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Resumo CIVIL - Pablito e Andre Barros 2014

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AULA 01
PERSONALIDADE JURÍDICA
CONCEITO: É a aptidão genérica para se titularizar direitos e obrigações na órbita do Direito: a pessoa física/natural e a pessoa jurídica são dotadas de personalidade jurídica.
OBS.: Em outros campos do Direito, a exemplo do Direito Administrativo, deparamo-nos com entes que, embora desprovidos de personalidade, são considerados sujeitos de direito (a exemplo do órgão).
Os quatro gigantes da alma – Mira y Lopez
PESSOA FÍSICA OU NATURAL:
QUESTÃO: Em que momento a pessoa física adquire personalidade jurídica?
Aparentemente, a resposta é encontrada na primeira parte do artigo 2º do Código Civil, segundo a qual a personalidade jurídica da pessoa começa do nascimento com vida (marcado especialmente pelo funcionamento do aparelho cardiorrespiratório do bebê).
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; MAS a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Sucede que, a segunda parte do artigo 2º do Código Civil estabelece que o nascituro teria direitos desde a concepção, o que nos levaria a indagar: teria o nascituro também personalidade jurídica? 
O NASCITURO:
Invocando a doutrina de Limongi França, nascituro é aquele já concebido, mas ainda não nascido. Vale dizer, é o ente concebido e de vida intra-uterina.
Nascituro ≠ Concepturo ≠ Natimorto
OBS.: Não devo confundir nascituro com concepturo e natimorto. O concepturo é aquele que nem concebido foi ainda (prole eventual). O natimorto, por sua vez, é o nascido morto, ao qual é reconhecida a proteção de certos direitos da personalidade (ver enunciado 1 da I JDC, nº 01).
1 – Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.
Um dos pontos mais polêmicos da civilística nacional diz respeito à natureza jurídica do nascituro. Para entendê-la, precisamo-nos debruçar em 3 teorias explicativas fundamentais:
Teoria Natalista (Vicente Ráo, Silvio Rodrigues, Eduardo Espínola).
Teoria da Personalidade Condicional (Serpa Lopes).
Teoria Concepcionista (Clóvis Beviláqua, Silmara Chinelato).
TEORIA NATALISTA: sustenta que a personalidade jurídica somente seria adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que, em essência, o nascituro não seria considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito.
TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL: o nascituro, desde a concepção, titularizaria determinados direitos personalíssimos (como o direito à vida), mas apenas consolidaria outros direitos (materiais ou patrimoniais), sob a condição de nascer com vida. Trata-se de uma teoria, na prática, muito aplicada pela jurisprudência, mas que nos conduz a um certo inconveniente, na medida em que o nascituro, aparentemente, teria duas personalidades: uma formal (adquirida na concepção para o gozo de direitos personalíssimos) e uma material (para o gozo de direitos materiais, sob a condição de nascer com vida).
TEORIA CONCEPCIONISTA: sustenta que o nascituro teria personalidade jurídica plena, desde a concepção, inclusive para o gozo de direitos materiais. Nos últimos anos, esta teoria vem ganhando força (ver a Tutela Civil do Nascituro - Silmara Chinelato), a exemplo do reconhecimento do direito aos alimentos e da própria possibilidade de sofrer dano moral (conforme veremos abaixo).
Reforçando a tese de que a Teoria Concepcionista aumenta a sua influência em nosso Direito Positivo, vale à pena citarmos as seguintes referências:
O STJ admite o direito à reparação por dano moral em favor do nascituro (Resp 399028 SP, Resp 931556 RS).
O nosso Direito Positivo já admite o direito aos alimentos em favor do nascituro (Lei 11.804/08).
O STJ no noticiário de 15/05/2011 admite que pais podem ser indenizados pela morte de um nascituro, razão pela qual teriam direito ao seguro DPVAT.
Difícil questão diz respeito a qual das teorias foi adotada em nosso sistema jurídico.
A polêmica rende intenso debate acadêmico. Nesse contexto, antes de respondermos à indagação é fundamental registrar que o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, na perspectiva dos Direitos Fundamentais, deve reger qualquer resposta do intérprete. Assim, mesmo quem sustente a Teoria Natalista pura deve ter cuidado com os excessos, a exemplo do que se lia na antiga redação do artigo 30 do Código Civil da Espanha, antes da Lei 20/11 (em que se negava a condição de pessoa ao recém nascido que não tivesse forma humana). Este tipo de posição jamais deve prosperar. E, afinal, qual das teorias foi a adotada pelo Código Civil Brasileiro? 
Clóvis Bevilaqua, em seus “Comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil” (Rio de Janeiro - Editora Rio, 1975, pág. 178) traz uma lição ainda atual, quando nos deparamos com a pergunta a respeito de qual das teorias seria a adotada pelo CC. Após elogiar a Teoria Concepcionista, por lhe parecer a melhor, afirma que o codificador pretendeu adotar a Natalista “por parecer mais prática”. Sucede que, na mesma obra, o jurista destaca diversas situações em que o nascituro é tratado como se fosse pessoa. Em síntese: o codificador pretendeu adotar a Natalista, mas experimenta inegável influência da Teoria Concepcionista.
OBS.: a leitura da ementa da ADI 3510 (em que se questionaram dispositivos da Lei de Biosegurança) aparentemente reforçaria a Teoria Natalista – mas, em nosso sentir, o embate entre as teorias ainda não foi devidamente pacificado.
CAPACIDADE:
 De Direito
Capacidade + = Capacidade PLENA
 De Fato
DE DIREITO: toda pessoa tem.
DE FATO: nem todo mundo tem, é a aptidão para praticar pessoalmente os atos da vida civil.
TEORIA DA INCAPACIDADE CIVIL: é a ausência da capacidade de fato, pode ser absoluta (art. 3º CC) ou relativa (art.4º CC).
Art. 3º - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
os menores de dezesseis anos; 
OBS.: Também chamado de menores impúberes
II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
OBS.: no que se refere ao inciso II, as pessoas portadoras de deficiência ou doença mental que as prive completamente de discernimento, deverão ser interditadas, segundo o procedimento regulado nos art.’s 1177 e ss do CPC – proferida a sentença de interdição, devidamente publicada e registrada, qualquer ato que o interditado venha a praticar, sem a presença do seu curador, é inválido (mesmo que a patologia seja cíclica).
Em caso de a incapacidade não haver sido ainda reconhecida, posto o Código não contenha norma expressa, é firme a nossa doutrina (Orlando Gomes), com especial influência do Direito Italiano, no sentido de que o ato praticado pelo incapaz ainda não interditado poderá ser invalidado se concorrerem 3 requisitos: 
- a incapacidade;
- o prejuízo resultante do ato praticado;
-a má-fé da outra parte.
Esta má-fé pode ser aferida das próprias circunstâncias do negócio.
III- os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Ex.: uma pessoa em estado de coma, intoxicação fortuita (pessoa que é fortuitamente intoxicada/drogada), surdo mudo sem habilidade necessária para manifestação da sua vontade.
OBS.: o Código de 1916 ainda considerava absolutamente incapaz o ausente e o surdo mudo sem a habilidade necessária para manifestação da sua vontade. O Código de 2002 trata a matéria de forma diferenciada. A ausência traduz situação de morte presumida, nos termos do art. 6º. Já o surdo mudo sem habilidade para manifestar vontade, embora não haja sido expressamente reconhecido como absolutamente incapaz, implicitamente o foi, a teor do próprio inciso III do artigo 3º. 
Capacidade ≠ Legitimidade
Por fim, ainda no âmbito das questões especiais de concurso, vale lembrar que capacidade não se confunde com legitimidade. A legitimidade é uma pertinência subjetivapara a prática de determinados atos. Ou seja, uma pessoa pode ser capaz, mas estar especificamente impedida de praticar determinado ato, então lhe falta legitimidade.
 
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos
OBS.: Menores púberes
II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
OBS.: Se a embriaguez é patológica, de maneira que a vontade esteja completamente aniquilada, a incapacidade é absoluta. Mas se a embriaguez apenas reduz o discernimento, a incapacidade é relativa.
III- os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
Ex.: Síndrome de Down.
IV- os pródigos. 
OBS.: o pródigo é considerado relativamente incapaz, podendo se submeter a um procedimento de interdição, caso em que o seu curador deverá assisti-lo apenas em atos de conteúdo ou disposição patrimonial (art. 1782 CC).
