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ob je tiv os Meta da aula Apresentar o papel das empresas na coleta e reciclagem dos resíduos por ela gerados no meio ambiente. Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: identificar se as empresas adotam o padrão verde de tratamento de lixo; identificar as estratégias utilizadas pelas empresas com relação à coleta seletiva do lixo e ao seu relacionamento com a comunidade; identificar as vantagens obtidas pelas empresas ao reciclarem seus produtos em desuso; analisar as soluções utilizadas pelas empresas para o problema da reciclagem; analisar a importância do reaproveitamento de resíduos no processo de produção da empresa e no meio ambiente. 1 2 3 Pré-requisito Para melhor compreensão desta aula, releia a Introdução, o tópico “Tecnologia da Informação Verde (Greenit)” e a Conclusão da Aula 4 (A anda verde). A onda cinza 11AULA 4 5 234 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 235 A U LA 1 1 INTRODUÇÃO O mundo não pára de produzir lixo. Os números são assustadores: a cada ano, são produzidos 500 milhões de toneladas de lixo de todos os tipos. É o lixo industrial, doméstico, hospitalar, comercial e o lixo das ruas. Vale lembrar que, em nosso país, 500 mil brasileiros vivem do lixo. São os catadores de lixo e os membros das cooperativas que freqüentam os lixões em busca de materiais que possam ser reaproveitados. Há dois vilões na questão do lixo: as pessoas que, ao produzirem lixo, não fazem a coleta seletiva, despejando-o em locais impróprios, e as empresas, grandes produtoras de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Resíduos são o resultado de processos de diversas atividades da comunidade: industrial, hospitalar, doméstica, comercial, agrícola, de serviços e ainda da varrição pública. Apresentam-se nos estados sólido, líquido e gasoso. Como exemplo dessa produção de lixo, podemos citar a cidade de São Paulo, com seus 11 milhões de habitantes que produzem 365kg de lixo por ano per capita. Desse total, apenas 55% são reciclados, segundo dados divulgados pelo IBGE e pela Limpurb, empresa de limpeza urbana do município de São Paulo. No Brasil, quase 70% do lixo são depositados em lixões a céu aberto sem qualquer cuidado ambiental, poluindo os rios e os lençóis freáticos de forma irreversível, além das emissões de gases que contribuem para o efeito estufa. A ONDA CINZA A onda cinza é o movimento de conscientização que vem sendo adotado por governos, empresas, mídia e sociedade sobre a importância e o gerenciamento adequado do lixo em todo o mundo. Tal movimento é focado no desenvolvimento das práticas de coleta seletiva, no reaproveitamento e na reciclagem do lixo. Seu objetivo é conscientizar pessoas, grupos e instituições para os riscos da destinação e do manejo inadequado do lixo e divulgar os benefícios inerentes ao seu reaproveitamento e à sua reciclagem. As empresas são os principais agentes da onda cinza, sejam empresas comerciais ou industriais. As indústrias, em muitos casos, despejam seus lixos tóxicos em locais inadequados como rios, lagos, lagoas e galerias pluviais, causando, de forma avassaladora, a contaminação das águas e também do solo. Há empresas que se utilizam dos aterros sanitários para o despejo de seus resíduos – outra forma incorreta de se livrar do lixo. O aterro sanitário é uma maneira prática e barata de destinar os resíduos urbanos e industriais, além de esgoto não tratado. É a forma 234 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 235 A U LA 1 1 mais utilizada de alocar o lixo nos grandes centros urbanos. O lixo é colocado em uma grande extensão de terra (aterro), geralmente na periferia da cidade. O resultado não poderia ser mais danoso: poluição do solo, do lençol freático, dos rios e lagos, do ar, fonte de diversas doenças, de emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e, também, a inutilização de vários materiais que poderiam ser reciclados. O céu perde o seu azul, a natureza perde o seu verde exuberante e a água perde a sua transparência, porque as diversas formas de poluição estão tornando o planeta cinza, impregnado de resíduos e substâncias tóxicas. Nem o universo é poupado! Existe uma grandeza incomensurável de lixo cósmico no sistema solar, proveniente dos experimentos astronômicos. Em sua música “Fábrica”, Renato Russo canta a beleza de um céu que já foi azul e de uma natureza que já foi verde e que hoje são cinzas. O céu já foi azul, mas agora é cinza. E o que era verde aqui já não existe mais Quem me dera acreditar Que não acontece nada de tanto brincar com fogo. Que venha o fogo então. OS TIPOS DE LIXO Chamamos de lixo os restos das atividades humanas considerados como inúteis, indesejáveis ou descartáveis. Normalmente, apresenta-se sob os estados sólido, semi-sólido ou semilíquido. Os lixos que encontramos na água, na terra e no ar variam conforme sua origem, composição química e grau de periculosidade. Com base nisso, é possível identificarmos as diversas categorias de lixo. a) Quanto à sua composição química: • orgânico: são os resíduos biodegradáveis (restos de alimentos, cascas de frutas, legumes, ovos, podas de jardim, excrementos) que podem ser destruídos por agentes biológicos (por exemplo, bactérias). É importante lembrar que o lixo orgânico não deveria ser visto como um problema, mas sim como uma solução para a fertilização dos solos (redes de compostagem) e produção de biogás (biodigestão de resíduos). • inorgânico: são os resíduos que pertencem à química dos minerais, isto é, que não são compostos de matéria animal ou vegetal. Podem ser de dois tipos: recicláveis e não-recicláveis. 