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Milton Guedes Nota DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 1 Aula 6: Ferramentas de gestão policial ......................................................................................... 2 Introdução ................................................................................................................................. 2 Conteúdo .................................................................................................................................... 3 A experiência do COMPSTAT no programa tolerância zero de Nova York ................... 3 Programa de Tolerância Zero ................................................................................................. 3 O COMPSTAT ............................................................................................................................. 5 Críticas ao COMPSTAT ............................................................................................................. 8 COMPSTAT e outros modelos de gestão em segurança pública no Brasil .................. 10 Outros sistemas de segurança .............................................................................................. 14 Policiamento orientado ao problema – POP (problem-oriented policing) ................. 18 Método IARA ............................................................................................................................. 20 Etapa de identificação (scanning) ........................................................................................ 22 Etapa de análise (analysis)...................................................................................................... 27 Etapa de responder (response) ............................................................................................. 28 Atividade proposta .................................................................................................................. 31 Aprenda Mais ........................................................................................................................... 31 Referências............................................................................................................................... 33 Exercícios de fixação ............................................................................................................. 35 Notas ........................................................................................................................................... 39 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 40 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 2 Introdução Nesta aula, conheceremos como o COMPSTAT se tornou referência de modelo de gestão policial e foi o pontapé inicial para diversos outros modelos no mundo, inclusive no Brasil. Conheceremos também como se desenvolveu o Policiamento Orientado ao Problema e o método de análise criminal IARA. Objetivo: 1. Compreender como o COMPSTAT se tornou referência de modelo de gestão policial e foi o pontapé inicial para diversos outros modelos no mundo, inclusive no Brasil; 2. Conhecer o método de análise criminal IARA. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 3 Conteúdo A experiência do COMPSTAT no programa tolerância zero de Nova York A partir do século XIX, Nova York recebeu imigrantes de várias partes do mundo. Pessoas fugindo da miséria no exterior encontraram nos EUA, sobretudo, na Big Apple, a oportunidade de refazerem a vida. Contudo, a maciça imigração para a cidade proporcionou algumas mazelas sociais. Houve favelização, surgimento de gangs, e, nas décadas de 20 e 30 e 40 do século XX – sobretudo após a crise da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 –, a fortificação do crime organizado. Em tal período, a segurança pública nova-iorquina foi desafiada a combater a máfia. A partir da década de 1960, os índices criminais na cidade aumentaram drasticamente, alcançando patamares estratosféricos na década de 1990, fazendo com que a cidade ganhasse a alcunha de a mais violenta do mundo. Foi na gestão do prefeito republicano Rudolph Giuliani, a partir de 1994, que se começou a reconfigurar a segurança na cidade. Capitaneada pelo Chefe de Polícia William Bratton, houve inúmeras mudanças estruturais na Polícia e na Política de Segurança. Em 2005, das dez maiores cidades estadunidenses, Nova York se tornou a que possui as menores quantificações criminais. A seguir, vamos entender como foi o Programa de Tolerância Zero em Nova York. Programa de Tolerância Zero O polêmico Programa de Tolerância Zero foi originado da filosofia law and order americana, ou seja, o império da lei sobre qualquer desvio de conduta. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 4 O programa foi construído sobre a Teoria das Janelas Quebradas, elaborada por: James Q. Wilson (cientista político); George Kelling (psicólogo). Tal teoria explica que a desordem em determinada localidade pode acarretar o surgimento de comportamentos considerados delinquentes. Desse exposto, podemos citar como elementos da desordem a existência de locais com pichação ou depredação, a presença de moradores de rua, logradouros sujos etc. Logo, atuando sobre os pequenos atos de desordem, é possível diminuir os atos delinquentes mais gravosos, considerados até criminosos, haja vista que há uma inter-relação entre condutas. Há inúmeros estudos criminológicos que apontam para tal teoria, sobretudo quanto à relação dos aspectos ambientais e o aparecimento do fenômeno delitivo. Todavia, relevante salientar, não é pacífica a aceitação da citada Teoria, bem como do Programa de Tolerância Zero. Para os críticos das “Janelas Quebradas”, não há o devido embasamento científico, pois o estudo original adveio de provas de cunho empírico, e com um texto de nove páginas publicado em uma revista cultural estadunidense. Fato é que o Programa de Tolerância Zero em auxílio a outras ações de estado, principalmente com a implantação do COMPSTAT, a joia da coroa, segundo Giuliani, promoveu uma queda abrupta dos indicadores criminais a partir de 1994. Vamos aprofundar mais sobre o assunto, a seguir. No gráfico a seguir, a exemplo da citada redução, podemos perceber a queda de homicídios a partir do mandato do prefeito Giuliani. