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1. Proteção ao ponto empresarial Segundo as lições de André Luiz Santa Cruz Ramos (RAMOS, 2014, p. 127), um dos principais elementos do estabelecimento empresarial é o chamado ponto de negócio, local em que o empresário exerce sua atividade e se encontra com a sua clientela. Ademais, nos dias atuais, não se deve entender o ponto de negócio apenas como local físico, em função da proliferação dos negócios via internet. De seu turno, Fábio Ulhoa Coelho (COELHO, 2014, p. 134), o ponto — também chamado de “propriedade comercial” — é o local em que o empresário se estabelece. É um dos fatores decisivos para o sucesso do seu empreendimento. Por essa razão, o interesse voltado à permanência no ponto é prestigiado pelo direito. Não apenas porque a mudança do estabelecimento empresarial costuma trazer transtornos, despesas, suspensão da atividade, perda de tempo, mas principalmente porque pode acarretar prejuízos ou redução de faturamento em função da nova localização, o empresário tem interesse em manter o seu negócio no local em que se encontra. Claro que, por vezes, a mudança pode se revelar um fator de crescimento da atividade econômica explorada, mas isto cabe ao empresário dimensionar. Se ele considera mais útil ao seu negócio permanecer no local em que se encontra estabelecido, este seu interesse é legítimo e goza de tutela jurídica. Coelho propõe denominar-se direito de inerência ao ponto o interesse, juridicamente protegido, do empresário relativo à permanência de sua atividade no local onde se encontra estabelecida. Assim, o ponto pode ter existência física ou virtual. Este seria o site, ou seja, o endereço eletrônico por meio do qual os clientes encontram o empresário. Em suma: o site de determinado empresário individual ou sociedade empresária é o seu ponto empresarial virtual ou ponto de negócio virtual. Sendo o ponto de negócio, como citado acima, um dos mais relevantes elementos do estabelecimento empresarial, senão o mais relevante, o ordenamento jurídico lhe confere uma proteção especial, que se manifesta, sobretudo, quando o ponto é alugado. Essa proteção especial conferida ao ponto de negócio pelo arcabouço jurídico-comercial é caracterizada, basicamente, pela possibilidade de o empresário locatário permanecer no imóvel locado mesmo contra a vontade do locador. Isso ocorre porque, conforme será explicado em sequencia, a lei confere ao empresário locatário, quando preenchidos certos requisitos, o direito à renovação compulsória do contrato de aluguel. Antes de declinar os detalhes acerca das disposições legais pertinentes ao tema na doutrina em análise, cumpre destacar as razões que levaram o legislador a conferir essa prerrogativa ao empresário. Ora, quando o empresário se estabelece num ponto alugado e permanece naquele local um determinado tempo, ele faz investimentos para ganhar o respeito dos consumidores, passar a ser conhecido e a adquirir, consequentemente, uma clientela fiel. Por essa razão, o regime jurídico-empresarial reconhece a esse empresário o chamado direito de inerência ao ponto, consubstanciado na prerrogativa de permanecer naquele local mesmo na hipótese de o locador não pretender mais a renovação do contrato locatício. Conforme Ramos (2014, p. 129), quanto a esse assunto, vale ressaltar ainda que a lei estende a proteção do ponto ao cessionário ou sucessor da locação (art. 51, § 1.°, da Lei 8.245/ 1991). Sobre o tema, estabelece o Enunciado 482 da súmula de jurisprudência dominante do STF que “o locatário, que não for sucessor ou cessionário do que o precedeu na locação, não pode somar os prazos concedidos a este, para pedir a renovação do contrato, nos termos do Dec. 24.150 [diploma legislativo aplicável na época da aprovação do enunciado sumular]”. Em síntese, importante descrever que: Duas espécies de direito protegem o ponto empresarial: a) a indenização por responsabilidade civil comum: 1) indenização pelos danos emergentes e por lucros cessantes, se o imóvel pertence ao empresário individual, sociedade empresária ou sociedade simples e ocorrer privação de uso, embaraço ou dano causado ao imóvel; 2) se o imóvel não pertence ao empresário individual, sociedade empresária ou sociedade simples: ao titular do domínio é devida a indenização pelo dano e, ao locatário, os lucros cessantes; b) o direito à permanência