo de interpretação pretendidamente científica da realidade brasileira, mas que se encontrava eivada de racismo “científico”, será Manoel Bonfim, que nas primeiras três décadas do século XX realiza uma obra de interpretação histórica e sociológica sobre a formação da nacionalidade brasileira (e latino-americana) que infelizmente passou despercebida durante e no imediato seguimento de sua atividade pública (ainda assim, um contemporâneo não deixava de registrar “a grande obra de sociologia brasileira de Manoel Bonfim…”; ver Bonfim, O Brasil Nação, p. 30). Nessa época, em especial nos anos 1920, estavam em voga análises relativamente pessimistas da formação e do “caráter” do brasileiro, como exemplificado na obra de Paulo Prado, por exemplo.
Os grandes eixos de interpretação do Brasil moderno seriam dados pelas obras de um antropólogo, Gilberto Freyre, um bacharel em direito convertido em historiador autodidata, Caio Prado Júnior, e um historiador, Sérgio Buarque de Holanda. Embora de qualidade e escopo muito diferentes, Casa Grande e Senzala, Evolução Política do Brasil (ambos de 1933) e Raízes do Brasil (de 1936) constituem marcos fundadores de uma ciência social fundada na pesquisa de fontes e na interpretação dos grandes movimentos sociais, humanos, econômicos e políticos que estiveram na origem da formação da nacionalidade, e não mais como simples extrapolações da realidade brasileira a partir de modelos analíticos extraídos de uma outra realidade.
Foi precisamente nos anos 1930 que a disciplina “sociologia” é introduzida nos currículos dos cursos preparatórios para o ingresso no ciclo superior de estudos e é também nessa época (1933) que surge a Escola Paulista de Sociologia, seguida um ano depois pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (Oracy Nogueira, “A Sociologia no Brasil”, p. 193). Nesta última, o grande introdutor de Durkheim para os alunos brasileiros foi Fernando de Azevedo, muito embora vários mestres franceses tenham se sucedido nas matérias de ciências sociais (antropologia e sociologia), como Paulo Arbousse Bastide, Roger Bastide, Claude Lévy-Strauss, e também Fernand Braudel (este na história).
No Rio de Janeiro atuou Anísio Teixeira e o francês Jacques Lambert. As primeiras turmas de formandos estiveram na origem de uma concepção propriamente brasileira de ciência social, sendo de se distinguir paulistas como Florestan Fernandes, Antonio Cândido de Mello e Souza e Dante Moreira Leite (entre muitos outros), ao passo que no Rio de Janeiro se formavam Alberto Guerreiro Ramos e Luiz de Aguiar Costa Pinto (Nogueira, op. cit., p. 194). A partir dos anos 30, e, sobretudo nas duas décadas seguintes se forma uma verdadeira comunidade de sociólogos no Brasil, com importantes estudos conduzidos pelos discípulos dos primeiros mestres que marcariam o pensamento social brasileiro (sobretudo no estudo das raças e sua “integração à sociedade de classes”, para seguir o título de uma das obras do grande mestre Florestan Fernandes). Dentre esses discípulos podem ser citados Maria Isaura Pereira de Queirós, Duglas Teixeira Monteiro, Octavio Ianni (recentemente falecido), Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Juarez Rubens Brandão Lopes, Marialice Mencarini Forachi (falecida há muitos anos), Gabriel Cohn e muitos outros.
Bibliografia
ARON, Raymond: Les Étapes de la Pensée Sociologique (Paris: Gallimard, 1980); consultada na edição americana: Main Currents in Sociological Thought (New York: Penguin Books, 1967, 2 vol).
AVINERI, Shlomo: The Social and Political thought of Karl Marx (Cambridge, Cambridge
University Press, 1980).
BEETHAM, David: Max Weber and the Theory of Modern Politics (London: George Allen and Unwin, 1974).
BOMFIM, Manoel: O Brasil Nação: realidade da soberania brasileira (2ª ed.: Rio de Janeiro: Topbooks, 1996; 1ª edição de 1931).
BOTTOMORE, Tom: Political Sociology (London: Hutchinson, 1979).
ELDRIDGE, J.E.T.(ed.): Max Weber: the Interpretation of Social Reality (London: Nelson, 1972).
GIDDENS, Anthony: Capitalism and Modern Social Theory: an analysis of the writings of Marx, Durkheim and Max Weber (Cambridge: Cambridge University Press, 1971; tradução portuguesa: Capitalismo e Moderna Teoria Social, Lisboa: Presença, 1984).