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 5 Figura 1 – Taxa de homicídios em Nova York de 1986 a 1998 O COMPSTAT Como um modelo inovador de gestão, o Complaint Statistcs – COMPSTAT deu início a uma reconfiguração do planejamento policial, além de ter se tornado um sistema de prestação de contas. O projeto não se limita a um sistema computadorizado, a um software, mas inaugura um padrão de visão calcada na administração de empresas. Para alguns autores (Greene, 2007, por exemplo), ele é o sistema de gestão policial de maior importância nos Estados Unidos a partir da segunda metade do século XX. Possibilita o adequado processamento de dados e consequente disseminação de informações, atividades de inteligência precisas e a implementação rápida dos recursos logísticos, humanos e operacionais. A Police Foundation estabeleceu sete elementos-chave do COMPSTAT (GREENE apud WEISBURD, 2007, p. 224): DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 6 • Estabelecimento de objetivos/missões; • Controle administrativo interno (accountability); • Organização geográfica dos Comandos Operacionais; • Flexibilidade organizacional;• Identificação e avaliação de problemas através de bancos de dados; • Inovação nas técnicas de solução de problemas; • Compartilhamento de informações. No modelo, há a previsão de inúmeros relatórios estatísticos, visando ao monitoramento dos indicadores criminais, bem como a avaliação do planejamento estratégico. Também há o uso de sistemas de informações geográficas (SIG). Inicialmente, com base nos relatórios, são feitas reuniões com os comandantes dos distritos policiais e com gestores de escalões superiores. As reuniões costumam ocorrer semanalmente, mensalmente e semestralmente. Há também reuniões comunitárias, criando um espaço aberto para o diálogo entre policiais e cidadãos, com escopo de solucionar problemas locais ou infrações que mais perturbam a comunidade. A seção responsável pelo COMPSTAT também faz relatórios do perfil do comandante, semanalmente, e da qualidade de sua gestão. Relevante salientar que, para o sucesso das reuniões, é necessário que haja uma efetiva análise criminal das áreas de policiamento sob a égide dos gestores. Ou seja, deve-se saber o perfil criminal, vitimológico, bem como a mensuração georreferenciada dos delitos para que das reuniões se logre descobrir soluções para as problemáticas existentes. E não podemos deixar de destacar que, apesar de algumas literaturas assemelharem o COMPSTAT com a análise criminal, as metodologias e DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 7 finalidades são distintas. Nesse diapasão, a International Association of Crime Analysts (IACA) rejeita o modelo estratégico ora estudado como tipo de análise criminal. Relatórios confeccionados pelo Departamento de Polícia de Nova York. Figura 2 – Relatório semanal de 15 a 21 de dezembro de 2014, da NYPD. Fonte: COMPSTAT Unit. NYPD1. 1 http://www.nyc.gov/html/nypd/html/crime_prevention/crime_statistics.shtml, acessado em 02 de janeiro de 2015. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 8 Pelo Relatório, podemos perceber que há o monitoramento de determinados indicadores criminais através de uma perspectiva histórica, além das comparações 2013-2014, por semana do documento, por mês e ano, com diferenças percentuais e em números absolutos. Costumam ser utilizados inúmeros Indicadores criminais. No exemplo acima, são empregados: homicídios dolosos, estupros, roubos, furtos, roubos com injusta agressão (felony assault), apropriação indébita etc. Críticas ao COMPSTAT Apesar de ser um modelo que rompeu paradigmas de gestão, servindo de parâmetro para inúmeras polícias dos EUA e do mundo, o COMPSTAT não está livre de críticas. De início, apesar de se atribuir a esse sistema de gestão e à Política de Tolerância Zero a redução de criminalidade, Levitt, Clark e Eck, entre outros pesquisadores, apontam outros motivadores para o sucesso: A queda da venda do crack a partir da década de 1980; A reconfiguração do tráfico de drogas, tornando-o menos visível e varejista e de entrega domiciliar; Gentrification – alteração dos padrões socioeconômicos nos bairros considerados violentos e, consequente, valorização imobiliária e deslocamento das famílias de menor renda; Formação de 5.000 novos policiais a partir de 1994; Combate intenso à corrupção policial; Integração do Departamento de Polícia de Trânsito com o Departamento de Polícia de Nova York etc. Outrossim, houve sérias acusações de erros na quantificação criminal. As pressões sobre os Comandantes Operacionais, gestores de determinadas áreas de policiamento, teriam facilitado o gaming, ou seja, a manipulação dos indicadores criminais. Todo o início do século XXI foi marcado por tais DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 9 denúncias, inclusive com alegações de que a vitimização quantificada em hospitais não correspondia com o que era reportado pela polícia. Quanto à capacidade de solução de problemas, sobretudo de forma definitiva, há inúmeras críticas quanto à gestão policial utilizando exclusivamente o COMPSTAT. Para Clarke e Eck (2009), é o policiamento orientado ao problema (POP) o modelo de gestão mais inovador e eficiente – mais do que o COMPSTAT ou o policiamento comunitário. Para os autores, o COMPSTAT limita-se a reduzir os hot spots de crimes, enquanto o POP tem por escopo descobrir as origens de um problema repetitivo, de forma repressiva, mas principalmente preventiva, tentando, logo, solucionar as infrações de forma definitiva, com foco em um resultado em longo prazo. Para tanto, utilizam-se, além dos exames cuidadosos dos dados e seu adequado processamento: a análise das causas do padrão delitivo; estudos de criminologia ambiental; estudos de formas de prevenção e intervenção na cadeia causal; monitoramento e avaliações de impacto das medidas tomadas; aplicação do método IARA (identificação, análise, resposta e avaliação) etc. Fato é que o COMPSTAT é perfeitamente congruente com outros modelos de gestão. Seja com o POP, com o policiamento comunitário (que deve ser uma filosofia constante de gestão), ou mesmo com ações policiais calcadas na atividade de inteligência. Vamos acompanhar, a seguir, como funciona a gestão em segurança pública no Brasil. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 10 COMPSTAT e outros modelos de gestão em segurança pública no Brasil Na década de 1990, a segurança pública brasileira estava ainda impregnada em uma ideologia de confronto, um modelo belicista com objetivo claro de combate ao tráfico de drogas. Apesar de tal pensamento ser ainda uma constante, são inegáveis as mudanças na gestão policial brasileira a partir da década do ano 2000, como explicita o professor Luís Eduardo Soares no seu livro Meu Casaco de General: 500 dias no front da segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Na referida obra, abordam-se ainda os conflitos encontrados na tomada de decisões entre uma política de segurança pública mais efetiva e os desmandos de um governo desorganizado e improvisador. Infelizmente, fato é que – ainda hoje – há um desnivelamento em termos de gestão, governança corporativa e tecnologia entre os órgãos policiais brasileiros. Não há sequer compartilhamento de informação entre os estados membros da Federação, o que acarreta óbices na elucidação de inúmeros crimes, por exemplo. O modelo de gestão policial baseado no COMPSTAT surgiu efetivamente no Brasil a partir do início do século XXI. O sucesso da redução de criminalidade em Nova York fez com que as polícias brasileiras focassem nos mesmos passos do prefeito Giuliani a fim de tentarem reduzir a criminalidade brasileira. Fato é que não foi somente o COMPSTAT que influenciou a gestão de segurança no país. A análise criminal, o policiamento comunitário e o POP também tiveram grandes influências na reestruturação da segurança pública. Apesar da disparidade entre os órgãos policiais no país, é possível observar uma tendência de se alcançar um modelo de gestão de segurança pública similar. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 11 Um ponto positivo alcançado em alguns estados é a congruência de objetivos entre Polícia Militar e Polícia Civil. Em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, isso já é possível de se perceber. Embora o policiamento comunitário tenha se fortalecido a partir do século XXI no Brasil, fato é quetal modelo já vinha sendo discutido, estudado e – inclusive – “manualizado” por algumas polícias brasileiras desde a década de 1980. O coronel da PMERJ Carlos Magno Nazareth Cerqueira, na década de 1990, escreveu os “Cadernos de Polícia”, escritos que perduram até hoje e constituem leitura básica na formação em segurança pública. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a partir de 2009, integraram-se as circunscrições da Polícia Militar e Civil, da seguinte forma: RISP – Regiões Integradas de Segurança Pública: Objetivam a articulação territorial regional, no nível tático, da PMERJ com a PCERJ; citemos as regiões: 1ª RISP Capital (Zona Sul, Centro e parte da Norte); 2ª RISP Capital (Zona Oeste e parte da Norte); 3ª RISP Baixada Fluminense; 4ª RISP Niterói e Região dos Lagos; 5ª RISP Sul Fluminense; 6ª RISP Norte Fluminense e Noroeste; 7ª RISP Região Serrana. AISP – Áreas Integradas de Segurança Pública: Constituem a integração das circunscrições das Delegacias da Polícia Civil (DP) com as Áreas de Policiamento dos Batalhões da PMERJ, utilizando-se como parâmetro o limite geográfico da Polícia Militar. A AISP corresponde às áreas de policiamento de um batalhão (bem maiores) com as circunscrições das delegacias (territorialmente menores). Atualmente, temos 39 AISPs, ou seja, 39 áreas de batalhões integradas com as áreas de delegacia. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 12 CISP – Circunscrições Integradas de Segurança Pública: Já na CISP temos como referência o recorte geográfico das delegacias. As companhias de cada batalhão da PMERJ devem se enquadrar às circunscrições das DPs. Estes avanços no Rio de Janeiro, em muito, foram proporcionados pela criação do Instituto de Segurança Pública (ISP). Assim se expressa seu mister: “O Instituto de Segurança Pública é uma autarquia criada em 1999 com o objetivo de colaborar com a promoção dos saberes comuns à segurança pública, desenvolvendo projetos em parceria, pesquisas e análise criminal, além de um extenso conjunto de ações facilitadoras ao necessário diálogo entre as expressões da segurança estatal e a sociedade civil.” 2 Como os principais produtos do ISP, podemos citar: a Taxa de Elucidação de Crimes (Resultado Investigativo) da PCERJ; Balanço de Incidências Criminais; o Boletim Mensal de Monitoramento e Análise; indicadores criminais por RISP, AISP, CISP, Unidades de Polícia Pacificadora da PMERJ (UPP) e Unidades de Polícia Ambiental da PMERJ (UPAm). Abaixo, podemos visualizar um dos relatórios estatísticos elaborados pelo ISP. Note a evidente semelhança com o COMPSTAT nova-iorquino: Fonte: COMPSTAT Unit. NYPD3. 2 http://www.isp.rj.gov.br/Conteudo.asp?ident=1, acessado em 08 de dezembro de 2015. 3 http://www.nyc.gov/html/nypd/html/crime_prevention/crime_statistics.shtml, acessado em 02 de janeiro de 2015. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 13 Fonte: Instituto de Segurança Pública (ISP). Disponível em http://www.isp.rj.gov.br/ResumoAispDetalhe.asp?cod=201411&mes=11&ano=2014, acessado em 08 de janeiro de 2015. O supracitado relatório expõe a comparação trimestral (setembro, outubro e novembro) entre os anos de 2013 e 2014, bem como o acumulado (janeiro a novembro) entre os mesmos anos. Note que no mapa é demonstrado o recorte geográfico correspondente a AISP 23, Área de Policiamento do 23º DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 14 BPM (Leblon), os bairros insertos, e a localização do BPM e das DPs correspondentes. Outros sistemas de segurança Em São Paulo, podemos expor como destaque o Sistema de Informações Criminais (INFOCRIM). Tal sistema é – na verdade – a interligação das informações produzidas pela Polícia Militar e a Polícia Civil; por exemplo, ao se registrar uma ocorrência em alguma Unidade Policial, automaticamente se georreferencia o delito praticado, possibilitando o acompanhamento quase em tempo real da mancha criminal. Em verdade, o grande ganho do INFOCRIM é o compartilhamento de dados entre as polícias estaduais, facilitando a prevenção e repressão criminal. Também, em Minas Gerais, observa-se um sistema similar: Registro de Eventos de Defesa Social (REDS). Em tal registro, há a integração total dos registros criminais e administrativos realizados pela Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar e Polícia Civil. No Rio de Janeiro, ainda não há integração entre os bancos de dados. Toda a análise criminal feita no estado é condicionada por filtros de registros da Polícia Civil, ou seja, por um lado, não se tem acesso a algumas informações registradas pela Policia Civil, como o modus operandi do criminoso. Isso dificulta o planejamento da Polícia Militar; e, de outro lado, os dados insertos no Boletim de Ocorrências da Polícia militar (BOPM) não são acessados pela Polícia Civil. Para entender sobre reunião em níveis, outro modelo de gestão do sistema de segurança pública no Brasil encontrado no COMPSTAT, veja tabela a seguir: DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 15 Outra característica existente em alguns modelos de gestão do sistema de Segurança Pública no Brasil, que