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Sociologia_Politica

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Do processo de formação da cultura política brasileira
Silvino Morais Barros
1
Resumo. De modo exploratório, este artigo pretende saber como brotou o processo de
socialização dos valores democráticos no Brasil, com base nas Constituições de 1824, 1967 e
1988. Além do mais, se pretende compreender três símbolos da cultura política brasileira, quais
sejam os Princípios Fundamentais, o Voto e a Representação Partidária. Por fim, abre-se o
debate sobre a importância de se compreender a cultura política no Brasil, pelo Brasil.
Palavras-chave: cultura política, democracia, voto, representação partidária.
Introdução
Após a exposição das Cartas brasileiras de 1824, 1967 e 1988, pretende-se atingir os
objetivos de envolver o processo de formação da cultura política brasileira com o foco de luz do
farol da sociologia. Após essa escolha epistemológica de agir, espera-se compreender como veio
sendo construído o processo de socialização de valores democráticos, dentro e fora do
Parlamento brasileiro, em campo político, para se questionar a manutenção e a reprodução de
certas práticas democráticas desse mesmo campo político.
No caso, a postura sociológica mantida, neste momento, é a de se interpretar a cultura
política brasileira em si. Assim, qualquer interpretação que tenha por base os fatos sociais
(análogos e diacrônicos) de culturas diferentes, será uma compreensão diferente – já que não dá
para comparar a escravidão brasileira com a muçulmana, por exemplo.
No entanto, não se pretende fazer uma investigação ingênua, a ponto de crer num Brasil
isolado do resto do mundo. Muito menos se pensará na formação da cultura política brasileira
sem fricção interétnica alguma. Portanto, acredita-se que diferentes culturas conviviam,
convivem e conviverão em nosso Brasil. Ele, tão recente diante da história do mundo, se fez
assim: entre diferentes ameríndios, com alguns nórdicos, muitos africanos e poucos asiáticos.
Pois bem, espera-se que esta análise de apenas três tipos idealizados de valores
democráticos ofereça algumas contribuições para se interpretar, pela tentativa de compreensão da
cultura política brasileira, a democracia brasileira. Assim, pelo bom andamento da pesquisa, é
suficiente para este artigo adotar como fatores (fenômenos-padrão) os que se seguem: os
princípios fundamentais, a instituição do voto e da representação partidária.
Depois, é claro, inicia-se a discussão da possibilidade de se fornecer aproximações, quiçá
algumas respostas possíveis à compreensão do processo de socialização de valores na cultura
política brasileira. Nisso, contextualizando o tema deste artigo, os três diferentes tipos de regimes
políticos brasileiros foram escolhidos porque se pretende compreender o processo de construção
da realidade social na qual as Constituições do Brasil surgiram.
Os discursos institucionais mais importantes de cada época, na opinião adotada neste
momento, estão contidos nas Cartas brasileiras, porque elas são fontes informacionais eqüitativas
da realidade política (normativa) de cada época estudada. Épocas nas quais acredita-se ter
surgido as primeiras manifestações democráticas do Brasil, formalmente registradas para os
cidadãos brasileiros. Nisso, para obter o registro fiel das normas ou das regras do jogo político do
país, desde de Império, nada melhor do que uma análise interpretativa e simbólica das Cartas
brasileiras.
O contexto no qual se encontra a pesquisa
A re-contextualização de diversos valores e sentidos, pela sociologia, revive diferentes
relações sociais que já ocorreram, ocorrem e que têm probabilidade de acontecer em sociedade.
Nisso, para analisá-las (intelectualmente) sob enfoque interacionista e simbólico, neste processo
investigativo (em cultura política), observa-se os dilemas contidos no meandro da senda
simbólica dos brasileiros. Porque nós possuímos cultura política própria, assim como existe em
qualquer democracia liberal, é que somos brasileiros. Somos compostos por um arcabouço de
conhecimentos (histórico, social, portanto cultural) que nos preenchem, como um esqueleto na
sustentação do corpo. Ou melhor, sustentação de nossa vida política de hoje.
O conjunto se símbolos e procedimentos que existem em nossa democracia atual é repleto
de sentidos que vieram sendo construídos, ao longo das gerações, desde os primórdios do Brasil.
É, portanto, de suma importância para a contextualização desta pesquisa, a sintonia com os
estudos que vieram sendo edificados tanto em sociologia quanto em política. Visto que desde
Weber a Giddens, muito se construiu na sociologia política é que, neste artigo, não se pensa
apenas na senda da ciência política e da sociologia da ciência, mas, na episteme ampliada do
conhecimento sociológico (interessando-se no sentido da ação social).
Sem dúvida, é verdade que exatamente aqueles elementos mais íntimos da
“personalidade”, ou seja, os últimos e supremos juízos de valor, que determinam
a nossa ação e conferem sentido e significado à nossa vida, são percebidos por
nós como sendo objetivamente válidos (Weber, 1999, p.111).
A (cosmo) visão pessoal, contida no âmago dos valores e na ética de cada indivíduo
(cidadão), serve de objeto aos sociólogos que estejam mais interessados nos sentidos das ações
sociais e, menos, nas explicações e comprovações cientificistas. Essas ações sociais a que se
dedicam os cientistas sociais se originam no self
i
de cada um de nós e, assim o sendo, são
herdadas e depois re-construídas. Os valores intrínsecos e extrínsecos, contidos nessas ações
sociais, são orientados aos outros, como numa troca de intenções, sentimentos e tradições. Diante
da detecção desse conjunto de valores (usos e costumes) intrínsecos e extrínsecos, quando se
falar em democracia, em igualdade de direitos e deveres se estará indo fundo, no âmago da
história da cultura política democrática brasileira.
Nesse arcabouço de conhecimento sobre nosso Brasil, se veio construindo diferentes tipos
de discursos (em sociologia e política) que foram, estão sendo e continuarão a ser testados,
validados e reproduzidos às gerações de pesquisadores subseqüentes. Nessa refazenda, está
adiante do senso comum a crítica deste artigo, sustentando-se no debate sobre o processo de
reprodução cultural
ii
, contido no processo de formação do conceito de democracia. Para tanto,
desbloquear-se-á (trazendo à tona) os traumas resultantes das práticas de violência simbólica
iii
,
registradas nas três Cartas selecionadas.
Portanto, o contexto no qual se encontra a pesquisa é o da compreensão dos sentidos das
ações desencadeadas com as instituições das Constituições observadas que, conseqüentemente,
chegam até os dias de hoje. Já que a cultura política brasileira é um capital durável de usos e
costumes, então essa rede de inter-relações simbólicas será amplamente transferível na cultura
brasileira: e o poder moderador, o poder militar e o poder democrático são exemplos disso.
O brasileiro possui seu caráter próprio, único, forjado pela sua personalidade e, acima de
tudo, que é exteriorizado pelo seu comportamento em sociedade (no exercício de sua cidadania).
Sua formação social, em sua cultura, faz do brasileiro misterioso, complexo e rico em
diversidade cultural: um campo prolífero de objetos sociológicos.
O comportamento humano (“ação”) que pode ser interpretado devido ao fato de
ter um “sentido”, pois pode ser determinado por “avaliações” e por
“significados”, é apreendido de maneira específica por nosso interesse causal
numa explicação “histórica” de determinado “indivíduo”. E finalmente, a práxis e
o comportamento humanos podem ser “compreendidos” de maneira “evidente”
na sua especificidade, na medida em que são orientados por avaliações
“significativas, ou confrontadas com essas (Weber, 1999, p. 93-4).
