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O Erro em Direito Penal (Erro de Tipo e Erro de Proibição)

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O ERRO EM DIREITO PENAL (ERRO DE TIPO E 
ERRO DE PROIBIÇÃO) 
Erro, em Direito Penal, corresponde a uma falsa 
percepção da realidade. Os termos "erro" e "ignorância", 
diferenciados em alguns setores do Direito, como no Civil, são 
tomados como sinônimos em matéria penal. 
Existem duas modalidades de erro jurídico-penal, ambas 
capazes de interferir na responsabilidade criminal do agente: erro 
de tipo (art. 20 do CP) e erro de proibição (art. 21 do CP). 
Tais espécies foram incorporadas em nosso Código 
Penal por intermédio da Reforma da Parte Geral de 1984 e vieram 
em substituição às fórmulas consideradas imperfeitas e inspiradas 
na tradição romanística: erro de fato e erro de direito. 
O ERRO ANTES DA REFORMA DE 1984 
Durante muitos anos, notadamente no Direito Penal 
anterior à Reforma de 1984, nosso Código, no que tange ao 
tratamento do erro, permanecia vinculado à antiga tradição romana, 
que o distinguia em error facti e error iuris, admitindo a 
escusabilidade do primeiro e declarando a irrelevância do segundo 
(nos revogados arts. 16 e 17)'. 
A disciplina mostrava-se, porém, defeituosa e, não raro, 
deixava de ser acolhida pelos tribunais com apoio na doutrina 
pátria, que, ao final das décadas de 1970 e 1980, caminhava para 
uma construção muito próxima daquela atualmente inserida na Lei, 
a qual prevê as figuras do erro de tipo e do erro de proibição . 
DISTINÇÃO ENTRE ERRO DE TIPO E ERRO DE 
PROIBiÇÃO 
É de fundamental importância perceber, desde logo, a 
diferença fulcral entre o erro de tipo e o erro de proibição, 
consagrados nos arts. 20 e 21 do Código Penal", 
No erro de tipo, a falsa percepção do agente recai 
sobre a realidade que o circunda; vale dizer, ele não capta 
corretamente os eventos que ocorrem ao seu redor. O sujeito se 
confunde, trocando um fato por outro. Assim, por exemplo, age em 
erro de tipo a pessoa que, ao sair de um grande supermercado, 
dirige-se ao estacionamento e, diante de um automóvel idêntico ao 
seu (mesma cor e modelo), nele ingressa e, com sua chave, o 
aciona e deixa o local. Note-se que a pessoa não captou com 
precisão a realidade que está diante de seus olhos, pois, sem 
perceber, está levando embora coisa alheia móvel. Se o verdadeiro 
dono do veículo visse a cena, certamente acreditaria estar sendo 
vítima de um furto e, bem provavelmente, acionaria a Polícia. O 
motorista desatento, entretanto, não tem consciência de que conduz 
automóvel de outrem, já que pensa estar dirigindo seu próprio 
veículo. Neste caso, o sujeito opera em erro de tipo. A falsa 
percepção da realidade incidiu sobre um dado fático previsto como 
elementar do tipo penal do art. 155 do CP (no caso, desconhecia 
que o bem era "coisa alheia" e acreditava, de boa-fé, que se tratava 
de "coisa própria"). 
No erro de proibição, todavia, a pessoa tem plena noção 
da realidade que se passa ao seu redor. Não há confusão mental 
sobre o que está acontecendo diante de seus olhos. O sujeito, 
portanto, sabe exatamente o que faz. Seu equívoco recai sobre a 
compreensão acerca de uma regra de conduta. Com seu 
comportamento, o agente viola alguma proibição contida em norma 
penal que desconhece por absoluto. Em outras palavras, ele sabe o 
que faz, só não sabe que o que faz é proibido. Por exemplo: uma 
pessoa encontra um relógio valioso na rua, pega-o e sai à procura 
do dono. Não o encontra, apesar de insistir em restituí-lo ao legítimo 
proprietário. Cansado de procurá-lo, decide ficar com o objeto, 
acreditando no dito popular: "achado não é roubado". O sujeito, 
nesse caso, tem plena noção de que está se apoderando de um 
objeto pertencente a terceiro, mas acredita (de boa-fé) que não está 
fazendo nada de errado, pois tentou insistentemente encontrar o 
dono, sem êxito. Muito embora o sujeito tenha perfeita 
compreensão da realidade, desconhece a existência de uma 
proibição contida em norma penal. Isto porque o art. 169, parágrafo 
único, II, do CP define como crime o ato de se apropriar de coisa 
achada. De acordo com o dispositivo legal, aquele que encontra um 
objeto perdido deve restituí-lo ao dono ou, em até quinze dias, 
entregá-lo à autoridade. 
Pode-se dizer, então, que no erro de tipo o equívoco 
recai sobre dados da realidade e, no erro de prolbição", a ignorância 
atinge a noção acerca do caráter ilícito do ato praticado. 
Advirta-se que não se deve confundir erro de proibição 
com desconhecimento da lei", o qual é incapaz de isentar alguém do 
dever de cumpri-Ia (ignorantia legis neminem excusat - art. 21, e 
parte, do CP). Isto porque a maioria da população nunca compulsou 
lei alguma, muito menos o Código Penal, mas mesmo tais pessoas 
sabem bem que matar, roubar, sequestrar, ofender a honra etc. são 
crimes. Se o desconhecimento da lei isentasse as pessoas de 
responsabilidade por seus atos, quase todos teriam um "alvará" 
para cometer os mais atrozes atos, prejudicando terceiros, sem 
sofrer qualquer punição. 
Para finalizar essa introdução, calha citar dois clássicos 
exemplos doutrinários diferenciando as multicitadas modalidades de 
erro: 
• se a pessoa subtrai coisa de outra, acreditando ser 
sua, encontra-se em erro de tipo (não sabe que subtrai coisa 
alheia); contudo, se crê ter o direito de subtrair coisa alheia, como o 
caso do credor em relação ao devedor inadimplente, há erro de 
proibição (Hans Welzel); 
• quando alguém tem cocaína em casa, na crença de 
que constitui outra substância, inócua (ex.: talco), comete erro de 
tipo; mas se souber da natureza da substância, a qual mantém por 
supor equivocadamente que o depósito não é proibido, incide no 
erro de proibição (Damásio de Jesus) . 
ERRO DE TIPO 
CONCEITO 
O erro de tipo dá-se quando o equívoco recai sobre 
situação fática prevista como elemento constitutivo do tipo 
legal de crime ou sobre dados irrelevantes da figura típica. 
Nesta modalidade de erro, o agente realiza 
concretamente (objetivamente) todos os elementos de um tipo 
penal incriminador, sem, contudo, o perceber. Lembre-se do 
exemplo do motorista distraído (item 15.3, supra), o qual, 
objetivamente, realiza todas as elementares do crime de furto. 
Quem opera em erro de tipo sabe que uma atitude como 
a que pratica configura, em tese, ilícito penal, porém não percebe o 
que está fazendo, pois algum dado da realidade (que constitui 
elemento do tipo) refoge à sua percepção. 
Exemplos: 
• um aluno, ao final da aula, inadvertidamente, coloca 
em sua pasta um livro de um colega, pensando ser o seu. Esse 
aluno tem plena noção de que a subtração de coisa alheia móvel é 
crime; acredita equivocadamente, todavia, que o bem lhe pertence; 
• uma pessoa pretende matar seu desafeto e, quando 
sai à sua procura, encontra-se com um sósia de seu inimigo e, por 
confundi-lo com a vítima visada, acaba matando a pessoa errada, 
ou seja, o sósia. 
Nos dois casos houve uma falsa percepção da 
realidade, que impediu o indivíduo de captar, com fidelidade, o que 
ocorria diante de seus olhos. No primeiro exemplo, como se verá 
adiante, ocorre o erro de tipo essencial (pois o equívoco impede o 
agente de perceber que comete um crime). No segundo, tem lugar 
o erro de tipo acidental (uma vez que não obsta a pessoa de 
perceber que comete um homicídio, ainda que confunda a vítima 
real com outra pessoa). A constatação da espécie de erro de tipo 
(essencial ou acidental) repercute decisivamente na 
responsabilidade penal do sujeito (inocente no primeiro caso; 
culpado no outro) . 
 
