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Estruturas algebricas Cultura Acadêmica

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ESTRUTURAS ALGÉBRICAS
Mauri Cunha do Nascimento
Hércules de Araujo Feitosa
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Mauri Cunha do Nascimento graduou-se e obteve mestrado e doutorado em Mate-
mática pela Universidade Estadual de Campinas-Unicamp, desenvolvendo trabalhos em 
Álgebra Comutativa. Iniciou sua carreira profi ssional na Universidade Estadual de Londri-
na, onde trabalhou entre os anos de 1979 e 1993. Atualmente é professor assistente doutor 
do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Unesp, Câmpus de Bauru.
Hércules de Araujo Feitosa é graduado em Matemática pela Fundação Educacional de 
Bauru (1984), obteve o mestrado em Fundamentos da Matemática pela Unesp/IGCE/Rio 
Claro (1992) e o doutorado em Lógica e Filosofi a da Ciência pela Universidade Estadual 
de Campinas/Unicamp/IFCH (1998). Atualmente é professor doutor do Departamento de 
Matemática da Faculdade de Ciências da Unesp, Câmpus de Bauru. É professor do Pro-
grama de Pós-Graduação em Filosofi a da Unesp/FFC/Marília. Tem grande experiência 
no ensino de Lógica e Fundamentos da Matemática. Suas investigações científi cas estão 
voltadas para lógica, traduções entre lógicas, modelos algébricos, quantifi cadores e lógicas 
não clássicas.
O objetivo deste livro é apresentar um texto introdutório sobre os conceitos da álge bra para 
um curso de graduação. No capítulo introdutório, está uma breve apresentação de alguns 
conceitos básicos sobre conjuntos e operações com conjuntos, seguida do tema das relações, 
relações de ordem e relações de equivalência, que são necessários para o desenvolvimento 
das estruturas algébricas abordadas nos capítulos seguintes: grupos, anéis e corpos. O volu-
me trata também de polinômios e de extensões de corpos. Estes temas são essenciais para a 
parte fi nal, que discute os três problemas clássicos da antiguidade. Desenvolve discussões 
sobre as construções geométricas apenas com régua e compasso e, na sequência, sobre 
a resolução de equações por meio de radicais.
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ESTRUTURAS ALGÉBRICAS
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Universidade Estadual Paulista
 Reitor Julio Cezar Durigan
 Pró-Reitor de Graduação Laurence Duarte Colvara
 Pró-Reitor de Pós-Graduação Eduardo Kokubun
 Pró-Reitora de Pesquisa Maria José Soares Mendes Giannini
 Pró-Reitora de Extensão Universitária Mariângela Spotti Lopes Fujita
 Pró-Reitor de Administração Carlos Antonio Gamero
 Secretária Geral Maria Dalva Silva Pagotto
 Chefe de Gabinete Roberval Daiton Vieira
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São Paulo
2013
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Mauri Cunha do Nascimento
Hércules de Araujo Feitosa
ESTRUTURAS ALGÉBRICAS
Estruturas algebricas_iniciais.indd 3Estruturas algebricas_iniciais.indd 3 01/10/2013 19:25:5501/10/2013 19:25:55
© Pró-Reitoria de Graduação, Universidade Estadual Paulista, 2013.
Ficha catalográfica elaborada pela Coordenadoria Geral de Bibliotecas da Unesp
N244e
Nascimento, Mauri Cunha do 
Estruturas Algébricas / Mauri Cunha do Nascimento [e] Hércules de Araujo 
Feitosa. – São Paulo : Cultura Acadêmica : Universidade Estadual Paulista, 
Pró-Reitoria de Graduação, 2013.
 172 p.
 Bibliografi a
 ISBN 978-85-7983-418-9
 1. Álgebra. I. Título. II. Feitosa, Hércules de Araujo. III. Universidade 
Estadual Paulista. Pró-Reitoria de Graduação.
 CDD 512
 Pró-reitor Laurence Duarte Colvara
 Secretária Joana Gabriela Vasconcelos Deconto
 Assessoria José Brás Barreto de Oliveira 
 Maria de Lourdes Spazziani
 Valéria Nobre Leal de Souza Oliva
 Técnica Bambina Maria Migliori 
 Camila Gomes da Silva
 Cecília Specian
 Eduardo Luis Campos Lima
 Gisleide Alves Anhesim Portes
 Ivonette de Mattos
 Maria Emília Araújo Gonçalves
 Maria Selma Souza Santos
 Renata Sampaio Alves de Souza
 Sergio Henrique Carregari
 Projeto gráfico Andrea Yanaguita
 Diagramação Mauri da Cunha Nascimento
 Hércules de Araujo Feitosa
 Finalização Estela Mletchol
equipe
Estruturas algebricas_iniciais.indd 4Estruturas algebricas_iniciais.indd 4 03/10/2013 09:05:2803/10/2013 09:05:28
PROGRAMA DE APOIO
À PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
Considerando a importância da produção de material didático-pedagó gico 
dedicado ao ensino de graduação e de pós-graduação, a Reitoria da UNESP, por 
meio da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) e em parceria com a Funda-
ção Editora UNESP (FEU), mantém o Programa de Apoio à Produção de 
Material Didático de Docentes da UNESP, que contempla textos de apoio às 
aulas, material audiovisual, homepages, softwares, material artístico e outras 
mídias, sob o selo CULTURA ACADÊMICA da Editora da UNESP, disponibi-
lizando aos alunos material didático de qualidade com baixo custo e editado 
sob demanda.
Assim, é com satisfação que colocamos à disposição da comunidade aca-
dê mica mais esta obra, “Estruturas Algébricas”, de autoria dos Professores: 
Dr. Mauri Cunha do Nascimento e Dr. Hércules de Araujo Feitosa, da Facul-
dade de Ciências do Câmpus de Bauru, esperando que ela traga contribuição 
não apenas para estu dantes da UNESP, mas para todos aqueles interessados no 
assunto abordado. 
Estruturas algebricas_iniciais.indd 5Estruturas algebricas_iniciais.indd 5 03/10/2013 09:05:2903/10/2013 09:05:29
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“Estruturas*Algebricas” — 2013/4/16 — 10:15 — page — #1 i
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INTRODUÇÃO 11
1 PRELIMINARES 15
1.1 Conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Operações com conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.3 Relações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4 Relação de equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.5 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.6 Operações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.7 Propriedades das operações . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.8 Os inteiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2 GRUPOS 35
2.1 Definições e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.2 Propriedades dos grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.3 Produto de grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.4 Grupos de permutações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.5 Grupos de simetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.6 Grupos cíclicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.7 Subgrupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.8 Classes laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.9 Subgrupos normais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.10 Grupo quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.11 Homomorfismo de grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.12 Grupos solúveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Sumário
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3 ANÉIS 73
3.1 Definições e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.2 Os anéis Zn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.3 Propriedades dos anéis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.4 Subanéis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3.5 Ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.6 Homomorfismo de anéis . . . . . . . . . . . . .. . . . . . 89
3.7 Anel quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.8 O teorema do isomorfismo . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
3.9 Característica de um anel . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.10 O corpo de frações de um domínio de integridade . . . . . 100
3.11 Sobre um corpo ordenado e completo . . . . . . . . . . . 102
4 POLINÔMIOS 111
4.1 Anel de polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
4.2 Ideais principais e máximo divisor comum . . . . . . . . . 117
4.3 Polinômios irredutíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
4.4 Fatoração em polinômios irredutíveis . . . . . . . . . . . 123
4.5 Polinômios sobre os inteiros . . . . . . . . . . . . . . . . 126
5 CORPOS 131
5.1 Extensões algébricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
5.2 Imersão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
5.3 Extensões de Galois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
5.4 Elementos da Teoria de Galois . . . . . . . . . . . . . . . 148
5.5 Construções com régua e compasso . . . . . . . . . . . . . 155
5.6 Resolução de equações com radicais . . . . . . . . . . . . 162
5.7 Polinômios Solúveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
BIBLIOGRAFIA 169
ÍNDICE REMISSIVO 171
8 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
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NOTAÇÕES
A[x] - anel de polinômios com coeficientes em A - pag.111
[L : K] - grau da extensão de L sobreK - pag.134
∂p(x) - grau do polinômio p(x) - pag.113
[a1, a2, . . . , an] espaço vetorial gerado por {a1, a2, . . . , an}
K(a1, a2, . . . , an) - o menor corpo que contémK e {a1, a2, . . . , an}
Im(h) - a imagem da função h
N(h) - o núcleo do homomorfismo h
Gal(f(x),K) - o corpo de decomposição de f(x) sobreK - pag.144
KG - o corpo fixo deK por G - pag.145
G(L,K) - o grupo dosK-automorfismos de L - pag.146
H < G -H subgrupo de G
H �G -H subgrupo normal de G
LH - o corpo fixo de L porH - pag.151
I(K,L) - conjunto dos corpos intermediários entreK e L - pag.151
Sn - grupo de permutações - pag.56
G(f(x),K) - o grupo de Galois de f(x) - pag.148
N, Z, Q, R, C - conjuntos numéricos - pag.15.
X∗ -X − {0}
∅ - conjunto vazio
A ⊆ B - A subconjunto de B
A ⊂ B - A é subconjunto próprio de B
A−B - conjunto dos elementos de A que não estão em B
P(E) - o conjunto das partes de E
iA - a função identidade de A em A
a | b - a divide b
mdc(a, b) - o máximo divisor comum de a e b
mmc(a, b) - o mínimo múltiplo comum de a e b
Mm×n(R) - conjunto das matrizesm× n
Mn(R) - conjunto das matrizes quadradas de ordem n
In - matriz identidade n× n
〈a〉 - grupo cíclico gerado por a
〈S〉 - subgrupo gerado por S
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〈a1, a2, . . . , an〉 - subgrupo gerado por {a1, a2, . . . , an}
|G| - ordem do grupo G
|a| - ordem do elemento a
(G : H) - índice do subgrupoH em G
10 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
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Introdução
Uma parte significativa do trabalho matemático consiste em com-
preender e desenvolver estruturas matemáticas. De um modo geral,
uma estrutura matemática é determinada por um conjunto universo de
objetos matemáticos, por operações que envolvem estes objetos e tam-
bém por relações entre esses elementos do universo.
Um exemplo bastante simples e que está na experiência mate-
mática de todo estudante é a estrutura matemática determinada por
(N, 0, 1,+, ·, s,≤), em que N é o conjunto dos números naturais, 0 e 1
são dois números naturais particulares, s é a operação (função) suces-
sor, que a cada número natural n atribui o seu sucessor n + 1, + é a
operação de adição de números naturais, · é a operação de multiplica-
ção de números naturais e ≤ é a relação usual de ordem de números
naturais.
Para certas estruturas, tratamos e quantificamos sobre operações e
relações com conjuntos de conjuntos do universo. São estruturas de
segunda ordem, importantes e corriqueiras no contexto matemático.
Por exemplos, estruturas topológicas são deste tipo.
Podemos destacar alguns aspectos de uma estrutura e nos debruçar-
mos apenas sobre este quesito. Por exemplo, podemos estudar apenas
(N,≤), isto é, o conjunto dos números naturais com sua usual relação
de ordem, mas sem operações. Uma estrutura matemática sem opera-
ções é chamada estrutura relacional. Por outro lado, podemos esquecer
as relações da estruturamatemática e nos concentrarmos nas suas ope-
rações, demodo a caracterizar quais propriedades as operações daquela
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12 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
estrutura partilham. Uma estrutura matemática fundada em operações
é uma estrutura algébrica.
