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Resenha Teoria do Estado - Hermann Heller (CAPÍTULO 1)

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S. Sandri, J. Stolfi, L.Velho
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
FACULDADE DE DIREITO
HELLER, Hermann. Teoria do Estado. Editora Mestre JOU: São Paulo, 1968 
RESUMO-RESENHA SOBRE O OBJETIVO E MÉTODO DA TEORIA DO ESTADO (CAPÍTULO I)
Fernanda Silva Lobato1
I – OBJETO DA TEORIA DO ESTADO
A Teoria do Estado como Ciência Política.
Primeiramente há de se perguntar por que Hermann Heller não usou o termo Teoria “Geral” do Estado para se referir ao estudo da origem, função e desenvolvimento do Estado? Heller se recusa a trabalhar o conceito geral por entender que não há como traçar um perfil que se encaixe em todas as especificidades dos diversos Estados existentes, podendo estudos mais próximos do específico, mas não do geral, já que, em suas palavras, “não o julgamos, em absoluto, possível”. Por ser algo mais específico do que meramente conceituar e historiar o Estado, Heller diz que seu conceito de Teoria do Estado se aproxima mais da Ciência Política, não da alemã, que se equipara ao objeto de estudo das ciências econômicas, mas da latina e inglesa, que se concentra em examinar criticamente o sistema político e seu comportamento.					
Muito se especula quanto á cientificidade das matérias destinadas a investigar as relações humanas e suas consequências enquanto sociedade, não sendo diferente com a Ciência Política. Esta, para ser considerada ciência tem de oferecer, segundo Heller, “uma descrição, interpretação e crítica dos fenômenos que sejam verdadeiras e obrigatórias”, entramos neste ponto em uma discussão para explicar o que é verdadeiro e obrigatório. Na idade média, por exemplo, os padrões eram determinados pelos dogmas religiosos competentes à época, que eram definidos pela igreja católica, logo, era verdadeiro aquilo que a igreja dizia que era, e foi assim até o século XVIII, quando a sociedade quebrou a ligação com os dogmas, por se dar conta do grande jogo de interesses existente por trás da imagem religiosa, que era movimentado principalmente pela burguesia para atender as suas demandas. 							
A crítica ao dogmatismo mudou a visão que se tinha de Ciência Política, que procurava comparar e achar um perfil geral do funcionamento das instituições políticas, e passou a pesquisar para entender justamente suas devidas especificidades e diversidades histórico-culturais para entender como elas influenciam na construção de seu Estado. Deste modo, Heller inclui sua Teoria do Estado dentro das Ciências Políticas, pelos seus conteúdos específicos, que visam fornecer verdades baseadas em constantes observadas historicamente no contexto político para de algum modo melhorar a realidade. A sua Teoria de Estado, vê a política como ciência por não estabelecer como este – o Estado em si - deveria ser, como na filosofia, mas porque pela análise do que se é, pode-se corrigir e prever erros.
Evolução e objeto das Ciências Políticas.
Na Grécia antiga, desde os sofistas o estudo das diversas áreas científicas tinha por objetivo a formação da virtude no ser político e consequentemente no Estado. Diversos filósofos discorreram em suas obras sobre a extrema importância da virtude, à seus modos característicos, tanto Sócrates, como Platão e Aristóteles destacaram em suas obras a importância da virtude. Toda a especulação filosófica a respeito da moralidade dos indivíduos Estatais aparece primeiramente em Sócrates, na descrição de sua cidade ideal, que foi a primeira exposição concreta a respeito de que o Estado e seus indivíduos deveriam prezar por uma moral ilibada, porém, por se tratar de uma idealização extrema não foi muito aplicável à sua sociedade contemporânea. Logo depois Platão, em um diálogo muito mais específico trata da dissociação entre política e religião, que era algo inédito em seu tempo, e embora seu Estado também fosse idealizado a estrutura de leis é mais próxima da realidade, o que concedeu certa aplicabilidade de suas ideias na realidade e fez com que sua obra ganhasse certa difusão. Porém, o pensamento político mais semelhante ao atual das Ciências Políticas e que foi mais aceito em sua época veio por meio de Aristóteles, que por um meio quase científico explanou a moralidade da práxis política, mas não deixou de ser filosofia porque não abandonou a aspiração à um Estado melhor, e por conseguinte ideal.			
