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ACP com pedido de Tutela Antecipada - Depósito Irregular de Lixo

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EXMO(A) SR(A) DR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA COMARCA DE RIO MARIA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, através de seu representante legal que adiante assina, com fundamento no art. 225 da Constituição Federal, 3º e art. 14, § 1º da Lei nº 6.938 de 31.08.85, artigo 1º, I, 3º e 5º da Lei nº 7.347 de 24.07.85, e demais disposições da lei adjetiva civil, vem, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE, com PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, cumulado com obrigação de fazer e indenizar os danos causados, contra MUNICÍPIO DE RIO MARIA, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ 04.144.176/0001-78 com sede administrativa na Avenida Rio Maria nº660, bairro Centro, devidamente representado por seu prefeito municipal JOSÉ VALTER DA SILVA, com base nos seguintes fundamentos fáticos e jurídicos:
 I - DOS FATOS
Através do procedimento administrativo preliminar nº06/MP/PJRM, cuja cópia integral segue em anexo, a Promotoria de Justiça de Rio Maria/Pa constatou que o município de Rio Maria/PA, ora requerido, vem, sistematicamente, desobedecendo normas e princípios relativos à proteção ambiental, vem efetuando depósito irregular de lixo em área situada às margens do “Córrego do Hélio”, antigo terreno da empresa MAGINCO, próximo a rodovia estadual PA 150, com as coordenadas 07º 18’ 41,5’’ latitude Sul e 50º 03’ 47,0’’ longitude Oeste de Greenwich no município de Rio Maria/PA.
Por requisição do Ministério Público Estadual, foi elaborado laudo pericial realizado pelo Centro de Perícias Científicas “RENATO CHAVES” do Estado do Pará no referido local onde foi constatado que houve:
 “ocorrência de dano ambiental, tais como: contaminação da área devido à presença de resíduos sólidos variados despejados a céu aberto, inclusive com a presença de resíduos de serviço de saúde (infectante) sem qualquer tratamento adequado; contaminação dos leitos de água superficiais adjacentes pelo próprio lixo ali despejados, como, pelos resíduos líquidos originados da maneira orgânica presente (chorume), perda parcial da flora local devido aos resíduos sólidos depositados no local e pela freqüência de veículos de médio e grande porte que transitam na área despejando os resíduos. As informações podem ser confirmadas com as descrições supracitadas nos itens “5 – DOS EXAMES TÉCNICOS” e “6 – RESPOSTAS AOS QUESITOS SOLICITADOS”, deste laudo”.
Constatou-se ainda, que neste depósito existem diversos tipos de resíduos sólidos, inclusive lixo hospitalar, para o qual deveria ser destinada área isolada, salientando-se que a descarga de quaisquer resíduos sólidos portadores de agentes patogênicos, isto é, os materiais provenientes de estabelecimentos hospitalares e congêneres estão sujeitos a tratamento específico, nos termos da legislação vigente.
Ainda é importante asseverar que o tratamento inadequado dispensado para o lixo hospitalar sujeita o agente à responsabilização inclusive no âmbito criminal.
Neste sentido, veja-se a seguinte ementa: 
“CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA DETERMINADA PELA CF/88, EM SEU ART. 225, § 3º. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA. LIXO HOSPITALAR. Armazenamento de substâncias tóxicas, perigosas e nocivas à saúde humana e ao meio ambiente, em desacordo com as exigências legais. Delito previsto no art. 56, caput, da Lei nº 9.605/98 configurado. Resíduos de serviços de saúde deixados em contato com o solo, queimando em local freqüentado por pessoas e animais, em desacordo com a legislação, gerando gases poluentes. Incidência do art. 54, § 2º, inciso V do mesmo diploma legal. Condenação mantida. Apelo improvido. Unânime. (Apelação-Crime nº 70015164676, 4ª Câmara Criminal do TJRS, Rel. Aristides Pedroso de Albuquerque Neto. j. 08.06.2006). (grifo nosso).
Ainda de acordo com os peritos:
 “foi observado na referida localidade que a mesma está sendo utilizada como destino final dos resíduos sólidos, indevidamente e sem qualquer preocupação com o bem estar da população residente na localidade, pois, os lançamentos dos resíduos estão ocorrendo a céu aberto e sem nenhum planejamento, e o que é mais grave, a presença de resíduos de serviço de saúde (infectante) despejado no local, sem nenhum tratamento adequado, expondo a riscos biológicos as pessoas e trabalhadores (garis e catadores) que tiveram contado com os mesmos. Havia no interior da referida área e adjacências uma quantidade significativa de animais de grande e médio porte (bois, vacas e porcos) mortos e em adiantado estado de putrefação, concorrendo com uma parcela considerável para a contaminação da área em questão, bem como, para o leito de água superficial e subterrâneo às proximidades (Fotos 12,15 e 16). Foi verificado também, a presença de seres humanos (adultos e crianças) no interior do ambiente dos despejos, expostos as doenças relacionada (sic) como lixo, tais como: diarréias infecciosas, amebíase, salmoneloses, helmintoses (ascaridíases), teníases, difteria, peste bubônica, leptospirose, tifo murino, etc, além da presença de animais, como: cães e urubus, servindo como vetores secundários na transmissão de doenças (Fotos 17 e 18). Havia focos de resíduos sólidos diversos (domiciliar, comercial limpeza pública), além, de resíduos de serviço de saúde, todos carbonizados (queimados) em áreas espalhadas no interior do ambiente do depósito de lixo a céu aberto periciado (Fotos 19 e 20)”.