236 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 237 A U LA 1 1 b) Quanto à sua origem: • Lixo domiciliar: resíduos orgânicos e inorgânicos, produzidos pelas residências particulares. • Lixo comercial: resíduos orgânicos e inorgânicos, produzidos pelos estabelecimentos comerciais. • Lixo industrial: resíduos orgânicos, inorgânicos e químicos, produzidos pelas indústrias fabricantes de produtos. • Lixo hospitalar: resíduos orgânicos, inorgânicos, químicos, tóxicos e infectantes, produzidos pelos hospitais e pelas casas de saúde. • Lixo agrícola: resíduos orgânicos, inorgânicos, químicos e tóxicos, produzidos pelas produções agrícolas. • Lixo dos portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários: lixos e resíduos produzidos por esses estabelecimentos provenientes da manutenção desses meios de transportes, do embarque e desembarque de passageiros, da carga e descarga de mercadorias. • Lixo do tipo entulho: resíduos inorgânicos, produzidos pelas empresas de construção civil. • Lixo público: resíduos encontrados nas ruas, praças, praias e demais logradouros públicos. c) Quanto à sua periculosidade: • classe I (alta periculosidade): são os que apresentam graves riscos à saúde e ao meio ambiente tais como: resíduos industriais, agrícolas, hospitalares, químicos e tecnológicos (baterias, pilhas, lâmpadas fluorescentes); • classe II (baixa periculosidade): também apresentam danos ao meio ambiente, principalmente pela quantidade despejada e nem tanto pela sua composição. São divididos em inertes (entulhos de demolições como pedras, areia, concreto, vidro) e não-inertes (resíduos domésticos, sucatas de materiais ferrosos e não-ferrosos, embalagens de plástico). Em uma classificação mais simplificada, podemos dividir o lixo em duas categorias: lixo comum (resíduos gerados pela população, como papéis, embalagensplásticas, metais, vidros, restos de alimentos etc.) e lixo especial (resíduos que necessitam de coleta e destinos diferenciados, pois causam danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas, como, por exemplo, o lixo hospitalar). 236 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 237 A U LA 1 1 OS RESÍDUOS INDUSTRIAIS: O FATOR CINZA Os resíduos industriais são os maiores responsáveis pela deterioração do meio ambiente. São os produtos químicos (cianureto, pesticidas, solventes), metais (mercúrio, cádmio, chumbo) e solventes químicos que degradam o meio ambiente e constituem sérias ameaças à saúde das pessoas, dos animais e destroem a vegetação e os demais recursos naturais. A indústria é, portanto, a maior causadora do fator cinza, devido à grande quantidade de resíduos tóxicos lançados no ambiente: sobras de carvão mineral, refugos da indústria metalúrgica, resíduos químicos e gases. As indústrias, portanto, são os principais agentes da onda cinza. Seus resíduos acinzentam o ar, a natureza, a água e tudo mais. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2004, identificou 703 pontos contaminados ou suspeitos de contaminação por resíduos tóxicos, onde reside 1,9 milhão de pessoas. Outro levantamento desse tipo foi feito pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesp), de São Paulo. A pesquisa identificou no estudo 2.272 áreas contaminadas, a grande maioria por empresas, sendo a atividade mais poluidora a dos postos de gasolina, responsáveis por 1.745 dos casos levantados. O LIXO TECNOLÓGICO O lixo tecnológico é aquele proveniente do descarte de equipa- mentos e peças de aparelhos eletrônicos, de telefonia, computadores e periféricos. Estima-se que, atualmente, em todo o mundo são gerados aproximadamente 50 milhões de toneladas de lixo tecnológico. O Brasil é um grande produtor de lixo tecnológico, por força de sua crescente indústria eletroeletrônica, de informática e de telecomunicações. Por que é relevante a questão do lixo tecnológico? Por razões diversas: o tempo médio de degradação dos metais contidos nesses equipamentos é de quase meio milênio; ao serem depositados em aterros sanitários, exalam substâncias tóxicas que, ao serem liberadas, penetram no solo e contaminam lençóis freáticos (água submersa) e atingem os animais e as pessoas que fazem uso dessa água. Não sendo corretamente descartado, o lixo tecnológico causa sérios danos ao meio ambiente e, como vimos, ameaça a saúde das pessoas e dos animais. Uma das modalidades de lixo eletrônico é constituída pelos detritos elétrico e eletrônicos (lixo eletrônico). 238 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 239 A U LA 1 1 Os detritos elétricos e eletrônicos estão entre as categorias de lixo de mais alto crescimento no mundo e que em breve devem atingir a marca dos 40 milhões de toneladas anuais, o suficiente para encher uma fileira de caminhões de lixo que se estenderia por metade do planeta. Por exemplo, apenas 1% dos 1,2 bilhão de pilhas que são descartadas todo ano no Brasil é reciclado. Fonte: http://dinogeologico.blogspot.com/2007_03_01_archive.html Fonte: www.ecoeconomia.globolog.com.br O COMBATE AO LIXO ELETRÔNICO A indústria de eletrônicos é a principal responsável pelo lixo eletrônico em todo o mundo. Milhões de aparelhos de televisão, computadores, celulares e equipamentos de som são descartados anualmente e depositados em lixões. Figura 11.1: Computadores, televisores e microondas são alguns dos componentes do lixo eletrônico. Fontes: http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=1030400 http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=865360 http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=743850 238 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 239 A U LA 1 1 Alguma vez você já pensou que seu antigo aparelho de televisão pode estar envenenando uma criança na China, ou que seu velho computador esta contaminando um rio na Nigéria? Bob Hougton, presidente da Redemtech EUA, empresa que recicla lixo eletrônico, faz uma denúncia ao acusar as empresas verdes que des- pejam suas sucatas em locais inadequados: “Empresas que dizem ser ver- des jogam lixo eletrônico tóxico em aterros sanitários locais e em inci- neradores de lixo eletrônico.” Segundo a professora Ângela Cássia Rodrigues, da USP, “no Brasil, cerca de 500 mil toneladas de e-lixo são descartadas por ano. Grande parte desse volume acaba em aterros sanitários ou lixões. São locais inadequados porque os materiais tóxicos contaminam o meio ambiente” (texto extraído da entrevista “Tecnologia vira e-lixo em 5 anos”, jornal O Estado de S. Paulo, 6.12.08). Além do lixo eletrônico, existe o lixo decorrente da sucata de aviões e navios. Segundo dados divulgados pela ONU, quase um terço dos 25 mil aviões civis de grande porte devem virar sucata nos próximos 10 a 15 anos e chegar a 35 mil até 2035, e cerca de 2,2 mil navios devem ser encostados na Europa até 2010, e 1,8 mil, nos EUA, na China e no Brasil. Sem uma lei que proíba a exportação de lixo eletrônico tóxico, não há maneira de saber se os antigos celulares, computadores