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Direito Penal III Direito Penal III Direito Penal III Direito Penal III ---- Prof. Leonardo Siqueira Prof. Leonardo Siqueira Prof. Leonardo Siqueira Prof. Leonardo Siqueira Homicídio - Casos Práticos 1) Sabe-se que o homicídio tutela a vida, mas não em todas as suas fases. Se uma mulher está inicialmente grávida e toma um remédio que a faz perder o produto da concepção, ela responderá por homicídio ou por aborto? Da concepção até antes do início do parto (rompimento da placenta), só há a possibilidade de ser aborto. Do início do parto, e, posteriormente, existem duas possibilidades: excepcionalmente será infanticídio e, normalmente, será homicídio. Então, até o início do parto, só pode ser um único delito: o aborto. 2) Supondo-se que Felipe tenha engravidado a sua namorada. A criança nasce. Nasce, contudo, é inviável (não há a menor possibilidade de sobrevivência; irá, portanto, fatalmente morrer). Tendo consciência dessa situação, Felipe mata seu filho. Nesse caso, pode-se falar em homicídio? Sim, pois, mesmo sendo inviável (está vivo), continua a se tutelar a vida. Agora, em se tratando do anencefálico. Há vida? Só há vida se houver atividade cerebral. Então, o STF considera, nas situações de anencefalia, que as mulheres podem realizar o aborto, uma vez que o fato seria atípico (não lesa nenhum bem jurídico – não há bem jurídico, nessa situação, a ser tutelado). Só há, portanto, conduta delituosa se existir ofensa a um bem jurídico. Na situação de aborto do anencefálico não há, dessa forma, crime. 3) Há uma questão, exposta no vol. 2 de Bitencourt, sobre os gêmeos xifópagos. Suponhamos que Mévio e Simprônio são gêmeos xifópagos e Tício só deseja matar Mévio. Ambos só possuem um órgão vital (um coração, por exemplo). Em virtude do tiro desferido por Tício em Mévio, acabaram morrendo Mévio e Simprônio. Nessa situação, há um ou dois homicídios? Há dois homicídios, pois existem, nesse caso, duas atividades cerebrais (só há vida se houver atividade cerebral), configurando duas vidas diversas. Agora, pergunta-se: ambos são homicídios dolosos ou um é doloso e o outro é culposo? Ou são dois homicídios dolosos, os dois por dolo direto ou homicídio doloso por dolo direto e o outro por dolo eventual? Nessa situação, um será dolo direto (Mévio) e o outro será dolo eventual (Simprônio). ******* (Questão acerca do dolo) 4) Sabe-se que o dolo é a consciência e a vontade de realizar o tipo objetivo. Há, portanto, um dolo de matar, de furtar, de roubar, de extorquir, de constranger etc. No dolo de matar, há a consciência a vontade de matar alguém (portanto, uma pessoa). Por exemplo, se Tício vai para a floresta caçar urso, e, ao cair da tarde, ele vê e atira em um vulto que se assemelha a um urso (na verdade, tratava-se de Mévio), não há dolo de matar (ele pratica erro de tipo, pois, apesar de Tício ter a consciência e a vontade de matar, ele imaginava ter matado um urso e não uma pessoa = alguém). Tício poderá responder a título de culpa. (Questão acerca do sequestro e extorsão mediante sequestro) 5) Suponhamos que Simprônio sequestra Ambrosina para forçá-la a se casar. Tal conduta tipifica sequestro ou extorsão mediante sequestro? Sequestro, pois a consciência de Simprônio é privar Ambrosina de sua liberdade. Se ele comete, todavia, o mesmo ato, com a finalidade, o escopo de obter mediante sequestro alguma vantagem, tal crime deixa de ser sequestro e passa a ser extorsão mediante sequestro, uma vez que há um elemento subjetivo no tipo diferente do dolo, que é obrigatório nesse tipo. E mesmo que ele não realize nenhum ato, externando que deseja o resgate, a intenção já configura o crime de extorsão mediante seqüestro. Assim, se Simprônio sequestrou Ambrosina com o intuito (intenção) de pedir um resgate, mas ele não pediu, ele cometeu o crime de extorsão mediante sequestro. ******* 2 Questões Polêmicas 6) Imaginemos que Ambrosina deu um tiro em Lívia e, após tal situação, ela se encontra no hospital em coma (ela está, obviamente, viva). Assim, Ambrosina responde por tentativa de homicídio. Ambrosina é processada, julgada e condenada por tentativa