Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Capítulo 4 - Projeto e Estrutura Tradução livre por Érica Marina Carvalho de Lima BERNARD LEUPEN et al. - "Proyecto y análisis: Evolución de los princípios em la arquitetura". Editora Gustavo Gili - capítulo 4 - Proyecto y Estructura. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina 4.1 Introdução A forma que o projetista tem de focar os materiais à sua disposição leva em si a uma variedade de interpretações. As teorias que sustentam que a arquitetura deriva inequivocamente das exigências dos materiais receberam no passado apoios tão fervorosos como as que defendem exatamente o contrário. A influência da estrutura do edifício sobre o processo de projeto pode ser descrita usando um ou outro ponto de vista. Estrutura No sentido geral, com a palavra estrutura designamos as partes de um edifício que recebem as cargas do mesmo e as transmitem à fundação; as paredes servem para dividir espaços e podem ou não ter função estrutural. Na arquitetura ocidental, as construções civis foram construídas durante muitos séculos de pedra e tijolo. Por regra geral, esses materiais têm partilhado as funções de suporte (portante) e de separação de ambientes em um mesmo componente estrutural. No entanto, durante os últimos 150 anos, a partir do nascimento da construção de esqueleto de ferro e concreto armado, o componente portante, medido em quantidade de material, tem decrescido claramente. Se um dos principais problemas estruturais no edifício de pedra e tijolo era o de como fazer aberturas nas paredes, com o surgimento do esqueleto de ferro e de concreto armado passou a acontecer exatamente o contrário, ou seja, o problema se converteu em como preencher os vazios em uma estrutura reticular ou de malha. Muitas vezes, as estruturas de revestimento e de muros não eram primordialmente portantes. Desde então, é generalizada esta distinção entre apoios e muros não-portantes. Para facilitar a descrição de todos os aspectos da relação entre projeto e estrutura, é necessário fazer uma definição do conceito de estrutura que seja a mais ampla possível. Neste capítulo entenderemo-na como o aspecto material global de uma construção conforme determinado pelas funções de sustentação e divisão. Conceitos Para entender a fundo a importância da tecnologia e da estrutura da edificação nos conceitos atuais de projeto, é evidente que antes convém revisar brevemente os avanços que se produziram neste campo desde a época do Iluminismo e da Revolução Industrial. A evolução do progresso tecnológico e científico derivada desses processos históricos teve uma influência de valor inestimável na arquitetura. As abordagens científicas adotadas por muitos teóricos e arquitetos da era do Iluminismo alimentaram o ideal de uma arquitetura racional, uma arquitetura ditada pelo conhecimento e pela razão. Para dar uma forma tangível a este ideal, se requeria um fundamento de projeto sólido, objetivo; esta base se encontrou na consideração da estrutura como essência da forma edificada, com um uso objetivo e eficiente dos meios disponíveis. A partir de então, as edifícios começaram a ser interpretados e projetados em termos funcionais e econômicos. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Os novos avanços da tecnologia de construção vieram acompanhados de um estado de crescente agitação entre os projetistas a cerca das possibilidades da técnica e de uma fé cega no progresso. O fato subsequente de que a tecnologia e a ciência passaram a formar parte, em alguma medida, da vida cotidiana, investiu de uma certa carga ideológica o conceito de estrutura, com a eficiência e a economia como suas condições implícitas. Como resultado de todas essas mudanças, o arquiteto teve que revisar à marcha forçada seus conhecimentos sobre disciplinas tais como mecânica aplicada, calefação, ventilação e outras similares, temas que desde então passaram a formar uma parte indispensável da prática cotidiana da profissão. Ao longo das últimas décadas do presente século1, foram levantadas sérias dúvidas sobre os benefícios de um progresso tecnológico e econômico ilimitado. Como resultado, a tecnologia e a estrutura da edificação voltam a estar submetidas a um minucioso escrutínio profissional, embora agora a partir de uma perspectiva notavelmente mais complexa. 4.2 Unidade formal e estrutura Provavelmente, a maneira mais lógica de analisar a relação entre projeto e estrutura seja a de começar por estudar o vínculo entre estrutura e forma edificada. Este vínculo é determinado pela medida em que a forma edificada satisfaz a função básica da estrutura, a transmissão de forças. Os exemplos seguintes servem para ilustrar a relação entre a forma e o jogo de forças que se desenvolve dentro da estrutura. Estrutura aditiva e integrada O templo grego analisado no capítulo 2 é um exemplo de construção em que a relação entre forma edificada e transmissão de forças é um pouco complicada. Seu projeto foi mais ditado por considerações de ordem ótica e formal que pelas propriedades resistentes do material. Por exemplo, o mármore com que foi feito o templo tem escassa ou nula capacidade de suportar momentos de flexão, de modo que sua estrutura arquitravada (ou adintelada) não é, por qualquer meio, a mais lógica para vencer o espaço entre as colunas, já que a arquitrave está submetida a tensão. Entretanto, para aliviar este problema, recorre a uma arquitrave de grande seção − e, portanto, muito mais pesada − e ao aumento de número de apoios (colunas), diminuindo assim o espaço livre das distribuições, com o qual os esforços de tensão gerados nos elementos horizontais estão abaixo do mínimo admissível pelo material. A enorme massa dos elementos empilhados (base, colunas e arquitrave) se traduzem no fato de que o templo, visto de longe, se comprima em um volume quase impenetrável que se destaca vigorosamente sobre a paisagem. Desta maneira, o que a princípio era uma relação difícil entre forma edificada e estrutura adquire grande relevância pelo impacto visual escultórico de seus volumes, tão típico da arquitetura da antiga Grécia. 1 [N.T.] Refere-se ao século XX, quando a obra foi escrita. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina O Panteão de Roma, edifício que poderia ser considerado como equivalente estrutural ao templo grego, é uma das consequências mais impressionantes dos princípios de contrução em pedra desenvolvido pelos romanos. O Panteão era um templo dedicado a todos os deuses, incluindo ao imperador divinizado César Augusto, e foi reconstruído inteiramente desde a fundação por Adriano entre os anos de 118 e 128 da era cristã. É o edifício que melhor sintetiza o conceito romano do espaço e o emprego das estruturas de abóbada e de cúpula, característico da arquitetura de Roma. Pela sua própria forma, nessas estruturas se geram poucos ou nulos esforços de flexão, permitindo assim grandes vãos em pedra e em concreto (a argamassa que os romanos usavam). Este enorme avanço técnico permitiu aos pedreiros romanos erigirem construções com vastos espaços isentos de apoios. O vão livre da cúpula do Panteão alcança os 43,4 metros, um êxito que demoraria muito tempo para ser igualado. Dado que a pedra como material de construção aceita unicamente esforços de compressão, somente era possível conseguir um vão desta magnitude aplicando o princípio