é encontrado no COMPSTAT é a reunião em níveis. No Rio de Janeiro, por exemplo, há 04 (quatro) níveis de reuniões de acompanhamento de resultados do Sistema de Metas para a Segurança Pública, a saber: Quadro 1: Níveis de Reuniões Reunião Objetivo Principal Frequência máxima de ocorrência * Nível 1 (Estado) Reporte gerencial à SESEG pela RISP do andamento executivo das ações planejadas, para validação ou eventuais ajustes estratégicos. Trimestral Nível 2 (RISP) Reporte gerencial aos responsáveis por uma RISP, pela AISP, do andamento executivo das ações planejadas, para validação ou eventuais ajustes táticos. Trimestral Nível 3 (AISP) Construção pelos responsáveis por uma AISP do Plano de Ação Integrado e verificação do andamento executivo das ações planejadas, para eventuais ajustes tático-operacionais. Trimestral Nível 4 (CISP) Acompanhamento gerencial da execução dos Planos de Ação Operacionais pelas polícias. Mensal Tais reuniões, de acordo com o nível, têm por escopo integrar as ações entre Polícia Militar e Polícia Civil, a fim de alcançarem as metas de redução pré- estabelecidas. Perceba, no esquema abaixo, a relação de faróis de cada AISP da 3º RISP (Baixada Fluminense) no indicador “Roubo a Transeunte”. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 16 Tabela 1 - Painel com faróis no indicador criminal “Roubo a transeunte”, na 3ª RISP. Fonte: Extraído do Manual de procedimentos para o sistema de metas e acompanhamento de resultados. Tais faróis são disponibilizados tanto para os Gestores das Polícias Civis quanto para os gestores da Polícia Militar. É de acordo com os problemas encontrados que se estabelecerá reuniões com o objetivo de resolver o problema em tela; ou seja, o aumento criminal sinalizado pela cor vermelha. No esquema abaixo, veja como se dá os diferentes níveis de reuniões: Tabela 2 - Painel relacionando o desdobramento de reuniões por níveis. Fonte: Extraído do Manual de procedimentos para o sistema de metas e acompanhamento de resultados. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 17 Os níveis de reunião acontecem de acordo com o indicador que se encontra abaixo da meta. Perceba que em nívelestadual, o “roubo de rua” foi o indicador que se encontra no “vermelho”. Houve reuniões de níveis 3 e 4 nas na AISP 03, e reuniões de nível 1 e 2 nas RISP 01 e 03. Em nível estratégico, durante a reunião de nível 1, fez-se ou desencadeou-se um Plano de Ação. O COMPSTAT surgiu em um cenário de instabilidade social, com os alarmantes índices de criminalidade, e veio a criar um sistema integrado inovador na seara de segurança pública de Nova York. Os resultados positivos tornaram esse modelo de gestão parâmetro para outras cidades e estados nos EUA, bem como para o mundo, deixando como legado um conjunto de procedimentos gerenciais extremante úteis para a redução criminal. Contudo, há também críticas ao sistema. No presente estudo, evidenciou-se que não é o modelo exatamente a “tábua de salvação” da sociedade, apesar de frequentemente ser propagandeado dessa forma. Além disso, tal estrutura pode favorecer a manipulação de dados a fim de “aliviar” as cobranças sobre os gestores policiais. No Brasil, torna-se evidente a influência do COMPSTAT na gestão de segurança pública, sobretudo no plano estratégico, ou seja, em nível de Secretaria Estadual de Segurança. Considerando a diversidade de exemplos que nos remetem ao modelo estadunidense, elencamos algumas boas práticas que tendem ser uma constante na gestão de segurança brasileira. Podemos perceber que não é o COMPSTAT a solução para a criminalidade. Deve-se alinhar tal modelo a outras ferramentas gerenciais e investir em DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 18 análise criminal, em uma gestão voltada para a orientação de problemas – e, sobretudo, deve-se atuar sob uma filosofia de proximidade com o cidadão. Policiamento orientado ao problema – POP (problem-oriented policing) Segundo Ronaldo V. Clarke e John E. Eck (p. 24), "Herman Goldstein introduziu o conceito de policiamento orientado-para- problema em um ensaio publicado em 1979. A sua ideia era simples. O conceito de policiamento deveria ser fundamentalmente sobre como alterar as condições que dão origem aos problemas de crime repetitivo e não deveria ser simplesmente sobre como responder a incidentes quando eles ocorrem ou tentar impedi-los através de rondas preventivas. A polícia considera desmoralizante retornar várias vezes ao mesmo local ou lidar várias vezes com problemas causados pelo mesmo pequeno grupo de infratores. A polícia sente- se sobrecarregada com o volume de chamadas de ocorrências e pela pressa em atendê-las, num esforço inútil de lidar com todas elas". A sociedade em geral já não aceita mais a "velha forma de fazer segurança" e almeja "novas formas de se fazer segurança", baseadas em metodologias para identificar e analisar causas de problemas, bem como novas soluções preventivas ou repressivas. Nesse cenário, aparece o conceito de Polícia Orientada para Problema, utilizado pelas cidades de Los Angeles e Chicago (experimento conhecido como COMPSTAT Tolerância Zero) e que tem mostrado efetivos resultados no combate ao crime. Mudanças como essas estão sendo implementadas através de métodos de gestão nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) ressalta que: DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 19 “No policiamento tradicional (rádio-atendimento) a ação do policial é como receitar um analgésico para quem está com dengue. Traz alívio temporário, mas não resolve o problema, pois o mosquito (vetor) permanece picando as demais pessoas. A solução é provisória e limitada. Como a polícia não soluciona as causas ocultas que criaram o problema, ele, muito provavelmente, voltará a ocorrer” (SENASP, 2007, p.199). Para tal, a polícia deve adotar métodos de solução de problemas utilizando informações obtidas com a comunidade e objeto de pesquisas etc. Os métodos envolvem quatro fases ou etapas: 1 – Exame cuidadoso dos dados para identificar padrões dos incidentes com os quais a polícia lida rotineiramente. 2 – Análise profunda das causas desses padrões (ou problemas). 3 – Descobertas de novas formas de intervir previamente na cadeia usual, causal, a fim de que esses problemas sejam menos prováveis de ocorrerem no futuro. Essas novas estratégias não são limitadas aos esforços para identificar, prender e oficialmente acusar e julgar infratores; mais do que isso, sem abandonar o uso do Direito Penal quando ele parece ser provavelmente a resposta mais eficiente, o policiamento orientado ao problema procura descobrir outras respostas potencialmente efetivas dando grande prioridade à prevenção. 