MARCUSE, Herbert:Razão e Revolução: Hegel e o advento da teoria social (Rio de Janeiro: Paz e terra, 1978).
MARX, Karl: Oeuvres, Economie I et II (Paris: Gallimard 1968 et 1969).
MERQUIOR, J.G.: Rousseau and Weber: two studies in the theory of legitimacy (London: Routledge and Kegan Paul, 1980).
MILLS, C. Wright: A Imaginação Sociológica (Rio de Janeiro: Zahar, 1980).
NOGUEIRA, Oracy: “A Sociologia no Brasil” in Mario Guimarães Ferri e Shozo Motoyama (orgs.), História das Ciências no Brasil (São Paulo: Edusp, 1981).
THERBORN, Goran: Science, Class and Society: on the formation of sociology and historical materialism (London: NLB, 1976).
WEBER, Max: Ensaios de Sociologia (Rio de Janeiro: Zahar, 1979, com introdução de Hans Gerth e C. Wright Mills).
TEXTO II.
A Sociologia surge no momento de desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. É resultado do trabalho de um conjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações sociais, econômicas, políticas e culturais.
As conseqüências da rápida industrialização e urbanização levaram ao aumento da prostituição, do alcoolismo, da criminalidade, epidemia, dos bolsões de miséria. A sociedade passou a ser um problema, um objeto que precisava ser investigado e modificado.
I - Emile Durkheim (1858-1917)
Uma das três matrizes do pensamento científico da Sociologia, a obra de Emile Durkheim exerceu grande influência nas Ciências Sociais. Apesar de ser posterior a Marx, é considerado o pai da Sociologia, pois é ele que vai estruturar, de fato, a ciência sociológica na França, tendo dedicado toda sua carreira ao desenvolvimento dessa ciência, metódica e rigorosamente objetiva.
Nasceu na região francesa da Alsácia, em 1858. Descendente de judeus franceses e rabinos, frequentou grandes escolas e formou-se em Filosofia. Tornouse professor e mais tarde foi estudar Ciências Sociais na Alemanha 1885, onde esses estudos estavam mais avançados. Ministrou o primeiro curso de Sociologia criado em uma universidade francesa. Durante estes estudos, teve contatos com as obras de Augusto Comte e Herbert Spencer que o influenciaram significativamente na tentativa de buscar a cientificidade no estudo das humanidades.
As condições históricas em que viveu: Emile Durkheim viveu a segunda metade do século XIX ao final da Primeira Grande Guerra (1914-1918). Na França, o momento era marcado pela instabilidade política e social. É o momento de reorganização política do estado, rompimento das tradições: separação Igreja/Estado, conflitos sociais grandes massa da população em péssimas condições de vida.
Por outro lado, havia um certo otimismo em virtude do progresso tecnológico e científico. É o momento de expansão do industrialismo, aumento da produção e melhorias em outras áreas,como a educação. Havia forte crença no racionalismo.
Surgem mudanças na forma de pensar e conhecer a natureza e a sociedade, marcados pelo rompimento com o pensamento dominante anterior da Igreja: fé cristã. Surge grande interesse pelo homem e sua história.
Pensamento e teoria em E. Durkheim: Para esse pensador “Não existe moralidade fora do contexto social e a moralidade é a grande força coesiva da sociedade. A função básica da sociedade é justamente transmitir valores morais.”
Durkheim se propôs a construir a Sociologia como uma ciência autônoma, que deveria analisar a sociedade cientificamente, com racionalidade. Ao mesmo tempo, procurou conhecer cientificamente a sociedade, para que a partir desse conhecimento da ciência pudesse compreender a sociedade e fazer as intervenções necessárias na realidade social, a fim de ordená-la. Tinha uma visão otimista da sociedade industrial.
Seguindo aos princípios do Positivismo de A. Comte, Durkheim considerava que a ciência poderia, por meio dos conhecimentos e pesquisas, encontrar soluções no sentido de por ordem na sociedade.
Durkheim parte dos valores morais como elementos capazes de atenuar os conflitos sociais, adotando uma posição conservadora em relação à crise social de seu tempo. Acreditava que os conflitos seriam resolvidos pela recuperação dos valores morais, por meio da formação de instituições públicas, tais como a educação e o direito, capazes de se impor aos membros da sociedade e estabelecer a ordem.
Discordava das ideias socialistas e da ênfase dada aos fatos econômicos nas crises da época. Em suas análises não utilizava conceito de classe social e não considerava importante os fatores econômicos na compreensão dos fatos humanos.