estrutural do arco. Com tais vãos, a transmissão das forças depende das qualidades do material. Em uma estruturade arco, a princípio, só existem esforços de compressão. Quando numa estrutura somente se produzem esforços de compressão e/ou tração, podemos falar de uma unidade de forma e estrutura. Com o surgimento das estruturas arqueadas, desaparece gradualmente a distinção típica do templo grego entre apoio (coluna) e carga (arquitrave), á que ambos passar a ser a mesma coisa. Quando se produz uma fusão de elementos como esta, falamos de estrutura integrada. Este conceito é oposto ao de estrutura aditiva, o princípio em que se baseia o templo grego. Séculos mais tarde, na Idade Média, a estrutura integrada voltaria a alcançar, mesmo que temporariamente, seu ponto culminante na catedral gótica. A transmissão das forças nas estruturas de pedra teve uma influência muito direta na forma das catedrais. O ideal gótico de enfática verticalidade se traduzia nos edifícios o mais altos e leves possível. Os construtores góticos viam nas catedrais a culminância de seu ideal de ascensão a Deus. Para conseguir edifícios tão estilizados e graciosos, os pedreiros góticos tiveram que adaptar meticulosamente a forma de seus edifícios à distribuição de forças em jogo. Este princípio de inequívoca concomitância entre a forma edificada e a transmissão estrutural das forças, eliminando ao máximo o material de preenchimento que não cumprisse uma função estrutural precisa, proporcionaria ao longo do século XIX as bases para um ideal arquitetônico inteiramente novo. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Deformação elástica Viga trabalhando a flexão simples Ao empurrar um material o submetemos a uma compressão Construção em arco Templo de Efesto, Atenas Estudo de materiais de um templo grego Elevação frontal de um templo, onde se põe a ênfase na distinção entre apoio e carga Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Panteón de Roma. Estudos de materiais Catedral de Beauvais. Estudos de materiais Panteón de Roma. Planta e corte Catedral de Beauvais., 1247-1568. Interior Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina 4.3 Estrutura e verdade Seria um erro imperdoável menosprezar a importância do arquiteto e teórico de arte francês Eugène-Emmanuel Viollet-le-Duc no discurso arquitetônico do século XIX e começo do século XX. Sua obra teve uma influência essencial sobre a de arquitetos tão diversos como Antoni Gaudí, Victor Horta, Hendrik Petrus Berlage, Auguste Perret e Ludwig Mies Van der Rohe, entre outros. Em seu tratado fundamental Entretiens sur l'architecture2 (1863), descreve um método de projeto racional baseado em princípios góticos, segundo o qual projeto de um edifício é determinado inteiramente pelas considerações estruturais. Depois de definir com absoluta clareza como surge a forma de um edifício a partir da solução a um problema estrutural, proclama que os métodos construtivos são a essência da forma edificada. As catedrais góticas foram, em grande medida, o resultado de condições empíricas. Assim, de acordo com Viollet-le-Duc, a evolução das disciplinas da mecânica aplicada e da resistência dos materiais durante os séculos XVIII e XIX preparou o caminho para assentar as bases objetivas para a arquitetura, bases apoiadas sobre considerações totalmente sujeitas à verificação científica. Neste contexto, uma condição decisiva era a de que o material fosse tratado objetiva e eficientemente. E somente poder-se-ia levar a cabo este ideal de arquitetura racional mediante uma resposta sincera das demandas do edifício no que se refere à utilidade e construção: 2 [N.T.] "Conversas sobre arquitetura" (francês) Viollet-le-Duc, projeto de uma sala de concertos, com descrição das linhas de força através do edifício Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina "Na arquitetura só existem duas formas de ser sincero. Deve-se ser absolutamente fiel ao programa e aos meios de construção. Ser fiel ao programa equivale a cumprir exata e simplesmente as condições impostas pelas necessidades; para ser fiel aos métodos de construção, há que se empregar os materiais conforme suas qualidades e propriedades... as questões puramente artísticas, como a simetria e a forma visível, são simplesmente condições secundárias, frente a los princípios dominantes". Viollet-le-Duc costuma ser considerado como o primeiro crítico que rechaçou categoricamente a primazia da arquitetura clássica (ver também capítulo 2) como fonte de toda forma arquitetônica, por não se basear em princípios racionais. E, contudo, se examinarmos hoje, a mais de cem anos a partir de então, os desenhos que aparecem em Entretiens sur l'architecture como ilustração de suas teorias, não deixaremos de nos perguntar o que essas ilustrações têm a ver com uma arquitetura racional, sincera. Parece, pois, o momento idôneo para analisar mais cuidadosamente o significado da expressão "arquitetura racional". Em seu ensaio Viollet-le-Duc and the rational point of view3, John Summerson o expõe da seguinte maneira: "O que entendemos por arquitetura racional? Em minha opinião, podemos entender duas coisas. Podemos nos referir a uma arquitetura encaminhada a satisfazer certas funções específicas, com o grau mais alto possível de eficiência e economia. Ou também podemos entendê-la como uma arquitetura que busca expressar sua função dialeticamente, para oferecer um argumento visível ao observador. O primeiro tipo de arquitetura depende totalmente do grau em que a função possa se expressar matematicamente; em contrapartida, o segundo tipo depende da interpretação pessoal que tenha o arquiteto sobre a função. O primeiro tipo é implacável na aplicação dos meios para obter os fins; o segundo adapta meios e fins ao seu próprio jogo. O primeiro tipo de arquitetura é, de fato, uma utopia de quase impossível cumprimento, já que os requisitos globais de um edifício nunca poderão expressar-se matematicamente: em outras palavras, é a mítica arquitetura 'funcional' do passado. O segundo tipo de arquitetura é perfeitamente factível, sempre e quando a função do edifício tenha o suficiente interesse emocional para transformar em significativo este modo de expressão dialético." 3 [N.T.] "Viollet-le-Duc e o ponto de vista racional" (inglês) Viollet-de-Duc, detalhes de elementos de ferro fundido Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Na longa citação acima, Summerson expressa com bastante clareza que os partidários de uma arquitetura racional não estavam preocupados exclusivamente por definir a forma edificada em termos inteiramente objetivos e matemáticos, embora com frequência suas manifestações puderam fazer-nos pensar diferente. O ideal de uma arquitetura racional no século XIX se concretizou, de fato, em uma arquitetura cujas aspirações estéticas emanavam diretamente das exigências levantadas pelo método construtivo. Assim, a essência do projeto seguiu mantendo suas raízes na beleza, se bem que o ideal de beleza se inclinou para a apreciação de "uma relação muito específica com os materiais e a tecnologia". Engenharia da Arquitetura As ideias de Viollet-le-Duc sobre a veracidade na expressão da estrutura encontraram mais eco entre os engenheiros das escolas técnicas do que nas próprias escolas de arquitetura. Na verdade, foram os engenheiros franceses,em particular os da Escola