de homicídio e o processo transita em julgado (não cabe mais recurso). Após o trânsito em julgado (situação em que não há revisão da matéria), Lívia vem a falecer. Pergunta-se: pode Ambrosina ser julgada agora por homicídio consumado? Não, pois, valendo-se do que apregoa o instituto da revisão criminal (possibilidade de rever a decisão proferida), ela só ocorrerá quando existirem situações nas quais o réu for beneficiado. Portanto, a revisão criminal (ela não apresenta prazo) é utilizada quando em benefício do réu. 7) Caso de Bruno, jogador de futebol. Suponhamos que ele seja processado, julgado e condenado e, após o trânsito em julgado, Eliza, cujo corpo não havia sido encontrado (na prática, é muito difícil ser condenado quando não acham o corpo), reaparece. Lembre-se que apenas as leis penais retroagem em benefício do réu. Questiona-se: ele será libertado? Sim, pois, nessa situação, há o instituto da revisão criminal, e ele será utilizado nas situações em que o réu seja beneficiado. Homicídios Simples, Privilegiado, Qualificado e Culposo - Casos Práticos **** Circunstância Atenuante (Violenta Emoção, alínea c, art. 65, CP) 8) Caso real. Ao retornar mais cedo de jogo de futebol, homem assassinou mulher com 25 facadas sob domínio de violenta emoção (não se trata de qualquer emoção), pois a encontrou na cama com três homens. Na circunstância, consoante preceitua o art. 65 do CP, alínea c, a pena será atenuada em decorrência de o crime ter sido cometido sob a influência de violenta emoção. 9) Contudo, na situação, por exemplo, em que Tício encontra sua mulher Ambrosina traindo-o com outro e ele, com a cabeça quente, sai, fuma um cigarro, e após algum tempo retorna à sua casa e mata Ambrosina. Nessa situação, não se pode falar em homicídio privilegiado porque o lapso temporal não foi cumprido (o lapso temporal é um curto espaço de tempo, analisado caso a caso). 10) Imaginemos que Ambrosina contrata um pistoleiro profissional para matar um desafeto. Ambrosina dá todas as coordenadas (mostra fotos, local de trabalho, hábitos da vítima). O pistoleiro cumpre com o acordado, matando o desafeto de Ambrosina, sem receber, contudo, o pagamento. Pergunta-se: o pistoleiro responde por homicídio qualificado? Responde, pois, conforme determina o inciso §2º do I do art. 121, o homicídio é qualificado mediante paga ou promessa de recompensa. Salienta-se que a recompensa deve ter valor econômico, monetário. Na situação em que Mévio pede para Caio matar Tício e, em troca, Mévio permite que Caio durma com sua mulher, tal fato não se trata de recompensa. 11) Tício matou Mévio enquanto estava dormindo. Trata-se de traição ou surpresa? Se Tício é amigo de Mévio e o espera dormir, trata-se de traição. Se, entretanto, ele não conhece Mévio, chega à casa dele, adentra ao quarto e o mata, ocorre a surpresa. Em ambos os casos, vale salientar, ocorre o chamado homicídio qualificado, conforme a dicção do art. 121, §2º, IV (à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação...). 12) Imaginemos que Tício deseja sequestrar Mévio e, para facilitar sua manobra criminosa, mata o segurança de Mévio (Tício mata o segurança para executar um outro crime). Nessa situação, trata-se de homicídio qualificado, conforme exposto no art. 121, §2º, V (assegurar a execução, a ocultação (oculta ser descoberto), aimpunidade (oculta as consequências) ou vantagem de outro crime). 13) Na ocultação, não se sabe quem é o autor do crime. Imaginemos, por exemplo, que Tício tenha estuprado uma menina de 13 anos e, para assegurar a ocultação desse crime, ele mata Mévio, pessoa que estava prestes a descobrir. Na impunidade, contudo, já se sabe quem é o autor e o que se deseja evitar, nessa situação, são as consequências jurídicas do crime anterior, como, por exemplo, matar a única testemunha do caso (Tício mata Mévio e, para assegurar a impunidade do crime, ele mata Caio, única testemunha do crime). Em se tratando de vantagem, ela ocorre na situação em que Mévio e Tício realizam, por exemplo, um roubo e, posteriormente, Mévio se arrepende, querendo ir embora ou relatar à polícia o ocorrido. Então, para evitar tal atitude de Mévio, Tício mata-o e fica com todo o dinheiro. **** Questões Relevantes 14) É possível um homicídio privilegiado e qualificado ao mesmo tempo? Pode, desde que a qualificadora não seja subjetiva (matar com relevante valor social e com emprego de fogo). 