ou televisores não acabaram em algum país pobre ou em desenvolvimento. Ali, catadores desmontam esses aparelhos, sem proteção alguma, para recuperar valiosos metais que o compõem. Estima-se que os Estados Unidos produzam três milhões de tone- ladas anuais de lixo eletrônico, como celulares e computadores. Seus habitantes compraram cerca de 30 milhões de aparelhos de tevê desde janeiro de 2008. Essa quantidade ficou maior a partir de fevereiro de 2009, quando todas as redes de televisão do país tiraram do ar os sinais analógicos e só transmitiram imagens por meio do sistema digital. Assim, para onde irão os televisores velhos e indesejados? Segundo ativistas, um destino é Hong Kong. “Vi contêineres carregados nos Estados Unidos quando foram abertos no porto de Hong Kong. Estavam cheios de lixo eletrônico, como televisores e monitores de computadores”, afirmou Jim Puckett, coordenador da ONG Basel Action Network (Rede de Ação da Basiléia – BAN). 240 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 241 A U LA 1 1 Essa organização leva o nome do convênio internacional que regulamenta o tráfego internacional de lixo tóxico, a fim de impedir que o lixo tecnológico procedente de países ricos contamine os países pobres. Puckett calculou que cem contêineres de lixo eletrônico chegam por dia a Hong Kong, para, em seguida, serem contrabandeados para a China. “Tudo procede dos Estados Unidos e do Canadá”, afirmou. Boa parte desta atividade é ilegal na China, mas como é uma indústria muito grande e rentável, muitos funcionários chineses e de outros países se mostram dispostos a fazer vista grossa, ressaltou. Em entrevista ao programa de TV "Sixty Minutes" (60 Minutos), muito popular nos EUA, Puckett denunciou o desembarque de contêineres carregados de lixo eletrônico em Hong Kong e na China. O trabalho de Jim Puckett é denunciar os transportes clandestinos de sucatas de computadores, periféricos, tevês e demais aparelhos eletroeletrônicos que são contrabandeados pelos países ricos, como EUA e Canadá, para países pobres, sobretudo do Sudeste Asiático. Nos EUA, a montanha de lixo eletrônico aumenta a cada dia na mesma proporção em que são criados novos aparelhos para satisfazer uma economia consumista obstinada por um crescimento sem fim. Cerca de 90% desse lixo são enterrados em aterros sanitários, incinerados ouqueimados a céu aberto, poluindo a água subterrânea e o ar. Fora os milhões de equipamentos jogados nos porões e sótãos de residências e prédios comerciais e industriais. Na Europa, os fabricantes de aparelhos eletrônicos estão obrigados por lei a aceitar que seus compradores lhes entreguem seus produtos velhos para que façam uma reciclagem adequada. Embora nem Canadá nem Estados Unidos tenham uma lei semelhante, alguns fabricantes de televisores, como Sony, LG e Samsung, e vários de computadores, como Dell, Lenovo e Toshiba, pegam de volta seus produtos sem custo. Outros fabricantes cobram uma tarifa. O custo de manejar e reciclar costuma superar o valor dos materiais recuperados; por isso a maioria das empresas não quer aceitá-los de volta. Existe a preocupação de que essas empresas, que recebem seus produtos antigos de volta, simplesmente os despachem para países em desenvolvimento. “Estamos tentando fazer com que os fabricantes assinem um compromisso para agirem como se os Estados Unidos fossem parte da CONVENÇÃO DA BASILÉIA”, disse Puckett. CO N V E N Ç Ã O D A BA S I L É I A Em vigor desde 1992, é um tratado de nível internacional assinado por diversos países, com o objetivo de impedir transferência de lixo perigoso dos países mais ricos para os países pobres. 240 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 241 A U LA 1 1 Os EUA não assinaram a Convenção, a exemplo do que havia acontecido com o Protocolo de Kyoto, sobre limitação de emissão de gases. O GREENPEACE E OS FABRICANTES DE PRODUTOS ELETROELETRÔNICOS A empresa de pesquisa Gartner, famosa em todo o mundo por causa de seus estudos e publicações sobre as novas tendências no mundo da informática, estima que mais de 180 milhões de computadores sejam substituídos em 2009, sendo que a maior parte desse total será jogada no lixo. Tal fato configura uma tendência de crescimento do lixo eletrônico em escala mundial. Com objetivo de deter esta tendência de crescimento, as diversas empresas do setor, pressionadas pela mídia, pelos governos e pela sociedade, têm firmado compromissos no sentido de evitar a ocorrência desse tipo de problema. Dos fabricantes de produtos eletroeletrônicos, apenas a Sony assinou este compromisso. A ONU anunciou que, em breve, vai anunciar diretrizes mundiais para regular o descarte e a disposição desses produtos. A Phillips despeja milhões de toneladas de lixo eletrônico em lixões porque a empresa não possui uma política e um programa de reciclagem. Militantes do Greenpeace despejaram sucatas de aparelhos Phillips em frente à sede da empresa na Holanda, Dinamarca, Rússia e Índia. Martin Besieux, do Greenpeace, faz um alerta: “Se a Phillips con- tinuar recusando assumir essa responsabilidade, o resultado será uma quantidade de lixo eletrônico espalhado por todo o mundo, expondo as pessoas e o meio ambiente a um coquetel de substâncias tóxicas.” A empresa, sob a alegação de que a reciclagem é uma respon- sabilidade coletiva, envolvendo governos, consumidores e fabricantes, tem resistido bastante a adotar uma política e um programa de combate ao lixo eletrônico. Por outro lado, seus concorrentes, como a Sony, a Samsung e a Nokia, já adotam programas voluntários de reciclagem com total sucesso. O Greenpeace desenvolveu uma metodologia própria para identificar o nível de conscientização ambiental das empresas fabricantes de equipamentos eletroeletrônicos com relação ao descarte do lixo eletrônico – o Guia para Eletrônicos Verdes. A conclusão do estudo é que a indústria de chips, processadores e placas contamina a água e o solo 242 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 243 A U LA 1 1 da Ásia, do México e de outros locais de produção. Alguns fabricantes recusam-se a reciclar e reutilizar equipamentos usados, aumentando o volume de lixo eletrônico. A Apple, com seu design elegante e seus produtos inovadores, não utiliza práticas verdes. A matéria-prima está contaminada, o que impede e dificulta