Politécnica, os que primeiro hastearam a bandeira do desenho racional, impulsionados pela surpreendente afluência dos avanços técnicos. Com o surgimento de novos materiais de construção como o ferro fundido, o vidro estirado e o concreto armado, os engenheiros deram forma aos novos tipos de edifício requeridos pela Revolução Industrial. As últimas décadas do século XIX, em particular, se caracterizaram pela proliferação de construções feitas com os novos materiais, como pontes, fábricas, estações de trem, coberturas para mercados e salas de exposição, e grandes armazéns. Por sua própria natureza, a metodologia de projeto dos engenheiros é altamente experimental. Os novos métodos e materiais de construção eram submetidos a rigorosas provas, forjando-se assim um vínculo direto com os avanços na técnica e na indústria. As escolas de engenheiros proporcionavam o impulso para aplicar os materiais com o máximo de eficiência e economia, de modo que cada novo edifício que construía servia para elevar um pouco mais o nível do possível estruturalmente. A engenharia da arquitetura, alimentada por uma sólida fé no progresso tecnológico, avançava resoluta e rapidamente adiante. Podia- se notar no ambiente a sensação geral de que as possibilidades técnicas eram ilimitadas e que "os novos problemas levantados pela indústria e pela técnica sempre poderiam se resolver mediante a boa organização e a tecnologia avançada". Os princípios de projeto dos engenheiros se baseavam na objetividade e clareza da estrutura. Para eles, os ritmos e a nítida articulação das estruturas de ferro e vidro simbolizavam a velocidade da vida moderna. Em concordância com esses pontos de vista, a engenharia da arquitetura se opunha frontalmente aos princípios compositivos clássicos, como os que se ensinavam na Academia de Bellas Artes (ver anexo 2.5). O camuflar a estrutura e acrescentar ornamentos eram considerados como atos objetivamente censuráveis. A base da ordem e da composição, sustentavam os engenheiros, tinha que emanar dos princípios da estática e da estrutura portante do edifício. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Gustav Eiffel, desenho da estátua da Liberdade, Nova York Arquitetura de engenheiro: Cottancin e Dutert, Galeria das máquinas, Paris, 1889. A esbelteza da estrutura, através da qual se filtra uma torrente de luz, transmite a ilusão de não-gravidade Gustav Eiffel, torre Eiffel, Paris, 1889. "A nudez da construção encerra a essência de uma estética; reflete uma resposta econômica às leis da natureza, da gravidade e da capacidade portante dos materiais" Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina No início do século XX, começaram a se tornar frequentes os arquitetos de formação tradicional que adotaram um uso expressivo da tecnologia. Um dos primeiros foi Hendrik Petrus Berlage. Seu edifício de 1903 para a Bolsa de Amsterdam costuma ser considerado como o exemplo mais convincente de edifício projetado conforme os princípios de Viollet-le- Duc. Por contraste com o Teatro da Ópera de Paris do arquiteto educado na tradição Bellas Artes, Charles Garnier (ver capítulo 2), percebe-se imediatamente como o edifício da Bolsa está construído. Se na ópera se fazia uma clara distinção entre os espaços de representação e os espaços em que se resolviam problemas construtivos, na estrutura da Bolsa não há nada que fique oculto à vista. No lugar de se camuflarem os materiais − basicamente, tijolo, pedra esculpida e ferro fundido − embaixo de camadas de forro de gesso ou tetos, como era costume na época, todos eles ficam expostos orgulhosamente à vista. No grande salão da Bolsa, os elementos mais chamativos são a vasta superfície do solo e a graciosa estrutura coberta de ferro. O piso desta sala é como um cenário onde se desenvolvem os dinâmicos rituais do mundo da bolsa, enquanto que a cobertura segue fielmente os cânones da engenharia estrutural. H.P.Berlage, Bolsa de Amsterdam vista de Damrak Os materiais do edifício se aplicam seletivamente conforme suas respectivas possibilidades e as leis da mecânica que lhes são próprias. Assim, a fábrica de tijolos só se aplica onde os vãos não são demasiado grandes para as características do material; em contrapartida, se aproveita a maior leveza e resistência do ferro para traspassar grandes vãos e obter maiores aberturas para a entrada de luz. Vemos, portanto, que as propriedade do material têm uma grande importância na estrutura da Bolsa, e a maneira como se aplicam e combinam esses materiais resulta decisiva para sua imagem e também para a decoração. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Pátio de operações da Bolsa. Na vista são legíveis tanto as linhas do força como o sistema construtivo. A estrutura do edifício fica completamente à vista. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina O princípio das paredes de carga Casa Moller. Estudo de Materiais Interior da Casa Moller Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina 4.4 Estrutura e revestimento Em 1908, o arquiteto vienense Adolf Loos publicou um polêmico ensaio que deu uma nova orientação ao discurso sobre a "verdade" na estrutura. Em Ornament und Verbrechen (Ornamento e crime), Loos afirmava que um uso excessivo da ornamentação nos tempos modernos supunha um desperdício criminoso de força de trabalho. Ao afirmar isso, Loos não estabelecia nenhum tipo de distinção entre a ornamentação estilo Bellas Artes e a ornamentação defendida pelos seguidores de Viollet-le-Duc, que, como vimos, se baseava em considerações funcionais/estruturais. Qualquer forma de ornamentação, argumentava Loos, conduz inevitavelmente à escravização do artesão e por ele deve ser repudiada. Loos sustentava que "a maioria dos ofícios da construção moderna são veículos mais apropriados para a edificação do que a própria arquitetura". Por essa razão, Loos advogava por um desenho contido, não enfático, cuja distinção não proviesse de considerações puramente artísticas, mas de uma execução excelente. Em sua arquitetura, a beleza do processo industrial prevalecia sempre sobre a do ornamento: "A nobreza dos materiais e a excelência de execução não devem ser consideradas somente como uma mera compensação à falta de ornamentação, mas que inclusive podem chegar a superá-la em suntuosidade". Loos considerava que a preocupação com o estilo e os meios de expressão em arquitetura havia ficado antiquada há muito tempo, devido à realidade cotidiana da sociedade industrializada. "O 'estilo moderno' é simplesmente o produto da indústria: o que necessitamos é uma civilização de carpinteiros. Se os artistas das artes aplicadas pintassem quadros ou varressem as ruas, ainda a teríamos". A casa Moller de Loos, construída em Viena em 1928, vinte anos depois da publicação Ornament und Verbrechen, ilustra claramente a repulsa do seu autor a tudo o que tivesse a ver com uma ênfase na estética da estrutura. A estrutura da casa Moller está completamente subordinada ao espaço. Loos escreveu em 1898: "A missão geral do arquiteto é proporcionar um espaço aconchegante e acolhedor. Por esta razão decide colocar um tapete no solo e pendurar quatro peças de tapeçaria para formar as paredes. Mas não se pode construir uma casa à base de tapetes. Tanto o tapete do solo quanto das paredes requerem um quadro estrutural que os sustentem em seu local adequado. A segunda missão