Nessa construção social do conhecimento, em sociologia muito se tem pesquisado sobre
as inter-relações entre cultura e política.Observando fatos tais como os estudados em Habermas
(2002), ao discutir o modelo americano de democracia, tida por liberal, em que se compreendeu
a formação da cultura política americana Por outro lado, na perspectiva alternativa de Giddens
(1996), reavivava-se os mesmos temas tais como democracia, desigualdade e poder na Inglaterra,
vista como ortodoxa. Além dos dois, com Przeworski (2003, p.09) compreendeu-se o processo
intelectual de construção do conceito de cultura política, em qualquer cultura. Essa compreensão
ampliada da cultura política geral chegou mais fundo do que a superficialidade dos conceitos e
dilemas da democracia liberal (igualdade, liberdade e representação). Esse sociólogo chegou a
ponto de levantar questionamentos acerca da preexistência do histórico, em cultura política,
como sendo (ou não) o fator social necessário à instalação de um regime político (e econômico)
democrático.
A partir disso, a democracia liberal
iv
tem se tornado um objeto focalizado constantemente
pela lanterna da sociologia política, em diferentes tons de cor ou discursos. No entanto, pelo viés
deste texto, pensou-se o processo social de formação da cultura política do Brasil pelo Brasil,
sem analogias ou diacronias culturais. Desse posicionamento em diante, construiu-se três
indagações diretas: sempre fomos democráticos (1824)? Na época da ditadura militar, estávamos
em um país democrático (1967)? E, por fim: atualmente, somos mais democráticos que antes
(1988-)?
Essas questões não param de crescer, exponencialmente, ao sociólogo interessado em
compreender a realidade social (portanto, cultural) que o cerca. Assim, cabe a este artigo levantar
polêmica em torno da formação do conceito de cultura política brasileira. O simples fato de se
debater o tema da democracia já ajudaria a transformar uma visão de mundo em uma opinião
concreta (argumentativa) sobre o processo de construção da democracia brasileira, no âmbito das
instituições de ensino formal brasileiras (em todos os níveis).
No entanto, sabe-se que isso não é o suficiente para a compreensão de tal fenômeno
cultural. Aqui, portanto, quando se falar em países democráticos, nesta ocasião referir-se-á aos
discursos, às pessoas, seus grupos e “países onde os eleitores têm a possibilidade de escolha
entre dois partidos ou mais e nos quais a massa da população adulta tem direito ao voto”
(Giddens, 2005, p.344).
De Brasil e democracia enquanto processo histórico e complexo
sociolingüístico
O fenômeno da democracia brasileira será observado, neste artigo, como sendo essencial
à participação política do cidadão brasileiro em suas atividades em sociedade. Diante disso,
pergunta-se: essa atividade política de grupo (democracia) é significativa e significante na
construção da cultura política em sociedade?
O Brasil construiu e vem construindo seu processo histórico, isso o trouxe à democracia
na qual congregamos valores e demandamos soluções a dilemas sociais. Em qualquer lugar do
mundo em que centenas de milhões de pessoas atinjam os pré-requisitos necessários à
participação política (tais como a ampla defesa e a representação política), espera-se que ali reine
a liberdade, a igualdade e a representação política, e que não reine a guerra como forma de
manifestação de poder. Mesmo assim, a realidade da condição política da humanidade pode ser
outra - refiro-me às ‘democracias’ totalitárias do Oriente, aos tipos de regimes eminentemente
militares e aos autoritários.
Crê-se que, por serem estes regimes esquizofrênicos, cruéis e violentas formas
autoritárias (justificadas) de governar, os discursos dominantes serão os dos governantes e seus
colegiados. Esses processos de dominação estão pautados no uso da linguagem, porque ela
liberta e aprisiona os falantes desse código. Nesses regimes, o poder é surrupiado, fazendo com
que eles não sejam salutares a nenhum organismo democrático, visto que as ações arbitrárias
contra os princípios fundamentais, contra o sufrágio universal e, enfim contra a representação
partidária, também são ações-chave para se estudar qualquer democracia: incluindo-se a do
Brasil.
Mesmo assim, longe da mera comparação entre democracias diferentes, em que se está
apenas dizendo as antagonias e, por outro lado, as semelhanças entre culturas é que, ao contrário
disso, se pretende abrir a discussão em torno dos processos históricos causais que nos levaram à
edificação desse fenômeno único, desse estratagema democrático (de usos e costumes políticos):
a democracia brasileira, desde o Império à Constituição de 1988.
Os três tempos e seus três fenômenos
Os três tipos de fenômenos culturais observados aqui, em si, servem para interpretar a
democracia brasileira nos seus princípios fundamentais, no direito ao voto e na representação
partidária que se formaram na vida política do povo brasileiro. Agindo dessa maneira, em que se
está olhando para o nosso passado imperial, revolucionário e democrático, espera-se poder tornar
essas práticas culturais brasileiras, hoje e amanhã, mais socializadas fora da academia.
Mas, diante dessa difusão ideológica de valores políticos, podem surgir questões
complexas como essas: um pensamento registrado sob forma de uma Constituição, com poderes
de legitimar e vetar os atos dos cidadãos, e os do estado, pode igualar e libertar o Ser em
sociedade? Ou será que isso pode fazer com que esse indivíduo, ao contrário, seja escravizado,
ou morto? E será que uma Constituição que sirva a poucos, em detrimento de muitos, pode
deixar sem voz o povo?
O foco deste artigo não é responder, de imediato, a tais questionamentos. Contudo, mais
adiante no tempo, tentar-se-á dar cabo a tais dilemas. Aqui, cabe o estudo experimental do papel
da Constituição na formação, manutenção e reprodução da cultura política de dada sociedade,
particularmente a brasileira. Por ser assim, os três discursos selecionados para serem postos
diante de avaliações de interesse causal, como as processadas neste artigo, são os seguintes: o
discurso do poder moderador, dois anos depois da Independência do Brasil; o discurso no qual os
Atos Institucionais e Complementares representavam uma prática arbitrária, dotada de violência
simbólica e; o debate sobre a função do Parlamento na construção, manutenção e reprodução do
discurso democrático, em 1988, por meio da Assembléia Nacional Constituinte.
O discurso do poder moderador
Do imperador sabe-se que fora ele o primeiro tipo dominador, gozando de poder
hereditário, enfim, de poder moderador. Assim, ‘por razões divinas’ instituiu-se a Constituição
do Império do Brasil (D. Pedro I), um fato social marcante na construção dos princípios
fundamentais, da instituição do voto e da representação partidária na Constituição do Império
(em 1824).
O discurso no qual os Atos Institucionais e Complementares representavam uma prática
arbitrária
Com relação à ditadura militar (junta militar), compreende-se que ela representou o
segundo padrão de dominação mais efetivo que o país e seu povo sofreram. Além disso, sabe-se
que ela era dotada de poder político justificado (mas, ilegitimado) para agir arbitrariamente,
como fora procedido nos estados de sítio nos quais a farda militar (em 1967) vigorava.
A, manutenção e a reprodução do discurso democrático na Assembléia Constituinte
Do último discurso percebe-se que (em tese) há democracia efetiva. Um estado de direito
no qual se goza de amplas funções políticas e, ademais, age-se num contexto no qual o poder é
do povo e para o povo, por meio de seus representantes (a partir de 1988).
Dos Procedimentos
Longe de se pretender concluir todas as interpretações do fenômeno cultural ‘soberania
popular’ ou ‘democracia representativa’ e, muito menos, da cultua política brasileira, pretende-se
apenas explorar o assunto. Isso, com base em três recortes temporais da história da representação
política brasileira. Nisso, espera-se que o processosocial de estruturação da cultura política
brasileira venha à tona.