Assim, a irregular descarga de lixo, pelo requerido, a céu aberto, sem as necessárias medidas de proteção, causa grande desconforto, além de acarretar inúmeros malefícios à saúde dos moradores da região, em conseqüência do mau cheiro e da proliferação de roedores, vetores e outros insetos.
Além disso, é oportuno ressaltar que o requerido não conta com um programa de reciclagem de lixo, o que diminuiria em muito a quantidade de resíduos depositados no lixão, aumentando sua vida útil. Estima-se que mais de 40% (quarenta por cento) do lixo doméstico é constituído por materiais recicláveis, dentre garrafas, papéis e metais plásticos.
Saliente-se ainda que, conforme atestado no item 6.2 do laudo pericial aqui citado, “pela falta de gerenciamento do local de depósito dos resíduos sólidos, não foi apresentado à equipe de peritos nenhuma licença ambiental para destino final do lixo”. 
Por fim, informa-se que mesmo diante destas graves ocorrências, a municipalidade recusou-se em assinar termo de ajustamento de conduta versando sobre as medidas que ora se reivindicam nesta inicial o que demonstra claramente sua intenção de continuar sendo omisso e ineficiente no trato desta relevante questão ambiental. 
DO DIREITO
DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DEFESA DE DIREITOS DIFUSOS. CONFIGURAÇÃO NA HIPOTESE.
A legitimidade do Ministério Público para a propositura da presente ação judicial resta indiscutível, decorrendo do disposto no artigos 225 e art.129, II ambos da Constituição Federal, bem como do artigo 52, I da Lei Complementar Estadual nº057 de 06.07.06. VERIFICAR.
Tais disposições legais conferem ao Ministério Público legitimidade para promover as medidas necessárias para defesa dos interesses meta-individuais nos quais se incluem os interesses difusos, em ralação ao qual o meio-ambiente se mostra como exemplo mais explícito. 
 
Neste diapasão, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. LEGITIMIDADE. A proteção ao meio ambiente do trabalho insere-se nos chamados direitos difusos. Assim, tem o Ministério Público legitimidade ativa para propor ações coletivas visando a defesa de tais direitos(...). 4. Recurso especial não conhecido. (Recurso Especial nº 240343/SP (1999/0108346-0), 4ª Turma do STJ, Rel. Aldir Passarinho Júnior, Rel. p/ Acórdão João Otávio de Noronha. j. 17.03.2009, maioria, DJe 20.04.2009). (grifo nosso)
“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃOCIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. POLUIÇÃO SONORA. INTERESSE DIFUSO. LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. O Ministério Público ostenta legitimidade para propor ação civil pública em defesa do meio ambiente, inclusive, na hipótese de poluição sonora decorrente de excesso de ruídos, com supedâneo nos arts. 1º e 5º da Lei nº 7.347/85 e art. 129, III, da Constituição Federal. Precedentes desta Corte: REsp 791.653/RS, DJ 15.02.2007; REsp 94.307/MS, DJ 06.06.2005; AgRg no REsp 170.958/SP, DJ 30.06.2004; RESP 216.269/MG, DJ 28.08.2000 e REsp 97.684/SP, DJ 03.02.1997, Rel. Min. Ruy Rosado Aguiar. 2. Recurso especial provido. (Recurso Especial nº 858547/MG (2006/0133366-1), 1ª Turma do STJ, Rel. Luiz Fux. j. 12.02.2008, unânime, DJE 04.08.2008). (grifo nosso).
DO DANO AMBIENTAL. CONFIGURAÇÃO NA HIPÓTESE. RESPONSABILIDADE DO PODER PÚBLICO. OBRIGAÇÃO DE FAZER.
O progresso que se opera nas mais diversas regiões do mundo, notadamente com o avanço tecnológico, impõe à sociedade um preço muito grande, em razão de estar ela constantemente exposta a todos os malefícios que advêm com a chamada "sociedade industrializada", seja em virtude da degradação ambiental decorrente de poluição atmosférica, seja da má utilização dos recursos naturais.
Importante mencionar, que os materiais provenientes dessa má utilização dos recursos naturais, consomem vários anos para se desintegrarem, levando-se em conta ainda, aqueles que não se decompõe, a saber:
- papel - 2 a 4 semanas;
- plástico - mais de 50 anos;
- lata - 100 anos;
- alumínio - 200 a 500 anos;
- vidro - tempo indeterminado.
Segundo assevera PAULO AFONSO LEME MACHADO:
"Não podemos estar imbuídos de otimismo inveterado, acreditando que a natureza se arranjará por si mesma, frente a todas as degradações que lhe impomos. De outro lado, não podemos nos abater pelo pessimismo. A luta contra a poluição é perfeitamente exeqüível, não sendo necessário para isso amarrar o progresso da indústria, pois a poluição da miséria é uma de suas piores formas". (in "Direito Ambiental Brasileiro", pág. 296, 3º ed., RT, 1989). (grifo nosso).