Como indica o título deste texto, trataremos das estruturas algébri-
cas. Motivados pelas estruturas algébricas dadas por diversos conjuntos
numéricos, matemáticos perceberam que há alguns aspectos comuns
em muitas dessas estruturas e também diferenças substanciais. Então,
identificar o que seria comum e abstrair tais aspectos levou-os ao es-
tudo das estruturas algébricas.
Diante disso, escolhemos alguns princípios básicos, ou axiomas al-
gébricos, e determinamos uma teoria específica. Desenvolvemos esta
particular teoria em seus aspectos gerais e depois identificamos estru-
turas matemáticas que são modelos daquela teoria - os exemplos, isto
é, estruturas que fazem os axiomas serem sempre válidos. Este é o ca-
minhar das investigações sobre estruturas algébricas.
Há uma tradição importante dos algebristas que destacam o estudo
das seguintes teorias algébricas: Grupos, Anéis, Corpos e Anéis de Po-
linômios. Emmuitos cursos de matemática pelo mundo há alguma dis-
ciplina que trata destas teorias. Neste texto nos propomos a fazer exa-
tamente isto.
Existemmuitos e bons textos sobre este assunto, como indicados na
bibliografia. Segundo o nosso entendimento, o nosso livro não é me-
lhor, mas também não é pior que os outros textos. Ele apenas explicita
as nossas escolhas, as quais fizemos ao longo demuitos anos dando au-
las de estruturas algébricas, e também sugere um encadeamento para
a formação dos nossos alunos. Corresponde a nossas notas de aulas,
revistas e dimensionadas para a nossa realidade.
Reunimos os exercícios ao final de cada seção.
No primeiro capítulo apresentamos, de forma bem resumida, alguns
conceitos importantes para os desdobramentos posteriores. Tais con-
teúdos são desenvolvidos em alguns textos da Bibliografia, especial-
mente em [3], [5] e [16].
No capítulo seguinte, tratamos dos Grupos. Cada grupo é uma es-
trutura algébrica determinada por uma única operação e um elemento
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| INTRODUÇÃO 13
neutro para aquela operação, com algumas poucas propriedades. Numa
estrutura de grupo já podemos resolver algumas simples equações de
primeiro grau.
No terceiro capítulo, adicionamos uma operação à estrutura de gru-
pos e ampliamos o conjunto de axiomas para obtermos uma nova estru-
tura algébrica denominada Anel. Definimos muitos casos particulares
de anéis, damos inúmeros exemplos emostramosmuitas propriedades.
O próximo capítulo é destinado aos polinômios. Daremos grande
ênfase a polinômios sobre anéis.
O último capítulo é destinado a elementos da Teoria de Galois.
Trata-se de uma teoria belíssima, fundamental para os estudos algébri-
cos, de surgimento relativamente recente e que permitiu comprovar a
impossibilidade de alguns anseios matemáticos, por muito tempo per-
seguidos, como: a trissecção de um ângulo, dividir um ângulo qualquer
emtrês ângulos demesmamedida; a quadratura do círculo, determinar
um quadrado com área idêntica a de um círculo dado; a duplicação do
cubo, a determinação de um cubo cujo volume é exatamente o dobro
do volume de um cubo dado; e a determinação de um método que en-
volvesse apenas radicais dos coeficiente de uma equação qualquer para
a obtenção de suas raízes. Temos soluções para equações de graus até
quatro, mas não há método geral para equações de graus superiores a
quatro.
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Capítulo 1
Preliminares
Neste capítulo inicial, faremos uma rápida apresentação sobre
alguns conceitos matemáticos necessários para o desenvolvimento dos
tópicos que surgirão no texto. Todos estes temas são usualmente vis-
tos em momentos anteriores ao estudo das estruturas algébricas como
desenvolvidos nos capítulos seguintes.
1.1 Conjuntos
O conceito de conjunto é fundamental para os desenvolvimentos
deste texto e também da Matemática de um modo geral. Faremos uma
abordagem rápida em que apresentaremos aspectos da álgebra dos
conjuntos. Detalhes sobre tratamento mais cuidadoso e axiomático
dos conjuntos podem ser encontrados em [5].
As notações abaixo são as usuais para os conjuntos numéricos:
N = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, ...} o conjunto dos números naturais;
Z = {...− 3,−2,−1, 0, 1, 2, 3, ...} o conjunto dos números inteiros;
Q = {a
b
: a, b ∈ Z e b 6= 0} o conjunto dos números racionais;
R o conjunto dos números reais, que consiste dos números racionais
e dos irracionais;
C = {a+bi : a, b ∈ R e i2 = −1} o conjunto dos números complexos.
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16 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Denotamos, em geral, os conjuntos por letras maiúsculas e seus
elementos por letras minúsculas. O símbolo : entre chaves deve ser
lido como “tal que”.
Se A é um conjunto de números, denotamos por A∗ o conjunto A
sem o zero. Assim, N∗ = {1, 2, 3, ...}.
Representamos um conjunto dispondo seus elementos entre cha-
ves, como nos seguintes casos, A = {a, b, c}, B = {0, 2, 4, ..., 2n, ...} e
P = {x ∈ B : x > 5}.
Escrevemos a ∈ A para indicar que o elemento a pertence ao
conjunto A e escrevemos a /∈ A para denotar que o elemento a não
pertence ao conjunto A. Para o conjunto A = {−1, 0, 1}, temos
−1 ∈ A, 2 /∈ A, 0 ∈ A, ....
O conjunto vazio é o único conjunto que não contém elementos.
Denotamos o conjunto vazio por { } ou, da maneira mais usual, por ∅.
Um conjunto é unitário quando possui apenas um elemento. Por
exemplo, A = {a} e B = {x ∈ Z : x2 = 0} são conjuntos unitários.
O conjunto universo V é constituído por todos os elementos que es-
tão em consideração. Por isso, muitas vezes, é chamado de universo de
discurso. Como exemplo, na Geometria Euclidiana Plana, o conjunto
universo é o plano euclidiano.
Um conjunto A é subconjunto de um conjunto B quando todos os
elementos de A são também elementos de B. Nesse caso, dizemos
também que A está contido em B ou que B contém A. Denotamos a
inclusão de conjuntos por: A ⊆ B.
Para qualquer conjunto A, temos ∅ ⊆ A e A ⊆ A. Estes dois
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| PRELIMINARES 17
subconjuntos são chamados de subconjuntos triviais de A.
O conjunto A é um subconjunto próprio de B se A ⊆ B e A 6= B.
Denotamos a inclusão própria por: A ⊂ B.
Se A = {−1, 0, 1} e B = {−3,−2,−1, 0, 1, 2}, então temos A ⊂ B.
Neste caso também é correto escrever A ⊆ B.
Dois conjuntosA eB são iguais quando têm exatamente osmesmos
elementos. A igualdade de conjuntos é denotada por A = B.
Os conjuntos A = {0, 1, 2} e B = {x ∈ N : x ≤ 2} possuem os
mesmos elementos e, deste modo, A = B.
1.2 Operações com conjuntos
As operações com conjuntos nos ensinam como operar com
conjuntos e obtermos novos conjuntos a partir de conjuntos dados.
Introduzimos, a seguir, as operações de união, intersecção, comple-
mentação e diferença de conjuntos.
Sejam A e B dois conjuntos dados:
A união de A e B é o conjunto A ∪B dos elementos que pertencem
a A ou a B.
A intersecção de A e B é o conjunto A ∩ B dos elementos que per-
tencem a A e a B.
A diferença entreA eB é o conjuntoA−B formado pelos elementos
que pertencem a A, mas não pertencem a B.
O complementar deA relativo ao universoV é o conjuntoA′ formado
pelos elementos que pertencem a V , mas não pertencem a A.
Dois conjuntos A e B são disjuntos quando A ∩B = ∅.
Dessas operações entre conjuntos seguem as seguintes proprieda-
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18 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
des das operações com conjuntos:
Propriedades da união:
A ∪A = A [Idempotência]
A ∪B = B ∪A [Comutatividade]
(A ∪B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C) [Associatividade]
A ∪∅ = A [Elemento neutro]
A ∪ V = V [Elemento absorvente]
A ⊆ A ∪B [Disjunção]
Propriedades da intersecção:
A ∩A = A [Idempotência]
A ∩B = B ∩A [Comutatividade]
(A ∩B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C) [Associatividade]
A ∩∅ = ∅ [Elemento absorvente]
A ∩ V = A [Elemento neutro]
A ∩B ⊆ A [Conjunção]
Propriedades distributivas:
A ∪ (B ∩ C) = (A ∪B) ∩ (A ∪ C)
A ∩ (B ∪ C) = (A ∩B) ∪ (A ∩ C)
Propriedades do complementar:
(A′)′ = A [Duplo complementar]
A ∩A′ = ∅
A ∪A′ = V
Propriedades de absorção e diferença:
A ∩ (A ∪B) = A
A ∪ (A ∩B) = A
A−B = A ∩B′.
Exercícios
1. Verificar a validade das propriedades das operações com conjuntos.
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1.3 Relações
No contexto matemático é usual tomarmos dois elementos e
compararmos um com outro. Observar que um é maior que o outro,
que são iguais, que guardam algum tipo de propriedade ou relação.
A abstração algébrica destas situações nos remetem ao conceito de
relações, como veremos agora.
O produto cartesiano de um conjunto A por um conjunto B, que é
denotado por A × B, é o conjunto de todos os pares ordenados (a, b)
tais que a ∈ A e b ∈ B. Deste modo, A×B = {(a, b) : a ∈ A e b ∈ B}.
Também dizemos que este é um produto cartesiano binário, mo-
tivado pelo estudo do plano cartesiano, inicialmente investigado por
Rene Descartes, mas que pode ser generalizado para uma coleção de
conjuntos, do seguinte modo:
A1 ×A2 × ...×An = {(a1, a2, ..., an) : ai ∈ Ai}.
Uma relação binária de A em B é qualquer subconjunto de A×B.
Em geral trataremos de relações binárias e diremos apenas rela-
ção. Se R é uma relação, algumas vezes escrevemos xRy ao invés
de (x, y) ∈ R. Vejamos que isto é o que ocorre com a usual re-
lação de ordem ≤ no conjunto dos números reais R. Temos que
R = {(x, y) ∈ R × R : x é menor ou igual a y}, contudo, corriqueira-
mente denotamos esta relação por “x ≤ y” e não por “(x, y) ∈ R”.
Uma relação em um conjunto A (ou sobre um conjunto A) é um
subconjunto R do produto cartesiano A×A.
Seja R uma relação sobre A. Dizemos que R é:
(i) reflexiva quando, para todo a ∈ A, ocorre aRa;
(ii) simétrica quando, para todos a, b ∈ A, se aRb, então bRa;
(iii) transitiva quando, para todos a, b, c ∈ A, se aRb e bRc, então
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aRc;
(iv) anti-simétrica quando, para todos a, b ∈ A, se aRb e bRa, então
a = b.
(v) linear quando, para todos a, b ∈ A, ocorre aRb ou bRa.
Uma relação de ordem sobre um conjuntoA é uma relação reflexiva,
anti-simétrica e transitiva. Uma relação de ordem total sobre A é uma
relação de ordem linear.
Exemplo 1.1. Se E é um conjunto qualquer, o conjunto das partes de E
é o conjunto P(E) = {X : X ⊆ E}. Então (P(E),⊆) é uma relação de
ordem, mas não é uma ordem total.
Exemplo 1.2. A relaçãoR = {(a, b) ∈ R : a ≤ b} é uma ordem linear.