do arquiteto é a de inventar este quadro estrutural." A casa Moller não poderia corroborar esta afirmação com maior clareza. Uma análisedetalhada de suas propriedades espaciais e materiais revela que Loos não só considerava a resolução do problema da estrutura (neste caso, a estrutura portante) como menos importante que o feito de conseguir uma casa " aconchegante e acolhedora", ma também os via como temas de ordem completamente diferente. Para Loos, a estrutura não era mais do que um assunto logístico que deveria resolver com independência das demais condições do projeto. A partir deste ponto de vista, o que pode estar por trás do papel de parede não tem nada a ver com a arquitetura. O desenvolvimento de seu Raumplan serviu de apoio para esta atitude (ver capítulo 2). Partindo-se do sistema tradicional de paredes de carga empregado por Loos, era praticamente impossível executar esta ideia espacial com "veracidade". De fato, a Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina interrupção, concatenação e deslocamento dos espaços da casa Moller se traduzem em uma estrutura complexa e (ao menos do ponto de vista de Viollet-le-Duc) caótica. 4.5 Arquitetura e produção industrial Durante as primeiras décadas do século XX, as consequências da Revolução Industrial provocaram uma revisão fundamental das disciplinas de projeto. Um dos homens que mais se preocuparam com a reformulação de todo o relacionado com o projeto foi o influente arquiteto francês de origem suíça Charles-Édouard Jeannert-Gris, conhecido como Le Corbusier. Com uma enorme obra arquitetônica, artística e teórica nos ombros, Le Corbusier teve um papel de importância inestimável no desenvolvimento de uma arquitetura capaz de reconciliar-se consigo mesma e com as novas e radicalmente distintas condições da produção. A década de 1920 foi testemunha da irrevogável perda de influência da produção arquitetônica dos que defendiam o ideal de uma "arte da edificação". A obra artística "única" era vista como irremediavelmente superada pelos produtos ajustados à produção em série e ao consumo de massa. Em um ensaio intitulado Na defesa da arquitetura, Le Corbusier descreve os fundamentos mutáveis da prática de projeto da seguinte maneira: "A vanguarda atual... eliminou duas palavras, 'arquitetura' e 'arte', e as substituiu por 'construir' e 'viver'... Hoje em dia, quando a mecanização nos proporciona uma produção enorme, a arquitetura está sobretudo em um navio de guerra... assim como na direção da guerra ou na forma de uma caneta, ou em um telefone". Para muitos projetistas de vanguarda, a mecanização e estandardização da produção arquitônica não eram mera questão de gosto ou uma opção pessoal, mas eram quase uma imposição gerada pela enorme demanda de moradia surgidas nas metrópoles em rápido desenvolvimento (ver capítulo 3). Muitos arquitetos modernos estavam especialmente comprometidos com o destino das grandes massas de gente necessitadas de moradia digna. Para esses projetistas da vanguarda moderna, a pré-fabricação da construção era o meio ideal para satisfazer essa demanda e melhorar assim as condições da vida das classes trabalhadoras. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Nó monolítico de concreto armado, patenteado por François Hennebique em 1892. Hennenbique foi o primeiro a construir um nó de concreto armado capaz de resistir à flexão e ao calor, um caso gigante na história do concreto armado. Le Corbusier, estrutura Dominó Villa Savoye, vistas explodida dos das divisórias e elementos estruturais Le Corbusier, vista interior da Villa Savoye Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Casa Eames, 1948. Plantas Casa Eames, montagem de componentes Bairro residencial Pessac, 1926. Fragmento de um esboço Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Dentre as ideias postuladas por Le Corbusier em torno do tema da produção em série como base da arquitetura, talvez a mais essencial foi a do objeto-tipo. Le Corbusier usava esse termo para designar os produtos desenhados como protótipos para fabricar em série. Esses produtos, entre os quais se incluía expressamente as casas em série, deviam ser radicalmente simples e perfeitos, conforme as demandas da moderna produção mecanizada. Um exemplo de um desses objetos-tipo foi o das casas Dominó, que ele mesmo desenvolveu em 1916. O sistema consistia em uma estrutura (pilares, lajes e escadas) de concreto armado, completamente independente da distribuição, fabricada com elementos padronizados combináveis entre si como fichas de dominó (daí seu nome). O sistema Dominó se baseava nas técnicas do concreto armado, que durante essa época haviam experimentado com notável avanço. O reforço do concreto com barras de aço tem a virtude de combinar as melhores propriedade resistentes de ambos os materiais (a compressão do concreto e a tração do aço), permitindo à peça resistir a maiores esforços de flexão. Com este avanço, o uso do concreto deixava de ser limitado a estruturas em que, como no Parthenon, predominaram os esforços de compressão, conferindo ao projetista uma liberdade formal muito superior. A arquitetura se liberava, por assim dizer, do estreito e rígido colete das paredes de carga, que durante séculos havia constituído a única forma factível de sustentar os edifícios. Com vantagens adicionais, o novo material se mostrava mais barato, razoavelmente duradouro e de fácil modelagem e manipulação. O projeto da casa em série Citrohan, outro jogo de palavras com o qual Le Corbusier queria expressar que uma casa pode construir-se em série como um automóvel (Citroën), demonstrou bem claramente a validade do princípio Dominó. Uma versão posterior deste tipo de moradia, realizado na cidade-jardim de Pessac, próxima de Bordeaux, recorda vivamente um desses projetos em série recém-saído da cadeia de montagem. De fato, o mesmo Le Corbusier descrevia a casa Citrohan como uma máquina de viver: "Se arrancarem do coração e do espírito o conceito caduco da casa, e se focarem a questão de um ponto de vista crítico e objetivo, se chegará à 'casa-ferramenta', a casa em série acessível a todos, higiênica, incomparavelmente mais saudável que a antiga (também moralmente) e bela, com a estética das ferramentas de trabalho que acompanham nossa existência". A liberação da estrutura Por sua condição de casa particular, talvez a Villa Savoye não seja o exemplo mais representativo de produto padronizado do catálogo de Le Corbusier. Entretanto, é sim uma ilustração muito gráfica e das enormes possibilidades da estrutura de concreto armado para o desenvolvimento futuro da ideia de "planta livre" (ver capítulo 2). A este respeito, é muito interessante compará-la com a comentada casa Moller, de Adolf Loos. Nesta última, vimos que uma organização diferenciada do espaço resulta difícil de conciliar com uma estrutura simples. Recordemos também que Loos resolvia este problema ocultando suas estruturas atrás de um "tapete". O desenvolvimento por parte de Le Corbusier de seu sistema Dominó, o levou a uma solução que deixava a estrutura inteiramente à vista. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Na Villa Savoye, o esqueleto estrutural de concreto armado está totalmente "divorciado" da organização do espaço e da fachada. As carregas se transmitem às colunas e às vigas de concreto armado, eximindo aos muros divisórios e de fachada de sua função portante, de modo que possam ser organizados à vontade. Na planta livre resultante, as funções portantes e de separação (ou de divisão de espaços) são totalmente independentes e são levadas a cabo por elementos relativamente autônomos: esqueletode concreto assume a missão portante, os tapumes se encarregam de definir os espaços e a fachada se ocupa do controle ambiental. Esta situação suscitou uma nova tarefa de projeto a abordar: a de como tratar a relação entre os componentes da construção. A solução que Le Corbusier deu a esta questão foi a de fazer uma síntese, beneficiando-se da autonomia dos diversos sistemas operativos. Em primeiro lugar, utilizou a possibilidade de fazer com que esses componentes atendessem completamente às demandas da construção e do uso. O esqueleto de concreto, expunha ele, pode ser desenhado inteiramente a partir dos aspectos de sua capacidade portante ótima e da produção mecanizada, as paredes interiores surgem como consequência das considerações espaciais e ergonômicas. O projeto da fachada também admitia que se fizesse com relativa independência das partes restantes. Em contraposição à informal organização interna, a forma externa era de um prisma puro. A prova de que Le Corbusier considerava as formas geométricas puras da fachada como algo completamente independente de qualquer consideração prática nos vem confirmada por suas próprias palavras: "Meus olhos fitam qualquer coisa que enuncia um pensamento. Um pensamento que se ilumina sem palavras nem sons, mas unicamente pelos prismas relacionados entre si. Esses prismas são tais que a luz os detalha claramente. Essas relações não têm nada necessariamente prático ou descritivo. São uma criação matemática do espírito. São o idioma da arquitetura. Com as matérias-primas, mediante um programa mais ou menos utilitário que elas superaram, estabeleceram relações que me comoveram. Isto é arquitetura." Assim, a planta livre permite tratar a forma edificada e a distribuição de forças como coisas relativamente independentes. Isso põe em sua devida perspectiva o vínculo indissolúvel de que falava Viollet-le-Duc entre a forma e a estrutura. Como alternativa, Le Corbusier conseguiu estabelecer uma relação compositiva cuja chave residia na oposição entre os sistemas operativos. Onde melhor se aprecia esta oposição é no contraste entre as estritas ordenações da retícula de colunas e da fachada e a informalidade da ordenação em planta, sem esquecer outros contrastes proeminentes que aparecem na obra, como os de luz e sombra, e os de cheio e vazio. Esse meios bastaram a Le Corbusier para demonstrar que o projeto monofuncional dos elementos construtivos, crucial para a produção mecanizada, não tem porque redundar em uma arquitetura sem vigor. O projeto diferenciador dos componentes construtivos de Le Corbusier foi o primeiro passo de um processo evolutivo que conduziu à transcendente separação atual entre as disciplinas. De fato, hoje em dia está bastante difundido o costume de se encomendar a diferentes especialistas cada um dos aspectos imagináveis da construção. No entanto, o processo Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina perdeu algo da rica variedade que conseguiu criar Le Corbusier entre os componentes de suas vilas. Produtos padronizados De maneira similar ao que se sucedia na Europa, nos Estados Unidos se desenvolveram numerosos programas de protótipos encaminhados a introduzir a normatização na construção de alojamentos, em antecipação à enorme demanda gerada por moradias, em particular, pela cultura americana de consumo do pós-guerra. Um dos exemplos mais destacados de tais programas foi a série de casas-modelo na Califórnia. Este programa consistia no projeto e na execução de casas particulares que serviriam como modelo de moradia em muitos aspectos. As moradias deveriam sintonizar com o estilo de vida da família americana típica do momento. Ademais, as casas deviam assinalar orientações a uma tecnologia industrial da construção que já havia assimilado os grandes avanços realizados pela indústria aeronáutica durante a Segunda Guerra Mundial. A casa modelo nº 8, ou casa Eames, projetada em 1948 pelo casal formado pelo arquiteto Charles Eames e sua segunda esposa, a destacada pintora e escultora Ray Kaiser, nasceu da ideia de que o edifício podia se organizar de maneira similar a da indústria aeronáutica. A casa consiste em uma área de estar e um estúdio cujos telhados e fachadas estão construídos com elementos estruturais ultraleves e painéis pré-fabricados, uns translúcidos, outros opacos. Os pilares e as vigas são perfis de aço comum, selecionados por Eames em um catálogo corrente de produtos para a construção industrial. O emprego de elementos pré-fabricados em uma moradia não era, claramente, nenhuma novidade; entretanto, era nova a pretensão de construir uma casa com elementos não desenhados originalmente para a moradia e, sobretudo, o feito de deixá-los orgulhosamente à vista. Casa Eames, Santa Mônica, Califórnia Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina O projeto inicial da casa era bastante diferente, com uma estrutura tipo ponte sobre pilotis. Mas quando o catálogo chegou à obra, os arquitetos compreenderam que, com essa quantidade de aço, seria igualmente fácil construir uma muito maior. O resultado foi a hoje famosa casa Eames. Pode-se considerar esta casa como um simples e contundente argumento à favor da liberdade que oferece a tecnologia ao projetista, sempre e quando seja utilizada com inteligência. Com o simples emprego de produtos industrializados "de catálogo", os Eames conseguiram criar um produto esteticamente atrativo e de baixo custo. Como se isso não bastasse, sua estrutura era extremamente leve e admitia grandes vãos de abertura sem apoio intermediários. O resultado oferece uma flexibilidade interna inclusive superior à da Villa Savoye e Le Corbusier, e sua grande transparência proporciona uma notável integração com o entorno, o que possibilita a seus ocupantes a grata sensação de viver em plena natureza. Assim, vemos que, usando meios realmente mínimos, é possível construir um contêiner com um programa residencial completo. Porque, na verdade, esta casa não é mais que um contêiner que serve como armação para que os ocupantes possam "expor" nele suas atividades pessoais a seu gosto. A estrutura de aço está concebida de tal maneira que admite a criação de todo o tipo de ambientes e que se possa usar qualquer elemento imaginável para configurar o interior e a fachada, precisando funções e individualizando a casa; na Villa Savoye conseguiu-se tal feito gerando oposições entre as diversas partes do edifício. Analogamente ao que ocorria na Villa Savoye, na casa Eames a armação estrutural atua como princípio organizador da ordenação informal do interior. Ademais, seus projetistas conseguiram um feliz casamento entre o aspecto frio dos componentes industrializados de aço do exterior e os materiais quentes e coloridos empregados para os acabamentos interiores. 