Com efeito, o art. 225 da Constituição Federal, em seu inciso IV, estabelece para as obras que causem danos ao ambiente a exigência prévia de elaboração do estudo de impacto ambiental, in verbis:
"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade." (grifo nosso).
A necessidade de proteção ao meio ambiente impeliu o Conselho Nacional de Meio Ambiente em editar a resolução nº 01 de 23 de janeiro de 1986, a qual expressamente determina em seu artigo 1º, inciso IV, in verbis:
"Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
(...)
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente."
Mais adiante, em seu art. 2º, X, a referida norma estabelece:
"Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos a aprovação do órgão estadual competente, e da SEMA em caráter supletivo, o licenciamento, tais como:
(...)
X - aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos." (grifo nosso).
Já a Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, a qual foi recepcionada pela CF/88, dispõe em seu artigo 3º e incisos, in verbis:
"Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas:
II - Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente;
III - Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões estabelecidos."
Desse modo, à luz das provas colhidas no procedimento preparatório administrativo em epígrafe, restou devidamente configurado a irregular e inconseqüente ação do requerido em causar deplorável dano à ecologia. O meio ambiente é um patrimônio a ser necessariamente assegurado e protegido, e toda a sociedade é prejudicada pela supressão dos recursos ambientais. 
Assim, diante do que dispõem as normas constitucionais, infra constitucionais e administrativas, conclui-se que para o regular exercício de atividades relacionadas com a deposição de lixo, como um aterro sanitário, faz-se imprescindível o prévio licenciamento do órgão estadual competente do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente).
 Logo, não há dúvida de que as atividades relacionadas com a deposição do lixo urbano, seja através de "lixão a céu aberto" (caso dos autos), seja através de aterro sanitário, correspondem a atividades efetiva ou potencialmente poluidoras do meio ambiente.
Vale ressaltar que nos termos do art. 14, parágrafo 1º, c/c o art. 4º, VII da Lei 6.938/81 e do art.225, §3º da CF/88, a responsabilidade por danos ao meio ambiente é objetiva não se perquirindo acerca da presença ou não de procedimentos dolosos ou culposos contra o agente causador do dano.
Neste sentido nossa jurisprudência:
“(...)3. A Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecida pela Lei nº 6.931/81, adotou a responsabilidade objetiva ambiental, tendo a Constituição de 1988, no art. 225, § 3º, considerado imprescindível a obrigação de reparação dos danos causados ao meio ambiente. A responsabilidade objetiva ambiental significa que quem danificar o ambiente tem o dever jurídico de repará-lo: "Presente, pois, o binômio dano/reparação. Não se pergunta a razão da degradação para que haja o dever de indenizar e/ou reparar." (Paulo Affonso Leme Machado, in Direito Ambiental Brasileiro, 15ª edição, Editora Malheiros, São Paulo, 2007, pág. 735) (...)”7. Apelação do réu improvida. (Apelação Cível nº 2003.01.00.011574-1/BA, 5ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Selene Maria de Almeida. j. 11.02.2008, unânime, DJU 29.02.2008, p. 216). (grifo nosso).
“(...) 3 - A responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente, porque objetiva, independe da existência de culpa (Lei 6.938/81, art. 14, parágrafo 1º, c/c o art. 4º, VII). Aquele que cria o risco deve reparar os danos advindos de seu empreendimento. Basta, assim, a prova do dano, da ação ou omissão do causador e a relação de causalidade para surgir a obrigação de indenizar. (...)” 5 - Recursos não providos. (Processo nº 2007.01.1.026030-3 (368136), 6ª Turma Cível do TJDFT, Rel. Jair Soares. unânime, DJe 05.08.2009). (grifo nosso).
Portanto, no presente caso é objetiva a responsabilidade pelo dano ambiental provocado pelo réu, sendo desnecessárias quaisquer considerações acerca do caráter culposo da conduta do mesmo.
DA TUTELA INIBITÓRIA POSITIVA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. FUNDAMENTO. PROVA DE ATO ILÍCITO. CONFIGURAÇÃO NA HIPÓTESE. ART.84 DO CDC. 
Os fatos aqui narrados, com base nas provas anexadas à exordial, demonstram claramente que o réu infringe gravemente o meio ambiente ao proceder à coleta de lixo composto pelas mais diversas espécies de resíduos sólidos e os despejando em local exposto a céu aberto em total afronta aos procedimentos técnicos necessários pararegularização de tal atividade, inclusive, ausência de licenciamento ambiental, o que reclama imediata providência jurisdicional. Senão vejamos.
Segundo entendimento dominante, a tutela jurisdicional reclamada em tais situações é a chamada tutela inibitória.
De acordo com o professor LUIZ GUILHERME MARINONI:
“A tutela inibitória é essencialmente preventiva, pois é sempre voltada para o futuro, destinando-se a impedir a prática de um ilícito, sua repetição ou continuação” (in “Manual do Processo de Conhecimento”, ed. RT, 3ª edição, pág.485). 