 
Diferença entre erro de tipo e delito putativo por erro 
de tipo 
É preciso sublinhar que o erro de tipo não se confunde 
como chamado delito putativo (ou crime imaginário) por erro de 
tipo. São verdadeiros opostos 
No erro de tipo, o agente realiza uma conduta criminosa, 
sem se dar conta disso, por captar mal a realidade que está ao seu 
redor', apreciando equivocadamente a realidade que o circunda 
(ex.: Pedro traz consigo uma arma verdadeira pensando tratar-se 
de uma réplica inofensiva): Pode-se dizer que ocorre um delito do 
ponto de vista puramente objetivo (quem assistisse à cena veria o 
porte ilegal de arma de fogo); subjetivamente, contudo, não se está 
praticando crime algum; vale dizer, na mente de Pedro, ele porta 
um objeto inócuo. 
No delito putativo por erro de tipo ou crime imaginário 
por erro de tipo, há crime somente na cabeça do agente, na sua 
imaginação. Objetivamente, contudo, não há crime algum. Basta 
pensar na situação inversa, isto é, se Pedro transportasse uma 
arma de fogo de brinquedo, acreditando ser verdadeira. Ele não 
pratica nenhum crime, mas pensa que o faz. Imagine-se, ainda, 
uma mulher que ingere substância de efeito abortivo pretendendo 
interromper seu estado gravídico, porém a gravidez é somente 
psicológica. Não há falar em tentativa de aborto (CP, art. 124, c/c o 
art. 14, II), a não ser na mente da mulher (crime, portanto, 
imaginário). Em tais casos, aplica-se a figura contida no art. 17 do 
CP (crime impossível). 
Há outras formas de delito putativo ou crime imaginário, 
que são: 
• Delito putativo por erro de proibição: o sujeito realiza 
um fato que, na sua mente, é proibido por lei criminal, quando, na 
verdade, sua ação não caracteriza ilícito penal algum. Por exemplo: 
um pai mantém relação sexual com sua filha, maior de 18 anos 
(incesto). Essa conduta é rigorosamente censurada pela sociedade, 
mas não constitui crime algum. Se o agente a praticar acreditando 
que comete um delito, será puramente imaginário (putativo). 
• Delito putativo por obra do agente provocador: dá-se 
quando o agente pratica uma conduta delituosa induzido por 
terceiro, o qual assegura a impossibilidade fática de o crime se 
consumar. Por exemplo: um policial à paisana finge-se embriagado 
e, para chamar a atenção de um ladrão, com quem conversa em 
um bar, diz que está com muito dinheiro na carteira. O ladrão 
decide roubá-lo na saída do bar; ao fazê-lo, contudo, é preso em 
flagrante, por outros policiais à paisana que acompanhavam os 
fatos. Nesse caso, entende nossa doutrina que não há crime algum. 
O Supremo Tribunal Federal sumulou a tese de que "não há crime 
quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a 
consumação" (Súmula n. 145 do STF). Para nosso Pretório 
Excelso, ocorre o crime impossível (CP, art. 17). 
O delito putativo por obra do agente provocador também 
é denominado delito de ensaio ou delito de experiência. 
A Súmula n. 145 do STF, anteriormente citada, somente 
se aplicará mediante dois requisitos: a preparação (ou induzimento) 
do flagrante pela polícia, somada à impossibilidade (absoluta) de 
consumação do crime. 
É preciso alertar que rotineiramente policiais se fazem 
passar por interessados em comprar drogas e se aproximam de 
supostos traficantes, oferecendo dinheiro para a aquisição da 
substância. Quando esta é exposta, o policial o prende em 
flagrante. Em tais situações, a prisão em flagrante é válida e, 
apesar do induzimento da Polícia associado com a impossibilidade 
de consumação da venda, há crime por parte do agente. Isto 
porque o tráfico contém uma importante peculiaridade; cuida-se de 
crime definido em tipo misto alternativo, já que diversos são os seus 
verbos nucleares. O fato de o agente trazer a droga consigo ou 
guardá-Ia antes da abordagem do policial já é suficiente para que o 
delito esteja caracterizado. Note-se, então, que a "farsa" do policial 
não interfere na consumação do ilícito. O crime impossível somente 
se dá quanto à venda da substância, o que é irrelevante diante da 
consumação anterior do delito. Cite-se, como exemplo, o seguinte 
julgado do Superior Tribunal de Justiça: "( ... ) U. O delito de tráfico 
de entorpecente consuma-se com a prática de qualquer uma das 
dezoito ações identificadas no núcleo do tipo, todas de natureza 
permanente que, quando preexistentes à atuação policial, legitimam 
a prisão em flagrante, sem que se possa falar em flagrante forjado 
ou preparado. Ill. Hipótese em que as pacientes não foram 
apreendidas no momento em que comercializavam a droga, o que 
teria sido obstado pela presença dos policiais, tendo o delito sido 
deflagrado em momento anterior, pelo núcleo 'trazer consigo' 
substância entorpecente, razão pela qual se tem como descabida a 
aplicação da Súm. n. 145 do STF, a fim de ver reconhecido o crime 
impossível ( ... )"6 . 
Espécies de erro de tipo 
O erro de tipo pode ser essencial ou acidental. 
O erro essencial sempre exclui o dolo, pois retira do 
sujeito a capacidade de perceber que comete o crime. Subdivide-se 
em erro de tipo incriminador (CP, art. 20, caput) e erro de tipo 
permissivo (CP, art. 20, § 1°). 
O erro acidental não beneficia o agente, justamente por 
não impedir o sujeito de se dar conta de que pratica o delito. 
Compreende o erro sobre o objeto material (CP, art. 20, § 3°), o 
erro na execução (CP, arts. 73 e 74) e o erro sobre o nexo causal 
(não previsto expressamente em lei) . 
Erro de tipo essencial 
Dá-se quando a falsa noção da realidade retira do 
agente a capacidade de perceber que pratica determinado crime. 
Assim, por exemplo, a pessoa que tem em mãos um 
cigarro de "maconha", que recebeu de terceiro para consumo 
próprio, acreditando (de boa-fé) cuidar-se de um cigarro comum, 
equivoca-se sobre um elemento (a natureza da substância) previsto 
como elementar de tipo penal (art. 28 da Lei n. 11.343/2006). Esse 
equívoco a impede de perceber que pratica, objetivamente, o delito 
de porte de droga para consumo pessoal. Do mesmo modo, nos 
exemplos antes citados, havia também erro essencial, porquanto 
retirava do agente a possibilidade de compreender que cometia 
uma infração penal (motorista distraído adentrava em carro de 
outrem, idêntico ao seu; pessoa que portava arma de fogo 
verdadeira pensando ser de brinquedo; aquele que tinha em sua 
residência recipiente contendo pó branco, acreditando ser talco em 
vez de cocaína). 
Em todos esses casos, o erro excluirá o dolo, tornando a 
conduta praticada fato atípico. É a solução adotada expressamente 
em nosso Texto Legal. O art. 20, caput, 1 a parte, do Código dispõe 
que "o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui 
o dolo". Esse dispositivo, aliás, afigura-se como a demonstração 
inequívoca de que, com a Reforma da Parte Geral de 1984, nosso 
legislador incorporou a doutrina de que o dolo pertence ao fato 
típico. 
Deve-se lembrar, todavia, que a atipicidade do fato 
resultante do erro de tipo nem sempre será absoluta, podendo ser, 
em alguns casos, relativa. Diz-se absoluta a atipicidade que conduz 
à inexistência de qualquer infração penal no ato cometido; relativa, 
por outro lado, a que conduz à descaracterização de um crime, mas 
com a subsistência de outro. Em outras palavras, enquanto a 
atipicidade absoluta conduz à ausência de ilícito penal, a atipicidade 
relativa leva à desclassificação para outro crime. 
Se uma pessoa ofende a dignidade de outra 
desconhecendo que se trata de um funcionário público no exercício 
de sua função não responde pelo crime de desacato (CP, art. 331). 
Isto porque a falsa noção da qualidade especial do sujeito passivo 
exclui o dolo de desacatar (que requer a ciência da condição de 
funcionário público da vítima). O agente,todavia, responderá por 
crime de injúria (CP, art. 140), uma vez que, apesar do erro, tinha 
pleno conhecimento de que ofendia a honra de alguém (o suficiente 
para a caracterização da injúria). Nesse caso, o erro de tipo 
provocou a atipicidade relativa da conduta (ou atipicidade em 
relação ao desacato), porém o sujeito poderá ser responsabilizado 
pela injúria . 
 