Nessa rede de inter-relações simbólicas, que veio sendo formada com os resultados das
relações sociais (entre fatos políticos, econômicos, religiosos, etc), encontra-se o brasileiro
renovado (a cada geração), carregando em suas costas o conjunto de sentidos, valores e
interesses oriundos de outras pessoas (pais), grupos (igreja) e instituições sociais (estado). Enfim,
a política brasileira imperial, a política de militarização e a de democratização foram eleitas
como mecanismos causais que nos levarão ao processo de individuação
v
brasileira, ao olharmos
e compreendermo-nos por dentro.
Diante desse fato, portanto, analisar-se-á os traços iniciais, os tipos de comportamento e,
enfim, chegar-se-á na cultura democrática que os princípios fundamentais, o voto e a
representação partidária introduziram na práxis (política) e, conseqüentemente na teoria política
brasileira. Foi de forma distinta da ocorrida em diferentes sociedades democráticas (como nos
Estados Unidos, na Inglaterra e na França) que se construiu o poder do povo para o povo, no
Brasil. Assim sendo, erigiu-se os princípios fundamentais, o voto e a representação partidária,
ora nas lutas de interesses e ora sob violência e ausência de liberdade de expressão, como fatos
sociais violentos e ilegítimos. Esses fatos marcaram a nossa própria carne e povoaram nossa
mente em sociedade, assim como uma tatuagem marca o corpo e como um sonho marca a alma
alguém. Portanto, dessa maneira de ver o mundo brasileiro, em que se está observando os fatos
sociais da sociedade brasileira, espera-se compreender como se construiu a nossa democracia.
A formação da cultura política brasileira
Nesses menos de 20 anos da democracia brasileira, sabemos que os jogos de interesses,
nas práticas comuns dos campos de poder (da política, da economia e da tradição familiar),
tiveram suas funções específicas na estruturação, manutenção e reprodução da cultura política do
país. A partir de então, acredita-se que a análise sociológica dos fenômenos culturais do Brasil,
enquanto fenômenos desencadeados nas tomadas de decisões no jogo político de cada época em
questão, será suficiente para se defender a tese de que os princípios fundamentais, o voto e a
representação partidária são estruturados e estruturantes no processo de formação da cultura
política brasileira.
Então, espera-se que a democracia esteja sendo cravada (e tudo indica que sim), nessas
quase duas décadas, no inconsciente coletivo das gerações que participaram das profundas
conquistas democráticas do país e, claro, nas que virão. E esse processo de individuação coletiva,
proposto neste artigo, pode levar às revelações traumáticas do processo de formação da cultura
política brasileira, repleta de violência, desde o Império. A partir desse conjunto de ações sociais
e relações sociais, os valores políticos se formaram, se mantiveram e hão de se reproduzirem em
sociedade, pois que se acredita que essa foi a forma pela qual que, desde a colonização, se
começou a formar o self do brasileiro de então – aquele que vota e aquele que representa suas
demandas em sociedade.
Justamente, nesse processo de construção de um capital cultural
vi
brasileiro, é que surge a
oportunidade de se observar e intervir no processo de formação da nossa cultura política. Já no
Império do Brasil, sabia-se que ela dava sinais de pujança e vida democrática. Os valores
políticos referentes à experiência de princípios ‘liberais’ de democracia, na sociedade escravista
e mineradora, estavam contidos na Constituição de D. Pedro I e, por ser assim, eles conotavam
que a vida política brasileira já acontecia, bem antes disso.
Nossas eleições de província, no século XVI, já eram representativas, nas quais se
elegiam os representantes políticos. Visto que eram ocasiões em que cidadãos do Império
português votavam em seus representantes políticos locais, era ali que se elegiam os
representantes de províncias como sendo os únicos concessionários do Império português no
Brasil. Foi então que, alguns séculos mais tarde, já em 1824, essas práticas mudaram e o voto por
procuração tornou-se um dos meios mais úteis para se eleger os Deputados e Senadores. Isso, lá
nos rincões do Brasil imperial.
Nesse período em questão, uma pessoa morta votava mais de uma vez e, por outro lado,
as vivas votavam dezenas de vezes. Conseqüentemente a esse voto censitário e aberto, elegia-se
o representante ‘do povo’. Com tal prática, o fato de se ter mais status, poderio econômico, mais
mão de obra escrava e produção mineral disponível levava ao sucesso nas eleições. Como não
podia ser diferente, nesse jogo de dominação, em função do capital cultural disponível, o
candidato se elegia facilmente. Sobravam poucos jogadores aptos a concorrer nesse campo de
disputa política, já que o poderio da Fé também estava subordinado ao poder moderador de D.
Pedro I, além do executivo, do legislativo e do judiciário.
Acredita-se, portanto, que os candidatos oriundos de certa ‘elite’ teriam mais chance de
vitória nas eleições. Dessa premissa antidemocrática surge uma questão importante: hoje, o
poder das ‘elites’ ainda é preponderante para o sucesso nas eleições?
Por exemplo, imaginemos uma situação histórica em que o representante quilombola
(poderia ser indigianista) e o parlamentar possuíssem poderes oriundos de seus representados.
Nisso, já que esses representantes e representados eram donos de poder, eles eram obrigados a
dividir, entre si, parcelas desse mesmo poder político. Nessa divisão de atribuições e poderes
desiguais, pela lógica, acredita-se que um dominava o outro, no campo político. Dessa luta
política entre os escravizados e os escravistas os fenômenos de anuência e contestação formaram
um dos sistemas lógicos mais eficientes e repletos de fatos sociais que gerariam as demandas e
ações políticas específicas (de cada lado) para o fim da escravidão no Brasil. Tanto os atos
políticos de um quanto os atos do outro podiam ser iguais, e diferentes, sobretudo no que se
refere aos sentidos de suas ações e aos meios para tanto.
Um, enquanto rebelde (um estereótipo social), agoniza e usa da violência como método
de ação, em resposta à outra ação violenta. O outro, enquanto representante político eleito,
legisla e vota proposições estruturais da moralidade brasileira. Mas, se de cada parte surgissem
demandas semelhantes, contidas nas inter-relações simbólicas do campo da cultura e da política
brasileiras, a escravidão cessaria: foi o que se deu. Já que os interesses políticos, econômicos e
religiosos tendiam a ser repletos de poder outorgado, é que Zumbi revoltou-se para a libertação
dos escravizados, resguardando-os no quilombo. Por outra via, no mesmo sentido da anterior,
havia o parlamentar (abolicionista) a lutar contra as oligarquias escravistas. Nessa soma de ações
políticas, o fenômeno da escravidão, no Brasil, veio sendo extinto, pois a cultura política da
sociedade de então não podia suportar mais tal atrocidade. Zumbi não teria relevância no
processo de abolição da escravatura, não fosse sua intervenção na formação da cultura política
do Brasil, particularmente a que pode ser compreendida nos e pelos fatos sociais do cotidiano
laico - origem das demandas emergentes da sociedade.
A democracia brasileira
A cultura política do Brasil, ora na legitimidade do poder e ora na justificação
(temporária) das intervenções violentas, aos trancos e barrancos veio se construindo. Nessa
sinuosidade da realidade dos fenômenos relativos à cultura política do país, originou-se uma
espécie de capital cultural de grupo (algo próximo da soma dos habitus
vii
individuais e dos
habitus de grupo) que, ainda que legitimado, será transferido aos que virão. Dessa doação
involuntária (e voluntária), um conjunto durável de conhecimentos é legitimado a servir de
referência, símbolo ou prêmio dasconquistas e derrotas históricas, tais como foram a abolição da
escravatura e a ditadura militar de 1964.
