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1 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM APENDICITE AGUDA ANATOMIA: Estrutura vermiforme tubular e alongada, fixado ao ceco em sua porção posteromedial, na confluência de tênias colônicas. A localização mais comum é retrocecal, podendo assumir posição pélvica e retroperitoneal. Histologia: Possui diversas estruturas linfoides que conferem ao apêndice certa função imunológica. Na apendicite o diagnóstico histológico é possível pela presença de neutrófilos ocupando toda parede. FISIOPATOLOGIA: A inflamação do apêndice é a causa mais clássica e também mais comum de abdome agudo em ambos os sexos, na gestante e na criança. Cerca de 7-8% dos indivíduos nos países ocidentais têm apendicite em algum momento em suas vidas, com maior incidência entre 10-30 anos (2ª década de vida), sendo ligeiramente mais prevalente em homens dentro dessa faixa etária (3:2), contudo algumas bibliografias apontam mesma incidência entre ambos os sexos. É a cirurgia de emergência mais realizada pelo cirurgião geral, respondendo por cerca de 1% de todas as cirurgias. Obstrução da luz proximal – por bandas fibrosas, hiperplasia linfoide, fecalitos, cálculos ou parasitas – há muito tempo vem sendo considerada a principal causa da apendicite aguda. É importante ressaltar que, quanto mais grave o quadro de apendicite, maior a probabilidade que o mesmo seja devido à obstrução por fecalito/apendicolito. Fecalitos e cálculos são encontrados em apenas 10% dos apêndices agudamente inflamados. O apêndice inicialmente entra em contração para eliminar o corpo estranho, ou mesmo tenta regredir a hiperplasia linfoide, quando esse sistema falha a obstrução do lúmen leva ao acúmulo de secreção com supercrescimento bacteriano, como consequência ocorre aumento da pressão intraluminal e distensão do apêndice. Esse quadro deflagra o início da condução do estímulo álgico pelos nociceptores viscerais apendiculares, causando dor, referida como periumbilical vaga em mesogastro. Em um segundo momento, a obstrução compromete o retorno venoso e linfático, gerando isquemia do órgão, atingindo o peritônio parietal, dor passa então a ser localizada em fossa ilíaca direita. Todos esses achados conduzem a um processo inflamatório que pode culminar em necrose e perfuração. A perfuração ocorre após 48 horas do início dos sintomas, podendo causar abcesso localizado ou em casos mais graves, peritonite generalizada com consequente formação de múltiplos abcessos intraperitoneais. Na perfuração bloqueada (abcesso periapendicular), o paciente pode se encontrar oligossintomático, queixando-se de algum desconforto em fossa ilíaca direita; já na perfuração livre para o peritônio, a dor abdominal é de grande intensidade, com presença de abdome em tábua (rigidez generalizada), com temperatura elevada e o paciente podendo evoluir para sepse. As bactérias mais comuns são Bacteroides fragilis e E.coli. Cultura de líquido peritoneal durante episódio de apendicite aguda só é colhido em imunossuprimidos e pacientes que desenvolvem um abscesso após tratamento convencional, já que existe maior possibilidade de existir uma flora bacteriana atípica. 2 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM CLASSIFICAÇÃO DA APENDICITE: Catarral: fase da obstrução – única fase que o quadro é capaz de regredir sozinho. Supurativa Simples: a obstrução não foi eliminada, culminando com edema, mas sem infecção. Melhor fase para realizar a apendicectomia. Grangrenosa: necrose da parede isquêmica. Perfurativa. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Apendicite deve ser lembrada em todo e qualquer quadro abdominal agudo, devendo ser a segunda hipótese em quadros abdominais inflamatórios. Normalmente, o quadro inicia com desconforto vago no meio do abdome (epigástrio) ou periumbilical, seguido por náusea, anorexia e indigestão. A dor é contínua, mas não intensa, com cólica leve ocasional. O paciente pode sentir-se constipado ou vomitar. É importante ressaltar que, algumas horas após o início dos sintomas (cerca de 12 horas), a dor desloca-se para o quadrante inferior direito, fossa ilíaca direita, tornando-se localizada e agravando-se quando o paciente se movimenta, caminha ou tosse, dessa forma os pacientes com apendicite procuram se movimentar o mínimo possível devido à irritação peritoneal, e quando deitados assumem posições características: permanecem em decúbito dorsal com as pernas fletidas, principalmente a perna direita. Ao exame físico, habitualmente encontra-se uma temperatura em torno de 38 graus e revela sensibilidade localizada à palpação e, talvez, algum grau de defesa abdominal, inicialmente voluntária e depois involuntária. Dor à descompressão súbita ou sensibilidade dolorosa à percussão podem ser provocadas no quadrante inferior direito. Peristalse está geralmente diminuída, devido ao íleo paralítico. Os toques retal e vaginal tendem a ser negativos; quando positivos, apontam para outra etiologia. A administração de analgésicos opioides não afeta a acurácia do exame físico. Sinal de Blumberg: dor de maior intensidade a descompressão súbita do abdome, indicativa de peritonite. Sinal de Lapinsky: dor à compressão da FID enquanto o paciente ou o próprio examinador eleva o membro inferior direito esticado (apêndice retrocecal). Sinal de Dunphy: dor em FID que piora com a tosse. Sinal do Obturador: dor hipogástrica provocada pela flexão da coxa e rotação interna do quadril (apêndice pélvico). Sinal do Iliopsoas: dor provocada pela extensão e abdução da coxa direita, com o paciente deitado sobre o seu lado esquerdo. Sinal de Rovsing: dor na FID após compressão da FIE (peristalse retrógrada). 3 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM A apendicite aguda pode ser confundida com outros quadros cirúrgicos quando o apêndice está localizado fora do quadrante inferior direito. Contudo, mesmo quando o ceco está normalmente situado, um apêndice longo pode alcançar outras regiões do abdome. Há três pontos gerais que devem ser repassados: Os indivíduos na fase inicial da apendicite (não perfurada) não têm aparência enferma. A sensibilidade dolorosa localizada sobre o ponto de McBurney (limite entre o terço médio e lateral de uma linha imaginária traçada da espinha anterossuperior direita ao umbigo) é a base do diagnóstico. Uma regra que ajuda muito nos casos atípicos é nunca colocar a apendicite abaixo do segundo lugar no diagnóstico diferencial de dor abdominal aguda em indivíduo previamente saudável. Na maioria dos casos, os pacientes com apendicite apresentam-se com história de desconforto abdominal generalizado que com o tempo se concentra no quadrante inferior direito. Quatro grupos merecem toda atenção, pois se esperar o padrão clássico pode-se deixar passar o diagnóstico, esses grupos incluem: crianças, idosos, gestantes e obesos mórbidos. Em crianças o quadro é totalmente atípico, podendo cursar apenas com febre, letargia, vômitos intensos e diarreia, sendo a perfuração muito mais comum, em razão de imaturidade do omento (sendo uma de suas funções, bloquear a infecção). Em idosos, tem-se um pior prognóstico, a dor é menos intensa, o leucograma pouco elevado e a temperatura menos elevada. A incidência de perfuração é ainda maior que na criança. Na gestante, o diagnóstico se torna difícil por dois aspectos: deslocamento do apêndice pelo útero gravídico e confusão dos sintomas comuns à gravidez; tanto a TC quanto a RM são altamente específicas para o diagnóstico de apendicite aguda durante a gravidez. A gestante corre grande perigo de infecção abdominalgrave e o feto é mais vulnerável ao parto prematuro e suas complicações. A apendicectomia laparoscópica é bem tolerada tanto pela gestante quanto pelo feto, mas a frequência de complicações técnicas é mais alta do que com a abordagem aberta. A apendicectomia durante a gravidez frequentemente é seguida por trabalho de parto prematuro, mas raramente por nascimento prematuro, o procedimento precoce na gravidez reduziu a taxa de morte materna para menos de 0,5% e a taxa de morte fetal para menos de 10%. Em geral, a apendicectomia não aumenta o risco de infertilidade futura. Obesos mórbidos passam por dificuldades semelhantes aliados ao fato da dificuldade de se obter imagens que sejam confiáveis. 