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AS PRINCIPAIS FORMAS DE TRÁFICO NA LEGISLAÇÃO INTERNA DO BRASIL O Conceito de Tráfico Entende-se por “Tráfico”, de acordo com a terminologia jurídica, todos os fatos ocorridos no mercado destinado à formação de preços e distribuição de riquezas, constituindo comércio de produto. A palavra tráfico por si só pode significar especificamente “comércio” (regular ou não) como apresentam os dicionários de língua portuguesa, em pese o seu uso mais comum, sem adjetivação, já denotando negócio ilícito ou indecoroso, associado aos seguintes “objetos” de circulação: drogas; armas; animais silvestres; órgãos humanos; escravos em passado não muito distante, e mais recentemente, também associado à circulação de crianças para adoção ilegal e à circulação de mulheres como modalidade de lenocínio. Tráfico igualmente se associa à influência, também no sentido de negociação ilícita, na conduta de aceitar oferecimentos e/ou receber presentes para obter de um governante ou duma autoridade pública uma vantagem qualquer; ou advocacia administrativa ilícita. Segundo Aurélio tráfico “é de modo amplo a circulação de mercadorias em geral, e de modo mais estrito, o comércio ilícito, seja de entorpecentes, plantas, animais ou mesmo de humanos”. (AURÉLIO, 2013) Tráfico Internacional de Armas no Brasil No Brasil, a regulamentação do Tráfico de Armas de Fogo não é feita pelo Código Penal Brasileiro, mas pela Lei 10.826/03, em seus Artigos 18º a 21º, e que é conhecida popularmente como Estatuto do Desarmamento. O Art. 18° da Lei 10.826/03 prevê o tipo legal do tráfico internacional de armas de fogo como a importação, a exportação e o favorecimento da entrada ou saída do território nacional a qualquer título, arma de fogo, acessório ou munição sem a autorização de autoridade competente, pelo qual prescreve a pena de 4 a 8 anos de reclusão acrescida de multa. São 3 as figuras incriminadoras presentes no Caput do Art. 18, quais sejam elas, importar, que é o ato de trazer de fora do país para o território nacional, exportar, que é o ato de levar de dentro do território nacional para fora do país armas de fogo que não precisam ser necessariamente produzidas em solo pátrio e, por ultimo, favorecer a entrada e a saída, que vem a ser a punição prevista ao agente da alfândega ou o fisco que facilitar qualquer uma das hipóteses anteriores. A introdução das armas de fogo seja por via aérea, marítima ou terrestre, sempre incidirá no mesmo crime previsto no Art. 18 da Lei 10.826/03, porém, existem brechas. A primeira brecha a ser apontada é o caso da utilização de armas para defesa da tripulação de embarcações mercantes que, segundo o bom senso, deveria ser informada ao porto brasileiro que as armas se encontram alojada em local seguro bem como os modelos, calibres e munições e suas quantidades transportadas. Porém, não existe regulamentação deste sentido nem junto ao órgão de Fiscalização de Produtos Controlados do Comando do Exercito da área e nem da Superintendência da Policia Federal. Outra brecha a ser apontada na exportação e importação diz respeito às modalidades temporárias e devolutivas das armas de fogo, a exemplo do sistema de drawback, em que as empresas estrangeiras enviam partes de armamentos para que empresas nacionais as montem aqui e devolvam ao país de origem, como numa venda casada, a quantidade de peças não é especificada por número. Várias destas peças que vêm como peças de reposição são usadas para montar armas extras que virão a ser comercializadas a posteriori. O Brasil tem hoje 16 milhões de armas de fogo, sendo que 80% estão nas mãos de civis, e ocupa o primeiro lugar no ranking de crimes por arma de fogo no mundo, com 34,3 mil homicídios anuais. Para especialistas da área de segurança pública, esses números são reflexo das brechas oferecidas pela legislação brasileira. Das 16 milhões de armas que circulam no Brasil, 7,6 milhões são ilegais e 8,4 milhões estão legalizadas. O Brasil é signatário do CIFTA – Convenção Interamericana contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, Munições, Explosivos e outros Materiais Correlatos – promulgada pelo Dec. 3.229/99, tornando os crimes correlatos nesta convenção de competência da Justiça