Desse modo de pensar a formação da cultura política brasileira em diante, com relação a
essas conquistas históricas, explorar-se-á possíveis causas da estruturação do conceito de
democracia brasileira e, primeiramente há que se perguntar o que seja democracia. Tem-se que
uma democracia é composta por pessoas e, assim o sendo, é vinculada ao hábil uso da palavra,
visto que ‘o efetivo uso da palavra’ é uma das funções vitais da participação política em dada
situação democrática na qual o convencimento e a aquiescência coadunam. Uma conceituação de
dicionário, simplória do termo democracia, é aquela que se refere à soberania popular, na qual
também se faz uso da palavra em público, seja na defesa de direitos e seja na deliberação de
deveres. Mais adiante disso, uma outra interpretação é aquela pela qual se afirma que o exercício
do poder de persuasão de um ou mais sobre outro (s), pelo uso da linguagem, é democracia.
Assim, numa democracia direta, tal como era a da Grécia antiga, em que o uso do poder
da palavra era de fundamental importância para as deliberações que se seguiriam, a
representação política era inexpressiva. Em outro cenário, no lugar da participação direta, está o
caso peculiar das democracias liberais, em que a articulação política, ora em blocos e ora em
comissões, é de fundamental importância para as tomadas de decisão em público.
Longe dessas (cosmo) visões, nessa difícil determinação conceitual sobre o que venha ser
democracia, neste artigo, de uma maneira mais geral, compreende-se a democracia por
procedimentos democráticos. Assim, pensa-se que a democracia está contida e, portanto, envolta
por todos os lados por “todos aqueles expedientes institucionais que obrigam os governantes a
tomarem as suas decisões às claras e permitem que os governados ‘vejam’ como e onde as
tomam” (Bobbio, 2000, p.387).
Diante disso, será possível formular mais uma pergunta: o Brasil sempre esteve em
consonância aos princípios citados por Bobbio?
Sabe-se que não. Sabe-se, também, que é necessário olhar mais criticamente para a
história do nosso país, na intenção de se compreender algumas das causas, e parte dos efeitos
danosos (ou não), do processo de construção da democracia brasileira. Nela, a exclusão social
proporcionada pelas próprias regras do jogo político prejudicou mais do que favoreceu a
estruturação da cultura política do país. Nisso, as Constituições representam o arcabouço legal
pelo qual se norteiam as demais ações políticas da sociedade e, também, as do estado.
Assim sendo, os pontos fracos e fortes dos discursos democráticos, particularmente no
discurso liberal devem ser observados. No entanto, muito mais do que isso deve ser levado em
conta. Assim, compreender a violência simbólica contida nas três Cartas selecionadas, nesta
pesquisa exploratória, é o objetivo central a ser concorrido. Assim, o discurso moderador (1824),
em que vigorara o abuso de poder, o discurso militar, com base na ausência de liberdade de
expressão (do golpe militar de 1964), e a democracia representativa pós 1988, abrem a discussão
sobre a função do Parlamento no processo de construção da cultura política.
Neste exercício sociológico, para se mostrar que os parlamentares exerceram, e ainda
exercem, papel preponderante nas tomadas de decisões no campo político brasileiro, se reafirma
os objetivos de investigar como brotou o processo de socialização dos valores democráticos no
Brasil.
As Constituições e o processo de formação social da cultura política
brasileira
Para centralizar o discurso sobre o processo social de estruturação da cultura política
brasileira, foi preciso adotar uma postura sociológica seletiva, de escolha arbitrária do período da
independência, do período de intervenção militar e do momento da abertura política e
democrática de 1988. O intuito dessa eleição arbitrária foi apenas o de se buscar, nesta pesquisa
inicial, os sentidos das ações políticas, nos momentos históricos dessas passagens, para a
construção dos indivíduos observados, quais sejam os Princípios Fundamentais, o Voto e a
Representação Partidária.
Esse recorte metodológico é bem útil na compreensão de como, à época de 1824, com a
constituição política do Império do Brasil surgira o discurso da participação política dos cidadãos
nos rumos da política brasileira. Na segunda passagem histórica, tem-se que a militarização da
democracia, abruptamente aumentou o poder do executivo, que instalou eleições indiretas,
decretando o fim dos direitos políticos da oposição e, além de todas essas arbitrariedades ele
reforçou, de forma quase esquizofrênica, a segurança nacional (por meio do terror físico e
psicológico da junta militar). Por derradeiro, sabe-se que os fatos sociais desencadeados, a partir
de 1988, enquanto plenamente (ou não) democráticos, serviram-nos para analisarmos as
mudanças propiciadas na sociedade brasileira, ora pelo Parlamento e ora pela Sociedade Civil na
construção, manutenção e reprodução de nossos valores políticos.
Assim, acredita-se que exista uma forte ligação entre a cultura e a política brasileiras,
visto que as características políticas de cada tipo de governo refletem, em sua maioria a elite
política do momento. Assim sendo, antes de iniciarmos a apreciação das três Cartas analisadas,
neste artigo, apresentar-se-á alguns valores políticos, criados ao longo da história (no campo das
disputas políticas). Isso, com relação aos usos e costumes oriundos da tradição, do poder
econômico e do status em sociedade. Esses capitais culturais são parte efetiva, complementar e
durável (portanto, transferível) da estrutura política criada para manter e reproduzir a cultura
política do país. Nisso, a noção de que não há histórico de cultura política no Brasil cai por terra!
O país sempre teve, nos jogos de interesses (poderes em conflito) praticados na arena da
senda política, desde de o surgimento da atividade legislativa e fiscalizadora do Parlamento, um
importante aliado na construção da cultura política democrática brasileira. Os princípios
fundamentais, o voto e a representação partidária sempre estiveram atuantes na luta política
brasileira, ora presentes e ora ausentes. De fato, portanto, nossa cultura política ainda está em
construção, como haveria de ser e, dessa maneira em diante, caminharemos construindo-a pleito
após pleito (Tabela I).
Tabela I
Relação entre os Tipos de Regime Político e a Cultura Política do Brasil
nas Constituições de 1824 (Tipo Moderador), 1967 (Tipo Repressor) e 1988 (Tipo Democrático).
Recorte das Práticas Efetivas do Discurso do Poder Político
Tipos de Regime
Político de
Governo Princípios
Fundamentais
Voto Representação
Político-Partidária
Classificação da
Legitimidade
Moderador Sim Indireto Sim* Forte
Repressor Não Indireto Não** Fraca
Democrático Sim Direto Sim*** Forte
Cultura Política do Brasil Forte
Fonte: elaboração segundo informações das Constituições de 1824, 1967 e 1988.
*Alguns partidos lutavam para por fim à monarquia, enquanto outros a defendiam, além da defesa da escravidão.
**Cassação dos Direitos Políticos dos parlamentares, dos Partidos de oposição ao Regime e bipartidarismo: ARENA e MDB.
***Liberdade Partidária e desobrigação de filiação vertical-nacional de legendas.
A Constituição Política do Império do Brasil (de 25/03/1824): o poder moderador dado ao
Imperador
Em torno da época da Independência do Brasil, muitas forças agiam contrárias à
monarquia do país. Uma delas era o próprio regime político vigorante, em que a representação
política estava contida nas mãos de três grandes partidos brasileiros: os Caramurus (restauradores
que queriam o retorno de D. Pedro I), os Jurujubas (liberal exaltado que queria o fim da
monarquia e instituição da República) e os Chimangos (liberal moderado que queriam aescravidão e a monarquia sem D. Pedro I).