o reúso e a reciclagem. De acordo com a pesquisa feita pelo Greenpeace, foi publicada uma lista, dividida em duas áreas (verde e vermelha), com os nomes dos principais fabricantes de eletrônicos que se aproximam e que se distanciam do padrão verde de tratamento do lixo eletrônico. As empresas a seguir estão dispostas na seguinte ordem: a primeira é a melhor e a última é a pior. As empresas Nokia, Sony Ericsson, Toshiba e Samsung são as que mais preenchem os requisitos do tratamento do lixo eletrônico. Elas estão dentro do padrão verde (área verde). As empresas Dell, Apple, Phillips, Lenovo, Microsoft e Nintendo estão longe do padrão verde, e ficaram na área vermelha. As empresas Fujitsu, Siemens, Motorola, Sony, Panasonic e Sharp ficaram na área intermediária (área entre o verde e o vermelho). Os critérios para o ranking seguem estas exigências: • limpar os seus produtos por meio da eliminação de substâncias perigosas; • reciclar os seus produtos, uma vez que se tornam obsoletos, e reutilizá-los; • reduzir o impacto de suas operações e produtos. O Guia para Eletrônicos Verdes do Greenpeace destina-se a limpar o setor de eletrônica e fazer com que os fabricantes se responsabilizem por todo o ciclo de vida de seus produtos, incluindo os resíduos eletrônicos que os seus produtos geram. O guia para eletrônicos verdes do Greenpeace é atualizado a cada três meses. A relação das empresas que compõem o guia foi publicada no dia 24 de novembro de 2008. Para melhor visualização e mais explicações, visitem o site a seguir: http://www.greenpeace.org/international/campaigns/toxics/electronics/ how-the-companies-line-up. 242 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 243 A U LA 1 1 O programa Vivo Recicle seu Celular, desenvolvido pela empresa Vivo de telefonia celular, promove a reciclagem de celulares, acessórios e baterias. A empresa fez uma parceria com a Belmont Trading, encarregada da coleta, da triagem e do descarte adequado dos celulares, acessórios e baterias (80% desse material recolhido são reciclados e 20% são reaproveitados e revendidos). A venda dos reciclados é feita em 3,4 mil pontos-de-venda. O montante arrecadado é repassado para o Instituto Vivo, braço social da empresa, que o investe em ações sociais. (Texto adaptado da matéria “Caminho de volta”, Valor, 12, 13 e 14.9.08, p. F4.) Identifique se a Vivo se aproxima do padrão verde de tratamento do lixo eletrônico. _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada A Vivo tem um padrão verde no tratamento do lixo eletrônico pois promove a reciclagem de celulares, acessórios e baterias. Dessa forma, ela atende aos requisitos ambientais e obtém ganhos com o reciclo. Sua resposta termina aqui, mas observe que, ao reaproveitar e revender parte desses equipamentos, a Vivo gera recursos para financiar seus projetos sociais. Assim, ao recolher grande parte deles, preserva o meio ambiente e evita que causem danos ambientais, reduzindo ao máximo o descarte. Atividade 1 1 A SOCIEDADE DO LIXO Por causa do rápido aumento do lixo produzido,tornamo-nos uma sociedade produtora de lixo de todos os tipos. Esse fenômeno foi chamado de sociedade do lixo. Nos últimos 20 anos, a população mundial cresceu menos que o volume de lixo por ela produzido. Enquanto de 1970 a 1990 a população do planeta aumentou em 18%, a quantidade de lixo sobre a Terra passou a ser 25% maior. O crescimento do lixo está diretamente relacionado ao estilo de vida que incentiva o consumismo e o descarte de resíduos em conseqüência do elevado consumo de produtos em geral e de bens materiais. Esse estilo 244 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 245 A U LA 1 1 de vida fomenta o consumismo, incentiva a produção de bens descartáveis e difunde a utilização de materiais artificiais. E como reduzir o lixo em nossa sociedade? Existem dois caminhos a seguir apresentados: a coleta seletiva e a reciclagem. O QUE É COLETA SELETIVA? A coleta seletiva é a primeira forma de redução do lixo em nossa sociedade. É uma alternativa ecologicamente correta que desvia do destino, em aterros sanitários ou lixões, os resíduos que podem ser reciclados. É um sistema de recolhimento de materiais recicláveis. Com isso, prolonga-se a vida dos aterros sanitários e o meio ambiente é menos contaminado. A reciclagem desse material coletado significa menos extração de recursos naturais. A atuação da empresa no campo da coleta seletiva do lixo deve basear-se nas seguintes estratégias: • fazer parcerias institucionais (financiamento para capital de giro, compra de equipamentos e construção de instalações), com cooperativas de catadores para a gestão dos resíduos; • manter acordos operacionais com cooperativas com o objetivo de doar resíduos; • estabelecer acordos comerciais com cooperativas para fins de compra dos materiais por elas reciclados; • fornecer infra-estrutura para a implantação de Postos de Entrega Voluntária (PEVs) de materiais recicláveis; • contratar representantes das cooperativas para atuar como instrutores do programa de conscientização do lixo; • apoiar campanhas, programas e ações implementadas pelo governo e por entidades civis; • criar um programa de coleta seletiva solidária, estimulando seus funcionários, clientes e fornecedores no processo de gestão dos resíduos; • promover eventos comemorativos; • fazer pesquisa sobre o ciclo de vida de seus produtos; • desenvolver programas e projetos sociais com base na reciclagem e no reaproveitamento do lixo; • seguir a legislação específica; 244 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 245 A U LA 1 1 • divulgar informações sobre a destinação final de seus materiais e sua reutilização, quando possível; • adequar suas ações e políticas às políticas nacional, estadual e municipal de resíduos sólidos; • criar comitês internos de reciclagem. A empresa que desenvolve um programa de coleta seletiva atua em duas dimensões: a ambiental, porque contribui para preservar o meio ambiente, e a social, porque doa os recicláveis para uma cooperativa, gerando emprego e renda para seus membros. Uma experiência de sucesso A Re-cooperar é uma cooperativa fluminense de catadores. Criada em 2006, com recursos do programa Redes de Reciclagem da Petrobras, a cooperativa construiu um galpão em São Gonçalo e, posteriormente, mais dois