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Jurisdição e seus Equivalentes

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JURISDIÇÃO
1 CONCEITUAÇÃO E NOÇÕES GERAIS
Para Chiovenda, “ pode-se definir jurisdição com a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente efetiva”. Com efeito, a lei, elaborada pelo Poder Legislativo, é geral e abstrata. O Juiz, ao exercer jurisdição, cria a norma do caso concreto, atuando a vontade concreta do direito.
Segundo Carnelutti, a característica marcante da jurisdição está na função de promover a justa composição da lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida; interesse é a cupidez entre uma pessoa e uma coisa apropriável; pretensão é a intenção de submeter o interesse alheio ao próprio. Como os interesses humanos são ilimitados e os bens são limitados, é normal que surjam conflitos de interesses.
Para Alexandre Câmara, a jurisdição é “ a função do Estado de atuar a vontade concreta do direito objetivo, seja afirmando-a, seja realizando-a praticamente, seja assegurando a efetividade de sua afirmação ou de sua realização prática”. 
Na doutrina brasileira, também se encontram diversas definições para a função jurisdicional, as quais englobam, de uma forma ou de outra, as características acima.
Enfim, pode-se definir jurisdição como a função do Estado de atuar a vontade concreta do direito, substituindo a vontade das partes, promovendo a justa composição da lide.
2 EQUIVALENTES JURISDICIONAIS: AUTOTUTELA, AUTOCOMPOSIÇÃO, MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM
Os equivalentes jurisdicionais são formas de solução de conflitos que não constituem jurisdição, mas que possuem certa definitividade, embora não façam coisa julgada, tampouco sejam totalmente imunes à revisão judicial.
São equivalentes jurisdicionais a autotutela, a autocomposição, a mediação e a arbitragem.
A autotutela é a solução do conflito de interesses pela imposição da vontade de uma das partes. Como regra, é vedada no ordenamento jurídico. Excepcionalmente, é tolerada, como nas hipóteses de legítima defesa, estado de necessidade, direito de greve, direito de retenção de benfeitorias e autoexecutoriedade dos atos administrativos.
A autocomposição é uma forma legítima de composição dos litígios, em que as próprias partes acordam a solução para o conflito. Como o próprio nome já indica, não existe imposição, senão composição.
A autocomposição pode ocorrer por: a) transação: as partes fazem concessões mútuas; b) submissão ou reconhecimento do direito: a parte reconhece o direito aolheiro; ou c) renúncia: a parte renuncia ao seu direito.
A mediação é uma forma autocompositiva de solução de conflitos, em que um terceiro, chamado mediador, tem a função de fomentar, de incentivar, de catalisar a solução do conflito de forma amigável.
A arbitragem constitui uma forma alternativa de solução de conflitos, em que as partes acordam que a controvérsia será submetida a um terceiro, denominado árbitro, que é escolhido de comum acordo e que decidirá o conflito. 
Está regulada pela Lei 9.307/1996 ( Lei da Arbitragem).
Apenas as pessoas que tiverem capacidade civil poderão valer-se da arbitragem. Além disso, somente pode ser utilizada para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis (art. 1º da Lei 9.307/1996).
A submissão do conflito pelas partes à arbitragem ocorre pela convenção de arbitragem, que pode ser uma cláusula compromissória ou um compromisso arbitral.
A cláusula compromissória é inserida num contrato em que as partes estipulam que eventuais conflitos surgidos em razão daquele contrato deverão ser solucionados pela arbitragem. Portanto, a cláusula compromissória já existe antes do conflito. 
O compromisso arbitral é firmado quando as partes decidem que determinado conflito que já existente será submetido à arbitragem.
Na arbitragem, as partes poderão convencionar expressamente que a questão submetida ao árbitro seja decidida de acordo com as regras legais ou por equidade ( art. 2º e art. 11, II, Lei 9.307/1996). 
A questão submetida à arbitragem será julgada por uma sentença arbitral, que deverá conter os seguintes requisitos ( art.26, Lei 9.307/1996).
O art. 475-N, inc. IV, CPC elenca, no rol de títulos executivos judiciais, a “ sentença arbitral”. O art. 31 da Lei 9.307/1996 ( Lei da Arbitragem) prevê no mesmo sentido.
3 CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
A jurisdição possui as seguintes características principais: 
Inércia: o Estado-juiz precisa como regra, ser provocado para exercer a sua função jurisdicional. Trata-se de uma manifestação do princípio da inércia da jurisdição e do princípio dispositivo.
Substitutividade: a jurisdição substitui a vontade das partes, aplicando a vontade concreta do direito.
Imparcialidade: para que possa legitimamente impor uma decisão nos casos concretos, é imprescindível que o órgão jurisdicional tenha imparcialidade. 
Lide ou lide potencial: a lide é reconhecida por Carnelutti como característica essencial da jurisdição. Frederico Marques também reconhece que inexiste jurisdição quando não há lide. Todavia, há doutrinadores contemporâneos que entendem que existe jurisdição mesmo quando não há lide, como nos casos de jurisdição voluntária (haveria atividade jurisdicional mesmo no caso de jurisdição voluntária). Assim, seria característica da jurisdição a lide potencial, pois haveria jurisdição mesmo no caso de não haver lide deflagrada. Logo, pode-se dizer que a jurisdição tem por objetivo resolver lides ou, ao menos, lides potenciais. 
Monopólio estatal: entende-se que a jurisdição é monopólio do Estado, de modo que somente um órgão estatal poderia impor decisões aos casos concretos com legitimidade e força definitiva. Outros órgãos estatais fora do Poder Judiciário, excepcionalmente, também possuem jurisdição. Ex.: o Senado Federal no julgamento dos processos de impeachment.
Unidade: a jurisdição é uma, embora a competência seja repartida em órgãos jurisdicionais por questões operacionais.
Definitividade: é a aptidão para fazer coisa julgada.Alguns doutrinadores entendem que a função declaratória de direitos seria uma característica da jurisdição. Isso porque o juiz, ao julgar uma demanda, não criaria o direito, mas apenas declararia um direito já previsto no ordenamento jurídico. Essa característica se amolda perfeitamente a um modelo positiva clássico, em que o juiz era apenas a “boca da lei”.
Contudo, de acordo com a atual teoria do direito, reconhece-se a função eminentemente criativa do juiz na interpretação das normas jurídicas. Por conseguinte, entendemos que a função declaratória de direitos não seria mais uma característica da jurisdição.
4 ESCOPOS DA JURISDIÇÃO 
A jurisdição possui três principais objetivos ou escopos, quais sejam:
Escopo jurídico: é a atuação da vontade concreta de direito.
Escopo social: é a pacificação dos conflitos, promovendo o bem comum.
Escopo político: o Estado-juiz se legitima ato a ato, mediante o respeito ao devido processo legal e a concretização dos valores fundamentais.
5 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
A jurisdição contenciosa é a aquela em que há conflito de interesse. Na jurisdição voluntária, por sua vez, não há um, conflito de interesse externado.
A doutrina diverge acerca da existência ou não de atividade jurisdicional na jurisdição voluntária.
Para Frederico Marques e outros doutrinadores, jurisdição voluntária não é jurisdição. É administração pública de interesses privados.
Na linha de entendimento de Ovídio Baptista, Alexandre Câmara e Calmon de Passos, dentre outros, jurisdição voluntária é jurisdição, pois o que caracteriza a jurisdição é a lide potencial.
Uma das principais características da jurisdição voluntária é a possibilidade de decisão por equidade, conforme autorizado pelo art. 1.109 do CPC.

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