no imóvel ou à indenização devida pela não renovação do contrato de locação firmado no prazo e nas condições fixadas em lei. 2. Locação empresarial A lei referida anteriormente, a qual garante esse direito de inerência ao empresário locatário, é a Lei 8.245/1991, que, na seção III do capítulo II do Título I, cuida da chamada locação não residencial (rectius, locação empresarial). Segundo o disposto no art. 51 da referida lei: [...] nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: I – o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; II – o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos; III – o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos. Baseado na doutrina de Fábio Ulhoa Coelho (COELHO, 2014, p. 134), classificam- se as locações prediais urbanas em duas categorias: a residencial e a não residencial. Nesta última, encontram-se os contratos em que o locatário é autorizado a explorar, no prédio locado, uma atividade econômica (anote-se que também são não residenciais as locações com outras finalidades, tais as filantrópicas, associativas, culturais, moradia de diretor etc.). Por outro lado, se o locatário, na locação não residencial, é titular de direito de inerência ao ponto, e pode pleitear judicialmente a renovação compulsória do contrato, então a locação é empresarial. Nem toda locação, em que o imóvel abriga a exploração de atividade econômica, portanto, dá ao empresário direito à renovação. É necessário, para que a locação seja empresarial, o atendimento aos seguintes requisitos do art. 51 da LL: a) contrato escrito, com prazo determinado (requisito formal); b) mínimo de 5 anos de relação locatícia (requisito temporal); c) exploração da mesma atividade econômica por pelo menos 3 anos ininterruptos (requisito material) -se, pois, que a tutela especial que o ordenamento jurídico confere ao empresário locatário, consistente na possibilidade de requerer por meio de ação própria – a ação renovatória – a renovação compulsória do contrato de locação, só deve ser assegurada ao empresário que realmente tenha agregado valor ao local onde exerce suas atividades, transformando-o em fator atrativo da clientela. Preenchendo, pois, os requisitos formal (contrato escrito e por prazo determinado), temporal (mínimo de cinco anos de relação contratual contínua) e material (mínimo de três anos na exploração de atividade no mesmo ramo) acima mencionados, o empresário locatário passa a ter o já mencionado direito de inerência ao ponto, que poderá ser defendido em juízo por meio de uma ação renovatória do contrato de aluguel. Quanto ao requisito temporal, destaque-se que o período contratual de 05 (cinco) anos exigido pela legislação não precisa, necessariamente, ter sido obtido por meio de um único contrato, podendo ser alcançado também pela soma dos prazos de vários contratos escritos, desde que a relação contratual não tenha sofrido interrupção. 3. Direito à renovação compulsória do contrato de locação No tocante ao tema em apreço, a Lei de Locações estabelece que o locatário tem direito à renovação compulsória, uma vez cumpridos os requisitos legais, que são osseguintes: 1) Subjetivo: o locatário deve ser empresário, sociedade empresária ou sociedade simples. Na ocorrência de evento morte, estende-se a proteção ao sucessor ou ao sócio sobrevivente. Se ocorrer sublocação total, cessão, arrendamento ou usufruto do estabelecimento empresarial, por ato inter vivos, assiste o mesmo direito ao sublocatário, cessionário, arrendatário, usufrutuário, desde que consentida pelo locador. Na hipótese de o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de sociedade de que faça parte, o direito de locação poderá ser exercido por ambos, locatário e sociedade, indistintamente. 2) Formal: o contrato deve ser escrito e com prazo determinado e estabelecer um período mínimo de cinco anos, admitindo-se a soma dos intervalos, em contratos sucessivamente renovados, e o uso da contagem pelo sucessor – sublocatário total. A jurisprudência admite que, na soma dos prazos, se incluam períodos de locação verbal, desde que breves. 3) Funcional: o locatário deve explorar o mesmo ramo de atividade econômica pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos, à data da propositura da ação renovatória. 