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V Coordenador Milton Ruiz Alves Autores Milton Ruiz Alves Doutor, Professor Associado e Professor da Pós-Graduação da FMUSP, São Paulo, SP Chefe do Setor de Córnea e Doenças Externas da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Mariza Polati Doutora pela USP, São Paulo, SP Chefe do Setor de Estrabismo da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Sidney Júlio de Faria e Sousa Professor Associado da USP, Ribeirão Preto, SP Chefe do Setor de Córnea e Doenças Externas da FMRP, USP, SP 5a Edição Rio de Janeiro – RJ – Brasil Refratometria Ocular - Cap-00.indd 5 14/04/2017 13:01:12 VI CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ © Copyright 2017, by Cultura Médica Esta obra está protegida pela Lei no 9.610 dos Direitos Autorais, de 19 de fevereiro de 1998, san- cionada e publicada no Diário Oficial da União em 20 de fevereiro de 1998. Em vigor a Lei 10.693, de 1o de julho de 2003, que altera os Artigos 184 e 186 do Código Penal e acrescenta Parágrafos ao Artigo 525 do Código Penal. Caso ocorram reproduções de textos, figuras, tabelas, quadros, esquemas e fontes de pesquisa, são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). Qualquer informação, contatar a Cultura Médica® Impresso no Brasil Printed in Brazil Responsável pelo Layout/Formatação: Cultura Médica Cultura Médica® Rua Gonzaga Bastos, 163 20541-000 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel. (55 21) 2567-3888/3173-8834 Site: www.culturamedica.com.br e-mail: cultura@culturamedica.com.br R332 5.ed. Refratometria ocular e a arte da prescrição médica / coordenador Milton Ruiz Alves; autores Milton Ruiz Alves, Mariza Polati, Sidney Júlio de Faria e Sousa. – 5. ed. – Rio de Janeiro : Cultura Médica, c2017. il. Vários colaboradores ISBN 978-85-7006-678-7 1. Refração ocular. 2. Oftalmologia. I. Alves, Milton Ruiz. II. Polati, Mariza. III. Sousa, Sidney Júlio de Faria e. IV. Título. CDD: 617.735 CDU: 617.735 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 6 14/04/2017 13:01:12 VII Colaboradores Adamo Lui Neto Professor Assistente Doutor da Faculdade de Ciên- cias Médicas da Santa Casa de São Paulo, SP Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, SP Edson dos Santos-Neto Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Fabrício Witzel de Medeiros Médico do Setor de Cirurgia Refrativa do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Ex-Fellow do Setor de Cirurgia Refrativa do Cole Eye Institute, Cleveland Clinic Foundation, Cleve- land, EUA Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Gustavo Victor Doutor pela FMUSP, Ribeirão Preto, SP Médico da Eye Clinic, São Paulo, SP Coordenador de Residência Médica do Hospital Ana Costa, Santos, São Paulo, SP Iara Debert Médica do Setor de Estrabismo do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Doutoranda pela FMUSP, São Paulo, SP Íris Yamane Doutoranda pela FMUSP, São Paulo, SP Jackson Barreto Júnior Médico do Setor de Cirurgia Refrativa do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Keila Monteiro de Carvalho Professora Associada da Disciplina de Oftalmolo- gia do Departamento de Oftalmologia e Otorrino- laringologia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Campinas, SP Murilo Barreto Souza Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Docente da Disciplina de Oftalmologia do Curso de Medicina da FTC, Salvador, BA Refratometria Ocular - Cap-00.indd 7 14/04/2017 13:01:12 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 8 14/04/2017 13:01:12 IX Apresentação Os Professores Milton Ruiz Alves, Mariza Pola- ti e Sidney Júlio de Faria e Sousa presenteiam a Oftalmologia brasileira com um livro não ape- nas necessário, mas oportuno: Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica É redundante repetir que a esmagadora maioria da nossa clientela compõe-se de pes- soas em busca de um par de óculos. Diante de uma dificuldade visual, ninguém pensa em ne- nhum outro problema. Os óculos, de uma for- ma ou de outra, são a porta de entrada do ci- dadão em nossos consultórios. Se o cliente já os usa, então nos procura para atualizá-los; se ainda não, espera poder usá-los. O ensino da refratometria é o que há de mais importante nos cursos de especialização. É bom lembrar que, antes de sermos oftalmo- logistas, somos médicos e, antes de sermos su- bespecialistas, somos oftalmologistas e refrato- metristas. Ninguém chega a ser um bom retinólogo ou glaucomatólogo, entre tantas outras subes- pecialidades, sem que antes seja capaz de re- ceitar um par de óculos que dê visão (quando possível) e conforto ao seu paciente. Os autores, a par de seu sólido conheci- mento da Oftalmologia, sempre se preocupa- ram em ensinar e divulgar (bem) a teoria e prá- tica da refração. Este livro, portanto, é o produto belamen- te escrito e editado dessa preocupação. Nada nele é desnecessário ou supérfluo. E uma coisa me chamou a atenção: os autores conseguiram desmistificar para nós, mortais oftalmologistas, aquelas fórmulas matemáticas complexas, eso- téricas, indecifráveis mesmo. A física geométrica e a matemática de tan- tas dessas fórmulas foram reduzidas a pala- vras simples, a um linguajar descomplicado, de modo que essas matérias, tediosas para o médico em geral, ganharam uma forma leve ao nosso raciocínio e conhecimento. A ideia ou as regras embutidas nessas fórmulas torna- ram-se transparentes, de fácil alcance, tal a precisão e clareza da linguagem usada pelos autores. Este livro enriquece a bibliografia oftalmo- lógica sobre o tema e, estou certo, será uma fonte de estímulo para que os neófitos e tam- bém os veteranos terminem sua leitura mais preparados e mais seguros para o exercício da prática refratométrica em seus consultórios. E não custa lembrar que, se assumirmos a refratometria por inteiro, se a praticarmos com sabedoria e sem preconceitos, dando-lhe o inestimável valor e importância que ela real- mente tem, não sobrará espaço nem lugar para ninguém mais ousar receitar óculos ou lentes de contato, a não ser nós, médicos oftalmolo- gistas. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia não poderia sentir-se mais feliz e gratificado por ter referendado a publicação deste livro. É uma obra de peso cultural e científico da qual todos nós e as gerações de futuros oftal- mologistas muito nos orgulharemos. Homero Gusmão de Almeida Presidente Conselho Brasileiro de Oftalmologia Gestão 2015-2017 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 9 14/04/2017 13:01:13 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 10 14/04/2017 13:01:13 XI Os erros da refração ocular e as perturba- ções da acomodação são as duas condi- ções que, indubitavelmente, mais levam uma pessoa a procurar seu oftalmologis- ta. Se adicionarmos o fato de que ambos, muitas vezes, interferem com a motilidade ocular extrínseca e uma visão binocular confortável, vê-se então aumentada a im- portância destes fatores na propedêutica e na terapêutica em Oftalmologia. Deve-se ter em conta que pacien- tes com achados clínicos semelhantes na maioria das vezes não expressam seus sin- tomas do mesmo modo, nem exibem si- nais superponíveis. A idade, a profissão ou as atividades em que o aparelho visual é solicitado, o perfil psicológico, outras en- fermidades e o sexo são fatores que exigem consideração em uma possível proposição terapêutica. O oftalmologista nunca se de- fronta com pacientes iguais. Este livro é uma riqueza não apenas por expor detalhadamente os princípios gerais, mas também por valorizar certos procedimentos cuja omissão seria desas- trosa, apresentando exemplos práticos, muito esclarecedores. É para mim fato altamente alvissareiro saber que membrosda Universidade de São Paulo trouxeram esta contribuição a todos os oftalmologistas, principiantes, ex- residentes e àqueles que labutam na espe- cialidade há vários anos. Estes últimos cor- rem o risco altamente frequente de achar que dominam totalmente essa área de co- nhecimento, de não se atualizarem e de não oferecerem a seus clientes os melho- res recursos disponíveis no momento. Por sua contribuição, os autores mere- cem meu respeito e minha admiração, a par do profundo reconhecimento por te- rem permitido que eu redigisse estas pala- vras com as quais o livro é lançado à cole- tividade oftalmológica. Jorge Alberto F. Caldeira Professor Emérito de Clínica Oftalmológica. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Apresentação Refratometria Ocular - Cap-00.indd 11 14/04/2017 13:01:13 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 12 14/04/2017 13:01:13 XIII Dedicatória Ao Professor Paulo Braga de Magalhães (in memoriam) O Professor Paulo Braga era um homem de temperamento pacífico, que jamais impôs suas crenças ou opiniões sobre os seus su- bordinados. E dessa forma continuou após tomar posse na chefia da Clínica Oftalmo- lógica do HCFMUSP, como Professor Ti- tular, em 27 de maio de 1964. Prosseguiu dando ampla liberdade a todos os médicos da clínica oftalmológica no sentido de se aprimorarem da maneira como cada um julgasse mais adequada. Estruturou o cur- so de residência médica da Oftalmologia. A inauguração do prédio dos Ambulatórios, durante a sua gestão, expandiu as instalações físicas do Departamento, favorecendo sobremaneira as atividades clínicas e didá- ticas. Atuando com dedicação, sabedoria e, sobretudo com ética, con- tribuiu marcadamente para a formação de várias gerações de oftalmolo- gistas. O Professor Paulo Braga se aposentou compulsoriamente, aos 70 anos, em 23 de março de 1983. Refratometria Ocular - Cap-00.indd 13 14/04/2017 13:01:13 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 14 14/04/2017 13:01:13 XV Prefácio da 5a Edição No mundo, o erro refrativo não corrigido é a causa mais comum de baixa visão e a se- gunda causa mais comum de cegueira.1,2 Melhorar a visão das pessoas pode gerar benefícios econômicos consideráveis, es- pecialmente em países de baixa e média rendas, onde esses problemas são muito incidentes, e pode fornecer uma impor- tante contribuição para o desenvolvimen- to global.3 Os governos poderiam poupar milhões de dólares simplesmente inves- tindo em exames oftalmológicos e forne- cendo óculos para milhões de pessoas que precisam deles.3 No Brasil, até o ano de 2000, estimava- se que, dos indivíduos que apresentavam algum grau de deficiência visual, 42,7% tinham como causa os erros de refração, seguindo-se a catarata (23,9%), a degene- ração macular relacionada à idade (5,4%) e o glaucoma (4,02%).4 O Censo 2000 revelou que cerca de 16 milhões de pes- soas tinham deficiência visual; em 2010 surpreendeu: esse número mais do que dobrou, está chegando a 35 milhões de pessoas.5 Ou seja, a sociedade paga pre- ço alto pelo cuidado inadequado da vi- são; as consequências da visão deficiente, não tratada, podem ocasionar ao longo do tempo impedimentos na vida profissional e ocupacional.6 A refratometria ocular é o procedimen- to de maior demanda entre todos os que levam uma pessoa a consulta oftalmoló- gica. Não há sequer uma única pessoa que, cedo ou tarde, deixe de requerer al- gum tipo de correção óptica para melho- rar sua discriminação visual, seja para o olhar “a distância”, seja para o “de per- to”.7 Tudo começa e termina com a refra- ção, e é ela o coroamento final do mais refinado e complexo procedimento tera- pêutico, quer clínico, quer cirúrgico.8 Na ocasião do exame refratométrico é que o médico oftalmologista tem a oportunidade de prevenir, diagnosticar e tratar enfermi- dades que poderão colocar em risco a saú- de ocular, sobretudo se confiada à opto- metria divorciada dos nossos consultórios oftalmológicos.8 Este livro é uma riqueza não apenas por expor detalhadamente os princípios Refratometria Ocular - Cap-00.indd 15 14/04/2017 13:01:13 XVI gerais da refratometria ocular, mas princi- palmente por nortear a prática optométri- ca por médicos, prerrogativa que nos é as- segurada pelo saber e pela lei. Boa leitura! Os Autores REFERÊNCIAS 1. Resnikoff S, Pascolini D, Mariotti S, Pokharel P. Global magnitude of visual impairment caused by uncorrected refractive errors in 2004. Bull World Health Organ, 2008; 86:63-70. 2. Holden BA, Fricke T, Ho S, Wong R, Schlenther G, Cronje S et al. Global vision impairment due to uncorrected presbyopia. Arch Ophthalmol, 2008;126:1731-9. 3. Fricke TR, Holden BA,Wilson DA, Schlenther G, Naidoo KS, Resnikoff S, Frick KD. Global cost of correcting vision impairment from uncorrec- ted refractive error. Bull World Health Organ, 2012;90:728-38. 4. Arieta CEL, Delgado AMN, José KN, Temporini ER, Alves MR, Moreira Filho DC. Refractive er- rors and cataract as causes of visual impairment in Brazil. Ophthal Epidemiol, 2003;10(1):15-22. 5. Azevedo ACL. Apresentação. In: Haddad MAO, Siaulys MOC, Sampaio MW. Baixa Visão na In- fância. Guia Prático de Atenção Oftalmológica. São Paulo: Laramara, 2011, 191p. 6. Burns MJ. Building a priority for a national vi- sion health care. Eye Ear Nose Troat Mon, 1973; 52:353-6. 7. Bicas HEA, Alves AA, Uras R. Prefácio. In: Bicas HEA, Alves AA, Uras R (eds). Refratometria Ocu- lar [Tema Oficial XXXIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia – CBO 2005), Rio de Janeiro: Cul- tura Médica, 2005, 400p. 8. Gonçalves ER. Apresentação. Refratometria ocu- lar: cientificamente rico e politicamente oportu- na. In: Bicas HEA, Alves AA, Uras R (eds). Refra- tometria Ocular [Tema Oficial XXXIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia – CBO 2005], Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2005, 400p. Refratometria Ocular - Cap-00.indd 16 14/04/2017 13:01:13 XVII Sumário 1 Refratometria Ocular ...............................1 Milton Ruiz Alves Mariza Polati Sidney Júlio de Faria e Sousa 2 Hipermetropia .......................................37 Milton Ruiz Alves Mariza Polati Iara Debert 3 Miopia ...................................................53 Milton Ruiz Alves Mariza Polati Iara Debert 4 Astigmatismo ........................................75 Milton Ruiz Alves Jackson Barreto Júnior Mariza Polati 5 Anisometropia .......................................91 Milton Ruiz Alves Murilo Barreto Souza Fabrício Witzel de Medeiros 6 Baixas Ametropias ............................. 121 Milton Ruiz Alves Edson dos Santos-Neto Mariza Polati 7 Altas Ametropias ................................ 135 Milton Ruiz Alves Adamo Lui Netto Íris Yamane 8 Presbiopia .......................................... 145 Sidney Júlio de Faria e Sousa Milton Ruiz Alves 9 Baixa Visão ......................................... 163 Keila Monteiro de Carvalho 10 Oculomotricidade ............................... 181 Sidney Júlio de Faria e Sousa Milton Ruiz Alves 11 Avaliação da Prescrição Médica ........ 201 Milton Ruiz Alves Sidney Júlio de Faria e Sousa Gustavo Victor Índice ................................................. 231 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 17 14/04/2017 13:01:13 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 18 14/04/2017 13:01:13 Avaliação da Prescrição Médica 1 1 Refratometria Ocular Milton Ruiz Alves Mariza Polati Sidney Júlio de Faria e Sousa CONCEITO O termo refratometria ocular não se aplica à medida do estado óptico do olho em seu va- lor absoluto, isto é, à quantidade dióptrica to- tal da refração ocular. A expressão traduz va- lores de adequaçãoposicional (da retina e do foco objeto do olho), ou seja, do bom ajus- tamento (emetropia) ou não (erro refrativo).1 NOTAS HISTÓRICAS No século XIX, o exame refratométrico ocular era impreciso e os erros refrativos identificados eram corrigidos com lentes oftálmicas de baixa qualidade.2 No século XX, avanços importantes ocorreram na refratometria ocular, na cor- reção do erro refrativo, na qualidade óp- tica e nos desenhos das lentes oftálmicas. Métodos de refratometria objetivos e sub- jetivos foram aprimorados com o desen- volvimento e incorporação de técnicas, como a do cilindro cruzado de Jackson e a da refratometria binocular, associados com o aprimoramento de instrumentos, como o retinoscópio e os refratores ma- nuais e computadorizados.3 Na década de 1960, o desenvolvimen- to da ultrassonografia permitiu a obtenção de imagens ultrassônicas do olho e medi- das acuradas do comprimento axial. Esta foi considerada uma das principais inova- ções tecnológicas da década.4 Ainda du- rante a década de 1960, o laser, outra fer- ramenta dos físicos, aplicado no campo da refratometria, permitiu o desenvolvimento posterior do refrator com tecnologia de frente de ondas.5,6 No mesmo período, surgiram as lentes progressivas para corre- ção da presbiopia, inicialmente de vidro, pesadas e pouco confortáveis.7 Durante a década de 1970, surgiram as lentes oftálmicas de resina policarbonato.7 Atualmente, cada vez mais, multiplicam- se as opções para a correção dos erros re- frativos: óculos, lentes de contato, cirurgia refrativa etc. SINAIS E SINTOMAS Os erros refrativos não corrigidos consti- tuem a causa mais comum de baixa visual. Nos casos mais acentuados, a baixa visão corresponde ao sintoma mais importante. Outras queixas podem surgir do esforço Refratometria Ocular - Cap-01.indd 1 06/03/2017 21:06:07 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica2 visual para compensar o erro refrativo. Os dois sintomas mais comuns relacionados à presença de erro refrativo não corrigido ou inadequadamente corrigido são baixa visão e astenopia.3 A baixa visual é percebida pelos pa- cientes como se a imagem do objeto em questão estivesse fora do foco. A inten- sidade do borramento visual depende da magnitude e do tipo de erro refrativo, mas também é influenciada pela idade das pessoas e pelo nível de iluminação do ambiente. Algumas vezes, a baixa vi- sual pode se manifestar como a dificul- dade ou inabilidade de manter o foco claro de objetos situados a diferentes distâncias.3 Astenopia é o termo que se aplica a ampla variedade de diferentes sintomas. O Dictionary of Visual Science8 define astenopia como um termo geralmente utilizado para designar quaisquer sinto- mas subjetivos ou desconforto com ori- gem no uso dos olhos. Astenopia inclui sintomas como cefaleia, dor ao redor ou acima dos olhos, fotofobia, cansaço e desconforto ocular. Na avaliação do paciente com queixas de visão borrada, astenopia ou cefaleia, de- vem-se observar as seguintes condições:3 ■ Distância que borra a visão: longe, per- to ou intermediária. ■ Hora do dia: manhã, tarde ou noite. ■ Tipo de atividade visual: leitura, uso de computador etc. ■ Duração da atividade visual: imedia- tamente, após 15 min, após 60 min etc. Quaisquer dos sintomas anteriores po- dem se manifestar em determinado caso particular. A intensidade e a frequência dos sinais e sintomas variam e dependem de certos fatores, tais como a magnitude e tipo de erro refrativo, a integridade do sistema visual binocular, as condições de saúde da pessoa e a natureza da demanda de visão. A miopia é a causa mais provável de visão borrada para longe e não para perto; no paciente jovem, a hipermetropia é res- ponsável pela visão borrada para perto e não para longe. A relação entre magnitude do erro refrativo não corrigido e acuidade visual (AV) resultante tem sido investigada com respeito ao tipo de ametropia e à ida- de do paciente. Alguns pesquisadores pro- puseram fórmulas que podem predizer a quantidade de erro refrativo, e vice-versa. Os dados da Tabela 1 apresentam os resul- tados de Eggers.9 Os dados mostram que a AV medi- da com os optotipos de Snellen diminui, aproximadamente, uma linha para cada 0,25 D de miopia simples não corrigida ou de hipermetropia absoluta. Também mos- tra que a AV diminui em função da mag- nitude e do eixo do astigmatismo não cor- rigido. Por exemplo, astigmatismo oblíquo (com eixo entre 31° e 59° ou 121° e 149°) tem efeito maior na AV do que astigmatis- mo com a regra (eixo entre 150° e 180° ou 180° e 30°). Os dados da Tabela 2 mostram os va- lores equivalentes dos optotipos de Snel- len em pés e decimais e correspondentes ângulos visuais, percentuais de eficiência visual e de perda de visão. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 2 06/03/2017 21:06:07 Refratometria Ocular 3 REFRATOMETRIA OCULAR Com a utilização dos testes objetivos e subjetivos do exame de refração, obtêm-se informações preciosas sobre a natureza e a magnitude dos erros refrativos e identifi- cam-se as lentes oftálmicas que permitirão ao paciente ter visão clara e confortável mantida sem esforço. Testes objetivos Ceratometria e topografia corneana A ceratometria é a medida do raio de cur- vatura da superfície anterior da córnea, que é realizada com o ceratômetro, tam- bém chamado oftalmômetro (Figura 1). O princípio da ceratometria baseia-se na propriedade da superfície anterior da cór- Tabela 1 Acuidade visual como função de erro refrativo não corrigido Acuidade visual não corrigida (Snellen) Magnitude do erro refrativo não corrigido (D) Miopia simples ou Hipermetropia absoluta Astigmatismo simples* Oblíquo Com a regra 20/25 0,25 – 0,50 20/30 0,50 0,75 1,00 20/40 0,75 1,00 1,50 20/50 1,00 1,50 2,00 20/70 1,25 1,75 2,50 20/100 1,50 2,25 3,00 20/150 2,00 2,75 3,50 20/200 2,50 3,50 4,50 20/300 3,50 5,00 6,25 20/400 4,50 – – Os resultados do astigmatismo contra a regra estão entre os valores apresentados para os astigmatismos oblíquo e com a regra. *Fonte: Eggers H. Estimation of uncorrected visual acuity in malingerers. Arch Ophthalmol, 1945; 33:23-7.9 Tabela 2 Valores equivalentes dos optotipos de Snellen em pés e decimais e correspondentes ângulos visuais, percentuais de eficiência visual e de perda visual* Pés Decimal Ângulo visual % Eficiência visual % Perda visual 20/20 1,0 1,0 100,0 0,0 20/30 0,7 1,5 91,4 8,6 20/40 0,5 2,0 83,6 16,4 20/60 0,3 3,0 69,9 30,1 20/80 0,25 4,0 58,5 41,5 20/200 0,1 10,0 20,0 80,0 *Fonte: Miranda MN. Apuntes de Refracción. Universidade de Puerto Rico, Apostila, 1975:42.10 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 3 06/03/2017 21:06:07 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica4 nea em se comportar como um espelho esférico convexo.11-14 O ceratômetro pro- jeta uma mira de tamanho conhecido so- bre uma zona central da córnea a uma distância conhecida e mede o tamanho da imagem refletida da superfície anterior da córnea (Figura 2). A área além desses pontos ou entre eles não é avaliada. A im- portância da ceratometria está no fato de a superfície frontal da córnea representar cerca de 75 a 80% de todo o poder dióp- trico do olho. A ceratometria fornece me- dida objetiva da magnitude e do eixo do astigmatismo corneano anterior, o que au- xilia na avaliação de crianças, pacientes com dificuldade para dar informações ou naqueles com reflexo retinoscópico mal definido.11,13 O fotoceratoscópio, utilizando o disco de Plácido, projeta anéis concêntricos so- bre a superfície anterior da córnea e, com o emprego de métodos algorítmicos, ob- tém dados quantitativos da curvatura cor- neana.13,14 O videoceratoscópio computadori- zado avaliamilhares de pontos cobrin- do praticamente toda a córnea. Em um esforço para aumentar a acurácia dos aparelhos e evitar que, a partir da aná- lise bidimensional do disco de Plácido, se obtenha uma ideia tridimensional da córnea, os modernos videoceratoscópios lançam mão de alta tecnologia, em que câmaras fotográficas laterais foram adi- cionadas para que a córnea possa ser analisada de perfil. Outro tipo de tecno- logia emprega o princípio da rastereogra- fia e da holografia a laser. A topografia de rastreamento em fenda combina a tec- nologia derivada da reflexão do disco de Plácido com a análise de imagens reais de secções ópticas corneanas.13,14 O exame topográfico da córnea é im- portante na detecção de astigmatismos irregulares decorrentes da adaptação de lentes de contato (warpage), do cerato- cone, de cirurgias corneanas, de trau- matismos, de condições degenerativas e de sequelas de processos inflamató- rios.11,13,14 Figura 1 Ceratômetro modelo Bausch & Lomb. – + + – – + + – – + + – + Figura 2 Miras ceratométricas do ceratôme- tro modelo Bausch & Lomb: conhecendo-se o tamanho da imagem das miras, calcula-se o raio de curvatura corneano. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 4 06/03/2017 21:06:09 Refratometria Ocular 5 Retinoscopia A retinoscopia é, sem dúvida, o melhor método objetivo da refratometria ocu- lar.11,15 Ponto remoto Ponto remoto é o ponto do espaço conju- gado com a retina, com a acomodação re- laxada. Toda imagem colocada no ponto remoto é focada na retina; toda imagem provinda da retina é focada no ponto re- moto. Fica fácil raciocinar com o ponto remoto, atentando para a luz que sai do olho, em vez da que entra, como é feito regularmente. No emetrope, a luz sai dos olhos com os raios paralelos (Figura 3). O ponto remoto está no infinito, porque os raios paralelos sempre se associam ao infi- nito. A imagem da retina é focada no infi- nito e o que estiver no infinito é focado na retina. No olho míope, devido ao excesso de poder de convergência, os raios saem convergentes e cruzam-se em um ponto situado entre a frente do olho e o infinito. O ponto remoto do olho míope é, portan- to, real e finito (Figura 3). Tudo que estiver nesse ponto foca-se na retina, e vice-versa. Quanto mais forte for a miopia, mais pró- ximo da córnea estará o ponto remoto. No hipermetrope, devido à falta de poder de convergência, a luz sai do olho em diver- gência. Os prolongamentos dos raios, no sentido oposto ao da luz emergente, inter- ceptam-se em um ponto imaginário, situa- do entre o polo posterior do bulbo ocular e o infinito retro-ocular O ponto remoto do hipermetrope é, portanto, virtual. Toda luz emergente da retina foca-se nesse pon- to; toda luz dirigida para esse ponto foca- se na retina. Quanto mais forte a hiperme- tropia, mais próximo do polo posterior do olho estará o ponto remoto (Figura 3). O inverso da distância, em metros, en- tre o ponto remoto e os planos principais do olho mede o erro de refração. Os pla- nos principais são um par de planos imagi- nários, frontais ao olho, situados cerca de 2 mm diante da íris. A vantagem do pon- to remoto é que, uma vez conhecida sua localização, o erro de refração fica carac- terizado. Corrigir o erro de refração signi- fica transferir o ponto remoto de onde ele se encontra para o infinito. Um olho eme- tropizado é aquele cuja dupla “olho-lente corretora” está conjugada ao infinito. PR Emetropia PR Miopia Hipermetropia PR Figura 3 As ametropias e os res- pectivos pontos remotos. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 5 06/03/2017 21:06:09 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica6 O ponto remoto pode ser deslocado mediante a colocação de lentes. As lentes convergentes, aumentando a convergên- cia da luz que sai do olho, aproximam o ponto remoto de olhos míopes e afastam o ponto remoto virtual de olhos hipermetro- pes. Acentuam a miopia e diminuem a hi- permetropia. As lentes divergentes, dimi- nuindo a convergência da luz que emerge do olho, afastam o ponto remoto de olhos míopes, diminuindo a miopia, e aproxi- mam o ponto remoto de olhos hiperme- tropes, piorando a hipermetropia. Para que uma lente, montada no pla- no dos óculos, coloque o ponto remoto no infinito, é preciso que seu foco posterior coincida com o ponto remoto. Em outras palavras, é preciso escolher uma lente cuja distância focal (distância da lente ao foco) seja idêntica à distância dela ao ponto re- moto. Nas lentes convergentes, o foco pos- terior ocupa o lado oposto ao da entrada da luz. Cai, precisamente, onde é deseja- do: atrás do olho, onde se encontra o pon- to remoto do hipermetrope (Figura 4). Nas lentes divergentes, corresponde ao prolon- gamento dos raios refratados, achando-se no lado da entrada da luz. Cai no lugar al- mejado: diante do olho, onde se encontra o ponto remoto do olho míope (Figura 4). Para que tudo isso se materialize, é pre- ciso que se conheça a posição do ponto re- moto, e é aí que entra a retinoscopia. Na verdade, ela não determina a posição do ponto remoto. Ela coloca o ponto remoto em uma posição conhecida: a pupila de observação do retinoscópio. Nessa situa- ção, para transferirmos o ponto remoto para o infinito, corrigindo, assim, a ametro- pia, basta escolhermos uma lente que, co- locada no plano dos óculos, tenha seu foco coincidente com a pupila do retinoscópio; uma lente cuja distância focal seja idêntica à distância que a separa do retinoscópio. Como o retinoscópio está defronte do olho, essa lente só pode ser divergente. A B PR F f f PR F Figura 4 Correção das ametro- pias. PR. Ponto remoto; F. Foco posterior da lente corretora. A. Hipermetropia. B. Miopia. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 6 06/03/2017 21:06:09 Refratometria Ocular 7 Uso do retinoscópio A retinoscopia é um método objetivo pa- ra a determinação das ametropias do olho. O exame é realizado com um retinoscó- pio, instrumento que tem a capacidade de projetar luz na forma de faixa luminosa. Com o auxílio de um cursor e de um espe- lho interno, a faixa projetada pode ser ro- dada 180° em torno do eixo de projeção. Elevando-se ou abaixando-se o cursor, o feixe de luz projetado pode assumir con- figuração divergente (posição de espelho plano) ou convergente (posição de espe- lho côncavo) (Figura 5). A luz do retinoscópio é, geralmen- te, projetada na retina, através da pupila do paciente, a uma distância próxima de 1 m. A luz refletida pela retina é visuali- zada através do orifício de observação do instrumento (Figura 5). Essa luz dá origem ao que se convencionou chamar de re- flexo retinopupilar. Como a luz inciden- te tem a forma de faixa, o reflexo retino- pupilar também se apresenta como uma faixa luminosa na pupila do olho exami- nado. É precisamente esse reflexo que o examinador tem que analisar para inferir sobre o vício de refração. A inclinação do reflexo retinopupilar é função da rotação do cursor do retinoscópio e da presença de astigmatismo. Havendo astigmatismo, o reflexo retinopupilar assume a direção do meridiano principal da córnea, mais próximo da faixa do retinoscópio (Figura 6). Não havendo astigmatismo, o reflexo retinopupilar assume automaticamente a direção da faixa luminosa do instrumento. Nesse caso, os meridianos principais da córnea são, por convenção, considerados como sendo o horizontal e o vertical. O exame inicia-se com a colocação do cursor na posição de espelho plano. Em al- guns retinoscópios, é a posição mais eleva- da e, em outros, a posição mais baixa do cursor. O examinador coloca-se a 0,67 m 1 2 A B Figura 5 Retinoscópio. A. Orifício de observação ou pupila do retinoscópio. B. Cursor. 1. Posi-ção do espelho plano (raios divergentes). 2. Posição do espelho côncavo (raios convergentes). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 7 06/03/2017 21:06:09 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica8 do olho examinado e alinha a faixa do re- tinoscópio com a direção de um dos me- ridianos principais da córnea, tendo o re- flexo retinopupilar como guia. Então, varre alternadamente esse meridiano e o meri- diano perpendicular a ele, com movimen- tos laterais de vai e vem, atentando para o comportamento do reflexo retinopupilar. Se o reflexo acompanha o sentido da faixa do retinoscópio, o movimento é a favor; se caminha em sentido oposto, o movimento é contra. Ato contínuo, adicionam-se len- tes diante do olho examinado, com o ob- jetivo de anular os movimentos do reflexo retinopupilar. Se o movimento é a favor, as lentes adicionadas são positivas; se contra, elas são negativas. O exame termina quan- do os movimentos do reflexo retinopupilar, de ambos os meridianos, são anulados com lentes apropriadas. Uma vez anulado o movimento, o reflexo retinopupilar é subs- tituído por um borrão luminoso que ocu- pa toda a pupila. Esse borrão indica que foi atingido o ponto de neutralização do movi- mento. Nos vícios astigmáticos, o ponto de neutralização de um meridiano não coinci- de com o do outro. Terminada a fase instrumental da reti- noscopia, ainda é necessário mais um pas- so: a adição de –1,5 D à graduação recém- determinada. Só assim se chega ao erro de refração real do olho examinado. Essa adição equivale ao inverso da distância de exame, tomado em metros; se for distin- ta de 0,67 m, ela deverá ser devidamente modificada. Término do exame Na retinoscopia, a única posição em que o ponto remoto pode ser detectado é quan- A B Figura 6 Faixa luminosa do retinoscópio e reflexo retinopupilar. A. Condição de desalinha- mento. B. Condição de alinhamento. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 8 06/03/2017 21:06:10 Refratometria Ocular 9 do ocupa o orifício de observação do re- tinoscópio. O examinador vai colocando lentes diante do olho examinado até que o ponto remoto ocupe essa posição. Nela, o reflexo retinopupilar vira um borrão e não se consegue mais detectar movimentos, contra nem a favor. É o término do exa- me. Como independe da informação do paciente, o teste é dito objetivo. O ponto em que o reflexo retinopupilar vira um borrão, chama-se ponto (ou zona) de neutralização. A lente necessária para produzir esse fenômeno chama-se lente de neutralização. O nome advém do fato de o reflexo não ser mais nem contra nem a favor (Figura 7A). Guiando-se pelo reflexo No teste de lentes, a pista para a escolha da lente que vai colocar o ponto remoto em uma posição conhecida é a melhora progressiva da visão. Na retinoscopia, ela baseia-se no movimento do reflexo retino- pupilar relativo ao movimento da faixa do retinoscópio. Se ele acompanha o sentido da faixa (movimento a favor), aumenta-se o poder das lentes positivas ou diminui- se o das negativas, antepostas ao olho. Se o reflexo for oposto ao sentido da faixa (movimento contra), aumenta-se o poder das lentes negativas ou diminui-se o das positivas. A lógica do comportamento des- ses reflexos está na posição do ponto re- moto relativo ao examinador. Movimentos contra e a favor Quando o ponto remoto ocupa a região entre o paciente e o examinador, os raios que partem do olho examinado cruzam- se antes de alcançarem o retinoscópio. Por causa desse cruzamento, o examina- dor percebe um movimento contra, que o alerta sobre essa situação (Figura 7B). Ele então utiliza lentes negativas que, dimi- PR PR PR PR A B C D Figura 7 PR. Pon- to remoto. A. Ponto de neutra- lização. B. Movi- mento contra. C e D. Diferentes si- tuações dos movi- mentos a favor. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 9 06/03/2017 21:06:10 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica10 nuindo a convergência desses raios, “em- purram” o ponto remoto na direção do instrumento. Quando o ponto remoto não estiver nessa região, ele estará atrás do exami- nador ou do paciente (Figura 7C e D). Em ambas as situações, a luz que parte do olho examinado não sofre cruzamento antes de alcançar o aparelho. Por isso, o movimento é a favor. O uso de lentes con- vergentes justifica-se pelo seguinte: se o ponto remoto estiver atrás do examinador (Figura 7C), as lentes positivas, aumen- tando a convergência dos raios emergen- tes, “puxam-no” para o retinoscópio, por trás do retinoscopista. Se o ponto remoto estiver atrás do paciente (Figura 7D), pri- meiro ele se desloca mais para trás, até o infinito. Isto porque as lentes positivas, ao tornarem os raios emergentes mais pa- ralelos, “empurram” o ponto remoto para trás. Daí em diante, ele é puxado do in- finito para o retinoscópio, dessa vez por trás do retinoscopista. O ponto remoto, na trajetória de ida ao infinito e de vol- ta deste, é influenciado pelo aumento da graduação das lentes positivas antepostas ao olho examinado. Ressalte-se que, na prática, não se tra- balha com movimentos contra. Com eles fica mais difícil determinar o ponto de neutralização. Por isso, sempre que eles aparecem, o examinador adiciona lentes negativas suficientes para torná-los a favor e continua o exame até a neutralização. Conjugando a retina ao infinito O objetivo da retinoscopia é determinar o erro de refração, ou melhor, a lente que conjugue a retina ao infinito. Como, no fi- nal da retinoscopia, o ponto remoto ocupa o orifício de observação do retinoscópio, a retina estará conjugada com o instrumen- to, e não com o infinito (Figura 8A). Para transportar o ponto remoto do retinoscópio para o infinito, é necessá- rio anular a convergência dos raios que, emergindo do olho, se dirigem para o ori- fício de observação do instrumento. Isso é feito associando-se uma lente divergente à lente do final da retinoscopia (Figura 8B). Não uma lente divergente qualquer, mas uma cujo foco coincida exatamente com o orifício de observação do retinoscópio. Com isso, a luz que se dirige para o ponto remoto passa obrigatoriamente pelo foco de uma lente negativa e, por isso, emer- ge paralela. A distância focal dessa lente corresponde, pois, à distância que separa os óculos do orifício de observação do re- tinoscópio. Como o poder da lente é dado pelo inverso da distância focal, tomado em metros, se o retinoscópio estiver a 0,67 m dos óculos, seu poder será de –1,50 D. Na prática, o refratometrista simplesmen- te soma –1,5 D ao valor da retinoscopia. No jargão oftalmológico, ele “desconta” 1,5 D. A luz que entra no olho Insistimos que, para se compreender a re- tinoscopia, é preciso raciocinar com os raios que saem do olho. E os que entram, não têm influência? A resposta é que eles determinam o sentido da varredura da luz na retina do paciente. Na verdade, todas as considerações deste artigo, relativas à retinoscopia, partiram do pressuposto que a luz projetada não sofreu cruzamento an- tes de alcançar o olho examinado. Racio- Refratometria Ocular - Cap-01.indd 10 06/03/2017 21:06:10 Refratometria Ocular 11 cinou-se, portanto, com luz divergente, ou seja, com o cursor na posição do espelho plano, que é a forma usual de exame. Nes- sa posição, a varredura da retina acompa- nha a rotação do retinoscópio. Entretanto, se a luz tivesse sofrido cruzamento, antes de alcançar o olho do paciente, a varredu- ra da retina seria oposta à do instrumen- to. Isto corresponderia ao uso do cursor na posição do espelho côncavo. Para se determinar a posição do espe- lho côncavo, basta ver qual a posição do cursor que gera um feixe luminoso con- vergente, com foco a aproximadamente 25 cmde distância. Essa é a posição a ser evitada nos exames de