O Brasil era um país que possuía seu governo monárquico, hereditário, Constitucional e
representativo, cuja dinastia era filiada a D.Pedro I. Esse fato fez surgir outras forças favoráveis
ao poder moderador de D. Pedro I, tais como a força de persuasão da Igreja Católica no Brasil. A
institucionalização da religião católica, como sendo a oficial do Brasil, fez com que o Vaticano
se filiasse aos dogmas de D. Pedro I e, por meio dessa adesão estratégica, o poder do Império
sobrepunha-se ao da Igreja.
Nesse contexto de parceria, os cidadãos eram todos aqueles que nasciam no país,
‘bastardos’ ou não, também os portugueses e seus filhos, os libertos e os estrangeiros
naturalizados. Nessa época, as eleições eram indiretas e votava-se por procuração. Disso, os
“Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes” elegiam “os Eleitores de Província, e estes os
Representantes da Nação, e Província” (Constituição de 1824, Cap. VI, Art. 90).
No entanto, os excluídos do processo eleitoral eram a maioria dos que residiam por aqui,
à época. Eram excluídos da participação das eleições indiretas os homens e mulheres
viii
que não
atingiam os quesitos mínimos para tanto. Não votavam os que não eram cidadãos, portanto, não
votavam os adultos solteiros, civis, não bacharelados e menores de 25 anos, além dos criados de
servir (à casa e à casa imperial) e os sem renda superior a “cem mil réis por bens de raiz,
indústria, comércio ou empregos” (Constituição de 1824, Cap. VI, Art. 92, & V).
A representação política era, portanto, um fenômeno que apresentava efetiva ligação com
a formação da cultura política do país. Nessa ligação, o voto teve papel estrutural, mas não
essencial nessa formação. O poder representativo em questão era composto pelo Imperador e
pela Assembléia Geral, composta por duas Câmaras. Os Deputados se reuniam na Câmara dos
Deputados e os Senadores, no Senado: eis as duas casas do Povo brasileiro, desde os anos de D.
Pedro I.
O poder moderador era supremo ao das duas casas, visto que ao Imperador cabia a sanção
de todos os projetos de Lei e, aos parlamentares do período cabia, desde tomar juramento ao
Imperador, propor leis, interpretá-las e extingui-las. Os parlamentares eram os tipos ideais de
‘elite’ composta por diferentes vertentes de idéias e regiões do Brasil. Nessa miscelânea de
interesses, de Norte a Sul chegavam os parlamentares como os representantes do povo, para
ficarem por quatro anos ou mais em uma das duas Casas. Para isso, receberam o pronome de
tratamento de “Augustos, e Digníssimos Senhores Representantes da Nação” (Constituição de
1824, Tít. 04, Cap. I, Art. 16).
É sobre essa representação que este artigo polemiza, ao dizer que pode ter surgido, nessas
atitudes políticas de representar os interesses de outras pessoas, de estar agindo em função ao
público (e o funcionalismo público também age assim), o tipo ideal de parlamentar brasileiro de
hoje. Pode-se pensar que o parlamentar que vestira a túnica de representante da nação, desde
1824, em uma Assembléia Geral, entre seus pares, e com o discurso de agir em prol do beneficio
da Nação, tenha sido tratado como demagógico. Competia ao conjunto dos parlamentares
representar os interesses de seus eleitores, mas, as decisões de um parlamentar sempre foram
adiante disso.
As disposições são de amplo espectro, abrangendo, já em 1824, discutir as decisões do
poder executivo, além de legislar sobre impostos, sucessão e recrutamentos. As despesas eram
pagas pelos contribuintes, bem como hoje e, à época serviam para o sustento do parlamentar,
para a ida e para a volta do parlamentar ao lócus da Assembléia Geral. Isso consta, bem claro,
nos artigos relativos as atribuições privativas das duas Casas de então. Devido que as distâncias
percorridas pelos parlamentares, em 1824, eram longas até o Rio de Janeiro, local de
funcionamento das respectivas sedes legislativas, as custas de manutenção e deslocamento eram
consideráveis.
Já no caso do senador, que era membro vitalício de sua Casa, não havia menos
complicações para o exercício da função de representante do povo. Ele necessitaria ser, para isso,
um cidadão brasileiro com mais de 40 anos, que tivesse prestado “serviços à Pátria” e, além
disso, “que tenha rendimento annual por bens, industria, commercio, ou Empregos, a somma de
oitocentos mil réis” (Constituição de 1824, Tít. 04, Cap. 3, Art. 45, & III e IV).
Esse poder político institucional brasileiro era, como visto, seletivo. Os representantes
eram escolhidos a dedo, ou melhor, à renda, tradição e status. Nisso, o poder político do Império
era composto por quatro esferas de sub poder, quais sejam: 1) Legislativo, 2) Moderador, 3)
Executivo e 4) Judiciário. Quanto às funções dos poderes cujas funções nos são mais conhecidos
(1,3,4), nada mais a dizer. No entanto, as características do poder moderador nos chama a
atenção. O referido poder era
a chave de toda a organização Política, e é delegado privativamente ao
Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para
que incessantemente vele sobre a manutenção da Independência, e harmonia dos
demais Poderes Políticos [...] A Pessoa do Imperador é inviolável, e Sagrada: Elle
não está sujeito a responsabilidade alguma (Constituição de 1824, Tít. 5, Cap. I,
Art. 98 e 99).
Mesmo assim, sem satisfações a dar, nem aos Deputados e nem aos Senadores, o
Imperador ultrapassou dificuldades para que a manutenção de sua situação política
permanecesse. Em sua época, em que o fim da escravidão era iminente, por meio da substituição
completa da mão-de-obra, portanto, pode-se reviver e analisar a figura do poder moderador,
como um tipo ideal de governante. Nessa refazenda constante de poder hereditário, compreende-
se como agiam as forças políticas do país, formando nossa cultura política, mesmo que rodeada
de símbolos como os de escravidão e cassação de direitos políticos.
Esse cenário desigual entre cidadãos e não cidadãos, desde então, tem suas bases no
discurso formal que defendia a “inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos
Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade”. A
Constituição do Império garantia ainda que todos “podem comunicar os seus pensamentos, por
palavras, esciptos, e publicá-los na imprensa, sem dependência de censura”. Além disso,
“ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado”
(Constituição de 1824, Tít. 08, Art.179, & IV e V).
O Imperador era inviolável, as eleições eram indiretas e por procuração, restritivas a
maioria dos brasileiros de então, mas, o fato de não haver uma República, até então, fazia com
que os primórdios da cultura política brasileira fossem moldados pela concessão de benefícios
invioláveis a uma pequena parcela da população, tais como a dos militares que já prestaram
serviços à pátria. Reafirmando a meta deste artigo, tem-se que os princípios fundamentais, o voto
dos cidadãos e a representação partidária são o nosso foco de análise, com relação aos períodos
estudados. Diante disso, pergunta-se: quais eram esses cidadãos votantes? A resposta é clara:
Cidadãos Brasileiros. Mas, quais eram os cidadãos brasileiros?
I. Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos, ainda que o
pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua Nação. II. Os
filhos de pai Brazileiro, e Os illegitimos de mãe Brazileira, nascidos em paiz
estrangeiro, que vierem estabelecer domicilio no Imperio. III. Os filhos de pai
Brazileiro, que estivesse em paiz estrangeiro em serviço do Imperio, embora elles
não venham estabelecer domicilio no Brazil. IV. Todos os nascidos em Portugal,
e suas Possessões, que sendo já residentes no Brazil na época, em que se
proclamou a Independencia nas Provincias, onde habitavam, adheriram á esta
expressa, ou tacitamente pela continuação da sua residencia.V. Os estrangeiros
naturalisados, qualquer que seja a sua Religião. A Lei determinará as qualidades
precisas, para se obter Carta de naturalisação (Constituição de 1824, Tít. 2, & I-
V).
Por outra vertente, há os cidadãos de uma outra esfera de relações de interesses que
também votavam, que estavam contidos nas Forças Armadas, nos Ministérios, na Igreja Católica
do Brasil e na classe econômica dos produtores rurais e manufatureiros de cidades ascendentes
como São Paulo e Rio de Janeiro.
A Constituição de 24/01/1967 e o poder incessante do regime militar: silêncio e medo como
formas de se manter coesão e ordem numa democracia
Todo o Cidadão tem em sua casa um asylo inviolavel. De noite não se poderá
entrar nella, senão por seu consentimento, ou para o defender de incendio, ou
inundação; e de dia só será franqueada a sua entrada nos casos, e pela maneira,
que a Lei determinar (Constituição de 1824, Tít. 08, Art. 179, & VII).
Essa referência de direitos democráticos, tais como o de se possuir um lar que seja
inviolável, é bem chamativa à democracia liberal. A garantia dos direitos pessoais e patrimoniais
sempre esteve lado a lado ao processo de formação do conceito de democracia liberal: portanto,
da cultura política brasileira. Mas, em 1967, parece que não havia mais democracia no Brasil !?
Para começar, o discurso democrático no qual se articulou o poder político e militar, no
Brasil, era fraco (Tabela I) e, acima disso, pautado em atos complementares (AC) e institucionais
(AI). O senso comum, por meio de discussões no jornal, televisão e cinema trabalhou essa
temática violenta na qual a ditadura configurou-se como sendo a protagonista de todas as
insanidades cometidas em nome da manutenção da democracia. Dessa incongruência entre a
força violenta e física (do fuzil contra o lenço vermelho da liberdade) com a dissimulada e
simbólica, contida no discurso dos Atos na Constituição de 1967, surgiram gritos censurados de
liberdade, afirmando que
Foram 17 atos institucionais e 104 atos complementares a eles ao longo da
ditadura militar. Esses dispositivos não tinham qualquer fundamentação jurídica e
davam poder quase absoluto ao Executivo. Eles justificavam e tornavam legal
qualquer arbitrariedade cometida pelo governo. O AI-1, por exemplo, concedia
aos militares o direito de cassar os mandatos de deputados e suspender os direitos
políticos de qualquer cidadão por dez anos. O governo também passou a poder
demitir, afastar ou aposentar funcionários públicos considerados contrários ao
regime. Em um único dia, 41 deputados federais foram cassados, 29 líderes
sindicais tiveram seus direitos políticos suspensos e 122 oficiais foram expulsos
das forças armadas. E os acusados não tinham direito a defesa. Esse ritmo não
diminuiria (Disponível em: http://jk.globo.com/Series/JK/
0,,AA1162016-5074,00.html ).
O momento era de crise, é bem verdade. Mas, crise institucional. O medo da população
de que um filho (a) seu ou um parente e amigo fosse preso (a) e torturado (a), morto (a) e
enterrado (a), fazia com que o discurso das ‘elites’ políticas e militares (contra a revolução
vermelha) do momento se voltasse para a manutenção da ordem e da democracia brasileira,
mesmo que a toque de corneta. Nessa ilegitimidade, aumentava-se a falsa visão da invasão do
ideal revolucionário (socialista e comunista) na mente da nação. O país experimentara, em 1963,
situações político-partidárias relacionadas aos movimentos de esquerda comunista, tais como os
de China e Rússia. Esse simples fato fez com que os militares de ultradireita, vinculassem-se aos
ideais americanos contra o ideário vermelho. Portanto, a socialização dos direitos políticos e a
abertura política eram iminentes, já que o “poder emana do povo e em seu nome é exercido”
(Constituição de 1967, Tít. 01, Cap. I, & 1).
Nada disso. Quem poderia exercer esse poder político não estava na situação. Como
todos têm conhecimento, em 1964 o Governo Goulart é deposto, o Congresso é fechado e é
deflagrado o contra-golpe (nome dado pelos militares). Já que a oposição era calada a murros e
cacetadas, com seus direitos políticos cassados e sua vida pessoal desmoronada, a democracia
desmoronara rapidamente. Os parlamentares que se encaixaram nos ideais militares da época
formavam dois partidos, ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento
Democrático Brasileiro). Sem quase autonomia decisiva alguma, o poder legislativo era ladeado
por uma junta militar de regulação e intervenção na análise do discurso político de então. O
poder militar era capaz de alterar a Constituição, fazendo com que os princípios fundamentais
dos cidadãos brasileiros fossem corrompidos (Tabela I).
Como não poderia ser de outra forma, a violência tem limites, ao se tratar de política.
Assim sendo, os militares deram prazo (1979) para o fim da intervenção e início do processo de
transição para o regime democrático no país. Nisso, segundo ideologia própria, os militares
apregoavam que estavam agindo na defesa dos interesses democráticos do Brasil, contra o
comunismo. Já que o clima de insegurança política e social era geral, nas ruas e em casa, nos
colégios e universidades brasileiras, com relação ao medo gerado pelo alcance do poderio militar
de Governo, depois dos quatro presidentes que haviam sido eleitos democraticamente, de 1945 a
1964,
uma nova ditadura se instalou no Brasil: a do regime militar. Tudo começou com
um golpe de Estado em 1964 que tirou o presidente João Goulart do poder. Como
você já sabe, ditadura é o contrário de democracia. E na ditadura, quem discorda
das regras do jogo é perseguido e reprimido. E foi assim em 1964. Quem
discordou dos militares foi preso, torturado e até morto (Disponível em
http://www.plenarinho.gov.br/deputado/Reportagens_publicadas/
document.2006-07-05.3478269926).
Além de cassar mandatos legislativos, suspender direitos políticos por tantos anos, o
poder militar, por meio de sua Junta maligna, afastou de suas prerrogativas políticas personagens
tais como João Goulart, Jânio Quadros, Luís Carlos Prestes e Miguel Arraes.
O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção
nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição. [...] No
interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho
de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá
suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e
cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais (Ato Institucional n 5,
Art.3 e 4)
Na sociedade em geral, o terror era semelhante ao do Congresso, já que pensadores como
Celso Furtado e Darcy Ribeiro também tiveram seus direitos políticos cassados. Parte dos
direitos e garantias individuais, contidos no Art. 150 da Constituição de 1967, foram mudados
em 1969, pelo AI 14. Com tal devassa, passou a vigorar o que se pode chamar de ‘pena de
morte’ no Brasil, em casos de “guerra externa psicológica adversa, ou revolucionária, ou
subversiva nos termos que a lei determinar” (Ato Institucional n 14, de 14/09/1969, Art. 1).