15) É possível compensação de culpas no Direito Penal? Por exemplo, Tício vem dirigindo seu carro com velocidade acima da permitida e Ambrosina, desatenta, passa no meio da rua, sem ser na faixa, e, por azar, ele não consegue frear e bate nela, jogando-a bem longe e matando-a. A culpa de Ambrosina diminui a de Tício? A culpa dela pode igualar e excluir a de Tício? Não, pois no Direito Penal não há compensação de culpas. Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio (Participação em Suicídio) – Casos Práticos 16) A prestação de auxílio para que uma pessoa se suicide (art. 122, CP) pode ocorrer indicando os meios ou modos para que o indivíduo que deseje tal intento o faça da forma mais eficaz. Por exemplo, Mévio deseja matar-se com gás e Tício o orienta a fazê-lo da forma mais eficiente possível (entrar em quarto hermeticamente fechado, posicionar de tal modo a torneira que libera o gás etc). 17) Suponhamos que Caio cria uma música que instiga de maneira proeminente o suicídio. Ou, em outra situação, um escritor relata em seu livro um eficiente modo de se matar. Influenciadas pela música ou livro, muitas pessoas terminam por se matar. O criador da canção ou o autor do livro respondem, nessas situações, por participação em suicídio ou por instigação? Não respondem, pois o crime de participação em suicídio deve visar a alguma(s) pessoa(s) determinada(s). 18) Ambrosina, extremamente descontente e deprimida, pede uma arma a Lívia, que lhe empresta um 38. Ambrosina, ao tentar se suicidar, dando um tiro na cabeça, fere-se muito gravemente, conseguindo, todavia, sobreviver. Por qual crime responde Lívia? No crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122), há duas possibilidades de consumação, expostas na pena do artigo 122. A consumação se dá com a morte (configura uma pena maior) ou com lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (pena menor). Lívia responde, portanto, por participação em suicídio. Se, contudo, a lesão corporal for de natureza leve, o fato será atípico, porque o próprio tipo penal, na sua estrutura, só traz duas possibilidades (suicídio consumado e lesão corporal de natureza grave), deixando de lado a lesão corporal de natureza leve. 19) Ambrosina e Lívia desejam se matar e ambas ficam se instigando. Para conseguir realizar o intento, elas entram num quarto hermeticamente fechado e Ambrosina liga o sistema de gás (realizou um ato executório). Ambas, contudo, encontradas desmaiadas, sobrevivem. Ambrosina e Lívia ficam lesões corporais leves. Por que crime Ambrosina e Lívia respondem? Ambrosina responde por tentativa de homicídio, pois ela realizou um ato executório (ligou o sistema de gás) e Lívia não responde por nada, pois a lesão corporal foi de natureza leve. Agora, suponhamos que Ambrosina e Lívia desejam se matar. Vão ao quarto hermeticamente fechado e Caio, terceira pessoa, aciona o sistema de gás. Ambas sobrevivem, porém, Lívia sai ilesa e Ambrosina sai com lesões corporais graves. Que crime comete cada pessoa? Caio responde por dupla tentativa de homicídio, Lívia responde por participação em suicídio e Ambrosina não responde por nada. Por fim, imaginemos que Ambrosina e Lívia entram nesse quarto e ambas abram o sistema de gás (ambas realizam o ato executório). Não conseguem morrer, mas sofrem lesões corporais de natureza leve. Nessa última situação, elas respondem por tentativa de homicídio, pois realizaram juntas um ato executório. 20) Tício e Mévio, sócios de uma firma, muito endividados, resolvem se matar. Eles vão para um quarto e tomam, cada um, um veneno. Ambos, entretanto, não morrem, mas ficam com lesões corporais de natureza grave. Qual crime eles cometem? Ambos praticam participação em suicídio, situação, explicitada na pena do artigo 122, do CP. Se Tício saísse com lesões de natureza leve e Mévio com lesões de natureza grave, Tício responderia por participação em suicídio e Mévio não responderia por nada (fato atípico). Se os dois saem com lesões de natureza leve, nenhum responderá (fato atípico). 