
Habermas Pinzani, Alessandro (2009, Artmed)
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5. SCHELLING, Friedrich W. J. Die Weltalter. In: \u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013\u2013 . Werke. IV Hauptband. Hrsg. von M. Schröter. München: Beck e Oldenburg, 1927, 586 s. (ver também 606 ss.). 6. GEHLEN, Arnold. Sozialpsychologische Probleme in der industriellen Gesellschaft. Tübingen: Mohr, 1949 (edição revista e ampliada como: Die Seele im technischen Zeitalter. Hamburg: Rowohlt, 1957). 7. DANNEMANN, Rüdiger. Georg Lukács zur Einführung. Hamburg: Junius, 1997, 48 s. 8. Na carta a Adorno anteriormente citada (cf. I.2) Horkheimer lamenta, entre outras coisas, que nesse ensaio a palavra \u201crevolução\u201d aparece mais de cem vezes \u2013 coisa que lhe parece ser expressão de \u201cignorância histórica\u201d. 9. HONNETH, Axel. Kritik der Macht. Reflexionsstufen einer kritischen Gesellschaftstheorie. Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1986, 239. 10. Sobre as vicissitudes editoriais deste livro, ver acima I.2. 11. Essa elite de poder se mantém coesa por meio da formação acadêmica: por isso, Habermas considera justificada a pesquisa empírica sobre a consciência política dos estudantes alemães por ele apresentada (KuK 58). a relação de teoria e PráxiS Os anos de 1960 parecem marcar o triunfo definitivo da técnica e da ciência, não somente na Alemanha, mas no mundo inteiro. Isso vale, pri- meiramente, para determinados âmbitos como a astronáutica ou a indústria bélica, que podem ser vistas como uma consequência direta da Guerra Fria. Ao mesmo tempo se difunde aos poucos uma certa euforia em relação à possibilidade de um controle técnico (melhor: tecnocrático) generalizado, que na Alemanha encontra sua expressão nas obras de Helmut Schelsky. A outra face desta euforia é representada pela crescente desconfiança em relação aos ambíguos progressos da técnica e da ciência, que não somen- te aumentam o risco de destruição do mundo por meio de uma guerra atômica, mas que, até nas manifestações cujas consequências não são tão apocalípticas, parecem levar a um resultado de alienação \u2013 por exemplo, no que diz respeito à ideia de uma técnica social ou de uma psicologia de cunho behaviorista que vise a um controle do comportamento humano. Não é por acaso que Habermas, nesses anos, se ocupa particularmente da questão do estatuto das ciências empíricas, presumidamente neutras em relação aos valores, e dos problemas de uma teoria preocupada com a unidade de teoria e práxis. As preocupações de Habermas são relativas não tanto ao estatuto das ciências em si, mas antes ao cientificismo, isto é, à redução de todas as formas de saber e de conhecimento ao modelo das teorias científicas empíricas. Assim, por exemplo, uma teoria da sociedade deveria ser baseada em hipóteses de leis que se deixem verificar ou falsificar de forma experimental. Consequentemente, a filosofia prática é considerada não científica, e o lugar do discurso filosófico sobre política e sociedade deveria ser tomado por uma tecnologia social baseada em uma sociologia explicativa. Habermas luta contra essa \u201ccientificização da política\u201d (TCI 107) e tenta contrapor-lhe uma perspectiva a partir da qual teoria e práxis podem ser reconciliadas. A reflexão sobre esse tema o levou a constatar a 3 45 Habermas presença de um interesse prático atrás de cada forma de conhecimento, inclusive do conhecimento científico. tEORiA E PRáxis Nos anos em torno de 1960, Habermas se ocupou cada vez mais da questão da relação entre teoria filosófica ou sociológica e práxis política concreta. Ao fazer isso, ele desenvolveu aquele conceito de uma teoria social crítica orientada pelo ideal da emancipação que estará presente nas obras sucessivas. Nesses anos, ele abandonou sua posição inicial for- temente inspirada pelo jovem Marx, que o motivara a tentar desenvolver uma filosofia materialista da história. Aos poucos, porém, ele deixou de lado essa ideia e se dedicou ao desenvolvimento de uma teoria crítica da