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DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 1 Aula 5: Análise Criminal ........................................................................................................... 2 Introdução ............................................................................................................................ 2 Conteúdo............................................................................................................................... 3 Mapeamento da criminalidade .......................................................................................... 3 Métodos de mapeamento mais utilizados ...................................................................... 5 Elementos de um mapa ...................................................................................................... 7 Tipos de informação dos mapas ....................................................................................... 8 Mapa temático ...................................................................................................................... 8 Cuidados na interpretação das informações ................................................................ 16 Outras opiniões sobre a pesquisa IPEA .......................................................................... 18 Atividade proposta ............................................................................................................. 19 Aprenda Mais ..................................................................................................................... 19 Referências ......................................................................................................................... 21 Exercícios de fixação ........................................................................................................ 23 Chaves de resposta ................................................................................................................ 29 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 2 Introdução Nesta aula, estudaremos os mapas criminais mais utilizados e como eles são desenvolvidos. Todo ano, várias pesquisas de criminalidade são publicadas com o uso de dados oficiais de segurança pública; entenderemos como podemos interpretá-las e que cuidados devemos observar evitando interpretações imprecisas na análise criminal. Objetivo: 1. Entender como é feito o mapeamento da criminalidade e de que maneira ele pode influenciar no planejamento e nas pesquisas de segurança pública; 2. Identificar os cuidados necessários na interpretação dos resultados da análise criminal. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 3 Conteúdo Mapeamento da criminalidade O mapeamento da criminalidade seria a representação visual da distribuição espacial dos dados de registros de delitos por meio de mapas. Essa é uma das técnicas mais utilizadas na análise criminal para a produção de conhecimento necessário ao planejamento operacional. Aliado às técnicas estatísticas de processamento de dados, o geoprocessamento torna-se ferramenta imprescindível na gestão da informação focada em prevenção e redução dos delitos. Muita coisa evoluiu desde a época em que os antigos mapas estáticos não podiam ser manipulados ou investigados e os pontos de criminalidade eram marcados com um conjunto de alfinetes (às vezes com cores e tipos diferentes para diferenciar o que se queria classificar). Ao longo dos anos, com a evolução da informática, o processamento de imagens passou a ser mais corriqueiro, o acesso a equipamentos e softwares ficou mais fácil, e o desenvolvimento de mapas, que antes levavam semanas para ficarem prontos, hoje pode ser feito com apenas alguns cliques. Normalmente, o processo de produção de um mapa criminal inicia-se com a coleta de dados dos registros criminais introduzidos no banco de dados. Realizado o processamento dos dados por meio de técnicas estatísticas para filtrar os delitos no período requerido ao estudo, utilizando-se um software de SIG, os dados são geoposicionados por meio da conversão do endereço em uma coordenada geográfica e, dessa forma, transferidos a uma base geográfica. As tecnologias mais recentes de manipulação de mapas permitem até que se construam mapas na web, como é o caso do WikiCrimes. O uso de sistemas de DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 4 GPS para obter automaticamente informações sobre a área a ser patrulhada impacta substancialmente a qualidade do serviço prestado. Deve-se ressaltar que o mapeamento da criminalidade