21) Suponhamos que o professor Leonardo, muito rigoroso, induza a uma de suas alunas a se matar, alegando que ela não conseguirá ser aprovada em sua disciplina. A aluna, apavorada, comete suicídio. Sabe-se que prof. Leonardo será autor do crime em participação em suicídio. Pergunta-se: é possível participação no crime de participação em suicídio? Ou seja, nos crimes de participação em suicídio pode haver autor e partícipe? Sabemos que a participação pode ser material (próprio auxílio – meios de execução, instrumentos etc) e moral (induzimento e instigação). Sim, é possível. Por exemplo: o professor instiga um de seus alunos a instigar outro a cometer suicídio. Se o aluno vier a instigar, o professor será partícipe e o aluno que instigou é o autor. Não confundir o partícipe com o autor intelectual (este é aquele que paga, determina o como e de que modo deve acontecer o crime); o partícipe, nesse crime, tem o papel de instigar a pessoa. Importante salientar que, se alguém instigar um doente mental (ou também pessoa menor de 14 anos), sem qualquer discernimento, a se matar, o crime será de homicídio. Para haver induzimento, a pessoa que se suicida deve possuir noção do ato que realiza (deve ter discernimento). Por fim, se o indivíduo tem idade entre 14 e 18, apresenta discernimento, o crime será de participação em suicídio, com aumento de pena (art. 122, II). 22) Tício, incomodado com as constantes provocações advindas de Mévio, contrata Simprônio para que o mate, não informando como deseja de que modo seja realizado o crime. Simprônio, valendo-se de uma crise de depressão de Mévio, instiga-o a se suicidar, conseguindo realizar o intento. Pergunta-se: por que crimes respondem Tício e Simprônio? Valendo-se dos conhecimentos da Teoria Monista, adotada em nosso ordenamento, é sabido que haverá apenas um delito. Dessa forma, responderão Tício e Simprônio pelo crime de participação em suicídio. 23) 4 pessoas desejam se matar, utilizando-se da conhecida “roleta russa”. A primeira coloca o revólver em sua cabeça, aciona o gatilho, mas falha, pois não havia bala; a segunda, tenta, mas falha também; a terceira, falha também; a quarta, suando frio e tremendo, não consegue também; o revólver volta para o primeiro, que consegue, por fim, matar-se. Questiona-se: por que crime respondem os três sobreviventes? Participação em suicídio. Imaginemos, agora, que os mesmos quatro desejam se matar, sóque, dessa vez, um apontará a arma para o outro. O segundo aponta para o primeiro e nada acontece; o terceiro aponta para o segundo e nada ocorre; o quarto aponta para o terceiro, conseguindo matá-lo. Nessa situação, por qual crime respondem os três sobreviventes? O quarto (que conseguiu efetivamente matar uma pessoa) responde por homicídio e os demais (primeiro e segundo), por participação em suicídio. ****Observações importantes a) É possível haver auxílio a suicídio por omissão, desde que a omissão seja imprópria. É o caso, por exemplo, do agente penitenciário que tem o dever de cuidar dos presos. Nessa situação, responde por auxílio a suicídio (por omissão imprópria, configurado no art. 13, §2º, alínea a, CP) o agente que vê um de seus presos se enforcar e nada faz para evitar o fato. b) Na situação de médico que trabalha em unidade prisional e sabe que um dos presos está fazendo greve de fome e, para evitar que ele adoeça ou venha a falecer, pode, segundo dispõe o artigo 146, §3º, I e II, CP, intervir, fazendo com que venha a se alimentar. O mesmo se aplica em situação em que há um paciente em iminente perigo de vida e o médico realiza intervenção cirúrgica sem o consentimento da família. Infanticídio – Casos Práticos 24) Imaginemos que Ambrosina está grávida de 9 meses e encontra-se em estado puerperal (dura 7 dias, em média). No hospital, logo após o parto, ela quer matar seu filho, mas mata um recém-nascido, pensando ser o seu. Que crime comete? Responde por homicídio ou infanticídio? Havendo o erro, Ambrosina responde por infanticídio, conforme dispõe o art. 20, §3º, CP, que trata do erro sobre a pessoa. Agora, se, por exemplo, em estado puerperal, Ambrosina deseja matar qualquer criança, independentemente de ser seu filho, ela pratica, nessa situação, que crime? Ela comete, nesse segundo caso, homicídio. 