Sua explicação buscou os elementos morais, os valores, as regras para conservação da ordem estabelecida – os chamados aspectos superestruturais.
Estava preocupado com a integração social, ressaltando que grande parte de pessoas passava a maior parte da vida no meio industrial e comercial e esse meio estava desprovido de valores morais.
Segundo esse pensador, para restabelecer a saúde da sociedade era necessário criar novos hábitos e comportamentos, baseados em valores morais que garantissem a integração social. A função da Sociologia seria detectar e buscar soluções aos problemas sociais e restaurar a normalidade social, para manutenção e preservação da ordem.
Metodologia: positivismo e objetividade Durkheim segue a postura metodológica de A. Comte, salientando a importância em definir a Sociologia como uma ciência autônoma, com objeto de estudo definido, seguindo o mesmo método das ciências naturais.
O objetivo principal do método sociológico é estabelecer como devem ser estudados os fatos sociais.
Em As regras do Método Sociológico define o objeto de estudo, estabelece as regras do método para a investigação sociológica que garantissem à Sociologia o caráter rigoroso e objetivo. Os fatos sociais seriam trados do mesmo modo objetivo dado aos fenômenos físicos, segundo a abordagem metodológica racionalista e positivista:
_ A sociedade é regulada por leis naturais.
_ Os métodos de conhecer a sociedade são os mesmos das ciências da natureza.
_ O observador deve limitar-se à análise e observação dos fenômenos sociais, de forma neutra, objetiva, livre de julgamentos de valor e pré-noções.
Os fatos sociais devem ser tratados como coisas, por meio do método de observação e experimentação.
Temas e conceitos fundamentais da Sociologia de Durkheim: 
 O fato social. É o objeto da Sociologia. Os fatos sociais “são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de poder coercitivo”, e que exercem influências sobre o indivíduo.
Os fatos sociais possuem três características:
_ A exterioridade: os fatos sociais existem antes do nascimento do indivíduo e atuam sobre ele independente de sua vontade.
_ A coercitividade: os fatos sociais exercem força social e força sobe os indivíduos, levando-os a agirem de acordo com as regras estabelecidas pela sociedade. Ex: a língua.
_ A generalidade: os fatos sociais são tomados coletivamente, pelo conjunto da sociedade. As crenças, os costumes, os valores.
É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior ou, ainda, que é geral em uma determinada sociedade, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais.
Os fatos sociais existem fora dos indivíduos, mas são interiorizados e passam a existir em suas consciências. São externos porque foram transmitidos socialmente aos indivíduos.
A educação é um fato social, imposto aos indivíduos e pressiona-os a girem de acordo com leis, normas, valores, costumes e tradições de uma sociedade. O comportamento dos indivíduos é socialmente determinado e a educação é uma força essencial na conformação do indivíduo aos padrões morais e sociais de uma sociedade.São fatos sociais: o direito (as regras jurídicas e morais), os dogmas religiosos, os sistemas financeiros, a educação, entre outros.
A sociedade e os grupos sociais exercem coerção sobre os indivíduos, fazendo-os assumirem papéis relacionados com um fenômeno em particular. Ao assumir o papel de torcedor deum time ou ao fazer parte de determinada religião, por exemplo, a pessoa toma atitudes especiais, que lhe são exteriores.
2. A divisão do trabalho social: solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.
Para este pensador, a sociedade só pode existir segundo a solidariedade ou sentimento de interdependência que o ser humano possui em relação ao outro. Não é possível existir sociedade sem tal princípio, de tal maneira que a vida coletiva pressupõe, para Durkheim, a formação de um contexto que possui vida própria, para além das vontades individuais. A sociedade se sobrepõe ao indivíduo. Assim, todo grupo existe segundo o desenvolvimento de regras comuns a partir das quais a vida social é possível.
A divisão do trabalho no capitalismo se intensifica em função do aumento do volume da população. Esse aumento leva a uma maior aproximação dos membros da sociedade, no espaço físico, e maior comunicação e interdependência, no espaço social. Durkheim considerava que a crescente divisão do trabalho, levava a um aumento da solidariedade entre os homens, pois a especialização das atividades dos indivíduos aumentava a dependência entre eles, unindo-os e reforçando a coesão e solidariedade social.
Em sua obra A divisão do trabalho social, Durkheim relaciona a divisão do trabalho social à ordem moral. A divisão do trabalho resultaria na relação de cooperação e de solidariedade entre os homens. No entanto, como as transformações sócio-econômicas eram aceleradas nas sociedades européias capitalistas, inexistia um novo e eficiente conjunto de idéias morais que pudesse guiar o comportamento dos indivíduos, isso levava ao mau funcionamento da sociedade.