galpões de coleta, um em Itaboraí e outro em Niterói, e comprou caminhões e equipamentos. A cooperativa conta com um efetivo de 100 catadores, com previsão de aumentar para 700 com a abertura desses novos galpões. Em 2008, recolheu cerca de 50 toneladas de material reciclável por mês. A meta é chegar a 200 toneladas de descarte em 2009. Seus participantes ganham uma renda média mensal de R$ 100 a R$ 250. A Re-cooperar firmou diversos tipos de acordos com suas empresas parceiras: primeiro, com a Petrobras, para fins de financiamento para a abertura do negócio. E, em seguida, fez outros acordos com empresas que doam seus resíduos para a cooperativa. Houve, também, um terceiro tipo de acordo, de natureza comercial, feito com as empresas que compram o material reciclado da cooperativa, gerando recursos próprios para a Re- cooperar e, assim, assegurando a sustentabilidade do seu negócio. Segundo Pedro Belga, presidente da ONG Dragões do Mar, à frente do projeto, a cooperativa tem como estratégia básica atrair novas empresas, shoppings e condomínios residenciais para doarem resíduos à Re-cooperar. Qual a estratégia utilizada pelas empresas em seus relacionamentos com a Re-cooperar? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Atividade 2 2 246 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 247 A U LA 1 1 Resposta Comentada Todas as empresas desenvolveram estratégias de parceria com a Re-cooperar na questão da gestão de resíduos. A Petrobras firmou uma parceria institucional para fins de financiamento para a abertura do negócio. Outras empresas estabeleceram uma parceria operacional ao doarem seus resíduos para a cooperativa e algumas empresas fizeram parceria comercial voltada para a compra do material reciclado. Sua resposta termina aqui, mas é importante ressaltar que, como um empreendimento de base social, a Re-cooperar gera emprego e renda para pessoas de baixa renda. COMO AS EMPRESAS INVESTEM NA COLETA SELETIVA DO LIXO As empresas estão mais atentas à questão da gestão estratégica de resíduos. É prática comum a parceria com cooperativas locais de catadores de lixo com o objetivo de alavancar a indústria de reciclagem. É importante lembrar que iniciativas dessa natureza geram emprego e renda na comunidade e produzem ganhos econômicos consideráveis para as empresas, pois estas reaproveitam parte do lixo descartado. A Tetra Pak desenvolveu em outubro de 2008 a sua campanha de sustentabilidade. O objetivo é informar e educar o consumidor sobre a facilidade para reciclar o lixo. “Bastam dois lixos, um para o material reciclável e outro para o lixo normal”, afirmou o diretor de meio ambiente da empresa, Fernando Von Zuben. A empresa investiu na campanha R$ 5 milhões, com a realização de ações de merchandising, spot de rádio e um filme de 30 segundos, veiculado em TV aberta em rede nacional, além de ações nos pontos-de-venda. Em 2007, a Tetra Pak reciclou 50 mil toneladas de embalagens. A meta é chegar a 86 mil toneladas até 2010. Um outro exemplo de gestão estratégica de resíduos é o programa de coleta seletiva da ADP. Uma empresa especializada no desenvolvimento de soluções informatizadas para folhas de pagamentos e recursos humanos. A empresa desenvolveu as seguintes ações estratégicas: • colocação de latas de lixo normal ao lado da mesa de cada funcionário para serem depositados os insumos orgânicos, bem como recipientes de papelão, para serem colocados papel, plásticos, vidros e metais; 246 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 247 A U LA 1 1 • distribuição de coletores (verde, vermelho e amarelo) em diversos locais da empresa para receber materiais separados nas latas de lixo e nas caixas de papelão; • coleta de pilhas e baterias. Para o gerente de suprimentos e manutenção, Francisco Souza, o maior problema é conseguir parceirosque viabilizem a aquisição de equipamentos e coletores e que efetuem a própria coleta. A atuação da empresa no campo da coleta seletiva do lixo é ainda muito incipiente. A empresa limitou-se a instruir seus funcionários quanto à distinção do lixo, separando-os em recipientes e depósitos distintos (latas de lixo normal para os insumos orgânicos e caixas de papelão para papel, plásticos, vidros e metais). Em seguida, a empresa criou postos coletores para receber os materiais provenientes daqueles recipientes e depósitos. O QUE É RECICLAGEM? A reciclagem é a segunda forma de reduzir o acúmulo de lixo em nossa sociedade. É o retorno da matéria-prima ao ciclo de produção do qual foi descartado. É o conjunto de técnicas envolvidas nesse processo de reaproveitamento da matéria-prima já utilizada anteriormente. Consiste na coleta dos materiais que se tornaram lixo – ou já estão no lixo –, na sua separação e no seu posterior processamento. Figura 11.2: Logo internacional da re- ciclagem. Fonte: http://www.sxc.hu/browse.phtml ?f=download&id=797901 Figura 11.3: Símbolo da coleta seletiva. Fonte: http://storage.sxc.hu/l/lu/lusi/ 700723_48608437.jpg 248 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 249 A U LA 1 1 Por que reciclar? Primeiro, para reduzir o volume do lixo, um dos maiores problemas do nosso século. Segundo, para preservar a natureza desses dejetos e, também, para poupá-la de mais extração de seus recursos naturais. Terceiro, para reduzir a poluição do ar, da água e do solo. A reciclagem traz diversas vantagens para as empresas como, por exemplo, redução do custo de embalagens devido ao reaproveitamento dos recipientes reciclados e, também, diminuição do custo de compra ou de fabricação das embalagens utilizadas em seus produtos. Uma segunda vantagem para as empresas é o aumento da sua produção, pois grande parte da matéria-prima utilizada é reaproveitada. A terceira vantagem é de natureza institucional. A empresa se posiciona no mercado de forma ambientalmente sustentável e com- prometida com a redução do lixo em nossa sociedade. São considerados recicláveis aqueles resíduos que constituem interesse de transformação e que têm mercado ou operação que viabiliza sua transformação industrial. Vejamos alguns exemplos dos benefícios da reciclagem: • cada 50 quilos de papel reciclado (papel usado, transformado em papel novo) evita que uma árvore seja derrubada; • cada 50 quilos de alumínio usado e reciclado evita que sejam extraídos do solo cerca de 5.000 quilos de minério (a bauxita); • com cada quilo de vidro quebrado é possível fazer um quilo de vidro novo. Agora, vamos pensar e nos conscientizar: • na quantidade de papel que jogamos fora e em quantas árvores podemos preservar; • na quantidade de latinhas de refrigerante e de cerveja que jogamos fora e em quantos recursos minerais podemos resguardar; • na quantidade de vidro que quebramos e jogamos fora. E como reciclar? Por meio da coleta seletiva do lixo, um compro- misso que deve ser assumido por todos: cidadãos, empresas e governos. 