retinoscopia, a me- nos que se queira raciocinar de maneira invertida. Em resumo, o modo como o observa- dor vê o movimento do reflexo retinopupi- lar acaba sendo influenciado, não só pela luz que sai, como também pela que entra no olho. Se houver cruzamento de raios na ida ou na volta, o movimento será contra. Se houver cruzamento em ambos os senti- dos, um anula o outro e o movimento passa a ser a favor. Se não houver cruzamentos, o movimento também será a favor. Fontes de erro Na retinoscopia, a acomodação é indese- jada porque modifica, de maneira impre- vista, o poder refrativo do olho durante o exame. A falta de controle da acomoda- ção é, entre todas as fontes de erro, a mais grosseira. Outro erro é a disparidade entre a dis- tância de trabalho e o desconto pós-refra- tométrico. O refratometrista escolhe uma distância de trabalho e, durante o exame, muda de posição. Se o cálculo do descon- to não levar em consideração essa mudan- ça, o valor real da ametropia não será cor- retamente determinado. Um terceiro erro relaciona-se à posi- ção de uso dos óculos. O poder das lentes corretoras é, geralmente, determinado no refrator para uso nos óculos. Se a posição de teste for distinta da posição de uso, es- tará configurado um erro de distância vér- tice: a distância vértice das lentes de tes- te não corresponde à distância vértice das lentes dos óculos. Os valores dióptricos desse erro são proporcionais à disparidade nas distâncias vértices e à magnitude das graduações envolvidas. 8 PR + f A B Figura 8 Conjugando o ponto re- moto ao infinito. A. Final da re- tinoscopia. B. Distância focal da lente que promove a conjugação do ponto remoto (PR) ao infinito. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 11 06/03/2017 21:06:10 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica12 Detalhes técnicos Sabe-se que, quanto menor a distância de trabalho, maior a possibilidade de erro. Por outro lado, em distâncias maiores que 66 cm, a quantidade de luz que entra no olho diminui muito, reduzindo o brilho do reflexo do fundo de olho. Pequenos movimentos na posição do retinoscópio provocam grandes movimentos da luz no rosto do paciente, gerando dificuldades em manter a luz no olho do examinado. A dificuldade de troca das lentes também aumenta. Ponderando-se as vantagens e desvantagens, chegou-se ao consenso de que a melhor distância é 67 cm. Esse nú- mero facilita a operação matemática e re- presenta a distância do braço da maioria dos indivíduos, simplificando a troca de lentes. Existem características do reflexo reti- nopupilar que permitem saber se estamos próximos ou distantes do ponto de neutra- lização, e seu conhecimento permite en- curtar o tempo de exame. Suas três princi- pais características são: velocidade, brilho e largura. Quanto mais próximo o pon- to remoto estiver do retinoscópio, maior a velocidade do reflexo. Erros refrativos grandes têm movimento do reflexo len- to. Quanto mais distante o ponto remoto estiver do retinoscópio, mais opaco o re- flexo. Erros refrativos grandes têm reflexo opaco. Ele torna-se progressivamente mais brilhante ao aproximar-se da neutraliza- ção. Quanto mais distante o ponto remoto estiver do retinoscópio, mais estreito o re- flexo. Ele torna-se progressivamente mais largo ao aproximar-se da neutralização. No ponto de neutralização, ele preenche toda a pupila. Tecnicamente, não há um ponto de neutralização, mas uma zona óptica de neutralização, não claramente definida, devido à aberração esférica do olho nor- mal. Muitas vezes, ao nos aproximarmos da neutralização, observamos padrões bi- zarros de reflexos, como o reflexo antípo- da. Na esclerose lenticular, por exemplo, a porção central do reflexo move-se na di- reção oposta da porção periférica (porção periférica com maior poder refrativo que a central). O examinador deve prestar aten- ção na porção central do reflexo e ignorar a porção periférica. Astigmatismos irregulares podem gerar enorme variedade de aberrações. O mais comum é o reflexo em tesoura, produzido quando uma parte da óptica ocular é míope e outra hipermetrope, em relação à posição do retinoscópio. O examinador deve obser- var a região central da pupila, tentando neu- tralizar os 3 mm centrais, mas isso nem sem- pre é possível. Esse reflexo é frequentemente produzido por ectasias da córnea e, mais ra- ramente, por torções do cristalino. Na presença de astigmatismo, não é possível neutralizar todos os meridianos do olho com uma única lente. Entretan- to, o vício de refração poderá ser perfeita- mente definido determinando-se os pontos de neutralização dos seus dois meridianos principais. Esses meridianos correspon- dem aos meridianos corneanos de maior e menor curvatura e que, habitualmente, formam ângulo de 90° entre si. Existem dois modos de determinar o erro refrativo nesses casos: neutralização com graus esféricos e neutralização com esferas e cilindros. No primeiro caso, para se trabalhar apenas com reflexos a favor, Refratometria Ocular - Cap-01.indd 12 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 13 que permitem a percepção da neutraliza- ção com maior facilidade, inicia-se o tes- te colocando-se lentes esféricas negativas diante do olho testado, até que ambos os reflexos se movimentem no mesmo sentido da faixa do retinoscópio. Então, mediante a adição progressiva de lentes esféricas con- vergentes (ou subtração de lentes divergen- tes), neutraliza-se primeiro um meridiano e depois o outro. A velocidade, largura e bri- lho do reflexo, obviamente, diferirão nesses meridianos. Ao valor dióptrico, obtido para cada meridiano, soma-se –1,5 D (1/0,67 m) para conjugar os respectivos pontos re- motos ao infinito. Finalmente, arranjam-se matematicamente os dados em uma pres- crição esferocilíndrica. No segundo caso, com ambos os reflexos a favor, tal como no teste anterior, primeiro neutraliza-se um meridiano, com a adição progressiva de lentes esféricas convergentes (ou subtração de lentes divergentes). O segundo meridia- no é, então, neutralizado com cilindro po- sitivo, colocado na direção do meridiano a ser neutralizado. A desvantagem desse mé- todo é a necessidade de uso de cilindros positivos. Quatro características do reflexo reti- nopupilar podem auxiliar na determina- ção dos meridianos principais do astigma- tismo: regularidade, largura, intensidade e inclinação. Irregularidades e o aumen- to da largura do reflexo tendem a ocorrer quando a faixa está fora do meridiano. A intensidade do reflexo é maior quando a faixa está alinhada. A inclinação do refle- xo retinopupilar é relativamente indepen- dente. Por isso, se a faixa do retinoscópio não estiver na posição certa, será perce- bida uma discrepância na direção de am- bas. Essa discrepância, entre todas as ca- racterísticas descritas, é a de maior valor diagnóstico. São condições necessárias para exame acurado de retinoscopia: fixação, alinha- mento do retinoscópio e relaxamento da acomodação. Para manter os olhos relati- vamente imóveis, o paciente necessita de um alvo de fixação frontal, com distância e características que não excitem a aco- modação. Pode ser uma luz – de prefe- rência azul – ou um desenho grande, com poucos detalhes, situado a 5 m ou mais. A acomodação deve ser controlada de pre- ferência com cicloplegia. Cada olho do examinador testa o olho ipsilateral do pa- ciente, garantindo assim excentricidade mínima do retinoscópio com os eixos vi- suais da pessoa examinada. Com o olho oposto, o paciente fixa o alvo escolhido. A retinoscopia ainda é o melhor méto- do de avaliação objetiva do estado refra- tivo do olho. Em mãos experientes, mede as ametropias, com margemde erro de 0,25 D. A retinoscopia apresenta limita- ções, nos casos de perda de transparência dos meios refrativos (catarata, opacidade corneana) ou de aberrações de ordem ele- vada, motivadas por ectasias corneanas, como no ceratocone. O teste da retinoscopia deve ser ime- diatamente seguido por um teste de lentes, para o refinamento dos achados objetivos. Um novo teste de lentes, sem cicloplegia, ajuda a determinar a prescrição associada à melhor visão e conforto do paciente. Refratometria computadorizada No início, a refratometria ocular era rea- lizada com o uso de lentes de provas e o Refratometria Ocular - Cap-01.indd 13 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica14 resultado era refinado com o emprego de técnicas objetivas e subjetivas. Posterior- mente, surgiram os refratores, que simpli- ficaram a troca mecânica das lentes de provas. A partir disso, houve tendência crescente à automatização das técnicas de refração e muitos instrumentos foram de- senvolvidos para determinar a magnitude da ametropia.16 A maioria dos refratores computadoriza- dos baseia-se em dois princípios. O primei- ro é o princípio do optômetro, no qual uma única lente convergente é usada (em lugar da substituição manual de lentes de provas). Um objeto colocado no foco principal dessa lente origina raios de luz que chegam à lente e atingem a pupila paralelos. A partir daí, a vergência dos raios de luz depende do esta- do refrativo do olho. Na emetropia, os raios de luz são focalizados na retina e emergem novamente da pupila paralelamente, sendo focalizados pela lente objetiva na posição do objeto de prova. Na miopia, os raios emergentes são convergentes e a imagem é formada an- tes do objeto de prova. Ao contrário, na hipermetropia, os raios de luz são diver- gentes e a imagem é formada em um pon- to mais distante da posição do objeto de prova. Os refratores que se baseiam nesse princípio têm a capacidade de detectar a vergência dos raios