O pródigo, em linhas gerais, é portador de um transtorno de personalidade, de uma compulsão que o conduz a gastar descontroladamente o seu patrimônio, ao ponto de reduzir-se à miséria – a sua interdição, portanto, é medida protetiva para salvaguarda de seu patrimônio mínimo, na perspectiva do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Vale acrescentar que o curador do pródigo deve ser ouvido em sua habilitação para casamento, no que tange à escolha do seu regime de bens.
Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo – Luiz Edson Fachin.
OBS.: A Teoria do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo foi elaborada pelo grande jurista Luiz Edson Fachin. Segundo esta teoria, na perspectiva do Princípio da Dignidade Humana, as normas civis devem resguardar um mínimo de patrimônio para que toda pessoa, não apenas sobreviva, mas tenha vida digna, por isso se justifica a interdição do pródigo. 
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
Artigo 8º da Lei 6001/73 (Estatuto do Índio) - matéria de Direito Constitucional.
QUESTÃO: A redução da maioridade civil repercutiu no âmbito dos alimentos? E no campo previdenciário?
O STJ já firmou entendimento no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia, que deve ser paga até a conclusão dos estudos (HC 55606 SP, Resp 347010 SP, Súm. 358 STJ). 
STJ Súmula nº 358 - O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.
No âmbito previdenciário, é forte o entendimento no sentido de que o pagamento de benefícios ou auxílios beneficiários deve observar a própria norma previdenciária, que é especial em face do Código Civil (Nota SAJ 42/03 e enunciado n.º. 03 I JDC).
3 – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial.
QUESTÃO: O que se entende por restitutio in integrum?
À luz da Teoria Geral, o restitutio in integrum, também denominado Benefício de Restituição, tem uma acepção específica. Isso porque a expressão também pode significar restituição integral na reparação de um dano. Mas não é neste sentido que a estamos estudando. Como dito, na Teoria Geral, segundo Clóvis Beviláqua, trata-se de um benefício conferido aos menores incapazes em geral no sentido de pleitearem a invalidade do ato praticado, alegando simples prejuízo. Vale dizer, consistia em um privilégio aos incapazes para permitir atacar atos válidos praticados, quando se sentissem prejudicados. Este benefício, expressamente vedado no Código Civil de 1916 (art. 8º), embora não encontre norma específica no Código Civil de 2002, ainda deve ser considerado proibido em nosso sistema, uma vez que viola o direito adquirido e a segurança nas relações jurídicas.
OBS.: Ver no material de apoio 01 os comentários ao artigo 119 CC, referente ao conflito de interesses entre representante e representado.
EMANCIPAÇÃO:
A emancipação não é um instituto exclusivo do Direito brasileiro, havendo previsão em outros sistemas, como na Alemanha, Suíça e Portugal. 
Conceito: A emancipação, que poderá ser voluntária (art. 5º, § ú, I, 1ª parte, CC), judicial (art. 5º, § ú, I, 2ª parte, CC) ou legal (art. 5º, § ú, II a V, CC), antecipa os efeitos da capacidade civil PLENA, habilitando o menor a praticar atos jurídicos como se fosse maior.
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
OBS.: Washington de Barros Monteiro, em seu Curso de Direito Civil, afirma que a maioridade é atingida no primeiro instante do dia em que se completa a referida maioridade civil. Segundo o mesmo autor, havendo dúvida, pender-se-à pela capacidade (in dúbio pro capacitate).
EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
É aquela concedida por ato de vontade dos pais, ou por um deles na falta do outro, em caráter irrevogável, independentemente de homologação judicial, por instrumento público, e desde que o menor tenha pelo menos 16 anos completos.
OBS.: O fato de um dos pais deter a guarda não significa por si só o direito de emancipar o filho sozinho, na medida em que a emancipação extingue o poder familiar de ambos os pais.
O menor deve participar do ato emancipatório, mas isso não significa que ele deva autorizar os pais.
OBS.: A doutrina brasileira (Silvio Venosa), assim como a nossa própria jurisprudência (RTJ 62/108, RT 494/92, Resp. 122.573/PR, Ag. Rg. no Ag. 1239557 RJ) apontam no sentido de que a emancipação voluntária não exclui a responsabilidade civil dos pais pelos ilícitos cometidos pelo filho menor emancipado até que complete 18 anos de idade.
EMANCIPAÇÃO JUDICIAL
A emancipação judicial é aquela concedida por ato do juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos 16 anos completos.
Esta emancipação é feita pelo juiz, não pelo tutor. O tutor apenas é ouvido.
OBS.: Se um representante discorda do outro, em casos de emancipação, e o juiz é chamado a dirimir o litígio, em nosso sentir, não haveria tecnicamente uma emancipação judicial, pois o juiz estaria atuando por dever de ofício, à luz do Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição.
EMANCIPAÇÃO LEGAL
É aquela que se opera por força de lei, deriva da lei.
II- CASAMENTO
A separação judicial e o divórcio não operam o retorno à anterior situação de incapacidade civil do emancipado. Vale dizer, por exemplo, o menor emancipado pelo casamento, uma vez divorciado, continuará a ser considerado emancipado.
Já no caso da invalidade do casamento, levando-se em conta que forte corrente doutrinária defende a eficácia retroativa da sentença que invalida o matrimônio (Flávio Tartuce, José Fernando Simão, Zeno Veloso), por conseqüência o emancipado retornaria à situação de incapacidade, ressalvada a hipótese, de o juiz, à luz da Teoria da Putatividade (a ser vista em Direito de Família) manter os efeitos jurídicos do ato invalidado.
III- PELO EXERCÍCIO DE EMPREGO PÚBLICO EFETIVO;
No que se refere ao inciso II, do art. 5º, § único, uma interpretação lógica remete-nos à conclusão de que se o exercício do emprego público emancipa, por óbvio, o exercício de um cargo público também emanciparia.Sucede que num caso ou noutro, trata-se de regra de pouquíssima aplicação prática.
OBS.: Segundo Maria Helena Diniz, funções de confiança e temporárias, por não serem efetivas, não emanciparia.
IV- PELA COLAÇÃO DE GRAU EM CURSO DE ENSINO SUPERIOR;
V- PELO ESTABELECIMENTO CIVIL OU COMERCIAL, OU PELA EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE EMPREGO, DESDE QUE EM FUNÇÃO DE QUALQUER DELES, O MENOR COM 16 ANOS COMPLETOS TENHA ECONOMIA PRÓPRIA.
 Estabelecimento Civil
Estabelecimento Comercial + 16 anos + ECONOMIA PRÓPRIA
 Relação de Emprego
QUESTÃO: O que se entende por economia própria?
O professor Miguel Reale, jurista que liderou a equipe de especialistas responsáveis pelo CC/02, afirmava que a nossa lei codificada seria regida por 3 princípios básicos:
Socialidade (o CC seria regido pela função social);
Eticidade (o CC seria regido pela boa-fé);
Operabilidade (o CC consagraria um sistema normativo aberto, marcado por inúmeros conceitos vagos ou indeterminados, bem como por cláusulas gerais – tema a ser desenvolvido na Teoria do Contrato).
Portanto, à luz do Princípio da Operabilidade, “economia própria” é um conceito aberto ou indeterminado, a ser preenchido pelo juiz segundo as características do caso concreto.
QUESTÕES ESPECIAIS DE CONCURSO ENVOLVENDO EMANCIPAÇÃO:
Lembra Paulo Godoy, no texto “A lei de falências e a imputabilidade penal”, que o menor emancipado que exerça a atividade empresarial na forma do art. 1º da Lei de Falências, pode falir. Eventual ilícito penal praticado por ele é tratado como ato infracional nos termos do ECA. Por quê?
Porque a EMANCIPAÇÃO NÃO ANTECIPA A CAPACIDADE PENAL.
O menor emancipado pode ser criminalmente preso?
NÃO. Como já vimos, a responsabilidade dele é regida pelo ECA, e não pelo Direito Penal, de maneira que, não é adequado falar-se em prisão criminal.
E a prisão civil é cabível?
Em doutrina, admite-se a prisão civil do menor emancipado (Luiz Flávio Gomes), na media em que esta forma de prisão é apenas um meio coercitivo para forçar o cumprimento da obrigação. Neste contexto, também admitindo a prisão civil do menor emancipado, em obra dedicada ao tema (editora Virtual Books), Otávio de Oliveira Pinto defende um regime prisional diferenciado, como a prisão domiciliar, em atenção à idade do devedor. 
O menor emancipado pode obter Carteira Nacional de Habilitação?
O menor emancipado não pode obter a CNH, na medida em que para dirigir, nos termos do art. 140, I, CPP, é indispensável que o condutor seja penalmente imputável.
EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL
Nos termos do art. 6º CC, a existência da pessoa natural termina com a morte.
 Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
A Lei 6015/76 (Lei de Registros Públicos) em seu art. 77 estabelece que a morte deve ser declarada à vista do corpo morto por um médico, ou, excepcionalmente, por duas testemunhas, na ausência do profissional da medicina. 
As Resoluções 1480/97 e 1826/07 do Conselho Federal de Medicina apontam no sentido de que a parada total e irreversível das funções encefálicas equivale à morte (é o critério estabelecido pela comunidade científica mundial).
MORTE PRESUMIDA:
O ordenamento jurídico brasileiro também prevê situações de morte por presunção.
A 1ª delas é a ausência prevista na 2ª parte do art. 6º, e nos art.’s 22 e ss CC.
A ausência ocorre quando a pessoa desaparece do seu domicílio sem deixar notícia ou representante que administre os seus bens.
O texto complementar do Material de Apoio 01 detalha todas as etapas do procedimento da ausência, valendo registrar que uma vez aberta a sucessão definitiva dos bens do ausente, ele é considerado morto por presunção.
A sentença de ausência não é registrada no livro de óbitos, mas sim em livro especial no Cartório do domicílio anterior do ausente (art. 94 LRP).
 AUSÊNCIA ≠ MORTE PRESUMIDA
Além da hipótese da ausência, o art. 7º CC estabelece outras hipóteses de morte presumida. Vale observar que, nas situações do art. 7º, que desafiam um procedimento de justificação, diferentemente da ausência, existem fundados elementos indícios de que a morte aconteceu. Por isso, inclusive, a sentença que a declara deve ser registrada no próprio livro de óbitos. 
O procedimento da morte presumida é um procedimento de justificação. Após convencido, o juiz, profere sentença.
Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
QUESTÃO: O que se entende por testamento vital?
Trata-se de tema atinente a outra grade do curso, assim como eutanásia, ortotanásia e aborto do anencéfalo.
O testamento vital, também conhecido como “living will”, bem como “declaração antecipada de vontade”, é tema de alta complexidade estudado pelo Biodireito e pela Bioética, em especial. No Brasil, o CFM regulou o testamento vital por meio da Resolução 1995/12. Trata-se de um ato jurídico por meio do qual o paciente manifesta, prévia e expressamente, o desejo de não receber determinado tratamento quando estiver incapacitado de expressar livremente a sua vontade. Em outras palavras, à luz do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, o paciente antecipadamente declara não querer determinado tratamento ou mecanismo que impeça o desdobramento natural da sua morte.
QUESTÃO: O que é comoriência?
Comoriência ≠ Premoriência
Inicialmente, vale fixar-nos a noção de Premoriência, que traduz a idéia de pré-morte (ex.: um herdeiro pré-morto). 
A comoriência não é isso. Por comoriência entenda-se a situação em que duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos. 
Em tal caso, à luz do art. 8º do CC, considera-se ter havido morte simultânea, caso em que são abertas cadeias sucessórias autônomas e distintas. 
Em síntese: comoriência é uma presunção legal de morte simultânea (SOMENTE APLICÁVEL SE NÃO SE PUDER INDICAR A ORDEM CRONOLÓGICA DOS ÓBITOS). Aplicando-se a presunção da comoriência, como dito, abrem-se cadeias sucessórias autônomas e distintas, o que significa que um comoriente nada transmite ao outro.
Art. 8o - Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
QUESTÃO: Para se aplicar a regra da comoriência, as mortes devem ocorrer no mesmo lugar?
O art. 8º CC faz referência à palavra “ocasião”. Claro que, na grande maioria das vezes implicara ser no mesmo lugar. Mas, em tese, poderá não ser como na hipótese em que pai e filho enfartam na mesma ocasião durante uma ligação telefônica internacional.
PESSOA JURÍDICA
É importante fixar-nos a premissa de que a pessoa jurídica é decorrência do fato associativo, de maneira que a despeito de sua autonomia enquanto categoria jurídica, a influência da contribuição sociológica jamais poderá ser desprezada.
Segundo Orlando Gomes (Introdução ao Direito Civil), o Direito sentiu a necessidade de personificar determinados grupos sociais, momento em que se iniciou o processo de reconhecimento das “pessoas jurídicas”.
Assim, em um conceito básico e primário, derivado deste fato associativo, a pessoa jurídica seria um grupo humano personificado pelo Direito com fim de realizar fins comuns.
OBS.: ao longo do tempo, a Pessoa Jurídica foi se diversificando e ganhando contornos peculiares que se afastavam desta noção de grupo personificado. É o caso das fundações (patrimônio que se personifica) e das EIRELI (pessoa jurídica constituída poruma pessoa só), conforme veremos em sala de aula.
De tudo que foi dito concluímos que a Pessoa Jurídica é uma categoria em constante transformação.
Teorias Explicativas da Pessoa Jurídica: 
A polêmica doutrinária foi tão acentuada que controvérsia houve até mesmo quanto a sua nomenclatura (ver Caio Mário em Instituições do Direito Civil): pessoa morais, fictícias, coletivas, místicas etc. Não podendo esquecer ainda a expressão usada por Teixeira de Freitas “ente de existência ideal” (que influenciou o Direito argentino). Mas consagrou-se a expressão Pessoa Jurídica.
Fundamentalmente, quanto às teorias explicativas, existiram duas correntes:
Corrente NEGATIVISTA (Brinz, Bekker, Planiol): segundo a qual a pessoa jurídica não seria uma categoria própria, nem um sujeito de direito autônomo: os negativistas recusaram-lhe a existência.
Corrente AFIRMATIVISTA
Vingou a corrente Afirmativista, a que aceitava a existência da pessoa jurídica. Dentro dela inúmeras teorias foram criadas, a exemplo da Teoria Lógico-formal (Kelsen) e da Teoria Institucionalista (Hauriou). Mas 3 teorias são consideradas as principais:
a) Teoria da FICÇÃO (Savigni)
A pessoa jurídica teria uma existência meramente abstrata, enquanto produto da técnica do Direito. Esta teoria negava-lhe o reconhecimento de uma existência social.
b) Teoria da REALIDADE OBJETIVA ou SOCIOLÓGICA (C. Beviláqua)
Afirma que a pessoa jurídica seria apenas um ente, uma célula, integrante de relações sociais, nada tendo a ver com a técnica do Direito. Vale dizer, esta segunda teoria tendia a encarcerar a pessoa jurídica nos domínios da sociologia.
c) Teoria da REALIDADE TÉCNICA (Saleilles)
É a teoria mais equilibrada por conjugar o que há de melhor nas duas teorias anteriores, reconhecendo assim não só a importância do Direito como da sociologia. Para esta teoria a pessoa jurídica, a par de ser personificada pela técnica do Direito, teria uma existência social, na medida em que integraria autonomamente relações travadas no seio da sociedade.
Esta teoria que é a que melhor explica o art. 45 do CC.
OBS.: antes de iniciarmos a analise do surgimento da pessoa jurídica, é preciso lembrar-nos que a Teoria Geral reconhece determinados entes que, embora tenham capacidade processual, tecnicamente pessoas jurídicas não são, a exemplo da massa falida, do espólio, da herança jacente e das sociedades despersonificadas (art. 12 CPC). Maria Helena Diniz entende que esses entes são “despersonalizados” ou com “personificação anômala” (Curso de Direito Civil Brasileiro). Quanto ao condomínio, é forte a corrente no sentido de que se trata também de um ente despersonificado com capacidade processual. Mas há quem afirme ser uma “quase pessoa jurídica” (ver referência em Tartuce e Simão). Reforçando a tese segundo a qual o condomínio não deve ser considerado pessoa jurídica, o projeto de lei 80/11 da Câmara dos Deputados pretende alterar o CC para que o condomínio passasse a ser tratado como pessoa jurídica.
SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA:
Nos termos do artigo 45 CC, a pessoa jurídica começa a ter existência legal a partir do registro do seu ato constitutivo. De acordo com este dispositivo fica claro que o registro de uma pessoa jurídica é constitutivo de sua personalidade, de maneira que entes desprovidos de registro carecem de personalidade, ingressando no âmbito das sociedades não personificadas (art. 986 e ss CC), caso em que haverá responsabilidade pessoal e ilimitada dos seus próprios sócios e administradores.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
OBS.: excepcionalmente, determinadas pessoas jurídicas exigem a aquiescência do Poder Executivo para que possam se constituir, a exemplo dos bancos e das companhias de seguro.