4 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM DIAGNÓSTICO: Essencialmente clínico. Exames laboratoriais: o grande valor do laboratório é sugerir perfuração e excluir doenças do trato geniturinários, sendo que EAS pode mostrar hematúria microscópica e/ou piúria, mas sem bacteriúria, sendo que bacteriúria e hematúria macroscópica são sugestivas de ITU e litíase renal. A contagem média de leucócitos é 15.000/µL, e 90% dos pacientes têm contagem acima de 10.000/µL. Em três quartos dos pacientes, a contagem diferencial mostra mais de 75% de neutrófilos. Contudo, deve-se enfatizar que 1 a cada 10 pacientes com apendicite aguda apresentam contagem normal de leucócitos, e muitos têm contagem diferencial normal. Em indivíduos HIV-positivos, a apendicite, embora seja 3 vezes mais frequente, produz a mesma síndrome observada em adultos saudáveis, mas a contagem de leucócitos geralmente é normal. Exames de imagem: radiografia não é um bom método, porém em alguns casos pode- se solicitar RX de tórax para avaliação de pneumoperitôneo e RX de abdome (em ortostatismo e decúbito dorsal), observando-se presença de alça sentinela, desaparecimento do músculo psoas e presença de fecalito. Sendo o USG um método válido, com sensibilidade de 85% e especificidade de 90%. São sinais sugestivos: diâmetro anteroposterior ≥ 7mm; espessamento e estrutura luminal não compressível; presença de apendicolito; ausência de gás no interior do apêndice; alteração da gordura periapendicular e alteração do fluxo vascular apendicular. A tomografia computadorizada do abdome também apresenta sensibilidade e especificidade elevada (80 e 90%, respectivamente). Atualmente sendo eleita como o melhor método de imagem para o diagnóstico. Um apêndice aumentado com espessamento da parede e acentuação ou borramento da gordura adjacente ao apêndice são os achados mais úteis na apendicite aguda. Outros sinais podem estar presentes, incluindo espessamento focal do ceco, apendicolito, ar extraluminal ou intramural e abscesso pericecal, mas são menos confiáveis. A administração de contraste por via oral não é necessária. Apesar de uma prática comum, a TC de abdome não deve ser solicitada de rotina, dentre suas desvantagens pode-se citar a perda de tempo desnecessária, risco de alergia ao contraste, nefropatias, broncoaspiração e elevada radiação ionizante. Um exame negativo pode ser atribuído a um quadro precoce e sem sintomas característicos. Nos casos de baixa probabilidade, a principal indicação do exame é na população idosa. Por último, casos que pareçam duvidosos, deve-se realizar laparoscopia diagnóstica. A melhor estratégia nos casos duvidosos é observar o paciente pelo período de 6 horas ou mais. Neste período, os pacientes com apendicite irão apresentar aumento da dor e sinais de inflamação, enquanto aqueles sem apendicite geralmente melhoram. Os diagnósticos falso- positivos frequentemente ocorrem nos casos em que o cirurgião deu mais importância à dor do paciente do que à presença de sinais de inflamação. A maior incidência de diagnósticos falso- positivos (20%) ocorre em mulheres entre 20 e 40 anos, o que é atribuído a quadros ginecológicos como doença inflamatória pélvica. Em comparação com a apendicite, a doença inflamatória pélvica está mais frequentemente associada à dor bilateral nos quadrantes inferiores, sensibilidade no anexo esquerdo, início dos sintomas 5 dias após o último período menstrual e a uma história que não inclui náusea e vômitos. Os sistemas de pontuação clínica podem ser efetivos para o diagnóstico de apendicite aguda. Por exemplo, o escore de Alvarado, que utiliza dados do exame físico e achados laboratoriais, tem excelente valor preditivo positivo, com sensibilidade de 99%. 5 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM ESCALA DE ALVARADO PARA DIAGNÓSTICO DE APENDICITE Manifestações Valor Sintomas Migração da dor 1 Anorexia 1 Náusea e/ou vômitos 1 Sinais Inflamação em quadrante inferior direito 2 Descompressão dolorosa 1 Aumento da temperatura 1 Leucograma Leucocitose 2 Desvio para esquerda 1 Total: 10 pontos COMPLICAÇÕES: Abscesso do apêndice: ocorre perfuração localizada quando a infecção periapêndice é isolada pelo omento e vísceras adjacentes. A apresentação clínica consiste nos achados comuns da apendicite, e pode incluir a palpação de uma massa no quadrante inferior direito. Há indicação para US ou TC; se for encontrado um abscesso, o tratamento preconizado é aspiração percutânea guiada por imagem. Há opiniões divergentes sobre como conduzir o caso quando há abscessos e fleimões pequenos. Alguns cirurgiões preferem o regime composto por terapia antimicrobiana e conduta expectante seguido por apendicectomia eletiva após 6 semanas, a fim de evitar disseminação da infecção localizada e necessidade de cirurgia mais extensa. Essa estratégia está associada a taxas menores de complicações em geral, de formação de abscesso, obstrução intestinal e reoperação. Outros cirurgiões recomendam apendicectomia imediata, o que alguns consideram um fator que encurta a duração da doença. Quando um abscesso não previsto é encontrado durante apendicectomia, geralmente é melhor prosseguir e remover o apêndice. Se o abscesso for volumoso e se considera que a dissecção complementar seria perigosa, a drenagem isolada será suficiente. Há recidiva da apendicite em apenas 10% dos pacientes cujo tratamento inicial tenha sido feito com antimicrobianos, com ou sem drenagem de abscesso. Portanto, quando a presença de condições subordinadas aumentarem o risco cirúrgico, a apendicectomia pode ser postergada, a não ser que os sintomas se repitam. TRATAMENTO: Com poucas exceções, o tratamento da apendicite é cirúrgico (apendicectomia). A cirurgia pode ser feita com técnica aberta ou por via laparoscópica. A abordagem laparoscópica é preferível quando o diagnóstico pré-operatório for duvidoso. Em pacientes selecionados, a apendicectomia laparoscópica pode ser realizada em regime ambulatorial. Um breve período de reposição hidroeletrolítica é suficiente para assegurar a indução segura da anestesia geral. Antibióticos pré-operatórios cobrem a flora colônica aeróbica e anaeróbica (dose única – 24 horas antes ou 1 hora antes da indução anestésica). Para apendicites perfuradas ou gangrenosas, continuamos com antibióticos intravenosos no pós-operatório até que o paciente não apresente mais febre (ATB são administrados de 7 a 10 dias). Esquemas possíveis preconizam o uso de Cefoxitina (cefalosporina de 2ª geração) ou associação de anaerobicida (clindamicina ou metronidazol) com aminoglicosídeo ou cefalosporina de 3ª geração. Tratamento clínico: internação hospitalar, jejum via oral, hidratação venosa, antibióticos sistêmicos e CTI (caso seja necessário). 5-6: possível 7-8: provável 9-10: positivo 6 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORAESTEVAM APENDICECTOMIA LAPAROSCÓPICA X ABERTA Laparoscópica: Em geral, os pacientes submetidos à apendicectomia laparoscópica apresentam menos dor pós-operatória e 1 dia a menos de internação. Entretanto, a apendicectomia laparoscópica está associada ao aumento nos custos hospitalares globais e ao maior tempo de cirurgia. As taxas de conversão de abordagem laparoscópica para aberta variam de 0 a 27%, e essa conversão deve ser decidida com base em experiência, discernimento e habilidade do cirurgião para realizar o procedimento. Atualmente, a maioria dos pacientes nos EUA é tratada por via laparoscópica, e essa abordagem é segura tanto para a apendicite não complicada quanto para a complicada. Em pacientes selecionados, o apêndice pode ser removido utilizando técnica com uma única porta de acesso. Aberta: realizada tradicionalmente por incisão transversa no quadrante inferior direito (Davis- Rockey ou Elliot-Babcook) ou oblíqua (McArthur-McBurney). Sendo que nos casos não complicados, a incisão transversa é a preferível, e em casos duvidosos ou de grande fleimão, pode-se usar a incisão mediana infraumbilical. LAPAROSCOPIA APENDICECTOMIA ABERTA Diagnóstico de outras condições Curva de aprendizagem menor Melhor controle da dor Menor custo operatório Menor tempo e internação Menor incidência de abcessos intra-abdominais Menor taxa de infecção de ferida Menor custo hospitalar Retorno mais rápido às atividades Menor custo social Complicações esperadas na apendicectomia: infecção do sítio cirúrgico e obstrução intestinal. A infecção do sítio está mais associada a cirurgia aberta, sendo que na presença de sinais sugestivos (edema, hiperemia e calor), a ferida deve ser explorada e a presença de pus indica a realização de exames de imagem para descartar presença de coleções intra-abdominais. O mesmo se pode dizer para os quadros de leucocitose e febre. O tratamento consiste na colocação de um dreno percutâneo, para facilitar a cicatrização ou drenagem guiada por USG 7 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM nos casos de abcesso pélvico ou retal. Obstrução intestinal é comum no primeiro ano após a cirurgia e nos casos de apendicite perfurada. APENDICITE TARDIA: Pacientes com apresentação tardia (> 48 horas) necessitam obrigatoriamente de exames de imagem, que podem mostrar três padrões: Ausência de complicações: tratar como apendicite simples. Presença de fleimão ou pequenos abcessos (< 4 a 6 cm): antibioticoterapia. Presença de grandes abcessos (> 4 a 6 cm) e, especialmente, com febre alta: antibioticoterapia + drenagem percutânea ou transretal. Logo após, o paciente é reavaliado quanto ao estado geral. No caso de melhora, o paciente pode receber alta com antibiótico oral e deve ser submetido a colonoscopia 4 a 6 semanas depois. Intervenção laparoscópica deve ser marcada após 6 a 8 semanas. Se não houver melhora, paciente é submetido a apendicectomia aberta na mesma internação. PROGNÓSTICO: A taxa de mortalidade para os casos de apendicite aguda simples é de aproximadamente 0,1% e não se alterou significativamente desde 1930. A evolução na atenção pré-operatória e pós- operatória reduziu a mortalidade por perfuração para cerca de 5%. De qualquer forma, ainda ocorrem infecções pós-operatórias em 30% dos casos de apendicite gangrenosa ou perfurada. Embora seus casos possam ser tecnicamente mais difíceis, os pacientes obesos apresentam taxas semelhantes de complicação, estadia hospitalar e readmissão. O aumento substancial da infertilidade tubária que ocorre em caso de perfuração em jovens é evitável com apendicectomia precoce. Se o apêndice não for removido totalmente, é possível haver apendicite do coto residual. CICATRIZAÇÃO REPARAÇÃO X REGENERAÇÃO Reparação: fechamento das feridas com formações de cicatrizes. É a regra nos tecidos humanos adultos. Regeneração: fechamento perfeito dos tecidos danificados, sem cicatrizes. Ex: fígado e ossos. Feridas agudas: perda súbita da estrutura anatômica no tecido após a transferência de energia térmica, cinética ou química. Ocorrem, em geral, no tecido normal, recém-lesionado. O processo de cicatrização de feridas agudas se completa dentro de 6 a 12 semanas. A maioria das feridas operatórias consiste em feridas agudas. Feridas crônicas: cicatrização não ocorre completamente em uma ferida crônica, sendo que a interrupção da cicatrização ocorre na fase inflamatória. Essa fase inflamatória prolongada pode ser devida à infecção da ferida ou a outra forma de irritação crônica. A hipóxia dos tecidos e da ferida é outro mecanismo importante para o desenvolvimento de uma ferida crônica. A falha na epitelização em função de traumatismos repetidos ou dessecação também pode resultar em ferida crônica de espessura parcial. Os cirurgiões podem converter uma ferida crônica em uma ferida aguda. 