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Jacques Lacan O Simbólico, o Imaginário e o Real

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www.epol.dk3.com 
O Simbólico, o Imaginário e o Real 
 
 
Jacques Lacan (1901 - 1981) 
 
(Discurso pronunciado por Lacan em Julho de 1953, na fundação da Societé Française de 
Psychanalyse) 
Meus amigos 
 Vocês estão vendo que, para esta primeira comumeaçao dita científica de nossa 
Sociedade, escolhi um título que não carece de ambição. Antes de tudo, começo por me 
desculpar, pedindo-lhes que considerem esta comum'eação chamada científica antes 
como, por um lado, um resumo de pontos de vista, que aqueles que aqui estão, meus 
alunos, bem conhecem e com os quais estão familiarizados há uns dois anos, através do 
meu ensino; e também, por outro lado, como uma espécie de prefácio ou introdução para 
uma certa orientação do estudo da psicanálise. 
 Com efeito, creio que o retorno aos textos freudianos que são o objeto do meu ensino 
há dois anos, me deu - ou melhor, nos deu, a todos que estivemos trabalhando juntos - 
uma idéia cada vez mais certa de que não há dimensão mais total da realidade humana 
do que aquela realizada pela experiência freudiana,. e que não podemos deixar de 
retornar às fontes e estudar esses textos em todos os sentidos da palavra. Não podemos 
deixar de pensar que a teoria psicanalítica (e ao mesmo tempo a técnica, já que 
constituem uma só coisa) não tenha sofrido uma espécie de retrocesso e, verdade seja 
dita, de degradação. É que na realidade não é fácil manter-se ao nível de uma tal 
plenitude. Por exemplo, um texto como o do "Homem dos Lobos": eu pensava tomá-lo 
esta tarde como base e exemplo daquilo que lhes vou expor. Mas fiz, durante todo o dia 
de ontem, uma releitura completa do mesmo: havia feito, a respeito dele, um seminário no 
ano passado e, no entanto, impôs-se-me a sensação de que era absolutamente 
impossível lhes dar uma idéia, ainda que aproximada, daquele texto, e de que, do meu 
seminário do ano passado, só havia uma coisa a fazer: retomá-lo no ano que vem. 
 Pois o que percebi nesse texto formidável, depois do trabalho e do progresso que 
fizemos juntos este ano, em torno do texto "O Homem dos Ratos", me faz pensar que o 
que eu tomara no ano passado como principio, como exemplo, como tipo de pensamento 
característico dado por esse extraordinário trabalho era literalmente um mero "approach" 
(abordagem), como dizem os ingleses; dito de outro modo, um balbuciar. De modo que, 
em resumo, farei talvez, incidentalmente, uma breve alusão, mas tratarei sobretudo de 
simplesmente dizer algumas palavras sobre a exposição de um tal problema: sobre o que 
quer dizer o confronto desses três registros que são os registros essenciais da realidade 
humana, registros muito distintos e que se chamam: o simbólico, o imaginário e o real. 
 Antes de mais nada, uma coisa que é, evidentemente, surpreendente e que não nos 
deveria escapar: ou seja, que há, na análise toda uma parte de real em nossos sujeitos, a 
qual, precisamente, nos escapa; que, no entanto, não escapava a Freud ao ocupar-se ele 
de cada um de seus pacientes. Mas certamente, ainda que isso não lhe escapasse, caía 
também fora de sua dimensão e alcance. Não deixaríamos jamais de nos surpreender 
com o fato e o modo pelo qual ele fala do seu "Homem dos Ratos", distinguindo entre 
suas "personalidades". Sobre isso, concluiu: "a personalidade de um homem, fino, 
inteligente e culto", personalidade que colocou em contraste com os outros aspectos do 
sujeito. Ainda que isso se atenue ao tratar do seu "Homem dos Lobos", nem por isso 
deixa de mencioná-lo. Ora, para dizer a verdade, não estamos obrigados a referendar 
todas as suas apreciações. Não parece tratar-se, no Homem dos Lobos, de alguém com 
tanta classe. Mas o surpreendente é que ele o enfatiza como um ponto em particular. 
Quanto à sua Dora, nem há o que falar, se até podemos dizer que a amou. 
 Portanto, há em tudo isso algo que, evidentemente, não deixa de nos causar impacto e 
que é, em suma, algo que constantemente nos concerne. Eu diria que este elemento 
direto, que este elemento de peso, de apreciação da personalidade, é algo bastante 
inefável ao qual temos que nos ater no registro do mórbido, por um lado, bem como no 
registro da experiência analítica com sujeitos que de modo algum caem no registro do 
mórbido: é algo que, em resumo, sempre teremos que cuidar e que está presente, 
particularmente, na experiência dos que estão encarregados da pesada tarefa de eleger 
os que se submetem à análise com fim didático. Em suma, o que poderíamos dizer de 
tudo? Quando expressamos, ao término de nossa seleção, todos os critérios que se 
invocam (é necessária a neurose para fazer um bom analista? Um pouquinho dela? 