4) Processual: decai do direito de promover a ação renovatória o contratante que não o fizer no intervalo entre um ano e seis meses anteriores ao término do contrato a renovar. A demora na citação não acarreta a decadência, salvo se imputável ao próprio autor do pedido. 4. Ação Renovatória: Considerações A propositura da referida ação renovatória, segundo o disposto no art. 51, § 5.°, da Lei 8.245/1991, deve ser feita “no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor”. Dizendo de outra forma, a ação renovatória deve ser ajuizada nos 06 (seis) primeiros meses do último ano do contrato de aluguel. Sendo assim, faltando um ano para o término do contrato, deve o empresário locatário, se pretender permanecer no ponto, procurar o locador para iniciar as tratativas acerca da renovação da relação contratual. Caso o locador demonstre o interesse de retomar o ponto, não renovando o contrato, cabe ao locatário tomar as providências necessárias ao ajuizamento da ação renovatória, sob pena de ver decair o seu o direito à renovação compulsória da relação locatícia. Outrossim, segundo o art. 71 da Lei 8.245/1991, o autor da ação renovatória deve, além de preencher os requisitos do art. 282 do CPC, instruir sua petição inicial com: I – prova do preenchimento dos requisitos dos incisos I, II e III do art. 51; II – prova do exato cumprimento do contrato em curso; III – prova da quitação dos impostos e taxas que incidiram sobre o imóvel e cujo pagamento lhe incumbia; IV – indicação clara e precisa das condições oferecidas para a renovação da locação; V – indicação do fiador quando houver no contrato a renovar e, quando não for o mesmo, com indicação do nome ou denominação completa, número de sua inscrição no Ministério da Fazenda, endereço e, tratando-se de pessoa natural, a nacionalidade, o estado civil, a profissão e o número da carteira de identidade, comprovando, desde logo, mesmo que não haja alteração do fiador, a atual idoneidade financeira [redação alterada pela Lei 12.112/2009]; VI – prova de que o fiador do contrato ou o que o substituir na renovação aceita os encargos da fiança, autorizado por seu cônjuge, se casado for; VII – prova, quando for o caso, de ser cessionário ou sucessor, em virtude de título oponível ao proprietário. Com a propositura da ação renovatória, o locatário buscará obter provimento judicial que determine a renovação compulsória do contrato de aluguel, como já afirmado. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a renovação deve ser feita pelo mesmo prazo do último contrato e que o prazo máximo de renovação é de cinco anos: Contrato de aluguel. Imóvel comercial. Renovatória. Prazo. A Turma entendeu que o prazo do novo contrato, prorrogado por força de ação renovatória, deve ser fixado no mesmo período do ajuste anterior, observado, necessariamente, o prazo máximo de cinco anos (art. 51, Lei 8.245/1991). A soma dos prazos dos últimos contratos ininterruptos, perfazendo um somatório de cinco anos, só configura pressuposto legal para a propositura da renovatória. Precedente citado: REsp 195.971-MG, DJ 12/4/1999 (REsp 182.713-RJ, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 17.08.1999, Informativo 28/1999). Locação comercial. Ação renovatória. Soma de mais de dois contratos ininterruptos. Prazo da prorrogação. Período referente ao último contrato. 1. Tratando-se de soma de dois ou mais contratos ininterruptos, o prazo a ser fixado na renovatória deve ser o mesmo do último contrato em vigor, observado o limite máximo de cinco anos. 2. No caso, tendo sido o último pacto estabelecido por dois anos, por esse período deve ser prorrogada a locação na renovatória. 3. Recurso especial do qual, pelo dissídio, se conheceu em parte e ao qual se deu provimento nesse ponto (REsp 693.729/MG, Rel. Min. Nilson Naves, 6.ª Turma, j. 22.08.2006, DJ 23.10.2006, p. 359). Ação renovatória. Prazo do contrato. Lei 8.245/91. O prazo da locação prorrogada por força de ação renovatória, nos termos do art. 51, da Lei 8.245/ 91, deve ser igual ao do ajuste anterior, observado o limite máximo de 5 anos. Recurso conhecido e provido (REsp 267.129/RJ, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, 5.ª Turma, j. 05.10.2000, DJ 06.11.2000, p. 222). Processual civil. Locação. Ação renovatória. Prazo de renovação. Limite máximo. Cinco anos. Art. 51 da Lei 8.245/91. 1 – Na ação renovatória, embora o locatário tenha direito de renovar o contrato pelo mesmo prazo do ajuste anterior, deve ser observado o limite máximo de cinco anos, em conformidade com o disposto no art. 51 da Lei 8.245/91. 