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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS – FDA DIREITO PROCESSUAL PENAL 2 COMPETÊNCIA Maceió 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS – FDA DIREITO PROCESSUAL PENAL 2 ADEMAR DA SILVA PAULINO COMPETÊNCIA Trabalho realizado para a disciplina de Direito Processual Penal do 5º período noturno do curso de Direito da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, solicitado pelo professor Maurício Pitta. Maceió 2015 Introdução O Estado e sua exclusiva autoridade que detém de aplicar a norma jurídica e pôr fim ao litígio, tem sua atividade jurisdicional feita por intermédio do processo, tendo em vista que o processo é o meio instrumental da jurisdição. Na essência, a jurisdição mostra-se como o poder estatal de“dizer o direito”: “dicere ius; iuris dictio”. Não se deve, contudo, esquecer que ajurisdição constitui verdadeira garantia fundamental do cidadão, sem a qual não se fala em democracia1. Dentre os princípios que regem a jurisdição, estão a inércia, a imparcialidade, o juiz natural e a indeclinabilidade da jurisdição. Aquele significa que o poder somente poderá ser exercido mediante prévia invocação, sendo vedada a atuação “ex officio” do magistrado2. Na busca em viabilizar sua atuação jurisdicional em todo o território nacional, o Poder Público instituiu determinados órgãos, os quais exercem suas atividades conforme um critério legal de distribuição de competências. As regras gerais e específicas de competência dos Juízes e Tribunais são traçadas pela Constituição Federal e pela legislação infraconstitucional e objetivam, através da efetivação da ordem jurídica positivada, a aplicação do poder jurisdicional conferido ao Estado. Competência A competência é instituto que vem expresso tanto no Código Processual Civil (do artigo 86 ao 111) como no Código Processual Penal (artigo 1º e 69 ao 91). Surge através da demarcação da jurisdição Estatal, como sendo a parte da jurisdição a que cabe cada órgão, mais especificamente, como sendo o âmbito no qual magistrado pode exercer a jurisdição. 1 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Introdução aos princípios do Direito Processual Penal brasileiro. In: Separata ITEC, ano 1, nº 4 – jan/fev/mar 2000. “passim”. 2 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. v. 1. p. 402. Em razão da vastidão do território, a dimensão populacional e o consequente número gigantesco de controvérsias presentes nas sociedades modernas, das mais simples as mais complexas, é imprescindível não só a criação de numerosos órgãos jurisdicionais, como também a correlata limitação do poder jurisdicional destes órgãos. Neste contexto, todos exerceriam a função jurisdicional, dentro, porém, de restrições delineadas em lei. O Código Processual Penal3 traz: Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: I - o lugar da infração: II - o domicílio ou residência do réu; III - a natureza da infração; IV - a distribuição; V - a conexão ou continência; VI - a prevenção; VII - a prerrogativa de função. A legislação brasileira adota a teoria do resultado, isto é, a competência é estabelecida no foro onde o crime foi consumado e, se na forma tentada, no local onde ocorrera o último ato executório, seja a conduta do agente omissiva ou comissiva. Conforme caput do artigo 703 “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”. Por impossibilidade de determinação do lugar exato da consumação da infração penal, é aplicado o critério subsidiário do domicílio ou residência do réu. Para esta hipótese de desconhecimento do locus delicti, raríssima no mundo fático, o legislador adotou um foro supletivo, o forum domicilii. Caput do artigo 723 “Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu”. A competência ratione materiae, por sua vez, é estabelecida em razão da natureza do delito cometido. O critério de competência em razão da matéria é regulado pelas leis de organização judiciária, excetuada a competência privativa do Tribunal do Júri que, por determinação constitucional, possui a competência de processar e julgar os crimes dolosos contra a vida. Como traz o caput do 3 DECRETO-LEI Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código Processual Penal. artigo 74 “A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri”. A ideia de que a competência em razão da matéria e da pessoa é absoluta, enquanto que o critério territorial implica competência relativa é aceita de comum acordo entre doutrina e jurisprudência. Nessa senda, naquela situação, a violação da regra de competência não se convalida; enquanto que, nesta, far-se-ia possível a convalidação pelo instituto do “prorrogatio fori”4. O critério da distribuição aparece como uma das soluções mais razoáveis para eleger qual o juiz competente quando há vários juízes no foro competente para o processo e julgamento do crime. A distribuição consiste em uma espécie de sorteio, uma divisão, entre juízes igualmente competentes, sendo ela obrigatória sempre que houver mais de um magistrado circunscrição judiciária. Caput do artigo 755 “A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente”. A conexão e a continência não são critérios determinadores de competência e sim, modificadores de competência. Assim como o desaforamento, é um critério modificador de competência penal. Por questões de economia processual, maior segurança jurídica e coerência entre decisões, é conveniente que haja, sempre que possível, um só processo para julgamento de crimes conexos, assim como nas hipóteses de continência. Prescrição do Código de Processo Penal em seus artigos 76 e 77: Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; 4 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. v. 1.p 407. 