Durkheim identifica a existência na história das sociedades de dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica.
A solidariedade mecânica surge nas sociedades simples e tradicionais, onde os indivíduos se identificam por meio da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciaram e reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. Os indivíduos compartilham a tal ponto padrões de conduta que não há grande diferenciação entre eles, pois numa tribo ou cidade do interior, o padrão moral se efetiva sobre os indivíduos a tal ponto que o que é válido para um, também, é aos demais. Existe uma forte imposição moral nessas sociedades tradicionais.
A solidariedade orgânica surge nas sociedades mais complexas e modernas, onde existe uma maior divisão do trabalho e uma maior individualidade, pois as pessoas criam autonomia em relação à consciência coletiva. Por meio da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos costumes, tradições. Assim, o efeito mais importante da divisão do trabalho não é o aumento da produtividade, mas a solidariedade que gera entre os homens.
Nas grandes cidades industriais, observadas por Durkheim no final do século XIX e início do XX, as relações sociais não estavam pautadas pela intensa imposição moral presente nas sociedades simples e tradicionais. A presença do individualismo e da diversidade causavam a perda de coesão e do consenso da vida em sociedade.
4. O normal e o patológico – o conceito de anomia
Durkheim caracterizou o fenômeno social de normal ou patológico. Para ele, o fenômeno pode ser considerado normal se for encontrado na sociedade de forma generalizada, não coloque em risco a integração social e esteja dentro de um determinado nível.
O crime é um fenômeno normal, pois é encontrado em todas as sociedades de todos os tipos, é geral, e, ao mesmo tempo em que, ao se impor a punição, serve para lembrar e fortalecer os valores de toda sociedade. 
Fato social normal é geral, recorrente e que favorece a integração social.
Fato social patológico é excepcional, transitório e põe em risco a integração social.
Para ele, o suicídio também é normal, pois existe em todas as sociedades.
Torna-se anormal se houver o aumento das taxas.
II - Max Weber (1864-1920)
Max Weber nasceu na Alemanha, em 1864, em uma família da alta classe média. Filho de um renomado advogado, foi criado em uma atmosfera intelectualmente estimulante, voltado para os ensinamentos humanistas. Weber recebeu excelente educação em línguas, história e literatura clássica.
Em 1882, começou os estudos superiores em Berlim, onde se dedicou ao estudo de economia, história, filosofia e direito. Tornou-se professor na Universidade de Berlim e foi livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Sua obra é extensa e influente. Sua formação intelectual acompanha o período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa.
Sofreu perturbações nervosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade mais tarde. Com tendências depressivas e saúde frágil, morreu em 1920. Viveu na Alemanha no final do sec. XIX e começo do XX. Sua obra coincide com momento de intensa industrialização na Alemanha.
Seu pensamento: O pensamento de Max Weber é uma inesgotável fonte de reflexão para os problemas do mundo contemporâneo. De um lado, Weber questionava a confiança no modelo positivista em se formular leis sociais. Para ele, não é possível produzir leis sobre os fenômenos sociais, pois a relação existente entre os homens e entre estes e as instituições sociais é desordenado, imprevisível e caótico, não existindo continuidade na história humana. O conhecimento da história é importante, no entanto isso não tornava possível a elaboração de leis e generalizações dos fenômenos sociais. Não existem leis sociais que possam ser antecipadas e controladas e que passe a prever e controlar a realidade social (do positivismo).
Por outro lado, Weber considerava a economia e as formas de produção importantes, mas não acreditava que os fatores econômicos explicavam as condições históricas em sua totalidade, ou seja, não acreditava que a economia tivesse papel preponderante sobre as demais esferas da realidade social (do marxismo).
Weber sempre se preocupou em conferir o caráter científico à Sociologia. Considerava que o cientista deveria assumir uma posição neutra, não podendo ter preferências políticas e ideológicas a partir de sua profissão. Fazia a distinção entre o cientista e o político - o homem de ação. Na verdade, ele isolou a Sociologia dos movimentos revolucionários: A ciência deve oferecer a compreensão da conduta, das motivações e conseqüências dos atos do homem. A Sociologia deveria ser um conjunto de técnicas neutras para a compreensão da realidade social. 
Seu objeto: Weber considerava o individuo e a sua ação como ponto chave da investigação. Era preciso compreender as intenções e as motivações dos indivíduos que vivenciam as situações sociais.