8 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Classificação: Cicatrização primária: incisão realizada em tecido limpo e as bordas anatomicamente reaproximadas. Fecha com 24 a 48 horas, com formação mínima de tecido de granulação. Cicatrização secundária: ocorre em feridas abertas, por meio da formação de tecido de granulação e eventual cobertura do defeito pela migração de células epiteliais. O tecido de granulação é formado por novos capilares, fibroblastos e uma matriz extracelular provisória. São feridas contaminadas, onde o fechamento ocorre por reepitelização. Não são realizadas suturas e as bordas da lesão ficam abertas. Fechamento primário retardado: os princípios da cicatrização primária e secundária são combinados. Ferida que é deixada aberta para cicatrizar e após isso é fechada como se fosse uma ferida primária, procedimento é realizado a fim de que sejam realizadas lavagens, retirada de debris e antibioticoterapia. Essas apresentam menor probabilidade de infecção. Cuidados para uma cicatriz satisfatória: Técnica cirúrgica adequada: tecidos vitalizados, cuidados com eletrocautério, vascularização adequada, redução mínima ou ausência de contaminação da ferida, ausência de corpo estranho e coágulo na ferida. Avaliação prévia e controle das morbidades associadas. Controle pré-operatório e pós-operatório satisfatório. Fase inflamatória: Hemostasia; o Ação plaquetária; Resposta inflamatória aguda; o Leucócitos (polimorfonucleares): 1ª linha de defesa após a pele; o Monócitos (macrófagos): 24 a 48 horas. Hemostasia e inflamação: logo após a lesão, os produtos de coagulação – fibrina, fibrinopeptídeos, produtos da lise de trombina e componentes do complemento – atraem as células inflamatórias para a ferida. As plaquetas ativadas atraem leucócitos, particularmente macrófagos, e fibroblastos para a ferida. As células endoteliais danificadas respondem a uma cascata de sinalização envolvendo os produtos de complemento, interleucinas e expressam receptores para moléculas de integrina sobre as membranas celulares dos leucócitos. Então, os leucócitos circulantes aderem ao endotélio e migram para o tecido ferido. As interleucinas e outros componentes inflamatórios, como histamina, serotonina e bradicinina, provocam a primeira vasoconstrição para a hemostasia e, posteriormente, dilatam-se, tornando-se porosos, de modo que o plasma e os leucócitos do sangue possam migrar para a área lesionada. A presença de células inflamatórias na ferida, em fase muito inicial, aumenta a demanda metabólica. Com a microcirculação local danificada, ocorre uma dissipação de energia e a pressão parcial arterial de oxigênio (PaO2) cai enquanto o CO2 se acumula.O lactato, em 9 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM particular, desempenha um papel crítico, uma vez que a sua fonte é principalmente aeróbia e o seu nível é fortemente regulado pelos níveis de O2 no tecido. O estresse oxidativo é um sinal importante para a reparação dos tecidos. Essas condições desencadeiam os processos de reparação e estimulam a sua propagação. Os macrófagos assumem um papel dominante na síntese de moléculas de cicatrização de feridas, à medida que os sinalizadores de reparação de tecidos mediados pela coagulação diminuem. De modo importante, os macrófagos, estimulados pela fibrina, continuam a liberar grandes quantidades de lactato. Esse processo continua até que os níveis de O2 comecem a subir, mantendo o “ambiente de lesão”. O lactato sozinho estimula a angiogênese e a deposição de colágeno por meio da produção continuada de fatores de crescimento. Após isso, a população de granulócitos, que era predominante nos primeiros dias, diminui. Os macrófagos cobrem a superfície da ferida e os fibroblastos começam a se organizar no meio do brotamento de novos vasos sanguíneos. Fase proliferativa: Angiogênese (tecido de granulação): novos vasos atraem células de defesa e facilitam processo de oxigenação. Fibroblastos (matriz extracelular): o Ácido hialurônico + colágeno (I e III); o Período de 3 a 5 dias; o Mais acentuada na cicatrização por segunda intenção; Epitelização (48 horas após a lesão: primeira intenção); o Proliferação da camada basal cutânea + queratinócitos sobre a matriz extracelular; o Formação de hemidesmossomos (junções firmes + queratina). Angiogênese: clinicamente evidente cerca de quatro dias após a lesão. Nas feridas com fechamento primário, os novos vasos logo se encontram e se fundem com os seus homólogos que migram do outro lado da ferida, estabelecendo o fluxo sanguíneo através da ferida. Nas feridas abertas, os capilares recém-formados conectam-se aos capilares adjacentes que migram na mesma direção, e formam o tecido de granulação. Numerosos fatores de crescimento e citocinas estimulam a angiogênese. Fibroplasia: ao longo do processo de cicatrização de feridas, a fibroplasia (replicação de fibroblastos) é estimulada por vários mecanismos liberados pelas plaquetas e, depois, pela liberação contínua de numerosos fatores de crescimento peptídicos de macrófagos e também de fibroblastos no interior da ferida. Sendo assim, após a lesão, fibroblastos quiescentes e esparsos locais são quimioatraídos ao sítio inflamatório, onde proliferam e produzem componentes da matriz extracelular. Sua função primária é a síntese de colágeno. Sendo a vitamina C um importante cofator. Síntese da matriz: o colágeno secretado pelos fibroblastos mantém as bordas da ferida próximas e incorporam as células da matriz de cicatrização de feridas. Essas moléculas extracelulares assumem formas poliméricas e tornam-se a base física da força da ferida. Os mecanismos que regulam a estimulação e a síntese de colágeno são multifatoriais e incluem fatores de crescimento e estímulos metabólicos, como o lactato. Fase de maturação: Tecido cicatricial propriamente dito (colágeno mal organizado e pouco vascularizado) REMODELAMENTO DA FERIDA; 10 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM CONTRAÇÃO DA FERIDA aproximação das bordas da ferida por redução do tecido cicatricial propriamente dito – MIOFIBROBLASTOS (possuem actina e miosina); Formação do tecido cicatricial propriamente dito, composto por colágeno pouco organizado e pobremente vascularizado. O processo de remodelamento implica equilíbrio entre a síntese e a degradação de colágeno, redução da vascularização e da infiltração de células inflamatórias, até que se atinja a maturação da ferida. Epitelização: durante a cicatrização de feridas, as mitoses surgem nas células epiteliais um pouco além da borda da ferida. As novas células migram sobre as células na borda e para a área não cicatrizada e apoiam a primeira posição da matriz não epitelizada encontrada. A PaO2 na parte inferior da célula, no ponto de fixação, é geralmente baixa. Esse processo de comunicação epiderme-mesênquima repete-se até que a ferida esteja fechada. A epitelização e a diferenciação escamosa são facilitadas quando a superfície das feridas é mantida úmida. É claro que mesmo curtos períodos de secagem prejudicam o processo e, portanto, as feridas não devem ficar ressecadas. Remodelamento da fibra de colágeno e contração da ferida: a matriz provisória inicial é substituída por uma formação de fibras colágenas maiores, mais organizadas, mais fortes e mais duráveis. A reorganização da nova matriz é uma característica importante da cicatrização, e fibroblastos e leucócitos secretam colagenases, que garantem o componente lítico. O turnover ocorre rapidamente no início e, depois, mais lentamente. Inclusive em feridas simples, o turnover da matriz da ferida pode ser detectado quimicamente por até 18 meses. A cicatrização é bem-sucedida quando uma quantidade excessiva de matriz é depositada, apesar da lise concomitante. Durante o rápido turnover, as feridas normalmente ganham força e durabilidade, mas são vulneráveis à contração ou ao estiramento. Os fibroblastos exercem a força de contração. Eles ligam-se ao colágeno e estiram a rede de colágeno quando as membranas celulares encurtam à medida que os fibroblastos migram. Os miofibroblastos da ferida, um fenótipo especializado, expressam os filamentos de actina intracelulares, que também contribuem para a força de contração da ferida mediada por fibroblastos. As fibras de colágeno são, então, fixadas nas posições por meio de vários mecanismos de ligações cruzadas. Tanto as feridas abertas quanto as fechadas tendem a contrair se não forem submetidas a uma força contrária superior. A contração patológica da ferida é, geralmente, chamada de contratura ou estenose. Os enxertos de pele, especialmente os mais grossos, podem minimizar ou evitar contraturas incapacitantes de feridas. As talas dinâmicas de estiramentos passivo ou ativo ou a inserção de retalhos contendo derme e subderme também neutralizam a contração. A prevenção de uma estenose muitas vezes depende de assegurar que as bordas opostas do tecido estão bem perfundidas, de modo que a cicatrização possa ocorrer rapidamente e interromper a contração. As feridas em cicatrização também podem estirar durante o turnover ativo, quando a tensão supera a contração. Isso pode explicar a frouxidão das cicatrizes em ligamentos lesionados, mas sem fratura de articulações e a tendência para formação de hérnia incisional em feridas abdominais de pacientes obesos. Fase inflamatória: predomínio da hemostasia e inflamação. Tipo celular essencial: macrófago. Fase proliferativa: iniciam processos de fibroplasia, angiogênese e epitelização, com formação de tecido de granulação. Tipo celular principal: fibroblastos. Fase de maturação: formação de tecido cicatricial propriamente dito, com retração da ferida. Tipo celular principal: miofibroblastos. 