Exercícios
1. Justificar a ordem da inclusão de conjuntos acima e mostrar porque
ela não é total.
1.4 Relação de equivalência
As relações de equivalência são importantes para os desdobra-
mentos algébricos que planejamos encaminhar. De certo modo, elas
generalizam uma relação de igualdade.
Uma relação de equivalência sobre um conjunto A é uma relação re-
flexiva, simétrica e transitiva.
Exemplo 1.3. A relação de igualdade em qualquer conjunto é sempre uma
relação de equivalência.
Exemplo 1.4. A semelhança de triângulos é uma relação de equivalência.
Dada umauma relação de equivalência R emumconjuntoA e a ∈ A,
a classe de equivalência de a segundo a relaçãoR é o conjunto [a] = {x ∈
A : xRa}.
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Exemplo 1.5. Se A = {1, 2, 3} e R = {(1, 1), (2, 2), (3, 3), (1, 2), (2, 1)},
então R é uma relação de equivalência e as suas classes de equivalência
são dadas por: [1] = {1, 2}, [2] = {1, 2} e [3] = {3}.
Teorema 1.1. Seja R uma relação de equivalência em um conjunto A.
Então:
(i) duas classes de equivalência de R são iguais ou disjuntas e
(ii) o conjunto A é a união de todas as classes de equivalência.
Demonstração: (i) Sejam [a] e [b] duas classes. Se [a] e [b] são disjuntas,
nada há para verificar. Agora, se [a] ∩ [b] 6= ∅, então deve ser o caso que
[a] = [b]. Se [a] ∩ [b] 6= ∅, então existe c ∈ [a] ∩ [b] e, daí, cRa e cRb.
Portanto, aRc, cRb e, assim, aRb. Se d ∈ [a], então dRa, e como aRb,
então dRb, ou seja, d ∈ [b], o que mostra que [a] ⊆ [b]. De modo análogo,
verifica-se que [b] ⊆ [a]. Portanto, [a] = [b].
(ii) Como [a] ⊆ A, então ∪{[a] : a ∈ A} ⊆ A. Por outro lado,
A ⊆ ∪{[a] : a ∈ A}. Portando, A = ∪{[a] : a ∈ A}.
SeR é uma relação de equivalência sobre o conjuntoA, então o con-
junto quociente de A pela relação R é o conjunto das classes de equi-
valência de R, isto é, A/R = {[a] : a ∈ A} = {B ∈ P(A) : B =
[a], para algum a ∈ A}.
Exemplo 1.6. No exemplo anterior, A/R = {[1], [3]}.
1.5 Funções
Naturalmente reconhecemos que o conceito de função é central
para quase tudo em Matemática. Apenas recordaremos algumas
definições.
Uma função f deA emB é uma relação deA emB tal que para cada
x ∈ A existe um único y que satisfaz (x, y) ∈ f .
Em geral, denotamos uma função f de A em B por f : A → B e
(x, y) ∈ f por y = f(x).
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Quando f : A → B é uma função de A em B, então dizemos que A
é o domínio de f ,B é o contradomínio de f e a imagem de f é o conjunto
Im(f) = {b ∈ B : b = f(a), para algum a ∈ A}.
Exemplo 1.7. Para um conjunto A, iA : A→ A é a função identidade em
A que é definida por iA(x) = x, para todo x ∈ A.
Uma função f : A → B é sobrejetiva quando Im(f) = B. Ela é
injetiva quando, para x, y ∈ A, se x 6= y, então f(x) 6= f(y) e é bijetiva
se é injetiva e sobrejetiva.
1.6 Operações
São as operações e as propriedades partilhadas pelas operações
que determinam as estruturas algébricas. Recordemos então alguns
aspectos das operações, que são casos particulares de funções.
Uma operação binária sobre um conjunto A é uma função
∗ : A×A→ A.
Assim, uma operação binária em A associa a cada par de elementos
de A um outro elemento de A.
Exemplo 1.8. A adição é uma operação em R, pois a soma de números
reais é ainda um número real.
Exemplo 1.9. Do mesmo modo, a adição é uma operação em N, Z, Q, R
e C.
Exemplo 1.10. A multiplicação também é uma operação em N, Z,Q, R e
C.
Exemplo 1.11. A subtração não é uma operação N, pois 0 ∈ N e 1 ∈ N,
mas 0− 1 /∈ N. Mas a subtração é uma operação nos conjuntos Z, Q, R e
C.
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Exemplo 1.12. No conjunto das matrizes reais quadradas de ordem n, a
adição e o produto de matrizes são operações.
Assim como na adição + e na multiplicação ·, indicamos cada ope-
ração genérica por um símbolo específico para aquela operação.
Exemplo 1.13. Em N a operação sucessor definida por s(n) = n + 1 é
uma operação de aridade 1 ou unária.
Uma estrutura algébrica é determinada por um par (A, {\i}i∈I), em
que A é um conjunto não vazio e {\i} é um conjunto de operações de
aridades finitas sobre A.
Exemplo 1.14. (N, s,+, ·) é uma estrutura algébrica determinada pelo
conjunto dos números naturaisN, munido das operações sucessor s, adição
+ e multiplicação ·.
Veremos, posteriormente, que as propriedades partilhadas pelas
operações de cada estrutura algébrica é que caracterizarão as particu-
lares estruturas que investigaremos no texto.
1.7 Propriedades das operações
Sejam ∗ e# operações sobre um conjunto A.
Propriedade associativa: a operação ∗ é associativa se para todos
x, y, z ∈ A, tem-se: x ∗ (y ∗ z) = (x ∗ y) ∗ z.
Propriedade comutativa: a operação ∗ é comutativa quando para
todos x, y ∈ A, tem-se: x ∗ y = y ∗ x.
Elemento Neutro: a operação ∗ admite um elemento neutro e ∈ A
se para todo x ∈ A tem-se: x ∗ e = x = e ∗ x.
Elemento Inverso ou Simétrico: um elemento x de A tem um inverso
segundo a operação ∗, quando existe x′ ∈ A tal que x ∗ x′ = e = x′ ∗ x,
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em que e é o elemento neutro de A em relação à operação ∗.
Se o elemento tem um inverso (ou simétrico) ele é chamado de
inversível (ou simetrizável). Algumas vezes o elemento simétrico de
um elemento segundo uma operação de adição é chamado de oposto;
e o elemento simétrico segundo uma operação de multiplicação é
chamado de inverso.
Lei do Cancelamento: a lei do cancelamento vale para a operação
∗ se para todos x, y, z ∈ A tem-se: x ∗ y = x ∗ z ⇒ y = z e
y ∗ x = z ∗ x⇒ y = z.
Propriedade Distributiva: a operação # é distributiva em relação à
operação ∗ quando, para todos x, y, z ∈ A, valem:
x#(y ∗ z) = (x#y) ∗ (x#z) e (y ∗ z)#x = (y#x) ∗
(z#x).
Exemplo 1.15. As operações usuais de adição emultiplicação de números
reais são associativas e comutativas.
Exemplo 1.16. A subtração sobre Z não é associativa nem comutativa,
pois: (9− 3)− 5 = 1 6= 7 = 9− (5− 3) e 4− 2 = 2 6= −2 = 2− 4.
Exemplo 1.17. A adição e a multiplicação de matrizes reais n × n
são associativas. A adição é comutativa, mas a multiplicação não. Por
exemplo, no caso de matrizes 2× 2:(
1 1
0 0
)(
1 0
1 0
)
=
(
2 0
0 0
)
e
(
1 0
1 0
)(
1 1
0 0
)
=
(
1 1
1 1
)
.
Exemplo 1.18. Os números 0 e 1 são respectivamente os elementos neu-
tros para a adição e multiplicação em N, Z, Q, R e C.
Exemplo 1.19. A adição de matrizes em Mm×n(R) tem como elemento
neutro a matriz nulam× n.
Exemplo 1.20. A subtração não tem elemento neutro em Z, pois: 2−a =
2⇒ a = 0 e a− 2 = 2⇒ a = 4.
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Exemplo 1.21. Todo número inteiro tem seu oposto em Z, pois: n +
(−n) = 0 = −n+ n.
Exemplo 1.22. O número 2 não é um elemento inversível para a multipli-
cação em Z, pois não existe n ∈ Z tal que 2n = 1.
Exemplo 1.23. Para a multiplicação em R, não vale a lei do cancela-
mento, pois 0.3 = 0.4, contudo 3 6= 4.
Observar que em R, a multiplicação é distributiva em relação à adi-
ção e emMn(R), a multiplicação é distributiva em relação à adição.
Exercícios
1. Verificar que:
(a) A composição de funções de R em R é associativa.
(b) A potenciação em N não é associativa, nem comutativa.
(c) A divisão em R∗ não é associativa, nem comutativa.
2. Mostrar que se uma operação ∗ admite elemento neutro, então ele é
único.
3. Indicar os elementos neutros para a adição e para a multiplicação de
matrizes reais de ordem 2 isto é,matrizes de ordem 2× 2.
4. Seja ∗ uma operação associativa e com elemento neutro. Mostrar que
se x tem um simétrico segundo ∗, então ele é único.
5. Seja ∗ uma operação com elemento neutro. Mostrar que:
(a) se x é simetrizável, então o seu simétrico x′ também é simetrizável
e (x′)′ = x;
(b) se ∗ é associativa e x, y ∈ A são simetrizáveis, então (x ∗ y) é sime-
trizável e (x ∗ y)′ = y′ ∗ x′.
6. Seja ∗ uma operação com elemento neutro num conjuntoA. Mostrar
que A tem pelo menos um elemento simetrizável.
7. Mostrar que para a adição em Z vale a lei do cancelamento.
8. Seja ∗ uma operação associativa e com elemento neutro. Mostrar que
se x é simetrizável, então podemos cancelar x, isto é, podemos mostrar
que a ∗ x = b ∗ x⇒ a = b.
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26 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
1.8 Os inteiros
Não pretendemos aqui fazer um desenvolvimento da Teoria dos
Números como seria desejável em um curso de graduação. Nosso
objetivo é apenas apresentar alguns conceitos e resultados necessários
para tópicos que virão mais adiante. Esses resultados e conceitos
podem ser encontrados em textos de Teoria dos Números, como por
exemplo em [16].
Consideraremos o conjunto dos números inteiros Z, com as suas
operações usuais de adição + e multiplicação · que satisfazem as
propriedades:
Adição: Para todos a, b, c ∈ Z valem:
A1 Associatividade: a+ (b+ c) = (a+ b) + c;
A2 Comutatividade: a+ b = b+ a;
A3 Elemento neutro: para todo a existe o 0 tal que a+0 = 0+a = a;
A4 Elemento oposto: para todo a existe −a ∈ Z tal que
(−a) + a = a+ (−a) = 0;
Multiplicação: Para todos a, b, c ∈ Z valem:
M1 Associatividade: a · (b · c) = (a · b) · c;
M2 Comutatividade: a · b = b · a;
M3 Elemento neutro: para todo a existe o 1 tal que a · 1 = 1 · a = a;
M4 Multiplicação por zero: 0 · a = 0;
M5 Produto nulo: a · b = 0⇒ a = 0 ou b = 0;
M6 Regra do sinal: (−a) · b = a · (−b) = −(a · b) e (−a) · (−b) = a · b;
Distributividade e desigualdades: Para todos a, b, c ∈ Z valem:
D0 Distributividade: a · (b+ c) = a · b+ a · c;
D1 a < b⇔ a+ c < b+ c;
D2 a < b e c > 0⇒ a · c < b · c;
D3 a < b e c < 0⇒ a · c > b · c.