2 – Recurso especial conhecido e provido (REsp 202.180/RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, 5.ª Turma, j. 26.10.1999, DJ 22.11.1999, p. 181). Agravo regimental. Recurso especial. Locação. Ação renovatória. Prazo máximo da renovação do contrato. Cinco anos. 1. Esta Corte, interpretando o disposto no art. 51 da Lei n.° 8.245/1991, firmou entendimento de que o prazo máximo de prorrogação do contrato locativo estabelecido em ação renovatória é de cinco anos. 2. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg nos EDcl no REsp 962.945/MG, Rel. Min. Paulo Gallotti, 6.ª Turma, j. 18.11.2008, DJe 09.12.2008). Mas esse direito à renovação compulsória do contrato é absoluto? Aliás, no prisma do autor citado, aparentemente, não. Com efeito, o direito de inerência do locatário está previsto em legislação ordinária (Lei 8.245/1991), e se choca frontalmente com o direito de propriedade do locador, o qual é protegido constitucionalmente (art. 5.°, inciso XXII, da CF/1988). Por essa razão, não se pode admitir que o direito de inerência do locatário aniquile totalmente o direito de propriedade do locador. Fosse assim, a legislação infraconstitucional em enfoque incorreria, irremediavelmente, em vício de inconstitucionalidade. Sendo assim, a própria Lei 8.245/1991 estabelece alguns casos em que o locatário, mesmo tendo preenchido os requisitos que lhe asseguram, em tese, o direito de inerência ao ponto, não terá assegurado o direito à renovação do contrato de aluguel. Nesses casos, previstos expressamente na lei, o locador poderá retomar o imóvel locado, uma vez que o seu direito de propriedade prevalecerá sobre o direito do locatário de permanecer no local. Essas hipóteses legais que autorizam a retomada do imóvel pelo locador, mesmo quando preenchidos os requisitos ao reconhecimento do direito de inerência do locatário, estão previstas nos arts. 52 e 72 da Lei 8.245/1991. Na ocorrência de uma delas, o locador vai poder fazer uso da chamada exceção de retomada. São cinco, ao todo,os casos previstos na lei. Se o locador tiver razão, e a ação for julgada improcedente, o juiz determinará a desocupação do imóvel, nos termos da lei. A propósito, confira-se a seguinte decisão do STJ: Direito civil. Processual civil. Recurso especial. Locação. Ação renovatória julgada improcedente. Prazo para devolução do imóvel. Fixação. Sentença extra petita. Não ocorrência. Pedido implícito na contestação. Requisitos da renovatória. Aferição. Impossibilidade. Súmula 7/STJ. Dilação probatória. Impossibilidade. Dissídio jurisprudencial. Não ocorrência. Ausência de similitude fática entre os acórdãos confrontados. Recurso especial conhecido e improvido. 1. Julgada improcedente a ação renovatória, havendo na contestação pedido do locador, deverá o juiz fixar o prazo de até seis meses para a desocupação do imóvel, contados a partir do trânsito em julgado da respectiva sentença. Inteligência dos arts. 52, 72, IV, II, e 74 da Lei 8.245/91. 2. O pedido pode estar expresso na inicial ou ser extraído de seus termos por interpretação lógico-sistemática. Assim, não há como considerar extra petita a decisão que, julgando improcedente o pedido formulado na ação renovatória, fixa prazo para devolução do imóvel locado, se da contestação consta tal pedido, ainda que formulado de forma genérica. (...) (REsp 996.621/BA, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5.ª Turma, j. 18.11.2008, DJe 09.12.2008). A primeira hipótese (art. 72, inciso II) é a de o locatário fazer uma proposta insuficiente para a renovação do contrato de aluguel. Esta insuficiência é aferida em função do valor locativo real do imóvel. Assim, se o locatário, mesmo preenchendo os requisitos do art. 52 da lei, fizer uma nova proposta de aluguel abaixo do valor locativo do bem, o locador não será obrigado a renovar o contrato. Ressalte-se, porém, que “o locador deverá apresentar, em contraproposta, as condições de locação que repute compatíveis com o valor locativo real e atual do imóvel” (art. 72, § 1.°, da Lei 8.245/1991). A propósito, o STJ já decidiu o seguinte: (...) 3. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça firmou a compreensão segundo a qual não poderá o magistrado apoiar-se em resultado pericial para arbitrar aluguel superior (na ação de majoração, proposta pelo locador) ou inferior (na ação de redução, proposta pelo locatário) àquele pretendido pela parte e explicitamente indicado em sua petição inicial, sob pena de prolatar sentença ultra petita. Precedentes. (...) (REsp 767.300/MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5.ª Turma, j. 15.03.2007, DJ 23.04.2007, p. 296). Saliente-se, ademais, que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que na aferição do valor do novo aluguel deverão ser consideradas eventuais benfeitorias realizadas no imóvel pelo próprio locatário, pois incorporadas ao domínio do locador proprietário, não se vislumbrando enriquecimento indevido. Civil e comercial. Ação renovatória. Benfeitorias efetuadas pelo locatário. Inclusão na base de cálculo para a fixação do aluguel. Admissibilidade. 1. Eventuais benfeitorias realizadas pelo locatário devem ser levadas em conta, na fixação do valor do aluguel, por ocasião da ação renovatória, porquanto esses acessórios se incorporam ao domínio do locador, proprietário do bem, não havendo, pois, se falar em enriquecimento ilícito. Precedentes desta Corte. 2. Embargos de divergência rejeitados (EREsp 172.791/PR, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 3.ª Seção, j. 13.09.2000, DJ 09.10.2000, p. 121). A segunda hipótese (art. 72, inciso III, da Lei 8.245/1991) é a de o locador possuir uma proposta de aluguel feita por um terceiro, em melhores condições que a proposta do locatário. Nesse caso, “o locador deverá juntar prova documental da proposta do terceiro, subscrita por este e por duas testemunhas, com clara indicação do ramo a ser explorado, que não poderá ser o mesmo do locatário”, podendo o locatário, “em réplica, aceitar tais condições para obter a renovação pretendida” (art. 72, § 2.°). Ressalte-se que nessa situação, todavia, embora possa retomar o imóvel, o locador deverá indenizar o locatário pela perda do ponto, conforme disposição contida no art. 52, § 3.°, da Lei 8.245/1991. Essa indenização será arbitrada pelo juiz para ressarcir os prejuízos e os lucros cessantes que o locatário tiver que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do estabelecimento empresarial. A terceira hipótese (art. 52, inciso I) é a de o locador precisar fazer uma reforma substancial no imóvel locado, seja “por determinação do Poder Público” ou “para fazer modificações de tal natureza que aumente o valor do negócio ou da propriedade”. O locador, na contestação, “deverá trazer prova da determinação do Poder Público ou relatório pormenorizado das obras a serem realizadas e da estimativa de valorização que sofrerá o imóvel, assinado por engenheiro devidamente habilitado” (art. 72, § 3.°). A quarta hipótese (art. 52, inciso II, primeira parte) é a de o locador necessitar do imóvel para uso próprio, e a quinta hipótese (art. 52, inciso II, parte final) é a de ele precisar do imóvel para transferência de estabelecimento empresarial existente há mais de um ano cuja maioria do capital seja de sua titularidade ou de seu cônjuge, ascendente ou descendente. Nestas duas últimas hipóteses, retomado o imóvel, este “não poderá ser destinado ao uso do mesmo ramo do locatário”, salvo se se tratava de locação-gerência, ou seja, aquela em que o aluguel também envolvia o próprio estabelecimento empresarial, com as instalações e pertences necessários ao exercício da atividade (art. 52, § 1.°, da Lei 8.245/1991). Alguns autores, notadamente Fábio Ulhoa Coelho, sustentam que essa restrição imposta pela norma acima mencionada é inconstitucional, por estabelecer uma limitação desarrazoada ao direito de propriedade do locador. Segundo o autor, a retomada do imóvel para uso próprio imóvel não deveria sofrer nenhuma limitação. Em contrapartida, caso o locador queira se estabelecer no mesmo ramo de atividade em que o locatário atuava, deverá indenizá-lo pela perda do ponto. Por fim, cumpre ressaltar que a lei determina que, nas últimas três hipóteses (reforma substancial, uso próprio ou transferência de estabelecimento empresarial), o locador tem um prazo de 03 (três) meses (salvo caso fortuito ou força maior), contados a partir da entrega do imóvel, para dar a este o destino alegado ou iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou pretender realizar, sob pena de ter que indenizar o locatário pelos prejuízos e lucros cessantes que tiver que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do estabelecimento empresarial (art. 52, § 3.