serve como um instrumento e mais uma fonte de informação disponível para o planejamento da atuação policial. Veja, um exemplo de uso da tela inicial do WikiCrimes. Atenção Cabe observar que a produção com qualidade de tais mapas carece ainda de um processo de conscientização dos agentes para o preenchimento mais adequado das referências de localização. É comum ver a localização da ocorrência escrita com carência de dados, ou seja, de forma incompleta ou incompreensível. A partir da localização dessas informações, inúmeras medidas podem ser tomadas, como a identificação dos melhores recursos a serem empregados nas atividades de policiamento. Como afirma Azevedo (2012), “teoricamente, parte- DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 5 se do pressuposto de que deva ser aplicado maior efetivo onde ocorrem mais crimes, mas é importante também considerar que a base de chamadas de emergência e as redes de apoio e atendimento locais também podem contribuir para produzir uma maior sensação de segurança”. Nesse sentido, Harries (1999, p. 7) ressalta que “os mapas e outros gráficos são basicamente figuras de informação, aquelas figuras proverbiais que valem mais que mil palavras. Se bem feitos, passam sua mensagem mais ou menos de uma só vez”. Acompanhe, a seguir, os meios de mapeamentos mais utilizados. Métodos de mapeamento mais utilizados Para Groff (2001, p. 34), existem diversos métodos de mapeamento criminal, sendo os mais comuns os seguintes: Hot spot (ponto-quente): É a metodologia mais utilizada na análise criminal. Representa os pontos com maior incidência de crimes, assumindo que essas localizações se manterão no futuro. Pode ser muito útil para a investigação do deslocamento do crime por comparar instantes do passado, como se estivéssemos comparando fotografias de um mesmo objeto, assim como para o planejamento; porém, teremos melhores resultados quando aplicado a séries temporais mais curtas (SPELLMAN, 1995). Para Adams-Fuller, características importantes de um hot spot são sua persistência e coincidência ao longo do tempo. De acordo Eck, et al. (2005), este método, parte do princípio de que se deve focar no mapeamento dos locais, as referencias da localidade, e não somente nas ocorrências criminais. Dessa forma, seria possível compreender porque em certos locais, há maior concentração de determinados tipos de crimes. Exemplo de um mapa de pontos para arrombamentos em Ipatinga, MG – 2003. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 6 Segundo Ainsworth (2001:88), o conceito de Hot–Spot seria. “Um Hot-Spot criminal é normalmente entendido como uma localização ou pequena área com fronteiras bem identificadas onde existe uma concentração de incidentes criminais, que excedem o normal para essa área; o termo pode também ser usado para descrever localidades que demonstram um crescimento da criminalidade num determinado período de tempo…” Repeat victimization (vitimização repetida):Também conhecida como hot dots, refere-se aos modelos preditivos de curta duração. Esse conceito aplica-se a pessoas ou locais que foram vítimas uma vez e que terão grandes chances de serem vitimadas novamente, sendo o tempo de projeção bastante curto, no máximo três meses. De acordo com Anderson et al. (1995), nesse método, temos a ideia de que os locais hot dots tendem a se transformar, em um futuro próximo, em hot spots. Métodos univariados: Essa metodologia utiliza o valor de uma determinada variável para realizar a previsão de crimes. Apesar de pouco usado, é um método atrativo por requerer pouca informação – por outro lado, a margem de erro é alta. Então, embora seja de fácil implementação, é pouco confiável. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 7 A inclusão de outras variáveis, embora torne o método mais robusto, também o deixa mais complexo. Time span (lapso temporal): É um método relativamente novo associado à criminalidade segundo o qual se estuda o tempo decorrido entre ocorrências criminais. A ideia é o lag entre as ocorrências servir de previsão para a próxima ocorrência. É adequado para previsões de curto prazo. A principal dificuldade, conforme explica Ratcliffe (2000), em Aoristic Analysis, é, por vezes, ser difícil identificar o momento exato da ocorrência. Elementos de um mapa Os mapas apresentam, em geral, os seguintes elementos que ajudam a proporcionar consistência e clareza aos leitores: 1 - Um título (ou legenda) para a descrição do mapa; 2 - Uma legenda com símbolos e cores para a interpretação do conteúdo do mapa; 3 - Uma escala para a tradução da distância no mapa em distância no solo; 4 Orientação indicando a direção. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 8 Tipos de informação dos mapas Os mapas podem fornecer uma ampla variedade de informações que inclui, dentre outras: localização, distância, direção e padrão de apresentação de dados pontuais ou de área. Cada tipo de dado significa coisas diferentes para usuários diferentes: Localização: Tipo mais importante de informação que deve ser representada no mapa. É o local onde os fatos aconteceram ou onde podem acontecer Distância: Não é muito útil como informação abstrata, mas precisa estar relacionada com outra variável, como, por exemplo, a distância entre os locais de roubo e recuperação de um automóvel ou o local de morte e ou residência da vítima. Direção: Essa informação é mais útil quando relacionada à distância, embora não seja tão importante, utilizada apenas como descritivo (“a zona quente está se movendo para o norte”, por exemplo). Padrão: Muito útil na análise criminal, a identificação de um padrão nas ocorrências criminais é uma ferramenta poderosa para a investigação. Mapa temático O que é um mapa temático? Como o próprio nome diz, trata-se de um mapa baseado em um tema específico. Esse tipo pode apresentar uma variedade infinita, sendo a maioria dos mapas mostrados pela mídia, os mapas de densidade demográfica, mapas sobre a situação dos impostos no mundo etc. Os mapas temáticos são como um grande kit de ferramentas onde podemos selecionar aquela que melhor atende à nossa demanda. Os mapas temáticos podem ser quantitativos ou qualitativos. Mapas quantitativos apresentam informações numéricas, como o número de crimes em uma área ou a taxa de criminalidade. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 9 Mapas qualitativos mostram dados não numéricos, como o tipo de utilização da terra ou características de vítima/criminoso, como homem ou mulher, jovem ou adulto etc. Normalmente, os analistas criminais utilizam ambos os tipos de mapa. Os mapas temáticos podem incluir quatro tipos de medidas: nominal, ordinal, proporção e intervalo. Medidas nominais Nomeiam itens em categorias não ordenadas, como raça. Se um mapa mostra vítimas de homicídio por raça, ele é um mapa temático qualitativo. Medidas ordinais Classificam características dos incidentes, vítimas ou transgressores, ou algum outro atributo (talvez área) de acordo com uma ordem. Assim, as áreas de patrulha ou distritos podem ser ordenadas de acordo com sua taxa de criminalidade, incidência de queixas ou idade média dos policiais. Escalas de proporção Distâncias medidas em polegadas, pés, jardas, milímetros, metros etc. – começam no zero e continuam indefinidamente (taxas de homicídio, por exemplo). Escalas de intervalo Apresentam valores, mas não mostram a proporção entre eles (uma escala para temperatura é um bom exemplo). Nós podemos medi-la, mas não podemos dizer que 80 graus é duas vezes mais quente que 40 graus. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 10 Os mapas temáticos, segundo Harries, podem ser classificados em: DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 11 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 12 Como escolher o melhor tipo de mapa? Algumas decisões são muito claras, e outras dependem de interpretação. Se a intenção for ressaltar as diferenças de áreas dentro da estrutura policial, isso demanda um mapa do tipo coroplet. Se por exemplo, desejamos ter localizações precisas de um determinado delito, o mapa de pontos pode ser a melhor opção. A conexão entre as residências da vítima e do criminoso demanda uma representação linear. Um quadro geral do risco de crimes e incidentes é melhor visualizado através de um mapa de isolinhas ou de superfície, e a informação do censo que ilustra a relação entre pobreza e raça pode ser visualizada utilizando-se um mapa estatístico ou coroplet. Tendo em vista a infinidade de configurações e as características dos dados, podemos combinar diferentes tipos de mapas visando aumentar a quantidade de informações em um mesmo mapa, cuidando, no entanto, para não deixá-lo sobrecarregado e incompreensível. Interpretações imprecisas na análise criminal Conforme cita o Manual de Interpretação de Estatísticas de Criminalidade, elaborado pela Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em 2005, a interpretação das DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 13 estatísticas criminais deve levar em consideração aspectos que exercem influência sobre o fato criminal, o exercício da atividade policial e o uso adequado das ferramentas estatísticas. Abaixo, reproduzimos