emergentes e determi- nar a posição dessa imagem em relação ao objeto de prova. Realizam a leitura do poder dióptrico da lente corretiva necessá- ria para trazer o indivíduo à condição de emetropia (trazer a imagem à posição do objeto de prova).17 O segundo princípio frequentemente utilizado envolve variações do princípio de duplo buraco estenopeico de Scheiner, que se baseia no posicionamento de duplo bu- raco estenopeico diante da pupila. Um ob- jeto de prova, observado por meio dessas aberturas, forma a imagem na retina, que pode ser única (se o objeto estiver conju- gado à retina, ou seja, no ponto remoto do olho) ou dupla (nas ametropias). No último caso, o ajuste necessário na posição desse objeto, até que ele apareça único, permite determinar a correção refrativa.17 Os primeiros optômetros apresentavam três problemas principais que limitavam seu uso na prática da refratometria: proble- mas no alinhamento, na presença de astig- matismo irregular e na acomodação. Pelo princípio de Scheiner, qualquer prejuízo no alinhamento das aberturas estenopeicas com a pupila, durante a realização das me- didas (p. ex., pela movimentação dos olhos do paciente), invalidaria essas medidas ou forneceria estimativas incorretas de ametro- pia. Seria, portanto, necessário contar com grande habilidade e paciência do examina- dor, bem como com considerável coopera- ção do paciente. O princípio de Scheiner considera que as medidas obtidas através dos dois bu- racos estenopeicos sejam representativas da óptica ocular como um todo. Mas, na presença de irregularidades ópticas, mes- mo que pequenas (como existe na maioria dos olhos) ou em astigmatismos irregula- res, a refração obtida com o instrumento poderia ser diferente da real, ou seja, não representativa da magnitude da ametropia do paciente. A experiência mostra que es- sas medidas automáticas objetivas devem ser refinadas subjetivamente, para a ob- tenção de melhores resultados.16 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 14 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 15 A terceira fonte importante de impre- cisão na medida do erro refrativo seria o exercício da acomodação durante a medi- da. A quantidade de acomodação é variá- vel e pode induzir a erros no grau esférico ou cilíndrico. Muitos fatores influenciam a acomodação, como, por exemplo, aten- ção, fadiga, iluminação e detalhes da ima- gem. Nesse sentido, uma variedade de métodos tem sido utilizada para superar esses problemas com algum êxito. Em re- lação à miopia induzida, técnicas de ne- blina, alinhamento e fixação automáticos têm sido introduzidas. Os refratores automáticos disponíveis encaixam-se em cinco categorias: os re- fratores objetivos manuais, os refratores objetivos automáticos (retinoscópios au- tomáticos) sem capacidade de medir AV, os com capacidade de medir AV, os re- fratores automáticos subjetivos e os refra- tores convencionais com controle remoto. Os refratores automáticos manuais neces- sitam de alinhamento manual das miras formadas com luz infravermelha na reti- na do paciente. Os refratores automáticos objetivos fazem a medida refrativa auto- maticamente, usando luz infravermelha, e necessitam de 0,2 a 10 s para realizar as medidas. A maioria deles é puramente objetiva, sem a capacidade de medir AV. Outros, porém, apresentam óptica esfero- cilíndrica inserida, além de tabelas de AV, e permitem também o refinamento subje- tivo do erro refrativo. Os refratores automáticos subjetivos utilizam respostas subjetivas do pacien- te para refinar a correção refrativa final. Requerem maior cooperação do paciente que os objetivos, mas têm a vantagem de fornecer o refinamento subjetivo e a me- dida de AV. Os refratores convencionais com controle remoto são rápidos, impres- sionam, mas exigem a mesma habilidade para a refração que os convencionais. A refratometria computadorizada tem papel estabelecido na prática da refração atual. Esses instrumentos são facilmente opera- dos, mas não substituem a retinoscopia manual. Embora os refratores convencionais e automáticos tenham a capacidade de me- dir erros refrativos esféricos e esferocilín- dricos, não medem astigmatismos irregu- lares. Para a obtenção dessas medidas, são utilizados instrumentos chamados aberrô- metros ou analisadores da frente de onda. Atualmente, existem diversos siste- mas disponíveis para a análise da frente de onda, sendo divididos em sistemas de óptica de saída e de entrada. Os sistemas de óptica de entrada estudam as aberra- ções ópticas do feixe de luz projetado na retina, e os de saída avaliam a frente de onda que sai do olho a partir de um feixe de luz coerente que fora projetado na re- tina e refletido. Desses, atualmente o sis- tema Hartmann-Shack é o mais emprega- do, pois utiliza um feixe de laser (diodo) que é direcionado para a retina (mácula), sendo, a seguir, refletido de volta à pupi- la, passando pelo vítreo, cristalino, pupila, câmara anterior e córnea. Qualquer aber- ração óptica criada por essas estruturas irá determinar uma modificação específica no feixe de luz. Após a saída do olho, esse feixe de luz atravessa um sistema de lentículas que con- centram a frente de onda, que será repre- sentada por uma grade de pontos. Essas in- Refratometria Ocular - Cap-01.indd 15 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica16 formações são capturadas por um sistema de vídeo, de modo que as imagens serão analisadas por comparação com uma fren- te de onda plana, livre de aberrações. As diferenças entre o feixe capturado e a frente de onda plana representarão as aberrações do olho.17 Um dos exemplos do emprego dessa nova tecnologia é o analisador de frentes de onda KR-9.000 PW da Topcon, que incorporarefrator automático, ceratô- metro automático e sistema de mapeamen- to corneano com os benefícios da tecnolo- gia de frente de onda (Figura 9). Testes subjetivos O exame subjetivo pode ser dividido em refratometria dinâmica ou manifes- ta, quando é realizado com os olhos em seu estado natural; refratometria estática ou cicloplégica, quando a acomodação é paralisada com agentes cicloplégicos; e refratometria pós-cicloplégica, quando rea- lizado após o exame cicloplégico e serve para corrigir eventuais discordâncias entre ambas.11 A refratometria cicloplégica é reco- mendada a pacientes com menos de 40 anos de idade, especialmente a portado- res de hipermetropia e/ou astigmatismo hipermetrópico.11 Os cicloplégicos são de grande utilidade porque nos permi- tem conhecer o total do erro refrativo e, a partir dessa informação, adotar as me- lhores estratégias para corrigi-lo (Tabela 3). Os colírios de atropina e homatropi- na não são mais indicados para a obten- ção de cicloplegia no exame de refração. Atualmente, instilamos no fundo de saco conjuntival inferior 1 gota do colírio de ciclopentolato a 1% e esperamos 30 min para realizar o exame. Nos casos em que não se obteve adequada cicloplegia, pre- ferimos a utilização de 1 gota de ciclo- pentolato a 1% associada a 1 gota de tropicamida a 1%. Nos casos apresenta- dos e discutidos neste livro, a cicloplegia foi obtida com a instilação de 1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, com intervalo de 5 min e exame após 40 min. Em alguns pacientes, especialmente os de curta duração (tropicamida a 1,0% e ciclopentolato a 1,0%), podem produ- zir um efeito de atonia, no músculo ci- liar, em tal grau que a potência dióptrica do cristalino vem a ser menor do que em repouso. Nesses casos, o erro pode ser de 0,25 a 0,50 D. Isto pode fazer com que uma correção miópica aparente seja me- nor pela cicloplegia. Nos casos em que o exame cicloplé- gico demonstrar miopia menor do que a atual do paciente, impõe-se a realização Figura 9 Analisador de frente de onda Top- con KR-9.000 PW. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 16 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 17 de novo exame pós-cicloplegia. Em alguns pacientes, o exame sob cicloplegia pode induzir mudança do eixo do astigmatis- mo. Quando, sob cicloplegia, são detecta- das alterações no eixo do astigmatismo em uso, ou na presença de astigmatismos al- tos, sobretudo quando os eixos não são si- métricos em ambos os olhos, deve-se rea- lizar novo exame pós-cicloplegia. Assim, é bom mencionar que, durante a ação do cicloplégico, a pupila dilata 6 a 9 mm, ex- pondo parte da periferia da córnea e do cristalino, que apresentam refração dife- rente da zona central.11,18 Refratometria manifesta ou dinâmica A refratometria dinâmica deve ser prece- dida pela retinoscopia. O paciente é po- sicionado a 6 m da tabela de optotipos. Para a realização do exame, utilizam-se os seguintes métodos: teste com as lentes e técnica de neblina (fogging). No teste com as lentes, cada olho é examinado separadamente. O objetivo é encontrar lentes que corrijam o erro re- frativo e possibilitem a melhor AV possí- vel. Se o paciente pode ler a linha 1,00 da tabela de optotipos, pode-se presumir ausência de miopia. Nesse caso, o pacien- te poderá apresentar emetropia, hiperme- tropia ou astigmatismo. Se lentes esféricas convexas são interpostas e, ainda assim, o paciente consegue ler a linha 1,00, esta será a medida de sua hipermetropia mani- festa. Se o paciente aceita lentes esféricas convexas, porém a AV não melhora para níveis satisfatórios, adicionam-se lentes ci- líndricas, que devem ser movidas em di- ferentes direções, até obter-se o eixo e o poder do cilindro para conseguir o melhor resultado visual. Se o paciente é míope, interpõem-se lentes esféricas côncavas, inicialmente de graus pequenos, que são substituídas