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Uma Visão Panorâmica da Terapia Comportamental de Orientação Behaviorista Radical

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Uma Visão Panorâmica da Terapia Comportamental de Orientação 
Behavorista Radical  
Autora: Ana Maria Le Sénéchal Machado  
 
"Os homens agem sobre o mundo, modificam­no e, por sua vez são modificados pelas 
conseqüências de sua ação. Alguns processos que o organismo humano compartilha 
com outras espécies alteram o comportamento para que ele obtenha um intercâmbio 
mais útil e mais seguro em determinado meio ambiente. Uma vez estabelecido um 
comportamento apropriado, suas conseqüências agem através de processos 
semelhantes para permanecerem ativas. Se, por acaso, o meio se modifica, formas 
antigas de comportamento desaparecem, enquanto novas conseqüências produzem 
novas formas."​ (Skinner, 1978, p.15). 
TERAPIA E MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO  
A Terapia Comportamental (TC) foi, durante muito tempo, encarada como a simples 
aplicação sistemática de técnicas de modificação de comportamentos problemáticos, 
com os quais outras abordagens não tinham como ou, até mesmo, não pretendiam 
trabalhar. A tecnologia e/ou procedimentos padronizados de modificação de 
comportamento são utilizados sim, mas somente quando implicam a elaboração de 
uma estratégia de ação para enfrentar um déficit específico de determinado repertório 
comportamental de uma pessoa. O terapeuta, quando é o caso, propõe ao cliente que 
explore e experimente outros meios de comportar­se: expõe o cliente, portanto, à 
técnica que selecionou como a mais apropriada, segundo suas hipóteses de solução 
para o problema emergente do cliente (Kanfer e Phillips, 1974; Álvarez, 1996).  
IMPLICAÇÕES GERAIS DA TERAPIA COMPORTAMENTAL 
TC implica, basicamente, a análise funcional do(s) comportamento(s) problema em 
questão (queixa do cliente), uma vez que ela se dirige para metas de aprendizagem 
de outras maneiras de agir. Nesse sentido, o objetivo geral da TC é criar novas 
condições para essa aprendizagem; e faz isso, através da análise das contingências 
nas quais a queixa ou o problema está sendo mantido. Assim, uma análise funcional 
das contingências em operação que produzem um comportamento desadaptativo ou 
mal aprendido é realizada visando a aquisição de novos repertórios comportamentais, 
em substituição aos deficitários ou mal aprendidos, de modo a fortalecer e manter o 
comportamento desejado, que 'funciona', permitindo, desse modo, que os 
indesejáveis, mal aprendidos ou desadaptativos sejam enfraquecidos. E o terapeuta 
comportamental é, nesse processo todo, a pessoa que vai atuar, voluntariamente, no 
sentido de produzir alterações no comportamento do cliente: o comportamento do 
terapeuta é diretivo, 'centrado' no cliente. Portanto, é preciso ficar bem claro que a 
TC propõe, em primeiro lugar, uma análise apurada, profunda e sofisticada de 
contingências, para depois propor a aplicação de tecnologia, se for o caso. Isso 
porque, se a tecnologia for introduzida a partir de uma análise superficial das 
contingências em operação, o comportamento problema, ou sintoma, reaparece, pois 
uma técnica poderosa e bem aplicada pode produzir alterações em algum elemento da 
contingência (por ex. no organismo) e não na contingência total (Guilhardi, 1992, 
1995).  
O QUE É CONTINGÊNCIA  
Nesse ponto, cabem alguns esclarecimentos sobre o termo 'contingência'. 
Contingência implica relação entre organismo e ambiente, ou entre resposta e 
conseqüência; implica, portanto, relações de dependência entre eventos. 