11 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Fatores relacionados com alteração na cicatrização: Infecção: acima de 105UFC, presença de estreptococos β-hemolíticos na ferida, causa atraso frequente. Desnutrição: ingestão calórica inadequada, aumento de degradação de proteína, deficiência de vitamina C, A, K e zinco. Hipóxia tecidual: volemia deficiente. PO2 abaixo de 40 mmHg, deficiência de hemoglobina (drepanocitose, esferocitose). Anemia: nível de hemoglobina de 5 a 6%, redução da migração de leucócitos, diminuição de fibroblastos e reduçãoda angiogênese. Senilidade: menor quantidade de fibras colágenas, redução da angiogênese, atividade fagocitária e morbidades associadas. Tabagismo: aumento de CO sanguíneo, aumento da vasoconstrição, ação deletéria em fibras colágenas. Corticoide: compromete fase inflamatória, altera síntese de colágeno e contração da ferida. Quimioterapia: compromete todas as fases devido às alterações nas células, deve ser evitada nos primeiros 5 a 7 dias do pós-operatório. Radioterapia: atinge principalmente a área vascular. Maior ocorrência de endotelite (radiógena), compromete perfusão tecidual, aumento de tecido fibrótico (diminui força tênsil, favorecendo ruptura). Diabetes mellitus: compromete todas as fases, maior propensão à infecção, neuropatia autonômica com perda de sensibilidade local (problema para área de maior pressão), aterosclerose acelerada, quimiotaxia reduzida, menor resposta inflamatória, alteração da microcirculação (reduz O2 tecidual). Alterações do processo cicatricial: Proliferativas: o Proliferação anômala de fibroblastos. o Síntese excessiva e degradação insuficiente do colágeno cicatriz hipertrófica e queloide. Feridas que não cicatrizam: o Degradação proteolítica e inibição de proteases. o Ex.: úlceras de pressão e estase, osteomielite e picada de animal peçonhento. Cicatrizes hipertróficas: são geralmente autolimitadas, estão relacionadas à inflamação residual e podem regredir após cerca de 1 ano. Sua conduta pode ser expectante, silicone em gel, infiltração de corticoide/fluoracil, terapia compressiva, radioterapia/laserterapia/crioterapia. 12 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Queloides: estendem-se para além das bordas da ferida e são mais comuns em peles pigmentadas. A conduta frente a ele é ressecção (cirurgia), silicone em gel, infiltração de corticoide/fluoracil, terapia compressiva, radioterapia/laserterapia/crioterapia. Úlcera de Marjolin: degeneração maligna de cicatrizes crônicas (principalmente decorrente de queimaduras), tipo histológico mais frequente é o CEC. O diagnóstico se faz através da presença de vegetações, bordas elevadas e infiltradas e presença de nódulos. O tratamento deve ser cirúrgico agressivo e precoce. Feridas crônicas: As feridas de cicatrização crônica, sobretudo nas extremidades inferiores, são comuns em doenças vasculares, imunológicas e neurológicas. As úlceras venosas, principalmente de membros inferiores, refletem má perfusão e extravasamento perivascular de plasma no tecido. A maioria das úlceras venosas irá cicatrizar se a congestão venosa e o edema forem aliviados pela elevação das pernas, por meias de compressão ou por procedimentos cirúrgicos que eliminem ou reparem veias incompetentes ou suas válvulas. As úlceras arteriais ou isquêmicas, que ocorrem mais frequentemente na face lateral do tornozelo ou no pé, são mais bem tratadas por revascularização. O O2 hiperbárico, que fornece uma fonte temporária de oxigenação e estimula a angiogênese, é uma alternativa eficaz, porém, dispendiosa, quando a revascularização não é possível. A perda de sensibilidade, especialmente dos pés, pode levar à ulceração. Deformidades ósseas devidas a fraturas crônicas, como a deformidade de Charcot, provocam pressão patológica sobre os tecidos feridos. Úlceras em pacientes com diabetes mellitus podem ter duas causas. Os pacientes com úlceras neuropáticas geralmente apresentam boa circulação e suas lesões podem cicatrizar se forem protegidas contra traumatismos com sapatos especiais, talas gessadas ou muletas. Entretanto, as recorrências são comuns. Os diabéticos com doença isquêmica, com ou sem neuropatia, estão em risco de gangrena e, frequentemente, necessitam de amputação quando a revascularização não é possível. No pioderma gangrenoso, a inflamação granulomatosa, com ou sem arterite, provoca necrose da pele, possivelmente por um mecanismo envolvendo excesso de liberação de citocinas. Essas úlceras estão associadas à doença inflamatória intestinal e a alguns tipos de artrite e condrite. Corticosteroides e outros medicamentos anti-inflamatórios podem ser úteis. No entanto, os anti-inflamatórios corticosteroides também podem contribuir para a má cicatrização, inibindo a liberação de citocinas e a síntese de colágeno. As úlceras por pressão são as principais complicações da imobilização. A morbidade das úlceras por pressão prolonga a internação hospitalar e aumenta os custos de saúde. Elas resultam da pressão prolongada que reduz o suprimento sanguíneo para o tecido, de injeções irritativas ou 13 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM contaminadas e do contato prolongado com umidade, urina ou fezes. A maioria dos pacientes que desenvolvem úlceras por pressão também é desnutrida. As úlceras por pressão são comuns em paraplégicos, pacientes idosos imobilizados após fraturas e pacientes de unidades de terapia intensiva. As úlceras variam em profundidade e, muitas vezes, estendem-se da pele até um ponto de pressão óssea, como o trocanter maior, o sacro, os tornozelos ou o crânio. A maioria das úlceras por pressão é prevenível. As úlceras adquiridas no hospital quase sempre resultam de imobilização, posicionamento desprotegido em mesas cirúrgicas e talas gessadas ou outros aparelhos ortopédicos mal ajustados. O primeiro princípio do tratamento de feridas crônicas é diagnosticar e tratar a hipóxia tecidual, como doença circulatória subjacente. O segundo princípio é nunca permitir que as feridas abertas fiquem ressecadas, isto é, utilizar curativos úmidos, que também podem aliviar a dor. Um terceiro princípio é controlar a infecção com antibióticos tópicos ou sistêmicos. Um quarto princípio é reconhecer que tecidos cronicamente necrosados ou com cicatrizes são geralmente mal perfundidos. O desbridamento de tecido saudável, muitas vezes seguido de enxerto de pele, pode ser necessário para a cicatrização. O quinto princípio é reduzir a vasoconstrição autonômica com calor, umidade e alívio da dor. Nas úlceras por pressão o primeiro princípio é fazer uma incisão e drenar os espaços infectados ou desbridar o tecido necrosado. O tecido necrosado é desbridado até que as superfícies expostas sejam viáveis. Fontes de pressão devem novamente ser eliminadas. Então, a maioria das feridas cura espontaneamente. No entanto, as úlceras profundas podem exigir o fechamento cirúrgico, por vezes, com a remoção de osso subjacente. O defeito pode exigir o fechamento por movimentação criteriosa de tecido espesso e bem-vascularizado na área afetada. Os retalhos musculocutâneos são o tratamento preferencial quando ocorre infecção crônica e perda de tecido significativa concomitantes. No entanto, a recorrência pode ocorrer se não forem tomados cuidados para evitar/minimizar os fatores que levaram à formação da úlcera por pressão. Tratamento de ferida/cicatrização: Equipe multidisciplinar; Cuidados prolongados; Avaliação clínica (causas de não fechamento); Ação medicamentosa local; Uso de tratamentos não convencionais (miíase – ataca tecido necrótico; açúcar – cria meio hipertônico, dificultando a penetração de microorganismos e facilitando o processo e inflamação; câmara hiperbárica – aumenta a quantidade de PO2 local); Aspectos cirúrgicos (desbridamento/remoção mecânica); Correção de complicações (cicatriz hipertrófica, queloide, retração cicatricial); Aspectos sociais (ex.: remoção de tatuagens); Uso de tatuagens em cicatrizes. Outras opções: carvão ativado, curativos