Seu método: Naquele momento surge nas ciências sociais uma tendência que distingue explicação e compreensão da realidade. O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas sim buscam os processos vivos da experiência humana, extraindo deles seu sentido. Os fenômenos sociais só tem significado se conhecermos a motivação e o sentido mais profundo que existem por trás desses fenômenos.
Weber analisa o papel das pessoas e as suas ações individuais. A sociedade deve ser entendida a partir das interações sociais. A ação social dá sentido à ação individual. A ação social é orientada pelo comportamento e valores dos indivíduos e dos grupos, sendo fundamental para a organização da sociedade humana.
A conduta adquire o sentido social quando se orienta pelo comportamento de outras pessoas. As teorias sociológicas desenvolvidas ao longo do século XIX privilegiavam os fenômenos sociais coletivos. Para Emile Durkheim o importante era ofenômeno coletivo e não o comportamento individual, pois a sociedade está acima do individuo. Karl Marx, por sua vez, trata da relação dos agrupamentos sociais, e não do indivíduo.
Para colocar o homem no centro das preocupações sociológicas, Weber teve que reformular o método científico: a tarefa do sociólogo é captar o sentido das condutas humanas.
Weber concebe o objeto da sociologia como, "a captação da relação de sentido" da ação humana, ou seja, conhecer um fenômeno social seria extrair o conteúdo simbólico da ação que o configura. Para Weber não é possível explicar um fenômeno social como resultado da relação entre causas e efeitos, semelhante às ciências naturais, mas compreendê-lo como fato carregado de sentido, isto é, como algo que aponta para outros fatos e somente em função dos quais poderia ser conhecido em toda a sua amplitude. 
Por exemplo, mais importante do que entender porque de algo aconteceu (causas) é compreender o que levou ao indivíduo, ou conjunto de indivíduos, a se comportar de determinada maneira. O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações.
Por exemplo, se uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas.
Conceitos: Para realizar a análise compreensiva, Weber formula o conceito “tipo ideal”, que representa o primeiro nível de generalização de conceitos abstrato. O tipo ideal é um ponto de partida, contendo parâmetros estabelecidos de comportamento, de ação, de dominação. O tipo ideal fornece o recurso essencial para a compreensão dos comportamentos sociais, permitindo analisar as formas de ação social.
1. Tipos de ação social
Os tipos de ação social jamais são encontrados na realidade em toda a sua pureza, e, na maior parte dos casos, os quatro tipos de ação encontram-se misturados.
Ação é social quando um determinado comportamento implica uma relação de sentido para quem age. Nem todo comportamento humano é social. É preciso que tenha sentido para o individuo que age. A ação social orienta-se pelo comportamento de outros. Os “outros” podem ser indivíduos e conhecidos ou uma multiplicidade de desconhecidos.
Weber definiu quatro tipos de ação social:
a. Ação tradicional: tradições, costume. Ex: dar presente de Natal
b. Ação afetiva: baseada em sentimentos e afetividade, não racional. Ex: torcer por um time;
c. Ação racional orientada para valores: racional, a ação é importante e não os fins. Ex: trabalho voluntário ou de um político, onde o retorno não é o dinheiro ou prestígio final, mas a missão. (em crise);
d. Ação racional orientada pra fins: racional, o importante é o resultado. Ex: empresa capitalista;
Esses tipos de ação existem de formas diferentes nas sociedades humanas.
Nas sociedades antigas e feudais prevaleciam os tipos tradicionais e afetivos, daí a família e a igreja terem papel fundamental nessas sociedades.
Na sociedade capitalista predomina ação racional, com planejamento eficiente e com metas, orientada pra fins. A empresa do século XVIII para a atual sofreu várias modificações, mas seus fins e objetivos continuam os mesmos: lucro, acumulação econômica e otimização produtiva.
Esse tipo de comportamento social pautado na racionalidade é o que caracteriza a sociedade moderna e a que subordinam a tradição, os afetos e os valores à racionalidade. Isso leva ao “desencantamento do mundo”, pois o homem passa a maior parte do seu tempo realizando atividades buscando os efeitos esperados (racional) e não pautados em seus valores, suas tradições e suas afetividades.
2. Tipos de dominação/autoridade
Existem três tipos puros de dominação:
a. Tradicional: respeita aos costumes e regras. É o tipo em que o indivíduo ocupa posição de autoridade independentemente do controle de um corpo administrativo. A autoridade e as prerrogativas pessoais são mais extensas. Ex: coronéis, soberanos e patriarcas antigos ou medievais;
b. Carismática: capacidade de liderança e comando, em que se almeja estabelecer uma nova ordem.
c. Racional-legal: assentada na noção de direito que se liga aos aspectos racionais e técnicos da administração. Racionalidade e justiça se fundem. Ex: sociedades modernas. Atua baseado nas leis e regulamentos e precisa de formação técnica.