Contingência pode significar, também, qualquer relação de dependência entre eventos 
ambientais ou entre eventos comportamentais e ambientais. Para Catania (1993) o 
termo contingência, em análise do comportamento, é utilizado para enfatizar como a 
probabilidade de ocorrência de um evento pode ser afetada ou produzida por outros 
eventos. O conceito de contingência tríplice é um instrumento conceitual que 
demonstra­se muito importante na análise das interações organismo­ambiente, e de 
especial utilidade para a análise do comportamento humano. De acordo com Todorov 
(1985)​ "…uma contingência tríplice especifica (1) uma situação presente ou 
antecedente que pode ser descrita em termos de estímulos chamados discriminativos 
pela função controladora que exercem sobre o comportamento; (2) algum 
comportamento do indivíduo que, se emitido na presença de tais estímulos 
discriminativos, tem como conseqüência (3) alguma alteração no ambiente, que não 
ocorreria (a) se tal comportamento fosse emitido na ausência dos referidos estímulos 
discriminativos ou (b) se o comportamento não ocorresse."​ (p.75). Assim, a partir da 
identificação dos três termos inter­relacionados [estímulo discriminativo (SD), 
resposta e conseqüência] é que se poderá fazer algumas previsões a respeito da 
interação em análise. Na situação de terapia, a identificação das contingências em 
operação na vida do cliente não é tarefa fácil. E o trabalho do terapeuta consistirá em 
fazer inferências sobre os tais estímulos antecedentes e suas possíveis funções 
(discriminativa, eliciadora ou reforçadora) a partir dos comportamentos verbais e não 
verbais do cliente emitidos durante a sessão. Fica implícito, portanto, que a 
identificação desses estímulos e de suas respectivas funções vai depender tanto da 
memória do cliente quanto do comportamento do terapeuta que, na relação 
terapêutica funciona, em grande parte, como um agente facilitador (sobre isso 
tratar­se­á, especificamente, mais adiante).  
SOBRE A REGULARIDADE DO COMPORTAMENTO E SOBRE A PERSONALIDADE 
De um ponto de vista prático, pode­se dizer que uma pessoa compreende o conjunto 
dos comportamentos aprendidos no decorrer de sua vida. Tudo pelo que passou, ou 
existiu, em sua vida, constitui repertório(s) funcionalmente relacionado(s) às 
contingências vividas. Sobre isso, Skinner (1982) afirma que ​"O ambiente deu sua 
primeira contribuição durante a evolução das espécies, mas ele exerce um diferente 
tipo de efeito, durante a vida do indivíduo, e a contribuição dos efeitos é o 
comportamento que observamos em dado momento. Qualquer informação disponível 
acerca de qualquer uma das duas contribuições auxilia a previsão e o controle do 
comportamento humano e sua interpretação na vida diária. Na medida em que um dos 
dois possa ser alterado, o comportamento pode ser modificado."​ (p.19). Nesse sentido 
pode­se dizer que o comportamento é controlado pelas contingências, ou ainda, pelo 
efeito do reforçamento. Esse efeito pode ser generalizado, e é isso que pode ser 
levado para a clínica, pois todo comportamento está sujeito à regularidade de suas 
probabilidades de ocorrência. Essas probabilidades estão sustentadas no componente 
de ordem e historicidade que todo fenômeno que ocorre na natureza possui. Com base 
nessas colocações, a personalidade de uma pessoa pode ser admitida como o conjunto 
de comportamentos, de repertórios que, ligados a certas circunstâncias, ou 
contingências (de evolução, de sobrevivência e culturais), são emitidos de modo único 
por essa pessoa. Cada indivíduo é um ser único, com uma personalidade única. E é 
através da análise dessas contingências que a TC permite entender que personalidade 
não é uma coisa fechada, uma 'estrutura'. Uma pessoa tem certa personalidade 
porque reconhece uma determinada regularidade em suas interações com o seu 
mundo público e privado. Essa regularidade está no ambiente, e, assim, um 'traço' de 
personalidade de um indivíduo é tudo aquilo que marca a funcionalidade 
organismo­ambiente, tudo o que, em determinadas circunstâncias, tem grande 
probabilidade de 'funcionar com regularidade', permitindo a explicação, a previsão e o 
controle de suas atitudes (Bernardes, 1993; Lé Sénéchal Machado, 1993). ​"Um vago 
senso de ordem emerge de qualquer observação demorada do comportamento 
humano. Qualquer suposição plausível sobre o que dirá um amigo em dada 
circunstância é uma previsão baseada nesta uniformidade. Se não se pudesse 
descobrir uma ordemrazoável, raramente poder­se­ia conseguir eficácia no trato com 
os assuntos humanos."​ (Skinner, 1967, p.28).  