°, da Lei 8.245/1991). O STJ também entende que o locatário tem direito à indenização se o locador der ao bem destinação diversa daquela declarada na ação renovatória. Por fim, segundo a doutrina de Ricardo Negrão (NEGRÃO, 2014, p. 108-109), o proprietário do imóvel pode exercer sua defesa na ação renovatória de aluguel, mediante exceção de retomada, em algumas situações, apresentando como fundamento, além da ausência dos requisitos legais: a) realização de obra por determinação do Poder Público, desde que estas importem em mudança radical (LL, art. 52, I); b) realização de obras para modificação que aumente o valor do negócio ou da propriedade (LL, art. 52, I); c) utilização do imóvel para uso próprio ou para transferência de fundo de comércio já existente há mais de um ano, quando o detentor do capital social for o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente (LL, art. 52, II). Neste último caso, é vedado o uso para o mesmo ramo do locatário, salvo se a locação envolver o arrendamento do próprio estabelecimento empresarial (LL, art. 52, § 1º). A permissão(exceção de retomada para transferência de estabelecimento próprio) não abrange imóvel localizado em shopping center (LL, art. 52, § 2º) porque a atividade do locador é a de administrar o pool de locatários e não de exercer atividade varejista (Restiffe Neto, 2000 (b):262); d) insuficiência da proposta apresentada pelo locatário, considerando o valor locatício real, excluída a valorização decorrente do ponto (LL, art. 72, II); e) existência de melhor proposta de terceiro (LL, art. 72, III), permitida contraproposta pelo autor no momento da réplica (LL, art. 72, § 1º). Ocorrendo a conversão – falta de renovação do contrato de locação – o locatário terá direito à indenização, em três situações, duas previstas em lei e a última por entendimento sumular: a) na aceitação de melhor proposta; b) na retomada para realização de obra pelo Poder Público e o proprietário quedar-se inerte por prazo igual ou superior a três meses da data da entrega do imóvel; c) na retomada para construção mais útil. Nos primeiros casos, a indenização inclui o efetivo prejuízo e os lucros cessantes e, no último, limita-se às despesas de mudança. Somam-se a estas situações a inércia ou insinceridade (desvio de uso) na retomada por parte do locador (LL, art. 44, parágrafo único), circunstâncias que implicam imposição, em ação própria, de multa a ser fixada pelo magistrado, equivalente a um mínimo de doze e a um máximo de vinte e quatro meses do valor do último aluguel atualizado ou do que esteja sendo cobrado do novo locatário, se realugado o imóvel. Assim, conforme preleciona Fábio Ulhoa Coelho (COELHO, 2014, p. 138), o direito de inerência ao ponto é exercido por meio de uma ação judicial própria, denominada renovatória. Esta ação deve ser proposta pelo locatário no prazo de decadência assinalado pela lei, isto é, entre 1 ano e 6 meses antes do término do prazo do contrato a renovar. Em termos práticos, a renovação deve ser pleiteada pelo locatário no transcurso dos primeiros 6 meses do último período anual de vigência do contrato de locação. Se o locatário não conseguir negociar com o locador, antes do fim desse prazo, a assinatura de novo contrato de locação por escrito, deve promover a ação renovatória, para assegurar o seu direito. Como é decadencial o prazo, não se interrompe, nem se suspende. Note-se que a perda do prazo para a ação renovatória não importa o fim do vínculo locatício. Na verdade, encerrado o prazo contratual determinado, se as partes simplesmente continuarem cumprindo as obrigações próprias da locação, considera-se prorrogado o vínculo. Neste caso, contudo, a locação perde a sua natureza empresarial e o locatário sujeita-se à retomada do bem, pelo locador, mediante simples aviso com 30 dias de antecedência REFERÊNCIAS COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa / Fábio Ulhoa Coelho. — 18. ed. — São Paulo : Saraiva, 2014. NEGRÃO, Ricardo. Direito empresarial: estudo unificado / Ricardo Negrão. — 5. ed. rev. — São Paulo : Saraiva, 2014 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado / André Luiz Santa Cruz Ramos. – 4. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.
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