Efeito 
O erro de tipo essencial pode ser avaliado quanto à sua 
intensidade, o que poderá ser fundamental para efeito de 
responsabilização criminal. Deve-se lembrar, de antemão, que o 
simples fato de o erro ser considerado essencial já é suficiente para 
excluir o dolo. Recorde-se: o erro essencial sempre exclui o dolo. 
Quanto à intensidade, então, o erro pode ser: 
inevitável (invencível ou escusável); 
evitável (vencível ou inescusável). 
Considerando que o erro essencial sempre afasta o 
dolo, a avaliação de sua intensidade somente terá importância 
quando a lei previr (também) a forma culposa. Ora, a maioria dos 
crimes só é punida a título do dolo. Nesses casos, basta verificar 
que o erro é essencial, sendo desnecessário analisar se é inevitável 
ou evitável, porquanto, afastado o dolo, o fato já é atípico (porque a 
lei não incrimina o crime na modalidade culposa). Se, por outro 
lado, o delito for definido nas duas formas, 
dolosa e culposa, como, por exemplo, o homicídio, a 
lesão corporal, o incêndio, será de capital importância distinguir-se 
entre erro vencível ou invencível, porque isto irá determinar se o 
agente (que de qualquer modo não será punido a título de dolo) 
poderá ser responsabilizado pelo crime culposo. 
Pois bem. Fala-se em erro inevitável, invencível ou 
escusável quando, pelas circunstâncias concretas, nota-se que 
qualquer pessoa de mediana prudência e discernimento, na 
situação em que o agente se encontrava, incorreria no mesmo 
equívoco. 
Por exemplo: 
• Um caçador atira contra um arbusto, matando uma 
pessoa que se fazia passar, de modo verossímil, por animal bravio. 
• O motorista distraído confunde seu automóvel com o 
de outrem no estacionamento, ingressando num veículo 
absolutamente idêntico ao seu e, com sua própria chave, consegue 
abri-lo, acrescentando-se ao fato a circunstância de que seu 
verdadeiro carro fora guinchado e o outro estacionara exatamente 
no mesmo local. 
Note-se que o conceito de inevitabilidade não pode ser 
tomado na acepção literal, ou seja, como algo totalmente impossível 
de se evitar, mas como um equívoco razoável, que uma pessoa 
normal teria cometido naquela situação. 
Nos dois exemplos formulados, houve erro de tipo 
essencial inevitável (invencível ou escusável), o qual exclui o dolo e 
a culpa. 
A distinção, entretanto, somente tem relevância no 
primeiro exemplo, em que se pode discutir a responsabilização do 
agente por homicídio culposo. No outro, tal avaliação se mostra 
irrelevante, porque o indivíduo, objetivamente, cometeu um furto e 
tal delito não admite a modalidade culposa. A conduta, pois, é 
atípica. 
O erro pode ser, ainda, evitável, vencível ou 
inescusável. Nesse caso, o equívoco só irá afastar o dolo, mas 
permitirá a punição do agente por delito culposo, se previsto em lei. 
O erro de tipo será qualificado como evitável quando se verificar 
que uma pessoa de mediana prudência e discernimento, na 
situação em que o sujeito se encontrava, não o teria cometido. Isto 
é, teria percebido o equívoco e, portanto, não praticaria o fato. 
No exemplo do caçador, suponha-se que ele tenha 
atirado contra uma pessoa a poucos metros de distância porque, 
estando sem os seus óculos, a confundiu com um animal. Ele não 
agiu com dolo de matar alguém, embora o tenha feito, mas foi 
descuidado ao caçar e efetuar o disparo sem os óculos . 
Diferença entre erro de tipo incriminador (art. 20, caput) 
e permissivo (art. 20, § 1°) 
O erro de tipo essencial subdivide-se, como 
mencionamos acima, em erro de tipo incriminador e erro de tipo 
permissivo: 
• erro de tipo incriminador: a falsa percepção da 
realidade incide sobre situação fática prevista como elementar ou 
circunstância de tipo penal incriminador (daí o nome); 
• erro de tipo permissivo: o erro recai sobre os 
pressupostos fáticos de uma causa de justificação (isto é, 
exc1udente de ilicitude, que se encontra em tipos penais 
permissivos) . 
 