4.6 A estética do engenheiro À medida que avançava o século XX, os engenheiros foram perdendo gradualmente sua posição proeminente no desenvolvimento da arquitetura. A principal razão desta perda talvez deve ser busca no grau crescente de complexidade e especialização do processo de construção, o que lhes foi colocando cada vez mais em uma posição de assessor externo. Contudo, pode-se dizer que segue vigente o ideal de arquitetura racional postulado por Viollet-le-Duc. Geralmente, nos projetos de engenheiro costumam predominar os aspectos mais mecânicos e técnicos, como nas pontes, torres, navios de grande porte e outros similares, "Nesses programas, os problemas fundamentais se centram na estabilidade e na montagem, nas ancoragens e nas uniões entre elementos sem interferênciade requerimentos múltiplos e/ou contraditórios. No caso do concreto da moradia, a expressão da técnica como estética não se adapta com tanta fluidez à complexidade espacial e aos nuances culturais requeridos por seu uso." Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Embora a aplicação de materiais com o aço e o concreto armado descartam o imperativo de evitar esforços de flexão nas estruturas, muitos engenheiros continuam insistindo no ideal de unidade de forma e estrutura. No geral, além de estarem guiados pelo ideal de pureza e equilíbrio estrutural, se apoiam no argumento de que os esforços de tração e compressão puros permitem aproveitar melhor as propriedades resistentes do material. Hoje em dia, são muitos os projetistas de formação em engenharia que desenvolveram seus princípios de desenho em torno da chamada investigação biomorfológica, um conceito que utilizam para gerenciar a relação entre forma e estrutura. Muitos dos edifícios realizados com esta formulação são resultado de uma interpretação metódica da estrutura geomorfológica e da distribuição de forças nos organismos da natureza. A estrutura como escultura Formado como engenheiro civil, Pier Luigi Nervi foi um projetista que conseguiu forjar um vínculo satisfatório entre a beleza escultórica e a eficiência estrutural. Seu Palazzetto dello Sport, construído em Roma em 1959, nos mostra um Nervi com pleno domínio das propriedades dos materiais e técnicas de construção e, ao mesmo tempo, da graça e elegância das linhas. Nervi trabalhou quase exclusivamente com concreto armado. Com um magistral domínio das propriedades plásticas deste material, Nervi se distinguiu pela nitidez com a qual resolvia cada um dos aspectos de seus edifícios em função da distribuição das cargas em jogo. No caso do palácio de esportes, Nervi leva a cabo esta tarefa com tal precisão que o observador quase chega a "sentir" fisicamente a distribuição das forças. A obra de Nevi está, assim mesmo, inspirada pelo tema de relação entre ordem e composição, por um lado, e pelas leis da estrutura, por outro. Sobre isto, ele mesmo disse: "Até a teoria de estruturas mais avançada... só serve para analisar numericamente uma estrutura já desenhada... na fase de formação do desenho, aquela em que de uma vez por todas se determinam suas qualidades e defeitos (como as características de um organismo já estão claramente definidas no embrião), não se pode acudir ao uso da teoria estrutural e é necessário recorrer à intuição e às simplificações esquemáticas." A linguagem compositiva formal de Nervi teve um processo de gestação longa. No capítulo 1 descrevíamos esta linguagem como uma "geometrização" das formas extraídas da natureza. Em contraste ao caráter intelectual da geometria platônica, a tradição de engenharia tende, no geral, a umas formas cuja pureza geométrica está regida por um processo evolutivo em que a transmissão eficiente das forças têm uma importância essencial, como ocorre no desenvolvimento de um organismo. Portanto, aqui está a essência do ideal de uma arquitetura racional como a que definira Viollet-le-Duc, e igualmente a constatação de que é quase impossível aplicar este ideal universalmente. Porque só em circunstâncias muito extremas se dá o caso de que a transmissão eficiente das forças é o único critério que um organismo tenha que satisfazer. Os organismos não podem ser descritos de um único ponto de vista. Mas se isso é certo para um organismo simples, o é muito mais para um edifício que, invariavelmente terá que cumprir com uma grande diversidade de requerimentos derivados de seu uso, construção e contexto espacial. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Pier Luigi Nervi, Palazetto dello Sport, Roma Palazetto dello Sport. Corte Estrutura de um organismo aumentada 1.200 vezes. "Não há dúvida de que qualquer produto que se destaque por sua eficiência é sempre esteticamente satisfatório (Nervi)" Palazetto dello Sport. Planta Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina 4.7 A monumentalização da tecnologia O arquiteto estadunidense Louis Kahn conciliou seu interesse pelas questões estruturais com a busca do monumental e do universal. Kahn acreditava na natureza global da arquitetura, na "a intenção de ser do edifício". Segundo ela, se um edifício tiver uma intenção, também teria o material com que deve ser construído. O conceito de Kahn sobre a matéria com que trabalhava fica claro com a seguinte conversação imaginária. "O projeto exige uma compreensão da ordem. Quando se projeta com tijolo, há que se perguntar ao tijolo o que quer ou o que pode fazer. Ao que o tijolo responderá 'Quero um arco'. Então, o projetista objetará, 'Sim, mas os arcos são difíceis de executar, custam muito dinheiro. Me parece que seria melhor por um dintel de concreto'. 'Tens toda a razão', responderá o tijolo,' mas, já que me perguntou, te dou minha opinião: eu gosto dos arcos... " A isto se chama conhecer a ordem, compreender sua natureza, saber que o que se pode fazer é respeitá-la. Este arrazoado em defesa ao respeito à natureza do material nos recorda vivamente das chamada à verdade que fazia Viollet-le-Duc em relação às propriedades dos materiais. Mas Kahn não estava tão preocupado pelos aspectos puramente mecânicos dos materiais como por suas qualidades visíveis e tácteis. Sua observação de que "a matéria é luz" nos diz não só que a luz é a que nos faz visível as coisas, mas que também é sua própria substância. Nesta ordem de ideias, não se surpreende que, para Kahn, o feito de ocultar a natureza dos materiais, ou a forma como está construído um edifício seria irreconciliável com "a intenção de ser do edifício". O Instituto Salk de investigações biológicas em La Jolla (Califórnia) confirma a ideia de que, para Kahn, os edifícios devem Corte básico da zona de laboratórios do Instituto Salk de investigações biológicas, onde se aprecia o conceito estrutural baseado nas vigas Vierendeel. Espaço servente alojado nos elementos estruturais. Esboço de uma variação anterior. Esboços de trabalho. O ajusto de planos e volumes dentro de outros gera a articulação dos espaços maiores (servidos) e menores (serventes) Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina expressar do que estão feitos. Seu manejo de materiais, neste caso madeira e concreto, enuncia bem claramente seu desejo de ressaltar as propriedades específicas dos mesmos. Assim, o "robusto" concreto opera como o portador da "leve" madeira, e a dicotomia entre opostos se articula entre a "cálida" madeira e o "frio" concreto. Também são visíveis as diferentes maneiras de manipular esses materiais: os separadores e as juntas de construção do concreto foram deixadas em estado bruto, enquanto que se aprecia claramente que os elementos de madeira da fachada estão compostos de peças menores. Louis Kahn, Instituto Salk. No Instituto Salk as configurações estrutural (portante) e