25) Sabemos que são 4 as situações de estado puerperal (ep): 1. ep não afeta a mãe. Nesse caso, cometendo crime, ele será homicídio. 2. ep afeta a mãe, causando perturbação psíquica (modalidade clássica de ep). Cometendo delito, ele será infanticídio. 3. ep afeta a mãe, diminuindo sua capacidade de entendimento (semi-imputável, nessa situação). 4. Psicose puerperal, caso onde haverá inimputabilidade. Imaginemos um exemplo envolvendo o caso (modalidade) clássico de estado puerperal: Ambrosina, sob esse estado, no hospital, mata seu próprio filho, após o parto, só que não de forma dolosa (o infanticídio só existe na forma dolosa), mas de forma culposa. Trata-se de infanticídio? De homicídio? É homicídio culposo? Trata-se de fato atípico, pois não há previsão de modalidade culposa de mãe que mata filho de forma culposa no estado puerperal clássico. É o mesmo exemplo do dano (Art. 163, CP). No dano, quando se inutiliza um bem alheio de forma culposa, o fato é também atípico. O dano só é possível na forma dolosa. 26) Imaginemos que uma mulher grávida saiba que vai ter uma criança cuja vida é inviável. Assim, após o parto, essa mulher, sob o estado puerperal, mata o filho (cuja morte já era certíssima). Trata-se de infanticídio ou aborto? Trata-se de infanticídio, pois pouco importa se é inviável ou não. Agora, se nasceu morto, seria caso de crime impossível. 27) Agora, em outra situação, imaginemos que Ambrosina, em estado puerperal, é auxiliada pelo médico Tício, e ambos realizam a ação de matar (eles realizam atos executórios da ação de matar). Ambrosina e Tício respondem por que crime? Pela Teoria Monista, que informa que só há um crime, independentemente da quantidade de autores, ambos responderão pelo crime de infanticídio (observe o artigo 30 do CP). Na circunstância “ser mãe”, presente no artigo 123 do CP, ela é elementar para o crime de infanticídio, pois está no tipo penal. Então, tal circunstância subjetiva, por estar no tipo penal, irá se comunicar, conforme o artigo 30, a todos os partícipes ou co-autores. 28) Clécia, em estado puerperal, pede a Caio, médico, para matar seu filho, alegando que deseja fazê-lo, mas não conseguiria sozinha. Caio concorda em matar a criança. Clécia entrega o machado e o médico, sozinho, dá uma machadada na cabeça do recém-nascido (realiza, portanto, o ato executório). Por que crimes respondem o médico e a mãe? O autor Luiz Regis Prado, considerando ser o crime de homicídio, informa que deve haver uma causa obrigatória para diminuição do crime em se tratando da mãe (de 1/3 a 2/3), pois a pena do infanticídio é de 2 a 6 anos. Há autoria e participação e causa de diminuição por conta do estado puerperal. Para Cesar Bitencourt, a solução é feita com base no artigo 29, §2º, que trata da cooperação dolosamente distinta. O artigo trabalha o conceito de desvio subjetivo da conduta. Bitencourt diz que a mãe quis participar de um crime menos grave, que era o de infanticídio. Então, dessa forma, entra em cena a cooperação dolosamente distinta: o médico responde por homicídio e a mãe, como quis participar de crime menos grave, responde por infanticídio. Aborto – Casos Práticos Obs.: O aborto é um dos poucos crimes do Direito Penal que se apresenta como exceção exceção exceção exceção à Teoria Monista (tal teoria defende a unicidade de crime, independentemente da quantidade de agentes). Isso porque existem dois tipos penais específicos, um para o terceiro que provoca e o outro para a pessoa que provoca o primeiro. Questões Importantes: I. Não interessa se o feto é viável ou não, desde que exista vida intra-uterina, haverá crime se for cometido aborto; II. A questão do anencefálico trata-se de causa de excludente de tipicidade (STF vem assim considerando), pois não há bem jurídico a ser tutelado; III. Observe que o crime de aborto, o sujeito passivo sempre será o feto, mas, na situação do artigo 125 do CP, serão sujeitos passivos mãe e feto. 29) Ambrosina