Erro de tipo incriminador 
O tipo penal incriminador compõe-se de elementares 
(requisitos sem os quais o crime desaparece ou se transforma) ou 
circunstâncias (dados acessórios da figura típica, que repercutem 
na quantidade da pena). No crime de homicídio, são elementares: 
"matar" e "alguém"; são circunstâncias: "motivo torpe", "asfixia", 
"emboscada" etc. 
Assim, se uma pessoa efetua disparos contra outra, 
pensando tratar-se de um animal, comete um equívoco, na medida 
em que aprecia mal a realidade. Essa falsa percepção da realidade 
incide sobre a elementar "alguém". O erro de tipo incriminador, 
portanto, recaiu sobre situação fática prevista como elementar. 
Se o ladrão, pretendendo praticar um roubo, utiliza-se de 
uma arma de fogo verdadeira, acreditando tratar-se de arma de 
brinquedo, seu erro recai sobre uma circunstância do tipo penal (o 
emprego de arma constitui causa de aumento de pena no crime de 
roubo - art. 157, § 2°, I, do CP). O erro de tipo incriminador, neste 
caso, atingiu situação fática prevista como circunstância legal do 
tipo. 
No primeiro exemplo, o agente não responde por 
homicídio; no segundo, pratica roubo, mas sem a causa de 
aumento', 
É de recordar que o dolo, elemento do fato típico ligado 
à conduta, deve estender-se a todos os elementos objetivos e 
normativos do tipo penal. 
Nos exemplos, não houve dolo quanto à elementar 
"alguém" ou com relação à circunstância "arma", porquanto tais 
elementos não integraram a intenção do sujeito. 
Podem ser citadas, ilustrativamente, as seguintes 
situações: 
• contrair casamento com pessoa casada, 
desconhecendo completamente o matrimônio anterior válido (o 
agente não será considerado bígamo - art. 235 do CP); 
• subtrair coisa alheia, supondo-a própria (não ocorre o 
crime de furto - art. 155 do CP); 
• praticar conjunção carnal consensualmente com 
alguém, supondo equivocadamente que se trata de pessoa maior 
de 14 anos de idade (não caracteriza o estupro de vulnerável- art. 
217-A do CP); 
• destruir bem público pensando tratar-se de bem 
particular (o indivíduo responderá por crime de dano simples, e não 
por dano qualificado - art. 163 do CP). 
Cumpre recordar que o erro de tipo incriminador 
subdivide-se, quanto à sua intensidade, em inevitável (ou 
invencível, escusável) e evitável (também chamado de vencível ou 
inescusável) 
. Erro de tipo permissivo 
 
Ocorre quando a falsa percepção da realidade recai 
sobre situação de fato descrita como requisito objetivo de uma 
excludente de ilicitude (tipo penal permissivo), ou, em outras 
palavras, quando o equívoco incide sobre os pressupostos fáticos 
de uma causa de justificação. 
Tome-se o caso da legítima defesa, a qual exige uma 
agressão injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, e que 
o agente a reprima mediante o emprego moderado dos meios 
necessários. Se na situação concreta, por equívoco, uma pessoa, 
apreciando mal a realidade, acreditar que está diante de uma 
injusta e iminente agres- são, haverá erro de tipo permissivo. 
Exemplo: Antônio se depara com um sósia de seu inimigo que leva 
a mão à cintura, como se fosse sacar algum objeto; Antônio, ao ver 
essa atitude, pensa estar prestes a ser atingido por um revólver e,por esse motivo, brande sua arma, atirando contra a vítima, que 
nada possuía nas mãos ou na cintura. 
O CP trata do tema no art. 20, § 1°, sob a rubrica 
descriminantes putatívas". A redação é imprecisa, pois, na verdade, 
esse dispositivo somente aborda uma das espécies de 
descriminantes putativas, a descriminante putativa por erro de tipo. 
A outra, chamada de descriminante putativa por erro de proibição 
(ou "erro de proibição indireto"), é regida pelo art. 21 do CP. 
Seguindo a denominação legal, portanto, pode-se falar 
em: legítima defesa putativa, estado de necessidade putativo, e 
assim por diante. 
Acompanhem-se os exemplos: 
Numa comarca do interior, uma pessoa é condenada e 
promete ao juiz que, quando cumprir a pena, irá matá-Ia. Passado 
certo tempo, o escrivão alerta o magistrado de que aquele réu está 
prestes a ser solto. No dia seguinte, o juiz caminha por uma rua 
escura e se encontra com seu algoz, que leva a mão aos bolsos de 
maneira repentina; o juiz, supondo que está prestes a ser alvejado, 
saca uma arma, matando-o; apura-se, em seguida, que o morto 
tinha nos bolsos apenas um bilhete de desculpas (legítima defesa 
putativa). 
• Durante uma sessão de cinema, alguém leva uma 
metralhadora de brinquedo e finge atirar contra a plateia. Uma das 
pessoas, em desespero a caminho da saída, lesiona outras (estado 
de necessidade putativo). 
• Um agente policial efetua a prisão do sósia de um 
perigoso bandido foragido da justiça (estrito cumprimento de um 
dever legal putativo). 
 