de alginatos e hidrogel. Fechamento da ferida: fechamento excessivamente justo pode estrangularo tecido, levando provavelmente à formação de hérnia ou à infecção. As linhas de sutura justas comprometem a perfusão de feridas e a liberação de O2, necessárias para a cicatrização. Materiais de implante: próteses de tecidos moles reduzem a incidência de falhas e a recorrência de feridas após reparação de hérnias. A taxa de recorrência após reparações de hérnias inguinais utilizando próteses varia de 5 a 25% na maioria dos estudos. A taxa de recorrência após reparação de hérnia incisional primária, utilizando tecidos autólogos, é ainda pior, variando de 20 a 60%. A introdução de próteses de tecidos moles sintéticos para correção de hérnia inguinal 14 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM e incisional reduziu significativamente as taxas de recorrência em cirurgias gerais. A visão predominante é de que o mecanismo para as reduzidas taxas de recorrência de hérnias é a redução da tensão ao longo das linhas de sutura quando se utiliza malha e a substituição do tecido anormal. Nos ossos, as superfícies metálicas porosas sintetizadas são as melhores. A malha de polipropileno de grandes dimensões pode ser utilizada para suportar a parede abdominal ou torácica e é geralmente bem incorporada no tecido de granulação que penetra na malha. A porosidade da malha é cada vez mais reconhecida como um elemento importante para a implantação segura e para a cicatrização de feridas. Cuidados pós-operatórios: Os cuidados pós-operatórios ideais da ferida são limpeza, manutenção de um ambiente úmido na ferida, proteção de traumas e apoio do paciente. Inclusive feridas fechadas podem ser infectadas por contaminação da superfície, especialmente nos primeiros 2 a 3 dias. As bactérias podem penetrar mais facilmente através de extensões de sutura. Se uma ferida, provavelmente, estiver traumatizada ou contaminada, ela deve ser protegida durante esse período. Essa proteção pode exigir curativos especiais, como curativos oclusivos ou sprays, e limpeza repetida. Os pacientes devem movimentar um pouco suas feridas. A deambulação precoce e o retorno às atividades normais são, em geral, boas para a cicatrização. O aparecimento de infecções tardias de feridas, semanas a anos após a cirurgia, reforça que todas as feridas são contaminadas e podem abrigar bactérias. Na maioria das vezes, a má perfusão tecidual e a má oxigenação da ferida durante o período pós-operatório podem diminuir a resistência do hospedeiro. Os cuidados ideais da ferida começam no pré-operatório e terminam apenas alguns meses mais tarde. O paciente deve ser preparado para que essas condições existam no momento em que é feita a ferida. A técnica cirúrgica deve ser limpa, suave e hábil. A nutrição deve ser otimizada no pré-operatório, quando possível. A interrupção do tabagismo irá melhorar os resultados da ferida. No pós-operatório, os cuidados de feridas incluem a manutenção da nutrição, do volume sanguíneo, da oxigenação e a restrição criteriosa de medicamentos imunossupressores, quando possível. Embora a cicatrização de feridas seja, em muitos aspectos, um fenômeno local, o cuidado ideal da ferida é essencialmente o cuidado ideal do paciente. TUMORES BENIGNOS DO ESÔFAGO FUNDAMENTOS IMPORTANTES: Disfagia, desconforto epigástrico. Demonstração radiográfica de um defeito de enchimento leve no lúmen de esôfago. Os leiomiomas são os tumores benignos mais comuns do esôfago. Eles representam 10% de todos os leiomiomas gastrointestinais. Originam-se nas camadas musculares lisas, principalmente nos dois terços inferiores do esôfago, e levam ao estreitamento do lúmen do esôfago. Esses tumores são constituídos por células de músculo liso circundadas por uma cápsula de tecido fibroso. A mucosa que cobre o tumor é geralmente intacta, mas, ocasionalmente, pode se tornar ulcerada em razão da necrose de pressão pela lesão crescente. Os leiomiomas não estão associados ao desenvolvimento de câncer. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Muitas lesões benignas são assintomáticas e são descobertas incidentalmente durante exames de imagem gastrintestinal superior. Os tumores benignos ou cistos crescem lentamente e se tornam sintomáticos apenas após atingir um tamanho de 5 cm ou mais. Na deglutição de bário, os leiomiomas aparecem como um defeito de enchimento leve no lúmen do esôfago. Uma massa intraluminal coberta por mucosa normal pode ser facilmente reconhecida durante a 15 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM endoscopia, mas biópsias não devem ser realizadas, pois podem tornar mais difícil a enucleação subsequente do tumor. A ultrassonografia endoscópica e TC de tórax ajudam na caracterização do tumor e no diagnóstico diferencial. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Os leiomiomas, cistos e duplicações podem ser diferenciados do câncer por seus aspectos radiológicos clássicos. Os papilomas, pólipos ou granulomas intraluminais podem ser indistinguíveis radiologicamente do carcinoma inicial e, portanto, sua natureza exata deve ser confirmada pelo exame histopatológico. TRATAMENTO: As pequenas lesões polipoides intraluminais podem ser removidas por meio da endoscopia. O tratamento preferencial para os leiomiomas sintomáticos é a enucleação por abordagem toracoscópica ou laparoscópica. CÂNCER DE ESÔFAGO FUNDAMENTOS DO DIAGNÓSTICO: Disfagia progressiva, inicialmente para sólidos e depois para líquidos. Perda de peso progressiva. Diagnóstico estabelecido por endoscopia e biópsias. Estadiamento estabelecido por ultrassonografia endoscópica, tomografia computadorizada de tórax e abdome e tomografia com emissão de pósitrons. A broncoscopia é indicada para câncer de esôfago localizado no terço médio do tórax. EPIDEMIOLOGIA: 6ª causa de mortalidade em nosso meio (está entre as dez neoplasias mais incidentes no Brasil). Predomina no sexo masculino (3:1). Geralmente se apresenta a partir dos 40 anos (maior incidência de 50 a 60 anos). Carcinoma espinocelular: predomina em negros. Adenocarcinoma: predomina em brancos. PATOLOGIA E FATORES DE RISCO: Carcinoma escamoso (epidermoide): Derivado do epitélio estratificado não queratinizado, característico da mucosa normal do esôfago. O mais comum no Brasil e na maior parte do mundo. Origina do 1/3 médio (70%) e 1/3 superior. Fatores de risco: os fatores de risco predominante são o tabagismo e a exposição crônica ao álcool. Assim como de menor importância cita-se a ingestão crônica de líquidos e alimentos muito quentes, a má higiene oral e as deficiências nutricionais (selênio, molibdênio, zinco e vitamina A). Algumas condições clínicas, como a acalásia, lesões cáusticas do esôfago e síndrome de Plummer–Vinson, estão associadas ao aumento na incidência de carcinoma espinocelular. Como causa genética, a principal que predispõe ao carcinoma epidermoide é a tilose palmar e plantar (hiperceratose de mãos e pés). Infecção crônica por fungo HPV, história pessoal de câncer de cabeça e pescoço, doença celíaca, divertículo esofagiano, uso de bifosfonato oral em portadores de esôfago de Barrett, também podem ser causas. 16 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Adenocarcinoma: Derivado do epitélio de Barrett (metaplasia intestinal), que complica em alguns pacientes com esofagite grave de refluxo. Localizado em 1/3 distal do esôfago. Mais comum nos EUA e Canadá. Fatores de risco: a DRGE é o fator predisponente mais comum associado ao adenocarcinoma do esôfago, e o adenocarcinoma representa o último evento na sequência que se inicia com a DRGE e progride para metaplasia, DAG e câncer. O câncer de esôfago surge na mucosae, subsequentemente, invade a submucosa e as camadas musculares. Em última análise, as estruturas localizadas ao lado do esôfago podem ser infiltradas (árvore brônquica, aorta, nervo laríngeo recorrente). Ao mesmo tempo, o tumor tende a se disseminar para os linfonodos (do mediastino, celíacos, cervicais) e para o fígado, pulmões, glândulas suprarrenais, peritônio e ossos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Dor retroesternal. Queixa de indigestão. Principal: disfagia que se inicia para sólidos e após um período evolui para alimentos pastosos e líquidos (quando ocorre disfagia, geralmente temos envolvimento tumoral de mais de 60% da circunferência do órgão). Outros: odinofagia, regurgitação, vômitos, perda ponderal. Lesões mais avançadas: halitose, tosse após ingestão de líquidos, rouquidão por envolvimento de nervo laríngeo e a hematêmese são sintomas menos comuns. O câncer de esôfago inicial pode ser assintomático. À medida que o câncer se desenvolve, a disfagia é o sintoma mais comum. A disfagia é inicialmente para sólidos, mas, por fim, ela progride para líquidos. A perda de peso ocorre em mais de 50% dos pacientes. Os pacientes também podem sentir dor ao engolir. A dor em torno de estruturas ósseas pode ser resultante de metástases. Rouquidão decorre geralmente da invasão dos nervos laríngeos recorrentes direito ou esquerdo, com paralisia da prega vocal ipsilateral. Os sintomas respiratórios podem ocorrer devido à regurgitação e à aspiração de alimentos não digeridos ou à invasão da árvore traqueobrônquica, com o desenvolvimento de uma fístula traqueoesofágica. DIAGNÓSTICO: Análise conjunta da esofagografia baritada e da EDA (esofagoscopia) com biópsia e escovado (citologia) da área afetada. Quanto ao diagnóstico propriamente dito, ele é feito com maior exatidão pela EDA. A deglutição de bário mostra a localização e a extensão do tumor. O câncer de esôfago geralmente se apresenta como uma massa intraluminal irregular ou uma estenose. A endoscopia permite a visualização direta e biópsias do tumor. Para tumores do esôfago superior e médio, a broncoscopia é indicada para descartar invasão da árvore brônquica. Exames especiais: TC de tórax e abdome: avalia espessura da parede esofágica, metástases a distância e invasão de estruturas próximas do esôfago. 