Temas: Weber abrangeu vários temas em sua produção acadêmica: religião, direito,
arte, economia, política, burocracia.
1. A religião
Em “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber buscou examinar as implicações das orientações religiosas na conduta econômica do indivíduo, considerando as contribuições dos valores éticos protestantes na formação do moderno capitalismo. A acumulação de capital foi um fator importante para o capitalismo, mas surge também uma nova mentalidade guiada por princípios religiosos. Essas convicções religiosas no indivíduo, a partir de uma vida pessoal rígida e disciplinada, levaram o indivíduo a valorizar o trabalho e a considerar o sucesso econômico como bênção de Deus. Havia uma doutrina pessoal austera, que permitiu a acumulação de riqueza e novos investimentos – que foi a base do capitalismo.
2. O Capitalismo
Por que o capitalismo se desenvolveu somente na sociedade Ocidental, especialmente na Europa a partir do século XVI? Como historiador, Weber possuía grande conhecimento das civilizações orientais que chegaram a ter forte economia monetária, avanço tecnológico e uso intensivo. No entanto, não desenvolveram o capitalismo.
Considerava que as instituições capitalistas – as grandes empresas – eram fruto de uma organização racional que desenvolvia suas atividades dentro e um padrão de precisão e eficiência. O capitalismo se caracterizava pela busca contínua de rentabilidade por meio de empreendimentos científicos e racionais, sendo uma expressão da modernização e racionalidade. Weber conclui que ética protestante, juntamente com outros fatores políticos, tecnológicos e econômicos, contribuiu para o surgimento do capitalismo. Nos países ocidentais se fortaleceu uma forma de ação social especial a partir da religiosidade protestante: ascetismo e valorização do trabalho, que então passou a ser considerado uma virtude. Estabeleceu-se um ideal de vida baseado no trabalho assentadas nas seguintes posturas: disciplina, parcimônia, discrição e poupança. Esses novos valores defendidos pelas seitas protestantes alteraram a conduta de diversos grupos dirigentes e elites econômicas.
Na ordem feudal, a nobreza considerava o trabalho indigno e o ócio era virtude e privilégio. Nesse processo, foi surgindo uma nova mentalidade que recusava o desperdício, o luxo e o ócio e valorizava o trabalho, a poupança, a pontualidade e a racionalidade.
Na sociedade moderna consolidou-se um estilo de vida que tinha significado religioso (fé no trabalho) e efeito econômico (acumulação e investimento). Sem a ética protestante o capitalismo teria evoluído diferente, pois para ser capitalista não basta ter dinheiro. E preciso outras qualidades: conduta racional, metódica e científica.
Com o tempo, a noção protestante de que o trabalho enobrece e o ócio e a preguiça são pecados se expande por outras culturas e religiões, passando a fazer parte de diversas classes sociais e culturas.
3. A burocracia
Weber considerava que a sociedade moderna atravessava um processo de racionalização, em que todas as áreas adquiriam o caráter racional e científico. O fenômeno social que representa essa racionalizaçãoé a burocracia moderna, o governo de repartições.
Ao analisar a instituição burocrática, Weber percebeu que essa ação racional orientada para os fins passou a fazer parte da vida moderna e a penetrar em todas as atividades. A burocracia existiu em outros sistemas, mas nas sociedades modernas ela assume três características essenciais:
a. Sistemas regulados por normas formais, o que torna o comportamento dos funcionários previsível e controlado.
b. Impessoalidade, cargos e não pessoas tomam as decisões.valores e preferências não devem intervir.
c. O burocrata tem uma especialidade técnica.
Weber esclareceu que a burocracia é um sistema social que se aproxima dos ideais democráticos, pois promove a igualdade de oportunidades e premia o mérito pessoal. No entanto, apesar dos processos administrativos mais transparentes da burocracia, o intenso crescimento da racionalidade penetra em todas as áreas e gera uma excessiva especialização, construindo um mundo cada vez mais intelectual e artificial, sem criatividade e originalidade, guiado por normas e regulamentações.
No mundo contemporâneo todas as instituições se tornam empresas, com padrões sofisticados e previsíveis, com planejamento e metas. Há um preço a ser pago: a perda da autonomia e criatividade dos indivíduos.