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Como usualmente, denotaremos a multiplicação de a por b por a · b
ou apenas por ab.
Princípio da boa ordenação: Todo conjunto não vazio de nú-
meros naturais possui um menor elemento. Isto é, se S ⊆ N e S 6= ∅,
então existe s ∈ S tal que s ≤ n, para todo n ∈ S.
Primeiro princípio de indução: Sejam m ∈ N e P (n) uma sen-
tença para n ∈ N, que satisfaz:
(i) P (m) é verdadeira e
(ii) se n ≥ m e P (n) é verdadeira, então P (n+ 1) é verdadeira.
Então P (n) é verdadeira para todo n ∈ N com n ≥ m.
Segundo princípio de indução: Sejam m ∈ N e P (n) uma sen-
tença para n ∈ N, que satisfaz:
(i) P (m) é verdadeira e
(ii) para cada n ∈ N, com n > m, se P (r) é verdadeira para todo
r ∈ N quandom ≤ r < n, então P (n) é verdadeira.
Então P (n) é verdadeira para todo n ∈ N, com n ≥ m.
O princípio da boa ordenação e os dois princípios de indução
são equivalentes, isto é, a partir de um deles podemos demons-
trar os outros dois. A equivalência pode ser verificada da seguinte
forma: (boa ordenação ⇒ 2o Princípio de Indução ⇒ 1o Princípio de
Indução⇒ boa ordenação) e pode ser encontrada, por exemplo em [16].
Propriedade arquimediana de Z: Se a e b são inteiros e a 6= 0,
então:
(i) existe d ∈ Z tal que da > b;
(ii) existe e ∈ Z tal que ea < b.
Divisibilidade: Para a e b inteiros, dizemos que a divide b, ou
que a é um divisor de b, se b é um múltiplo inteiro de a.
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28 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Notação: a | b⇔ b = qa, para algum q ∈ Z.
Propriedades da divisibilidade: Para quaisquer a, b, c inteiros,
valem:
(i) a | a, 1 | a e a | 0;
(ii) a | b⇒ a | bc;
(iii) a | b⇒ a | bn, para todo n ∈ N∗;
(iv) a | b e a | c⇒ a | (b+ c);
(v) a | b e a | (b+ c)⇒ a | c;
(vi) a | b e a | c⇒ a | (rb+ sc), para quaisquer r e s inteiros;
(vii) a | b e b > 0⇒ a ≤ b;
(viii) ab = 1⇒ a = b = 1 ou a = b = −1;
(ix) a | b e b | a⇒ a = b ou a = −b.
Se a1, a2, ..., an são inteiros tais que a | ai, para todo i, então,
aplicando indução e o ítem (iv) das propriedades acima, prova-se que
p | (a1 + a2 + . . . + an).
O algoritmo da divisão: Dados n e d inteiros com d > 0, então
existem únicos inteiros q e r tais que n = qd+ r e 0 ≤ r < d.
O máximo divisor comum: Dados a e b inteiros não ambos nu-
los, o máximo divisor comum de a e b é um inteiro positivo d que
satisfaz:
(i) d | a e d | b;
(ii) se c é um inteiro tal que c | a e c | b, então c | d.
Notação: d = mdc(a, b).
O conceito de máximo divisor comum pode ser estendido para um
conjunto finito de inteiros, tal que nem todos sejam nulos:
O inteiro positivo d é o máximo divisor comum de a1, a2, ..., an se:
(i) d | ai, para todo i;
(ii) se c é um inteiro e c | ai para todo i, então c | d.
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Notação: d = mdc(a1, a2, ..., an).
Os inteiros a1, a2, ..., an são relativamente primos ou primos entre
si quando:
mdc(a1, a2, ..., an) = 1.
Propriedades do máximo divisor comum: Para a, b ∈ Z, temos:
(i) se d = mdc(a, b), então d é o menor inteiro positivo da forma
ra+ sb, para r e s inteiros;
(ii) para r, s ∈ Z, se ra+ sb = 1, entãomdc(a, b) = 1;
(iii) se d = mdc(a1, a2, ..., an), entãomdc(
a1
d
,
a2
d
, ...,
an
d
) = 1.
Números primos: Um inteiro p > 1 é primo se seus únicos divi-
sores positivos são p e 1.
O Teorema Fundamental da Aritmética: Cada número inteiro
n > 1 decompõe-se de modo único como um produto de primos, no
seguinte sentido:
n = pr11 p
r2
2 .....p
rt
t ,
em que p1 < p2 < ... < pt são primos e t, r1, r2, ..., rt são inteiros
positivos.
Propriedades dos números primos: Se p é um número primo,
então:
(i) se p divide um produto de inteiros, então divide pelo menos um
deles;
(ii) se n é um inteiro positivo menor que p, então p - n;
(iii) se p - n, entãomdc(n, p) = 1;
(iv) se a e b são inteiros e p | ab, mas p2 - ab, então p divide somente
um dos dois números.
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30 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
As congruências de módulo n
As congruências módulo n, além de exemplos de relações de
equivalência, têm muitas aplicações algébricas e são importantes
instrumentos para exemplos e contra-exemplos de propriedades
algébricas.
Sejam a, b, n ∈ Z e n > 1. A relação “a é congruente a b módulo n”,
que é denotada por a ≡ b(mod n) é definida por:
a ≡ b(mod n) ⇔ n | a − b ⇔ a − b = q.n, para algum
q ∈ Z.
Exemplo 1.24. Temos 5 ≡ 2(mod 3), 7 ≡ −1(mod 4), −1 ≡ 13(mod 7) e
31 ≡ 31(mod 77).
A congruência módulo n é uma relação de equivalência, pois:
Reflexividade: para todo a ∈ Z, temos que a − a = 0 = 0.n, isto é,
a ≡ a(mod n) e, portanto, a relação é reflexiva;
Simetria: para todos a, b ∈ Z, se a ≡ b(mod n), então a − b = c.n e,
portanto, b − a = −(a − b) = −c.n. Logo, b ≡ a(mod n) e a relação é
simétrica;
Transitividade: para todos a, b, c ∈ Z, se a ≡ b(mod n) e
b ≡ c(mod n), então a − b = d.n e b − c = e.n. Logo,
a− c = a− b+ b− c = d.n+ e.n = (d+ e).n. Portanto, a ≡ c(mod n) e
a relação é transitiva.
Determinaremos, agora, o conjunto quociente de Z pela congruên-
cia módulo n:
Pelo algoritmo da divisão, para cadam ∈ Z existem e são únicos o quo-
ciente e o resto q, r ∈ Z, com 0 ≤ r < n, tais que m = qn + r. Assim,
m − r = qn, ou seja, m ≡ r(mod n). Desse modo, para cada m ∈ Z,
existe um único r ∈ {0, 1, ..., n − 1} tal que m ≡ r(mod n), ou seja, em
vista do Teorema 1.1, as classes de equivalência dem e de r coincidem.
Também, se0 ≤ r < s < n, então 0 < s − r ≤ s < n, ou seja, r e
s não são congruentes módulo n. Denotamos a classe de equivalência
de m ∈ Z por m e temos m ∈ {0, 1, ..., n− 1}, conforme observamos
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acima. Se 0 ≤ r 6= s < n, então r 6= s e o conjunto quociente de Z pela
congruência é um conjunto com n elementos:
Zn = {0, 1, ..., n− 1}.
Operações aritméticas em Zn
As operações de adição e multiplicação em Zn são definidas do
modo seguinte.
Para a, b ∈ Zn, definimos:
a+ b = a+ b e a.b = a.b
Precisamos verificar que as operações acima estão bem definidas,
isto é, se a = b e c = d, então a + c = b + d e a.c = b.d, ou seja,
mostrar que a+ b = c+ d e a.c = b.d. Como duas classes x e y são
iguais se, e somente se, x ≡ y(mod n), então basta mostrarmos que
a + c ≡ b + d(mod n) e a.c ≡ b.d(mod n). Isto será feito na próxima
proposição.
Proposição 1.2. Sejam a, b, c, d, n ∈ Z, com n > 1. Daí:
(i) Se a ≡ b(mod n), então a+ c ≡ b+ c(mod n);
(ii) Se a ≡ b(mod n) e c ≡ d(mod n), então a+ c ≡ b+ d(mod n);
(iii) Se a ≡ b(mod n), então a.c ≡ b.c(mod n);
(iv) Se a ≡ b(mod n) e c ≡ d(mod n), então a.c ≡ b.d(mod n);
Demonstração: (i) Se a ≡ b(mod n), então n|(a−b)⇔ n|(a+c−c−b)⇔
n|(a+ c)− (b+ c). Portanto, a+ c ≡ b+ c(mod n);
(ii) Se a ≡ b(mod n) e c ≡ d(mod n), por (i), temos que a + c ≡
b + c(mod n) e b + c ≡ b + d(mod n). Pela transitividade da relação ≡,
a+ c ≡ b+ d(mod n).
Como a = r, e r é o resto da divisão de a por n, podemos então defi-
nir as operações de adição emultiplicação emZn = {0, 1, ..., n− 1} por:
a+ b = c e a.b = d,
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32 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
em que c e d são, respectivamente, os restos das divisões de a+ b e a.b
por n.
Exemplo 1.25. Em Z15 temos 10 + 10 = 5; 3 + 7 = 10; 6 + 12 = 3;
5·5 = 10; 10·6 = 0.
Vejamos algumas propriedades das operações de Zn.
Proposição 1.3. Se a, b, c ∈ Zn, então:
(i) Fechamento: a+ b ∈ Zn e a·b ∈ Zn
(ii) Comutatividade: a+ b = b+ a e a·b = b·a
(iii) Associatividade: a+ (b+ c) = (a+ b) + c e a·(b·c) = (a·b)·c
(iv) Distributividade: a·(b+ c) = a·b+ a·c e (a+ b)·c = a·c+ b·c
(iv) Neutro da adição: a+ 0 = 0 + a = a
(v) Neutro da multiplicação: 1·a = a·1 = a
(vi) Multiplicação por zero: 0·a = a·0 = 0
(vii) Oposto: a+ n− a = n− a+ a = 0, se 0 < a < n e 0 + 0 = 0
Demonstração: (i) Segue das definições das operações.
(ii) Também seguem das definições das operações, pois a + b = b + a e
a.b = b.a.
(iii) a + (b + c) = a + d = e e (a + b) + c = f + c = g, em que d, e, f , e
g são respectivamente os restos das divisões de b + c, a + d, a + b e f + c
por n. Assim, existem números naturais q1, q2, q3 e q4 tais que:
(1) b + c = q1n + d (2) a + d = q2n + e (3) a + b = q3n + f (4)
f + c = q4n+ g
De (1) e (2) temos a+(b+c) = a+(q1n+d) = q1n+(a+d) = q1n+(q2n+e).
Logo, a+ b+ c = (q1 + q2)n+ e, ou seja, e é o resto da divisão de a+ b+ c
por n.
De (3) e (4) temos (a+b)+c = (q3n+f)+c = q3n+(f+c) = q3n+(q4n+g).
Logo, a+ b+ c = (q3 + q4)n+ g, ou seja, g é o resto da divisão de a+ b+ c
por n.
Da unicidade do resto da divisão, temos que e = g. Assim, a+ (b+ c)= e =
g = (a+ b) + c. De modo análogo, mostramos a·(b·c) = (a·b)·c.
Podemos fazer tabelas para a adição e para a multiplicação em Zn.