Federal. Pela convenção está previsto que existirão órgãos para controlar e investigar a legalidade do trânsito, importação e exportação, o que no Brasil, é o Comando do Exército e sendo o órgão responsável pelo combate ao tráfico de armas de fogo e munições o DARM – Divisão de Repressão ao Tráfico Ilícito de Armas – que é subordinado ao DCOR – Diretoria de Combate ao Crime Organizado – ambos pertencentes ao Departamento de Polícia Federal, no Ministério da Justiça. O Brasil é um dos maiores importadores de armas de fogo sendo que as principais rotas do tráfico internacional de armas se encontram no Paraguai e na Bolívia, conforme demonstrado nas jurisprudências de Habeas Corpus requeridas perante o STF por pessoas detidas pelo crime do tráfico internacional de Armas de Fogo. A Lei 10.838/2003, o Estatuto do Desarmamento, tentou, em vão, impor uma regulamentação quanto ao ingresso de novas armas de fogo no país, porém, trouxe um tipo penal para um crime há muito existente nos ordenamentos do exterior, o Tráfico Internacional de Armas. Contudo, devido a uma falta de importância com a relevância deste tema, o Artigo 18 da lei ficou muito brando sem uma punição à altura do delito que basicamente dá embasamento para o Tráfico de Entorpecentes e outros crimes bárbaros. A importância de uma melhora neste tipo penal está no fato principal de que as armas que movimentam a criminalidade interna do Brasil, a exemplo do ocorrido tão recentemente no Rio de Janeiro, não são as armas convencionais e esportivas que são furtadas pelos criminosos, mas as armas de grosso calibre de uso exclusivo das forças armadas brasileiras. Além desse fato, é necessária uma conscientização por parte das autoridades para com a população de que não existe futuro no crime e possibilitar, através da educação, saúde, lazer adequado que ela naturalmente se afaste e repudie a violência das armas. Com a diminuição deste mercado, ficará bem mais fácil o controle sobre o Tráfico Internacional das armas de fogo. Tráfico de Pessoas na legislação brasileira Em 2009, foi promulgada a Lei 12.015/09, que alterou o Código Penal no Título VI relacionado aos crimes contra os costumes, alterando seu título para “Dos crimes contra a dignidade sexual”, bem como modificando substancialmente a configuração dos crimes de estupro, posse sexual mediante fraude e tráfico de pessoas, entre outros. Os crimes de tráfico internacional e interno de pessoa para fim de exploração sexual estão previstos nos arts. 231 e 231-A, do Código Penal isso em razão de o Brasil signatário do protocolo de Palermo (Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças). Esse protocolo determina que a expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. O crime de tráfico de pessoas passou por variadas modificações na legislação brasileira. Originalmente, o Código Penal de 1940 o previa como “tráfico de mulheres”, designando como crime a conduta de “Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de mulherque nele venha exercer a prostituição, ou a saída de mulher que vá exercê-la no estrangeiro: Pena – reclusão, de três a oito anos”. Ocorre que da forma como estava construído, o crime de tráfico de pessoas possuía pelo menos duas incongruências com a realidade do tráfico: a) as mulheres não eram as únicas vítimas dessa modalidade criminosa, pelo que as pessoas que vitimassem homem ou crianças não responderiam por esse tipo penal; b) nem só para fins de prostituição as pessoas eram e são ainda traficadas. Há diversos estudos (OIT) que apontam a existência do tráfico de pessoas interna e internacionalmente para exploração sexual com fins comerciais ou não; para exploração do trabalho; para retirada de órgãos; para adoção, etc. A LEI 12.015/09 Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. § 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2º A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Tráfico Interno de Pessoas Art. 231-A. Promover, intermediar ou facilitar, no território nacional, o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da pessoa que venha a exercer a prostituição: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. Parágrafo único. Aplica-se ao crime de que trata este artigo o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 231 desde Decreto-Lei. Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 1º Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2º A pena é aumentada da metade se: I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. § 3º Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Pode-se verificar inicialmente que pouca alteração ocorreu na conceituação em si da exploração que caracteriza o tráfico de pessoas: o Brasil continua entendo esse crime como pautado exclusivamente na exploração da prostituição ou outra forma de exploração sexual. Assim, no Brasil, todas as condutas que tenham por objetivo a exploração, por exemplo, de pessoa no trabalho forçado, para casamento servil, para retirada de órgãos, para adoção internacional, não constituem tráfico de pessoas, adotando uma definição diferente sobre tráfico de pessoas da reconhecida pela comunidade internacional. Porém, houve a inclusão de diversas condutas que antes não estavam previstas, tais como: agenciar, aliciar, comprar pessoa traficada, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. Nestas últimas três hipóteses é necessário o conhecimento da condição de pessoa traficada por parte do agente em relação à vítima. A Lei 12.015/09 ainda insere hipóteses de aumento de pena, a qual pode chegar a 12 anos se a vítima possui menos de 18 anos; se ela não possui o discernimento necessário para a prática do ato, por enfermidade ou deficiência mental; se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. O TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO BRASIL Tráfico de animais silvestres tem por significado o conjunto de condutas criminosas relacionadas ao aproveitamento irregular de espécime da fauna silvestre, envolvendo atos de captura, de transporte, de guarda e de comercialização propriamente dita, que são voltados à obtenção de alguma vantagem econômica, com prejuízos ao meio ambiente. No ordenamento jurídico brasileiro não existe propriamente a figura de um delito intitulado “tráfico de animais silvestres”, mas há indicação de um conjunto de condutas relacionadas de algum modo ao aproveitamento irregular de animal integrante da fauna silvestre, com ganho econômico dele decorrente. Constituem exemplos: a caça; a apanha; a venda; a exposição; o transporte; a aquisição; a manutenção em cativeiro; e a utilização; dentre outras, nos termos do art. 29 e os incisos I, II e III do seu parágrafo 1º, da Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida com “Lei dos Crimes Ambientais” Em razão das penas previstas para os crimes contra a fauna serem inferiores a 2 anos de detenção, aqueles que forem flagrados cometendo tais crimes, realizam os procedimentos penais em Juizados Especiais, visto que a Lei Federal 9.099, de 26 de setembro de 1995, diz que crimes contra a fauna silvestre são afiançáveis. Passando a entender que crime contra a fauna silvestre é considerado de menor potencial ofensivo. De acordo com o relatório da Renctas existem quatro razões que incentivam o comércio ilegal de vida silvestre: I - animais para zoológicos e colecionadores particulares; II - animais para uso científico/ biopirataria; III - animais para petshops e, IV - animais para produtos e subprodutos . No caso dos animais silvestres, note-se que pode ocorrer o comércio legal (ou regular), desde que o animal seja proveniente de criadouros autorizados - como se interpreta na leitura do inciso III, do par. 1º, do art. 29, da mesma Lei 9.605/98. Em relação a isso, a Constituição Federal estabelece no seu art. 225, § 1o, inciso VII, que “compete ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade”. Embora a legislação infraconstitucional prescreva as condutas que podem caracterizar o tráfico de animais, dentre outras ações delituosas verificadas na relação entre o homem e as demais formas de vida animal, a prática do tráfico de animais silvestres evoluiu ao longo das décadas no Brasil. Várias formas cruéis de camuflar o transporte de animais são ainda hoje desenvolvidas nesse propósito, como a sedação e o acondicionamento de pássaros em tubos fechados no interior de malas de viagem, conforme registros recentes em boletins de ocorrência policial. Portanto, associado ao tráfico, tem sido identificado pelo menos