5 DECRETO-LEI Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código Processual Penal. III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal. As causas que alteram a competência estão relacionadas à questão da pluralidade de crimes ou da pluralidade de agentes, o que então faz com que se reconheça que tais institutos estão vinculadosa uma busca pela harmonização e padronização da matéria probatória (na sua valoração) ou da própria decisão judicial (a fim de evitar decisões conflitantes sobre as mesmas questões). Além da finalidade de harmonização e padronização da questão probatória e de evitar decisões judiciais conflitantes, é possível ainda apontar que tanto a conexão quanto a continência estão também relacionadas a uma questão de economia processual, na medida em que evita a repetição inútil de atos probatórios com mesma finalidade em processos distintos. Ademais, asseguram uma reconstrução mais fiel dos fatos, na medida em que permitem a compreensão e análise de todo o material probatório. O critério legal da competência penal por prevenção é fixado quando um juiz se antecipa frente aos demais juízes igualmente competentes, por praticar algum ato ou ordenar alguma medida referente a um determinado processo, até mesmo antes do oferecimento da queixa ou da denúncia, conforme prescrito no artigo 83 do Código de Processo Penal6: Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa. A prerrogativa de função também é fator determinante da competência penal. É uma previsão de competência originária dos Órgãos Jurisdicionais Superiores, a qual a estes órgãos compete o processo e julgamento de 6 DECRETO-LEI Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código Processual Penal. determinadas pessoas. Esta competência denominada ratione personae, entretanto, não é uma competência estabelecida em razão de uma certa pessoa, mas sim em função do cargo exercido por ela. O foro especial é determinado em razão da importância da função que a pessoa desempenha. Certas pessoas, em razão da função ou cargo que exercem, devem julgadas por determinado Tribunal, de forma originária. Isto é, algumas pessoas, por exercerem determinadas funções, têm a prerrogativa de serem julgadas originariamente por determinados órgãos7. É importante observar que a competência por prerrogativa de função não significa um benefício ou privilégio para alguns afortunados, mas tão-somente um critério diferenciador em virtude da função exercida pelo agente, ou seja, a alteração da competência dá-se em virtude da relevância do cargo ou da função pública exercida e não simplesmente da pessoa8. Cabe frisar que prevalece o princípio da atualidade da função, ou seja, somente se tem prerrogativa de foro durante o exercício do cargo ou da função pública: quando cessar o exercício, cessa a prerrogativa. Considerações finais A a jurisdição se configura pelo poder-dever do Estado que toma para si o encargo de intervir na relação conflituosa entre particulares desde que provocado por estas. Tal intervenção se dá de várias maneiras, seja na edição de leis, no julgamento das lides e quaisquer outros meios que os órgãos jurisdicionais julguem necessários para este fim. A jurisdição não pode incidir sobre todos os tipos de demanda, logo, para que haja uma delimitação para a atuação dessa jurisdição o legislador disciplinou regras sobre competência. O instituto da competência permeia-se como a 7 LOPES JUNIOR., Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. v. 1. p. 435. 8 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Direito processual penal. Tomo I. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 123. qualidade legítima da autoridade pública de apreciar e julgar um pleito ou questão dentro de uma determinada divisão judiciária. Referências BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Direito processual penal. Tomo I. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 123. COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Introdução aos princípios do Direito Processual Penal brasileiro. In: Separata ITEC, ano 1, nº 4 – jan/fev/mar 2000. “passim”. DECRETO-LEI Nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código Processual Penal. LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. v. 1.
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