Disciplina legal 
De acordo com o Código Penal, "é isento de pena quem, 
por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação 
de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção 
de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como 
crime culposo" (art. 20, § 1°) . 
A culpa imprópria (no erro de tipo permissivo) 
No erro de tipo permissivo invencível, o sujeito, diz o CP, 
é "isento de pena". Na parte final do art. 20, § 1°, ressalva a lei que, 
se o erro deriva de culpa, o agente res ponde pelo crime culposo, 
se previsto em lei. Quando alguém opera em erro de tipo permissivo 
vencível incorre na chamada culpa imprópria, culpa por equiparação 
ou por assimilação. Na verdade, não há crime culposo algum, pois o 
sujeito age dolosamente. A pessoa que efetua disparos contra 
terceiro, supondo que está prestes a ser injustamente agredida, 
mata ou fere dolosamente. O disparo não é efetuado por 
imprudência, negligência ou imperícia. O erro ("a culpa") não ocorre 
no momento da conduta, que é dolosa, mas anteriormente, quando 
da má apreciação da situação fática, em que acredita, 
equivocadamente, existir uma agressão injusta e iminente. Nas 
palavras de Luiz Flávio Gomes, "o que acontece de peculiar, e isso 
não é sempre percebido, é que esse fato é complexo e, assim, 
constituído de dois momentos importantes: há, em primeiro lugar, o 
momento da formação do erro do agente que o faz crer ser lícita 
sua conduta, nas circunstâncias, e, em segundo lugar, o da ação 
subsequente coligada ao erro precedente (. .. ). No momento da 
formação do erro, portanto, é que pode ou não haver culpa; na ação 
subsequente ao erro há sempre dolor" . 
Controvérsia acerca da natureza do art. 20, § 1°, do 
CP 
Há quem sustente que a figura prevista nesse 
dispositivo não constitui erro de tipo, na medida em que não 
provocaria a exclusão do dolo, mas, nos termos da lei, geraria uma 
"isenção da pena", indicando tratar-se de causa de exclusão de 
culpabilidade. É o caso de Mirabete", que vê, em função disso, um 
caso de erro de proibição". Este argumento prende-se à redação do 
dispositivo e de outros do Código Penal, pois o termo "isenção de 
pena" é associado a fatores que excluem a culpabilidade do agente 
(cf. arts. 22, 26 e 28 do CP). 
Outros doutrinadores, com base nessa mesma 
premissa, entendem que o erro disciplinado no art. 20, § 1°, não 
pode ser considerado nem de tipo (porque quando invencível isenta 
de pena) nem de proibição (pois quando vencível permite a punição 
por crime culposo, se previsto em lei). Em outras palavras: de 
acordo com o tratamento legislativo, se tal erro for invencível, 
acarreta como consequência o afastamento da culpabilidade 
(isenção de pena), indicando que, nesse aspecto, tem a natureza 
de erro de proibição; se for vencível, no entanto, o agente responde 
pelo crime culposo (se previsto em lei), disciplina ligada ao erro de 
tipo. Daí por que esse setor da doutrina sustenta cuidar-se de um 
erro "sui generis" (uma terceira espécie de erro, misto de erro de 
tipo e erro de proibição)". 
No sentido de que a descriminante putativa do art. 20 
configura erro de tipo, a maioria da doutrina", na qual nos incluímos, 
lembra, ainda, que essa conclusão ganha reforço pela leitura do 
item 17 da Exposição de Motivos da Parte Geral do Código Penal. 
Abaixo, trataremos do tema sob esse prisma . 
 
 
 
 
 
Descriminantes putativas - espécies e natureza 
jurídica 
 
Como se viu acima, apesar da rubrica imprecisa do art. 
20, § 1°, há duas espécies de descriminantes putativas: por erro de 
tipo e por erro de proibição. 
• por erro de tipo: dá-se quando o equívoco incide sobre 
os pressupostos de fato da excludente; 
• por erro de proibição: verifica-se quando a falsa 
percepção da realidade incide sobre os limites legais (normativos) 
da causa de justificação. 
Na descriminante putativa por erro de proibição, o 
agente sabe exatamente o que está fazendo, percebendo toda a 
situação; desconhece, no entanto, que a lei proíbe sua conduta. 
Pensa que age de forma correta, quando. na verdade, sua ação é 
errada, proibida, censurada pelo ordenamento penal. E o chamado 
erro de proibição indireto, que será estudado dentro da 
culpabilidade. Exemplo: "Um oficial de justiça realiza uma penhora. 
O executado, por erro, supõe que a diligência é injusta e reage em 
imaginária legítima defesa. O erro deriva não da má apreciação das 
circunstâncias do fato, mas de incorreta consideração da qualidade 
da agressão. Esta existe, mas é justa. O executado a supõe injusta. 
Aplica-se o art. 21: se o erro é invencível, há exclusão da 
culpabilidade, se vencível, não há exclusão da culpabilidade e sim 
diminuição de pena"". 
 
