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SEXTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 148599/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA DE RONDONÓPOLIS APELANTE(S) MARES - MAPFRE RISCOS ESPECIAIS SEGURADORA S.A. APELADO(S) JOSE FRANCISCO DOS SANTOS Número do Protocolo: 148599/2013 Data de Julgamento: 12-03-2014 E M E N T A APELAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - INADIMPLÊNCIA EM CONTRATO DE CONSÓRCIO - SUB-ROGAÇÃO DO CRÉDITO - NÃO DEMONSTRADAS – INSCRIÇÃO NO CADASTRO DOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO – APONTAMENTOINDEVIDO – DANOMORAL – CONFIGURADO - DÍVIDA INEXISTENTE - QUANTUM FIXADO – RAZOÁVEL – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Demonstrado o ato ilícito com a inscrição do nome do autor nos cadastros de proteção ao crédito, por dívida inexistente, nasce a obrigação de indenizar, independentemente da prova de prejuízo, porque nessa hipótese o dano é presumido, basta a prova da ocorrência do fato que o gerou. O valor da indenização por danos morais atende aos critérios da razoabilidadee proporcionalidade, de forma que não merece reparo. Fl. 1 de 7 SEXTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 148599/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA DE RONDONÓPOLIS APELANTE(S) MARES - MAPFRE RISCOS ESPECIAIS SEGURADORA S.A. APELADO(S) JOSE FRANCISCO DOS SANTOS R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES Egrégia Câmara: Cuida-se de Recurso de Apelação interposto por MAPRES - MAPFRE RISCOS ESPECIAIS SEGURADORA S.A., de sentença que julgou procedente a Ação Declaratória de Inexistência de Dívida c/c Indenização por Danos Morais ajuizada por JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS, para declarar a inexistência da dívida que motivou a restrição cadastral e condenar a requerida, apelante, ao pagamento da indenização no montante de 10 (dez) saláriosmínimos,a título de dano moral. Sustenta que a negativação do nome do autor é legítimae que o apelante não praticou ato ilícito, porquanto o apelado encontra-se inadimplenteem contrato firmado com o Consórcio NacionalHonda, cujo crédito fora sub-rogado ao apelante. Aduz que não há demonstração do suposto dano moral, de modo que não lhe assiste direito à indenização. Prequestiona violação aos artigos 5º, incisos II, X, LIV e LV, da Constituição Federal; artigo 14, § 3º, do CDC; e artigos 186, 927, 944 e 945, do Código Civil. Requer o provimento do recurso para afastar a condenação ou, alternativamente, reduzir o quantum indenizatório. É o relatório. À douta revisão. Cuiabá, 21 de fevereiro de 2014. Des. Guiomar TeodoroBorges Relator Fl. 2 de 7 SEXTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 148599/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA DE RONDONÓPOLIS V O T O EXMO. SR. DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (RELATOR) Egrégia Câmara: Cinge-se a controvérsia em saber se tem pertinência o recurso interposto por MAPRES - MAPFRE RISCOS ESPECIAIS SEGURADORA S.A., de sentença que julgou procedente a Ação Declaratória de Inexistência de Dívida c/c Indenização por Danos Morais ajuizada por JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS, para declarou a inexistência da dívida que motivou a restrição cadastral e condenou a requerida, apelante, ao pagamento da indenizaçãono montante de 10 (dez) saláriosmínimos,a título de dano moral. Verifica-se que o apelado teve seu nome inserido nos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito, em razão de débito originado de MAPFRE, referente a contrato de consórcio de motos nº 40906837005314, no valor de R$ 936,46 (fl. 27). De um lado, o apelado sustenta que não contratou com a apelante, caso em que o débito teria sido contratado por terceiro, que utilizou os seus dados indevidamente. De outro, a apelante sustenta que a negativação do nome do autor é legítima e que a apelante não praticou ato ilícito, porquanto o apelado encontra-se inadimplente em contrato firmado com o Consórcio Nacional Honda, cujo crédito fora sub-rogado à recorrente. Pois bem. Da análise ao feito, vê-se que não há como eximir a apelante da responsabilizaçãopelo dano moral. Em que pese ter colacionado cópia do Contrato de Consórcio, Grupo 06837 Cota 053, firmado em 14/04/2000, entre o apelado e o Consórcio Nacional Honda, que, segundo alega, o autor encontra-se inadimplente, deixou de comprovar que houve de fato a sub-rogação do crédito para a MARES - MAPFRE Riscos Especiais Seguradora S.A., que pudesse justificar a legitimidade da apelante para proceder à negativação do nome do autor, apelado, no caso de inadimplência. Ademais, verifica-se que o número do contrato apontado na anotação restritiva (fl. 21) se mostra diverso daquele indicado no contrato de consórcio acostado aos Fl. 3 de 7 SEXTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 148599/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA DE RONDONÓPOLIS autos pela apelante (fls. 81/84), de modo que não é possível concluir que se trata da mesma relação jurídica. Diante da falha apresentada, frisa-se, o apelado teve seu nome incluído em cadastro de maus pagadores, ao que parece, por dívida não contratada, porque não restou demonstrada a relação jurídica entre as partes litigantes. Desse modo, conclui-se que, para isentar a apelante da responsabilidade ora impingida, a prova de ingerência no evento danoso deveria ter sido demonstrada, o que não ocorreu. De outra parte, não há falar em ausência de comprovação do dano, porque sabe-se que a existência do registro indevido é fato suficiente para causar dano moral ao titular atingido. Nesse sentido: "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ALEGAÇÃO DE DÍVIDA NÃO