Por exemplo, para Z4 temos:
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| PRELIMINARES 33
+ 0 1 2 3
0 0 1 2 3
1 1 2 3 0
2 2 3 0 1
3 3 0 1 2
· 0 1 2 3
0 0 0 0 0
1 0 1 2 3
2 0 2 0 2
3 0 3 2 1
Olhando para a tabela da adição vemos que os opostos de 1, 2 e 3
são, respectivamente, 3 , 2 e 1. Na tabela da multiplicação vemos que
os inversos de 1 e 3 são, respectivamente, 1 e 3, e que 0 e 2 não têm
inversos.
Exercícios
1. Completar a demonstração da Proposição 1.2.
2. Provar as demais propriedades das operações em Zn da Proposi-
ção 1.3.
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Capítulo 2
Grupos
A estrutura algébrica de grupos é uma das primeiras numa hi-
erarquia de estruturas algébricas que serão vistas nesse texto. Numa
tal estrutura muito simples, podemos resolver, pela primeira vez nesta
hierarquia, uma equação de primeiro grau.
O conceito de grupo surgiu dos estudos de Évariste Galois com
equações de polinômios, em 1832. Embora Galois tenha utilizado
a ideia de grupo em todo o seu trabalho com equações, ele não deu
explicitamente uma definição de grupo. A definição ocorreu, pela
primeira vez, na publicação do trabalho de Galois, feita por Liouville
em 1846. Um ano antes, porém, Cauchy apresentou o conceito, ao
qual denominou de “sistema conjugado de substituições”. Durante
algum tempo, esses dois termos “grupo” e “sistema conjugado de subs-
tituições” foram utilizados. Contudo, em 1863, Jordan escreveu um
comentário sobre o trabalho de Galois, em que usou o termo “grupo”, e
a partir de então esta expressão passou a ser a mais utilizada, embora
o termo “sistema conjugado de substituições” também tenha sido
utilizado por alguns autores até por volta de 1880. Tanto Galois como
Cauchy definiam grupos somente em termos da propriedade de fecha-
mento, sem que aparecesse a associatividade e os elementos neutro
e inverso. Ambos trabalhavam com permutações e, neste contexto,
as propriedades definidoras dos grupos surgiam automaticamente.
Aos poucos, a partir de trabalhos de outros matemáticos como Cayley,
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36 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Kronecker, Burnside e Heinrich Weber, a definição de grupos, como a
conhecemos, ficou estabelecida.
Passemos então amais algumasmotivações e posterior definição do
conceito de grupos.
Do estudo de operações com números inteiros, Z, podemos ressal-
tar as seguintes propriedades da adição.
Para quaisquer a, b, c em Z valem:
(+0) a+ b ∈ Z (Fechamento);
(+1) a+ (b+ c) = (a+ b) + c (Associatividade);
(+2) 0 ∈ Z e a+ 0 = a = 0 + a (Elemento neutro da adição);
(+3)−a ∈ Z e a+ (−a) = 0 = −a+ a (Elemento inverso da adição).
Se no lugar de Z tomarmos Q, R, C, ou Mm×n(R) (o conjunto das
matrizes reais de ordem m × n), as propriedades acima permanecem
válidas. Inúmeros outros conjuntos com operações de adição ou ou-
tras operações satisfazem estas quatro propriedades, que são impor-
tantes no estudo de algumas teorias matemáticas, químicas e físicas.
Isso, de certa forma, justifica um estudo genérico de conjuntos com
uma operação que satisfaçam estas propriedades, muito embora a ori-
gem da Teoria dos Grupos esteja nos trabalhos de Galois, a respeito de
resolubilidade de equações polinomiais em termos de permutações de
suas raízes. Com esta abordagem que abstrai algumas propriedades de
uma estrutura algébrica, podemos identificar inúmeras propriedades
que são válidas em todas elas e, assim, não precisamos fazer exata-
mente o mesmo estudo em cada estrutura investigada, mas podemos
tratá-las todas como um pacote.
2.1 Definições e exemplos
Apresentamos agora a definição de grupo dada pelos axiomas que
definem um grupo genérico. A seguir apresentamos muitos exemplos
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| GRUPOS 37
de grupos, que são modelos para a caracterização formal dada na defi-
nição.
Definição 2.1. Um grupo é uma estrutura algébrica (G, ∗, e), em queG é
um conjunto não vazio, ∗ é uma operação binária em G e e é um elemento
de G tal que:
(G1) para todos a, b, c ∈ G: a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ b) ∗ c (Propriedade
associativa)
(G2) o elemento e ∈ G é tal que para todo a ∈ G: a ∗ e = e ∗ a = a
(Elemento neutro)
(G3) para todoa ∈ G, existe b ∈ G tal que: a ∗ b = e = b ∗ a (Elemento
inverso).
Como vimos, como ∗ é uma operação em G, então é uma função
∗ : G×G→ G, em que ∗(a, b) = a∗b. Assim, se a, b ∈ G, então a∗b ∈ G
e, naturalmente, vale a condição do fechamento.
Desde que introduzimos um conceito, então vejamos muitos exem-
plos de grupos.
Exemplo 2.1. (Z,+, 0), (Q,+, 0), (R,+, 0), (C,+, 0).
Estes são grupos aditivos sobre os respectivos conjuntos numéricos.
Exemplo 2.2. (Zn,+, 0).
Ver as congruências módulo n, nas noções preliminares.
Exemplo 2.3. (R∗, · , 1), (Q∗, · , 1), (C∗, · , 1).
Estes são grupos multiplicativos sobre os respectivos conjuntos numé-
ricos. Temos, em cada caso, de excluir o 0, pois este elemento, em cada
conjunto, não tem o inverso para a multiplicação.
Definição 2.2. Um grupo (G, ∗, e) é finito quando G possui uma quanti-
dade finita de elementos.
Exemplo 2.4. ({1,−1}, · , 1), ({1,−1, i,−i}, · , 1) são exemplos de grupos
finitos.
Exemplo 2.5. Param e n inteiros positivos, o conjunto das matrizes reais
m×n é denotado porMm×n(R). A terna (Mm×n(R),+, O) é o grupo adi-
tivo de matrizes, em que O é a matrizm× n nula. Denotamos porMn(R)
o conjunto das matrizes reais de ordem n, isto é, o conjuntoMn×n(R).
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A seguirmostramos um exemplo não usual, de um tipo que algumas
vezes é chamado de patológico.
Exemplo 2.6. Para a, b ∈ R− {−1} definimos a ∗ b = a+ b+ ab. Vamos
verificar que ∗ é uma operação em R− {−1}. É claro que se a = c e b = d
então a ∗ b = c ∗ d. Para a, b ∈ R − {−1}, a + 1 6= 0 e b + 1 6= 0. Logo,
(a+1)(b+1) 6= 0, ou seja, ab+a+b+1 6= 0. Portanto, a∗b = a+b+ab 6=
−1, isto é, a ∗ b ∈ R− {−1}. Portanto, ∗ é uma operação em R− {−1}
Se a, b, c ∈ R−{−1}, então a ∗ (b ∗ c) = a ∗ (b+ c+ bc) = a+(b+ c+
bc)+a(b+c+bc) = a+b+c+ab+ac+bc+abc. Por outro lado (a∗b)∗c =
(a+b+ab)∗c = (a+b+ab)+c+(a+b+ab)c = a+b+c+ab+ac+bc+abc.
Logo vale a associatividade.
Para todo a ∈ R−{−1} o neutro para ∗, caso exista, tem que ser tal que
a∗e = a. Daí, a+e+ae = a⇒ e(1+a) = 0⇒ e = 0
1 + a
= 0, se a 6= −1,
o que vale neste caso. Assim, 0 ∈ R− {−1} é tal que a ∗ 0 = 0 ∗ a = a.
Dado a ∈ R − {−1}, se o inverso de a é a′, temos: a′ ∗ a = 0 ⇒
a′+a+a′a = 0⇒ a′(1+a) = −a⇒ a′ = −a
1 + a
, pois a 6= −1. Verifica-se
que a ∗ a′ = a′ ∗ a = 0.
Assim, (R− {−1}, ∗, 0) é um grupo.
Vejamos também alguns contra-exemplos:
Exemplo 2.7. (N,+, 0) não é um grupo, pois 2 ∈ N, mas não existe n ∈ N
tal que 2 + n = 0.
Exemplo 2.8. (Z,−, 0) não é um grupo, pois não satisfaz nenhuma das
condições G1, G2 e G3 da definição de grupos.
Exemplo 2.9. (R, · , 1) não é um grupo, pois 0 ∈ R, mas não existe r ∈ R
tal que 0 · r = 1. Logo, (R, · , 1) não satisfaz a condição G3. De forma
semelhante, (Q, ·, 1) e (C, ·, 1) não são grupos.
Exemplo 2.10. ({−1, 0, 1},+) não é um grupo, apesar de estarem satis-
feitas as condiçõesG1,G2 eG3, pois “+” não é uma operação em {−1, 0, 1}
devido a que 1 ∈ {−1, 0, 1}, mas 1 + 1 = 2 /∈ {−1, 0, 1}.
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Na hierarquia de estruturas que estamos investigando, partiremos
do conceito de grupo a ao agregarmos novos axiomas algébricos que
deverão ser respeitados em novas situações, faremos as estruturas cada
vez mais específicas. Contudo, podemos dar alguns passos atrás e defi-
nirmos estruturas ainda mais gerais que grupos. Estas têm menos im-
portância e servem principalmente para caracterização de exemplos.
Definição 2.3. Ummonóide é uma estrutura matemática (G, ∗), em que
G é um conjunto não vazio e ∗ é uma operação associativa em G, isto é,
vale (G1).
Um semigrupo é uma estrutura matemática (G, ∗, e), em que (G, ∗) é
um monóide e e é um elemento neutro para ∗ em G, isto é, vale (G2).
Exemplo 2.11. (N,+, 0) não é um grupo, mas é exemplo de semigrupo.
Observamos, nos exemplos acima de grupos, que todos eles satis-
fazem a propriedade comutativa, isto é, para todos a, b ∈ G, temos que
a ∗ b = b ∗ a. Contudo, isto não vale sempre.
Definição 2.4. Um grupo (G, ∗, e) que satisfaz a propriedade comutativa:
(G4) para todos a, b ∈ G: a ∗ b = b ∗ a,
é chamado grupo abeliano ou grupo comutativo.
Veremos, a seguir, que existem grupos que não são abelianos.
Exemplo 2.12. SejaGL2(R), o conjunto das matrizes reais inversíveis de
ordem 2, isto é, A ∈ GL2(R) se, e somente se, det(A) 6= 0. Das proprie-
dades de multiplicação de matrizes, vemos que (GL2(R), · , I2) é um grupo
multiplicativo. Mas este não é um grupo abeliano, pois:(
1 1
0 1
)(
1 0
1 1
)
=
(
2 1
1 1
)
e
(
1 0
1 1
)(
1 1
0 1
)
=
(
1 1
1 2
)
.
Exemplo 2.13. Generalizando, os grupos (GLn(R), · , In), em que
GLn(R) é o conjunto das matrizes inversíveis de ordem n, com n ≥ 2, ·
é a operação de multiplicação de matrizes e In é a matriz identidade de
ordem n são grupos não abelianos.
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Tomemos, por exemplo, as matrizes A = (aij) e B = (bij), com aii =
bii = 1; a12 = b21 = 1; e todos os outros elementos das matrizes A e B
iguais a zero. Então: A ·B 6= B ·A.