Muito? Nem um pouco, em absoluto?) Mas afinal, é isso o que nos guia num juízo que 
nenhum texto pode definir, e que nos faz apreciar as qualidades pessoais desta 
realidade? Poderiam se reduzir a isso: que significa que um sujeito tenha ou não tenha 
massa, que seja, como dizem os chineses ("she-un- ta") um homem de grande talhe, ou 
("sha-o-yen”), um homem de pequena estatura? É algo que - é necessário dizê-lo - 
constitui os limites de nossa experiência. É nesse sentido que se pode dizer, para expor a 
questão do saber que entra em jogo na análise: De que se trata? Acaso, esta relação real 
do sujeito - segundo um certo modo e segundo nossas medidas de reconhecimento - é 
sobre isso que devemos trabalhar na análise? Certamente que não. Trata-se, 
indubitavelmente, de outra coisa. E aqui está a pergunta que colocamos sem cessar e 
que é colocada por todos os que pretendem formular uma teoria da experiência analítica. 
O que é essa experiência singular entre todas, que vai trazer transformações tão 
profundas para os sujeitos? E que são essas transformações? E qual é a sua saída? 
 A elaboração da doutrina analítica, há anos, aponta para a resposta a essa pergunta. E 
é certo, por outro lado, que o homem comum não parece se assombrar com a eficiência 
dessa experiência que se desenvolve integralmente em palavras; e, em certo sentido, no 
fundo ele tem razão, já que, com efeito, funciona, e para explicá-la pareceria que não 
teríamos mais do que demonstrar seu movimento em marcha. "Falar" já é introduzir-se no 
sujeito da experiência analítica. É ali, efetivamente, que se torna útil antes de mais nada 
expor a pergunta: o que é a palavra, isto é, o símbolo? 
 Na verdade, aquilo a que assistimos é, antes, um evitamento desta pergunta. E 
certamente o que constatamos é que ao reduzi-Ia (não querendo ver nos elementos e nos 
recursos propriamente técnicos da análise mais do que algo que deve aceder, por uma 
série de aproximações, à modificação de condutas) a mecanismos, costumes do sujeito, 
desembocamos rapidamente num certo número de dificuldades e de impasses, a ponto 
de não poder - com certeza - situá-los no conjunto de um estudo total da experiência 
analítica; mas, por prosseguir nesse sentido, orientamo-nos inevitavelmente para um 
certo número de impenetráveis que se nos opõem e que tendem a transformar, a partir 
daí, a análise em algo que se manifesta como muito mais irracional do que realmente é. 
 É surpreendente ver-se quantos iniciantes na experiência analítica têm expressado, em 
suas primeiras declarações sobre suas experiências, a questão do caráter irracional 
dessa análise, precisamente quando talvez, ao contrário, não haja técnica alguma que 
seja tão transparente. 
 Somos abundantes em apreciações psicológicas mais ou menos parciais do sujeito 
paciente; falamos de seu "pensamento mágico"; falamos de todo tipo de registros que 
têm, sem dúvida, valor e são reencontrados de modo muito vivo pela experiência 
analítica. Daí a pensar que a própria análise se dê no registro do pensamento mágico não 
há mais que um passo, rapidamente franqueado quando não se toma como ponto de 
partida e como referência desde o início a questão primordial: o que é esta experiênciada 
palavra? E, quando não se levanta ao mesmo tempo a questão da experiência analítica, a 
questão da essência e do intercâmbio da palavra. 
 Creio que o ponto do qual se deve partir é o seguinte: 
 Partamos da experiência, tal como nos foi apresentada nas primeiras teorias sobre a 
análise: O que é este "neurótico" ao qual devemos nos ater na experiência analítica? O 
que irá ocorrer nesta experiência? E esta passagem do consciente ao inconsciente? E 
quais são as forças que dão a este equilíbrio uma certa existência? Nós o chamamos de 
princípio de prazer. 
 Para sintetizar diremos com F. de Saussure que "o sujeito alucina seu mundo", ou seja, 
suas ilusões ou suas satisfações ilusórias não podem ser de todas as ordens. 
Evidentemente ele vai desviá-las para uma outra ordem que não a das suas satisfações, 
as quais encontram seu objeto no real puro e simples. Jamais um sintoma acalmou-a 
fome ou a sede de modo duradouro, senão por meio da absorção de alimentos que as 
satisfizessem, ainda quando uma baixa geral do nível da vitalidade possa, em casos 
limites, ser a resposta; por exemplo: a hibernação, natural ou artificial. Tudo isso é 
concebível apenas como uma fase que de certo não poderá durar sem o risco de danos 
irreparáveis. 
 A própria reversibilidade dos problemas neuróticos supõe que a economia das 
satisfações por ela implicadas seja de outra ordem, e infinitamente menos ligada a ritmos 
orgânicos fixos, ainda que certamente determinando uma parte destes. Isso define a 
categoria conceitual que resolve este tipo de objeto. É justamente aquilo que estou em 
vias de definir: o imaginário, se aceitarmos e reconhecermos todas as implicações que lhe 
são apropriadas. 
 A partir daí é muito simples, claro, fácil ver que este tipo de satisfação imaginária não 
pode ser encontrado senão na ordem dos registros sexuais. 
Tudo está dado a partir dessa espécie de condição prévia da experiência analítica. E não 
é assombroso ainda que, certamente, deva ser confirmado (controlado, eu diria) pela 
experiência, que, uma vez feita, faz com que as coisas pareçam corresponder a um 
perfeito rigor. 