No medievo, o Estado era, como anteriormente citado, guiado segundo os dogmas cristãos, o que reduzia à mínima a influência do Estado em decisões políticas. Imagem disto é que mesmo os pensadores sobre o assunto eram de cunho religioso, à exemplo Santo Agostinho. Porém o estudo sobre o Estado não ficou estático, nesta época se deram os primeiros diálogos a respeito de lutas pelo poder político, mas claramente ás luzes do entendimento religioso, que se perpetuou até quase o fim da idade média, quando o pensamento começou a se secularizar, dado o movimento iluminista, que se espelhou também nas considerações a respeito do Estado.			
O início da idade moderna trata ainda das disputas políticas entre Igreja e Imperador, que logo são solucionadas com o surgimento dos Estados modernos, que separam a Igreja do Estado. Nasce então outra questão política, referente aos limites do poder dos governantes e da legitimidade do poder do povo, que a princípio envolve certo teor religioso, que posteriormente ganha independência, com as ideias de Hobbes, que negam totalmente que a instituição de um soberano tenha influência da vontade divina. Ainda na idade moderna duas correntes ganham força. As correntes Empírica do pensamento político e a Jusnaturalista, nos séculos XVI a XVIII, foram de suma importância para a racionalização da política, que a partir deste momento rompe em completo com as noções religiosas remanescentes.							
O século XIX, momento de grandes revoluções trouxe o caráter empírico-positivista para a política, que a torna conhecida como ela é hoje por nós, que também proporcionou grande valorização e desenvolvimento a ela, conferindo-a alto teor científico. Como deve ter-se notado, o objeto das Ciências Políticas se modifica ao longo do tempo, no entanto a necessidade de explicar a realidade nunca é deixada de lado ou ignorada.
A Teoria do Estado na realidade Estatal.
Hermann Heller julga que a Teoria do Estado é eficiente para a resolução de algumas questões sociais, porém não é com o conhecimento de um Estado “x” que se resolverão as problemáticas de um Estado “y”, porque cada conhecimento é aplicável a sua realidade específica.										
O autor confirma, mais uma vez a profunda relação entre o indivíduo pesquisador do Estado e o próprio, relação está indissociável por estar o indivíduo incluído nele, caso contrário não há meios de pesquisa-lo. E de fato é observada como verdadeira esta relação, de modo que todo ser está incluso na vida Estatal, por isso devemos partir do pressuposto que qualquer pesquisa a seu respeito não será, de forma alguma, neutra, pelo contrário, será munida de subjetividades e levará em consideração a formação social do indivíduo pesquisador.
II – MÉTODO DA TEORIA DO ESTADO
A Importância da Problemática do Método.
A discussão referente ao método de pesquisa é fundamental porque mesmo sendo ciência, o método de pesquisa da Ciência Política se diferencia do utilizado nas Ciências Naturais, justamente pelo fato de o indivíduo não poder se dissociar da condição de pertencimento ao objeto de estudo, que é o Estado em si.
A Teoria do Estado é Ciência Cultural e Não Ciência Natural.
Deve-se a Bacon a transferência do pensar matemático-mecânico ás áreas de pesquisa social, porém suas ideias não encaixam perfeitamente no estudo das Ciências Políticas por não diferenciar o ser humano do modo de funcionamento do resto da natureza, não como se o homem fosse parte não integrante desta mas no entendimento de que sua racionalidade lhe confere a noção de trabalho e da finalidade a que este o levará.													