Exemplo 2.14. Se (G, ∗, e) é um grupo não abeliano, podemos ter
a ∗ c = c ∗ b, com a 6= b. Por exemplo, no grupo GL2(R) para:
A =
(
1 1
0 1
)
, B =
(
0 1
1 1
)
e C =
(
0 −1
1 2
)
, então
A · B = B · C =
(
1 2
1 1
)
. Também, (A · B)−1 =
(
−1 2
1 −1
)
,
enquanto que A−1 ·B−1 =
(
1 −1
0 1
)(
−1 1
1 0
)
=
(
−2 1
1 0
)
.
Exercícios
1. Verificar se (M2(R)∗, · , I2) é um grupomultiplicativo, em queM2(R)∗
é o conjunto das matrizes reais de ordem 2 sem amatriz nula, · é a mul-
tiplicação de matrizes e I2 é a matriz identidade de ordem 2.
2. Verificar que (R − {1}, ∗, 0), ∗ definida por a ∗ b = a + b − ab é um
grupo.
3. Dar dois exemplos de monóides que não são semigrupos.
4. Dar dois exemplos de semigrupos que não são grupos.
5. Seja (G, ∗, e) um semigrupo. Mostrar que (G, ∗, e) é um grupo se, e
somente se, para todos a, b ∈ G, as equações a ∗ x = b e y ∗ a = b têm
solução em G.
6. Mostrar que Z[
√
2] = {a+ b√2 : a, b ∈ Z} determina um grupo abeli-
ano com a operação de adição.
7. Verificar se R∗ é um grupo com a operação a� b = a · b
2
.
8. Verificar se R é um grupo com a operação ⊕ nos casos abaixo:
(a) a⊕ b = a2 + b2;
(b) a⊕ b = a+ b− 3.
9. Verificar se G = {z ∈ C : |z| = 1} determina um grupo abeliano com
a operação de multiplicação de números complexos.
10. Verificar se G = {x ∈ R : |x| ≥ 1} determina um grupo abeliano
com a operação de multiplicação de números reais.
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2.2 Propriedades dos grupos
A operação de grupos ∗ é uma operação genérica, que ora pode ser
uma soma +, ora pode ser uma multiplicação · ou qualquer outra ope-
ração. É usual nos textos sobre grupos usarmos como símbolo da ope-
ração de grupos apenas o ponto ·, ou mesmo, representar a · b por ab,
apenas por questão de simplicidade.
Assim, adotaremos esta convenção para alguns grupos genéricos.
A operação será indicada por ·, e o elemento neutro por e e um inverso
de um elemento a por a′. Diante da propriedade associativa e notação
usual da multiplicação, podemos, em alguns casos, eliminar os parên-
teses e pontos e escrevermos apenas: abc = a(bc) = (ab)c.
Seja (G, ·, e) um grupo. Então:
(P1) Existe um único elemento deG que satisfaz a propriedade
(G2), isto é, o elemento neutro é único.
Suponhamos que e e u satisfazem G2. Então e = eu = u. Logo
existe umúnico elemento neutro paraG e e denota este único elemento
neutro.
(P2) Para todos a, b, c ∈ G, se ac = bc ou ca =cb, então a = b.
Se ac = bc, então acc′ = bcc′ e, daí, ae = be. Logo, a = b. O caso
ca = cb é análogo.
(P3) Para cada a ∈ G, existe um único inverso para a.
Segue de (P2). Assim, a′ denota o único inverso para a.
(P4) Para todos a, b ∈ G, se ab = e ou ba = e, então b = a′.
Seja ab = e. Como aa′ = e = ab, então aa′ = ab. Logo, por (P2),
a′ = b. O caso ba = e é análogo.
(P5) Para todo a ∈ G, (a′)′ = a.
Como a′.(a′)′ = e = a′.a, então, por (P2), (a′)′ = a.
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(P6) para todos a, b ∈ G, (ab)′ = b′a′.
Como (ab)(b′a′) = a(bb′)a′ = aea′ = aa′ = e. Então, por (P4), b′a′ =
(ab)′.
Exercícios
1. Mostrar que (a1a2 ... an)′ = a′na′n−1 ... a′1, para todo n ∈ N∗.
2.3 Produto de grupos
Uma propriedade universal das estruturas algébricas é o produto de
estruturas. Em geral, dadas duas estruturas algébricas de um mesmo
tipo, tomamos como o domínio de uma nova estrutura o produto carte-
siano dos domínios das estruturas dadas e de maneira, mais ou menos
natural, obtemos uma estrutura do mesmo tipo sobre este novo domí-
nio. Estas novas estruturas são denominadas estruturas produto. Vere-
mos como isto se aplica ao caso dos grupos.
Definição 2.5. Se (G, ∗, eG) e (H,#, eH) são grupos, então (G ×
H, · , (eG, eH)) é o grupo produto de (G, ∗, eG) e (H,#, eH), em que a ope-
ração “·” é definida por (g, h) · (g′, h′) = (g ∗ g′, h#h′), para g, g′ ∈ G e
h, h′ ∈ H.
É fácil verificar que (G ×H, · , (eG, eH)) é um grupo com elemento
neutro (eG, eH), de maneira que eG e eH são, respectivamente, os ele-
mentos neutros de G e H. Também (g, h)′ = (g′, h′). Verifica-se facil-
mente que quando (G, ∗, eG) e (H,#, eH) são grupos abelianos, então
(G×H, · , (eG, eH)) também é um grupo abeliano.
Procedendo de maneira análoga, podemos estender a construção
acima para o produto de umconjunto finito de grupos: G1×G2×...×Gn.
Exemplo 2.15. Temos que (Z×GL2(R), . , (1, I2)) é um grupo com a ope-
ração (a,A) · (b, B) = (a+ b, AB), em que na primeira coordenada temos
adição de inteiros e na segunda o produto de matrizes.
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Exemplo 2.16. Temos que (Z2 ×Z2, · , (1, 1)) é um grupo abeliano com 4
elementos: {(0, 0), (0, 1), (1, 0), (1, 1)}.
Exercícios
1. Mostrar a validade das afirmações acima sobre o grupo (G ×
H, · , (eG, eH)).
2.4 Grupos de permutações
Os exemplos de grupos são inúmeros. Tomando as funções reais
bijetivas, com a operação de composição de funções, temos um grupo
em que o elemento neutro é a função identidade. Como todo elemento
de um grupo precisa ter um inverso no grupo, é necessário a exigência
de funções bijetivas, pois apenas estas admitem a função inversa. O
grupo das permutações é uma particularização deste exemplo.
Definição 2.6. Sejam S um conjunto não vazio e P (S) = {f : S → S :
f é bijetiva}. Então, (P (S), ◦, iS) é um grupo em que a operação ◦ é a com-
posição de funções e o elemento neutro é a função identidade iS . O grupo
(P (S), ◦, iS) é chamado grupo das permutações de S.
Certamente, a composição de funções é associativa, a função iden-
tidade iS é bijetiva e é o elemento neutro da composição de funções, e
toda função bijetiva é inversível.
Denotamos o grupo das permutações de {1, 2, ..., n} por Sn.
Como a cada função bijetiva de Sn corresponde a uma permutação
f(1)f(2)...f(n) de 1, 2, ..., n e o número total dessas permutações é n!,
então Sn possui n! elementos.
Para n ≥ 3, Sn é um grupo não abeliano, pois tomando f, g ∈ Sn de
modo que f(1) = 2, f(2) = 1, f(3) = 3, g(1) = 2, g(2) = 3 e g(3) = 1
temos (fog)(1) = 1 e (gof)(1) = 3. Logo, fog 6= gof e, desse modo, S3
é um exemplo de grupo não abeliano com 6 elementos.
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44 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Notação: Se f ∈ Sn, então denotamos f por:
(1, f(1), f(f(1)), ...)(i, f(i), f(f(i)), ...), ...,
como nos exemplos abaixo.
Exemplo 2.17. Para f, g, h ∈ S4 tais que f(1) = 3, f(2) = 4, f(3) =
2, f(4) = 1, g(1) = 3, g(2) = 2, g(3) = 1, g(4) = 4, h(1) = 3, h(2) =
4, h(3) = 1, h(4) = 2 denotamos f por (1, 3, 2, 4), g por (1, 3) e h por
(1, 3)(2, 4). A justificativa de podermos usar essa notação se encontra no
livro “Tópicos de Álgebra” (Herstein, 1970). Podemos fazer as composições
fog = (1, 3, 2, 4)(1, 3) = (1, 2, 4), pois 1→ 3→ 2, 2→ 2→ 4, 4→ 4→ 1
e 3→ 1→ 3; gof = (1, 3)(1, 3, 2, 4) = (2, 4, 3), pois 1→ 3→ 1, 2→ 4→
4, 4 → 1 → 3 e 3 → 2 → 2. Da mesma forma, podemos encontrar foh =
(1, 3, 2, 4)(1, 3)(2, 4) = (1, 2), fof = (1, 3, 2, 4)(1, 3, 2, 4) = (1, 2)(3, 4).
Exemplo 2.18. Podemos tomar os elementos de S3 como:
e (função identidade)
a = (1, 2, 3)
a2 = (1, 2, 3)(1, 2, 3) = (1, 3, 2)
a3 = a2 · a = (1, 3, 2)(1, 2, 3) = e = (1, 2, 3)(1, 3, 2) = a · a2 ⇒ a′ = a2
b = (1, 2)
b2 = e⇒ b′ = b
ab = (1, 2, 3)(1, 2) = (1, 3)
ba = (1, 2)(1, 2, 3) = (2, 3).
Como S3 possui 3! = 6 elementos, podemos concluir que
S3 = {e, (1, 2, 3), (1, 3, 2), (1, 2), (1, 3), (2, 3)} = {e, a, a2, b, ab, ba}.
Exercícios
1. Encontrar o inverso para cada elemento de S3.
2. Quais são os elementos de S4?
3. Encontrar elementos a e b de S4 tais que ab 6= ba.
4. Encontrar a, b ∈ S3 tais que (ab)2 6= a2b2.
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2.5 Grupos de simetria
A partir de rotações e reflexões em um polígono regular é possível
definir uma estrutura de grupo, como veremos a seguir.
Tomaremos um quadrado no plano de vértices A, B, C eD, com la-
dos na horizontal e na vertical, e o denotaremos por ABCD, quando o
vértice superior esquerdo for A, e os vértices B, C, D estiverem, res-
pectivamente, tomados no sentido horário, a partir de A.
Uma rotação de 90o, no sentido horário, que leva cada vértice do
quadrado no vértice seguinte.
Uma reflexão em torno da diagonal tomada do vértice esquerdo su-
perior ao vértice direito inferior, deixa estes vértices fixos e troca os
outros dois.
Denotamos por σ uma rotação, e por τ uma reflexão. Assim:
σ(ABCD) = DABC
σ2(ABCD) = CDAB
σ3(ABCD) = BCDA
σ4(ABCD) = ABCD
τ(ABCD) = ADCB
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46 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
τ2(ABCD) = ABCD
στ(ABCD) = σ(ADCB) = BADC
σ2τ(ABCD) = σ2(ADCB) = CBAD
σ3τ(ABCD) = σ3(ADCB) = DCBA
Denotamos por e o não movimento e(ABCD) = ABCD e, então,
temos:
D = {e, σ, σ2, σ3, τ, στ, σ2τ, σ3τ}
que é um grupo. Podemos observar isso, na tabela abaixo:
· e σ σ2 σ3 τ στ σ2τ σ3τ
e e σ σ2 σ3 τ στ σ2τ σ3τ
σ σ σ2 σ3 e στ σ2τ σ3τ τ
σ2 σ2 σ3 e σ σ2τ σ3τ τ στ
σ3 σ3 e σ σ2 σ3τ τ στ σ2τ
τ τ σ3τ σ2τ στ e σ3 σ2 σ
στ στ τ σ3τ σ2τ σ e σ3 σ2
σ2τ σ2τ στ τ σ3τ σ2 σ e σ3
σ3τ σ3τ σ2τ στ τ σ3 σ2 σ e
Diante disso, podemos tomar
D = {σjτ i : 0 ≤ i ≤ 1, 0 ≤ j ≤ 3, τ2 = σ4 = e, στ = τσ3, τ 6= e, σj 6=
e para j = 1, 2, 3}
O exemplo acima pode ser estendido assim:
Definição 2.7. Consideremos um polígono regular de n lados e um eixo
de reflexão que passa por um vértice e pelo centro do polígono. O grupo
determinado por composições de rotações e reflexões sobre o polígono são
denominados grupos de simetrias ou grupos diedrais e tais grupos podem
ser descritos por:
Dn = {σjτ i : 0 ≤ i ≤ 1, 0 ≤ j < n, τ2 = σn = e, στ = τσn−1, τ 6=
e, σj 6= e, para 1 ≤ j < n}.