 O termo "libido" é uma noção que só faz expressar a noção de reversibilidade, a qual 
por sua vez implica na de equivalência, em certo metabolismo das imagens; para poder 
pensar essa transformação é necessário um termo energético para o qual serviu o termo 
"libido". Trata-se decerto de algo complexo. Quando digo "satisfação imaginária" não é 
evidentemente o simples fato de que Demétrius se tenha satisfeito com sonhar que 
possuía a sacerdotisa cortesã... ainda que este caso não seja apenas um caso particular 
no conjunto... Mas sim que isso é algo que vai mais além e que está atualmente recortado 
por toda uma experiência que é aquela evocada pelos biólogos a respeito dos ciclos 
instintuais, muito especialmente nos registros dos ciclos sexuais e da reprodução; a saber 
que, à parte os estudos ainda mais ou menos incertos e improváveis tocantes aos 
conectores neurológicos no ciclo sexual, está demonstrado que estes ciclos, nos animais, 
respondem a fenômenos denominados pelo mesmo termo que é utilizado para designar 
os problemas e os recursos sexuais primários dos sintomas nos próprios sujeitos, ou seja, 
o "deslocamento". 
 O que mostra o estudo dos ciclos instintuais nos animais é, precisamente, que são 
essencialmente de ordem imaginária e constituem o que há de interessante neste estudo, 
a saber, que seu limite, que sua definição, a maneira de precisá-lo fundamentado sobre 
um certo número de experiências até um determinado limite de desvanecimento, são 
suscetíveis de provocar no animal essa espécie de ereção parte do ciclo do 
comportamento sexual do qual se trata. E o fato de que no interior de um ciclo de 
comportamento determinado, seja sempre suscetível, a aparição, sob certas condições, 
de um determinado número de deslocamentos; por exemplo, num ciclo de combate o 
brusco aparecimento, no retorno deste ciclo (nos pássaros por exemplo um dos 
combatentes começa a alisar as plumas) de um segmento do comportamento de 
ostentação que intervirá no meio de um ciclo de combate. 
 Poderiam dar-se mil exemplos mais. Não estou aqui para enumerá-los, Isto é 
simplesmente para dar-lhes a idéia de que este elemento de deslocamento é um recurso 
absolutamente essencial de ordem e sobretudo da ordem dos comportamentos ligados à 
sexualidade. Sem dúvida, estes fenômenos não são eletivos, nos animais, mas outros 
comportamentos (conforme os estudos de Lorenz sobre as funções da imagem no ciclo 
da alimentação) mostram que o imaginário desempenha um papel importante na ordem 
dos comportamentos sexuais. E por outro lado, no homem, é sempre e principalmente 
neste plano que nos encontramos frente a este fenômeno. 
 Desde o início assinalamos, pontuamos o exposto com o seguinte: que os elementos 
de comportamentos instintuais deslocados no animal são suscetíveis de alguma coisa na 
qual vemos o esboço do que chamamos um "comportamento simbólico". 
 O que chamamos no animal de um comportamento simbólico é o que, quando um 
desses segmentos deslocados adquire valor socializado, serve ao grupo animal de ponto 
de referência para um certo comportamento coletivo. 
 Assim dizemos que um comportamento pode ser imaginário quando sua oscilação 
entre imagens o torna suscetível de deslocamento fora do ciclo que assegura a satisfação 
de uma necessidade natural. 
 A partir disso, o conjunto que se articula na raiz do comportamento neurótico pode ser 
definido e elucidado no plano da economia instintiva, tendo em conta que sempre se 
refere a um comportamento sexual. 
 Voltaremos a isto, apenas para indicar brevemente o fato de que um homem possa 
ejacular à vista de um sapato, é algo que não nos surpreende, como tampouco que um a 
utilize para levar a sua consorte a melhores sentimentos, mas seguramente, a partir daí, 
ninguém sonharia que um sapato possa servir para apaziguar a excitação extrema de um 
indivíduo. É a isso que devemos constantemente nos ater: as fantasias. Na ordem do 
tratamento, não é raro que o paciente, o sujeito, faça intervir no curso da análise uma 
fantasia tal como a da "felação do parceiro do analista". Trata-se, também aqui, de algo 
que vamos introduzir num ciclo arcaico de sua biografia de maneira qualquer? Uma 
anterior sub-alimentação? É evidente que qualquer que seja o caráter incorporativo que 
damos a essas fantasias jamais pensaríamos em tal sub- alimentação. Como entendê-lo? 
 Pode significar muitas coisas. Com efeito, é necessário levar em conta que o imaginário 
está por um lado longe de confundir-se com o domínio do analisável e, por outro lado, 
pode existir outra função que não a imaginaria. Não é porque o analisável coincida com o 
imaginário que o imaginário se confunde com o analisável, que é o exclusivamente 
analisável, e que seja inteiramente o analisável ou o analisado. 