 
Erro de tipo acidental 
Dá-se quando a falsa percepção da realidade incide 
sobre dados irrelevantes da figura típica. Encontra-se previsto nos 
arts. 20, § 3°, 73 e 74 do CP. 
Subdivide-se em: 
• erro sobre o objeto material, que pode ser erro sobre a 
pessoa ou erro sobre a coisa; 
erro na execução, que pode ser aberratio ictus ou 
aberratio criminis; 
erro sobre o nexo de causalidade. 
Nesses casos, o agente, apesar do equívoco, percebe 
que pratica o crime; justamente por esse motivo, o erro não o 
beneficia . 
Erro sobre o objeto material 
O objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre a 
qual recai a conduta. Há, portanto, erro sobre a pessoa (error in 
persona) e erro sobre o objeto ou sobre a coisa (erro r in objecto) . 
Erro sobre a pessoa 
O erro sobre a pessoa, espécie de erro de tipo acidental 
que incide sobre o objeto material, dá-se quando o agente atinge 
pessoa diversa da que pretendia ofender (vítima efetiva), por 
confundi-Ia com outra (vítima visada). Ocorre uma confusão mental, 
em que o indivíduo enxerga uma pessoa e sua mente identifica 
pessoa distinta. Por exemplo: um pai ingressa em sua residência e 
vê sua filha pequena em prantos, quando fica sabendo que ela teria 
sido violentada por um vizinho chamado "João"; o genitor toma uma 
arma e vai àprocura do algoz de sua filha e, minutos após, 
encontra-se com um sósia do criminoso, atirando para matar. 
Nesse caso, o autor dos disparos deparou-se com um 
inocente, mas o confundiu com a vítima visada ("João") dada a 
semelhança física entre eles. Houve um erro, porém este não 
impediu o agente de perceber o essencial, i.e., que matava um ser 
humano. 
Tratando-se de um erro irrelevante, o Código Penal 
determina que o agente responda pelo fato como se houvera 
atingido a vítima pretendida (art. 20, § 3°). Isto é, na aferição da 
responsabilidade penal, considera-se que o homicídio fora contra 
"João". Ao genitor, portanto, se imputará um homicídio doloso 
praticado por motivo de relevante valor moral (vingar-se do 
estuprador da filha matando-o) - art. 121, § 1°, do CP. 
Outro exemplo: um traficante de drogas, inconformado 
com a inadimplência de um usuário, contrata alguém para matá-Io; 
para isso, entrega ao executor do crime uma fotografia da vítima 
pretendida; o atirador, todavia, mata o irmão gêmeo do devedor. 
Solução: o executor do crime responde por homicídio qualificado 
pela paga ou promessa de recompensa (CP, art. 121, § 2°, I), isto 
é, exatamente como ocorreria se houvesse matado o usuário. 
Mais um exemplo: um filho pretende matar seu pai, mas 
confunde seu genitor com terceiro. A ele se imputará um homicídio, 
agravado pela circunstância contida no art. 61, II, e, do CP (crime 
contra ascendente). 
 
 
 
Erro sobre o objeto ou sobre a coisa 
 
Dá-se quando há engano quanto ao objeto material do 
crime e este não é uma pessoa, mas uma coisa. São inúmeras as 
infrações penais em que a conduta recai sobre coisas. Imaginemos 
um furto, em que o sujeito pretenda ingressar em um comércio para 
subtrair produtos importados e revendê-los, mas, por equívoco, leva 
produtos nacionais. O erro é totalmente irrelevante, porquanto não 
altera o essencial: ele furtou bens de outrem e sabe disso. 
 
O erro em questão não trará qualquer benefício ao 
agente, a quem se imputará o crime do art. 155 do CP. 
 
É preciso frisar, contudo, que só haverá erro sobre o 
objeto, enquanto modalidade de erro acidental, se a confusão de 
objetos materiais não interferir na essência do crime. 
 
Assim, se alguém guarda cocaína para revendê-Ia, 
acreditando que detém a droga com alto teor de pureza, mas se 
equivoca quanto a essa condição, o erro é absolutamente 
irrelevante e não descaracteriza o tráfico ilícito de drogas cometido 
(Lei n. 11.343/2006, art. 33). Se a pessoa, todavia, guarda cocaína 
pensando ser farinha, age em erro (de tipo) essencial, porquanto 
sua ignorância com relação à natureza da substância armazenada a 
impede de saber que pratica um crime . 
 
 
Erro na execução do crime 
 
O erro na execução é considerado modalidade de erro 
de tipo acidental. De ver, contudo, que nele inexiste qualquer 
confusão mental. O agente enxerga uma coisa e pensa que é outra. 
O que ocorre é um equívoco na execução do fato. No momento em 
que se dá início ao iter criminis'", ocorre uma circunstância 
inesperada ou desconhecida, normalmente decorrente da 
inabilidade do sujeito, a qual faz com que se atinja uma pessoa 
diversa da pretendida ou um bem jurídico diferente do imaginado. 
 
Há duas modalidades de erro na execução: a aberratio 
ictus e a aberratio criminis ou delicti . 
 
"Aberratio ictus", desvio na execução ou erro no 
golpe 
Cumpre deixar claro que a figura da aberratio ictus 
(desvio no golpe ou erro na execução) verifica-se quando a 
inabilidade do sujeito ou o acidente no emprego dos meios 
executórios faz com que se atinja pessoa diversa da pretendida. 
 
Em tais situações, segue-se um princípio básico - o erro 
deve ser considerado acidental, isto é, deve o agente responder 
pelo fato como se houvesse atingido quem pretendia. 
 
Assim, por exemplo, se uma pessoa aponta a arma para 
seu inimigo e efetua o disparo letal, mas por má pontaria alveja 
terceiro, que vem a morrer, responde por crime de homicídio doloso 
consumado, levando-se em conta, para efeito de aplicação da pena, 
as circunstâncias e condições pessoais da vítima visada (e não 
daquela efetivamente atingida). Em outras palavras, o Código 
determina que, como princípio básico para os casos de aberratio 
ictus, seja adotada regra semelhante à do erro sobre a pessoa, 
previsto no art. 20, § 3°, do CP. Eis o texto legal: "Quando, por 
acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés 
de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, 
responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, 
atendendo-se ao disposto no § 3° do art. 20 deste Código" (primeira 
parte do art. 73 do CP). 
 
Analise-se a seguinte situação: um terrorista arma uma 
bomba para explodir num palanque, onde um importante político 
fará seu discurso de posse; no momento em que o dispositivo é 
acionado, contudo, encontrava-se no local seu assessor, que vem a 
falecer em virtude da explosão. Imagine-se, ainda, outro exemplo: 
uma pessoa envia uma carta com um pó letal a seu desafeto; 
ocorre que, ao chegar ao destinatário, a missiva é aberta por 
terceiro, que aspira o pó e falece. Em tais situações, imputar-se-á 
aos agentes o crime de homicídio doloso, exatamente como se 
houvessem matado seus "alvos". 
 
O art. 73 do CP regula duas espécies de aberratio ictus: 
a) com unidade simples ou resultado único (primeira parte), e b) 
com unidade complexa ou resultado duplo (segunda parte). 
 
O erro na execução com resultado único se produz 
quando o desvio no golpe faz com que a conduta atinja outra 
pessoa, diversa da pretendida, a qual não sofre qualquer lesão. 
Todos os exemplos acima formulados correspondem à aberratio 
ictus com resultado único. 
 
Dar-se-á, no entanto, a aberratio com resultado duplo se 
o agente atingir a vítima pretendida e o terceiro, por acidente ou 
erro na execução. 
 