ESPÉCIES FUNDAMENTAIS DE PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO:
Em sua redação original, o art. 44 do CC regulava apenas as 3 espécies básicas de pessoas jurídicas de Direito Privado: associações, sociedades e fundações. Posteriormente, o legislador desdobrou o dispositivo para inserir também as organizações religiosas, e os partidos políticos, a despeito de sua natureza associativa.
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas; 
V - os partidos políticos. 
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.
 
§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. 
§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. 
§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica.
	
O legislador contemplou as organizações religiosas e os partidos políticos em incisos autônomos, em verdade, para diferenciá-los de outras associações, conferindo-lhes a prerrogativa de não se submeterem ao prazo de adaptação previsto no art. 2031 CC (ver item 8 da apostila 02).
Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007. 
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas nem aos partidos políticos
OBS.: as pessoas jurídicas, assim como os empresários, que não se adaptaram ao CC passaram a atuar de forma irregular, o que poderia acarretar-lhes graves conseqüências, a exemplo do impedimento de participar de licitações, impossibilidade de obtenção de crédito, e até mesmo, em certos casos, o reconhecimento da responsabilidade pessoal dos sócios ou administradores pelos débitos contraídos.
Finalmente, vale lembrar que a Lei 12441/11 incluiu no rol do art. 44 a EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada), tema de Direito Empresarial, que se caracteriza por ser uma especial forma de pessoa jurídica constituída por uma pessoa só.
QUESTÃO: Pessoa jurídica pode sofrer dano moral?
Corrente doutrinária contrária à tese criticava a idéia de um dano moral à pessoa jurídica dada a ausência de uma dimensão psicológica (Wilson Melo da Silva). Sucede que esta corrente não vingou, na medida em que é matéria sumulada que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súm. 227 STJ). Aliás, a despeito do enunciado 286 da IV JDC, a norma legal (art. 52 CC) e o afirme jurisprudencial do STJ (Ag. Rg. No REsp. 865.658 RJ e Ag. Rg. no REsp 125.2125 SC) são no sentido de que a pessoa jurídica pode sofrer lesão a certos direitos da personalidade (como a imagem), resultando em um dano moral.
STJ Súmula nº 227 - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
ESPÉCIES DE PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO:
1- ASSOCIAÇÕES
Conceito: as associações, pessoas jurídicas de Direito Privado, são formadas pela união de indivíduos com a finalidade ideal e não econômica (art. 53 CC).
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
O ato constitutivo de uma associação é o seu Estatuto (art. 54 CC), o qual deve ser registrado no CRPJ (Cartório de Registro de Pessoa Jurídica). 
A Assembléia Geral de Associados é o órgão máximo de uma associação (art. 59 CC).
Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: 
I – destituir os administradores;II – alterar o estatuto. 
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores.
OBS.: Vale anotar ainda que, regra geral, nos termos do art. 61, dissolvida uma Associação o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no seu Estatuto ou, subsidiariamente, em uma instituição municipal ou federal, de fins iguais ou semelhantes.
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
§ 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação.
§ 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.
Em uma associação (um clube, por exemplo) pode haver categorias diferentes de associados, mas, em uma mesma categoria os associados não podem ser discriminados entre si (art. 55 CC).
Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
O art. 57 CC admite, em havendo justa causa, e com a garantia da ampla defesa, a exclusão/expulsão de um associado. 
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. 
OBS.: EXPULSÃO DE CONDÔMINO DO CONDOMÍNIO
Tradicionalmente, ainda é firme, e certamente majoritária, a tese segundo a qual não é possível a exclusão de condômino com comportamento anti-social (AC 668.403.4600 TJ/SP), não apenas porque o art. 57 se refere a associações e não condomínio, mas principalmente pelo fato de ao condômino anti-social haver sido previsto multas (art. 1337), e não a sua expulsão.
No entanto, já existe posição na jurisprudência (AC 957.743-1 PR), bem como na doutrina (enunciado 508 da V JDC) no sentido de que à luz do Princípio da Função Social o condomínio pode deliberar, em casos graves, a expulsão de um condômino anti-social. 
2 – FUNDAÇÕES
Conceito: a Fundação resulta, não da união de indivíduos, mas de um patrimônio que se personifica para a realização de uma finalidade ideal (art. 62 CC).
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
 
OBS.: vale registrar mais uma vez, nos termos do § ú do art. 62, que uma Fundação persegue finalidade ideal (não econômica), incluídas também as fundações educacionais e de proteção ao meio ambiente (En. 8 da I JDC)
REQUISITOS PARA CONSTITUIÇÃO DE UMA FUNDAÇÃO:
1º – Afetação (ou destacamento) de bens livres do seu instituidor;
2º – Instituição por escritura pública ou testamento (a fundação somente pode ser constituída por essas duas vias);
OBS.: o art. 62 CC prevê que a fundação seja criada por escritura pública ou testamento. Mas, note: a lei não define a forma do testamento.
3º - Elaboração do seu estatuto (toda fundação tem por ato normativo um estatuto, elaborado nos termos do artigo 65 CC, pelo seu próprio instituidor, por um terceiro ou, subsidiariamente, pelo Ministério Público);
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.
4º - Aprovação do estatuto (em regra, é o MP que aprova o estatuto da fundação).
OBS.: o art. 1202 CPC estabelece que se o MP elabora o estatuto, o juiz deverá aprová-lo. 
Art. 1.202. Incumbirá ao órgão do Ministério Público elaborar o estatuto e submetê-lo à aprovação do juiz:
I - quando o instituidor não o fizer nem nomear quem o faça;
II - quando a pessoa encarregada não cumprir o encargo no prazo assinado pelo instituidor ou, não havendo prazo, dentro de 6 (seis) meses. 
5º - Registro civil, a fundação deve ser registrada no CRPJ.
O MP E AS FUNDAÇÕES DE DIREITO PRIVADO
(As fundações de Direito Privado e o MP - Lincon A. de Castro)
O art. 66 CC estabelece caber em 1º plano ao MP estadual e ao MP do DF (ADI 2794), fiscalizar as suas respectivas fundações privadas.
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal.
Alterado pela ADIN nº 2.794-8, que estabelece ser o MP-DF.
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público.
OBS.: em situações justificadas, por óbvio, o MPF também poderá atuar, fiscalizando uma fundação privada, a exemplo da hipótese em que há convênio e recebimento de reservas federais (ver En. 147 III JDC).
Vale acrescentar, ainda, que os artigos 67 e 68 disciplinam a alteração fundação que acaba.
Nos termos do referido art. 69, salvo estipulação em contrário, o patrimônio da fundação que acaba é incorporado ao de outra fundação designada pelo juiz que se proponha a fim igual ou semelhante.
3 - SOCIEDADES
O art. 44 CC, em sua parte geral, aponta as sociedades como uma pessoa jurídica de Direito Privado. Sucede que, a disciplina e o desenvolvimento da matéria, assim como da EIRELI são objeto da grade de Direito Empresarial. Cuidaremos, então, aqui, de apresentar importantes noções voltadas à Teoria Geral do Direito Civil.
SOCIEDADES SIMPLES E EMPRESÁRIAS
Conceitualmente, uma sociedade é constituída pela união de indivíduos que se organizam, mediante contrato social (art. 981), com objetivo de exercer atividade econômica e partilhar lucro.
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.
O CC deixa claro: sociedades, diferentemente das associações e fundações, tem finalidade lucrativa. 
Na passagem do século XX para o XXI, especialmente com a superação do sistema francês da Teoria dos Atos de Comércio, substituído pela moderna Teoria da Empresa, mormente após a edição do Código Italiano de 1982, o Direito Comercial se reconstruiu em novas bases do Direito Empresarial, repercutindo nitidamente no âmbito societário: as antigas sociedades civis e mercantis (comerciais) dariam lugar às novas figuras das sociedades simples e empresárias (art. 982).
OBS.: as modernas noções de sociedade empresária e simples, em geral correspondem às antigas sociedades mercantis e civis. Todavia, não é correto se dizer haver uma identificação absoluta, na medida em que a noção de empresa é demasiadamente profunda. Por exemplo, sociedades industriais, tecnicamente não seriam mercantis, mas são empresárias.
QUESTÃO: Marido e mulher podemformar sociedade?
O artigo 977 CC proíbe que os cônjuges, casados em regime de comunhão universal ou separação obrigatória, contratem sociedade entre si ou com terceiros. No entanto, sociedades já constituídas antes da entrada em vigor do novo Código Civil, em respeito ao ato jurídico perfeito, não precisariam ser desconstituídas (parecer jurídico DNRC/COJUR nº 125/03).