248 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 249 A U LA 1 1 Vejamos alguns exemplos de produtos recicláveis: folhas e aparas de papel, jornais, revistas, caixas, papelão, formulários de computador, cartolinas, cartões, envelopes, rascunhos escritos, impressos em geral, Tetra Pak e outros. Dentre os metais, as latas de alumínio, de aço, de alimentos em geral, ferragens, canos, esquadrias, arame e outros. Dentre os plásticos, tampas, potes de alimentos, recipientes de limpeza e higiene, PVC, PETs, sacos plásticos, brinquedos, baldes e outros. Dentre os vidros, potes, copos, garrafas, frascos e outros. A Coca-Cola criou o programa de sustentabilidade “Viva Positivamente”, com investimentos em propaganda da ordem de R$ 1,5 bilhão em 2008. O objetivo do programa é estimular a prática de reciclagem de garrafas PET entre os consumidores de seus produtos (a meta é reciclar 60%). Para tal, a empresa vai construir uma unidade de reciclagem, com investimentos de R$ 35 milhões para o processamento anual de 25 mil toneladas de garrafas usadas e a produção de 20 mil novas unidades. Utilizando uma tecnologia revolucionária, a unidade submete o PET a um processo de limpeza, moagem e derretimento. Após ser derretido, é misturado com o PET virgem, na forma líquida, e, daí, surgem novas garrafas. (Texto adaptado da matéria “Coca-Cola começa a engarrafar com PET reciclado no ano que vem”, Valor, 19, 20 e 21.9.08, p. B4). Atividade 3 3 250 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 251 A U LA 1 1 Quais as vantagens obtidas pela Coca-Cola por intermédio desse programa? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada A Coca-Cola obtém ganhos de reciclagem, pois aproveita grande parte das embalagens des- cartáveis PET em sua linha de produção. Reduz seus custos de produção de embalagens PET e também atende à demanda crescente de garrafas como parte da expansão da sua capacidade de produção. Assim, a Coca-Cola transforma a prática de reciclagem de garrafas em um negócio lucrativo para a empresa. Sua resposta termina aqui, mas, caso a Coca-Cola adotasse o paradigma ambiental tradicional, a empresa se limitaria a promover a coleta seletiva de PETs, seu descarte e inutilização. Adotando o novo paradigma ambiental, a Coca-Cola criou uma unidade de reciclagem, com uso de tecnologia inovadora, proporcionando ganhos econômicos (redução de custos, aumento da produtividade) consideráveis ao seu negócio. O PAPEL DAS EMPRESAS NA RECICLAGEM Qual é a capacidade das empresas de dar um destino adequado aos seus produtos depois que eles chegam ao fim de seu ciclo de vida? Na maioria das vezes, as empresas transferem essa responsabilidade para os próprios consumidores e para o poder público. Como induzir as empresas a desempenhar melhor esse papel? São diversas as soluções. Por exemplo, obrigar as empresas a cuidar do destino final dos seus produtos, mediante a inserção do custo da reciclagem no preço do produto. Assim, o cliente, ao comprar o produto, pagará o custo da reciclagem que está embutido no preço final e, em contrapartida, quando o cliente não quiser mais o produto, ou porque se tornou obsoleto, ou porque parou de funcionar, devolverá o produto para a empresa de origem. Outra solução que as empresas podem adotar é conscientizar o consumidor a fazer a coleta seletiva do seu lixo, evitando, dessa forma, o descarte simples de seus produtos, seja em lata de lixo, terreno baldio ou qualquer lugar irregular. 250 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 251 A U LA 1 1 Uma outra solução seria obrigar algumas empresas, no ato da venda de um produto, a exigir do consumidor o produto antigo. Por exemplo, as empresas de telefonia celular só venderiam os novos aparelhos caso recebessem de volta os antigos, ou poderiam exigir do cliente a comprovação, via número ativado do antigo telefone celular, de que o antigo aparelho ainda está em uso. Finalmente, compete ao governo criar políticas de reciclagem para os diversos setores da economia, apoiara criação de cooperativas de cata- dores de lixo, com condições salubres de trabalho, para que todo e qualquer tipo de lixo tenha seu destino certo e possa ser efetivamente reaproveitado. É importante ressaltar que o Brasil é campeão em reciclagem de latas de alumínio. O país reciclou 96,5% de latinhas em 2007, ou seja, 11,9 milhões de unidades, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Alumínio. No setor de embalagens de vidros a reciclagem também é grande, cerca de 50%, para uma produção anual de 890 mil toneladas (dados de 2007). Algumas empresas saíram na frente desse processo de reciclagem ao desenvolverem o modelo de logística reversa do produto reciclado (a empresa prioriza a destinação final e reciclagem do produto em detrimento da sua produção e distribuição). Esse processo compreende as seguintes etapas: • coleta do produto descartado na casa do cliente ou na revenda; • desmontagem do produto nas próprias revendas ou na fábrica; • reintrodução dos materiais no ciclo produtivo. Um bom exemplo é a empresa Whirlpool, que comercializa o purificador de água da marca Brastemp. O aparelho é alugado aos usuários e, encerrado o seu ciclo de vida útil, é coletado e retornado para a empresa, onde é desmontado. Os resíduos são reaproveitados no ciclo produtivo de novos aparelhos. Além disso, a Whirlpool recolhe as embalagens de papelão, plástico e isopor dos eletrodomésticos Brastemp e Consul. Até agosto de 2007, foram recolhidas 18,5 toneladas de embalagens, o que corresponde a 44% dos produtos vendidos. Um outro exemplo de reciclagem bem-sucedida é a Tetra Pak, que já recicla 25% de suas embalagens e pretende atingir a meta de 45% nos próximos dois anos (em 2007, foram produzidos 9 bilhões de unidades). 