O MODO ANALÍTICO DE CONTINGÊNCIAS NA TERAPIA COMPORTAMENTAL 
Num primeiro momento, a análise de contingências em TC é teórica e, como tal, deve 
ser encarada como uma suposição ou hipótese. Somente através da observação 
sistemática ou da alteração de algum elemento da contingência (eventos 
comportamentais ou ambientais), como já dito anteriormente, é que o terapeuta 
poderá ir obtendo as evidências de quais as relações que, efetivamente, estão em 
operação na vida do cliente, ou mais especificamente, as que estão operando na 
manutenção do 'comportamento problema ou queixa'. Através dessa análise funcional 
(vale relembrar, das contingências em operação), objetivos precisos são formulados, 
continuamente avaliados e adaptados, de modo a se adequarem às necessidades 
únicas de cada cliente, ou seja, o foco da atuação terapêutica, reafirmando, está 
sempre nas contingências determinantes daquele(s) comportamento(s) do cliente. Por 
isso é importante envolver o cliente na seleção dos objetivos a serem trabalhados na 
terapia. Esse trabalho conjunto de seleção funciona como facilitador do processo 
terapêutico, uma vez que está sustentado em acordo mútuo de objetivos. Nesse 
sentido, a tarefa principal do terapeuta é prestar atenção, de modo ativo e empático, 
às preocupações do cliente, para que, retornando a este o que 'compreendeu' dessas 
preocupações, possa verificar se sua percepção dos pensamentos e sentimentos, 
descritos pelo cliente, está correta. A partir dessa interatividade, o terapeuta vai 
selecionando modos de prestar ajuda ao cliente no sentido de auxiliá­lo a descrever 
como desejaria agir, em lugar de sua forma atual de conduta. Ao focalizar, 
eventualmente, comportamentos específicos da vida presente do cliente, o terapeuta 
auxilia­o a traduzir o que lhe está confuso, em termos de objetivos concretos, 
possivelmente alcançáveis. O terapeuta comportamental é, sobretudo, um agente 
reforçador, um orientador. É ele que vai facilitar o desenvolvimento de 
comportamentos socialmente apropriados, por meio do reforçamento sistemático 
deste tipo de conduta do cliente. Na TC, o cliente é estimulado a 'experimentar' novos 
modos de atuar, com o propósito de ampliar seu repertório de comportamentos 
adaptativos. Ou seja, o cliente é estimulado a aprender novas contingências para o 
controle do seu bem estar pessoal e social (Rimm e Masters, 1983; Meyer e Turkat, 
1988; Guilhardi, 1988, 1992; Godoy, 1996).  
A IDENTIDADE DA TERAPIA COMPORTAMENTAL 
Ao se refletir sobre os principais aspectos que permitem uma compreensão precisa e 
adequada da TC constata­se que ela, basicamente, implica:  
1. a identificação das contingências reais, responsáveis pelo "comportamento 
problemático" do cliente;  
2. uma lenta e minuciosa análise de contingências (passadas e atuais), a partir da 
qual, só então, decorre um procedimento (por exemplo, o manejo intencional das 
contingências reais e atuais, pois não há como alterar as contingências passadas);  
3. a análise do 'ato em contexto' (contingências de reforçamento, de sobrevivência, 
de evolução cultural);  
4. o envolvimento natural do cliente com o processo, o que, de certa maneira, já o 
prepara para conviver com a mudança produzida. No final do processo ele é uma nova 
pessoa, e não a mesma pessoa com novas respostas. Esta distinção tem grande 
importância na manutenção das mudanças adquiridas e nos sentimentos e emoções 
envolvidos;  
5. um processo de 'descoberta da realidade'. Toda teoria é um modelo que se 
aproxima mais ou menos da realidade ­ é um guia que direciona a ação do terapeuta, 
mas não determina, em detalhes, essa ação e, na prática, a teoria não pode ser mais 
do que isso. Cabe ao terapeuta, portanto, em interação com o cliente, ir além da 
teoria para produzir a descoberta do que é 'real' para o cliente (Guilhardi, 1992).  
Consideremos, de modo particular, cada um dos aspectos mencionados.  
1 e 2) O 'setting' terapêutico é uma situação (também uma contingência) na qual se 
promove o estabelecimento de estímulos discriminativos (sinais positivos) com o 
intuito de recuperar contingências passadas (história de vida do cliente) e 
relacioná­las com as atuais (o problema do cliente no presente) propiciando, através 
do remanejamento dos elementos envolvidos, a instalação de novos comportamentos 
públicos, de novos pensamentos e de novos sentimentos permitindo, assim, o 
desenvolvimento pessoal do cliente, ou melhor, do seu autoconhecimento. Para 
Skinner (1982)​ "O autoconhecimento é de origem social. Só quando o mundo privado 
de uma pessoa se torna importante para as demais é que ele se torna importante para 
ela própria…" pois "então ingressa no controle de comportamento chamado 
conhecimento. Mas autoconhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. 