outro crime: a crueldade contra os animais, além da configuração da formação de quadrilha, esta no caso de criminosos agindo em unidade de propósitos para completar o ciclo do tráfico. No plano da fiscalização são responsáveis por ações de prevenção e repressão Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e as Polícias Ambientais dos Estados. O IBAMA tem como atribuições, dentre outras, exercer o gerenciamento, controle, proteçãoe preservação das espécies silvestres brasileiras da fauna e da flora. Porém, em razão do seu pequeno corpo de agentes para fiscalização em todo o território brasileiro, ao longo de sua existência foi cedendo a área de atuação para as Polícias Ambientais dos Estados. As leis que trouxeram dispositivos de proteção aos animais de um modo geral surgiram, ao longo do tempo, como reflexo do reconhecimento da imprescindibilidade de um meio ambiente equilibrado, de que são partes indissociáveis a fauna e a flora na sua total diversidade. Como consequência, passou o Estado à tutelar a fauna, mediante legislação específica, sob o enfoque da preservação do valor ecológico da vida animal. Tráfico de Órgãos O tráfico de órgãos é uma realidade na América Latina, países como Argentina, Brasil, Honduras, México e Peru fazem este tipo de comércio com compradores alemães, suíços e italianos, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Traficantes de órgãos obtém lucro aproveitando-se de situação de falta de instrução formal básica, ausência de perspectiva de emprego, falta de outros meios hábeis à própria manutenção da vida, optando assim, por pessoas desesperadas e sem condições de manifestar livremente sua vontade, por estarem em verdadeiro estado de necessidade. Essa atividade já é a terceira atividade mais lucrativa da atualidade ficando atrás somente do narcotráfico e do tráfico de armas, posto, que na legislação brasileira é disciplinada pela Lei n. 9434/97, de quatro de fevereiro de 1997, intitulada Lei de Remoção de Órgãos, mas precisamente no artigo 15 que dispõe: “Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano: Pena: reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa. Parágrafo único: incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com a transação.” O tipo penal transcrito contém dois núcleos, consubstanciados, precisamente, nos verbos comprar e vender. A julgar pelo teor literal do dispositivo é de se concluir que o legislador ordinário pretendeu tornar criminosa a conduta de dispor, para fim de transplante, de parte do corpo humano, sempre que haja intuito comercial, de lucro, envolvido. Facultou-se, tão-somente, a disposição gratuita, com fins altruísticos e humanitários, livremente consentida e entre pessoas que guardam ligação emocional ou afetiva. Deu-se, assim, cumprimento à disposição inserta no artigo 199, § 4º da CF, que reza: “A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, (...) sendo vedado todo tipo de comercialização”. A Lei nº4. 280/63 foi primeira com o contexto voltado para o transplante de órgãos, regulando sobre a extirpação de órgãos de pessoas falecidas, dependendo da manifestação de vontade escrita do sujeito ou da não oposição do cônjuge ou dos parentes do de cujus até o 2º grau. Após cinco anos, surge a Lei nº 5.479/68 revogando a anterior e admitindo a disposição para fins de transplante de tecidos, de órgãos e de partes do cadáver, devendo seguir os seguintes pré-requisitos para ocorrer: ser pessoa maior, capaz e de maneira não onerosa. Todavia, esta lei teve como ponto fundamental a autorização da disposição de órgãos e partes do corpo vivo para fins de doação de órgãos, tendo que comprovar a necessidade vital do receptor e que não gerasse prejuízo ou comprometimento da vida do doador. O artigo 13 do Código Civil / 2002 demonstra que há limites quanto ao próprio corpo. “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.” O direito ao próprio corpo e o princípio geral que rege direito de personalidade é o fato de que ninguém pode ser constrangido à invasão do corpo contra a sua vontade. O nosso ordenamento jurídico proíbe a comercialização de órgãos e prevê inclusive pena de reclusão, de três a oito anos para quem compra-los ou vendê-los. O interessante de se notar é que no e