Ainda segundo este mesmo autor:
 “A tutela inibitória não tem o dano entre seus pressupostos. O seu alvo, como já foi dito, é o ilícito. É preciso deixar claro que o dano é uma conseqüência meramente eventual do ato contrário ao direito. O dano é requisito indispensável para a configuração da obrigação ressarcitória, mas não para a constituição do ilícito”. (ob.cit. pág.485). (grifo nosso).
Transpondo estas preciosas lições para o caso aqui narrado o que se verifica é que o município de Rio Maria/PA, ora demandado, no exercício da coleta e despejo de lixo, flagrantemente, vem violando as normas ambientais que regulamentam tal atividade, conforme trabalho pericial levado a cabo pelos peritos do Centro de Perícias Científicas “RENATO CHAVES” do Estado do Pará externadas no citado laudo pericial integrante do procedimento administrativo preliminar acostado à inicial.
Lembramos a V.Exa, com espeque no referido autor, que, ainda que não houvesse ocorrido dano no caso aqui tratado (o que desde logo se rechaça à luz dos elementos probatórios colhidos), tal circunstância constituir-se-ia numa mera eventualidade, vez que, não há necessidade de sua verificação in concreto para concessão de tutela inibitória.
Ainda dentro da caracterização da tutela inibitória, é curial ressaltar que não se inclui entre os seus elementos a necessidade de se demonstrar culpa ou dolo para seu deferimento.
Mais uma vez nos socorremos do magistério de LUIZ GUILHERME MARINONI:
 “Quando se pensa no ilícito olhando-se para o dano, exige-se o elemento subjetivo – culpa ou dolo – para sua própria configuração. O ilícito, se compreendido na perspectiva da responsabilidade civil, não apenas requer a presença do dano, como também exige – ao menos em regra – a presença do elemento subjetivo. Contudo, compreendendo-se o ilícito como ato contrário ao direito, não há para se exigir o elemento subjetivo para sua constituição. Tratando-se de tutela inibitória, forma de tutela jurisdicional que nada tem a ver com o dano, mas apenas com a probabilidade da prática de um ilícito, não há razão para se pensar em culpa. Note-se que a culpa é critério para a imputação da sanção pelo dano, sendo totalmente descartável quando se pensa em impedir a prática, a continuação ou a repetição de ato contrário ao direito. Se alguém está na iminência de praticar um ilícito cabe a ação inibitória, ouço importando se a culpa está presente. É correto concluir, assim, que a tutela inibitória não tem entre seus pressupostos o dano e a culpa, limitando-se a exigir a probabilidade da prática de um ilícito, ou de sua repetição ou continuação” (ob.cit. pág.486). (grifo nosso).
O fundamento jurídico-legal da tutela inibitória para proteção de interesses meta-individuais encontra-se no art.84 do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:
“Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1º A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente;§ 2º A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (art. 287, do Código de Processo Civil); § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu; § 4º O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito; § 5º Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial”. (grifo nosso).
Comentando este dispositivo, LUIZ GUILHERME MARINONI ensina:
“O art.84 do CDC tem redação praticamente idêntica à do art.461 do CPC. Essa norma do CDC é aplicável à tutela de todos os interesses difusos e coletivos, e não apenas – como uma interpretação apressada poderia levar a supor – à tutela dos direitos dos consumidores, uma vez que o art.84 do CDC está integrado em um sistema organizado para dar tutela aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (formado pela Lei da Ação Civil Pública e pelo Título III do CDC”. (ob.cit. pág.489). (grifo nosso).
Desse modo não pairam dúvidas a respeito da plena aplicabilidade do art.84 do CDC na matéria aqui exposta.
DA TEORIA DA RESERVA DO POSSÍVEL. IMPOSSIBILIDADE DE SE SOBREPOR AO DIREITO À VIDA DIGNA E AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO. DIREITOS FUNDAMENTAIS QUE NÃO ADMITE CONFRONTAÇÕES. 
É oportuno ainda ressaltar que muitos entes federativos – municípios, estados-membros e a própria União - procuram esquivar-se do fornecimento de serviços públicos eficazes e da realização de obras públicas sob o pretexto da falta de disponibilidade orçamentárias.
Esta argumentação, a qual se convencionou chamar de “Teoria da Reserva do Possível”�, não tem tido mais pleno acolhimento perante nossos Tribunais diante de claras omissões do Poder Público no cumprimento de seus deveres constitucionais.