252 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 253 A U LA 1 1 A empresa lançou o site www.rotadereciclagem.com.br, com o uso da tecnologia do Google Maps. O usuário acessa o site, digita o seu endereço, e o serviço do Google Maps mostra a sua localização e os contatos a serem feitos, próximos à sua residência, para a coleta seletiva e a posterior reciclagem. Esses contatos são de três tipos: cooperativas de catadores, pontos de entrega de materiais recicláveis e estabelecimentos que recebem embalagens Tetra Pak. A empresa apóia as cooperativas, cedendo-lhes equipamentos apropriados e treinando seu pessoal. Esse apoio pode ser de diversos tipos: apoio financeiro, para compra de instalações e equipamentos; apoio do tipo parceria, adoção de resíduos para serem objeto de coleta, separação e tratamento; e apoio comercial, que se traduz na compra dos resíduos para fins de reciclagem. Um terceiro caso de destaque no campo da reciclagem é a Natura, tradicional fabricante de produtos de beleza que desenvolve projetos de recolhimento de embalagens usadas nas cidades de Recife e São Paulo. Os vendedores da empresa visitam os clientes, recolhem as embalagens sem uso e enviam-nas para as cooperativas de catadores dos bairros mais próximos, que separam o material e o enviam para a reciclagem. Em Recife, foram recolhidas cinco toneladas em apenas nove meses. O Governo brasileiro vai estimular a troca de geladeiras velhas por modelos novos, que consomem menos energia (cerca de 50%) e que não usam o gás CFC, responsável pela destruição da camada de ozônio. Este gás está no compressor do refrigerador e também na espuma de poliuretano usada como material isolante. Apenas o gás do compressor é recolhido quando a geladeira é descartada. O outro, existente entre a estrutura metálica e a parte interna de plástico, vai para a atmosfera. Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos – Abetre –, Diógenes Del Bel, o ideal é aspirar o gás do compressor e depois triturar toda a geladeira dentro de um ambiente fechado. Mas a falta de equipamentos especializados e de domínio dessa tecnologia faz com que as oficinas de assistência técnica não realizem esse trabalho. Com isso, grande parte das geladeiras velhas é recolhida pelos carroceiros, que as reciclam de forma precária ou as destroem a golpes de marreta, aproveitando o aço. Segundo dados divulgados pela Abetre, o Brasil tem cerca de 50 milhões de geladeiras e, por ano, são descartados dois milhões. Atividade 4 4 252 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 253 A U LA 1 1 Como as empresas fabricantes de refrigeradores poderiam solucionar melhor o problema da reciclagem dos refrigeradores sem uso? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada O investimento em logística reversa é a melhor solução para o problema da reciclagem dos refrigerados usados. As empresas fabricantes devem fazer parcerias com as cooperativas locais e com as revendas com o objetivo de recolher as geladeiras usadas, desmontá-las e enviar para a fábrica os materiais a serem reciclados. Uma outra solução é conscientizar os consumidores para a verificação constante das geladeiras, quanto ao escapamento de gás e consumo de energia, ou ainda, sendo modelo antigo, trocá-lo por modelo mais novo, e, nesse caso, a empresa ofereceria vantagens. As empresas também poderiam criar uma extensa rede de coleta seletiva, constituída de pontos de entrega e de lojas de assistência técnica, empenhadas em receber geladeiras velhas, inclusive recolhendo nas casas dos clientes. AS ALTERNATIVAS PARA O DESCARTE DO LIXO Vimos anteriormente que a gestão estratégica do lixo é um com- ponente cada vez mais importante no modelo gerencial de uma empresa, independentemente do seu setor de atividades e tamanho. Uma das atividades mais relevantes deste processo de gerenciamento é o descarte do lixo produzido pela empresa. As empresas têm as seguintes alternativas para se livrarem do seu e-lixo (lixo eletrônico proveniente do descarte das peças dos computadores e pertiféricos): • Reúso: é uma forma de aumentar a vida útil dos eletrônicos. Algumas empresas os repassam adiante para outra empresa localizada em países pobres. O problema é que, em pouco tempo, eles viram sucata e, ao serem descartados, poluem o ambiente. 254 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 255 A U LA 1 1 • Incineração: é o que fazem muitas empresas. É importante lembrar que a incineração dos eletrônicos libera metais pesados, como o chumbo, o cádmio e o mercúrio, e em forma de cinzas. E isso, ao ser despejado nos rios, pode chegar à nossa cadeia alimentar por meio dos peixes que comemos. • Reciclagem: é o reaproveitamento dos materiais que são utilizados na confecção de novos aparelhos, mas traz riscos de contaminação para as pessoas que trabalham na reciclagem. • Design verde: consiste na substituição do material usado; por exemplo, o chumbo das soldas pode ser trocado por liga de estanho. Muitas empresas decidiram, por exemplo, trocar o PVC em seus produtos por materiais similares. • Aterros: é a pior alternativa. Empresas queo fazem ou permitem fazê-lo poluem o solo, pois seus equipamentos eletrônicos liberam elementos tóxicos ao serem enterrados no solo, afetando o ambiente e as comunidades em seu entorno. Alguns fabricantes de aparelhos de tevê encerraram sua produção de televisores de tubo de imagem e passaram a se concentrar nas tevês de cristal líquido, que são 100% recicláveis.!! POR QUE O LIXO TORNOU-SE UM PRODUTO DE ALTO VALOR AGREGADO? Quando reutilizado, reciclado e reaproveitado, o lixo sob a forma de resíduos adquire um elevado valor agregado. Em primeiro lugar, porque ele retorna ao ciclo de produção da empresa, sob a forma de novos recursos produtivos, reduzindo enormemente os seus custos de produção. Em segundo lugar, porque as atividades de coleta seletiva de lixo, indispensáveis para a reciclagem, são geradoras de emprego e renda, e alavancam novos negócios. 