Assim, no exemplo da carta com pó letal, se, ao abri-Ia, 
o destinatário (A) estivesse ocasionalmente acompanhado de 
alguém (B), que, junto com ele, respirasse-o, provocando a morte 
de ambos, teríamos uma situação em que o homicida pretendia 
matar A, mas produziu o óbito de A e B (este, por acidente). De 
acordo com o art. 73, parte final, do CP, o sujeito responderá pelas 
duas mortes, em concurso formal (ou ideal) de crimes (CP, art. 70). 
Vale dizer, atribuir-se-ão a ele os crimes de homicídio dolos o (com 
relação a A) e homicídio culposo (no tocante a B), cometidos em 
concurso formal. É importante registrar que a imputação da morte 
de B, no exemplo formulado, pressupõe seja previsível que ele 
pudesse se fazer acompanhar de alguém no momento da abertura 
da correspondência. Se, por qualquer razão, demonstrar-se que era 
imprevisível (para uma pessoa de mediana prudência e 
discernimento) o fato de que A poderia estar acompanhado no 
exato momento da abertura da carta, o homicida somente responde 
pela morte deste (ex.: A mora sozinho, não tem empregado e quase 
nunca recebe visitas, o que fez o agente supor que estaria só ao 
receber a missiva); caso contrário, ser-lhe-ia imputada uma morte 
sem dolo ou culpa (ou seja, haveria um caso de responsabilidade 
penal objetiva, o que é inadmissível à luz do princípio da 
culpabilidade). 
 
Diversas situações podem ocorrer em se tratando de 
aberratio ictus com resultado duplo; confiram-se: 
 
Imaginemos que uma pessoa saque arma de fogo e, 
com intenção letal, dispare contra seu desafeto (X), atingindo-o e 
também a um terceiro (Y): 
• Ocorrendo a morte de ambos, haverá dois crimes, um 
homicídiodoloso consumado (X) e outro culposo (Y), em concurso 
formal. 
• Resultando somente lesões corporais em ambos, 
haverá uma tentativa de homicídio (X), em concurso formal com 
lesões corporais culposas (Y). 
• Dando-se a morte de X e lesões corporais em Y, ter-se-
ão um homicídio doloso consumado e lesões corporais culposas, 
em concurso ideal. 
 
• Verificando-se lesões corporais em X e a morte de Y, 
imputar-se-á ao atirador um homicídio doloso consumado (Y), em 
concurso ideal com uma tentativa de homicídio (X). 
A última situação merece uma explicação mais 
detalhada, pois, a princípio, poderia parecer correto considerar que 
houve uma tentativa de homicídio com relação a X e um homicídio 
culposo contra Y. Se fosse assim, todavia, quando se atingisse 
terceiro (Y) por erro na execução, seria melhor acertar também o 
alvo pretendido (X) do que simplesmente o terceiro. Em outras 
palavras, o erro na execução com resultado duplo seria mais 
benéfico para o assassino do que se houvesse resultado único (!). 
Isto porque, atingindo somente Y (aberratio ictus com resultado 
único), ser-lhe-ia imputado um crime de homicídio doloso 
consumado (art. 73, primeira parte, do CP). Se é assim, na hipótese 
de também acertar X, o qual sobrevive, não tem cabimento 
responder por fatos de menor gravidade (o concurso formal entre 
homicídio tentado e homicídio culposo é menos grave que um 
homicídio doloso consumado). É dizer: a pena decorrente da 
aberratio ictus com unidade complexa não pode ser inferior àquela 
imposta no caso de aberratio ictus com unidade simples. 
Deve-se advertir que somente haverá aberratio ictus 
com resultado duplo quando o terceiro for atingido por erro ou 
acidente (isto é, culposamente), pois, se houver dolo, ainda que 
eventual, não se estará diante da figura do art. 73. 
Lembre-se do exemplo do terrorista que pretende matar 
o político, durante seu discurso no palanque. O sujeito decide 
instalar o explosivo, mesmo sabendo que a vítima se fará 
acompanhar do assessor. No momento da explosão, os dois 
morrem. Não se pode dizer que houve "erro" na execução, pois, se 
o agente sabia que outra pessoa também estaria no local e, mesmo 
assim, decidiu acionar a bomba, responderá por dois homicídios 
dolosos consumados (em concurso formal impróprio). 
Registre-se, por fim, que, embora sejam semelhantes 
quanto aos efeitos, a aberratio ictus com resultado único e o erro 
sobre a pessoa diferem em dois pontos cruciais: a) no erro sobre a 
pessoa, há erro de representação (mental), ao passo que, na 
aberratio ictus, o erro diz respeito à inabilidade do agente ou a um 
acidente na execução do crime; b) no erro sobre a pessoa (de 
regra), a vítima visada não sofre qualquer perigo, enquanto que na 
aberratio ictus dá-se o contrário . 
 
Aberratio criminis", "aberratio delicti" ou resultado 
diverso do pretendido 
Ocorre quando o acidente ou erro no emprego dos 
meios executórios faz com que se atinja um bem jurídico diferente 
do pretendido. Na aberratio ictus, cuidava-se de acertar pessoa 
diferente; na aberratio delicti, bem jurídico diverso. 
Suponha-se que um invejoso pretenda arremessar uma 
pedra sobre o automóvel novo de seu vizinho, por não se conformar 
com a aquisição, só que erra o alvo e acerta a cabeça de um 
pedestre, que sofre lesões. Nesse caso, o equívoco no emprego 
dos meios executórios fez com que o autor atingisse bem jurídico 
diverso do imaginado (integridade corporal em vez de patrimônio). 
De acordo com o art. 74 do CP, primeira parte, o agente 
só responde pelo resultado produzido, que lhe será imputado a 
título de culpa (se prevista em lei a forma culposa). Note-se que, no 
exemplo formulado, o sujeito não responde por crime de dano 
tentado (CP, art. 163, c/c o art. 14, II), muito embora tenha dado 
início à execução de tal delito, que não se consumou por 
circunstâncias alheias à sua vontade (a má pontaria). 
A aplicação da regra contida na primeira parte do art. 74 
do CP pressupõe que o resultado provocado seja previsto como 
crime culposo. Basta imaginar a situação inversa para compreender 
o porquê: o agente arremessa a pedra visando ferir o vizinho, mas 
erra o alvo e quebra o vidro de um automóvel. Se a ele se 
imputasse o resultado a título de culpa, significa que ele teria 
cometido dano culposo (fato atípico), o qual absorveria a tentativa 
de lesão corporal. Evidente que não se trata disso. O sujeito, no 
exemplo formulado, responderá por lesão corporal tentada (CP, art. 
129, c/c o art. 14, II). 
A aberratio criminis também se subdivide em resultado 
único ou unidade simples e resultado duplo ou unidade complexa. 
Naquela, aplica-se a regra acima estudada; nesta, o concurso 
formal de crimes. Assim, se tencionando atingir o automóvel, o 
sujeito acertasse o veículo e, além disso, o pé de alguém, ferindo-o, 
haveria concurso ideal entre dano consumado e lesão corporal 
culposa . 
 