Como os limites entre o que está escrito em lei e o que se pratica, efetivamente nas ruas é
tênue, ainda há muito que se pensar dessa ‘democracia militar’ ou ‘milagre econômico’ que se
construiu depois de 64. A revolução (e a contra-revolução, como alguns apelidaram de contra-
golpe) dos militares era um sinal para que o processo de formação da cultura política dos
brasileiros desse uma guinada, sem mais volta, em torno do eixo da democracia. Uma coisa é
certa, muita luta política fora travada nos anos de chumbo dos porões da ditadura. Algumas
perguntas podem surgir, nessa hora, tais como se havia uma invasão comunista no Brasil? Havia
uma parceria entre dois poderes anticomunistas (o americano e o militar brasileiro)? O que
podemos tirar de bom disso?
Para respondermos a tais indagações, é necessárioque revivamos a situação em que se
encontrara o Brasil, nos anos 60 do século XX. A essa época, podemos crer que vivíamos em
uma sociedade democrática, sim, e que ela deveria se pautar
no princípio do consentimento dos governados. Essa idéia ganhou aceitação
geral, mas pode ser contestada tanto por ser muito forte quanto por ser muito
fraca. Muito forte, porque sugere que as pessoas devem ser governadas e
controladas. Muito fraca, porque mesmo os governadores mais brutais precisam,
em certa medida, do consentimento dos governados, e geralmente o obtém não
apenas à força (Chomsky, 1997, p. 259).
Mais adiante, as sociedades livres têm tratado o problema da representação e
aquiescência políticas, em torno da democracia, com métodos que unem forças oriundas de
setores opostos na sociedade civil e, por parte da esfera do estado, na coalizão rumo ao bom
atendimento das demandas da população como um todo.
É interessante, portanto, atentarmos para o fato que, nos anos 60 de XX o Brasil vivia um
momento de muita instabilidade, visto que os representantes das forças armadas do Brasil
haviam sido recebidos em Washington como sendo uma “ilha de sanidade” e que, assim, o golpe
seria uma “rebelião democrática”. Nisso, os EUA, por meio da iniciativa do governo Kennedy,
lançou campanhas homéricas em quase todos o países da América Central e do Sul, incentivando
a militarização. O sentido ideológico desse discurso pautava-se na democracia americana que, na
“defesa hemisférica, para a segurança interna, decisão que gerou conseqüências fatais, a começar
pelo golpe militar no Brasil”, estariam eles, os americanos, democratizando o mundo e banindo o
comunismo para baixo dos tapetes da Casa Branca (Chomsky, 1997, p.263).
A Constituição de 05/10/1988 e a democracia brasileira: o poder do Parlamento na
Assembléia Nacional Constituinte
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (Constituição
de 1988, Preâmbulo).
Para falarmos de democracia brasileira, é necessário recorrermos à Constituição de 1988.
Isso é o que se faz, neste momento, já que o fato de o Brasil ter sua história política consolidada
em princípios democráticos, conforme descrito e lavrado nas suas Cartas, fez com que esse
processo investigativo tomasse corpo.
Em 1988 o Brasil estava vivendo uma importante fase de sua construção social da
realidade política. Os fatos desencadeados durante o regime militar fizeram com que o país
experimentasse diferentes formas de intervenção estatal na economia, na política e, enfim, na
formação da cultura política brasileira. Nessa época, muitos estudiosos analisavam a estrutura
formal (burocratizada) da Constituição, dentre eles Simon Schwartzman.
Esta Constituição assemelha-se um pouco a uma colcha de retalhos. Em alguns
aspectos, é um avanço; em outros, nem tanto. É avanço, por exemplo, na área de
certos direitos sociais, que podem contribuir para corrigir um pouco as grandes
desigualdades sociais que existem no país (Schwartzman, 1989, 01).
Diante dessa perspectiva que formou em torno da democracia brasileira, está o excluído,
o marginalizado, o brasileiro de baixa renda. Já que
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I -
construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento
nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Constituição
de 1988, Título I, Art. 3, & I a IV).
Nesse cenário de amparo e suficiência pessoal do brasileiro, espera-se que haja
democracia. No entanto, existem questões que não foram resolvidas, apesar de estarem
apregoadas na Constituição, a regra máxima do comportamento humano em sociedade, tais como
a pobreza e a marginalização. Talvez, nunca se erradicará tais fatos das sociedades humanas,
incluindo-se aí a brasileira. No entanto, não se deve perder a força para lutar em favor da
igualdade de direitos (isonomia) e da liberdade de expressão, visto que esses são uns dos pilares
de qualquer democracia.
Mesmo assim, é importante voltarmos ao que vem sendo validade nas ciências sociais,
principalmente na sociologia política. O que afirma Przeworski (2003), sobre a cultura política
não ser essencial para o desenvolvimento de instituições democráticas, é bem verdade. No
entanto, ele mesmo afirma que “por sua vez, evidencias estatísticas em favor de explicações não
culturalistas de estabilidade de instituições democráticas parecem fortes. Logo, pouco ou nada há
que nos pudesse levar a crer que obstáculos culturais à democracia sejam irremovíveis”
(Przeworski, 2003, p.32).
No caso brasileiro, conforme Baquero (2003) afirma, existe uma ligação constante entre o
capital social do Brasil com a estruturação da cultura política brasileira. Sendo assim, o mesmo
autor reitera a relação simbólica, de interação, entre democracia, cultura política e capital social.
No caso, ele acredita que a cultura política participativa brasileira seja algo de “híbrido”. Por ser
assim, acreditou que a falta de “capacidade cooperativa entre os brasileiros” geraria “déficits de
participação política e conseqüente instabilidade democrática” (Baquero, 2003, p.83).
Mais uma vez, é importante dizermos que este artigo tenta explorar os fenômenos
desencadeados no Brasil pelo Brasil. Assim sendo, os princípios fundamentais, a instituição do
voto e a representação partidária representam os tipos ideais de fenômenos observados, que
também representam a estrutura concisa da participação política dos cidadãos brasileiros.
Então, sabe-se que em 1988, o Brasil tornou-se um país democrático (em Lei) que, a
partir desse instante, seria capaz de amparar seus cidadãos e fazer com que os direitos e garantias
fundamentais fosses instituídos sob forma de clausulas pétreas, imutáveis, com o objetivo de
evitar com que outros levantes antidemocráticos fossem instaurados. Nisso, a Constituição
especifica, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade” (Constituição de 1988, Título 2, Art, 5).
Os princípios fundamentais estão garantidos pela Constituição de 88, o voto se tornou
universal e a representação partidária é irrestrita, mesmo assim, padecemos de mazelas tais como
a corrupção da coisa pública e a burocratização do estado. No caso, o que fazer? O país já é
democrático: temos que ter acesso, ler e compreender a Constituição. Isso é necessário para que
as coisas saiam do papel e que vão para a sociedade, para o povo, para a casa das pessoas. Dessa
forma, por meio da difusão de informações e conhecimentos formais sobre a Constituição, sobre
o sistema político e sobre a cultura política brasileira, poder-se-á transformar o mundo no qual
convergimos e divergimos opiniões e atos.
A condição democrática na qual se encontra o Brasil
Ao unir os três tempos selecionados, e seus respectivos fenômenos (princípios, voto e
partidos), pôde ser montado um mural de tipos de regime político e de princípios democráticos,
medindo certa relevância e correlação entre eles (Tabela I). Mesmo assim, é chagada a hora de
traçar-se uma senóide cujas curvas sejam reflexo da cultura políticabrasileira. Agindo dessa
forma, esta conclusão (em aberto) pretende levantar o tema da participação do Parlamento
brasileiro na formação, manutenção e reprodução cultural dos usos e costumes que vieram sendo
aceitos e praticados no campo político brasileiro, em 1824, 1967 e 1988.
Tabela II
Relação entre os Tipos de Parlamento e a Cultura Política do Brasil
nas Constituições de 1824 (Tipo Moderador), 1967 (Tipo Repressor) e 1988 (Tipo Democrático).