4 – Avaliação de impacto das intervenções. Se tais intervenções não tiverem sucesso, deve-se iniciar o processo novamente. Essas fases são utilizadas pelo método IARA na solução de problemas do crime, o que será também objeto de estudo nas aulas de “Gerenciamento de TIC em Segurança Pública” – entretanto, sob o enfoque do estudo da tecnologia empregada na aplicação da metodologia. O termo é originário da sigla S.A.R.A. (scannig, analysis, response e assessment) ou IARA (identificação, análise, resposta e avaliação, traduzido para o português). DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 20 Método IARA Método concebido na década de 70 por Herman Goldstein, professor de Direito e consultor do departamento de Polícia de Chicago, onde foi levantado o questionamento em relação à eficiência do modelo profissional de polícia de controlar e prevenir o crime. O objetivo desse método é estudar o crime e suas causas para otimizar as soluções, concentrando os esforços nos problemas mais relevantes da comunidade. Segundo Souza (2008, p. 92-93): “No modelo tradicional, espera-se que os policiais a cada turno respondam rapidamente às chamadas de emergência e estejam liberados para atender às próximas chamadas. Nesse ciclo vicioso, raramente os policiais compartilham informações com seus pares sobre os problemas enfrentados no seu dia a dia e as formas alternativas de solucioná-los. Isso tem dificultado a condução de uma análise mais precisa sobre problemas repetitivos, similares e muitas vezes comuns que ocorrem frequentemente em locais específicos. Como consequência, a habilidade do policial em resolver problemas tem resultado mais da sua experiência individual e do seu conhecimento prático do que de um processo criativo, fundamentado em um método analítico consistente. É necessário, pois, maior comprometimento das organizações policiais com um modelo de gestão de informação e resultados que amplie o potencial das mesmas de questionar e investigar de maneira sistemática a natureza de problemas substantivos para os quais o público espera uma resposta, bem como de implementar formas mais eficazes e pró-ativas de solucioná-los. Policiais devem ser capacitados e treinados para se tornarem experts na solução de problemas, aprimorando sua habilidade em utilizar ferramentas analíticas com base na metodologia científica, que lhes permitam, mais do que reagir aos problemas de crime, intervir nas causas que contribuem para sua emergência, identificando respostas alternativas, bem como novos mecanismos de avaliação e monitoramento de resultados”. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 21 Nesse universo, nasce a figura do analista de crime, profissional com conhecimento multidisciplinar em áreas como a matemática, estatística e computação, responsável pela coleta, armazenamento, tratamento e difusão de informações de boletins de ocorrências e/ou fontes de dados tendo comoferramenta processos computacionais e bases de dados. Os analistas possuem como função básica: • Controlar e sistematizar informações e dados oficiais; • Criar, organizar e alimentar banco de dados; • Analisar e mapear estatísticas sobre a distribuição temporal e geográfica do crime; • Criar tabelas e gráficos para facilitar a interpretação desses dados. • Analisar a evolução e as tendências da criminalidade; • Organizar relatórios estatísticos periodicamente; • Fornecer informações sistematizadas para executivos e gerentes de corporações policiais. O produto do trabalho de um analista são relatórios e dados estatísticos sobre a tendência da criminalidade, utilizados como base para orientar o processo e tomada de decisões, planejar intervenções pontuais em locais ou alvos que foram identificados como prioritários, avaliar e monitorar os resultados. O método de solução de problemas IARA é composto de quatro estágios: DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 22 O método IARA tem se mostrado altamente eficiente na coleta de informações criminais. A exemplo disso, podemos citar a experiência obtida na Inglaterra, onde foram extraídos os seguintes dados estatísticos de uma base de dados criminal: • Em estudo realizado, foi encontrado o fenômeno da repetição, ou seja, 50% das vítimas acabam passando pela experiência de repetição do crime. Observa- se, pois, que alguns locais estão mais propensos à falta de segurança do que outros. • Surgiu também o fenômeno da vitimização crônica: 4% das vítimas correspondem a 44% das chamadas. Caracteriza-se, portanto, a existência um grupo de pessoas mais sensíveis ao crime, o que indica a necessidade de atenção especial a elas. • Os crimes estavam relacionados a uma determinada área ou território: 50% das chamadas são relacionadas com ocorrências em localidades que correspondem a 10 % do território. Observa-se que algumas pessoas possuem hábitos que ameaçam a sua segurança e as tornam alvos fáceis e compensadores. Etapa de identificação (scanning) Essa etapa é considerada a etapa vital do processo, pois nela são identificados os problemas através de geoprocessamento e análise estatística de dados. Faz- se uso de uma grande gama de dados para gerar as informações necessárias aos gerentes e coordenadores de segurança. Um problema é qualquer situação (ou ocorrências criminais similares) que cause alarme ou dano, ameaça ou medo e, além disso, preocupação da polícia e da comunidade de forma a gerar distúrbios em ambas. Tem por objetivos realizar levantamento preliminar para determinar o problema e se existe a necessidade de se obter e determinar a qualidade das informações que podem impactar diretamente na solução do problema. Essas informações DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 23 podem ser provenientes da comunidade ou de outras fontes, como pesquisas, revistas etc. Nessa fase, identificamos os aspectos da similaridade entre as ocorrências criminais. São eles: Comportamento: atividades afins desenvolvidas pelos infratores, como venda e consumo de drogas, pichação, vandalismo, roubos, furtos etc. Localização: áreas onde os eventos costumam ocorrer, ou seja, as “zonas quentes de criminalidade”, como áreas com pouca iluminação, Centro da cidade, terrenos baldios etc. Pessoas: vítimas mais sensíveis. Tempo: denota quando o ato criminoso ocorre, seja durante o dia, à noite, ao entardecer, todos os dias, horários específicos etc. Eventos: Copa do Mundo, Olimpíadas, Carnaval, shows etc. Exemplo de busca de similaridade: "Paulo José, estudante do ensino médio, no colégio Venina Torres, foi flagrado no horário