Uma pessoa que se 'tornou consciente de si mesma', por meio de perguntas que lhe 
foram feitas, está em melhor posição de prever e controlar seu próprio 
comportamento." ​(p.31). Portanto, autoconhecimento envolve a emissão de 
comportamento privado autodiscriminativo em relação a eventos privados que 
ocorrem num 'mundo dentro da pele' e a comportamentos públicos, do próprio 
indivíduo, e suas variáveis controladoras. Esse comportamento autodiscriminativo 
permite a elaboração de regras de autocontrole e só se instala a partir de 
contingências providas pela comunidade verbal (Bernardes, 1993; Tourinho, 1995). 
Comportamento autodiscriminativo envolve a identificação de ​"pistas (1) para o 
comportamento passado e as condições que o afetaram, (2) para o comportamento 
atual e as condições que o afetam e (3) para as condições relacionadas com o 
comportamento futuro."​ (Skinner, 1982, p.31), e regra envolve a descrição verbal de 
contingências. Mas, como bem observa Banaco (1993), ​"nem sempre as regras 
descrevem contingências naturais…" ​(p. 75). E isso pode causar problemas ao 
processo terapêutico, pois, se uma pessoa foi muito reforçada por seguir regras, este 
é um comportamento difícil de ser modificado (mas não impossível). E será através do 
autoconhecimento que o cliente poderá selecionar quais regras deverá continuar 
seguindo e quais as que devem ser abandonadas, por não descreverem contingências 
reais: uma regra pode afastar uma pessoa das conseqüências naturais do seu 
comportamento (Banaco, 1993; Micheletto e Sério, 1993). É por conta dessas 
considerações, que o foco da TC não está, necessariamente, só no comportamento 
expresso mas, também, no comportamento encoberto. Por isso, o que o terapeuta 
pretende, ao investigar as contingências passadas, é identificar os encadeamentos 
comportamentais do cliente e analisar seus elos. Sendo o comportamento expresso só 
um dos elos de uma cadeia comportamental, torna­se essencial o processo analítico 
das contingências envolvidas na história de vida passada e presente do cliente. As 
contingências interagem com um indivíduo, independente de ele ter, ou não, 
consciência da existência delas. Quando um cliente relata, por ex., ​"Não tenho tido 
ânimo prá fazer nada!"​, o papel do terapeuta não é 'criar' uma contingência, artificial, 
para 'animar' o cliente. O que o terapeuta precisa fazer é verificar a quais 
contingências o cliente está respondendo, para que ele próprio, cliente, crie novas 
contingências que lhe permitam produzir outros comportamentos e, assim, alterar o 
controle do ambiente sobre seu repertório comportamental. O que faz uma 
contingência 'funcionar', e produzir mudança efetiva, é a experiência 'concreta e 
natural' que o cliente vai ter com essa contingência, e não com uma artificial, 
dissociada de suas 'reais' condições de vida atual (Skinner, 1980; Guilhardi, 1988, 
1995). Reconhece­se, é claro, as dificuldades de implementação desse processo de 
remanejamento de contingências.Em geral, os repertórios adquiridos pelo cliente 
foram instalados através da experienciação cotidiana e do processo de 
desenvolvimento na infância. Esses fatores dão uma força particularmente grande às 
contingências aprendidas pelo cliente. Torna­se necessário, como já afirmado, o 'teste 
de realidade', pois não basta o terapeuta, no caso, dizer ao cliente "Vamos lá, 
anime­se!". O cliente deverá experienciar as novas contingências, já que, está claro, 
é o comportamento emitido por uma pessoa que vai produzir o que passará a fazer 
parte de seus determinantes (Skinner, 1980; Rimm e Masters, 1983). E a importância 
dessa experienciação está no termo 'produzir'. Para Micheletto e Sério (1993), ​"ele 
indica que o comportamento é indispensável porque ele é que produzirá aquilo que 
passará a fazer parte de seus determinantes. Dito de outra maneira, a conseqüência 
depende do comportamento e o determina."​ (p.13).  
3) Em análise comportamental, qualquer evento deve ser entendido, e até mesmo 
definido, através de uma análise contextual. Isso quer dizer que nenhum 
comportamento faz sentido ­ e nenhuma de suas unidades de análise pode ser 
compreendida ­ se não for 'entendido' ou 'descrito' o contexto no qual esse 
comportamento acontece. Contexto é somente uma palavra para designar as 
contingências de reforçamento, de sobrevivência e de evolução cultural, as quais uma 
pessoa tem criado e estado submetida durante toda a sua vida. Assim, pode­se 
afirmar que é só a partir da análise do contexto de ocorrência de um comportamento, 
que se pode dizer algo sobre como as relações comportamentais se estabelecem, ou 
como os comportamentos públicos, os pensamentos, as fantasias, os sonhos e os 
sentimentos de uma pessoa podem ter sido produzidos (Rimm e Masters, 1983; Hayes, 
1987; Meyer e Turkat, 1988; Kazdin, 1996).  