sociedade, inspirada mais por Horkheimer. Este último distinguiu uma teoria da sociedade tradicional de uma crítica, apontando para o fato de que esta tem como seu objeto o contexto em que ela mesma surge. Ela faz justiça à circunstância de que ela mesma está ancorada numa certa práxis de vida social e se fundamenta em um interesse pré-científico (uma ideia que servirá de base para Conhecimento e interesse). A confrontação com o estatuto do marxismo, que Marx via ao mesmo tempo como filosofia e como ciência, levou Habermas a ocupar-se da questão do estatuto epistêmico da teoria crítica pretendida e, portanto, das teorias em geral. Por meio da polêmica sobre o positivismo (ver III.2), este tema se torna central para o seu pensamento e permanece decisivo até os anos de 1970, no âmbito do debate com Niklas Luhmann (aluno de Schelsky), sobre o papel das ciências sociais. Em um ensaio de 1960, com o título \u201cEntre filosofia e ciência: O Mar- xismo como crítica\u201d (agora em TuP 228-289), que representa em parte a continuação da resenha de 1957, Habermas pretende definir as tarefas de uma teoria crítica da sociedade. No começo desse texto ele revê seu juízo otimista do ano de 1957 em relação à possibilidade de uma revolução nas atuais democracias ocidentais: O padrão de vida teria aumentado em todas as camadas da população, a ponto de que \u201co interesse pela emancipação da sociedade já não se deixa articular diretamente em termos econômi- cos\u201d, fazendo com que \u201co ator designado da futura revolução socialista, o proletariado, se dissolveu como proletariado\u201d (TuP 228 f.; cf. também 261 ss.). Contudo, Habermas crê que o marxismo possa representar um pano de fundo para a práxis política concreta e, precisamente, como doutrina crítica da sociedade. O que o caracteriza é sua posição \u201c\u2018entre\u2019 filosofia e ciência positiva\u201d (TuP 244): Por um lado, ele é \u201cfilosofia da história com intenção pragmática\u201d (TuP 234) e, por outro lado, ele avança a pretensão 46 Alessandro Pinzani de oferecer uma descrição cientificamente falsificável de fenômenos eco- nômicos e sociais. O que fascina particularmente Habermas é o primeiro aspecto, ao qual ele dedica a última parte do ensaio, com o subtítulo \u201cPres- supostos de uma filosofia materialista da história\u201d (TuP 271 ss.). Marx teria estabelecido uma estreita relação entre teoria e práxis, já que para ele o sentido da história na sua totalidade se desvela teoricamente na medida \u201cque a humanidade se dispõe praticamente a fazer a sua história, que de resto ela sempre faz, também com vontade e consciência\u201d (TuP 276). Essa \u201cfactibilidade\u201d da história representa para Marx um pressuposto da filo- sofia da história, enquanto o outro pressuposto é \u201ca unidade do mundo\u201d (TuP 277). Habermas vê realizados na contemporânea sociedade burguesa industrial, ambos os pressupostos. Nela, a interdependência das relações sociais tem progredido a tal ponto que \u201cas histórias particulares se uniram na história de um mundo único\u201d \u2013 um diagnóstico que se demonstra bas- tante apropriado na era da globalização. Por outro lado, os instrumentos técnicos sobre os quais a humanidade dispõe hoje, principalmente a possibi- lidade da destruição do mundo por uma guerra atômica (possibilidade não mencionada explicitamente por Habermas, mas que naqueles anos estava diante dos olhos de todos), apontam de forma clara para esse aspecto da factibilidade da história (TuP 278). Habermas termina o ensaio com a ad- vertência de que uma filosofia materialista da história deve \u201ccompreender seus pressupostos, exclusivamente a partir do contexto da época na qual ela surgiu historicamente\u201d e, portanto, considerar as categorias da unidade do mundo e da factibilidade da história como categorias temporalmente determinadas (TuP 279). Essa posição, relativamente à questão do papel de uma filosofia materialista da história, representa uma restrição em relação à posição defendida na resenha de 1957, mas não significa uma