estava grávida de 8 meses. Tício, seu esposo, descobre que o filho não é dele. Tício decide matar Ambrosina. Dá um tiro na cabeça dela, que vem a falecer. Em virtude da sua morte, interrompe-se a gravidez, retirando-se o feto, que nasce com vida. Porém, duas horas depois, o bebê vem também a óbito. Por que crimes responde Tício? Responde por homicídio em relação à mãe. E, em relação ao bebê, trata-se de aborto ou homicídio? Se houve interrupção da gravidez e, mesmo o feto morrendo dentro ou fora da mãe, será aborto. Evidentemente, deve haver relação de causalidade. Se, por exemplo, o bebê nasce e vem a falecer 2 meses após por um outro detalhe, não haverá relação de causalidade. 30) Imaginemos que Tício convença sua namorada Ambrosina a abortar. Então, leva-a a uma clínica. Chegando lá, a jovem paga as despesas e Mévio, o médico, realiza a prática abortiva. Ambrosina responde por que crime? Por aborto, tipificado no artigo 124, pois consente que outrem lho provoque. Já o médico (Mévio) responde pelo artigo 126. E Tício é partícipe do crime, conforme disposição do artigo 124 (ele levou sua namorada à clínica). 31) Suponhamos que Tício tenha engravidado Ambrosina. Não querendo que ela tenha o filho, ele vai a uma clínica e informa que a namorada irá em um determinado dia para realizar o aborto. Solicita que o procedimento mais barato seja realizado e paga antecipadamente pelo ‘serviço’. No dia acordado, leva Ambrosina, que, apesar de chorando, consente, indo à clínica e fazendo o aborto. Ambrosina responde pelo artigo 124. O médico, pelo 126 (se alguém auxilia o médico, é partícipe do 126). E Tício é o autor intelectual do 126, pois domina o ‘como’ e o ‘se’ da ação.32) Imaginemos agora que Tício engravide Ambrosina. Ambrosina, não desejando ter o filho, diz a ele que vai fazer um aborto. Ele pede a ela que não faça, mesmo trabalhando em clínica abortiva e fazendo aborto de outras mulheres. E o médico faz e o realiza com o auxílio de Tício, que fornece meios e dá auxílio material ao médico. Nessa situação, Ambrosina é autora do artigo 124, o médico, autor do 126 e Tício, partícipe do 126. 33) Tício deseja matar a mãe e o bebê. Dá um tiro na cabeça da mãe. Morrem mãe e bebê. Há a figura do concurso formal impróprio (mediante uma ação, praticou dois ou mais crimes, com desígnios autônomos. Os dolos são diversos). Ele responderá por homicídio e aborto sem o consentimento da gestante. No concurso formal impróprio, sempre haverá a soma das penas. 34) Tício está apaixonadíssimo por Lívia, que não corresponde ao amor e o despreza. Com raiva e sem saber que Lívia estava grávida, ele resolve matá-la. Tício não responde por aborto, pois, nesse caso, não há dolo nessa situação. Responderá, tão-somente, por homicídio. 35) Mévio, após o jogo do Sport, vem em alta velocidade em seu carro, batendo acidentalmente no carro de Lívia, que, grávida, se assusta e, com isso, perde o bebê. Mévio não responde por aborto, pois esse crime só prevê a modalidade dolosa. Mévio responderá por lesão corporal culposa. “Art. 127 – Formas Preterdolosas (dolo na ação antecedente = manobra abortiva e culpa na ação posterior = lesão corporal de natureza grave ou morte)”. Sigamos o exemplo abaixo: 36) Vamos supor que Tício, com o consentimento de Ambrosina, provoca um aborto e, em virtude disso, ela fica incapacitada por mais de 30 dias para executar suas ações habituais. Quando tal fato ocorre, temos uma lesão corporal de natureza grave. Imaginemos que ele tenha agido de forma negligente quando da retirada do bebê e tenha lesionado o seu útero. Além da lesão corporal de natureza grave já mencionada (culpa na ação posterior), houve dolo na ação antecedente (aborto), configurando um crime preterdoloso. 37) Imaginemos agora que Lívia esteja grávida e que ela realiza um autoaborto e produz, de modo acidental, nela mesma, uma lesão corporal de natureza grave. A mãe responde pelo crime de aborto tipificado no art. 124 ou pelo aborto qualificado pela lesão corporal? A mãe responde pelo artigo 124 do CP porque não há lesividade (a ação deve lesar um bem jurídico alheio). Exclusão de Ilicitude no aborto: � Aborto necessário – mãe em perigo de vida; � Aborto em caso de gravidez resultante de estupro. É o chamado aborto humanitário. 