 Para tomar o exemplo de nosso fetichista, apesar de que seja raro, se admitirmos que 
ali se trata de uma espécie de perversão primitiva, não é impossível visualizar casos 
parecidos. Suponhamos que se tratasse de um desses deslocamentos imaginários, tal 
como encontramos realizados nos animais. Suponhamos, em outros termos, que o sapato 
seja aqui estritamente o deslocamento do órgão feminino, já que é mais comum no macho 
que se encontre o fetichismo. Se, literalmente, não houvesse nada que pudesse 
representar uma elaboração a respeito deste dado primitivo, seriam igualmente 
inanalisáveis certas:fixações perversas. Inversamente, para falar de nosso paciente ou 
sujeito, se pensarmos nele como presa de uma fantasia, estamos colocando-o como algo 
que tem um sentido muito diferente e neste caso está bem claro que se essa fantasia 
pode ,ser considerada como algo que representa o imaginário, é porque pode representarcertas fixações num estado primitivo oral da sexualidade. Em outras palavras, não 
diremos que sua prática de felação seja constitucional. 
 Entendo pois que aqui, na fantasia em questão, o elemento imaginário não tem a rigor 
mais do que um valor simbólico que devemos apreciar e compreender em função do 
momento de análise em que se insere. Com efeito, ainda quando o sujeito retém sua 
confissão, a fantasia surge num momento preciso de diálogo analítico. Está aí para 
expressar-se, para ser direta, para simbolizar algo, e algo que difere segundo o momento 
do diálogo. 
 Que dizer então? Que não basta que um fenômeno represente um deslocamento, dito 
de outra maneira, se inscreva entre os fenômenos imaginários, para que seja analisável e 
que, para que o seja, é necessário que represente outra coisa que a si mesmo. 
 Para abordar o tema em questão, ou -seja, o simbolismo, direi que toda uma parte das 
funções imaginárias na análise não tem outra relação com a realidade fantasística que 
elas manifestam, que, por exemplo, a que tem a sílaba "po" (na palavra pote) com as 
formas, perfeitamente simples, do jarro que ela designa. Como podemos facilmente ver 
no fato de que em "polícia" ou poltrão" esta sílaba "po" tem totalmente outro valor. 
Podemos utilizar o "pote" para simbolizar a sílaba "po” inversamente no termo "polícia” ou 
"poltrão", mas convém acrescentar ao mesmo tempo, neste caso, outros termos 
igualmente imaginários que não seriam tomados por outra coisa, senão, como sílabas 
destinadas a completar a palavra. 
 Deste modo é necessário entender o simbólico em jogo no intercâmbio analítico, tendo 
em conta que o que nele encontramos, e estamos definindo, é o que Freud definiu como 
sua realidade essencial, quer se trate de sintomas reais, atos falhos e tudo quanto nele se 
inscreva; trata-se ainda e sempre de símbolos, e de símbolos muito especificamente 
organizados na linguagem, que por conseguinte funcionam a partir desse equivalente do 
significante e do Significado: a estrutura mesma da linguagem. 
 Não me pertence a expressão: "o sonho é uma charada"; pertence a Freud. E o fato de 
o sintoma expressar, também ele, algo estruturado, organizado como uma linguagem, é 
manifestado a partir de que o sintoma histérico engloba sempre um equivalente de uma 
atividade sexual, mas nunca um equivalente plurívoco, superposto, sobredeterminado e, 
para dizer tudo, construído segundo modelo exato das imagens dos sonhos, as quais 
representam uma competência, uma superposição de símbolos tão complexa como uma 
frase poética, a qual por sua vez vale por seu tom, sua estrutura, suas modulações, seu 
ritmo, sua sonoridade, por conseguinte e essencialmente, sobre vários planos, na ordem 
e no registro da linguagem. 
 Para dizer a verdade, isto não nos aparecerá em seu relevo, se não tentarmos ver, 
apesar de tudo, que é algo inteiramente próprio da linguagem. 
 Certamente não estamos aqui para fazer um delírio coletivo, nem organizado, nem 
individual, sobre o problema da origem da linguagem, já que é um tema que se presta 
muito bem a este tipo de delírios. A linguagem está aí, é um emergente. E agora que 
emergiu, não saberemos jamais nem quando nem como começou, nem como eram as 
coisas antes que ela existisse. 
 Mas no entanto, como expressar esse algo que deve, talvez, haver se apresentado 
como uma das formas mais primitivas da linguagem? Pensem nas contra-senhas. Vejam, 
escolho a propósito este exemplo, justamente porque o erro e as miragens, quando se 
trata da linguagem, baseiam-se sempre em crer que sua significação é a que ela designa. 
Mas não é assim, Evidentemente, designa algo, mas antes de fazê-lo cumpre uma certa 
função. E escolho a contra-senha porque tem essa propriedade de ser escolhida de 
maneira inteiramente independente de sua significação, e essa significação é a de 
designar a quem a pronuncia como tendo tal ou qual propriedade em resposta à pergunta 
que motivou a palavra. Alguns dirão que o exemplo está mal escolhido, já que foi tomado 
no interior de uma convenção. Mas é precisamente nisso que reside seu valor. Por outro 
lado, não podemos negar que a contra-senha tem a mais preciosa das virtudes, serve 
simplesmente para evitar que sejamos mortos. 
 É por isso que podemos considerar a linguagem como tendo uma função. Nascida 
entre esses animais ferozes que devem ter sido os homens primitivos (a julgar por nossos 
contemporâneos, não é tão inverossímil), a contra-senha não é justamente aquilo 
mediante o qual "se reconheciam os homens do grupo", senão aquilo mediante o qual "se 
constitui o grupo". 