17 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Ultrassonografia endoscópica: é o exame mais sensível para determinar a profundidade de penetração do tumor, a presença de linfonodos paraesofágicos aumentados e a invasão de estruturas próximas ao esôfago. Solicitado quando a TC não evidencia metástases à distância. Além disso, ela permite uma aspiração com agulha fina dos linfonodos paraesofágicos aumentados. Tomografia por emissão de pósitrons (PET): útil para detectar metástases a distância e invasão de estruturas. Broncofibroscopia: indicado nos tumores de terço superior e médio. Toracoscopia e laparoscopia com biópsia: avalia linfonodos e metástases à distância. Geralmente feito no mesmo ato da cirurgia, quando essa tem proposta curativa. Comportamento agressivo: dissemina-se localmente e à distância epitélio – mucosa – submucosa – muscular – linfonodos regionais. Ausência de serosa facilita disseminação para linfonodos regionais e órgãos adjacentes. Tumores do terço superior e médio, invadem árvore traqueobrônquica, aorta e nervo laríngeo recorrente. Tumores do terço distal avançam sobre diafragma, pericárdio e estômago. Cerca de 75% dos pacientes no momento do diagnóstico do CA de esôfago apresentam invasão linfática. Os tumores do terço superior e médio drenam para linfonodos cervicais profundos (supraclaviculares), paraesofágicos, mediastinais posteriores e traqueobrônquico. Os do terço distal, para linfonodos paraesofágicos, celíacos e hilo esplênico. As metástases à distância mais importantes são para fígado, pulmão e osso. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: O diagnóstico diferencial inclui estenoses pépticas devido ao refluxo, acalásia e tumores benignos do esôfago. PROGNÓSTICO: Ruim, menos de 5% sobrevivem após diagnóstico. O estádio da doença é o fator prognóstico mais importante. Uma sobrevida geral de 5 anos para o câncer esofágico permanece em torno de 25%. 18 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM TRATAMENTO: TERAPIA CURATIVA Estágio 0 e estágio I (T1a): chamado de câncer de esôfago precoce, invade até a submucosa, geralmente sendo um achado da EDA, muito raramente é sintomático. Desta forma, esofagectomia pode ser evitada, em função do risco muito baixo de metástases para os linfonodos (0-3%), podendo ser tratados através de mucosectomia endoscópica definitiva ou outras técnicas ablativas, como terapia fotodinâmica. No entanto, os pacientes precisam se submeter a um rigoroso acompanhamento endoscópico para detectar a eventual recidiva precoce. Estágio I (T1b): atinge a submucosa. O tratamento de escolha é a cirurgia, não necessitando de tratamento adjuvante. Estágio IB a IIIC: são considerados candidatos para esofagectomia + linfadenectomia regional com margem de segurança de pelo menos 8 cm quando preenchem os seguintes critérios: não há evidências de disseminação do tumor para estruturas próximas ao esôfago, tais como árvore traqueobrônquica, aorta ou nervo laríngeo recorrente; não há evidências de metástases distantes; o paciente está apto do ponto de vista cardíaco e respiratório. Tratamento neoadjuvante (RT durante 5 semanas associada à QT), sendo a cirurgia realizada 4 a 6 semanas após o término dessa terapia. Pacientes com tumores de esôfago proximal, geralmente são tratados apenas com QT+RT, devido à dificuldade técnica para ressecção cirúrgica com margens adequadas e confecções de anastomoses. Técnica cirúrgica: a esofagectomia pode ser realizada por meio de uma incisão abdominal e uma incisão cervical (com uma dissecção romba do esôfago torácico pelo hiato esofágico; esofagectomia trans-hiatal) ou por meio de uma incisão abdominal e torácica direita (esofagectomia transtorácica). Após a remoção do esôfago, a continuidade do trato gastrintestinal é restabelecida com o estômago ou intestino. Um estômago bem dissecado alcança prontamente o pescoço em todos os pacientes, sendo que a interposição com o cólon tem a desvantagem de requerer três anastomoses, sendo uma cirurgia de maior morbimortalidade, indicada em pacientes com gastrectomia total ou parcial prévia ou quando o tumor avança sobre o estômago. A esofagectomia trans-hiatal oferece a vantagem de se evitar a incisão torácica, com diminuição do comprometimento da função pulmonar e diminuição do desconforto pós-operatório. Deve ser realizada rotineiramente uma jejunostomia para alimentação enteral no pós-operatório. TERAPIA PALIATIVA O tratamento conservador é reservado para pacientes que não são candidatos à cirurgia em função da invasão local do tumor, metástases ou um mau estado funcional. O objetivo do tratamento nestes pacientes é ser paliativo da disfagia. As seguintes modalidades de tratamento estão disponíveis para atingir esse objetivo: Stents expansíveis, revestidos, metálicos, que podem ser implantados por endoscopia com orientação fluoroscópica, a fim de manter o lúmen esofágico aberto. São particularmente úteis quando uma fístula traqueoesofágica está presente. Terapia a laser (Nd:YAG laser) pode aliviar a disfagia em até 70% dos pacientes. Entretanto, geralmente são necessárias sessões múltiplas para manter o lúmen do esôfago aberto. RT é bem-sucedida no alívio da disfagia em aproximadamente 50% dos pacientes.19 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM PANCREATITE AGUDA Condição inflamatória aguda do pâncreas, com acometimento variável das estruturas peripancreáticas e órgãos à distância, cuja gênese depende da autodigestão tecidual pelas próprias enzimas pancreáticas. Início súbito dos sintomas, que costumam resolver espontaneamente após alguns dias. De acordo com a extensão do processo inflamatório, a pancreatite é classificada em leve (edematosa ou intersticial) ou grave (necrosante). Pancreatite aguda leve (intersticial ou edematosa): restrita ao pâncreas, não acomete órgãos vizinhos nem possui envolvimento à distância. Apresenta evolução clínica favorável. Curso autolimitado em 3-7 dias. Representa 80 a 90% dos casos. Pancreatite aguda grave (necrosante): acomete tecidos peripancreáticos por disseminação generalizada de enzimas do órgão. Pode evoluir com complicações locais, como necrose infectada, formação de pseudocistos e abcessos. É possível uma evolução complicada com envolvimento de órgãos à distância, representada por falência múltipla (choque, insuficiência renal, insuficiência respiratória, etc.). Representa 10 a 20% dos casos. Evolução de 3-6 semanas. Letalidade de 30-60%. CAUSAS PRINCIPAIS: Litíase biliar: responsável por 30-60% dos casos. Sendo a causa mais comum de pancreatite em nosso meio. Pacientes com pelo menos um cálculo < 5 mm têm risco 4 vezes maior do que àqueles com cálculos maiores. o Cálculos geralmente são pequenos (< 5 mm). o Mais comum no sexo feminino (2:1), em obesos e na faixa etária entre 50-70 anos. Álcool: em geral, o indivíduo já é etilista inveterado, há pelo menos uns 5 anos (média de 15 anos) e já existe um acometimento crônico do pâncreas, mesmo que subclínico. Outras causas: hipertrigliceridemia (500 – 1000 mg/dL); hipercalcemia; pós-operatório de cirurgias abdominais e cardíacas; induzida por fármacos: imunossupressores (azatioprina, ciclosporina, estrogênios, tiazídicos, furosemida, sulfas, tetraciclinas, valproato, clonidina); trauma abdominal; hereditárias; fibrose cística; “Idiopática”: 20% dos casos (microlitíase biliar - “lama biliar”- e disfunção do esfíncter de Oddi); viroses: caxumba, coxsackie, hepatite B, citomegalovírus, herpes simples, varicela-zóster; bacterianas (micoplasma, legionela, leptospira, salmonela, tuberculose); fúngicas: Aspergillus sp., Candida sp.; infestação parasitária: ascaridíase; obstrução ductal crônica: cisto de colédoco, CA de pâncreas ou periampular; envenenamento por escorpião; vasculite e outras causas de isquemia pancreática; pancreas Divisum, pâncreas anular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Anamnese: dor abdominal em andar superior do abdome que irradia para o dorso (metade dos pacientes apresentam dor de disposição em barra com irradiação para o dorso; podendo também se apresentar como uma dor epigástrica), associada à náuseas e vômitos incoercíveis que domina o quadro clínico da pancreatite aguda. Os vômitos geralmente persistem mesmo após o estômago ter sido esvaziado, o que às vezes leva à síndrome de Mallory-Weiss e hemorragia digestiva alta. Dor é contínua, de início súbito (progressão rápida, atingindo intensidade máxima dentro de 10-20 min) com piora lenta, sendo descrito sensação de “facada”; se mantém por dias. Alguns pacientes relatam melhora da dor quando se inclinam para frente ou quando assumem a posição 20 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM de decúbito lateral com os joelhos fletidos. Normalmente precisa de analgésicos opiáceos para seu controle. Na alcoólica os sintomas, frequentemente, aparecem 