SIMPLES
Sociedades
EMPRESARIAIS
A distinção entre Sociedade Simples e Empresária é, indiscutivelmente, um dos temas mais difíceis e polêmicos do Direito Empresarial. E está em constante transformação. Nos termos do art. 982, em nosso sentir, uma sociedade empresária deve conjugar dois requisitos: 
1 – Requisito MATERIAL: exercício de uma atividade tipicamente empresarial (art. 966); 
2 – Requisito FORMAL: registro na junta comercial (art. 982).
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. 
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
Uma Sociedade EMPRESÁRIA, em essência, é marcada pela impessoalidade. Vale dizer, os seus sócios ou administradores atuam simplesmente articulando fatores de produção (capital, trabalho, matéria-prima e tecnologia). Ou seja, a atividade pessoal de cada sócio não é indispensável para o exercício da própria atividade econômica organizada. Além disso, estão sujeitas a registro na Junta Comercial e à legislação falimentar.
Diferentemente, as Sociedades SIMPLES, com registro, em geral, no CRPJ, caracterizam-se pela pessoalidade. Vale dizer, a pessoa de cada sócio é indispensável para o exercício da própria atividade, ainda que haja colaboradores. Por isso, tendem a ser sociedades prestadoras de serviços técnicos ou científicos (como uma sociedade de médicos ou advogados). Ademais, como deverá ser desenvolvido em aula de empresarial, não se submetem à legislação falimentar, mas sim às regras da insolvência civil.
Vale acrescentar, por fim, que é profunda a polêmica no que toca aos limites do conceito de empresa e de empresarialidade. O que nos leva a ponderar, em especial, quanto ao enquadramento jurídico de determinadas sociedades simples que se agigantam e passam a exercer uma atividade empresarial. A questão ainda está em debate. 
OBS.: nos termos do § ú do art. 982, independentemente do seu objeto, considera-se empresária a Sociedade Por Ações e simples a Cooperativa. Quanto ás cooperativas, existe uma certa polêmica no que toca ao seu registro que, tradicionalmente, sempre foi feito em Junta Comercial.
Sucede que, o CC/02, ao tratar a Cooperativa como Sociedade Simples, abriu espaço à idéia de que o seu registro deveria ser feito no CRPJ (Paulo Rego, Julieta Lunz), embora ainda seja forte a corrente no sentido de que o registro continua a ser feito em Junta Comercial (Sérgio Campinho e En. 69 da I JDC).
4 – EIRELI
Conceito: com a vigência da Lei 12441/11, que incluiu o artigo 980-A ao Código Civil, consagrou-se a EIRELI: Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Trata-se, não de uma sociedade, mas de uma pessoa jurídica unipessoal, ou seja, constituída pela vontade de um único sujeito e cuja responsabilidade é limitada ao seu capital inicial.
OBS.: indiscutivelmente, a EIRELI é atrativa na medida em que limita o risco da sua atividade ao seu próprio capital. Com isso, afastada a excepcional hipótese de desconsideração de personalidade, a execução das dívidas atacará o próprio capital da EIRELI, e não da pessoa física que a criou, diferentemente do que se dá com o empresário individual.
Ocorre que, o legislador estabeleceu um capital mínimo de 100 salários mínimos para constituição de uma EIRELI, o que prejudica pequenos empreendedores e, atualmente, é objeto de uma argüição de inconstitucionalidade (ADI 4637). Vale acrescentar, ainda, que existe corrente no sentido de que somente uma pessoa física poderá constituir EIRELI, nos termos do § 2º do art. 980-A, e a teor da instrução normativa 117/11 do antigo DMRC. Mas a polêmica continua.
Ainda, quanto à natureza da EIRELI, o enunciado 469 da V JDC estabelece: a EIRELI não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado.
 Finalmente, o que se entende por EIRELI simples?
Trata-se de figura objeto de discussão na doutrina (a favor João Glicere, Alexandre Gialluca; contra Frederico Pinheiro). A EIRELI simples seria constituída para o desempenho de uma atividade não empresarial compatível com a atividade desempenhada pelas sociedades simples. 
Ex.: EIRELI constituída por um médico para o exercício da sua profissão.
 
A receita federal tem admitido o fornecimento do CNPJ e os cartórios de registro de pessoas jurídicas tem efetivado o registro.
OBS.: conforme deverá ser visto em aulas de Direito Tributário, a EIRELI simples ainda traz interpretação duvidosa acerca do art. 150 do Regulamento do Imposto de Renda. Em nosso sentir, deve ser tributada como pessoa jurídica, pois assim o legislador considera a EIRELI. Mas a matéria ainda é objeto de discussão. Por fim, já há quem defenda, inclusive, a possibilidade de se constituir uma EIRELI de advogado (Profº. Igor Santiago, texto publicado no CONJUR, 16/10/2013). Mas é matéria, ainda, em meio à dinâmica de profundas discussões.
BEM DE FAMÍLIA
1- HISTÓRICO: o referencial histórico mais importante do bem de família é uma lei texana de 1839 (homestead act), que consagrou a impenhorabilidade da pequena propriedade como forma de incentivar a economia local (ver “Bem de Família” de Álvaro Villaça Azevedo).
2- O BEM DE FAMÍLIA E O DIREITO BRASILEIRO: nosso sistema jurídico contempla duas espécies de bem de família:
 Bem de família VOLUNTÁRIO (artigos 1711 e seguintes)
 Bem de família LEGAL (Lei 8009/90) 
Bem de família VOLUNTÁRIO
Conceito: o bem de família voluntário, na forma dos artigos 1711 e seguintes do Código Civil, é aquele instituído por ato de vontade, por escritura pública ou testamento, mediante registro no cartório de imóveis (art. 167, I, 1, LRP). O bem de família voluntário, portanto, depende da autonomia da vontade de seus instituidores.
Uma vez instituído o bem de família voluntário, dois efeitos são gerados:
1º - a impenhorabilidade do bem por dívidas futuras (art. 1715)
2º - a inalienabilidade do referido bem (art. 1717)
Trata-se de efeitos relativos, uma vez que, na forma dos referidos artigos comportam exceções.
Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.
Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.
O artigo 1711 do Código Civil estabelece que o bem de família voluntário não poderá ultrapassar o limite de valor correspondente a 1/3 do patrimônio líquido dos seus instituidores, ao tempo da sua criação. 
Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.
OBS.: o artigo 1712 do Código Civil permite que, ao se instituir o bem de família voluntário,sejam afetadas ou vinculadas a ele valores mobiliários (ações ou capital investido, por exemplo), cuja renda seja aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
OBS.: diferente é a hipótese em que o casal ou a entidade familiar aluga o seu imóvel residencial para viver da renda gerada pela locação. Em tal caso, independentemente do bem de família voluntário, o STJ tem decidido no sentido de que a renda gerada pela locação é impenhorável.
QUESTÃO: se uma família aluga o único imóvel, que foi eleito bem de família, muda-se para a casa de um parente e passa a viver do aluguel, este aluguel também será considerado impenhorável?
Segundo o STJ, sim.
Ainda sobre o bem de família voluntário, destacamos os seguintes artigos: 
Art. 1720 (administração do bem de família voluntário);
Arts. 1721 e 1722 (extinção do bem de família voluntário).
Em verdade, lembra-nos Silvio Rodrigues, que o bem de família voluntário “não alcançou maior sucesso entre nós”, idéia esta também difundida por Álvaro Villaça que critica o regramento do bem de família voluntário, afirmando que o Estado não poderia delegar ao particular a proteção jurídica da sua moradia.
Na mesma linha, invocando o talento de Luiz Edson Fachin, com amparo em sua obra “o estatuto jurídico do patrimônio mínimo”, devemos concluir que a proteção do bem de família deriva de interesse público superior, inclusive social, na perspectiva da eficácia horizontal dos direitos fundamentais e do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
Bem de Família LEGAL
A Lei 8009/90, consagraria uma outra espécie de bem de família, muito mais funcional e harmonizada com os valores constitucionais que se pretende preservar.
Vale dizer, o artigo 1º da Lei 8009/90 consagra a impenhorabilidade do imóvel residencial, independentemente do seu valor (Ag. Rg. no AResp 264/431 SE), bem como independentemente de testamento, escritura de instituição e registro em cartório.
Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. 
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.