CONTRATADA - ÔNUS DA PROVA DO RÉU - DESINCUMBÊNCIA NÃO CUMPRIDA - INSCRIÇÃO INDEVIDA NO CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DEVER DE INDENIZAR - VALORAÇÃO DO DANO - RAZOABILIDADE - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - FIXAÇÃO CONSOANTE APRECIAÇÃO EQUITATIVA - DETERMINAÇÃO DE EXCLUSÃO DO NOME DO CADASTRO DESABONADOR DE CRÉDITO - MULTA DIÁRIA POR DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO - COMINAÇÃO EM PATAMAR RAZOÁVEL. Se o autor/consumidor alega desconhecimento de dívida, cabe ao réu/prestador de serviço o ônus da prova, sob pena de ser declarada inexistente a obrigação, bem como responder por danos advindos de tal cobrança. A inscrição do nome do consumidor em cadastro desabonador ao crédito, quando inexiste dívida, constitui causa de dano moral puro, gerador do dever de indenizar, o qual não depende da existência de reflexos patrimoniais, nem da prova dos incômodos sofridos. Ao fixar valor da indenização deve-se ter em conta as condições do ofendido, do ofensor e do bem jurídico lesado. A indenização deve proporcionar à Fl. 4 de 7 SEXTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 148599/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA DE RONDONÓPOLIS vítima satisfação na justa medida do abalo sofrido, sem enriquecimento ilícito, produzindo, no causador do mal, impacto suficiente para dissuadi-lo de igual e semelhante atentado. Os honorários advocatícios devem ser fixados consoantes a apreciação equitativa do juiz, levando-se em consideração as especificidades do processo. A multa diária, por descumprimento de ordem judicial, fixada em valor razoável, deve ser mantida." (TJ/MG, Apelação Cível 1.0145.12.033581-8/001, Relator(a): Des.(a) Newton Teixeira Carvalho , 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/01/2014, publicação da súmula em 31/01/2014) Por sua vez, cumpre anotar que na espécie o dano moral é presumido, porque inerente aos direitos à personalidade do apelado que passou pelo vexame de ter a negativação de cadastro de compra no comércio. Na verdade, o dano evidencia-sepela simplesocorrência do fato gerador, com a violação da esfera jurídica e moral do lesado. Dispensada é a demonstração em juízo do dano moral, que decorre, frisa-se, da própria ilicitudedo fato. Nesse sentido, é o ensinamentode Sérgio CavalieriFilho: “Entendemos, todavia,que por se tratar de algo imaterial ou ideal, a prova do dano moral não pode ser feita através dos mesmos meios utilizados para a comprovação do dano material. Seria uma demasia, algo até impossível, exigir que a vítima comprove a dor, a tristeza ou a humilhação através de depoimentos, documentos ou perícia; não teria ela como demonstrar o descrédito, o repúdio ou o desprestígio através dos meios probatórios tradicionais, o que acabaria por ensejar o retorno à fase da irreparabilidade do dano moral em razão de fatores instrumentais. (...) o dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras de experiência comum. (...)” (in “Programa de Responsabilidade Civil”,10ª ed., Atlas, 2012, p. 97). Fl. 5 de 7 SEXTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 148599/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA DE RONDONÓPOLIS De sorte que se a prova demonstra o fato gerador da responsabilidade, vale dizer, a conduta da empresa apelante em inscrever indevidamente o nome do apelado nos órgãos de proteção ao crédito, sem a devida cautela, impõe-se o dever de indenizar. Dessa maneira, mesmo ausente prova quanto ao efetivo prejuízo sofrido em virtude do evento danoso, o que releva é que o registro levado a efeito era indevido e suficiente para configurar o dano moral que é ínsito à própria ocorrência da inscrição indevida e dispensa comprovação. Quanto ao arbitramento em danos morais, leva-se em conta as circunstâncias do caso concreto, as condições das partes, o grau de culpa e, principalmente, a finalidadeda reparação do dano moral, que é a de compensar o dano ocorrido, bem como inibira conduta abusiva. Deve-se atentar, ainda, para o princípio da razoabilidade, a fim de que o quantum não seja meramente simbólico, passível de retirar o caráter reparatório da sanção, mas, também, de modo que não seja extremamente gravoso ao ofensor. Ao sopesar esses fatores, tem-se que a condenação a título de danos morais fixada em 10 (dez) salários mínimos, mostra-se adequada ao caso em comento, porque arbitrada em conformidade com os princípiosda razoabilidade,moderação e proporcionalidade. Por fim, quanto ao prequestionamento suscitado pelo apelante, ressalta-se que para solução da questão, não há necessidade do órgão colegiado citar os dispositivos usados. Importa que o acórdão aprecie integralmente a questão trazida ao feito com a devida fundamentação. Prequestionamento não verificado, por ausência de ofensa aos dispositivos indicados. Posto isso, nega-se provimento ao recurso e mantém-se a sentença que julgou procedente a Ação Declaratória de Inexistência de Débito c/c Indenização por Danos Morais. É como voto. Fl. 6 de 7 SEXTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 148599/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA DE RONDONÓPOLIS A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEXTACÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. GUIOMAR TEODORO BORGES, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (Relator), DESA. SERLY MARCONDES ALVES (Revisora) e DES. ADILSON POLEGATO DE FREITAS (Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão:RECURSO DESPROVIDO, À UNANIMIDADE. Cuiabá, 12 de março de 2014. --------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADORGUIOMAR TEODORO BORGES - RELATOR Fl. 7 de 7
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