 Há um outro registro em qual se pode meditar a respeito desta função da linguagem; é 
o da linguagem estúpida do amor, que consiste no último grau do espasmo, do êxtase - 
ou ao contrário da rotina, segundo os indivíduos - a qualificar repentinamente seu 
companheiro sexual com o nome de algum legume ou de um animal repugnante. Isto 
expressa também algo que não está longe de tocar o problema do horror ao anonimato. 
Não é por nada que tal ou qual destas apelações, animal ou suporte totêmico, se encontra 
na fobia. É evidente que há, entre os dois, algum ponto em comum: o sujeito humano está 
especialmente exposto, como veremos em seguida, a este tipo de vertigem que aparece e 
experimenta a necessidade de afastá-lo, a necessidade de fazer algo que o transcenda. E 
é disso que se fala na origem da fobia. 
 
 Nestes dois exemplos, a linguagem está particularmente desprovida de significação. 
Neles podemos ver o que diferencia o símbolo do signo, a saber, a função inter-humana 
do símbolo. Trata-se de algo que nasce com a linguagem e que faz com que, depois de 
cada palavra (é precisamente para o que serve a palavra) ter sido pronunciada, os dois 
companheiros passam a ser outra coisa que antes. Isto, apoiando-nos no mais simples 
dos exemplos. 
 Por outro lado se equivocariam ao crer que estes não são exemplos particularmente 
plenos. Seguramente a partir destas parcas observações, poderão perceber, que tanto na 
contra-senha, quanto na palavra chamada amor, trata-se de algo que no fim das contas 
está cheio de conotações. Digamos que a conversação que num momento dado de sua 
carreira de estudantes tenham tido (digamos, num jantar, por exemplo), onde a maneira e 
a significação das coisas intercambiadas tem esse caráter comum às conversas da rua ou 
do coletivo, não é outra coisa senão uma certa maneira de se fazer reconhecer, o que 
justificaria a Mallarmé quando diz que a linguagem é comparável a essa moeda sem valor 
que se passa de mão em mão em silêncio?'. 
 A partir daí, vejamos pois de que se trata já que, em suma, é o que se estabelece 
quando um neurótico chega à experiência analítica. 
 Ele também começa dizendo coisas. Diz coisas, e as coisas que diz não devem 
surpreender-nos, no início, não são mais que palavras de pouco peso. Porém há algo que 
é fundamentalmente diferente: é o fato de que eles vêm ao analista por outra razão além 
de dizer bobeiras e banalidades; que, desde o início, na situação já está implicado algo. E 
algo que não é banal, visto que, em suma, é seu próprio sentido o que vêm procurar; é 
que existe algo nitidamente colocado sobre a pessoa que o escuta. 
 Certamente, avança nesta experiência, nesta via original, antes de mais nada, com 
tudo o que têm à sua disposição: a saber, com a crença, de que deve, se fazer de 
médico, informar o analista. Certamente vocês, têm sua experiência cotidiana; levando-a 
a seu nível, digamos que se trata, não de fazer isso, mas de falar, e de preferência sem 
procurar interferir na ordem da organização, isto é, interferir segundo um narcisismo bem 
conhecido, no lugar de seu interlocutor. 
Afinal de contas, a noção que temos do neurótico é que, em seus próprios sintomas, se 
trata de uma “palavra amordaçada”, pela qual seexpressa um certo número de 
transgressões de uma certa ordem, que por si mesmas são gritantes pela ordem negativa 
na qual se inscrevem. Por não ter realizado a ordem do símbolo de uma maneira viva, o 
sujeito realiza imagens desordenadas cujo substitutivo elas são. E é, certamente, isso o 
que vai antes de tudo e desde já, se interpor a toda relação simbólica verdadeira. 
 O que o sujeito expressa antes de tudo, e desde o começo quando fala, é esse registro 
que chamamos de "resistências"; o que não se pode interpretar de outra maneira que a 
de uma realização "aqui e agora", na situação com o analista, da imagem ou das imagens 
que são as da experiência precoce. 
 E é sobre este ponto que se edifica toda a teoria da resistência e, isso, somente depois 
do reconhecimento do valor simbólico do sintoma e de tudo aquilo que pôde ser 
analisado. 
 A experiência prova e demonstra, justamente, algo mais que a realização do símbolo; é 
a tentativa do sujeito, de construir "aqui e agora", na experiência, esta referência 
imaginária que denominamos: as tentativas do sujeito de fazer entrar o analista em seu 
jogo. O que vemos, por exemplo, no caso do Homem dos Ratos, quando percebemos 
(rápida, mas não imediatamente, assim como Freud também não) que ao relatar sua 
história obsessiva, com grande ênfase no suplício dos ratos, há uma tentativa do sujeito 
de realizar “aqui e agora”, (aqui e com Freud), essa espécie de relação sádico-anal 
imaginária que constitui por si mesma o sabor da história. E Freud percebeu que se trata 
de algo que se traduz e se trai fisionomicamente, na cara, na expressão do sujeito, posto 
que o qualifica nesse momento: o horror do gozo ignorado. 