Vale lembrar que, nos termos do artigo 5º, §único, Lei 8009/90, havendo dois ou mais imóveis utilizados como residência, a proteção automática do bem de família legal recairá no de menor valor, salvo se o outro houver sido instituído como bem de família voluntário.
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.
QUESTÃO: No caso de uma pessoa que resida em dois imóveis, um de maior valor e outro de menor valor, a proteção automática da impenhorabilidade recairá sobre qual bem?
Recairá sobre o imóvel de menor valor, salvo se o sujeito tiver instituído o bem da maior valor como bem de família voluntário (respeitado o limite de 1/3 do patrimônio líquido).
QUESTÃO: O que se entende por desmembramento do imóvel, para efeito de penhora, no âmbito do bem de família?
Em determinadas situações, justificadas, especialmente para se evitar o abuso de direito, o STJ tem admitido o desmembramento de parte do imóvel para efeito de penhora (REsp. 207.693 SC, REsp. 515.122 RS).
Outro aspecto digno de nota é a Súmula 205 do STJ, no sentido de que a Lei 8009/90 aplica-se a penhoras realizadas antes da sua vigência (não existe retroatividade da lei benéfica civil, apenas penal, por isso a necessidade de uma súmula).
STJ Súmula nº 205 - Bem de Família - Penhora - Vigência da Lei - A Lei nº 8.009-90 aplica-se à penhora realizada antes de sua vigência.
A proteção do bem de família legal abrange, inclusive, os bens móveis que guarnecem a residência (art. 2º da Lei 8009/90), proteção esta que alcança inclusive o locatário.
Art. 2º. Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.
Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.
Na jurisprudência, já houve reconhecimento de que estariam protegidos: a televisão, a geladeira, o ar condicionado, o computador, a antena parabólica e, até mesmo, o teclado musical (REsp. 218.882 SP).
OBS.: no que se refere à vaga de garagem, o STJ editou a súmula 449, no sentido de que se a referida vaga possuir matrícula própria no registro de imóveis, não será alcançado pela proteção do bem de família.
STJ Súmula nº 449 - A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.
EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA LEGAL: 
(comentários ao artigo 3º da Lei 8009/90)
Art. 3º. A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias;
O STJ, interpretando o inciso I, no REsp 644.733 SC, entendeu que a exceção prevista no inciso I não beneficia trabalhadores meramente eventuais, sem vínculo empregatício, como a diarista, o pedreiro ou pintor.
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
III - pelo credor de pensão alimentícia;
*10:30 - 10:47
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
Nos termos do inciso V, e à luz de várias decisões do STJ (Ag. Rg. no Ag. 11.52.734 SP, Ag. Rg no AREsp. 72.620 DF, REsp. 141.3717 PR), não haverá a proteção do bem de família se o processo for movido para a execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido em garantia em virtude de empréstimo contraído em favor da própria família. 
Por outro lado, o mesmo STJ, admite que, em havendo mera indicação à penhora no curso da execução, o devedor poderia, posteriormente, invocar a proteção do bem de família por ser uma garantia irrenunciável (REsp. 875.687 RS, REsp. 981.532 RJ).
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
O STF, interpretando o inciso VII, do artigo 3º, da Lei 8009/90, já reconheceu, inclusive, a repercussão geral da constitucionalidade da penhora do bem de família do fiador na locação (RE 612.360). Finalmente, vale lembrar que com base no direito constitucional à moradia, na perspectiva do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, é firme o entendimento no sentido de que a proteção do bem de família, alcança, inclusive, a pessoa que vive só (REsp. 450.989 RJ e Súmula 364 STJ).
STJ Súmula nº 364 - O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
FATO JURÍDICOConceito: fato jurídico, em sentido amplo, é todo acontecimento natural ou humano, apto a criar, modificar ou extinguir efeitos e relações jurídicas.
Segundo Agostinho Alvin, trata-se de todo acontecimento relevante para o Direito.
A doutrina não é uniforme quanto à classificação do fato jurídico, a qual, no nosso sentir, especialmente inspirada em Orlando Gomes, deve ser assim apresentada:
1 – CLASSIFICAÇÃO
a) FATO JURÍDICO Ordinário
 (em sentido estrito) Extraordinário
b) ATO-FATO Negócio Jurídico
c) AÇÕES HUMANAS Lícitas Ato Jurídico
 Ilícitas Ato Ilícito
a) FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO: é todo acontecimento natural que deflagra efeitos na órbita do Direito, podendo ser ordinário ou comum (como uma chuva, decurso do tempo) ou extraordinário (como uma geada em Salvador).
A natureza do “tempo”: é um fato jurídico em sentido estrito natural e comum. Gera efeitos na órbita jurídica: decurso de prazos.
O Fato Jurídico em sentido estrito não é dotado de plano de validade, pois não se discute validade sobre, por exemplo, chuva.
(MP): ainda falando sobre o tempo, se, em sentido dinâmico, trata-se de um fato jurídico em sentido estrito, em sentido estático, não podemos negar que o tempo é um bem jurídico valioso cuja usurpação pode gerar responsabilidade civil.
Ver Marcos Dessaune em Desvio Produtivo do Consumidor – Ed. RT. 
c) AÇÃO HUMANA LÍCITA: é o denominado ato jurídico, com inspiração no tradicional pensamento do Direito Civil brasileiro, que remonta o próprio Código de Beviláqua. A despeito de existirem autores que inserem o ato ilícito como espécie de ato jurídico (ver referências em Venosa), assim não pensamos. O ato ilícito é categoria autônoma (Tartuce, Simão, Ráo, Zeno Veloso), conclusão a que chegamos pela simples leitura do CC que coloca o ato ilícito em título separado.
O estudo do ato ilícito assim como do abuso de direito, será objeto das aulas de responsabilidade civil. No estudo do ato ilícito, interessante questão é saber se o ato inválido (nulo ou anulável) é ilícito. Entendemos que não, por se tratar de categorias próprias, inclusive, por não dispormos de um artigo semelhante ao 1156 do Código Civil da Argentina.
ATO JURÍDICO: é toda ação humana lícita que deflagra efeitos na orbita do Direito, e este ato jurídico subdivide-se em ato jurídico em sentido estrito e Negócio Jurídico
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO: objeto de estudo de certo autores como Santoro Passarelli (na Itália), Marcus Bernardes de Mello e José Abreu (no Brasil), é todo comportamento humano voluntário e consciente que determina a produção de efeitos legalmente previstos. Vale dizer, no ato em sentido estrito, não há conteúdo negocial, na medida em que a autonomia da vontade não é suficiente para a escolha dos efeitos jurídicos deflegrados.
São exemplos: os atos materiais (a percepção de um fruto, o achado de coisa abandonada, o reconhecimento de um filho) e as participações (como a notificação ou o protesto).
Em suma, o ato jurídico em sentido estrito é desprovido de liberdade de escolha do efeito jurídico que ele produz.
OBS.: no Código Civil brasileiro, o ato jurídico em sentido estrito é referido e tratado no artigo 185, que manda que lhes sejam aplicadas, no que couberem, as normas reguladoras do Negócio Jurídico. 
Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Titulo anterior.
b) ATO-FATO: é uma categoria, desenvolvida pelo gênio de Pontes de Miranda (recomendamos o estudo das obras de Marcos Bernardes de Mello), figura esta que se situa entre o fato em sentido estrito e o ato jurídico.
O ato-fato caracteriza-se por ser um comportamento oriundo do homem, mas desprovido de vontade consciente em sua realização, e que ainda assim deflagra efeitos na órbita do Direito. Por isso, figura entre o fato e o ato.
Um bom exemplo de ato-fato, dado por Jorge Ferreira da Silva, na obra “A boa-fé objetiva e a violação positiva do contrato”, é a compra de um doce por uma criança em tenra idade (absolutamente incapaz).
TEORIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
Como vimos acima, negócio jurídico é espécie de ato jurídico.
Trata-se de uma categoria de suprema importância, fruto do labor da doutrina Alemã, e que, diferentemente do CC/16, mereceu expressa referência no CC/02. Aliás, segundo Luiz Edson Facchin (“Dos atos não negociais à superação do trânsito jurídico tradicional a partir de Pontes de Miranda”), o CC/02 a Teoria Dualista, ao consagrar expressamente tanto o ato jurídico em sentido estrito (art. 185) como o negocio jurídico (art. 104 e ss).
Antes de apresentarmos o conceito, é fundamental termos em vista que autonomia privada, base do negocio jurídico, reconstruiu-se na passagem do século XX para o século XXI. Autonomia privada passaria a sofrer a interferência de “elementos de contenção”, a exemplo da função social da boa-fé objetiva , o que levou, a grande professora Judith Martins-Costa a, invocando Luigi Ferri, afirmar que passaríamos a viver a era, não mais da “autonomia privada”, mas sim, da autonomia solidária.