mercado negro existe até uma tabela de preços que orienta a comercialização de partes do corpo humano entre os países. Um coração vale R$ 100 mil, um rim R$ 80 mil e as córneas chegam a custar R$ 20 mil. Vende-se de tudo. "Há ofertas de fígado, pulmão e até do cadáver inteiro", denuncia Elida. "Na maioria dos casos, os traficantes comercializam na internet” (SANTOS ELIDA, 2009). Hoje a venda de órgãos acontece através de agenciadores, basta a simples procura nas redes sociais e rapidamente encontra-se quem vende; esses agenciadores são criminosos que buscam candidatos no sentido de sanar as necessidades de seus “clientes”. A legislação proíbe de forma clara a comercialização de órgãos e as filas de espera por transplantes aumentam a cada ano porque infelizmente a população não tem consciência da importância da doação e o Estado não pode obrigar os cidadãos a doarem seus órgãos, sejam mortos ou tão pouco vivos. Estima-se que o tempo de espera varia de cinco a onze anos. Cerca de 70-80% dos candidatos a transplantes em lista de espera não conseguem sobreviver até a chegada do doador. Tráfico de Entorpecentes e a lei de drogas O tráfico de entorpecentes no Brasil é regulado pela lei n. 11.343/06 conhecida como “Nova Lei de Drogas” seu preâmbulo instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad que prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, bem como estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, assim como denota as condutas tidas como crime assim como a aplicação de medidas repreensivas e punitivas. A preocupação com o uso venda e distribuição de tóxicos no Brasil remete ainda aos tempos de colônia. As Ordenações Filipinas, de 1603, no V Livro, faziam menção, no título LXXXIX, a incriminação do uso, porte e venda de algumas substâncias tidas como tóxicas, como: rosalgar, solimão, escamonéa e ópio. Previam a aplicação de penas como: confisco de bens e degredo para a África. O Código Penal Republicano, de 1890, no artigo 159, dispôs sobre a proibição a algumas substâncias tidas como venenosas; sendo este o primeiro diploma incriminador do país. Nos anos 30 as sucessivas Convenções Internacionais, como a de Haia (1912) e as de Genebra (1925, 1931 e 1936), exerceram grande influência no Brasil e demonstravam desde já a preocupação internacional do combate às drogas. Com a confecção da Constituição Federal de 1988, foi estabelecido que o tráfico de drogas fosse crime inafiançável e sem anistia. Na década de 90 a lei dos Crimes Hediondos assegurou que o tráfico de drogas fosse tratado de forma mais rígida, proibindo a liberdade provisória aos acusados bem como indulto e dobrou os prazos processuais de maneira a perdurar mais a segregação provisória. Até que finalmente em 2006 entrou em vigor a lei 11.343 qual vigora até os presentes dias. Essa lei definiu os crimes relacionados às drogas em seu capítulo II e eliminou o termo entorpecente que perdurava desde 1921, tratando diretamente no artigo 33 que define o tráfico com a expressão droga. Na lei 11343, a principal mudança foi a eliminação da pena de prisão para o usuário ou aquele que detém a droga para consumo pessoal; preconiza no art. 28 como sendo usuário de drogas aquele que adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Todavia, apesar da preconização e classificação na Lei 11.343/06, o legislador, prima no caso em comento por tratamento diverso da pena restritiva de liberdade. Os critérios que tipificam o traficam de drogas estão esculpidos em seus artigos 33 a 37 , sendo 33 o mais relevante, pois prescreve que quem importa, exporta, produz, fabrica, expõe a venda ou até mesmo fornece droga gratuitamente para consumo incorre em crime de tráfico ilícitode drogas com pena de reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. E ainda no parágrafo posterior, diz que incorre em mesma pena quem produz, vende ou fabrica insumos e matérias primas para a preparação da droga, quem semeia, cultiva e faz colheita de plantas utilizadas como droga e ainda quem cede local, bem ou propriedade para o tráfico ilícito de drogas. No segundo e terceiro parágrafos também comina penas a quem instigar, induzir ou auxiliar o uso indevido de drogas (1 a 3 anos e multa) ou oferecer eventualmente sem objetivo