4) O estabelecimento de uma boa relação pessoal é um aspecto essencial ao processo 
terapêutico. Fatores tais como a cordialidade, a autenticidade e, principalmente, a 
aceitação, devem estar presentes durante todo o processo de atendimento ao cliente. 
Esses fatores caracterizam condições primordiais, mas não suficientes, ao 
atendimento. Assim, para que qualquer interação terapêutica se torne possível e 
eficiente, é muito importante que o terapeuta promova o estabelecimento de um 
'clima' de confiança. E esse 'clima' pode ser instituído se o terapeuta mostrar que 
'compreende e aceita' o cliente, que os dois estão 'trabalhando juntos' e que ele, 
terapeuta, dispõe de meios para prestar ajuda no sentido desejado pelo cliente 
(Rangé e Erthal, 1988; Guilhardi, 1992; Delitti, 1993). 'Aceitar' o cliente, no caso, 
deve ser entendido à luz da metáfora de Albert Ellis (Marinho, 1995) de que os 
psicoterapeutas ​"perdoam o pecador, mas não o pecado."​ (p.06). Dito de outra forma, 
o fato de o terapeuta 'aceitar o cliente' não implica, necessariamente, 'aceitar', 
também, 'os comportamentos do cliente': é indispensável que o terapeuta saiba 
distinguir a pessoa dos comportamentos dela.  
5) O terapeuta comportamental tem como referencial teórico a filosofia do 
Behaviorismo Radical, que direciona sua prática. Mas na interação com o cliente, é 
prudente que o terapeuta fique mais sob controle do 'discurso' do cliente e menos sob 
o de seu modelo conceitual. O terapeuta que responde somente à teoria procura 
'enquadrar', tanto o cliente quanto o seu próprio discurso, nos parâmetros previstos 
por esta. Agindo dessa forma, o terapeuta corre o risco de perder o contato com a 
'realidade do cliente' pelo fato de supor, com base na teoria, por exemplo, que 
determinados 'mecanismos' podem estar 'dominando' o cliente. A função de uma 
teoria é a de auxiliar o terapeuta ­ e, conseqüentemente, o cliente ­ em suas análises, 
e não, substituí­las. Portanto, é preciso que fique bem claro que é a teoria que deve 
ser 'enquadrada', adaptada ao cliente, e não o contrário (Guilhardi, 1992).  
FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA E FILOSÓFICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL  
Como muitos autores observaram (Kanfer e Phillips, 1974; Rimm e Masters, 1983; 
Guilhardi, 1992; Delitti, 1993; Kazdin, 1996) pode­se afirmar que a TC, fundamentada 
na teoria da aprendizagem, constitui­se uma abordagem ao aconselhamento e à 
psicoterapia que tem, como principal tarefa, engajar­se na solução dos problemas do 
cliente, dando­lhe pistas para localizar suas dificuldades, de modo a 'auxiliar o cliente 
a crescer'. Seu crescimento é importante porque, proporcionando a redução do seu 
sofrimento, produz alívio e melhores condições para o cliente desenvolver o 
autoconhecimento. A TC tem compromisso teórico com o Behaviorismo Radical (BR) e, 
conceitual, com a 'disciplina metodológica' da Análise Experimental do 
Comportamento (AEC). Mas seu principal compromisso é mesmo com o cliente. É 
preciso admitir que o que têm funcionado, de modo mais efetivo, como suporte teórico 
e metodológico para a Terapia Comportamental (TC), é a filosofia do Behaviorismo 
Radical e as condições de controle e predição do comportamento demonstrados pela 
AEC. O instrumento que viabiliza a TC é a Análise Conceitual do Comportamento 
(ACC), que permite a identificação das variáveis relevantes, responsáveis pela 
instalação, supressão, modificação e manutenção dos fenômenos comportamentais. A 
ACC baseia­se em conceitos teóricos que envolvem, basicamente, a aplicação de 
princípios derivados da pesquisa em Psicologia Experimental e Social, ou seja, da 
pesquisa em Análise Experimental do Comportamento. A esse respeito, Torós (1996) 
afirma que ​"A Análise do Comportamento não propõe um tratamento sintomatológico 
ou mecanicista, uma vez que esta abordagem baseia­se no modelo 
bio­sócio­psicológico, que elimina o conceito tradicional de 'doença subjacente' e 
mesmo o conceito de sintomas através do qual esta 'doença' se manifestaria. Ela 
propõe, isto sim, um tratamento das queixas apresentadas (solidão, stress, 
depressão, insegurança, etc) e dos mecanismos psicológicos funcionalmente 
envolvidos com o desenvolvimento e manutenção das problemáticas apresentadas." 