NEGÓCIO JURÍDICO
Conceito: é uma declaração de vontade, emitida segundo os princípios da função social e da boa fé objetiva, pela qual o agente, com base em sua autonomia privada, pretende alcançar determinados efeitos queridos lícitos e juridicamente possíveis. Ainda que em grau mínimo, no âmbito do negócio jurídico, sempre deverá haver uma margem de liberdade em face dos efeitos que se pretende alcançar.
Exemplos de negócio jurídico: o contrato e o testamento.
OBS.: mesmo o Contrato por Adesão, identificado por Raymond Saleilles, em 1901, criticado por Georges Ripert (a regra moral nas obrigações civis), é uma figura negocial porque existe uma margem de autonomia e liberdade mínimas para se aderir ou não ao que foi proposto. No que se refere às teorias explicativas, diversas foram desenvolvidas, a exemplo da Teoria da Pressuposição de Windscheid (estudada na Apostila 04), afigurando-se como as mais importantes as seguintes:
1 – Teoria da Vontade (Willenstheorie);
2 – Teoria da Declaração (Erklarungstheorie).
Para a 1ª teoria, que inspirou, em especial, o artigo 112 CC, o núcleo do negócio seria a vontade interna ou a intenção; já a 2ª teoria, afirmava que o núcleo do negócio seria a vontade externa ou a declaração. Por óbvio, tais teorias, em verdade, se completam, na medida em que tanto a vontade interna como a declarada são indispensáveis para a formação do negócio. 
PLANOS DE ANÁLISE DO NEGÓCIO JURÍDICO: com inspiração no pensamento de Pontes de Miranda e de Antônio Junqueira de Azevedo, podemos apresentar os seguintes planos de análise do negócio jurídico:
Plano de Existência
Negócio Jurídico Plano de Validade
Plano de Eficácia
PLANO DE EXISTÊNCIA: não é aceito uniformemente pela doutrina, nem mereceu tratamento expresso no CC/02, mas, ainda assim, é de grande importância. Trata-se do plano em que são estudados os pressupostos existenciais do negócio. 
Pressupostos existenciais: Vontade;
 Agente;
 Objeto;
 Forma.
A forma, pressuposto existencial do negocio, é o meio pelo qual a vontade se manifesta: forma verbal, forma escrita, forma mímica, LIBRAS etc.
OBS.: excepcionalmente, nos termos do artigo 111 CC, inspirado em sistemas estrangeiros (Portugal, Alemanha, Suiça, Itália), o silêncio pode ser entendido como forma de manifestação da vontade. Não é a regra, mas situação excepcionalmente admitida, a exemplo da hipótese do artigo 539 do CC.
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou ...
PLANO DE VALIDADE: é um plano qualificativo do negócio, ou seja, uma vez existente este plano estuda os pressupostos de validade do negócio, os quais conferirão a ele aptidão para gerar efeitos.
Vontade: livre + boa fé
Agente: capaz + legitimado
Objeto: lícito + possível + determinado (ou, ao menos, determinável)
Forma: livre ou prescritaem lei
OBS.: a par de ser um posicionamento passível de reflexão, autores como Orlando Gomes afirmam que a licitude do objeto compreende também o padrão médio de moralidade, o que poderia dificultar o reconhecimento da validade de negócio jurídico de prestação de serviços sexuais.
OBS.: nos termos do artigo 107 CC, no âmbito do plano de validade, vigora o Princípio da Liberdade da Forma. Ou seja, em regra, para valer, o negócio tem forma livre. 
Sucede que, em determinadas situações, a lei poderá exigir a forma como elemento para prova do próprio negócio em juízo (art. 227 CC) 
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DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO (plano da validade)
1- ERRO:
Conceito: a doutrina costuma estabelecer uma diferença teórica entre erro (uma falsa percepção da realidade) e ignorância (o desconhecimento a respeito das circunstâncias do negócio). Não se trata de uma distinção com utilidade prática. Com isso, temos que o erro (ou ignorância), regulado a partir do artigo 138 do Código Civil, é causa de anulabilidade do negócio jurídico.
Tradicionalmente, a doutrina clássica costuma apontar 2 requisitos para que o erro seja invalidante: ele deverá ser escusável (perdoável) e essencial (substancial) – na jurisprudência, ver REsp. 74.4311 MT.
ESCUSÁVEL: ser escusável significa que uma pessoa de diligência normal, no lugar do declarante, cometeria o mesmo erro;
ESSENCIAL: significa que o erro ataca a própria essência ou substância do negócio.
OBS.: à luz do Princípio da Confiança, a doutrina mais moderna tem sustentado a desnecessidade da escusabilidade do erro, conforme podemos ver no Enunciado 12 da I JDC.
12 – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.
Existe polêmica no que se refere à exigência da cognoscibilidade para configuração do erro. Alguns autores entendem que é necessário o conhecimento do vício pela outra parte. Todavia, assim não pensamos, na medida em que se a outra parte tem esta ciência nós ingressamos nos domínios do dolo.
ESPÉCIES DE ERRO
Com base no pensamento de Roberto de Ruggiero, fundamentalmente temos 3 espécies de erro de fato (art. 139 CC):
 Objeto
Erro sobre Pessoa 
 Negócio 
Erro sobre o OBJETO: incide sobre as suas características ou elementos de identificação.
 Ex.: quero comprar o relógio de ouro, e compro o de cobre.
Erro sobre o NEGÓCIO: incide na própria categorização jurídica da declaração de vontade manifestada. 
Ex.: imagino haver celebrado uma doação, mas pactuei um comodato. 
Erro sobre a PESSOA: incide nas características pessoais ou identidade da outra parte. 
Ex.: sujeito que doa um carro a Caio, imaginando ser ele o salvador do seu filho, quando, em verdade, o herói foi Tício. 
OBS.: o erro sobre pessoa tem especial aplicação no Direito de Família, uma vez que pode ser causa de anulação do casamento (arts. 1556 e 1557).
Vale acrescentar ainda, que, diferentemente do CC/16, o CC/02, em seu artigo 139, III, na linha de autores como Eduardo Espínola, Carvalho Santos e Caio Mário, admitiu o erro de direito. Categoria que não agradava Clóvis Beviláqua. 
Erro de DIREITO: trata-se de uma modalidade de erro que incide na ilicitude do próprio fato, ou seja, na perspectiva da boa fé, sem traduzir intencional recusa à aplicação da lei, este erro incide no próprio âmbito interpretativo da norma.
No âmbito do Negócio Jurídico, imagine-se uma empresa importadora que celebrou o negócio incorrendo, de boa fé, em um erro interpretativo da norma jurídica.
OBS.: nas aulas de teoria do contrato, deverá ser vista a diferença entre erro e vício redibitório.
QUESTÃO: O que é erro impróprio?
Segundo a professora Ana Magalhães, o erro impróprio ou erro obstáculo, ocorre quando a vontade é perfeita, mas é mal manifestada. Ou seja, opera-se quando se diz algo distinto do que se queria dizer, obstando a formação do negócio. O Direito brasileiro não cuida desta distinção, tratando o tema, simplesmente, como erro.
QUESTÃO: O que é erro acidental?
Segundo Tartuce e Simão, o erro acidental não invalida o negócio na medida em que não há a configuração de um efetivo prejuízo (artigo 142 CC). Em verdade, o erro acidental não se configura tecnicamente como um defeito da vontade.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
2 – DOLO:
Conceito: o dolo, causa de anulação do Negócio Jurídico, consiste em um artifício malicioso (má-fé) que induz uma das partes a celebrar um negócio jurídico prejudicial. Em essência, trata-se de um erro provocado. 
Para que o dolo invalide o Negócio Jurídico, nos termos do artigo 145 CC, ele deverá ser um DOLO PRINCIPAL, ou seja, atacar a própria causa do negócio.
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
Por outro lado, se disser respeito a características secundárias do negócio, não o invalidará, gerando apenas a obrigação de pagar perdas e danos. Caracterizando-se como DOLO ACIDENTAL (art. 146 CC). 
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
OBS.: a antiga doutrina, inspirada no Direito Romano, para caracterizar o dolo (que vicia o ato) utilizava a expressão dolus malus o qual não se confundia com dolus bonus, socialmente aceito. Ainda nos dias de hoje, admite-se como dolus bônus, técnicas de publicidade e propaganda que, sem alterar a verdade, induzindo o consumidor ao erro, realçam as características do produto.