O objetivo deste tópico é diferenciar a Teoria do Estado, queé tida como Ciência Política do mesmo campo metodológico que as Ciências Naturais e mostrar que seu método é semelhante ao das Ciências Culturais, que estudam a parte física produto da formação social humana, que é a cultura.			
					O modo diversificado que o estudioso dessas áreas se dirige a cada uma delas é a sustentação pelo qual Heller diz que a Teoria do Estado é uma Ciência Cultural e não Natural, já que quando o pesquisados das áreas da natureza se dirige ao seu objeto de estudo existe a relação de estranhamento e não pertencimento, o que é oposto na relação pesquisador-objeto no campo cultural.
A Teoria do Estado é Sociologia e, como tal, Ciência da Realidade e Não Ciência do Espírito.
A sociologia estuda o fenômeno social, este, se manifesta independentemente da ação humana. Sim, é produto da ação humana, mas não existe apenas por mérito do indivíduo social, não é dependente de sua vontade para existir, existe apenas porque é produto da vivencia humana, que é por sua vez inerente a vontade humana, é simplesmente consequência de sua existência.							
Se o Ser humano vive, é automática a produção do fenômeno social, se deixa de existir não existe fato social, tão pouco motivo para existir, caso contrário seria Ciência do Espírito, se é que pode se chamar de ciência o estudo de algo não real. 		
Sem haver quem o estude, torna-se dispensável. O fato é que independente de existir ou não um pesquisador o fato social existirá e é por este motivo que Heller compara a Teoria com a Sociologia, pelo fato de o fenômeno Estatal existir além da pesquisa a seu respeito.
A Teoria do Estado é Ciência de Estruturas e Não Ciência Histórica
A tentativa da história de explicar os acontecimentos futuros não se aplica com sucesso aos fenômenos Estatais pelo fato de o Estado ter o caráter dinâmico e não seguir padrões pré-definidos cabíveis as diretrizes do estudo histórico. A história deve necessariamente progredir, não há como retornar e mudar o percurso histórico, o que não acontece necessariamente na realidade Estatal, que tem livre vida, não há como ser “lógicalizada” segundo qualquer diretriz que não seja a sua própria.
A Teoria do Estado e a Política
A Teoria do Estado é uma ciência voltada à práxis, de modo que em associação à política, proporciona um melhor entendimento da realidade social diante do Estado. O Estado é dinâmico, está em constante mudança, não é algo “fixo e regulado”, como diz Heller citando Bluntschli, que restringe a Teoria do Estado ao estudo da ordem estática Estatal e dá à política a incumbência de analisar a vivência Estatal.				
Esta conceituação é refutada pela natureza obviamente dinâmica, inconstante e evolutiva do Estado, que acaba por unir os objetos de estudo da política e da Teoria Estatal. Diferenciam-se no sentido temporal, já que a Teoria do Estado se ocupa da atualidade. Neste sentido, não pode haver distinção entre a Política e a Teoria do Estado.
 A Formação dos Conceitos na Teoria do Estado
Pelo fato de a realidade social ser estudada ao mesmo tempo geral e especificamente, conceitos não são suficientes para caracterizá-la fidedignamente. Conceitos ideológicos como os de Weber não satisfazem a Teoria Estatal por não representarem o Estado como uma estrutura objetiva, e real, como o é.
Heller cita o conceito-estrutura como a forma mais concreta de se conceituar os fatores Estatais por conseguir, justamente, abranger a dualidade do assunto estatal, além de retratar o geral, faz as especificações necessárias. Pois, como à exemplo dado no livro, os estados possuem entre si certas generalidade, mas aplicados a sua cultura ganham adaptações específicas, que quando conceituadas segundo a estrutura não perdem o caráter geral, mantendo o necessário para que sejam feitas análises contundentes com a realidade, que é a fim de tudo, o objetivo prático da Teoria do Estado.
1Discente do curso de graduação em Direito pela Universidade Federal do Pará, matriculada sob o número 201506140078 na turma 030/2015.
fernandasloba@gmail.com
Proceedings of the XII SIBGRAPI (October 1999)

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