 A partir do momento em que estes elementos da resistência são referidos à experiência 
analítica, que se os pode medir, pesar como tais, se constitui um momento significativo na 
história da análise. E, podemos dizer que é a partir do momento em que se soube falar a 
respeito de um modo coerente (no momento por exemplo, do artigo de Reich, um dos 
primeiros a respeito aparecido no International Journal), que Freud faz surgir o segundo 
momento de elaboração da teoria analítica: algo que representa, nada mais, nada menos, 
que a teoria do eu: nessa época aparece “das Es” (o Isso, em alemão no original, o Id); e 
naquele momento começamos a perceber no interior (é preciso mantê-lo sempre no 
interior do registro da relação simbólica) que o sujeito resiste; que essa resistência não é 
como uma simples inércia oposta ao movimento terapêutico, como se poderia dizer em 
física que a massa resiste a toda aceleração. É algo que estabelece certo laço, que se 
opõe como tal, como uma ação humana, à do terapeuta; mas, com esta precisão: é 
necessário que o terapeuta não se engane. Não é a ele, terapeuta, enquanto realidade 
que ela se opõe, senão na medida em que, em seu lugar, está realizada uma certa 
imagem que o sujeito projetou sobre ele. 
 Na verdade, estes são apenas termos aproximativos. 
 É também nesse momento que nasce a noção de pulsão agressiva, que é necessário 
associar à libido o termo “destruição”; e isto não sem motivo. É que, a partir do momento 
em que sua meta é decifrar as funções totalmente essenciais dessas relações 
imaginárias, tal como se apresentam sob a forma de resistência, aparece outro registro 
que não está ligado a nada menos que a função própria que coloca o eu nessa teoria do 
eu, de que não tratarei hoje, e que é absolutamente necessário diferenciar em toda noção 
coerente e organizada do eu da análise; a saber o eu como função imaginária do “moi”, 
como unidade do sujeito alienado a si mesmo: do “moi” como aquilo no qual o sujeito não 
pode reconhecer-se a não ser alienando-se, e por conseguinte não pode reencontrar-se, 
a não ser abolindo o alter ego do “moi”, o que como tal, desenvolve a dimensão, muito 
diferente da agressão, que denominaremos agressividade. Acredito que agora nos é 
necessário retomar o problema nestes dois registros: a questão da palavra e a questão do 
imaginário. 
 A palavra, tenho mostrado de forma abreviada, desempenha esse papel essencial de 
mediação. De mediação, quer dizer, de algo que intercambiam as duas partes em 
presença. Isso não tem, por outro lado, nada que não nos seja dado até no registro 
semântico de certos grupos humanos. E se vocês lerem (não é um livro que mereça todas 
as recomendações, mas é bastante expressivo como manual e excelente como 
introdução para quem necessita) o livro de Leonhardt Dokano, verão que entre os 
Canacos se produz algo bastante particular no plano semântico, ou seja, que o termo 
“palavra” significa algo que vai muito mais longe do que nós designamos. Alude ainda a 
uma ação. E por outro lado, entre nós a "palavra dada” é uma forma de ato. Mas é 
igualmente algumas vezes um objeto, ou seja, algo que se perde, um feixe. É não importa 
o que. Mas entre eles por momentos designa um objeto, algo que se leva, um feixe... É 
qualquer coisa. Mas, a partir daí, existe algo que não existia antes. Conviria também fazer 
outra observação: é que a palavra mediadora não o é pura e simplesmente nesse nível 
elementar, posto que permite transcender a relação agressiva fundamental ao 
espelhamento do semelhante. É necessário que seja mais que isso porque, se refletirmos, 
veremos que constitui não só a mediação, mas também a realidade em si mesma: isto é 
evidente, se considerarem o que denominamos uma estrutura elementar, quer dizer, 
arcaica do parentesco. Longe de serem elementares, não o são sempre. Por exemplo, o 
fato especialmente complexo (na verdade estas estruturas complexas não existiriam sem 
o sistema de palavras que as expressam) de que, entre nós, as interdições que regulam o 
intercâmbio humano de alianças, no sentido, próprio da palavra, se reduzem a um número 
excessivamente restrito, tendem a nos fazer confundir, palavras como "pai, mãe, filho..." 
com relações reais. 
 É porque o sistema de relações de parentesco, por sua própria constituição, foi 
extremamente reduzido em seus limites e em seu campo. Mas, se vocês fizessem parte 
de uma civilização onde não pudessem desposar tal ou qual prima em 7º grau por ser 
considerada como prima paralela, ou inversamente, como prima cruzada, ou 
encontrando-se com vocês em uma certa homonímia que retorna cada três ou quatro 
gerações, perceberiam que a palavra e os símbolos têm uma decisiva influência na 
realidade humana, e é precisamente porque as palavras têm exatamente o sentido que eu 
lhes decreto. Como diria Humpty Dumpty em Lewis Caroll, quando se lhe pergunta "por 
que?” e dá essa resposta admirável "porque sou o amo". 