Concluindo, Weber prioriza o papel dos atores e as suas ações individuais. A sociedade deve ser entendida a partir desse conjunto de interações sociais.
III - KARL MARX (1818-1883)
Sua obra: A obra de Marx é resultado de um contexto sócio-político específico, resposta aos problemas colocados pela sociedade burguesa e, também, propõe a intervenção e transformação dessa sociedade.
Não podemos confundir a obra de Marx com o Marxismo. Na verdade não existe um Marxismo, mas vários, ou seja, são várias as interpretações dadas de suas teorias e variam em função do interesse e do momento histórico em que se quer aplicá-las.
Marx desenvolveu uma teoria da história e analisou a sociedade capitalista, de forma crítica, original e estruturada, apresentado aspectos práticos para transformação dessa realidade. A sua obra fundou um modo original de pensar a sociedade burguesa e a sua dinâmica, que incluía a revolução socialista.
Enquanto o positivismo se preocupava com a manutenção da ordem capitalista, Marx vai realizar uma crítica profunda e radical da sociedade, ressaltando suas contradições e antagonismos.
A Sociologia traz no bojo de sua formação duas tradições diferentes: a conservadora, que se identifica com os valores e os interesses da classe dominante, e a revolucionária, que se compromete com a crítica e a transformação da sociedade. Esse pensamento crítico surge na tradição da obra de Marx.
Condições históricas: Marx nasceu na Alemanha, filho de advogado em uma família abastada. Inicialmente cursou Direito, mas optou por Filosofia, tornando-se doutor.
Marx abandonou a vida universitária, trabalhou em um jornal de tendência liberal, onde foi editor. Depois se transfere para Paris, onde conhece F. Engels, com o qual desenvolveu intensa atividade política e teórica até o final da vida. Entrou em contato com setores mais radicais do movimento operário e realizou um intenso trabalho político e teórico, até ser expulso. Foi para Bruxelas, continuando sua atuação junto ao movimento operário, sendo novamente expulso. Retornou a Paris e depois para Alemanha, de onde foi expulso e, em 1949, aos 30 anos, seguiu para o seu último exílio, a Inglaterra, onde morreria em 1883.
Seu pensamento: Marx articulou um modo radicalmente novo de pensar a sociedade, por meio de crítica e reflexão rigorosa. Seu pensamento se desenvolveu ancorado na experiência, permeadas de vitórias e derrotas, que o movimento operário e popular da época acumulava, nas lutas sindicais e políticas do século XIX.
Marx, sempre preocupado com a teoria e a prática, elaborou um conjunto de idéias inovadoras: o materialismo histórico, a teoria econômica e a proposta de transformação, o socialismo científico.
Para ele, a função da Sociologia não era solucionar os problemas sociais e estabelecer a ordem, segundo os positivistas. Ao contrário, a Sociologia deveria contribuir para a transformação da sociedade, ao proporcionar uma análise crítica e desmistificadora da realidade capitalista.
Marx foi extremamente original em sua obra, tendo fundamentado seus estudos em Hegel, no pensamento socialista francês e inglês e nos economistas clássicos Adam Smith e David Ricardo.
Seu método: O materialismo pressupõe, de modo geral, que a produção material de uma sociedade constitui o fator determinante da organização social e política de uma época. Assim, a base material (econômica) exerce influência direta nos outros níveis da realidade: Estado, instituições jurídicas, políticas, religião, moral.
Por meio da dialética, Marx explicou as significativas transformações da história da humanidade através dos tempos. Ao estudar determinado fato histórico, ele procurava seus elementos contraditórios, buscando encontrar aquele elemento responsável pela sua transformação num novo fato, dando continuidade ao processo histórico.
Marx elaborou um esquema teórico sobre a história da humanidade, desenvolvendo o método materialismo histórico. Segundo sua teoria da história, as sociedades encontravam-se em constante transformação e o motor da história era os conflitos e as posições entre as classes sociais. Assim, o movimento da história possui uma base material, econômica e obedece a um movimento dialético.
E conforme muda esta relação, mudam-se as leis, a cultura, a literatura, a educação, as artes. Em outras palavras, a estrutura de uma sociedade reflete a forma como os homens se organizam para a produção social de bens.
Sua teoria: Segundo Marx, para conhecer a realidade era preciso compreender a relação dos homens com o mundo material. Também, era preciso compreender como esse mundo material e as idéias a ele relacionadas se transformavam e transformavam a realidade.
Para ele, a sociedade tem contradições e conflitos e, são essas contradições e conflitos que garantem sua transformação. Cada época histórica tem seus conflitos e contradições. Para entendermos uma sociedade é preciso compreender seus conflitos e suas contradições.