254 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 255 A U LA 1 1 Em terceiro lugar, porque a economia do lixo tem um enorme escopo de utilização, que faz dele não apenas uma fonte de recursos renováveis, mas, sobretudo, uma fonte de geração de energia. Em quarto lugar, porque o aproveitamento do lixo demanda uso e aplicação de novas tecnologias. O melhor exemplo é a tecnologia bottom to bottom, utilizada no reaproveitamento das garrafas PET, recicladas para a fabricação de novas garrafas PET. E, finalmente, porque o reaproveitamento e reúso dos resíduos diminui as agressões ao meio ambiente. É nesse contexto que o lixo adquire maior valor econômico e social de uso como fonte de matéria-prima, de recursos naturais, de energia e de preservação ambiental. CONCLUSÃO O lixo ganha importância na sociedade de hoje. Tornou-se um novo mercado, uma economia em expansão e um campo fértil para o desenvolvimento de novas tecnologias. 256 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 257 A U LA 1 1 Agora o lixo assumiu um novo papel no mundo empresarial, como fonte alternativa de energia, como base para novos negócios e como pro- dutos de alto valor agregado. O lixo gera emprego, renda, reduz custos e torna-se uma fonte de vantagem competitiva para as empresas. Estamos, portanto, no limiar de uma nova mudança: a transição da sociedade do lixo para a economia próspera do lixo. A economia do lixo tem se caracterizado pelo surgimento de negócios sociais sustentáveis como, por exemplo, as cooperativas de catadores. No contexto empresarial, proliferam as empresas fabricantes de embalagens verdes e sustentáveis e as empresas que gerenciam de forma eficiente e eficaz os seus resíduos. No âmbito governamental, os governos começam a criar e implementar políticas de reciclagem do lixo e, na esfera social, as comunidades se mobilizam em campanhas de coleta seletiva. O resultado esperado é o fim da onda cinza e o despertar das ondas verde e azul, um mundo de natureza preservada, de águas limpas e abundantes, sem lixões e sem poluição provocada pelos detritos e resíduos de todos os tipos. A Lafarge é uma empresa produtora de cimento que iniciou em 2007 um projeto de reutilização de sobras de gesso da construção civil na produção de cimento. É importante lembrar que o gesso é um dos itens básicos da fabricação do cimento, que também utiliza calcário e argila, cujo objetivo é evitar que o cimento endureça rapidamente e perca a serventia. O gesso é um recurso natural não-renovável, existente em maior número no estado de Pernambuco. A empresa tem um elevado custo de frete ao transportar o gesso de Pernambuco para as suas fábricas, localizadas na região Sudeste. A Lafarge vem tentando obter o gesso de outras fontes: uma indústria de fertilizantes, localizada na região do Triângulo Mineiro, que gera como resíduo uma espécie de gesso artificial, e uma fábrica de louças sanitárias, localizada na região Sudeste, que usa moldes de gesso para a fabricação de pias e vasos. 5Atividade Final 256 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza C E D E R J 257 A U LA 1 1 A empresa também obtém gesso por meio do reaproveitamento do material resultante do corte das placas de gesso usadas para fazer paredes e forros de sua própria fábrica. A principal estratégia da empresa tem sido a reutilização dos resíduos das placas de gesso. Em uma de suas fábricas, localizada em Arcos (MG), a empresa desenvolveu um sistema de reutilização do gesso. A meta é atingir o volume de 100% de gesso reutilizado em suas fábricas, em cinco anos. (Texto adaptado de SOARES, 2008, p. 6). Qual é a importância do reaproveitamento dos resíduos das placas de gesso para a empresa? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Resposta Comentada A Lafarge tem no gesso uma de suas principais matérias-primas utilizadas na produção de cimento. Mesmo utilizando sobras de gesso da indústria de fertilizantes e da fábrica de louças sanitárias e da construção civil, a empresa precisa de quantidades significativas de gesso em suas fábricas de cimento na região Sudeste. A empresa compra gesso das jazidas de Pernambuco, mas seus custos com frete são elevados. Com o objetivo de assegurar maior fornecimento dessa matéria-prima para as suas fábricas, a empresa utilizou a alternativa estratégica de reaproveitamento das sobras de gesso em sua própria fábrica. Portanto, a alternativa utilizada é a reciclagem, visto que o gesso é um resíduo reciclável porque pode ser reintroduzido no processo de fabricação de cimento a um menor custo e evitando mais extração desse recurso natural, como também a contaminação do meio ambiente. O gesso, se descartado no ambiente, pode contaminar a água e o solo, pois é composto de sulfato de cálcio, que se dissolve na água e ao se infiltrar no solo, pode atingir o lençol freático. 258 C E D E R J Gestão da Interface Empresa x Sociedade | A onda cinza INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, vamos estudar o fenômeno do consumo consciente. Estamos diante de um grave problema: o acúmulo de lixo proveniente de empresas, escritórios, residências e logradouros públicos. Como nos desvencilhamos dele? Como reaproveitá-lo melhor? Como assegurar a sua correta destinação sem causar prejuízos ambientais e danos à saúde das pessoas? São perguntas que nos levam a pensar no novo papel das empresas, dos governos, dos cidadãos, das ONGs e dos movimentos sociais, e da sociedade na busca de soluções inovadoras para a solução desse problema. As empresas são os maiores agentes da onda cinza. Ao não tratarem corretamente o seu lixo, poluem o ambiente e ameaçam a saúde das pessoas. São elas as grandes geradoras de lixo industrial, comercial, hospitalar, tóxico e atômico, que, juntos, constituem uma grande ameaça ao planeta. O grande desafi o para as empresas é gerenciar de forma adequadaos seus resíduos. Muitas já o fazem, mas a maioria age de forma irresponsável, poluindo o ambiente. As melhores práticas empresariais no tratamento do lixo e no combate à onda cinza são as estratégias de reciclagem de materiais, que são reaproveitados no ciclo produtivo da empresa, reduzindo enormemente seus custos. Algumas empresas, como a Tetra Pak, a Coca-Cola, a Whirlpool, de produtos eletrônicos, já ingressaram nessa nova onda de combate ao cinza do clima, das cidades sujas e dos aterros sanitários repletos de dejetos e resíduos, e da aparência acinzentada dos lixões e lixinhos ainda existentes em ruas, terrenos e depósitos clandestinos que nos levam a crer que ainda vivemos na sociedade do lixo. R E S U M O
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