(p.01). ​"Para a Análise Comportamental, desenvolver a percepção de si mesmo, é a 
chave do problema. Trata­se de mudar o processo…de modo que o indivíduo exerça 
todo seu potencial de reflexão e questionamento sobre suas atitudes… Só o indivíduo 
pode ser o juiz final para determinar o que é certo ou errado para ele, de modo que 
descubra do que é capaz, gostando de si mesmo."​ (p.03).  
POR QUE TERAPIA COMPORTAMENTAL?  
A pessoa que aprende a descrever as contingências das quais o seu comportamento é 
função ­ que aprende o autoconhecimento ­ fica em uma posição privilegiada para 
prever e controlar suas atitudes (Skinner, 1991). Quanto a isso, Micheletto e Sério 
(1993) acrescentam que, assim, essa pessoa vai se tornando produto e produtor 
consciente de sua própria história.​ "Na concepção behaviorista, o homem pode agora 
controlar seu próprio destino, porque sabe o que deve ser feito e como fazê­lo." 
(Skinner, 1982, p.212). A Terapia Comportamental pode ser considerada como ​"…uma 
prática que se baseia em uma perspectiva naturalista em psicologia e em um modelo 
sociopsicológico do comportamento."​ (Rangé, 1988, p.20). Por focalizar mais a 
alteração ambiental e a interação social do que a alteração direta dos processos 
comportamentais por meio de procedimentos biológicos, tanto o comportamento dito 
'normal' quanto o dito 'anormal' são vistos como resultado de processos de 
aprendizagem. A atribuição de rótulos ou traços de personalidade ou o exame de 
supostas patologias subjacentes, não são necessárias à intervenção psicoterápica, por 
essa enfatizar mais os determinantes atuais do comportamento, que os históricos, 
valorizando a solução de problemas. Para tanto, o modo analítico comportamental se 
efetiva a partir de formulações baseadas em dados empíricos e em predições 
comprovadas. Oque equivale dizer que, as 'intuições' ou 'impressões clínicas', 
inventadas e/ou não demonstradas, só têm valor em TC quando são utilizadas para 
gerar uma estratégia comportamental de investigação, tal como a aplicação de 
tecnologia específica ou a formulação de hipóteses para a explicação do 
comportamento problemático em questão (Rangé 1988; Guilhardi, 1992). A TC reflete, 
portanto, um enfoque de tratamento da disfunção clínica e do comportamento 
desadaptativo, que se desenvolveu, em grande parte, a partir das investigações em 
Psicologia da Aprendizagem e que tem, como referencial teórico, a orientação 
filosófica do Behaviorismo Radical. Parafraseando Todorov (1989, p.348), este 
trabalho é uma tentativa de caracterizar a Terapia Comportamental de orientação 
behaviorista radical e de mostrar como o que se faz nessa área de trabalho clínico é 
compatível com essa caracterização.  
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Federal do Pará.  
OBSERVAÇÕES  
1. A autora agradece a leitura cuidadosa deste texto e as sugestões pertinentes feitas 
pela Profa. Sandra Maria de Castro Bernardes, do Instituto de Psicologia da PUC/MG, 
Belo Horizonte.  
2. As referências a Guilhardi, 1992, dizem respeito a textos não publicados, 
elaborados pelo Prof. Hélio José Guilhardi, da PUC/Campinas, relativos a 26 encontros 
de estudo e supervisão em Terapia Comportamental realizados no Instituto de Análise 
do Comportamento de Campinas, em Campinas/SP, durante o ano de 1992. A autora 
agradece o acesso permitido a esses textos.  
Ana Maria é Mestre em Psicologia Social. Docente do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e 
Ciências Humanas da UFMG, Belo Horizonte, MG. Psicóloga Clínica. Terapeuta Comportamental do CONTEXTO: 
Núcleo de Interação em Análise do Comportamento/BH.

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