Recorte das Práticas Efetivas do Discurso do Parlamento
Tipos de
Parlamento
Poder Político
Vitalício
Isonomia entre
Pares
Representatividade
Partidária Plural
Classificação da
Legitimidade
Moderador Sim Não Sim* Forte
Repressor Sim Não Não** Fraca
Democrático Não Sim Sim*** Forte
Cultura Política do Parlamento do Brasil Forte
Fonte: elaboração segundo informações das Constituições de 1824, 1967 e 1988.
*Existiam diversos partidos políticos à época do Império.
**ARENA e MDB dividiam o cenário político das duas casas de então..
***Os partidos podem ser criados por qualquer orientação política de cunho democrático, já que, conforme Tabela I, a liberdade
Partidária e a desobrigação de filiação vertical-nacional de legendas é permitida.
Diante das informações descritas acima, pode-se especular outras formas de
compreender-se o processo de formação da cultura política brasileira, desde o Império à
democracia pós 1988. Diante disso, acredita-se que o debate sobre a função do Parlamento na
construção, manutenção e reprodução dos usos e costumes vinculados às práticas comuns do
campo político brasileiro sejam de fundamental importância para a compreensão (sociológica)
dos fenômenos culturais brasileiros observados: princípios fundamentais, voto e representação
partidária.
Nessa compreensão possível da relação entre democracia e capital cultural, existe a cultura
política brasileira em formação constante. Ela, madura, é fonte de inspiração para todos que
pretendem adentrar no obscuro mundo das relações políticas dentro e fora do Parlamento
brasileiro. Portanto, acredita-se que a descrição sucinta dos fatos que estão registrados em nossas
Constituições seja suficiente para o momento. Os sentidos que ainda podem ser descobertos, com
a observação desses registros históricos, são infinitamente maiores do que os apresentados nesta
ocasião.
No entanto, espera-se este artigo tenha cumprido o seu papel de explorar certas
características (tipos ideais) de fenômenos culturais brasileiros que, por alguma razão, estavam
velados, escondidos, maquiados diante dos olhos das gerações anteriores. Assim sendo, que
outras pesquisas possam surgir para dar suas contribuições (ou críticas estruturais) ao futuro das
pesquisas em ciência política brasileira.
Referências Bibliográficas
Bobbio, Norberto. Teoria Geral da Política.Rio de Janeiro, Campus, 2000.
Bourdiu, Pierre. O Poder Simbólico.Bertrand Brasil,2001.
Domingos & Outros. A Teoria de Bernstein...Lisboa, Gulbenkian, 1986.
Chomsky, Noam. Consentimento sem consentimento: a teoria e a prática da democracia. Estudos
Avançados, n 11 (29), São Paulo, 1997.
Constituições de 1824, 1967 e 1988. Disponíveis, na integra, no endereço eletrônico:
www.presidencia.gov.br .
Giddens, Anthony. Sociologia. Rio Grande do Sul, Artmed, 2005.
______________. Para Além da Esquerda e da Direita. São Paulo, Unesp,1996.
Habermas, Jürgen. A Inclusão do Outro.Rio de Janeiro, Loyola, 1995.
Johnson, A.G.Dicionarios de Sociologia, Zahar, 1997.
Jng,C.G.... 1961
Jung,C.G.O Eu e o Inconsciente. Petropolis,1985.
Weber, Max. Metodologia das Ciências Sociais I e II.São Paulo, Cortez, 1999.
1 Professor de Sociologia e Economia da Faculdade do Meio Ambiente e Tecnologia de
Negócios - FAMATEC/DF.
i Self: crê-se que o significado da expressão fora traçado por C.G.Jung (1875-1961), em diversos
momentos de sua obra. Jung define o self como centro do inconsciente e ao mesmo tempo com a
totalidade da personalidade. Segundo Jung, o self abrange a “psique consciente e a inconsciente,
constituindo por esse fato uma personalidade mais ampla que também somos” (Jung, 1961,
p.358).
ii Reprodução Cultural: todo o tipo de reprodução entre e intra culturas. Por reprodução cultural,
compreende-se “o processo social pelo qual culturas são reproduzidas através de gerações,
sobretudo pela influência socializante de grandes instituições” (Johnson, 1997, p.198).
iii Violência Simbólica: é todo tipo “imposição ou legitimação da dominação, que contribuem
para assegurar a dominação de uma classe sobre a outra” (Bourdieu, 2001, p.11).
iv Democracia Liberal: entende-se a democracia na qual a liberdade, a igualdade e a
representação estejam presentes, seja no domínio público e seja no privado. Compreende-se por
democracia liberal, aquele sistema que cria abundancia material, portanto, “a democracia é o
direito de todos os cidadãos de votar e formar associações políticas. Esse direito pode ser visto
como um entre outros direitos liberais – na verdade, o mais importante -, daí o traço entre
liberalismo e democracia” (Giddens, 1996, p.124).
v Individuação: de certo modo, esse “processo ocorre no homem (como em qualquer outro ser
vivo) de maneira espontânea e inconsciente; é um processo através do qual subsiste a sua
natureza humana inata. No entanto, em seu sentido estrito o processo de individuação só é real se
o indivíduo estiver consciente dele e, conseqüentemente, com ele mantendo viva ligação” (Jung,
1964, p.162).
vi Capital Cultural: o conjunto durável e transferível de habilidades e competências entre
culturas, ao longo das gerações. Compreende-se como capital cultural o conjunto de bens
simbólicos que podem ser manuseados e trocados em sociedade. Por fim, o capital cultural é algo
próximo do ethos humano, do conjunto de bens físicos e simbólicos transferíveis às gerações
subseqüentes, podendo ser composto pelo capital econômico, social e tradicional, (num capital
lingüístico ampliado).
vii Habitus: exprime-se “sobretudo a recusa a toda uma serie de alternativas nas quais a ciência
social se encerrou, a da consciência (ou do sujeito) e do inconsciente, a do finalismo e do
mecanicismo”(Bourdieu, 2001, p.60). E, também, compreende-se como uma “formação durável,
produto da interiorização dos princípios de um arbitrário cultural, capaz de perpetuar depois de
ter cessado a ação pedagógica e, por isso, de perpetuar nas práticas os princípios do arbítrio que
foi interiorizado”( Domingos e outros, 1986, p. 348).
viii As mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, apenas em 1932, com o Presidente
Getúlio Vargas no poder.
	Do processo de formação da cultura política brasileira
	
	Introdução
	O contexto no qual se encontra a pesquisa
	
	De Brasil e democracia enquanto processo histórico e complexo sociolingüístico
	Os três tempos e seus três fenômenos
	Dos Procedimentos
	A formação da cultura política brasileira
	A democracia brasileira
	
	As Constituições e o processo de formação social da cultura política brasileira
	Tabela I
	Relação entre os Tipos de Regime Político e a Cultura Política do Brasil
	nas Constituições de 1824 (Tipo Moderador), 1967 (Tipo Repressor) e 1988 (Tipo Democrático).
	Recorte das Práticas Efetivas do Discurso do Poder Político
	Voto
	Classificação da Legitimidade
	Moderador
	Cultura Política do Brasil
	Forte
	Tabela II
	Relação entre os Tipos de Parlamento e a Cultura Política do Brasil
	Recorte das Práticas Efetivas do Discurso do Parlamento
	Isonomia entre Pares
	Classificação da Legitimidade
	Moderador
	Cultura Política do Parlamento do Brasil
	Forte

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