Devemos observar que quando o polígono tem n lados, o grupo tem
2n elementos.
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Cada elemento de Dn pode ser vistos como uma permutação de n
elementos, ou seja, como um elemento do grupo de permutações Sn,
ao denominarmos os vértices do polígono de n lados pelos números
1, 2, ..., n. Assim,podemos considerar o grupo Dn como subgrupo de
Sn.
2.6 Grupos cíclicos
Como é usual em ciência, a expressão cíclico indica que após um
certo período, tudo se repete.
Definição 2.8. Sejam (G, ·, e) um grupo multiplicativo, a ∈ G e n ∈ N.
A potência de a é definida recursivamente por: a0 = e, an+1 = an · a e os
seus inversos são a′ = a−1 e (an)′ = (a−1)n.
Com isso, definimos a potência de an, para todo n ∈ Z e muitas das
regras usuais sobre potências podem ser verificadas, isto é, para todos
inteirosm e n tem-se:
(i) am · an = am+n
(ii) (an)−1 = a−n
(iii) (a−n)−1 = an
(iv) (am)n = amn.
Na notação aditiva, a · b significa a+ b, a′ significa−a, e an significa,
para n > 0, na = a+ a+ ...+ a, a soma com n parcelas de a; para n < 0,
na = (−a) + (−a) + ... + (−a), a soma com −n parcelas de −a e para
n = 0, na = 0. Logo,ma+ na = (m+ n)a e n(ma) = (mn)a.
Definição 2.9. Sejam (G, ·, e) um grupo e a ∈ G. O conjunto gerado por
a é 〈a〉 = {an : n ∈ Z}.
Como a0 = e, am · an = am+n = an · am, (am · an) · ap = am · (an · ap)
e (an)′ = a−n, então (〈a〉 , ·, e) é um grupo abeliano.
Definição 2.10. O grupo (〈a〉 , ·, e) é denominado grupo cíclico gerado
por a.
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Na notação aditiva teríamos que 〈a〉 = {na : n ∈ Z}.
Exemplo 2.19. Seja G = Z. Então:
〈1〉 = {n.1 : n ∈ Z} = {n : n ∈ Z} = Z.
〈−1〉 = {n.(−1) : n ∈ Z} = {−n : n ∈ Z} = Z .
〈t〉 = {n.t : n ∈ Z} é o conjunto dos inteiros múltiplos de t.
Diante disso, Z é um grupo cíclico e podemos tomar como gerador 1 ou
−1.
Exemplo 2.20. Para n > 0 inteiro, Zn é um grupo cíclico gerado por 1.
Exemplo 2.21. O grupo Z6 pode ser gerado por 1 e 5.
Exemplo 2.22. O grupo S3 não é cíclico pois (1, 2)2 = (1, 3)2 = (2, 3)2 =
e e (1, 2, 3)3 = (1, 3, 2)3 = e. Logo, nenhum elemento gera S3.
Exemplo 2.23. O grupo R∗ não é cíclico. Para verificar isso, suponha que
sim, isto é, que existe a ∈ R∗ tal que R∗ = 〈a〉. Considere então 2 = an e
3 = am e, a partir disso, chegue em um absurdo.
Exercícios
1. Justificar os exemplos 2.20 e 2.21.
2. Sejam a, b ∈ Z e a operação⊕ definida por a⊕ b = a+ b+1. Verificar
se Z com essa operação:
(a) é um grupo ;
(b) é um grupo abeliano;
(c) é um grupo cíclico.
3. Verificar se o grupo Z2 × Z2 é um grupo cíclico.
4. Verificar se o grupo Z2 × Z3 é um grupo cíclico.
5. Quais elementos de Z5 geram Z5?
6. Seja (G, ·, e) um grupo abeliano. Mostrar que se a, b ∈ G e m ∈ Z,
então (ab)m = ambm.
7. Seja (G, ·, e) um grupo tal que a2 = e, para todo a ∈ G. Mostrar que
este grupo é abeliano.
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2.7 Subgrupos
Um outro conceito universal das estruturas algébricas é o de subes-
trutura. Uma subestrutura é uma estrutura contida em uma estrutura
de mesmo tipo.
Definição 2.11. Seja (G, ∗, e) um grupo. Um subgrupo de (G, ∗, e) é um
grupo (H, ∗, eH), em queH ⊆ G, a operação ∗ é a mesma de (G, ∗, e).
Como já observamos, usualmente indicamos um grupo apenas pelo
seu domínio. Assim, escrevemos H < G para indicar que H é um sub-
grupo de G.
Exemplo 2.24. Se G é um grupo, então G < G e {e} < G são subgrupos
de G. Estes subgrupos são chamados subgrupos triviais de G.
Exemplo 2.25. Z < Q < R < C.
Exemplo 2.26. Q∗ < R∗ < C∗.
Exemplo 2.27. R∗ não é um subgrupo deR, pois as operações são distin-
tas: multiplicação e adição, respectivamente.
Exemplo 2.28. Z2 não é um subgrupo de Z3.
Proposição 2.1. Sejam (G, ∗, e) um grupo e H ⊆ G. Então H é um sub-
grupo de G se, e somente se, as seguintes condições são satisfeitas:
(i) e ∈ H;
(ii) para todos a, b ∈ H, a ∗ b ∈ H;
(iii) para todo a ∈ H, a′ ∈ H .
Demonstração: (⇒) É claro que se H < G, então as três condições são
satisfeitas. (⇐) Por outro lado, suponhamos as três condições satisfeitas.
A condição (i) garante que H 6= ∅ e possui o elemento neutro de G; a
condição (ii) garante que a operação ∗ de G, quando restrita à H, é uma
operação em H; a condição (iii) garante a existência do inverso de cada
elemento de H. Como H ⊆ G, então vale a propriedade associativa tam-
bém para os elementos de H . Desse modo, H é um grupo com a operação
de G e, portanto,H < G.
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50 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Em vista da proposição acima, se H < G, então G e H possuem o
mesmo elemento neutro.
Exemplo 2.29. Se G = S3 = {e, (1, 2), (1, 3), (2, 3), (1, 2, 3), (1, 3, 2)},
podemos verificar que:
{e, (1, 2)} < S3 e {e, (1, 2, 3), (1, 3, 2)} < S3.
Corolário 2.2. Sejam (G, ∗, e) um grupo e H ⊆ G. Então H é um sub-
grupo de G se, e somente se, as seguintes condições são satisfeitas:
(i)H 6= ∅;
(ii) para todos a, b ∈ H, a ∗ b′ ∈ H.
Exemplo 2.30. Seja 3Z = {3 · n : n ∈ Z} o conjunto dos múltiplos de 3.
Temos:
(i) 3Z 6= ∅, pois 0 = 3 · 0 ∈ 3Z;
(ii) Se a, b ∈ 3Z, digamos, a = 3n e b = 3m, então a− b = 3(n−m) ∈
3.Z.
Assim, pelo corolário anterior, 3Z < Z.
De modo semelhante, podemos mostrar que para qualquer
m ∈ Z,mZ < Z.
Se (G, ·, e) é um grupo e a ∈ G, como já vimos, 〈a〉 = {an : n ∈ Z} é
umgrupo comamesmaoperação deG e, dessemodo, 〈a〉 < G. Dizemos
que 〈a〉 é o subgrupo cíclico de G gerado por a.
Agora, se S é um subconjunto não vazio de G, definimos:
〈S〉 = {(s1)r1 .(s2)r2 . ... .(sn)rn : si ∈ S e ri ∈ Z, i = 1, . . . , n}.
Fica como exercício verificar que 〈S〉 < G e 〈S〉 = ∩{H : H <
G e S ⊆ H}, e assim, 〈S〉 é o menor subgrupo de G que contém S.
Definição 2.12. Dizemos que 〈S〉 é o subgrupo de G gerado por S.
Exemplo 2.31. Para o grupo S3 temos:
〈(1, 2)〉 = {e, (1, 2)} e
〈(1, 2, 3)〉 = {e, (1, 2, 3), (1, 3, 2)}.
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Exemplo 2.32. S3 = 〈{(1, 2), (1, 2, 3)}〉, pois:
(1, 2) ∈ 〈{(1, 2), (1, 2, 3)}〉
(1, 2, 3) ∈ 〈{(1, 2), (1, 2, 3)}〉
e = (1, 2)2 ∈ 〈{(1, 2), (1, 2, 3)}〉
(1, 3, 2) = (1, 2, 3)2 ∈ 〈{(1, 2), (1, 2, 3)}〉
(2, 3) = (1, 2)(1, 2, 3) ∈ 〈{(1, 2), (1, 2, 3)}〉
(1, 3) = (1, 2)(1, 3, 2) = (1, 2)(1, 2, 3)2 ∈ 〈{(1, 2), (1, 2, 3)}〉
Exercícios
1. Justificar o exemplo 2.28.
2. Dar uma demonstração do Corolário 2.2.
3. Mostrar que 〈S〉 é o menor subgrupo de G que contém S.
4. Mostrar queH = {2n : n ∈ Z} é um subgrupo de R∗.
5. Mostrar queH = {x ∈ R : 0 < x} é um subgrupo de R∗.
6. Para G = M2×2(R) e H =
{(
a 0
b 0
)
: a, b ∈ R
}
, mostrar que H <
G.
7. Para G = Z× Z eH = {(2a, 3b) : a, b ∈ Z}, mostrar queH < G.
8. Determinar todos os subgrupos de Z2 × Z3.
9. Quais dos seguintes subconjuntos são subgrupos cíclicos de Z12?
(a) {0, 2, 4, 6, 8, 10} (b) {0, 6} (c) {0, 2, 3, 5, 8}
(d) {1, 3, 5, 7, 9, 11} (e) {0, 4, 8} (f) {0, 3, 6, 9}.
10. Determinar os seguintes subgrupos de Z8.
(a)
〈
2
〉
(b)
〈
5
〉
(c)
〈
4
〉
(d)
〈
2, 3
〉
.
11. Verificar se o conjunto I dos números ímpares é um subgrupo do
grupo (Z,⊕), para a⊕ b = a+ b+ 1.
12. Para o grupo de permutações S4:
(a) Determinar 〈(1, 2, 3)〉
(b) Determinar 〈(1, 2, 3, 4)〉
(c) Se H = {e, (1, 2)(3, 4), (1, 3)(2, 4), (1, 4)(2, 3)}, verificar se H é um
subgrupo de S4 e seH é abeliano.
13. Mostrar que todo subgrupo de um grupo abeliano também é um
grupo abeliano.