Neste sentido, nossa jurisprudência:
“EFICÁCIA IMEDIATA. MÍNIMO EXISTENCIAL. RESERVA DO POSSÍVEL. INAPLICABILIDADE. (...)Os direitos fundamentais, consoante a moderna diretriz da interpretação constitucional, são gravados pela eficácia imediata. A Lei Maior, no que diz com os direitos fundamentais, deixa de ser mero repositório de promessas, carta de intenções ou recomendações; houve a conferência de direitos subjetivos ao cidadão e à coletividade, que se vêem amparados juridicamente a obter a sua efetividade, a realização em concreto da prescrição constitucional. 3. Consoante os novos rumos interpretativos, a par de dar-se eficácia imediata aos direitos fundamentais, atribuiu-se ao intérprete a missão de desvendar o grau de eficácia imediata dos direitos fundamentais, porquanto, mesmo que se pretenda dar máxima elasticidade à premissa, nem sempre se estará infenso à uma interpositio legislatoris, o que não ocorre, vale afirmar, na porção do direito que trata do mínimo existencial. 4. A escassez de recursos públicos, em oposição à gama de responsabilidades estatais a serem atendidas, tem servido de justificativa à ausência de concretização do dever-ser normativo, fomentando a edificação do conceito da "reserva do possível". Porém, tal escudo não imuniza o Administrador de adimplir promessas que tais, vinculadas aos direitos fundamentais prestacionais, quanto mais considerando a notória destinação de preciosos recursos públicos para áreas que, embora também inseridas na zona de ação pública, são menos prioritárias e de relevância muito inferior aos valores básicos da sociedade, representados pelos direitos fundamentais. 5. A moderna doutrina, bem como autorizada jurisprudência, retirou força do dogma da intangibilidade do mérito administrativo, deixando ao Judiciário a faculdade de examinar também a motivação, sob o aspecto da razoabilidade, tomando considerável espaço onde imperava a discricionariedade(...)”(Embargos Infringentes na Apelação Cívelnº 15722/RS (199904010149449), 2º Seção do TRF da 4ª Região, Rel. Juiz Valdemar Capeletti, Rel. p/ Acórdão Juiz Luiz Carlos de Castro Lugon. j. 08.11.2004, maioria, DJU 11.05.2005). (grifo nosso).
Desse modo, não socorre mais ao Poder Público, em qualquer de suas esferas, condicionar o cumprimento de suas obrigações legais positivas – mormente aquelas de matriz constitucional - até o limite das suas possibilidades financeiras e orçamentárias, mormente quando se trata de direitos fundamentais como é o direito ao meio ambiente cuja proteção se projeta no direito à vida.
Dando prosseguimento aos nossos argumentos, conclui-se pela impossibilidade de invocação de argumentos financeiros para justificar o não atendimento pelo Município-réu de direitos fundamentais, como aquele referente ao meio ambiente sadio e equilibrado cuja proteção, inquestionavelmente, implica em proteção ao próprio direito à vida, o qual não admite ponderações a fim de relativizar sua importância frente a outras opções político-valorativas porventura abraçadas pelos gestores políticos da ocasião. 
Neste diapasão, veja-se a lição de PAULO GUSTAVO GONET BRANCO:
“Mesmo quando se admite um exercício de ponderação envolvendo a possibilidade de risco para o direito à vida (nos casos em que não há certeza de que a atuação em favor de um interesse importará sacrifício a uma vida), ainda aí, há que ser reconhecido, em favor do direito à vida, um peso em abstrato mais elevado que os demais direitos confrontantes, o que haverá de se refletir no momento de se apurar o resultado da ponderação. Alexy, a esse respeito, anota que o direito à vida sobreleva os demais, em peso mesmo considerado essse direito em abstrato”. (in “Revista de Direito Público”, nº19, JAN-FEV/2008, Ed IOB.pág.123). 
Na hipótese dos autos, no caso do município de Rio Maria/PA, nos termos do citado art.84 e parágrafos do CDC, pleiteamos a concessão de tutela inibitória positiva consistente na determinação judicial para que o réu tome as medidas necessárias para que se proceda à coleta e despejo de lixo dentro das normas sanitário-ambientais sob pena de pagamento de multa diária fixada em R$1.000.00(um mil reais), a contar do inadimplemento.
DA INEXISTÊNCIA DE DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA. PROTEÇAO DO MEIO AMBIENTE. META CONSTITUCIONAL. IMPLANTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS.
O requerido poderia argumentar que a proteção do meio ambiente dependeria da adoção de políticas públicas específicas que devem ser implantadas e implementadas à medida das necessidades e conveniências do programa político traçado pelo gestor municipal.
Nada mais inexato.
Com efeito, a partir da leitura da CF/88, percebe-se que o constituinte estipulou uma série de metas ou objetivos que cumpre ao Poder Público executar vez que assumem o caráter de prioridade dentro da esfera governamental, independentemente do grupo político que esteja no poder.
Tais metas referem-se basicamente à proteção da dignidade humana e dos direitos fundamentais não cabendo, portanto, ao gestor público a opção discricionária de realizá-las ao sabor das conveniências políticas do momento, sob pena de grave violação aos ditames da Carta Magna.
Neste sentido, veja-se o magistério de ANA PAULA DE BARCELLOS:
“Ora, toda e qualquer ação estatal envolve gasto de dinheiro público e os recursos públicos são limitados. Essas são evidências fáticas e não teses jurídicas. A rigor, a simples existência dos órgãos estatais – do Executivo, do Legislativo e do Judiciário – envolve dispêndio permanente, ao menos com a manutenção das instalações físicas e a remuneração dos titulares dos poderes e dos servidores públicos, afora outros custos. As políticas públicas, igualmente, envolvem gastos. Como não há recursos ilimitados, será preciso priorizar e escolher em que o dinheiro público disponível será investido. Essas escolhas, portanto, recebem a influência direta das opções constitucionais acerca dos fins que devem ser perseguidos em caráter prioritário. Ou seja: as escolhas em matéria de gastos públicos não constituem um tema integralmente reservado à deliberação política; ao contrário, o ponto recebe importância incidência de normas jurídicas constitucionais”. (in “Leituras Complementares de Direito Constitucional”, Ed. Jus Podium, 2ª Ed.pág.51, 2007). (grifo nosso).