 Digamos que, em princípio, é evidente que é o homem com efeito quem dá seu sentido 
à palavra. E que, se posteriormente as palavras se encontram no comum acordo da 
comunicabilidade, quer dizer, que as mesmas palavras servem para reconhecer a mesma 
coisa, é precisamente em função de relações, de uma relação de partida, que permitiu a 
essas pessoas serem pessoas que comunicam. Em outros termos, não é absolutamente 
questão, salvo em uma percepção psicológica expressa, de tentar deduzir como as 
palavras saem das coisas e lhes são sucessiva e individualmente aplicada, mas sim de 
compreender que é no interior do sistema total do discurso, do universo de uma 
linguagem determinada, que comporta, por uma série de complementariedades, um certo 
número de significados; o que tem que significar, a saber, as coisas, é preciso acomodá-
las, dando-lhes um lugar. 
 É assim que as coisas, através da história, se constituem. É o que torna 
particularmente pueril toda a teoria da linguagem, já que haveria que compreender o 
papel que está em jogo na formação dos símbolos. Por exemplo, a teoria dada por 
Masserman, que fez a respeito (no International Journal of Psychoanalysys, 1944) um 
belo artigo cujo título é: “Language,behaviour and dynamic psychiatry". É evidente que 
um dos exemplos que dá mostras suficientemente da Fragilidade do ponto de vista 
behaviorista. Pois é disso que se trata nesta oportunidade. Acredita resolver a questão do 
simbolismo da linguagem dando este exemplo: o condicionamento que terá efeito na 
reação de contração da pupila à luz, regularmente produzido em simultaneidade com uma 
campainha. Suprimimos a excitação da luz e obtemos a contração da pupila quando 
agitamos a campainha. Terminaríamos obtendo a contração pela simples audição da 
palavra "contract". Vocês acreditam que com isso resolveram o problema da linguagem e 
da simbolização? Mas está bem claro que se, no lugar de "contract" houvesse outra coisa, 
teríamos podido obter exatamente o mesmo resultado. E não se trata do condicionamento 
de um fenômeno e sim dos sintomas da relação do sintoma com todo o sistema da 
linguagem. Quer dizer, o sistema das significações inter-humanas como tais. 
 Creio que o eixo do que acabo de lhes dizer é o seguinte: o que é que constatamos, e 
em que consiste o recorte que faz a análise dessas observações mostrando, até em seu 
último detalhe, o seu alcance e presença? 
 É nem mais nem menos que isto: que toda relação analisável, quer dizer, interpretável 
simbolicamente, está sempre mais ou menos inscrita numa relação de três. Já vimos isso 
na estrutura da própria palavra: mediação entre tal e qual sujeito no libidinal realizável; o 
que nos mostra a análise, e o que dá seu valor a este fato, afirmado pela doutrina e 
demonstrado pela experiência é que finalmente nada se interpreta, porque é disso que se 
trata na intermediação da realização edípica. É esse o sentido. Quer dizer que toda 
relação a dois está mais ou menor, marcada pelo estilo do imaginário; e que, para que 
uma relação assuma seu valor simbólico, é necessário que tenha a mediação de um 
terceiro personagem que realize, em relação ao sujeito, o elemento transcendente graças 
ao qual sua relação com o sujeito possa ser mantida a uma certa distância. 
 Entre a relação imaginária e a relação simbólica, está a distância da culpa. É por isso, a 
experiência mostra, que a culpa sempre é preferível à angústia. A angústia em si mesma 
está, desde já o sabemos pelo progresso da doutrina e da teoria de Freud, sempre ligada 
a uma perda, quer dizer, a uma transformação do eu, ou seja, a uma relação dual prestes, 
a desvanecer-se e à qual deve suceder algo mais que o sujeito não pode abordar sem 
uma certa vertigem. Eis aí o registro e a natureza da angústia. A introdução do terceiro. E 
na relação narcísica introduz a possibilidade de uma mediação real, essencialmente pela 
intermediação do personagem que, com relação ao sujeito, representa um personagem 
transcendente, dito de outro modo, uma imagem de mestria por meio da qual seu desejo 
e seu cumprimento podem realizar-se simbolicamente. 
 Neste momento intervém outro registro, que é justamente denominado, ou bem da lei, 
ou bem da culpa, segundo o registro em que é vivido. (Notarão que abrevio um pouco; 
esse é o termo.- Estimo, ao abreviar, não despistá-los com isso, posto que se trata, aqui 
ou em nossas reuniões, de coisas muito repetidas). 
 O que gostaria de sublinhar referente a este registro do simbólico é porém importante. 
É o seguinte: quando se trata do simbólico, isso diz respeito àquilo no qual o sujeito se 
compromete numa relação propriamente humana; quando se trata de um registro do “je”, 
trata-se de um compromisso: em “eu quero ... eu amo”, há sempre algo, literalmente dito, 
de problemático, quer dizer, de um elemento temporal muito importante a ser 
considerado. Para o que aponto? Isto coloca toda uma série de problemas que devem ser 
tratados paralelamente ao problema da constituição temporal da ação humana é 
absolutamente inseparável da relação do simbólico e do imaginário. Mesmo que não 
possa resolvê-la em toda sua amplitude esta noite, é necessário pelo menos indicar que a 
encontramos sem cessar de modo mais concreto nas análises. 
 Para compreendê-la, convém partir de uma noção estrutural e se é que se pode dizer, 
existencial da significação símbolo. 