QUESTÃO: As mensagens subliminares, nesse contexto, são juridicamente admitidas?
MENSAGEM SUBLIMINAR: segundo Henrique Pinheiro (Mensagem Subliminar na Teoria do Negócio Jurídico), trata-se de um estímulo enviado de forma dissimulada, abaixo do limite da percepção consciente, apto a influenciar o comportamento do seu destinatário.
Em nosso sentir, a mensagem subliminar que induz o agente a um comportamento prejudicial, especialmente o consumidor, é prática vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro, podendo inclusive desafiar a atuação do MP em sede de tutela coletiva.
Segundo o Professor Pinheiro, não há enquadramento da mensagem subliminar em nenhum dos defeitos previstos pelo CC. Assim não pensamos, a mensagem subliminar ao caracterizar uma espúria captação intencional da vontade poderá caracterizar dolo no negócio jurídico eventualmente celebrado.
Ainda sobre o dolo, vale acrescentar ainda que o artigo 147 CC, trata do denominado DOLO NEGATIVO, aquele derivado do silencia intencional, em violação à cláusula geral da boa-fé objetiva e do dever de informar.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Merece referencia ainda o chamado DOLO BILATERAL, previsto no artigo 150 (em tal caso, as duas partes agem com dolo, de maneira que, segundo a norma, fica tudo como está).
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.
QUESTÃO: Qual é o tratamento jurídico do DOLO DE TERCEIRO?
O dolo de terceiro está previsto no artigo 148 do Código Civil. Em síntese, o negócio jurídico somente é anulado por dolo de terceiro, se o beneficiário soubesse ou tivesse como saber; em caso contrário, o negócio poderá ser mantido, respondendo apenas o terceiro pela indenização devida.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
3 – COAÇÃO:
A coação de que vamos tratar aquié a psicológica ou moral (vis compulsiva do Direito Romano), na medida em que, em nosso sentir, a coação física (vis absoluta), mais do que uma causa de invalidade, resultaria na inexistência do negócio.
Nesse sentido, conceituamos a coação (moral) como uma violência psicológica capaz de influenciar a vítima a realizar um negócio jurídico prejudicial (art. 151 CC):
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Vale acrescentar, ainda, que ao apreciar a coação, não se utiliza a figura abstrata do homem médio, uma vez que toda coação deve ser aferida de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
OBS.: nos termos do artigo 153, não caracterizam coação o exercício regular de um direito e o simples temor reverencial (respeito a uma autoridade – familiar, eclesiástica, profissional). 
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.
QUESTÃO: Qual é o tratamento jurídico da intervenção de terceiro?
A matéria é tratada pelos artigos 154 e 155 CC. O regramento é muito semelhante ao dolo de terceiro. Com uma sutil diferença. No caso da coação de terceiro, o negócio jurídico será anulado se o beneficiário soubesse ou tivesse como saber da coação, caso em que responderá solidariamente como coator pelas perdas e danos. Esta previsão de solidariedade no pagamento da indenização não consta na norma reguladora do dolo de terceiro.
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 
4 – DO ESTADO DE PERIGO:
Conceito: o estado de perigo, causa de anulação do Negócio Jurídico (artigo 156), configura-se quando o agente, diante de uma situação de perigo de dano conhecido pela outra parte, assume uma obrigação excessivamente onerosa. 
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. 
Nada tem a ver com a coação, pois não há uma ameaça, mas sim, uma grave situação de perigo de dano (à vida, à saúde, à integridade psicológica etc.) conhecido pela outra parte.
Segundo o STJ, no REsp 918.392 RN, a outra parte age com dolo de aproveitamento.
A exigência de cheque caução e de garantias contratuais como condição para o atendimento emergencial, em tese, poderá caracterizar o estado de perigo. Ao longo dos anos, a jurisprudência veio amadurecendo esta idéia (Apelação 833.355-7, do então tribunal de alçada de SP, Apelação Cível 7002.441.2397 TJ/RS e REsp. 918.392 RN), valendo acrescentar ainda que a própria AMS editou a Resolução Normativa 44/03, a qual, observadas as suas condições em casos de cobrança de cheque caução ou garantia correspondente, determina a realização de um ato de representação perante o MPF.
Finalmente, a Lei 12.653 de 28 de maio de 2012 alterou o Código Penal para, em seu artigo 135-A criminalizar a exigência de cheque caução ou outro ato congênere, como condição para atendimento emergencial. 
5 - LESÃO: 
A lesão contém a básica idéia de desproporção entre as prestações de determinado negocio jurídico.
O direito Romano já conhecia o tema, diferenciando a lesão enorme da lesão “enormíssima”.
O Direito brasileiro, em um primeiro momento, regulou a lesão no âmbito criminal (Lei de Economia Popular/1951), para, anos mais tarde, regular a lesão no CPC (art. 6º, V; 39, V e 51, IV). E posteriormente no próprio Código Civil (art. 157).
Vale lembrar, que o CC/16 não cuidava da lesão.
Conceito: a lesão, causa de invalidade do negócio jurídico, consiste na desproporção entre as prestações do negócio, em virtude do abuso, da necessidade ou da inexperiência de uma das partes. 
Nesse contexto, já podemos perceber que a lesão encontra fértil terreno nos contratos por adesão.
OBS.: no que toca aos juros bancários, caso a taxa aplicada supere manifestamente a taxa média de mercado, em tese, poderá haver lesão, na perspectiva do Princípio da Função Social. Vale lembrar, ainda, que a lesão não se confunde com o Estado de Perigo, na medida em que este último é mais especifico e emergencial, em face de um perigo de dano (à vida, à saúde, ou outro direito da personalidade).
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, - REQUISITO FORMAL - se obriga a prestação manifestamente desproporcional – REQUISITO MATERIAL - ao valor da prestação oposta.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. Não existe critério matemático para configuração de lesão. O critério aqui é aberto ao juiz.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
No CC, como dito, a lesão está regulada no artigo 157, de cuja leitura podemos extrair 2 requisitos:
Requisito MATERIAL: a desproporção entre as prestações do negócio;
Requisito FORMAL: necessidade ou inexperiência de uma das partes.
O próprio ministro Moreira Alves, responsável pelo anteprojeto da parte geral do CC, anota que a configuração da lesão, no CC, é mais objetiva, na medida em que dispensa a prova do dolo de aproveitamento (também no Direito do Consumidor, a configuração da lesão dispensa a prova do dolo de aproveitamento).
Atenção! É importante registrar que, no CC, a lesão é causa de ANULABILIDADE do negócio jurídico; já no CDC, a lesão é causa de nulidade absoluta.
Grande parte da doutrina entende que a lesão é típica de contratos comutativos (com prestações certas e determinadas, a exemplo da compra e venda).
Finalmente, vale lembrar que a lesão, causa de invalidade do negócio jurídico, “nasce” com o próprio negócio, diferentemente da teoria da imprevisão, que pressupõe um negócio que “nasce” válido, desequilibrando-se depois, em virtude de acontecimento superveniente. Ademais, a teoria da imprevisão não conduz à invalidade do negócio, mas sim, à sua revisão ou resolução. 
6 – SIMULAÇÃO:
Conceito: Segundo Clóvis Beviláqua, a simulação é uma declaração enganosa de vontade que visa a produzir efeito diverso do ostensivamente indicado. Vale dizer, a simulação ocorre quando as partes celebram um negócio jurídico que tenha aparência normal, mas que, em verdade, não pretende atingir o efeito que juridicamente deveria produzir.
Não se confunde com o dolo, uma vez que neste uma parte engana a outra; já na simulação, as partes se unem para celebrar o negocio simulado em prejuízo de um terceiro ou da própria sociedade.
Vale anotar, ainda, a existência de 2 tipos de simulação:
Simulação ABSOLUTA
Simulação RELATIVA (ou dissimulação)
Antes de conceituarmos cada uma, é importante frisar que ambas conduzem à invalidade do Negócio Jurídico (NULIDADE ABSOLUTA, segundo o CC/02).
Não é demais em repetir: ate a entrada em vigor do CC/02, vigorava o regramento do Código velho, segundo o qual a simulação seria causa de mera anulabilidade do negócio jurídico.
Simulação ABSOLUTA: as partes celebram um negocio jurídico aparentemente normal, mas que não visa a produzir efeito jurídico algum.
Simulação RELATIVA: as partes celebram um negocio jurídico destinado a encobrir outro negócio jurídico de efeitos

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