alguns dos aspectos mais relevantes: 1 – Sazonalidade e escolha do período base de comparação: os índices criminais estão sujeitos a variações de diversos tipos (climáticas, fenomenológicas ou cíclicas). Dessa forma, alterações das atividades sociais e econômicas implicam na inibição ou no favorecimento de determinados crimes. Por isso, é importante o cuidado na comparação estatística entre períodos, de modo que sejam utilizados intervalos equivalentes de tempo, por exemplo, o 1º trimestre de 2015 com o 1º trimestre de 2014. O período escolhido para a comparação estatística também pode “provar” um aumento ou uma redução da criminalidade, dependendo da interpretação. É importante tomar como regra que a escolha do período de comparação deve considerar um período normal, fugindo dos períodos atípicos, por exemplo: se compararmos o mês de junho de 2014 com junho de 2013 ou 2012, veremos distorções causadas pela Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Deve-se evitar comparar períodos muito distantes entre si, afinal a dinâmica das mudanças narealidade social pode influenciar nos indicadores. 2 – O problema da unidade de análise: é inadequado comparar taxas de criminalidade de uma região, como um bairro, com a de uma cidade, estado ou país. Por exemplo, se pegarmos as taxas de homicídio da cidade de São Paulo e as compararmos com as taxas de homicídio na França, os indicadores socioeconômicos serão bem diferentes. Recomenda-se que se comparem unidades territoriais que sejam equivalentes administrativamente: bairro com bairro, distrito policial com distrito policial, estado com estado etc. Sempre que possível, a comparação deve ser feita entre unidades com características sociais, econômicas e culturais semelhantes. Dependendo do delito estudado, ao fazer a comparação entre um bairro miserável e um bairro DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 14 de classe alta, haverá diversas distorções que não terão aplicabilidade efetiva na análise criminal. 3 – Cálculos de porcentagens e taxas com bases muito pequenas: em áreas onde a incidência criminal é baixa, isso é muito comum acontecer. Exemplo: ao se comparar um período em que temos um caso com outro quando ocorreram três casos, o aumento percentual daquele delito específico para a área será de 300 %. Por isso, é comum serem veiculadas manchetes alardeando aumentos elevados no percentual de crimes, que foram baseadas em números absolutos pequenos, transmitindo uma sensação de insegurança que nem sempre condiz com a realidade. 4 – Tomar dados de notificação de crimes como se fossem o universo dos crimes: sabemos que por diversos motivos os cidadãos vitimados nem sempre relatam os delitos ocorridos, gerando uma subnotificação daquele tipo delituoso. Isso pode variar em decorrência de uma série de fatores, por exemplo: a criação de delegacias especializadas para atendimento à mulher pode incentivar o aumento da notificação, o que é positivo, mas, por outro lado, pode ser interpretado como um aumento da criminalidade. 5 – Atividade policial: a produtividade policial mensurada por seus resultados, como veículos recuperados, cargas recuperadas, armas apreendidas, prisões efetuadas, cativeiros descobertos etc., pode aumentar em decorrência do aumento de crimes. 6 – Certos indicadores refletem simultaneamente atividade policial e fenômenos criminais: o aumento de apreensões de armas ou drogas pode significar tanto um aumento da circulação desses produtos na sociedade quanto um aumento da atividade policial relacionada à repressão dos crimes por meio da intensificação das suas ações. 7 – Diferenças conceituais entre as estatísticas de homicídio da Segurança Pública e outros órgãos: há divergências entre os números de DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 15 homicídio apresentados pela Segurança Pública e pela Saúde. Nesse sentido, cabe esclarecer que, na esfera da Segurança, o registro da morte tem como documento principal o boletim de ocorrência com um enfoque criminológico, visando enquadrar o fato em um tipo penal, utilizando-se o local da ocorrência para referenciar o local da morte. Por outro lado, a esfera da Saúde tem como fonte principal de informação a declaração de óbito visando buscar a identificação das causas da morte sob um enfoque sanitário. Visando reduzir essa disparidade, algumas iniciativas plausíveis foram tomadas em alguns estados, como é o caso do Programa Pacto pela Vida, no estado de Pernambuco, por meio da experiência da utilização de pulseiras de identificação de cadáver, onde um número único facilita a contabilização e a integração das estatísticas dos diversos órgãos. Fonte: Gerard V. Sauret (2012). 