por lentes mais potentes até a obtenção da melhor AV possível. Se, ain- da assim, não se lograr a obtenção de AV satisfatória, deve-se presumir presença de astigmatismo. Nessas condições, a coloca- ção de lentes cilíndricas e o ajuste do eixo melhoram a AV. A ceratometria, retinos- copia e o cilindro cruzado auxiliam na de- terminação do astigmatismo. A técnica de neblina ou fogging baseia- se no relaxamento da acomodação que se produz quando se hipercorrige a hiperme- tropia ou hipocorrige-se a miopia. Isto faz com que a linha focal posterior do conoi- de de Sturm se mova diante da retina. O olho, para conseguir uma visão mais clara, relaxa o músculo ciliar, para permitir que a linha posterior do conoide de Sturm se Tabela 3 Ações dos agentes com mais frequência usados para cicloplegia Cicloplégicos Concentração Período de indução Duração Acomodação residual Atropina 0,5-1% 2-3 dias 7-12 dias 1 D ou menos Tropicamida 1% 20-35 min 2- 6 h 1-2 D Homatropina 1-2% 3 h 36-48 h 1-2 D Ciclopentolato 1-2% 25-75 min 6-24 h 1-2 D Fonte: Miranda MN. Apuntes de Refracción. Universidade de Puerto Rico, Apostila, 1975:42.10 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 17 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica18 aproxime mais da retina. A eficácia desse método depende do grau de relaxamento do músculo ciliar conseguido. Os resultados obtidos são variados: em alguns jovens com grande amplitude de acomodação, consegue-se bom grau de relaxamento; em outros com menos aco- modação, consegue-se relaxamento insufi- ciente. Os resultados são melhores quando essa técnica é realizada binocularmente. O olho que não está sendo examinado deve ser mantido com a acomodação relaxada. Na prática, o erro refrativo foi previamen- te estimado pela retinoscopia. Soma-se ao valor estimado lente esférica de +2,50 D (no refrator ou na armação de provas) para ambos os olhos. Assim, a AV deve reduzir- se a menos de 0,10 (20/200). Pede-se ao paciente que fixe a letra maior da tabela de optotipos. Depois do período necessá- rio para obter o relaxamento da acomoda- ção (algumas vezes, até 10 min), reduz-se gradualmente o poder dióptrico da lente do olho que está sendo examinado, 0,25 D de cada vez. Quando o erro refrativo esti- ver hipercorrigido ao redor de +1,50 D, o paciente conseguirá ler 0,10 (20/200). Daí para frente, cada vez que se retira 0,25 D, a AV melhora uma linha da tabela de opto- tipos. Quando a AV alcançar 0,50 (20/40), testa-se a presença de astigmatismo, que será corrigido até conseguir-se a melhor AV. A esse olho, agora se adicionam +2,50 D e procede-se ao exame do olho contra- lateral. Teste do dial O teste é realizado monocularmente, com o outro olho ocluído ou miopizado. O olho examinado deve ter reduzida sua miopização para permitir AV entre 0,67 (20/30) e 0,50 (20/40) (Figura 10). Figura 10 Notar na ocular direita +2,00 D, porque, ao erro refrativo +1,25 D, está acres- centado +0,75 D para relaxar a acomodação e permitir AV entre 0,67 e 0,50. A ocular es- querda está ocluída. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 18 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 19 Figura 11 Teste do dial. Para o paciente sem astigmatismo, to- das as linhas radiais têm a mesma nitidez. Na presença de astigma- tismo, as linhas radiais não são vistas igualmente nítidas. Figura 12 Figura de Lancaster e Rea- gan, que tem a forma de sol radiado, com raios negros de 5 mm sobre um fundo branco, separados de 10°. O paciente com astigmatismo não pode ver todas as linhas da carta astigmática com a mesma nitidez. As linhas que são vistas com a maior nitidez e a que é vista com a menor nitidez correspondem aos meridia- nos principais. O eixo do cilindro negativo corretor é colocado perpendicular à linha radial de maior nitidez (Figura 11). As cartas astigmáticasutilizadas com mais frequência são as de Snellen, o T de Taylor, o relógio de Wecker, as flechas de Raubitscheck, o V de Maddox e a figura de Lancaster modificada por Regan (Figura 12). Teste do cilindro cruzado O teste é realizado monocularmente sem necessidade de miopização do olho exa- minado. O cilindro cruzado de Jackson é constituído de dois cilindros de igual valor (± 0,25 D ou ± 0,50 D), um positivo e outro negativo, com eixos perpendiculares e um cabo equidistante desses eixos (Figura 13). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 19 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica20 Anteposto ao olho do paciente, o ci- lindro cruzado induz a astigmatismo e po- demos, girando o cabo, inverter a posição dos cilindros positivo e negativo. O cilindro cruzado causa um movi- mento simultâneo das linhas focais, ante- rior e posterior, do conoide de Sturm em um grau igual e oposto, produzindo, co- mo consequência, um astigmatismo misto igual, porém de valor oposto nos meridia- nos principais. A técnica do cilindro cruza- do presume que a melhor visão se alcan- ça quando o círculo de menor confusão cai na retina e requer que este permaneça nela durante a prova. Para a determinação do eixo do cilin- dro, o paciente deve fixar duas ou três le- tras da menor linha de optotipos que con- segue ver. Coloque no refrator um cilindro corretor aproximado, ponha o cabo do cilindro cruzado paralelo com o eixo do cilindro do refrator. Nessa posição, os ei- xos dos cilindros cruzados ficam a 45° do cilindro corretor. Pergunte ao paciente se nota diferença quando move o cilindro de um lado para o outro; se não notar diferen- ça, o eixo encontra-se na posição exata, e, se notar diferença, o eixo do cilindro deve ser movido na direção do cilindro nega- tivo do cilindro cruzado (no refrator cor- responde ao ponto vermelho) (Figuras 14 e 15). Para a determinação do poder do as- tigmatismo, o cilindro cruzado deve ser rodado 45° no sentido horário do relógio, quando coincidem os eixos do cilindro negativo do cilindro cruzado e do cilindro do refrator (Figuras 16 e 17). O paciente deve fixar duas ou três le- tras da menor linha de optotipos que con- segue ver. Em seguida, deve-se girar o cabo do cilindro cruzado. Se o paciente referir melhor visão com o eixo do cilin- dro negativo do cilindro cruzado sobre o eixo do astigmatismo previamente deter- minado, adiciona-se 0,25 D de poder ao cilindro (no refrator, par de pontos verme- lhos). Enquanto o paciente referir melhor visão com o eixo do cilindro negativo do cilindro cruzado, adicionamos 0,25 D de poder ao cilindro. Caso refira melhor visão com o eixo do cilindro positivo do cilindro cruzado sobre o eixo do astigmatismo pre- viamente determinado, reduzimos 0,25 D de poder ao cilindro (par de pontos bran- cos). O valor do poder do cilindro estará determinado quando não houver diferen- ça de visão entre as duas posições do ci- lindro cruzado. Para a determinação do valor da adição de perto, o cilindro cruzado deve ser utili- zado com a tabela de leitura de perto de Jaques. Essa tabela consiste em três linhas paralelas verticais de 1 polegada de largura cruzadas no centro por três linhas horizon- tais. O teste pode ser feito monocular ou Figura 13 Cilindro cruzado de Jackson. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 20 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 21 Figura 14 Determinação do eixo do cilindro refrativo. Note que os eixos do cilindro estão a 45° do cilindro corretor. Movimente o cilindro de uma posição para outra. Figura 15 Determinação do eixo do cilindro refrativo. Se o paciente notar diferença na visão quando movimenta o cilindro cruzado de um lado para outro, o eixo do cilindro deve ser deslocado na direção do cilindro negativo (no refrator, corresponde ao ponto vermelho). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 21 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica22 Figura 17 Determinação do poder do cilindro refracional. Note que o cilindro cruzado foi rodado 45° no sentido horário do relógio, para fazer coincidir os eixos do cilindro positivo do cilindro cruzado e do cilindro do refrator. Se o paciente referir melhor visão com o eixo do cilindro positivo do cilindro cruzado, reduzimos 0,25 D de poder ao cilindro (no refrator, corresponde ao par de pontos brancos). Figura 16 Determinação do poder do cilindro refrativo. Note que o cilindro cruzado foi ro- dado 45° no sentido horário do relógio, para coincidir os eixos do cilindro negativo do ci- lindro cruzado e do cilindro do refrator. Se o paciente referir melhor visão com o eixo do cilindro negativo do cilindro cruzado, adicionamos 0,25 D de poder ao cilindro (no refrator, corresponde ao par de pontos vermelhos). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 22 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 23 binocularmente. Com a correção do erro refrativo de longe no refrator, coloca-se o cilindro cruzado de ±0,50 D com o eixo negativo a 90°. A tabela de leitura deve ser colocada na distância apropriada. Para o paciente presbita, as linhas horizontais apa- recerão mais negras que as verticais. Adi- cionam-se lentes positivas de +0,25 D até que o paciente veja as linhas horizontais e as verticais igualmente negras (nítidas). Essa é a quantidade de adição necessária para perto. Se o paciente não for presbita, as linhas horizontais e verticais aparecerão igualmente nítidas (Figura 18). Teste do buraco estenopeico É um teste subjetivo muito útil para dife- renciar se a redução da AV dá-se por ra- zões ópticas ou não ópticas, visto que o buraco estenopeico reduz os círculos de difusão na retina (Figura 19). Se o paciente com baixa visão vê melhor através do bu- raco estenopeico, a indicação é de que a redução de sua visão é decorrente do erro refrativo ainda não adequadamente cor- rigido. Quando a redução da visão se dá por ambliopia ou opacidades do meio, ge- ralmente a AV não melhora, podendo in- clusive diminuir. Figura 18 Determinação da adição de perto com a utilização de cilindros cruzados negati- vos de ± 0,50 D com eixo a 90°. Colocadas a correção do erro refrativo e a adição de perto, o paciente presbita vê as linhas horizontais e verticais da tabela de Jaques igualmente nítidas. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 23 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica24 Teste bicromático (vermelho/verde) Trata-se de método rápido para refinar a refratometria subjetiva, a fim de evitar su- per ou subcorreções. É um teste subjetivo baseado no princípio da aberração cromá- tica; ou seja, a luz branca, ao atravessar uma lente, tem seu foco dividido em vá- rios planos, um para cada comprimento de onda que a compõe, de tal modo que o foco da cor verde situa-se mais próximo do cristalino, e o da cor vermelha, mais afastado. Quando se utiliza o filtro ver- melho/verde do projetor de optotipos, ob- serva-se que o hipermetrope tem melhor visão no fundo verde e o míope no verme- lho (Figura 20). Quando, no final do teste, o míope referir melhor visão no verde (o T E P L H V T E P L H V T E P L H V T E P L H V T E P L H V T E P L H V A B C Figura 19 Teste do buraco estenopeico. Note o buraco estenopeico na ocular direita. A ocu- lar esquerda está ocluída. Figura 20 Resultados do teste bicromático para o olho emetrope (A), míope (B) e hi- permetrope (C). hipermetrope no vermelho), isto indica su- percorreção. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 24 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 25 Teste do balanceamento refratométrico binocular Todas as medidas de alinhamento e aco- modação requerem o refinamento do exame refratométrico com o testedo ba- lanceamento binocular.19 Para realizá-lo, inicialmente mantemos a ocular direita do refrator aberta e ocluímos a esquerda. Em seguida, adicionamos lentes positivas, +0,25 D de cada vez, até que, com o OD, o paciente identifique com dificuldade letras da linha de optotipos 0,67 (20/30). Repetimos o mesmo procedimento para o OE, com o OD ocluído. Nesse ponto, po- sicionamos os prismas rotatórios de Risley, sendo 3 ∆ BS na ocular direita e 3 ∆ BI na ocular esquerda (Figura 21) e acrescenta- mos +0,75 D para cada olho (AO), para relaxar a acomodação. Realizamos, então, o balanço dissociado, acrescentando lente positiva ao olho que enxergar mais claro, até que AO estejam igualmente borrados. Então, removemos os prismas de Risley e adicionamos lentes negativas (–0,25 D de cada vez em AO), até que o paciente con- siga ler 1,33 (20/15) ou 1,00 (20/20). TESTES DE AVALIAÇÃO DE ACOMODAÇÃO E DE VISÃO BINOCULAR EM PACIENTES NÃO ESTRÁBICOS A avaliação da visão binocular envolve medidas de foria, da relação AC/A, das amplitudes de vergências e da estereopsia. Testes de cobertura e prisma-cobertura (na ausência de estrabismo) Os testes de cobertura e prisma-cobertu- ra são métodos objetivos de avaliar a pre- sença, direção e magnitude das forias. Figura 21 Balanceamento refratométrico binocular. Note a colocação dos dois prismas rota- tórios de Risley girados em direção oposta, sendo 3 ∆ BS na ocular direita e 3 ∆ BI na ocular esquerda. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 25 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica26 Durante a execução dos procedimentos, devemos controlar a acomodação. Com subacomodação ocorre superestimação da exoforia ou hipoestimação da esofo- ria; com hiperacomodação, obtêm-se re- sultados opostos.11,14,19 Para a realização dos testes, necessitamos da projeção de uma letra isolada da tabela de optotipos de longe, equivalente a 0,67, ou de duas linhas acima da AVcc, de uma figura de acomodação posicionada a 40 cm da face do paciente, um oclusor e uma caixa ou régua de prismas. Instruímos o paciente para fixar um optotipo 0,67 da tabela de AV de longe. Em seguida, ocluímos OD e observamos o OE, enquanto o OD é coberto. Depois, ocluímos o OE e observamos o OD en- quanto o OE é coberto. Permitimos ao paciente um tempo adequado para po- der refixar o optotipo da tabela de AV de longe. Para iniciarmos a medida da foria, se- lecionamos prismas de poder baixo. En- tão, cobrimos um olho com o oclusor, po- sicionamos o prisma por detrás do oclusor (o olho descoberto é o olho fixador), alter- namos o oclusor de um olho para outro e observamos apenas o movimento do olho por detrás do prisma. Interpomos pris- mas de diferentes poderes até obtermos a neutralidade do movimento. Anotamos a magnitude do poder e a base do prisma. Repetimos, agora, o procedimento para perto, utilizando a figura de acomodação colocada a 40 cm. Os valores esperados de foria de longe são 1 ∆ exoforia com desvio-padrão de ± 2 ∆; e de perto, 3 ∆ exoforia com desvio- padrão de ± 3 ∆ (Tabela 4).19 Tabela 4 Resultados esperados de alguns dos testes de visão binocular Testes Valores esperados Desvio-padrão Amplitude/acomodação 18,50 – 0,30 × idade (anos) ± 2 ∆ PPC 15 cm ± 3 cm Cobertura/prisma foria horizontal – distância 1 exoforia ± 2 ∆ – perto 3 exoforia ± 3 ∆ Relação AC/A 4:1 ± 2 Vergência horizontal Distância/prisma BN 6 – 8 ± 3 ∆ Perto/prisma BN 12 – 15 ± 4 ∆ Distância/prisma BT 15 – 20 ± 8 ∆ Perto/prisma BT 25 – 30 ± 6 ∆ Fonte: Scheiman M, Wick B. Clinical Management of Binocular vision. heterophoric, Accomodative, and Eye Moviment Disorders. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins, 2002; 3-118.19 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 26 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 27 Medida de foria horizontal Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refrator e mostramos ao paciente uma coluna hori- zontal de optotipos 0,67 (20/30) da tabela de AV de longe. Em seguida, colocamos o prisma de 6 ∆ BS presente no dial da ocu- lar direita e o prisma rotatório de Risley na ocular esquerda (inicialmente ajustado no zero) (Figura 22). Assim, haverá disso- ciação das imagens, e a coluna horizontal de optotipos será observada inferiormente pelo OD e superiormente pelo OE. Se houver deslocamento das colunas de optotipos, movemos o prisma rotatório de Risley até o paciente informar o alinha- mento das imagens. Se, no ponto do ali- nhamento das imagens, o prisma rotatório do OE estiver ajustado com BN, registra- mos o resultado como exoforia; se com Figura 22 Medida de foria horizontal. Note o prisma de 6 ∆ BS no dial da ocular direita e o prisma rotatório de Risley na ocular esquerda. Havendo deslocamento, mova o prisma rota- tório de Risley (ocular esquerda) até o paciente informar o alinhamento das imagens. BT, como esoforia. Por exemplo, registro de 3 ∆ BT (3 ∆ esoforia) e sem desvio-zero (ortoforia). Valores de longe esperados da medida de foria horizontal: 1 ∆ exoforia com desvio-padrão de ±2 ∆ (Tabela 4).19 Devemos agora repetir o procedimento para perto: colocamos o cartão de leitura a 40 cm e mostramos ao paciente uma letra isolada ou uma coluna horizontal de letras equivalentes a 20/30. Valores esperados: 3 ∆ exoforia com desvio-padrão de ± 3 ∆ (Tabela 4).19 Medida de foria vertical Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refrator e mostramos ao paciente um único opto- tipo correspondente a 0,67 (20/30) da ta- bela de AV de longe. Em seguida, instruí- Refratometria Ocular - Cap-01.indd 27 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica28 mos o paciente para abrir AO. Colocamos o prisma de 10 ∆ BI presente no dial es- querdo e o prisma rotatório de Risley na ocular direita (inicialmente, ajustado no zero) (Figura 23). Haverá dissociação das imagens. Se o optotipo direito ficar inferior ao esquerdo, haverá hiperforia direita; se o esquerdo situar-se inferior ao direito, ha- verá hiperforia esquerda. Havendo deslo- camento, movemos o prisma rotatório de Risley (OD) até o paciente informar o ali- nhamento das imagens e, então, anotamos a magnitude e a direção do prisma. Medida de foria horizontal com a vareta de Maddox Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refrator, e mostramos ao paciente um foco redondo de luz projetado na tela da tabela de AV de longe. Em seguida, colocamos a vare- ta de Maddox com orientação horizontal (vai criar uma linha vertical) na ocular es- querda, para provocar dissociação. Colo- camos, então, o prisma rotatório de Risley na ocular direita, na posição para introdu- zir prisma de base horizontal (Figura 24). Informamos ao paciente que duas ima- gens deverão ser observadas: uma corres- pondente ao foco de luz e a outra, à linha vertical. Enquanto movemos o prisma rota- tório, solicitamos ao paciente olhar o foco de luz e observar que ele estará se des- locando em direção à linha, até alinhar- se a ela. O olho que observa a luz torna- se o fixador, enquanto o que está atrás da vareta de Maddox desvia-se. Se o pacien- te informar a linha à direita da luz, trata- se de esoforia; se houver cruzamento de imagem, exoforia. Se, no ponto de alinha- Figura 23 Medida de foria vertical. Note a colocação do prisma de 10 ∆ BI no dial esquerdo e a colocação do prisma rotatório de Risley na ocular direita para medida da foria. Mova o prisma rotatório de Risley (OD) até o paciente informar o alinhamento das imagens. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 28 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 29 Figura 24 Medida de foria horizontal. Note a vareta
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