A chave para a compreensão da trama social é a organização do trabalho e as relações estabelecidas entre os homens no mundo da produção. Ou seja, é na vida material que tudo acontece. A política, a cultura, a justiça, a religião refletem esse conflito.
Na produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações – são as relações de produção. Essas relações são necessárias e independentes da vontade humana. O conjunto das relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real, a base econômica de uma determinada sociedade. Sobre essa base real se levanta a superestrutura jurídica, política e espiritual.
“não é consciência do homem que determina sua existência, pelo contrario, é sua existência que determina sua consciência.” (Marx)
As relações de produção, marcadas pela existência de classes sociais com posições e interesses antagônicos, desenvolvem relação de conflito e esse conflito é a mola propulsora das transformações e mudanças históricas. Essa é a teoria da história para Marx.
Marx aplicou essa teoria e desvendou profundamente o modo de produção capitalista. Segundo suas análises, no capitalismo as relações de produção são fundamentadas na propriedade privada dos meios de produção e na venda da força de trabalho assalariada.
“as relações burguesas de produção são a última forma antagônica do processo social de produção;... antagonismo que provém das condições sociais de vida dos indivíduos.”
Segundo seu pensamento, as classes sociais são determinadas no processo produtivo, sendo definidas pelo lugar que as pessoas ocupam no processo produtivo em relação aos meios de produção: se detém ou não esses meios. Variando ao longo da história: senhores da terra/servos, burguês/assalariado, entre outros. A relação entre asclasses sociais é marcada pela opressão de uma sobre a outra, pela exploração de uma sobre a outra.
O modo de produção capitalista e sua superação: O capitalismo é marcado por relações sociais de produção nas quais uns são proprietários dos meios de produção e outros vendem sua força de trabalho como mercadoria para garantiram a reprodução material de suas vidas. Os donos dos meios de produção utilizam a força de trabalho para produzir mercadoria e é a força de trabalho que gera valor à mercadoria.
A partir da inter-relação entre infra-estrutura econômica se constrói toda uma superestrutura (Estado, leis, religião, etc.) para garantir a ordem do sistema capitalista.
O capitalista paga o salário ao trabalhador, mas esse salário nunca corresponde ao valor produzido pelo trabalhador. Este produz uma parte de trabalho que é paga pelo salário, a outra parte trabalhada fica com o empresário – é a mais-valia, o que valoriza o capital.
A resolução do conflito entre os proprietários dos meios de produção e do proletariado, ou seja, da relação de exploração do capitalismo, só pode ser conseguida com a luta de classes, em que seja superada a causa dos conflitos: a propriedade privada dos meios de produção. Aí está formada a teoria do socialismo científico, que constitui o processo de transição pelo qual a sociedade tem que passar até a etapa final, o comunismo.
O Estado: Marx expõe uma nova concepção, segundo a qual o Estado surgiu junto com a propriedade privada na história da humanidade. Em suas análises, rompeu com o pensamento liberal que analisava o Estado como um arranjo contratual entre os indivíduos a fim de garantir a ordem, a propriedade e os direitos civis, sendo o representante de todos os setores a sociedade.
Segundo Marx, o Estado é um instrumento cujo objetivo fundamental é manter as relações sociais dominantes. Enfim, o Estado é instrumento de manutenção da ordem dominante e representante dos interesses dessa classe.
Para que essa dominação seja aceita pacificamente por toda sociedade, o Estado age em nome do “interesse geral” e das “leis”. Assim, a maneira como as classes dominantes justificam sua dominação se impõe também pelas idéias, não apenas dentro do Estado, mas nos códigos de leis, nas igrejas, jornais, educação, meios de comunicação, propagandas – a ideologia.
Concluindo, Marx elaborou uma crítica radical ao capitalismo, colocando em evidência os antagonismos e contradições desse sistema. Para Marx, o estudo da sociedade deveria partir de sua base material e estrutura econômica, que é o fundamento da história humana.
Leitura Recomendada:
I – E. Durkheim
_ O que é Sociologia? Martins. Cap. 1: A Formação (pags. 34 a 61)
_ Capítulo “Sociologia e Sociedade” do livro Introdução às Ciências Sociais. Marcellino (org). pags. 27 a 29.
II – Max Weber
_ O que é Sociologia? Martins. Pags 61 a 71.
Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. (Cristina Costa), Editora Moderna
III – Karl Marx
_ Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. (Cristina Costa), Editora Moderna. Pags 110 a 129.

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