8 – Identificação de tendências: descontados os efeitos sazonais que podem influenciar na análise, em uma série estatística, quanto maior o número de observações consecutivas na mesma direção, maior a certeza de que se está diante de uma tendência. 9 – Taxa de crimes por 100 mil habitantes: para que se permita a comparação entre unidades territoriais equivalentes ou em períodos de tempo muito distantes, o ideal é que se utilize uma taxa por habitante em vez dos números absolutos. Isso se deve ao fato de se crer que, à medida que aumenta a população, aumentam os crimes. Apesar de o estado mais populoso (São Paulo) ter um número absoluto de homicídios maior, usando-se a taxa por 100.000 habitantes, observa-se que ele possui relativamente menos homicídios que outros de menores população e valor absoluto de casos. 10 – População flutuante e pendular: alguns locais, como áreas centrais, de intenso comércio e regiões turísticas, sofrem com o fenômeno da flutuação da população em alguns períodos, caracterizando-se uma distorção das taxas, DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 16 caso não sejam considerados os números da população flutuante ou pendular no cálculo. 11 – Hierarquização de cidades, bairros e outros “rankings”: é comum vermos alguns periódicos utilizarem as estatísticas oficiais para elaborar rankings de cidades e estados. Deve-se tomar cuidado com rankings que não possuem nenhuma percepção sobre muitas variáveis que moldam o crime numa cidade ou região em particular, o que pode levar a interpretações simplistas ou incompletas da realidade, criar percepções enganosas e afetar negativamente cidades e seus residentes. Cuidados na interpretação das informações Antes de crermos em informações dispostas em gráficos, infográficos, mapas e qualquer outra representação de dados de uma pesquisa como sendo verdades incontestáveis, devemos confrontá-las com outras informações processadas acerca do mesmo dado. Esse cuidado decerto evitará transtornos na divulgação das informações colhidas, até mesmo das fontes mais fiáveis. É importante observar que as pesquisas elaboradas sob rigor científico, baseadas em uma metodologia coerente e ordenada, sempre explicitarão seus objetivos e os caminhos que conduziram os trabalhos ao resultado apresentado. Alguns problemas podem decorrer da interpretação errônea a respeito do assunto, deixando o resultado eivado de preconceitos. É o que podemos observar no ocorrido com a pesquisa de Indicadores de Percepção Social elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal, e que ainda está tendo grande repercussão nos meios de comunicação. Em vários periódicos brasileiros ocorreram manifestações contrárias ao resultado da pesquisa. E praticamente todos incidiam em um aspecto, a escolha inadequada de algumas palavras no formulário de entrevista do pesquisador. Veja o que afirma o colunista Mauricio Tuffani: DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 17 “Essas afirmações demonstram que os responsáveis pela pesquisa desconsideraram que, além de poder ser percebida como ‘justificativa’ ou aceitação do comportamento masculino agressivo contra a mulher, a expressão ‘dá para entender’ também pode ser interpretada como compreensão do processo de formação dessa agressividade no comportamento masculino”. “[Em outro trecho da matéria.] Na verdade, pelo simples fato de ter sido construída com essa expressão, a questão é inadequada para uma pesquisa de opinião. E isso vale também para a outra frase apresentada aos entrevistados que trata sobre rasgar ou quebrar pertences de mulheres e está citada nesse mesmo trecho acima transcrito. Nesses dois casos, em vez de ‘dá para entender’, deveria ter sido usada outra expressão para identificar inequivocamente a tolerância à agressão”. Objetivamente, a terminologia utilizada na pesquisa, não foi bem empregada, permitindointerpretações diferentes do foco da pesquisa. Para piorar o cenário da pesquisa, o IPEA emitiu uma errata alegando que os dados no gráfico apresentado estavam trocados no relatório final e que, onde constam 65% de informantes em concordância sobre as mulheres merecerem ser atacadas, deveria ser de fato 26% o percentual. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 18 Outras opiniões sobre a pesquisa IPEA Marco Prates da Revista Exame afirma que a rigor a publicação da errata não traz grandes consequências práticas, já que se trata de uma pesquisa de opinião. No entanto, são imprevisíveis os efeitos sobre a percepção nacional, dada a dimensão que o levantamento atingiu. E, ainda, segundo ele, o erro afetou a imagem do Brasil no exterior: jornais e revistas das maiores economias do planeta repercutiram a informação, que ficou tachada como símbolo do grande machismo da sociedade brasileira. Várias pessoas aderiram à campanha #naomereçoserestuprada lançada pela jornalista Nana Queiroz, de Brasília, em que mulheres tiraram fotos em que, normalmente tampando os seios, apresentando a frase título do movimento. Foram milhares de adesões nas redes sociais. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 19 Atividade proposta A partir do conteúdo visto em aula, elabore um projeto de mapa criminal, focando na descrição dos elementos que ajudam a proporcionar consistência e clareza aos leitores. Chave de resposta: Não se esqueça de discorrer sobre elementos importantíssimos que auxiliam na leitura de um mapa, são eles: título (ou legenda) para a descrição do mapa; legenda com símbolos e cores para a interpretação do conteúdo do mapa; escala para a tradução da distância no mapa em distância no solo e orientação indicando a direção. Aprenda Mais Material complementar Para aprender mais sobre mapeamento da criminalidade acesse os links abaixo: http://www.mapadaviolencia.org.br http://andersonmedeiros.com/traducao-mapeamento-da-criminalidade/ http://www.qgis.org/pt_BR/site/ Para saber mais sobre o WikiCrimes acesse o link abaixo: http://www.wikicrimes.org/main.html;jsessionid=5AE519F4A0B3F7983B0A642484C3E 6C8 Para aprender mais sobre interpretação criminal acesse o link abaixo: http://www.ssp.sp.gov.br/media/documents/manual_interpretacao.pdf Para aprender mais sobre a taxa de crimes acesse o link abaixo: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/instituto-sangari/ Para saber mais sobre o caso da pesquisa IPEA acesse os links abaixo: DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 20 http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/03/28/a-culpa-do-estupro-nao- e-da-mulher-mas-a-da-confusao-e-da-pesquisa-do-ipea-essa-sim-merece-ser- atacada/#.UzcqdOHruKU.facebook http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/ipea-reconhece-erro-em-pesquisa-de-estupro- 65-era-26 http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2197 1 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 21 Referências AZEVEDO, Ana Luísa Vieira de. Uso das estatísticas criminais e planejamento das atividades policiais: um estudo sobre a percepção dos profissionais de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. FGV: 2012. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/10171/Tese%20A na%20Lu%C3%ADsa%20V.%20de%20Azevedo%20Vers%C3%A3o%20Definiti va.pdf?sequence=1 Acesso em: 20 out. 2014. BOBA, Rachel. Crime analysis and crime mapping. United States: Sage Publications, 2005. BURKE, P. Violência urbana e civilização. In: OLIVEIRA, Nilson Vieira (org.). Insegurança pública: reflexões sobre a criminalidade e a violência urbana. São Paulo: Nova Alexandria, 2002. p. 32-50. CLARKE, Ronal V.; ECK, John E. Análise de Crime para solucionadores e problemas em 60 pequenos passos. Traduzido por Alessandro Souza Soares e revisado por Elenice de Souza. COHEN, Lawrence; FELSON, Marcus. Social change and crime rate trends: a routine approach. American Sociological Review, 44, 1979, p. 588-608. DANTAS, G. F. 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DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 23 Exercícios de fixação Questão 1 O mapeamento da criminalidade aliado às técnicas estatísticas de processamento de dados é ferramenta imprescindível na gestão da informação focada na prevenção e redução dos delitos. Baseado nessa afirmação, marque a alternativa correta. a) Os mapas de criminalidade geram a distorção das inferências estatísticas. b) O processo de confecção de mapas de criminalidade se inicia com a coleta de dados dos registros criminais. c) Os dados dos mapas de criminalidade são geoposicionados pelo software Microsoft Word. d) Os mapas web como o WikiCrimes não podem ser manipulados. e) Um dos resultados do mapeamento da criminalidade é o aumento dos delitos. Questão 2 “É a metodologia mais utilizada na análise criminal, representa os pontos com maior incidência de crimes, assumindo que essas localizações se manterão no futuro.” Com base no conceito, podemos afirmar que ele diz respeito a que tipo de método para confecção de mapas? a) Vitimização repetida b) Univariado c) Lapso temporal d) Hot spots e) Isolinha Questão 3 Com relação aos tipos de mapas temáticos, analise as afirmações: DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 24 Mapas quantitativos apresentam informações numéricas, como número de crimes etc. I - Mapas qualitativos mostram dados não numéricos, como tipo de terra ou características. II - Mapas estatísticos utilizam gráficos ou histogramas para auxiliar na visualização dos aspectos quantitativos dos dados. III - Mapas pontuais são aqueles que utilizam pontos para representar áreas do mapa, com pouca precisão sobre a localização. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I, II, III e IV b) I, II c) I, II e III d) I, II e IV e) II, III Questão 4 Um mapa pode conter dados que possibilitem o entendimento do deslocamento de uma zona quente em um estudo temporal indicando uma direção. Nesse caso, que outra informação do mapa correlacionada à direção é importante para se entender o fenômeno criminoso? a) Hot spots b) Direção c) Localização d) Distância e) Padrão DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 25 Questão 5 Um mapa pode conter dados que possibilitem o entendimento do deslocamento de uma zona quente em um estudo temporal indicando umadireção. Nesse caso, que outra informação do mapa correlacionada à direção é importante para se entender o fenômeno criminoso? a) Hot spots b) Direção c) Localização d) Distância e) Padrão Questão 6 As variações nos índices criminais podem descrever a influência de fatores climáticos, fenomenológicos ou cíclicos que implicam na inibição ou no favorecimento de determinados crimes. Identifique o nome que se dá a esse efeito. a) Sazonalidade b) Efeito padrão c) Porcentagem d) Hierarquização e) Efeito da unidade territorial Questão 7 Considerando a tabela de unidades territoriais abaixo, marque a afirmação correta. <center><img src="imagens/a03_questao07.png" /></center> I - A unidade A possui a maior taxa de homicídio; assim, relativamente ao número de casos, C tem menos homicídios do que A. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 26 II - A unidade A possui a maior taxa de homicídio; assim, relativamente ao número de casos, C tem mais homicídios do que A. III - A unidade A possui pouca equivalência com as outras cidades; por esse motivo, não é recomendado que entre nesse tipo de comparação. a) I, II b) I c) III d) I, III e) II Questão 8 Ao longo do tempo, a evolução do crescimento da população e as mudanças sociais podem delinear um quadro de crescimento da criminalidade. A escolha adequada do período base para comparação estatística deve levar em consideração alguns aspectos; assim sendo, marque a alternativa correta: a) Deve-se tomar como base um período “normal”, quando valores não sejam nem muito altos nem muito baixos. b) Períodos atípicos, quando o crime está superestimado – dessa forma, haverá sempre a conclusão de que há uma tendência de queda da criminalidade. c) Períodos distantes entre si são mais adequados para a comparação, pois abrangem grandes mudanças administrativas. d) O mais adequado para a escolha do período base de comparação é marcar intervalos regulares de tempo descontando as sazonalidades e a população flutuante. e) Períodos atípicos nos quais o crime está subestimado – dessa forma, haverá sempre a ideia de que o crescimento populacional pode explicar o aumento da criminalidade. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 27 Questão 9 Ao longo do tempo, a evolução do crescimento da população e as mudanças sociais podem delinear um quadro de crescimento da criminalidade. A escolha adequada do período base para comparação estatística deve levar em consideração alguns aspectos; assim sendo, marque a alternativa correta: a) Deve-se tomar como base um período “normal”, quando valores não sejam nem muito altos nem muito baixos. b) Períodos atípicos, quando o crime está superestimado – dessa forma, haverá sempre a conclusão de que há uma tendência de queda da criminalidade. c) Períodos distantes entre si são mais adequados para a comparação, pois abrangem grandes mudanças administrativas. d) O mais adequado para a escolha do período base de comparação é marcar intervalos regulares de tempo descontando as sazonalidades e a população flutuante. e) Períodos atípicos nos quais o crime está subestimado – dessa forma, haverá sempre a ideia de que o crescimento populacional pode explicar o aumento da criminalidade. Questão 10 Ao longo do tempo, a evolução do crescimento da população e as mudanças sociais podem delinear um quadro de crescimento da criminalidade. A escolha adequada do período base para comparação estatística deve levar em consideração alguns aspectos; assim sendo, marque a alternativa correta: a) Deve-se tomar como base um período “normal”, quando valores não sejam nem muito altos nem muito baixos. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 28 b) Períodos atípicos, quando o crime está superestimado – dessa forma, haverá sempre a conclusão de que há uma tendência de queda da criminalidade. c) Períodos distantes entre si são mais adequados para a comparação, pois abrangem grandes mudanças administrativas. d) O mais adequado para a escolha do período base de comparação é marcar intervalos regulares de tempo descontando as sazonalidades e a população flutuante. e) Períodos atípicos nos quais o crime está subestimado – dessa forma, haverá sempre a ideia de que o crescimento populacional pode explicar o aumento da criminalidade. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 29 Aula 5 Exercícios de fixação Questão 1 - B Justificativa: A coleta de dados dos registros criminais é a primeira etapa de confecção de um mapa. Introduzindo os dados no banco de dados, realizando o processamento dos dados por meio de técnicas estatísticas para filtrar os delitos no período requerido ao estudo e utilizando um software de SIG, os dados são geoposicionados por meio da conversão do endereço em uma coordenada geográfica e, dessa forma, transferidos para uma base geográfica. Questão 2 - D Justificativa: O conceito apresentado é relativo ao método de confecção de mapas por meio do geoposicionamento dos pontos com maior incidência criminal. Questão 3 - C Justificativa: Somente o item IV está incorreto. Utilizam-se pontos para representar incidentes. Os mapas pontuais são provavelmente os mais utilizados pela polícia, na medida em que mostram a localização dos incidentes de maneira bastante precisa quando se utilizam dados no nível dos endereços. Questão 4 - D Justificativa: A distância do deslocamento de um hot spot é a informação que será importante numa análise para entender o fenômeno criminal, seus padrões e tendências ao longo do tempo, pois permitirá observar se reflete o resultado de ações de policiamento ou outras interveniências. Questão 5 - D Justificativa: A distância do deslocamento de um hot spot é a informação que será importante numa análise para entender o fenômeno criminal, seus padrões DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 30 e tendências ao longo do tempo, pois permitirá observar se reflete o resultado de ações de policiamento ou outras interveniências. Questão 6 - A Justificativa: A sazonalidade pode explicar a variação dos índices criminais, pois alterações das atividades sociais e econômicas em determinados períodos podem inibir ou favorecer o acontecimento de crimes. Questão 7 - D Justificativa: Somente o item II está errado, tendo em vista que, relativamente, considerando a taxa de homicídios, de acordo com os dados da tabela apresentada, a unidade A possui mais homicídios do que a unidade C. Isso se deve a ideia de que se A tivesse a mesma população que C, baseado em seu histórico, proporcionalmente teria mais homicídios. Questão 8 - A Justificativa: Importante tomar como regra que a escolha do período de comparação deve ser um período normal, fugindo dos períodos atípicos; por exemplo se compararmos o mês de junho de 2014 com junho de 2013 ou 2012, veremos distorções causadas pelo fato da realização do Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Outra coisa é evitar comparar períodos muito distantes entre si, afinal a dinâmica das mudanças na realidade social pode influenciar nos indicadores. Questão 9 - A Justificativa: Importante tomar como regra que a escolha do período de comparação deve ser um período normal, fugindo dos períodos atípicos; por exemplo se compararmos o mês de junho de 2014 com junho de 2013 ou 2012, veremos distorções causadas pelo fato da realização do Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Outra coisa é evitar comparar períodos muito distantes entre si, afinal a dinâmica das mudançasna realidade social pode influenciar nos indicadores. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 31 Questão 10 - A Justificativa: Importante tomar como regra que a escolha do período de comparação deve ser um período normal, fugindo dos períodos atípicos; por exemplo se compararmos o mês de junho de 2014 com junho de 2013 ou 2012, veremos distorções causadas pelo fato da realização do Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Outra coisa é evitar comparar períodos muito distantes entre si, afinal a dinâmica das mudanças na realidade social pode influenciar nos indicadores.
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