do intervalo fazendo uso de maconha com alguns amigos. Paulo tem um ponto de encontro, onde se reúne diariamente na praça do skate com alguns amigos.” “A padaria do Seu Joaquim foi roubada 5 vezes na última quinzena, entre 16:30 e 18:30.” “Uma mulher de 28 anos foi estuprada numa casa vazia, a 50 metros da praça do skate, quando retornava do trabalho por volta das 20:00". Analisando a situação acima, podemos propor algumas soluções para o casos. Acompanhe! DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 24 Aspecto de similaridade Descrição Comportamento Uso de drogas, atentado a costumes (estupro), Roubo. Localização Praça do skate, casa vazia, Colégio e Padaria do seu José Pessoas Paulo José, Joaquim da padaria, Tempo Final da tarde e regresso da escola noturna. Tendo como base os dados coletados podemos desenvolver o quadro de classificação dos problemas no policiamento, conforme modelo abaixo: CRIME MEDO DO CRIME DESORDEM Participantes / Telefones Vale ressaltar que cada quadro deve ser preenchido no máximo com sete problemas, devendo ser priorizado os mais importantes, Classificá-los corretamente em crime, medo do crime ou desordem. Deve ser observado se o problema escolhido é pequeno ou o mesmo deverá ser fracionado em subproblemas. Abaixo um exemplo de um quadro de classificação dos problemas: CRIME DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 25 MEDO DO CRIME DESORDEM - Roubo a Transeuntes. - Transeuntes com medo de fazer compras no horário comercial. - Grafitagem não autorizada em prédios públicos. - Assalto a estabelecimentos comerciais. - Comerciantes fechando o comércio devido a "toque de recolher - Prostituição de adolescentes próximo aos bares. - Tráfico de drogas. - Crianças como medo de brincar nos parques. - Lotes vagos e sem cercamento. - Furto a residências. - Desconfiança entre vizinhos - Veículos abandonados. - As pessoas têm medo de reportar problemas à polícia e outras autoridades. - Prédios abandonados e sem manutenção. Participantes / Telefones 1) Delegado - Vanderlei Ramos ( 99999-9999) 2) Cmt Cia - Cap Bernardo (88888-8888) 3) Diretor do Colégio - Magno Maurício (77777-7777) Cenários como os apresentados são simples; mas, quando se tratam de situações reais, existe uma complexidade de fatos que pode gerar algumas circunstâncias variadas. Nesses casos, deve-se fazer uso de uma técnica de priorização de impactos, tendo em vista os poucos recursos disponíveis para a solução do caso; DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 26 utilizamos a chamada matriz GUT, que permite uma visão no que tange à priorização de resolução de casos. Nessa matriz, são pontuados os seguintes tópicos: Gravidade: trata-se do impacto do problema sobre as vítimas e alvos do criminoso; Urgência: trata da relação tempo-pessoal disponível para a solução do problema; Tendência: trata-se da avaliação da tendência de crescimento, redução ou desaparecimento do problema. Os tópicos são pontuados de acordo com a tabela abaixo: Utilizando a tabela de pontuação teremos uma matriz GUT, que apontará quais ações criminais devem ser priorizadas. Conforme demonstrado, deve-se priorizar os assaltos a estabelecimento e o tráfico de drogas. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 27 Etapa de análise (analysis) Esta etapa é considerada crucial no que tange a investigação de fatores de causa, relação, identificação de padrões, evoluções e tendências do problema. Utiliza-se as informações levantadas na fase de identificação para revisão, comparação, seleção e interpretação das soluções. Tem por objetivo, aprendero máximo sobre o problema para identificar as suas causas. Conforme vimos anteriormente, são necessários 3 fatores para que um problema venha ocorrer, um local, um agressor e uma vitima. Fundamentos que dão origem ao triângulo para análise do problema (TAP). A busca de soluções de crimes está totalmente baseada nos preceitos que envolvem esses fatores, pois o trabalho consiste em descobrir as informações sobre vítimas, agressores e locais. O entendimento desses fatos será a base para a efetivação de uma solução para o problema. Existem três grupos que podem contribuir na solução de problemas criminais, são eles: Os controladores: indivíduos que agem sobre os agressores, evitando que estes cometam um crime. Os guardiões: pessoas ou instituições que podem exercer qualquer controle sobre qualquer lado da TAP, de modo que o crime se torne improvável. Os administradores: pessoas que supervisionam ou administram locais. Algumas ferramentas podem ser utilizadas na análise de soluções, uma delas é o diagrama de Ishikawa ou diagrama de causas e efeito, também conhecido como diagrama de espinha de peixe. É uma ferramenta poderosa na solução de problemas e de fácil utilização, ou seja, não é necessário ser um especialista para utilizá-la. Um exemplo desse diagrama em um restaurante. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 28 Etapa de responder (response) Nessa fase, a palavra-chave é a criatividade, pois devem ser desenvolvidas estratégias e alternativas de prevenção e controle de crime e outros problemas correlacionados; teremos cinco maneiras de lidar com o problema, como se segue: 1 – Eliminar totalmente o problema; 2 – Reduzir o número de ocorrências geradas pelo problema; 3 – Reduzir a gravidade dos danos; 4 – Lidar melhor com velhos problemas; DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 29 5 – Encaminhar o problema para outra autoridade não policial. Essa etapa é finalizada com a apresentação de um plano de ação, que deverá conduzir um checklist de atividades que precisam ser desenvolvidas com clareza para solução de um determinado problema. Nela, as atividades são mapeadas onde fica estabelecido: o que será feito; quem fará o quê, em qual período de tempo, em qual área; e os motivos pelos quais a atividade deve ser realizada. Existem várias ferramentas administrativas para análise de problemas. Veja um exemplo conhecido como Matriz 5W2H, que objetiva a análise de problemas. Com a conclusão do plano de ação e tendo ele mesmo como base, será confeccionado o cronograma de execução das atividades, obtendo-se assim um controle sobre a execução das atividades previstas para a solução do problema. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 30 Etapa de avaliação (assessment) Nessa fase, estão todos os produtos finais do processo – é o momento de uma avaliação do processo de implementação e de impacto das respostas. Também deve ocorrer o acompanhamento sistemático, e são reavaliados os processos que podem culminar no reinicio de uma ou mais atividades previstas para o método. Devem ser mensurados os resultados das estatísticas criminais, pesquisa de satisfação, valorização dos imóveis, número de empregos, número de terrenos baldios, redução da evasão escolar e utilização dos espaços públicos. O uso das ferramentas para o bem da segurança pública A grande vantagem do método IARA é auxiliar a equipe de analistas de problemas a formular perguntas relevantes para a identificação e definição dos problemas de forma mais precisa. O método é totalmente interativo, apesar de a conclusão de cada uma das etapas permitir trazer novos elementos para se repensar etapas anteriores. Podemos afirmar que uma fase posterior valida a fase anterior. Por exemplo, podemos necessitar rever a fase de identificação, tendo em vista problemas detectados na fase de análise em função de inconsistência de informações. Atualmente, as instituições de segurança pública devem fazer uso de uma polícia que seja calcada nos preceitos da polícia orientada ao problema. Devem ser investidos recursos no intuito de se conseguir manter e administrar bases de dados criminais, fazendo-se uso dos métodos e tecnologias para se ter uma nova forma de fazer segurança (parceria de confiança entre Estado e a sociedade). DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 31 Atividade proposta Conforme vimos em aula, apesar de ser um modelo que rompeu paradigmas de gestão, servindo de parâmetro para inúmeras polícias dos EUA e do mundo, o COMPSTAT não está livre de críticas. Discorra sobre um dos pontos negativos advindos de tal medida. Chave de resposta: O aluno poderá levar em consideração consequências como: Integração do Departamento de Polícia de Trânsito com o Departamento de Polícia de Nova York etc; A reconfiguração do tráfico de drogas, tornando-o menos visível e varejista e de entrega domiciliar; Gentrification – alteração dos padrões socioeconômicos nos bairros considerados violentos e, consequente, valorização imobiliária e deslocamento das famílias de menor renda; ormação de 5.000 novos policiais a partir de 1994 e Combate intenso à corrupção policial. Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre o caso de Nova York, leia a notícia: http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=newsarchive&sid=aHWGwSJjpbOU &refer=us Para aprender mais sobre análise de crime, leia o artigo: http://www.iaca.net/Publications/Whitepapers/iacawp_2014_02_definition_type s_crime_analysis.pdf Para saber mais sobre as acusações de erros na quantificação criminal, leia as seguintes notícias: http://www.nytimes.com/2010/02/09/nyregion/09mayor.html?_r=0 http://www.villagevoice.com/2005-10-25/news/these-stats-are-a-crime/ DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 32 http://nypdconfidential.com/columns/2003/030630.html Para saber mais sobre como Nova York conseguiu acabar com o grande índice de criminalidade, leia o artigo: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/nova-york-tambem-teve-sua-cracolandia- e-conseguiu-acabar-com-ela Para saber mais sobre combate ao crime, leia a matéria e o artigo indicados a seguir: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/para-nao-ser-uma-vitima-do-ladrao-pense- como-ele http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v19n55/a05v1955 DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 33 Referências ANDREWS, William; BRATTON, Willian J. What We’ve Learned About Policing. City Journal. 1999. Disponível em: http://www.city- journal.org/html/9_2_what_weve_learned.html Acesso em: 08 dez. 2015. BRAGA, Anthony. Problem-Oriented Policing and Crime Prevention. Monsey, New York: Criminal Justice Press, 2002. BRASIL. Curso Nacional de Polícia Comunitária. Portaria SENASP nº 014/2006. Brasília> Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2006. BRASIL. Diagnóstico dos Sistemas Estaduais de Segurança Pública. Ministério da Justiça, 2010. CLARKE, R. V. G.; ECK, John E. Crime Analysis for Problem Solvers in 60 Small Steps. US Department of Justice – COPS, 2009 FELSON, Marcus. Crime and everyday life. 3. ed. Sage Publications, 2002. GOLDSTEIN, Herman. Improving Policing: A Problem-Oriented Approach. Crime & Delinquency Abril, p. 234-258, 1979. GOLDSTEIN, Herman. On Further Developing Problem-Oriented Policing. In: Problem-Oriented Policing. From Inovation to Mainstream. Crime Prevention Studies, vol. 15, edited by Johannes Knutsson. Monsey, NewYork: Criminal Justice Press, 2003. GOLDSTEIN, Herman. Problem-Oriented Policing. New York: McGraw Hill, 1990. GREENE, Jack R. The Encyclopedia of Police Science. Vol. 1. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=HIE_zF1Rv7MC&pg=PA222&dq=compst at+police&hl=ptBR&sa=X&ei=5PapVKC9I4SLgwTGu4DgDQ&ved=0CB4Q6AEwA A#v=onepage&q=compstat%20police&f=false Acesso em: 08 dez. 2015. IACA. Definition and Types of Crime Analysis. Disponível em: http://www.iaca.net/Publications/Whitepapers/iacawp_2014_02_definition_type s_crime_analysis.pdf Acesso em: 08 dez. 2015. PERNAMBUCO. Boletim Trimestral da Conjuntura Criminal em Pernambuco – Pacto pela Vida. Secretaria de Defesa Social, 2011. POLICE FORUM. COMPSTAT: It’s origins, evolution, and future in law enforcement agencies. Bureau of Justice Assistance. Disponível em: http://www.policeforum.org/free-online-documents Acesso em: 08 dez. 2015. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 34 RIO DE JANEIRO. Manual de procedimentos para o sistema de metas e acompanhamento de resultados. SESEG, 2010. ROLIM, Marcos. Dissecando a “Tolerância Zero”. Disponível em: http://www.rolim.com.br/2006/index.php?option=com_content&task=view&id= 237&Itemid=5,%20acessado%20em%2023dez2014 Acesso em: 08 dez. 2015. SOARES, Luis Eduardo. Meu Casaco de General: 500 dias no front da segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Cia. das Letras, 2000. SOUZA, Elenice de. Explorando novos desafios na polícia: o papel do analista, o policiamento orientado para o problema e a metodologia IARA. In: PINTO, Andréia Soares; RIBEIRO, Ludmila Mendonça Lopes (org.). A análise criminal e o planejamento operacional. Coleção Instituto de Segurança Pública. Série Análise Criminal, v. 1. Rio de Janeiro, 2008. WEISBERD, David; BRAGA, Anthony. Police Inovation: Contrasting perspectives. Cambridge Studies in Criminology, 2006. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 35 Exercícios de fixação Questão 1 O Programa de Tolerância Zero, apesar das críticas recebidas, em grande parte, foi responsável pela redução da criminalidade em Nova York; ele foi construído com base na Teoria das Janelas Quebradas. Marque a alternativa que descreve o principal objetivo dessa teoria. a) Inovar a gestão policial por meio de um sistema de controle e prestação de contas à sociedade. b) Reduzir a desordem social que acarreta o surgimento de comportamentos considerados delinquentes. c) Compartilhar informações com outras forças policiais. d) Identificar e avaliar problemas através da análise de banco de dados. e) Planejar as ações policiais. Questão 2 O Complaint Statistics (COMPSTAT) deu início a uma reconfiguração do planejamento policial em Nova York. Segundo Greene (2007), o sistema de gestão se baseou em alguns elementos-chave. Marque a alternativa que não apresenta um elemento-chave: a) Estabelecimento de objetivos/missões. b) Controle administrativo interno (accountability). c) Reconfiguração do tráfico de drogas. d) Organização geográfica dos comandos operacionais. e) Flexibilidade organizacional. Questão 3 O COMPSTAT recebeu muitas críticas, apesar de ser um modelo que quebrou paradigmas na gestão policial. Quanto às criticas recebidas, uma delas se baseava no fato de que a melhora do padrão socioeconômico dos moradores DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 36 das regiões mais pobres foi o principal aspecto responsável pela redução criminal, devido ao afastamento das famílias de menor renda. Identifique a alternativa que descreve o nome dado a esse processo. a) Gaming b) Hot spots c) Felony assault d) Gentrification e) IACA Questão 4 Alguns autores assemelham o COMPSTAT com a análise criminal. Com base na definição da International Association of Crime Analysts (IACA), explique a diferença entre o COMPSTAT e a análise criminal. a) b) c) d) e) Questão 5 Explique a importância da integração entre os bancos de dados da Policia Civil e da Policia Militar tomando por base o exemplo do INFOCRIM e o REDS (estados de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente). a) b) c) d) DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 37 e) Questão 6 Com relação aos estágios do método IARA, ou SARA (em inglês), qual das alternativas abaixo não representa um dos estágios do método? a) Resposta b) Avaliação c) Identificação d) Analista criminal e) Análise Questão 7 O grande problema de alguns departamentos de polícia é envolver pessoal e material. Em função de alguns cenários de crimes serem altamente complexos, faz-se necessária, muitas vezes, a priorização de recursos para a solução de determinados casos. Para isso, utilizamos a matriz GUT. O tópico que trata do tempo de impacto do problema sobre as vítimas e alvos criminosos é conhecido como: a) Vítima b) Urgência c) Gravidade d) Tendência e) Análise Questão 8 Assinale abaixo qual das alternativas não representa uma das funções de um analista de crime. a) Controlar e sistematizar informações e dados oficiais. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 38 b) Criar, organizar e alimentar banco de dados. c) Analisar e mapear estatísticas sobre a distribuição temporal e geográfica do crime, e criar tabelas e gráficos para facilitar a interpretação desses dados. d) Analisar a evolução e as tendências da criminalidade. e) Desenvolver e projetar sistemas. Questão 9 O método IARA é altamente eficiente na coleta de informações criminais. Ele é composto por quatro fases, quais são elas? a) b) c) d) e) Questão 10 Descreva os processos realizados na fase de identificação do método IARA. a) b) c) d) e) DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 39 Hot spots: Em português, significa “pontos quentes”. Em segurança pública, seriam os locais onde há maior incidência criminal. DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 40 Aula 6 Exercícios de fixação Questão 1 - B Justificativa: O principal objetivo da Teoria das Janelas quebradas era o combate à desordem urbana, tendo como elemento-chave a deterioração do espaço coletivo, como depredações, prédios abandonados, pichações, presença de moradores de rua, lixo nas ruas. A teoria busca fundamentar que a desordem pode influencia o surgimento de comportamentos considerados delinquentes. Questão 2 - C Justificativa: A reconfiguração do tráfico de drogas, tornando-se mais varejista e menos visível, foi uma consequência da aplicação do programa. Questão 3 - D Justificativa: O processo chamado gentrification é o fenômeno que afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, valorizando a região e promovendo o afastamento das famílias de menor renda, que não conseguem se manter no local por causa do aumento do custo de vida. Questão 4 - B Justificativa: O COMPSTAT não pode ser confundido com análise criminal, tendo em vista que se trata de um modelo de gestão baseado em: técnicas da análise criminal para o adequado diagnóstico dos problemas; reuniões comunitárias para a prestação de contas; e descobrimento de novas soluções para as problemáticas existentes. Questão 5 - B Justificativa: O compartilhamento de informações por meio da integração das bases dedados permite maior amplitude dos dados e aumenta a qualidade da DADOS CRIMINAIS NA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA 41 informação coletada, resultando numa melhoria do planejamento policial e, consequentemente, facilitando a prevenção e a repressão criminal. Questão 6 - D Justificativa: As fases do método IARA (SARA) são: identificação, análise, resposta e avaliação. O analista criminal é o profissional que utiliza o método como provedor de informações sobre tendências criminais, que serão usadas como base para orientar os processos de decisão. Questão 7 - C Justificativa: O elemento que trata do tempo de impacto do problema sobre vítimas e alvos criminosos é a letra “g” da matriz GUT, que determina a gravidade do problema. Questão 8 - E Justificativa: Importante tomar como regra que a escolha do período de comparação deve ser um período normal, fugindo dos períodos atípicos. Por exemplo, se compararmos o mês de junho de 2014 com junho de 2013 ou 2012, veremos distorções causadas pelo fato da realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Outra coisa é evitar comparar períodos muito distantes entre si, afinal a dinâmica das mudanças na realidade social pode influenciar nos indicadores. Questão 9 - B Justificativa: O método de solução de problemas IARA é composto das seguintes etapas: identificação, análise, resposta e avaliação – o produto de saída de uma fase alimenta a fase seguinte, salienta-se. Questão 10 - B Justificativa: A fase de identificação é o momento em que são levantados todos os dados relevantes às ocorrências criminais para que sejam cruzadas e encontradas similaridades entre elas.
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