38) Lívia descobre que está grávida. Sua gravidez, porém, é arriscada e sabe que pode morrer caso prossiga com a gestação. Ciente desse risco, ela se desloca a uma emergência e uma enfermeira realiza o aborto. Pergunta-se: a enfermeira será punida por aborto? A enfermeira não será punida, pois, nessa situação, o aborto praticado foi necessário (havia um perigo de morte). Já, se fosse em decorrência de estupro, a enfermeira, realizando o aborto, seria punida. A punição da enfermeira em caso de aborto resultante de estupro se dá em decorrência do fundamento jurídico presente no estado de necessidade. Na primeira situação (aborto necessário), há o estado de necessidade, que exclui a ilicitude da conduta, uma vez que não há outro meio para salvar a vida da gestante. Na segunda hipótese - aborto humanitário, resultante de estupro –, se a enfermeira o pratica, ela comete o crime de aborto, pois não há excludente legal (“Não se pune aborto praticado por médico” – Art. 127). Já, em se tratando de médico, em qualquer das duas situações, não há crime. Porém, se Lívia fosse menor e o médico realizasse o aborto humanitário (resultante de estupro), sem o consentimento dos pais, ele responderia pelo crime de aborto. Lesão Corporal – Casos Práticos 39) Imaginemos que Caio deseje lesionar Tício no braço com uma faca e Mévio, muito amigo de Tício, presenciando o fato, evita que ocorra o dano. Nesse caso, existiu a figura da tentativa na lesão corporal. Em termos práticos e, conforme a aulas do prof. Leonardo, apesar de existir tentativa na lesão corporal, ela é muito difícil de ser comprovada. Importante lembrar que a consumação da lesão corporal se dá com efetivo dano à integridade corporal (alteração anatômica ou funcional, interna ou externa) ou à saúde da pessoa (alteração fisiológica ou perturbação psíquica). 40) Suponhamos que Mévio, com raiva de Tício, dá um murro nele. Em função disso, Tício dá alguns passos para trás, desequilibra, cai na rua e, por azar, um ônibus o atropela, deixando-o cheio de graves hematomas e escoriações. Tício, nessa situação, ficou em perigo de morte. Observe que tal perigo de ‘vida’ não apresenta relação de causalidade com a lesão que Mévio produziu. Sendo assim, Mévio não responde por lesão corporal de natureza grave. 41) Lívia é excelente pianista. Caio, um admirador seu, está perdidamente apaixonado por ela, porém não tem seu amor correspondido. Com raiva dela, Caio corta o dedo mindinho de Lívia. Nessa situação, Lívia ficou com uma incapacidade para exercer sua profissão pianista. Nesse exemplo, não há uma lesão corporal gravíssima, uma vez que Lívia pode exercer outras profissões. O sentido de ‘trabalho’, presente no §2º do artigo 129 do CP, traz uma noção de trabalho em geral (não poder mais trabalhar em nenhuma situação). 42) Tácito, com muita raiva de Lívia e sem saber que ela estava grávida de suas semanas, dá uma surra nela. Em função disso, ela tem um aborto. Tácito responde por lesão corporal gravíssima em virtude do aborto? Não. 43) Tício e Mévio, por um determinado motivo, acabaram brigando. Tício deu um soco em Mévio, que tentou, sem sucesso desviar-se do golpe. Com o golpe, Mévio se desequilibrou, caiu, quebrando o pescoço (morrendo, obviamente). Qual crime cometeu Tício? Cometeu lesão corporal leve. A morte, nesse caso, ocorreu por caso fortuito ou força maior. Para se responder por lesão corporal seguida de morte (§3º, Art. 129, CP), a morte tem que ser produto da culpa, ou seja, deve haver lesão ao dever objetivo de cuidado (ocorreu na situação descrita) e previsibilidade do resultado (fato que não ocorreu nesse exemplo). Tício não podia prever que, com seu murro, Mévio escorregaria e quebraria o pescoço. Não é previsível a morte. Então, a morte não foi produto de culpa. A morte foi um caso fortuito (foi lesão corporal, puramente). 