de lucro a outra pessoa de seu relacionamento para consumirem juntos (6 meses a 1 ano e multa). O parágrafo quarto reduz a pena para os casos de réu primário, com bons antecedentes e que não se dedique a atividades criminosas nem participe de organizações criminosas. Ainda com relação ao aspecto legal, observa-se primeiramente que a própria Constituição da República Federativa do Brasil faz menção a esse delito, consoante redação dada pelo inciso XLII do art. 5º: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. Mesmo com o aumento do rigor com aumento da pena mínima para o tipo básico de tráfico e, em consequência, para os que lhe são equiparados, o uso de drogas apenas aumentou em nosso país. Segundo os dados levantados pelo I Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizou serviço relevante ao levantar dados empíricos sobre a utilização de entorpecentes no Brasil. A pesquisa apontou que cerca de 19, 4% da população brasileira faz uso de alguma espécie de droga com exceção do tabaco e álcool; o uso na vida de maconha aparece em primeiro lugar entre as drogas ilícitas, com 6,9% dos entrevistados. A parte repreensiva da lei brasileira demonstrou-se falha, frente às pesquisas que só mostram que o número de usuários aumenta acompanhado da violência, do poder dos traficantes e da superlotação das casas carcerárias. A falta principal da lei brasileira é tratar o problema de drogas como um problema de saúde pública, realizando campanhas de grande abrangência como as da AIDS, Alcoolismo e tantas outras. No tocante ao crime de tráfico ilícito de drogas, a nova Lei Antidrogas trouxe algumas inovações em termos de controle penal desta preocupante conduta. Operou, também, alguns ajustes em termos de linguagem descritos dos tipos penais acima examinados. Consoante Greco Filho e Rassi o bem jurídico tutelado pelo delito de tráfico ilícito de drogas é a saúde pública. Salientam que a deterioração causada pela droga não é restrita à pessoa que a ingere, mas também põe em risco a própria integridade social. Bibliografia CAMPOS, Wellington José. O tráfico de órgãos: breve análise da tutela ao bem jurídico. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 25 jul. 2013. Disponível em:<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.44455&seo=1>. Acesso em: 20 abr. 2015. NASSARO, Adilson Luís Franco. O Tráfico de Animais Silvestres no Brasil. Fórum Ambiental da Alta Paulista. V. 6. 2010. Disponível em:< http://www.amigosdanatureza.org.br/publicacoes/index.php/forum_ambiental/article/viewFile/63/66> Acesso em: 19 abr. 2015 PRADO, Karlos Lohner. O Conceito de Tráfico Internacional de Armas no Brasil. Revista Dom Total. Disponível em:< http://www.domtotal.com/direito/pagina/detalhe/32321/o-conceito-de-trafico-internacional-de-armas-no-brasil> Acesso em: 17 abr. 2015. PINHEIRO, Diego Cordeiro. Análise sobre os critérios de distinção entre Usuário e Traficante de drogas sob a Lei 11.343/06: Todo mundo é usuário, ninguém é traficante? . Jus Brasil. Disponível em:<http://xpinheiro.jusbrasil.com.br/artigos/175952022/analise-sobre-os-criterios-de-distincao-entre-usuario-e-traficante-de-drogas-sob-a-lei-11343-06?ref=topic_feed> .Acesso em 19 abril. 2015 SOUZA, Vinícius Cabral Gomes de. Transplante e tráfico de órgãos: uma abordagem a luz da lei nº 9.434/97. Biblioteca Fesp Faculdades. João Pessoa, 2011. Disponível em:< http://www.fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Artigo%20Vinicius%20Fesp%281%29.pdf> Acesso em 18 abr. 2015. SILVA, Fátima Patrícia Moreira da; CONCATTO, Felipe. Penas alternativas e lei de drogas: análise social. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3754, 11 out. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/25502>. Acesso em: 19 abr. 2015. SMITH, Andreza do Socorro Pantoja de Oliveira. Tráfico de pessoas para exploração sexual. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3540, 11 mar. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/23922>. Acesso em: 19 abr. 2015. ioooo No Brasil, não há regulamentação do Tráfico de Armas de Fogo pelo Código Penal Brasileiro, mas a Lei 10.826/03, em seus Artigos 18º a 21º, é conhecida popularmente como Estatuto do Desarmamento.
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