espacial coincidem quase em todas as partes. Se Le Corbusier se esforçava por liberar a forma dos espaços de seus aspectos portantes, Kahn trata espaço e estrutura como entes intimamente ligados. O uso de tapumes leves móveis não teria sentido dentro do ideal monumental de Kahn, para quem o material tem sua própria vontade. Consequentemente, o Instituto Salk não foi projetado como um esqueleto portante para ser completado depois com diversos "preenchimentos". Pelo contrário, se trata de uma composição de planos portantes e volumes, guiada a todo o momentopela relação entre cheio e vazio, matéria e espaço, e pelo jogo que introduz a luz nos componentes desta relação. Kahn escreveu em 1954: "Na Idade Média, os arquitetos construíam com pedras maciças. Hoje dia podemos construir com pedras ocas. Os espaço definidos pelos membros de uma estrutura são tão importantes como podem ser. Tais espaços variam em tamanho, desde as células de um painel isolante, as aberturas para que circulem o ar, a luz e o calor, até os espaços de tamanho suficiente para serem habitáveis. A ânsia por expressar positivamente os vazios no desenho de uma estrutura é evidenciada pelo crescente interesse no desenvolvimento dos espaços-moldura." Louis Kahn, Instituto Salk. Exterior do laboratório Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Mas a maneira como Kahn faz visíveis e acessíveis os espaços configurados pela estrutura do Instituto biológico, não vem sugerida unicamente pelo seu desejo de revelar o princípio estrutural para mostrar como é feito o edifício, mas também, ao mesmo tempo, serve para solucionar o problemas dos serviços, que em um edifício deste tipo estão submentidos a contínuas mudanças e/ou ampliações. É claro que os espaços moldados para este fim pela estrutura são eminentemente adequados para alojar todos os serviços e tubulações. E com ele voltamos outra vez ao conceito dos espaços "serventes" e "servidos". A flexibilidade de uso propiciado por este princípio se explora vantajosamente na seção de laboratórios do Instituto. Aqui, Kahn introduz um sistema de grandes vigas de alma [núcleo] alveolada (Vierendeel) para solucionar as distribuições da estrutura, alternando os pisos destinados a laboratório e os destinados a galeria de serviços. A considerável altura dessas vigas alveoladas permite acomodar tranquilamente neste espaço servente as instalações do espaço servido (o laboratório), deixando-o completamente isento de servidões e facilitando possíveis alterações ou ampliações. Instituto Salk. Corte em perspectiva, onde se aprecia a estrutura dos laboratórios Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina O espaço servente dentro da pele do edifício Foster Associates, Centro de Artes Plásticas Sainsbury Esboço do conceito de projeto em que se fixam as condições de uso. Todos os problemas estruturais se resolvem dentro da pele do edifício Esboço ilustrativo do princípio de service shed Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina 4.8 O conceito de serviced shed4 O conceito de que a arquitetura deve fazer um uso completo da tecnologia de fabricação industrial é uma convicção amplamente divulgada entre os projetistas. Os argumentos para sustentar esta ideia são, em geral, de caráter prático e diferem muito pouco dos defendidos por Le Corbusier ou Charles e Ray Eames. Segundo essa linha de pensamento, os produtos padronizados garantem edifícios baratos, duradouros, eficientes e de uso flexível. Um dos estudos de arquitetura que seguem rigorosamente os avanços tecnológicos é o de Foster Associates, em cujos projetos se exploram a fundo as possibilidades dos sistemas modulares de construção industrializada. Norman Foster atribui seu interesse pela tecnologia moderna a sua própria insatisfação com os métodos construtivos tradicionais e suas proverbiais carências em matéria de controle de qualidade, e também ao declínio da produção artesanal e a consequente falta de bons artesãos. Se a casa Citrohan de Le Corbusier formava um vínculo com a indústria do automóvel, na Foster Associates estão particularmente atrelados às viagens espaciais e à construção de aeronaves. Se a adoção das técnicas e métodos de esses dois ramos não bastasse, as formas de seus desenhos também denotam claramente a influência de aviões e aeronaves. Um dos muitos exemplos na obra de Foster de incorporação de um sistema modular produzido industrialmente é o Centro de Artes Plástica Sainsbury, na universidade de East Anglia em Norwich (Norfolk, Grã-Bretanha), terminado em 1977 (ver capítulo 3). Dada a natureza não especificada do programa, o Centro Sainsbury foi concebido como um serviced shed, um contêiner cujas aberturas dos piso, paredes e telhado alojam todas as instalações necessárias para que o edifício funcione corretamente. A maioria das decisões de projeto foram tomadas a partir desta ideia mínima de forma construída. A estrutura do edifício consiste em um esqueleto leve de aço formado por 37 pórticos de um único vão. Os pórticos estão construídos com vigas de gelosia5 idênticas, revestidas interior e exteriormente. Todos os serviços se alojam no espaço compreendido entre as capas de revestimento da estrutura, cumprindo com perfeição o princípio servente-servido de Louis Kahn. Não é preciso dizer que o feito de separar o espaço servente do servido permite deixar inteiramente livre de impedimentos este último, ocupando toda a extensão útil do galpão. Com as instalações (calefação, ventilação, iluminação, eletricidade etc.) deste vasto galpão alojadas no interior da estrutura de cobertura e os sanitários nos muros, se garante um uso ótimo do espaço principal, livre da inoportuna presença de tais elementos e sistemas. Com a única exceção das vigas, o edifício está revestido com três variedades de painel: de vidro, de alumínio tipo sanduíche, e de grade para ventilação. O material das vigas está 4 [N.T. shed: galpão em Inglês]. 5 Grade de fasquias de madeira que se coloca no vão de janelas ou portas, para proteger da luz e do calor, e através da qual se pode ver sem ser visto. = ADUFA, RÓTULA "gelosia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa , 2008-2013, Http://www.priberam.pt/dlpo/gelosia [consultado em 26-10-2014]. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina deliberadamente escolhido de tal modo que possa acomodar os possíveis alargamentos ou contrações do recinto. A solução de muros de vidro sem nenhum tipo de barra divisória parece a ideal para produzir a desejada sensação de espaço ilimitado em todos os sentidos. A metodologia de desenho modular e de produção em série dos componentes, além de facilitar enormemente o controle da montagem do edifício, permite utilizar produtos de alta qualidade e elevada durabilidade, mantendo o custo dentro de limites razoáveis. Por outro lado, sobre a questão de montagem das várias partes, bastará estudar e resolver cuidadosamente todos os aspectos problemáticos para um único módulo e estender a solução a todos os demais, utilizando sempre as técnicas mais avançadas. Finalmente, esta metodologia permite comprovar todo o sistema antes da construção, de modo que possam ser detectadas e solucionadas as possíveis deficiências antes de iniciar a produção. Buckminster Fuller e Forster Associates, projeto Climatroffice, 1971. Também aqui a pele do edifício é totalmente independente do interior Estudo de materiais do Centro Sainsbury Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Richard Rogers e Renzo Piano, Centro Pompidou, Paris Archigram, projeto "Interchange City", 1963 Rogers e Piano, Centro Pompidou. Plantas e corte. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina 4.9 Tecnologia e teatralidade Durante a década de 1960, um grupo não muito homogêneo de arquitetos ingleses introduziu na cena arquitetônica um novo idealismo, que poderíamos chamar de estético- tecnocrático, caracterizado por uma nova abordagem sobre a significação de novastecnologias para a linguagem arquitetônica. Mesmo que nunca chegara a constituir-se oficialmente, o grupo adotou o nome de Archigram e, em 1961, lançou o primeiro número da revista Archigram, uma publicação de periodicidade irregular que serviu de plataforma a suas visões e manifestos. Em uma série de desenhos utópicos, esboçaram um quadro da cidade moderna no que pareciam haver enterrado para sempre a disciplina da estática na arquitetura. Archigram apresentava a cidade do futuro como uma vasta rede de comunicação que explora o potencial da tecnologia e dos meios de comunicação de massas e submete a sociedade a um processo de mudança irremissível. Baseando-se em uma visão essencialmente otimista do progresso tecnológico, Archigram retratava uma sociedade do futuro cujos principais apoios seriam os temas típicos da cultura pop dos anos sessenta, como a comunicação de massas e a mobilidade. Porém, o mais curioso dos projetos de Archigram é que eles não tinham nenhuma intenção especial de contribuir com o progresso tecnológico como tal. Em seu lugar, o grupo estava preocupado quase exclusivamente com o potencial expressivo da tecnologia e, mais particularmente, com o "atrativo sedutor da estética da era espacial", sua principal fonte de ideias. As imagens esboçadas por Archigram tinham um grande poder de sedução e contribuíram em boa medida para despertar um renovado interesse do público pela tecnologia da edificação. Com a finalização em Paris do Centro Pompidou, um edifício que muitos consideram inspirado nas ideias de Archigram, se produziu um entusiasmo do público em geral só comparável ao que se produzira com a construção dos palácios de cristal e das grandes estruturas de engenharia do final do século XIX. O Centro Pompidou, projetado por Richard Rogers e Renzo Piano e terminado em 1977, é um centro cultural que contém espaços de exposição de obras de arte moderna, biblioteca, centros para desenho industrial e música, oficinas e cafeteria. Como no Centro Sainsbury, o programa de necessidades requeria um edifício flexível; para projetá-lo, Rogers e Piano recorreram à estética Archigram. OMA, Kunsthal. Planta Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina O Centro Pompidou tem muito em comum com o Centro Sainsbury. Ambos são fiéis ao princípio do "contêiner servido". O centro parisiense consiste em um esqueleto de aço com vigas de gelosia que abarcam toda a largura do edifício, deixando em cada piso uma superfície transparente e isenta de pilares de 166 x 45 metros. Mas as semelhanças terminam enquanto examinamos a organização dos serviços. Se Foster os alojava na pele do edifício, Rogers e Piano, com um agudo sentido irônico, fazem uma reviravolta e cometem o extremismo tecnológico de tirá-los para o exterior do esqueleto, como se quisessem que os expectadores vislumbrassem as entranhas do edifício. A estrutura tubular que contém as escadas rolantes está pendurada em um suporte do esqueleto mediante vigas colossais, desenhadas especialmente para este projeto. Com isto se solucionava um problema suscitado não tanto pelo programa mas pelos próprios arquitetos. De fato, não se pode dizer que a exibição despudorada dos aspectos tecnológicos e estruturais do Centro Pompidou obedeça a motivos práticos. Mas, o que se parece perseguir é conferir ao Centro um aspecto "industrial"; para singularizar o edifício, a tecnologia recebe um tratamento como motivo decorativo. Diferentemente do Centro Sainbury, o edifício parisiense evoca associações a imagens inequivocamente familiares, através de suas inumeráveis alusões aos processos industriais e à estética fabril. Sem fazer nenhuma alusão direta ao programa ou ao contexto do edifício, o centro Pompidou tem todo o ar de uma refinaria de petróleo. Em outras palavras, o edifício de Rogers e Piano é uma metáfora da "máquina cultural". Estudo de materiais do Centro Pompidou Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Outro exemplo de teatralização dos rasgos estruturais é o edifício Kunsthal em Rotterdam, do estúdio OMA de Rem Koolhaas. Terminado em 1993, este edifício se distingue dos outros museus por não ter uma coleção própria, mas está destinado a abrigar exposições temporárias. Este simples fato influi poderosamente na sua concepção, a qual, em vez de basear-se em reunir e gerir uma coleção, se centra em responder com flexibilidade às tendências mais imediatas nas artes, com ênfase primordialmente na vivência intensa da obra de arte exposta. As estâncias estão conectadas mediante um complexo sistema de circulações, uma espécie de labirinto que enfrentam os visitantes com uma sucessão de experiências surpreendentes e contrastantes. Exteriormente, a Kunsthal é um caixote plano atracado contra o dique que delimita o parque sobre o qual se levanta. Uma estrada de serviço que corre ao longo deste dique e uma rampa que descende do dique ao parque dividem o caixote em vários espaços, cada um dos quais se distingue dos demais em função de sua estrutura. Em ocasiões se justapõem os diferentes princípios em jogo, sem nenhum gênero de transição. Por exemplo, o vestíbulo de entrada e o auditório, diretamente adjacentes à rampa, têm uma inclinação oposta a esta. Este efeito foi potencializado deliberadamente aderindo as colunas do vestíbulo ao solo inclinado, de maneira que o espaço pareça flutuar como um elemento independente dentro do edifício. Isto equivale a derrubar qualquer indício de conexão lógica entre forma e distribuição de forças. As forças seguem um enigmático caminho quase impossível de adivinhar e "certamente não consistente com as leis da natureza", mas em qualquer caso produzem a surpreendente e singularíssima sensação de que o edifício não está submetido à ação da gravidade. A Kunsthal esgota ao máximo os limites do estruturalmente possível, de forma análoga ao que faziam outros muitos edifícios examinados ao longo deste capítulo. Mas isto não tem absolutamente nada a ver com o uso eficiente e econômico do material, nem com uma estrutura construída lucidamente. Aqui, o conhecimento da tecnologia da construção fica subordinado à criação dos efeitos teatrais, e os princípios estruturais mudam em cada espaço, de maneira similar a como se muda um cenário entre os atos de uma representação teatral. Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Estudo de materiais de Kunsthal OMA, Kunsthal. Corte Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Fabricação dos consoles de ferro fundido, cada qual pesando 10.000 quilogramas União da cambota com o pilar e o console Transporte noturno das cambotas de gelosia destinadas à obra Proyecto y Estructura Bernard Leupen et al Tradução Livre: Érica Marina Kunsthal em fase de construção A rampa e a rua de acesso perfuram a massa do edifício
Compartilhar