Dentre estas metas, encontra-se a proteção do meio ambiente cuja relevância para nosso estado de direito pode ser medida pela quantidade de normas e atos integrantes de nosso ordenamento jurídico como decorrência do comando constitucional que determina sua proteção.
Veja-se, à guisa de exemplo, as inúmeras resoluções do CONAMA e os diversos órgãos existentes nas três esferas federativas voltados para fiscalização do meio ambiente. 
Outro exemplo assaz importante é a Lei 9605/98 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas lesivas ao meio ambiente, prevendo, inclusive, a responsabilização criminal de pessoas jurídicas.�
Ressalte-se que não estamos reduzindo/subordinando o político ao jurídico.
É evidente que sempre haverá margem para o administrador público escolher metas coletivas em consonância com seu projeto de governo, em respeito até mesmo ao princípio da vontade popular manifestada no voto e que delegou seu poder para este ou aquele mandatário, mas tal campo de atuação dos eleitos sofre sensível restrição ante as disposições do texto constitucional cuja normatividade, essencialidade e centralidade não poderão ser postas em dúvida�. 
A jurisprudência faz coro a estes argumentos:
“Releva notar que uma Constituição Federal é fruto da vontade política nacional, erigida mediante consulta das expectativas e das possibilidades do que se vai consagrar, por isso cogentes e eficazes suas promessas, sob pena de restarem vãs e frias enquanto letras mortas no papel. Ressoa inconcebível que direitos consagrados em normas menores como Circulares, Portarias, Medidas Provisórias, Leis Ordinárias tenham eficácia imediata e os direitos consagrados constitucionalmente, inspirados nos mais altos valores éticos e morais da nação sejam relegados a segundo plano. Trata-se de direito com normatividade mais do que suficiente, porquanto se define pelo dever, indicando o sujeito passivo, in casu, o Estado (...) 4. A determinação judicial desse dever pelo Estado, não encerra suposta ingerência do judiciário na esfera da administração. Deveras, não há discricionariedade do administrador frente aos direitos consagrados, quiçá constitucionalmente. Nesse campo a atividade é vinculada sem admissão de qualquer exegese que vise afastar a garantia pétrea. 5. Um país cujo preâmbulo constitucional promete a disseminação das desigualdades e a proteção à dignidade humana, alçadas ao mesmo patamar da defesa da Federação e da República, não pode relegar a saúde pública a um plano diverso daquele que o coloca, como uma das mais belas e justas garantias constitucionais. 6. Afastada a tese descabida da discricionariedade, a única dúvida que se poderia suscitar resvalaria na natureza da norma ora sob enfoque, se programática ou definidora de direitos. 7. As meras diretrizes traçadas pelas políticas públicas não são ainda direitos senão promessas de lege ferenda, encartando-se na esfera insindicável pelo Poder Judiciário, qual a da oportunidade de sua implementação. 8. Diversa é a hipótese segundo a qual a Constituição Federal consagra um direito e a norma infraconstitucional o explicita, impondo-se ao judiciário torná-lo realidade, ainda que para isso, resulte obrigação de fazer, com repercussão na esfera orçamentária. 9. Ressoa evidente que toda imposição jurisdicional à Fazenda Pública implica em dispêndio e atuar, sem que isso infrinja a harmonia dos poderes, porquanto no regime democrático e no estado de direito o Estado soberano submete-se à própria justiça que instituiu. Afastada, assim, a ingerência entre os poderes, o judiciário, alegado o malferimento da lei, nada mais fez do que cumpri-la ao determinara realização prática da promessa constitucional. 10. "A questão do lixo é prioritária, porque está em jogo a saúde pública e o meio ambiente." Ademais, "A coleta do lixo e a limpeza dos logradouros públicos são classificados como serviços públicos essenciais e necessários para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado, porque visam a atender as necessidades inadiáveis da comunidade, conforme estabelecem os arts. 10 e 11 da Lei nº 7.783/89. Por tais razões, os serviços públicos desta natureza são regidos pelo PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE." 11. Recurso especial provido. (STJ - RESP 575998/MG - Relator Ministro LUIZ FUX - PRIMEIRA TURMA - j. 07.10.2004 - Data da Publicação/Fonte: DJ 16.11.2004 p. 191) (grifo nosso).
 
DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO. 
Conforme exposto, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o meio ambiente sadio e equilibrado passou a gozar de status de direito inviolável, concernente a todos os cidadãos e dever de proteção pela sociedade civil e política�.
Ainda com berço na Carta Magna, dispôs-se no seu art. 23, VI, que é de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”.
A própria Lei Federal n.º 6938/81, que trata da política nacional do meio ambiente dispõe em seu art.6º, in verbis:
“Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:
(...)
VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições
Diante do exposto, observa-se pela leitura destes dispositivos que o meio ambiente é considerado opção política prioritária, emanando claramente a responsabilidade do Poder Público Municipal em alocar recursos públicos (sejam próprios, sejam de outras esferas governamentais) a fim de se garantir a adoção de medidas preventivas, reparadoras e mantenedoras de um meio ambiente sadio e equilibrado em prol de toda a coletividade que dele se serve para viver.
Neste diapasão, quando se discute o destino do lixo que se produz no Município de Rio Maria/PA está-se a discutir, igualmente, a responsabilidade administrativa do dirigente local; está-se a discutir o destino do dinheiro público, que, via de regra, deve atender ao pressuposto básico do bem-estar social, aí incluída, naturalmente, a existência de aterro sanitário legalizado; está-se a discutir a saúde pública, sendo certo que o lixão é espaço típico para proliferação de doenças, mormente como no caso, quando se trata de depósito que comporta até lixo hospitalar; está-se a discutir a preservação dos mananciais; está-se, a discutir a recuperação e preservação do solo; está-se, ainda, a discutir uma questão social grave: os excluídos que vivem do lixão. Está-se, por fim, a discutir a postura da administração municipal que, teimando para com os princípios da legalidade e da moralidade pública, não destina ao lixo local, espaço próprio e legalizado.
Neste sentido, nossos Tribunais:
“Se a Municipalidade, com sua omissão, contribuiu para a degradação do meio ambiente ao deixar proliferar lixão irregular em área de mananciais, deve suportar a reparação dos prejuízos causados, consistente na realização de obras voltadas à recuperação da área degradada”. Duplo Grau de Jurisdição nº 7065-2 - 1ª Câm. - j. 28.08.2001 - rel. Des. Antônio Nery da Silva. (grifo nosso).
“Diante da ampliação, pela Constituição Federal, das funções institucionais do Ministério Público, a quem incumbe promover a ação civil para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, apresenta-se juridicamente possível o pedido formulado pelo Parquet visando a compelir a administração do município a tomar as medidas cabíveis para implantação de aterro sanitário, localizado em área de preservação permanente”. (autos de agravo de instrumento nº 98.017550-0, da comarca de Urubici, em que é agravante o Município de Urubici, sendo agravado o representante do Ministério Público do Estado de Santa Catarina. fonte: juris plenum, ouro, nº11, Jan 2010) (grifo nosso).
DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE TUTELA INIBITÓRIA ANTECIPADA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. FUNDAMENTOS RELEVANTES. PERIGO DE INEFICÁCIA NA TUTELA DE DIREITOS META-INDIVIDUAIS. CONFIGURAÇÃO NA HIPÓTESE. 
Dispõe o art.84, §3º e §4º do CDC, in verbis:
“Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (...) § 3ºSendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu; § 4º O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito; (grifo nosso).
Na hipótese, vislumbra-se claramente a presença da relevância dos fundamentos (fumus bonus iuris), vez que, nos termos já expostos, há patente violação da legislação constitucional e infraconstitucional a cargo do réu que não se desincumbiu do dever constitucional de tomar as ações necessárias para coleta e despejo do lixo local a fim de se garantir um meio ambiente sadio e equilibrado.
Também cristalina a conclusão de que os preceitos constitucionais acima referidos têm aplicabilidade imediata, no escopo de garantir caráter primordial ao bem jurídico VIDA, consubstanciado pelo direito à SAÚDE que por sua vez possui íntima ligação com um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Logo, privilegiar argumentos orçamentário-financeiros para justificar falta de recursos na tomada de medidas protetivas ao meio ambiente é consagrar o estado burocrático em detrimento do estado de direito, é consagrar normas (regras) jurídico-financeiras em detrimento das normas-princípios, enfim, é dispensar para segundo plano o tratamento constitucional dado ao direito ao meio ambiente erigindo o orçamento como sustentáculo exclusivo das prioridades a serem executadas pelo aparelho estatal. 
Assim, leciona o ilustre e já citado constitucionalista JOSÉ AFONSO DA SILVA:
“A garantia das garantias consiste na eficácia e aplicabilidade imediata das normas constitucionais. Os direitos, liberdades e prerrogativas consubstanciados no Titulo II, caracterizados como direitos fundamentais só cumprem sua finalidade se as normas que os expressem tiverem efetividade. (…) Sua existência só por si, contudo, estabelece uma ordem aos aplicadores da Constituição, no sentido de que o princípio é o da eficácia plena e aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos fundamentais: individuais, coletivos, sociais(…)(ob.cit. pág.403).
Por sua vez, vê-se presente de forma ainda mais clara o justificado receio de ineficácia do provimento final, (periculum in mora), diante da iminência do agravamento dos danos ambientais constatados no laudo pericial citado ao norte em decorrência da omissão sistemática do réu no cumprimento das medidas necessárias para coleta e despejo regular de lixo. 
Veja-se, à guisa de exemplo, o que já decidiu nossos Tribunais:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 00.002631-0. ORIGEM: 014000042327 VILHENA/RO (1ª VARA CÍVEL)
AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA
AGRAVADO: MUNICÍPIO DE VILHENA
AGRAVADA: AGROINDÚSTRIA E CEREALISTA CHUPINGUAIA S/.A.