1-3 dias após uma libação alcoólica intensa. Exame físico: o O paciente usualmente se encontra agitado, movimentando-se no leito em busca de uma posição que lhe traga alívio. o A febre, presente no início do quadro se deve à resposta sistêmica inflamatória (SIRS), e não à infecção, que aparece numa fase mais tardia. o Outro achado dependente da gravidade do episódio é o rebaixamento do nível de consciência, que pode ser devido ao choque hipovolêmico (inflamação e perda de volume para o terceiro espaço), mediadores humorais ou mesmo intoxicação por etanol. o Ao exame do abdome nota-se desde dor leve à palpação até sinais de irritação peritoneal com descompressão dolorosa (Blumberg) nos casos mais graves. Distensão abdominal, devido ao “íleo paralítico” em consequência à inflamação intra-abdominal. o Icterícia, geralmente leve, é notada em alguns pacientes devido à obstrução do ducto biliar principal em razão de coledocolitíase ou edema da cabeça do pâncreas. Não necessariamente indica origem biliar. o Comprometimento respiratório pode piorar após os primeiros dias, se instalando com: derrame pleural preferencialmente à E (pela extensão da inflamação para a hemicúpula diafragmática E); atelectasia (pela dor ou obesidade); ou mesmo síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) – uma das complicações mais temíveis da pancreatite aguda. o A função do miocárdio encontra-se deprimida na pancreatite grave, presumivelmente em razão de fatores circulantes que afetam o desempenho cardíaco. o Sinais cutâneos: raros. Equimose em flancos – Sinal de Grey-Turner; Equimose periumbilical – Sinal de Cullen; Necrose gordurosa subcutânea – Paniculite (nódulos subcutâneos dolorosos e eritema); Equimose na base do pênis – Sinal de Fox. LABORATÓRIO: Leucocitose com desvio para E, com elevação de hematócrito devido a hemoconcentração; Aumento de ureia e creatinina são achados possíveis; Trombocitopenia: alargamento de TAP (tempo de ativação da protrombina) e PTT, elevação dos produtos de degradação da fibrina e redução do fibrinogênio nos casos de coagulação intravascular disseminada; 21 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Vômitos repetidos podem levar à alcalose metabólica, hipoclorêmica e hipocalêmica; Aumento da PCR; Hipoalbuminemia; Hiperbilirrubinemia pelo mesmo motivo da icterícia; Elevação de ALT 3 a 4 vezes o valor de referência, nas primeiras 24 horas de pancreatite aguda sugerem etiologia biliar com grande especificidade. A AST pode se elevar até 15 vezes, sendo um dos critérios de Ranson; Hiperglicemia; Aumento das escórias nitrogenadas; Aumento de FA. ACHADOS ESPECÍFICOS: O DIAGNÓSTICO PODE SER FACILMENTE ESTABELECIDO DIANTE DE UM CASO CLÍNICO TÍPICO COM O AUXÍLIO DA DOSAGEM SÉRICA DE AMILASE E LIPASE QUE ESTARÃO > 3X O LIMITE SUPERIOR DO NORMAL. AMILASE SÉRICA: Eleva-se no 1º dia do quadro clínico (no prazo de 6 horas após o início dos sintomas), mantendo-se elevada por 3 a 5 dias. Sensibilidade: 85 a 90% entre 2 e 5 dias. A amilase é um exame de baixa especificidade (70 a 75%) e sem correlação com a gravidade da doença. o Especificidade aumenta muito quando acima de 500 – 1000 U/L. VR: abaixo de 160 U/L > 3x o LSN > 480 U/L. LIPASE SÉRICA: Os níveis de lipase possuem maior especificidade quando comparados aos de amilase. O nível das duas se eleva em paralelo, com valores de lipase persistindo por mais tempo (7-10 dias). Sendo assim, os níveis de lipase muitas vezes nos auxiliam no diagnóstico de pancreatite aguda em pacientes que se apresentam 72 horas no serviço de emergência. VR: até 140 U/L. > 3x o LSN, ficando > 420 U/L. AMILASE + LIPASE: Deve-se dosá-las em conjunto para confirmar o diagnóstico de pancreatite. Como os níveis de lipase tendem a ser mais altos na pancreatite alcoólica e os da amilase na pancreatite por cálculo biliar, a relação lipase/amilasefoi sugerida como um meio de ajudar a distinguir entre as duas. Se as duas estiverem aumentadas, a especificidade e a sensibilidade são de 95%. EXAMES DE IMAGEM: Radiografia: o Tórax: mostra atelectasias segmentares nos lobos inferiores, elevação de diafragma, derrame pleural à E ou mesmo hipotransparência sugerindo edema pulmonar. o Abdome: costuma ser normal e sua grande função é excluir outras causas. Nos casos graves, pode-se notar “alça sentinela”, sinal de “amputação do cólon” e contornos mal definidos de órgãos retroperitoneais. 22 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Ultrassonografia (USG): maior sensibilidade para litíase biliar/lama biliar e dilatação de vias biliares. Não é um bom método para cálculos distais, que são mais facilmente visualizados pela TC. Por ser o método mais sensível para o diagnóstico de colelitíase, deve ser solicitada para todo paciente que apresenta pancreatite aguda, já que a litíase biliar é a causa mais comum. TC de abdome: exame de eleição na pancreatite aguda para delinear o pâncreas. Avalia com grande precisão. A TC com contraste é o exame padrão ouro para diagnóstico e avaliação da pancreatite aguda. Porém a extensão da necrose pancreática é melhor avaliada pela TC a partir de 48 a 72h. Desta forma, caso seja realizada TC precoce, um novo exame deve ser efetuado em 3 a 5 dias após o primeiro. o Indicações de TC na pancreatite aguda: Diagnóstico clínico duvidoso (clínica sugestiva, sem confirmação pela dosagem sérica de amilase e lipase). Presença de critérios clínicos de gravidade como distensão e dor abdominal, hipertermia (> 39oC) e leucocitose. Ranson ≥ 3 ou APACHE-II ≥ 8. Paciente apresentando deterioração clínica a despeito de tratamento conservador inicial por 72 horas. Deterioração aguda após melhora clínica inicial. Escore prognóstico feito pela TC contrastada: 23 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Ressonância magnética: apresenta sensibilidade e especificidade semelhante a TC de abdome no diagnóstico da pancreatite. É adotada em segunda escolha devido ao custo elevado. Uma das suas vantagens seria evitar contraste iodado em pacientes com história de alergias e insuficiência renal. Ultrassonografia endoscópica: método mais adequado para diagnosticar pancreatite de origem biliar, podendo ajudar na decisão de realizar colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPRE) de urgência. DEFINIR A GRAVIDADE: Os dois principais critérios utilizados para avaliar a gravidade são o escore de Ranson ≥ 3 ou APACHE II ≥ 8. CRITÉRIOS DE RANSON PARA PANCREATITE AGUDA Admissão refletem a gravidade e a extensão do processo inflamatório, assim como a idade. 48h refletem o desenvolvimento das complicações sistêmicas e o grau de perda volêmica para o 3º espaço. ESCORE DE APACHE-II Considera-se como “grave” a pancreatite que soma 8 ou mais pontos. Consta de 14 parâmetros (sendo 12 variáveis fisiológicas), que levam em conta diversas funções orgânicas (circulatória, pulmonar, renal, cerebral, hematológica e etc) e sua interpretação não é simples. Calculadoras online. Vantagem: pode ser calculado já nas primeiras 24 horas da admissão. ESCORE “BISAP” 5 parâmetros importantes para definição de pancreatite aguda “grave”: o Ureia sérica > 44 mg/ml. o Alteração do estado mental. o Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS). o Idade > 60 anos. o Derrame pleural. A presença de ≥ 3 critérios define o caso como pancreatite grave. 24 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM ESCORE DE ATLANTA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Em algumas circunstâncias, a pancreatite aguda é um diagnóstico de exclusão, já que outros quadros agudos do abdome superior, como colecistite aguda, úlcera duodenal penetrante ou perfurante, obstrução de intestino delgado proximal, apendicite aguda e infarto mesentérico devem sempre ser primariamente considerados. Na maioria dos casos, a distinção é possível com base no quadro clínico, achados laboratoriais e exame de TC. O ponto crítico é que as doenças com as quais a pancreatite aguda pode ser confundida com frequência são letais se não forem tratadas cirurgicamente. TRATAMENTO: Abordagem inicial: o Reposição volêmica, analgesia e dieta oral zero. o Definir se é a forma leve ou a forma grave da doença. Na forma grave, orientar a conduta posterior pelo resultado da TC. o Observar o surgimento de complicações tardias. o Recomeçar a dieta enteral no momento adequado. Tratamento da forma leve: Internação em unidade intermediária; Analgesia: meperidina ou outros opiáceos; o Pode-se utilizar morfina conforme necessidade, mesmo que essa possa aumentar o tônus no esfíncter de Oddi; Hidratação venosa; Controle eletrolítico e ácido-básico. Tratamento da forma grave: Analgesia com opiáceos; Hidratação venosa vigorosa; 25 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM o Noradrenalina (associada ou não à dobutamina) em casos de choque refratário a volume. Suporte nutricional enteral ou parenteral; Cateter nasogástrico em casos de vômitos incoercíveis e distensão abdominal (íleo paralítico); Nas crises graves de pancreatite aguda, a hipocalcemia pode requerer reposição parenteral de cálcio nas quantidades determinadas pelas dosagens seriadas. A identificação da hipocalcemia é importante em razão do risco de arritmias cardíacas. A hipomagnesemia também é comum, especialmente em alcoolistas, e o magnésio também deve ser reposto conforme indicado pelos níveis séricos; Antibiótico profilático APENAS indicado em casos de necrose pancreática comprovadamente