44) Professor Pardal, conhecido químico, ao dar uma aula para sua turma de pré- vestibular, deixa cair, imprudentemente, ácido no rosto de Amélia, uma de suas melhores alunas. O ácido causou uma deformidade terrível no rosto de sua aluna, para o resto da vida. Nessa situação, trata-se de qual tipo de lesão corporal? É gravíssima, por conta da deformidade permanente? Não! É uma lesão corporal culposa (§6º, Art. 129, CP). Por mais que tenha havido deformidade permanente no rosto de Amélia, deveria haver dolo para a lesão ser leve, grave ou gravíssima (a intenção de lesionar é por dolo). No caso do professor, ele causa lesão corporal por culpa. Aumento de Pena - Lesão Corporal 45) O pai tem um filho paralítico e, num determinado dia, ele comete uma loucura cortando o braço do filho, produzindo lesão corporal gravíssima. Em tese, haverá dois aumentos? Dois. Um, referente ao parágrafo §10º, onde a pena aumenta de 1/3 na lesão grave, gravíssima ou seguida de morte e de 1/3 se for portador de deficiência. Pergunta-se: aplicam-se essas duas causas de aumento?Não! Veja-se a Parte Geral (Art. 68, parágrafo único). Dos Crimes Contra Honra - Calúnia – Casos Práticos 46) Figura equiparada à calúnia (§1º, art. 138): suponhamos que Tício atribua a Mévio um fato definido como crime (falsamente, é claro) e, Ambrosina, sabendo que tal fato é falso, propala (número mais restrito de pessoas) ou divulga (número maior de pessoas) a certeza. Ou seja, aumenta a lesão à honra objetiva de outrem. 47) Exceção da verdade: Paulo está processando Tácito por calúnia, porque, supostamente, Tácito teria imputado falsamente um fato definido como crime a ele. Dentro desse mesmo processo, Tácito entra com exceção da verdade para provar que aquilo que ele falou era verdade. Se ficar provado, não será calúnia. A exceção da verdade não é permitida em 3 casos, conforme diz o código (§3º, Art. 138, I, II e III). 48) Suponhamos que Ambrosina foi estuprada por Mévio. Tício, nato fofoqueiro, espalha a notícia, dizendo que, no dia 28 de agosto Mévio estuprou Ambrosina na casa dela. Então, Mévio entra contra Tício com uma ação de calúnia. Tício só poderá entrar com a exceção da verdade se Ambrosina já tiver entrado com uma ação penal privada e Mévio já tiver sido condenado, porque Ambrosina tem a disponibilidade de não entrar, por se tratar de ação penal privada. Tício não pode tomar o lugar de Ambrosina na ação penal. Artigo 138, §3º, I. 49) Ambrosina está sendo processada por furtar a bolsa de Lívia. Ambrosina foi absolvida. Em um determinado dia, após a absolvição, professor Tácito propala que Ambrosina furtou a bolsa de Lívia. Ciente da notícia dita pelo professor, Ambrosina entra com uma ação de calúnia contra ele. O professor, nessa situação, não poderá entrar com exceção da verdade, porque Ambrosina já foi absolvida com o trânsito em julgado. No Direito Penal não existe ação rescisória para prejudicar a parte, só para beneficiar. “Se não couber exceção da verdade, mesmo que, o fato seja verdade, ele será considerado falso.” (entendimento majoritário da doutrinária). Então, nunca caluniem as pessoas cominadas no artigo 141 (I, II e III), porque mesmo que seja verdadeiro, o fato será considerado falso. Calúnia Reflexa 50) Caio, funcionário público, recebeu 8 mil reais de Ambrosina para retardar o ato de ofício. Nessa situação, Tício, ao divulgar o fato, desejou caluniar Ambrosina. Tal calúnia, na situação descrita, é chamada de calúnia reflexa. Dessa forma, se ele recebeu dinheiro, cometeu corrupção passiva, e Ambrosina, ativa. Pode-se cometer calúnia, difamação por meio de metáforas, hipérboles.... Dos Crimes Contra Honra - Calúnia – Casos Práticos 51) Imaginemos que Pedro seja funcionário público e Antônio o ofende. Nessa situação, ele pode entrar com a exceção da verdade? Não, porque mesmo o fato sendo verdadeiro ou falso, Antônio será condenado por difamação. Só que, se Antônio causa uma difamação a um funcionário público e essa difamação é relativa ao exercício das suas funções e esse funcionário entra com um processo de difamação contra Antônio, ele poderá provar que esse fato é ou não é verdade porque a própria Administração Pública tem interesse em saber o fato é verdade. A conduta do funcionário pode gerar um processo administrativo quando há desvio no exercício de suas funções.
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