14. Mostrar que todo subgrupo de um grupo cíclico é um grupo cíclico.
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52 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Nos exercícios a seguir, consideraremos sempre G como um grupo.
15. Sejam a ∈ G e C(a) = {g ∈ G : ag = ga}. Mostrar que C(a) < G. O
subgrupo C(a) é chamado o centralizador de a em G.
16. Seja Z(G) = {g ∈ G : ga = ag, para todo a ∈ G}. Mostrar que
Z(G) < G. O subgrupo Z(G) é chamado o centro de G .
17. Mostrar que se H e K são subgrupos de G, então H ∩K também é
um subgrupo de G.
18. Exibir exemplo de grupos demaneira que H < G e K < G, mas
H ∪K não é um subgrupo de G.
19. Se H < G e g ∈ G, mostrar que gHg′ < G, para gHg′ = {ghg′ : h ∈
H}.
2.8 Classes laterais
Nessa seção envolvemos o conceito de classes de equivalência com
o conceito de grupos.
Definição 2.13. SejamG um grupo eH um subgrupo deG. Para a, b ∈ G,
definimos a relação a ≡ b(mod H), que deve ser lida como “a é congruente
a b móduloH”, se ab′ ∈ H.
Proposição 2.3. A relação a ≡ b(mod H) é uma relação de equivalência.
Demonstração: Propriedade reflexiva: para todo a ∈ G, aa′ = e ∈ H.
Logo, a ≡ a(mod H).
Propriedade simétrica: Sejam a, b ∈ G e a ≡ b(mod H). Assim, ab′ ∈
H e comoH é um grupo, então ba′ = (ab′)′ ∈ H. Logo, b ≡ a(mod H).
Propriedade transitiva: Sejam a, b, c ∈ G, a ≡ b(mod H) e b ≡
c(mod H). Daí ab′ ∈ H e bc′ ∈ H, e como H é um grupo, então
ac′ = ab′bc′ ∈ H . Daí, a ≡ c(mod H).
A classe de equivalência de um elemento a de G, é denotada por:
a = {b ∈ G : b ≡ a(mod H)} = {b ∈ G : ba′ ∈ H}.
Segue então que b ∈ a se, e somente se, existe h ∈ H tal que ba′ = h
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se, e somente se, b = ha, para algum h ∈ H se, e somente se, b ∈ Ha =
{ha : h ∈ H}. Assim, a = Ha.
Definição 2.14. Chamamos de classe lateral à direita deH emG a cada
classe de equivalênciaHa.
Denotamos o conjunto quociente deG pela relação de equivalência
dada pela congruência móduloH por:
G/H = {Ha : a ∈ G},
que é o conjunto das classes laterais à direita deH em G.
Observar que:
(CL1) a ∈ Ha, pois a = ea e e ∈ H;
(CL2) Ha = Hb ⇔ a ∈ Hb, pois duas classes de equivalência ou
coincidem ou são disjuntas;
(CL3)Ha = Hb⇔ ab′ ∈ H (verificar);
(CL4) Ha = H ⇔ a ∈ H, pois H = He e por (b),
Ha = He⇔ a ∈ He = H.
SeX é um conjunto, denotamos por |X| o número cardinal deX. O
cardinal de um conjunto indica sua quantidade de elementos. Se X é
finito, então |X| = n, para algum número natural n.
Definição 2.15. SeG é um grupo finito, a ordem deG é dada por |G|. Se
G é um grupo qualquer e g ∈ G é tal que 〈g〉 é um grupo finito, chamamos
de ordem de g ao número | 〈g〉 |, o qual será denotado simplesmente por
|g|. Dizemos que um grupoG tem ordem prima se |G| é um número primo.
Lema 2.4. SejamG um grupo finito eH < G. Se a ∈ G, então |Ha| = |H|.
Demonstração: Consideremos a função f : H → Ha, definida por
f(h) = ha. Precisamos mostrar que f é bijetiva. A função f é injetiva,
pois se f(h) = f(k), então ha = ka e, daí, h = k. A função f também
é sobrejetiva, pois se ha ∈ Ha, então f(h) = ha. Portanto, f é bijetiva e
|H| = |Ha|.
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54 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Definição 2.16. SeH < G eG/H é um conjunto finito, então chamamos
de índice deH em G ao número |G/H|.
Notação: (G : H) = |G/H| é o número de classes laterais à direita
deH em G.
Teorema 2.5. (Teorema de Lagrange) Se G é um grupo finito e H < G,
então |G| = |H|(G : H).
Demonstração: Como G é finito, então G/H é finito, digamos, G/H =
{Ha1,Ha2, ..., Han}, com Hai 6= Haj quando i 6= j. Como Hai e Haj
são classes de equivalências distintas quando i 6= j, entãoHai∩Haj = ∅.
Por outro lado, G = Ha1 ∪ Ha2 ∪ ... ∪ Han. Então, pelo lema anterior,
|G| = |Ha1|+ |Ha2|+ ...+ |Han| = n · |H| = |H| ·n = |H| · |G/H|. Desse
modo, |G| = |H|(G : H).
Em vista do Teorema de Lagrange temos que seH é um subgrupo de
G, então a ordem deH divide a ordem de G. Portanto, {0, 3, 6, 9} não é
subgrupo de Z10.
Exemplo 2.33. Seja H = {e, (1, 2)} < S3. Então, pelo Teorema de La-
grange, (S3 : H) = |S3|/|H| = 6/2 = 3. Logo, temos 3 classes laterais
distintas:
H = {e, (1, 2)} (= H(1, 2))
H(2, 3) = {(2, 3), (1, 2, 3)} (= H(1, 2, 3))
H(1, 3) = {(1, 3), (1, 3, 2)} (= H(1, 3, 2))
e assim, G/H = {H,H(2, 3),H(1, 3)}.
Quando G é um grupo aditivo e H é um subgrupo de G, temos que
a ≡ b(mod H) ⇔ a − b ∈ H e as classes laterais são da forma H + a =
{h+ a : h ∈ H}.
Exemplo 2.34. Seja H = {0, 2, 4} < Z6. Então (Z6 : H) = |Z6|/|H| =
6/3 = 2. Daí, temos 2 classes laterais:
H = {0, 2, 4} (= H + 2 = H + 4)
H + 1 = {1, 3, 5} (= H + 3 = H + 5).
Corolário 2.6. Se G é um grupo finito e a ∈ G, então |a| divide |G|.
Demonstração: Do Teorema de Lagrange, temos que |G| = |a|(G : 〈a〉).
Logo, |a| divide |G|.
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Proposição 2.7. SejamG um grupo e a ∈ G tal que 〈a〉 é um grupo finito.
Então |a| é o menor inteiro positivo n tal que an = e.
Demonstração: Se a = e, então n = 1 e 〈a〉 = {e}. Agora, consideremos
a 6= e. Como 〈a〉 = {an : n ∈ Z} é finito, então existem inteiros i e j
(podemos supor i < j), tais que ai = aj . Logo, aj−i = aja−i = aia−i = e
e j − i > 0.
Assim, {n ∈ N∗ : an = e} 6= ∅ e, pelo princípio da boa ordenação,
contém um menor elemento n. Mostraremos que 〈a〉 = {e, a, ..., an−1} e
que os elementos e, a, ..., an−1 são todos distintos. Daí, concluímos que
|a| = n.
Sejam i, j ∈ Z tais que 0 ≤ j ≤ i < n. Se ai = aj , então ai.a−j =
aj .a−j . Logo, ai−j = aj−j = a0 = e. Como 0 ≤ i − j < n e n é o menor
inteiro positivo tal que an = e, então i − j = 0, ou seja, i = j. Diante
disso, {e, a, ..., an−1} é um subconjunto de 〈a〉 que contém exatamente n
elementos. Se b ∈ 〈a〉, digamos que b = am, para algumm ∈ Z, então, pelo
algoritmo da divisão, existem q, r ∈ Z, com 0 ≤ r < n, tais quem = qn+r.
Logo, b = am = aqn+r = (an)q.ar = eq.ar = e.ar = ar ∈ {e, a, ..., an−1}.
Assim, 〈a〉 = {e, a, ..., an−1} e, portanto, |a| = n.
Corolário 2.8. Se G é um grupo finito e a ∈ G, então a|G| = e.
Demonstração: Sejam |a| = n e |G| = m. Pelo corolário anterior, n divide
m, ou seja, m = nr, r ∈ N. Então am = anr = (an)r = er = e. Desse
modo, a|G| = e.
Exemplo 2.35. Como |S3| = 6, então para todo a ∈ S3, temos que a6 = e.
Exemplo 2.36. Como |Z8| = 8, então 8.a = 0, para todo a ∈ Z8.
Corolário 2.9. Se G é um grupo de ordem prima, então G é cíclico e é
gerado por qualquer a 6= e.
Demonstração: Seja p = |G|, em que p é um número primo. Tomemos
a ∈ G, com a 6= e. Então |G| = |a|(G : 〈a〉), isto é, |a| divide |G| = p.
Como |a| > 1 e os únicos divisores de p são 1 e p, então |a| = p = |G|.
Logo, 〈a〉 = G.
Exemplo 2.37. Em Z7, 〈a〉 = Z7, para cada a 6= 0.
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56 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS |
Definição 2.17. Sejam 1 < r ≤ n inteiros. Um r-ciclo em Sn é uma
permutação (i1, i2, . . . , ir) para i1, i2, . . . , ir inteiros distintos entre 1 e n.
Proposição 2.10. Para todo inteiro n ≥ 2, temos que:
(i) O grupo Sn é gerado pelos seus 2-ciclos;
(ii) Os ciclos (1, 2) e (1, 2, ..., n) geram o grupo Sn.
Demonstração: (i) Para cada r-ciclo temos que (i1, i2, ..., ir) =
(i1, ir)(i1, ir−1)...(i1, i3)(i1, i2). Como toda permutação é um produto de
r-ciclos, então toda permutação é um produto de 2-ciclos. Assim, os 2-
ciclos geram Sn.
(ii) Seja H o subgrupo de Sn gerado por a e b, em que a = (1, 2) e
b = (1, 2, ..., n). Mostraremos que H = Sn. Por (i), basta mostrar-
mos que cada 2-ciclo está em H. Como cada 2-ciclo se escreve como
(i, j) = (1, i)(1, j)(1, i), basta mostrarmos que cada 2-ciclo (1, i) está em
H:
bab−1 = (2, 3), pois aplicando as compostas, temos 1 → n → n → 1;
2 → 1 → 2 → 3; 3 → 2 → 1 → 2, 4 → 3 → 3 → 4, ...,
n→ n− 1→ n− 1→ n. Assim, (2, 3) está emH.
b2ab−2 = (3, 4) pois aplicando as compostas, temos 1→ n−1→ n−1→ 1
; 2 → n → n → 2; 3 → 1 → 2 → 4, 4 → 2 → 1 → 3, ...,
n→ n− 2→ n− 2→ n. Assim, (3, 4) está emH.
· · ·
bn−2ab−(n−2) = (n− 1, n) e bn−1ab−(n−1) = (n, 1)
Assim, temos {(1, 2), (2, 3), (3, 4), ..., (n− 1, n), (n, 1)} ⊆ H .
Também, (1, 2)(2, 3)(1, 2) = (1, 3); (1, 3)(3, 4)(1, 3) = (1, 4);
(1, 4)(4, 5)(1, 4) = (1, 5); ... ; (1, n− 1)(n− 1, n)(1, n− 1) = (1, n).
Finalmente, {(1, 2), (1, 3), (1, 4), ..., (1, n)} ⊆ H.
Definição 2.18.

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