Erro sobre o nexo causal ou "aberratio causae" 
 
Dá-se quando o agente pretende atingir determinado 
resultado, mediante dada relação de causalidade, porém obtém seu 
intento por meio de um procedimento causal diverso do esperado, 
mas por ele desencadeado e igualmente eficaz. Exemplo: 
João, pretendendo matar seu inimigo, joga-o de uma 
ponte, na esperança de que, caindo no rio, morra por asfixia 
decorrente de afogamento; a vítima, no entanto, falece em virtude 
de traumatismo cranioencefálico, pois, logo após ser lançada da 
ponte, sua cabeça colide com um dos alicerces da estrutura. 
O erro considera-se acidental, de modo que o agente 
responderá por crime de homicídio doloso consumado. É de alertar, 
contudo, que a qualificadora da asfixia (pretendida pelo sujeito) não 
terá incidência, pois outra foi a causa da morte. 
Não se deve confundir o erro sobre o nexo causal com o 
dolo geral (dolus generalis). O dolo geral ou dolus generalis ocorre 
quando o sujeito pratica uma conduta objetivando alcançar um 
resultado, e, após acreditar erroneamente tê-lo atingido, realiza 
outro comportamento, o qual acaba por produzi-lo. Exemplo: para 
matar seu inimigo, alguém o golpeia fortemente, de modo que a 
vítima desmaia, fazendo o agente pensar equivocadamente que ela 
faleceu; em seguida, com a finalidade de simular um suicídio, deixa 
o ofendido suspenso em uma corda amarrada ao seu pescoço, 
asfixiando-o. Embora as opiniões se dividam, prevalece o 
entendimento de que o dolo do agente, exteriorizado no início de 
sua ação, generaliza-se por todo o contexto fático, fazendo com que 
ele responda por um único crime de homicídio doloso consumado". 
Frise-se: não há que se confundir o dolo geral com o 
erro sobre o nexo causal (aberratio causae) ou com a figura da 
consumação antecipada. 
No erro sobre o nexo causal, realiza-se uma só conduta 
pretendendo o resultado, o qual é alcançado em virtude de um 
processo causal diverso daquele imaginado. No dolo geral, todavia, 
o sujeito realiza duas condutas. 
Assim, no exemplo retromencionado: uma pessoa joga 
seu inimigo de uma ponte sobre um rio (conduta), pretendendo 
matá-Io (resultado) por afogamento (nexo de causalidade 
esperado), mas a morte ocorre porque, durante a queda, o ofendido 
choca sua cabeça contra os alicerces da ponte (nexo de 
causalidade diverso do imaginado). A diferença fundamental entre o 
dolo geral e o erro sobre o nexo de causalidade reside no fato de 
que naquele há duas condutas, enquanto neste há somente uma. 
A consumação antecipada é, pode-se dizer, o oposto do 
dolus generalis, porquanto se refere a situações em que o agente 
produz antecipadamente o resultado esperado, sem se darconta 
disso. Exemplo: uma enfermeira ministra sonífero em elevada dose 
para sedar um paciente e, após, envenená-Io mortalmente; apura-
se, posteriormente, que o óbito decorreu da dose excessiva de 
sedativo, e não da peçonha ministrada a posteriores. O homicídio, 
neste caso, é doloso. 
Destaque-se que os casos de aberratio ictus, aberratio 
delicti e aberratio causae são impropriamente denominados por 
alguns doutrinadores de delitos aberrantes . 
 
ERRO SOBRE EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE 
 
Coação moral irresistível putativa e obediência 
hierárquica putativa. 
Nosso Código não regula expressamente o erro 
incidente sobre as causas que excluem a culpabilidade. De advertir, 
porém, que tal discussão tem relevância à luz dos institutos 
previstos no art. 22 do CP, ou seja, da coação moral irresistível e da 
obediência hierárquica. 
Pode-se adiantar, para efeito de melhor compreensão 
do assunto, que na coação moral irresistível e na obediência 
hierárquica surgem situações em que não se pode exigir do agente 
uma conduta diversa, motivo pelo qual ele se torna isento de pena 
(exclusão da culpabilidade). 
Imagine-se que um funcionário público receba uma carta 
ameaçadora dizendo--lhe que não realize ato de ofício; 
amedrontado, omite-se; depois, percebe que a missiva era 
endereçada a outro funcionário com atribuição semelhante à sua. 
Responde o autor por prevaricação? A resposta é negativa. 
Entendemos que, na falta de expressa regulamentação legal, deva-
se aplicar a tal hipótese os princípios relativos ao erro de proibição 
(CP, art. 21). Assim, se o erro era inevitável, o sujeito será isento de 
pena; se evitável, responde pelo crime, com redução de pena (de 
um sexto a um terço). 
Mais um exemplo: uma pessoa, supondo existente uma 
ordem, não manifesta- mente ilegal, de superior hierárquico, pratica 
uma conduta. Na verdade, contudo, houve um engano, pois a 
ordem não foi dada. Responde pelo crime cometido? Não pode ser 
aplicado o art. 22 porque não havia ordem, mas sim o art. 21, uma 
vez mais, considerando-se os princípios do erro de proibição. O 
agente supôs que sua conduta era lícita porque agiu na crença de 
que havia uma ordem de autoridade superior, a qual lhe pareceu 
legal (e cuja ilegalidade, à vista do homem médio, não era 
manifesta) 
 
Erro sobre a inimputabilidade 
 
A imputabilidade consiste na capacidade mental de 
compreender o caráter ilícito do fato e de se determinar de acordo 
com tal entendimento. Não é possível que alguém se equivoque 
sobre a própria sanidade mental, a não ser que seja, de fato, louco, 
hipótese em que será aplicado o art. 26 do CP. 
Poder-se-ia cogitar, todavia, de uma pessoa possuir 18 
anos de idade, mas, por erro, acreditar-se menor de idade. 
Considere-se uma pessoa humilde, que não teve seu nascimento 
registrado em cartório, supondo ter 17 anos, quando, na verdade, 
possui 18 (circunstância apurada mediante perícia). Se ela praticar 
um fato definido como crime, é de se aplicarem os princípios 
relativos ao erro de proibição (CP, art. 21). Se inevitável, isenta-se 
de pena, mas incide o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 
8.069/90); se evitável, o Código Penal, com a redução da pena do 
art. 21.

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