contaminadas. COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGRADA ENDOSCÓPICA (CPRE) + PAPILOTOMIA Nas primeiras 72 horas da pancreatite aguda biliar, se presença de colangite e/ou icterícia progressiva moderada a grave (ex.: bilirrubina total > 5mg/dL). COLECISTECTOMIA SEMIELETIVA Todos os pacientes com pancreatite aguda biliar devem ser submetidos à colecistectomia laparoscópica antes da alta hospitalar, porém, somente após a resolução do quadro clínico agudo. Tratamento cirúrgico: Quando o diagnóstico é incerto em um paciente com dor abdominal intensa, não parece que laparoscopia ou laparotomia diagnósticas agravem a pancreatite. Quando um procedimento operatório é realizado para diagnóstico e é encontrada pancreatite leve a moderada, há indicação de colecistectomia se houver cálculos na vesícula, mas o pâncreas deve ser deixado intocado. Embora alguns cirurgiões instalem drenos e cateteres para lavagem na região do pâncreas, nós preferimos manter corpos estranhos fora dessa área. Atualmente, considera-se que o desbridamento do tecido peripancreático necrótico, frequentemente (40% dos casos) colonizado por bactérias, reduza a taxa de mortalidade dos casos de pancreatite aguda grave com necrose. Utiliza-se a aspiração com agulha dessas áreas para detectar colonização por bactérias. Deve-se distinguir entre esses casos de “pancreatite com necrose infectada” com os de “abscesso pancreático”, que costuma surgir mais tarde no curso da doença. Os pacientes com pancreatite com necrose infectada e achados clínicos graves são os que se beneficiam com o tratamento cirúrgico, mas a laparotomia deve ser realizada apenas em razão de deterioração do quadro em pacientes com pancreatite com necrose sem que haja colonização bacteriana. Na cirurgia, todos os espaços peripancreáticos devem ser abertos e qualquertecido necrótico removido por dissecção incruenta delicada. Isso pode ser feito com técnica videoendoscópica minimamente invasiva. Além das evidências tomográficas de necrose tecidual com ou sem infecção, não há atualmente uso de outros critérios para indicar cirurgia pancreática nos pacientes com pancreatite grave. A taxa de mortalidade associada à pancreatite grave com necrose é de 50% ou mais, mas o tratamento cirúrgico reduz esse número para cerca de 20%. 26 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM PÓLIPOS INTESTINAIS Classificações: Os pólipos não neoplásicos representam 90% dos pólipos colônicos. Embora histologicamente sejam lesões benignas, os pólipos do tipo adenomatoso são lesões pré-malignas que antecedem, em cerca de 7-10 anos, o adenocarcinoma colorretal. Pedunculado ou Séssil. PÓLIPOS ADENOMATOSOS: OS ADENOMAS Os pólipos neoplásicos, ou adenomas, são lesões precursoras da maioria dos adenocarcinomas colorretais, em uma sequência bem estudada de “pólipo a carcinoma”, na qual a mucosa do colo se transforma em pequenos adenomas tubulares que aumentam de tamanho e se desenvolvem com características de alto risco antes do carcinoma invasor. Os mecanismos genéticos por trás desse processo estão bem caracterizados. Embora representem apenas 10% dos pólipos, os adenomas são comuns. A colonoscopia de rastreamento em pacientes assintomáticos detecta adenomas em 25% dos homens e 15% das mulheres. 27 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Incidência aumenta com o aumento da idade, atingindo prevalência superior a 50% nos idosos. Cerca de 50% dos pacientes com adenoma apresentam mais de uma lesão, e 15% apresentam mais de duas. Encontra-se carcinoma em 5% dos pólipos com aspecto benigno removidos por via endoscópica. Os adenomas são encontrados predominantemente em posição distal ao colo transverso, e cerca de metade ocorre na região do retossigmoide. São definidos pela presença de epitélio displásico (displasia: “crescimento alterado”; o epitélio passa a ser composto por células diferentes das células normais, com núcleo hipercromático, perda da uniformidade, de tamanho e orientação espacial). Morfologia e histopatologia: o Tubular: mais comum (85% dos casos) e de melhor prognóstico. Geralmente são pequenos (< 2 cm) e pedunculados. o Tubuloviloso: prognóstico intermediário. o Viloso: pior prognóstico. Podem atingir até 10 cm, geralmente sésseis. Possuem superfície aveludada. Mesmo não havendo malignidade, os adenomas estão associados a maior risco de CCR. Além disso, os adenomas podem, eles próprios, abrigar lesão maligna. Os pacientes diagnosticados com adenomas apresentam risco duas a cinco vezes maior de câncer metacrônico em comparação com aqueles sem adenomas. A maioria dos adenomas apresentam displasias de baixo grau (não acometendo a lâmina própria). Cerca de 10-30% apresentam displasia de alto grau (acometendo lâmina própria – camada mais interna). Para o adenocarcinoma colorretal, o termo carcinoma invasivo indica a invasão da submucosa (ultrapassou a muscular da mucosa), pois a mucosa colorretal não apresenta vasos sanguíneos ou linfáticos. A maioria dos pólipos adenomatosos é assintomática. Quando ocorre sintomas a hematoquezia é a queixa mais comum. Principais fatores de risco para a malignização de um pólipo adenomatoso: As características do adenoma, incluindo histologia, localização, formato e tamanho, influenciam significativamente o risco. Tamanho: o < 1 cm: 1-3% de chance de se malignizar. o 1-2 cm: 10% de chance de se malignizar. o > 2 cm: até 40% de chance de se malignizar (especialmente os vilosos, que costumam ter tamanhos maiores). Tipo histológico: os vilosos têm uma tendência bem maior de sofrer malignização. o Se forem acompanhados no tempo, 5% dos adenomas tubulares, 22% dos tubovilosos e 40% dos vilosos evoluirão para doença maligna. Grau de displasia: adenomas com displasia de alto grau têm um risco bem maior de se tornar um adenocarcinoma invasivo. Abordagem ao paciente com pólipo colorretal: Todos os pólipos colorretais devem ser removidos (polipectomia) para estudo histopatológico, através da colonoscopia ou sigmoidoscopia flexível. A polipectomia ao mesmo tempo é diagnóstica e terapêutica e, no caso do pólipo adenomatoso, reduz comprovadamente a incidência de adenocarcinoma colorretal futuro. Pólipos sésseis > 2 cm devem ser retirados pela técnica do fatiamento. Esta deve ser sempre seguida por colonoscopia de controle realizada 2-6 meses depois para verificar se existe pólipo residual, que deve ser extirpado. 28 INTERNATO DE CIRURGIA GABRIELA ABREU E ISADORA ESTEVAM Considera-se que a polipectomia foi curativa quando os seguintes critérios forem cumpridos: o Todo o pólipo ressecado; o Margens livres; o Histologia bem diferenciada; o Ausência de invasão vascular ou linfática. A colonoscopia deve ser sempre repetida após 3 meses, a fim de confirmar ausência de lesões residuais. CÂNCER COLORRETAL (CCR) 95% dos casos são adenocarcinoma, derivado do epitélio colônico. No Brasil, estima-se cerca de 34.000 novos casos da doença por ano. Maior incidência no sudeste. O CCR está em terceiro lugar tanto em incidência quanto em mortalidade, atrás dos cânceres de próstata e de pulmão nos homens, e de mama e pulmão nas mulheres. A American Cancer Society estimou que, em 2012, mais de 143.000 pacientes seriam diagnosticados e 51.000 morreriam devido à doença. Os homens têm maior incidência e mortalidade do que as mulheres, e os norte- americanos negros têm maior incidência e mortalidade do que outros grupos étnicos. Mais da metade dos casos se manifesta em > 60 anos. FATORES DE RISCO: Pólipo adenomatoso. Dieta rica em calorias e gorduras de origem animal e/ou carboidratos refinados. Consumo de carne vermelha ao longo dos anos sugere aumento na incidência de CA colorretal. Obesidade, principalmente abdominal. Esses pacientes apresentam resistência a insulina, cursando em geral com hiperinsulinemia. O aumento da insulina circulante, eleva os níveis séricos de IGF-1 o que estimularia diretamente o crescimento de células da mucosa colônica (em particular aquelas que sofreram transformação maligna). Doença inflamatória intestinal: pacientes com colite de longa duração estão em risco, sendo que de forma geral, a duração e a extensão da colite apresentam íntima relação com o risco de malignização. Colonoscopia a cada 1-2 anos em pacientes com pancolite há mais de 8 anos ou com colite esquerda há 12-15 anos. Biópsias a procura de displasia de alto grau devem ser realizadas. Fatores genéticos: inativação de genes supressores tumorais (APC, DCC e p53), assim como a ativação de oncogenes, como o k-ras, foram descritas. o Polipose adenomatosa familiar (PAF): transmitida de forma autossômica dominante com 100% de penetrância. Sendo que no geral, paciente apresenta no mínimo 100 pólipos no intestino grosso, sendo dessa forma indicado colectomia total. É indicado sigmoidoscopia flexível a partir de 10-12 anos. o CCR hereditário não polipose (síndrome de Lynch): transmitido de forma autossômica dominante, responsável por 5 a 10% dos CCR. Sendo uma mutação seguida de inativação dos genes de reparo MSH2 e MLH1. São geralmente cânceres proximais (70% cólon direito), que aparecem em adultos jovens (média de 44 anos) e com risco aumentando de cânceres sincrônicos e metacrônicos. Essa condição exige colonoscopia a cada 2 anos, a partir dos 20 anos de idade, sendo que após 35 anos, o rastreamento deve ser anual. Em mulheres fica ressalvado a necessidade
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