RELATOR: DESEMBARGADOR EURICO MONTENEGRO
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. LIXO. DANO À SAÚDE PÚBLICA. LIMINAR E TUTELA ANTECIPADA. Existindo perigo de dano à saúde pública deve-sedeferir as medidas requeridas para sanar ou pelo menos diminuir o risco à população. (grifo nosso).
DO PEDIDO:
ANTE O EXPOSTO, requer-se a V.Exa:
I – Considerando a relevância dos fundamentos da demanda (fumus bonus iuris) – situação de ilicitude consistente na sistemática violação de npormas ambientais em decorrência do depósito de lixo em local a céu aberto e do justificado receio de ineficácia do provimento final (periculum in mora)- (fundado receio de danos irreversíveis ao meio ambiente e a saúde pública A CONCESSÃO, SEM JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA, DE TUTELA INIBITÓRIA POSITIVA ANTECIPADA consistente na determinação judicial para implantação e implementação das seguintes medidas ao requerido: 1) Remoção do lixo lá depositado para local adequado no prazo de 90(noventa) dias; 2) )Apresentação, no prazo de 90(noventa) dias, de projeto de restauração das condições primitivas do solo, dos corpos d’agua, eventualmente afetados, e da vegetação, tudo de conformidade com a recomendação técnica, orientada por órgão ambiental competente; 3)Apresentação, no prazo de 90(noventa) dias, de projeto de aterro sanitário ou outro tipo de projeto semelhante a este, com o objetivo de destinar ou depositar os resíduos sólidos urbanos da cidade, definindo, inclusive, uma área, de modo a ser mais apropriada para sua implantação; 4)Que tal projeto seja devidamente licenciado pelo órgão competente (SEMA) e tenha um cronograma de execução cujo prazo não deva ser superior a 06(seis) meses para ser implantado, 5) No caso de descumprimento das medidas aqui requeridas requer a incidência do pagamento de multa diária fixada em R$1.000.00(um mil reais), a contar do inadimplemento a ser revertida nos termos do art.13 da Lei 7347/85;
II - A citação do requerido, na pessoa de seu representante legal, para, querendo, apresentar no prazo legal contestação à presente ação, acompanhando seus termos até final julgamento;
III – No mérito, pela total PROCEDÊNCIA dos pedidos, confirmando-se a tutela antecipada acima requerida, tornando-a definitiva além da condenação do réu ao pagamento do ônus da sucumbência, revertendo tais recursos em favor do Fundo de Reaparelhamento do Ministério Público do Estado do Pará cujo depósito deverá ser realizado no Banco do Estado do Pará (BANPARÁ), agência 026, conta corrente nº 180.170-8. 
Protesta-se por todos os meios admitidos em direito, especialmente pelo depoimento pessoal do representante legal do requerido, o que desde já se requer, sob pena de confesso; prova documental, pericial, testemunhal, etc.
Por se tratar de ação que visa tutelar interesses meta-individuais, dá-se o valor de R$5.000.00(cinco mil reais), para efeitos legais.
Nestes Termos
Pede Deferimento
NEY TAPAJÓS FERREIRA FRANCO
Promotor de Justiça de Rio Maria/Pa – em exercício.
� Em geral o Poder Público alega escassez de recursos para atendimento destas demandas de natureza positiva, nas demandas envolvendo o direito à saúde. Neste sentido, leciona Marcos Masseli Gouvêa: “Diversamente das omissões estatais, as prestações positivas demandam um dispêndio ostensivo de recursos públicos. Ao passo em que estes recursos são finitos, o espectro de interesses que procuram suprir é ilimitado, razão pela qual nem rodos estes interesses poderão ser erigidos à condição de direitos exigíveis. A doutrina denomina reserva do possível fática a este contingenciamento financeiro a que se encontram submetidos os direitos prestacionais. Muitas vezes, os recursos financeiros até existem, porém não há previsão orçamentária que os destine à consecução daquele interesse, ou licitação que legitime a aquisição de determinado insumo: é o que se denomina reserva do possível jurídica” (apud João Agnaldo Donizeti Gandini e outros “A judicialização do direito à saúde: a obtenção de atendimento médico, medicamentos e insumos terapêuticos por via judicial – critérios e experiências” in Revista de Direito Administrativo. nº28. Abril/2008. Ed.IOB. p.21)
� “Art.3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativamente, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”.
� Ana Paula de Barcellos anota: “A definição dos gastos públicos é, por certo, um momento típico da deliberação político-majoritária; salvo que essa deliberação não está livre de alguns condicionantes jurídico-constitucionais. Se a Constituição contém normas nas quais estabeleceu fins públicos majoritários, e se tais disposições são normas jurídicas, dotadas de superioridade hierárquica e de centralidade no sistema, não haveria sentido em concluir que a atividade de definição das políticas públicas – que irá, ou não, realizar esses fins – deve estar totalmente infensa ao controle jurídico. Em suma: não se trata da absorção do político pelo jurídico, mas da limitação do primeiro pelo segundo”. (ob.cit. pág.53) 
� Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
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