 Um dos pontos que pareceria dos mais controvertido da teoria analítica, a saber, o do 
suposto automatismo da repetição, foi magistralmente simplificado por Freud, ao mostrar 
como atua o primeiro domínio: a criança que elimina, por desaparecimento seu brinquedo. 
Esta repetição primitiva, essa escansão temporal, que faz com que a identidade de objeto 
seja mantida na presença e na ausência, nos dá a dimensão e o significado do símbolo 
na medida em que se refere ao objeto, quer dizer, ao que denominamos o conceito. 
 Ora, aí encontramos ilustrado algo que parece bastante obscuro quando lemos em 
Hegel: "o conceito é o tempo”. Seria necessário uma conferência de uma hora para 
demonstrar que o conceito é o tempo. (Coisa curiosa, Hyppolite, que trabalha a 
"Fenomenologia do Espírito," se contentou em fazer uma nota dizendo que isto era um 
dos pontos mais obscuros da teoria de Hegel). 
 Aí tocamos em algo muito simples, que consiste em que o símbolo do objeto é 
justamente "o objeto aqui”. Quando ele não está mais, é o objeto encarnado em sua 
duração separado de si mesmo, e que por isso mesmo pode estar, de certa maneira, 
sempre presente, sempre aí, sempre à sua disposição. Reencontramos ali a relação que 
há entre o símbolo e o fato de que tudo o que é humano é considerado como tal, e quanto 
mais humano, mais preservado, se é que se pode dizer, do aspecto motor e 
desordenador do processo natural. O homem, antes de tudo, faz subsistir em uma certa 
permanência tudo o que tem durado como humano. 
 Reencontramos um exemplo. Se houvesse querido tomar por outra via o problema do 
símbolo, em lugar de partir da palavra, ou do pequeno feixe, haveria partido do túmulo 
sobre a tumba do chefe ou sobre a tumba de qualquer um. O que caracteriza a espécie 
humana é, justamente, o fato de rodear o cadáver com algo que constitui uma sepultura, 
manter o fato de que "isto permanece”. O túmulo, ou não importa que outro signo de 
sepultura, merece com toda a precisão o nome de símbolo, de algo humanizante. 
Conceituo como símbolo tudo aquilo cuja fenomenologia tentei mostrar hoje. É por que, 
se lhes aponto isto não é sem razão, pois a teoria de Freud avança até a noção de pulsão 
de morte, e todos os que, a posteriori, enfatizando somente o elemento da resistência, 
quer dizer, o elemento da noção imaginária na experiência analítica, anulando mais ou 
menos a função simbólica da linguagem, são os mesmos para quem a pulsão de morte é 
algo que não tem razão de ser. 
 Esta maneira de “realizar”, no sentido próprio do termo, de retroceder a um certo real 
da imagem – tendo certamente incluído como a função essencial um particular signo 
deste real – de retroceder ao real a expressão analítica, está sempre presente entre 
aquilo que carece deste registro, correlativamente à colocação entre parênteses (leia-se 
exclusão) do que Freud denominou pulsão de morte, ou que denominou, mais ou menos, 
automatismo de repetição. 
 Em Reich, isso é característico. Para Reich, tudo o que o paciente conta é “flatus 
vocis”, a maneira como a pulsão mostra a sua armadura. Ponto que é significativo, muito 
importante, mas na medida em que é colocada entre parênteses toda esta experiência 
enquanto simbólica, a pulsão de morte fica excluída, colocada entre parênteses. 
Logicamente este elemento de morte não se manifesta só no plano do símbolo. Vocês 
sabem que se manifesta no que é o registro narcisista. Mas se trata de outra coisa muito 
mais próxima a este elemento de aniquilação final, ligada a todo tipo de deslocamento. 
Podemos conceituá-lo. A origem, a fonte, como foi indicado a propósito dos elementos 
deslocados, não está na possibilidade de transação simbólica do real;mas sim é, ao 
mesmo tempo, algo que tem muito menos relação com o elemento duração, enquanto 
concebo o porvir enquanto o essencial do comportamento simbólico como real. 
 Vocês notam, estou tendo que ser um pouco rápido. Há muitas coisas a dizer em tudo 
isto. E é certo que a análise de noções tão diferentes como as de resistência de 
transferência, transferência como tal.... abre a possibilidade de compreender o que é 
necessário chamar propriamente transferência e deixar a noção de resistência. Creio que 
tudo isto pode facilmente inscrever-,se com relação às, noções fundamentais do simbólico 
e do imaginário. 
 Quisera simplesmente, para terminar, ilustrar de alguma maneira (é sempre necessário 
dar uma pequena ilustração do que se fala) dar-lhes algo que não é mais que uma 
aproximação a respeito dos elementos de formalização que desenvolvemos mais 
profundamente com meus alunos do seminário (por exemplo no Homem dos Ratos). 
Podemos chegar a formalizar, com a ajuda dos elementos como os que vou indicar. Isto é 
algo que lhes mostrará o que quero dizer. 
 Era aí como uma análise poderia, muito esquematicamente, insertar-se desde seu 
início até o final: rS-rI-ir-iS-sS-sI-SR-iR-rR-rS: realizar o símbolo. 
 Este é o ponto de partida: o analista é um personagem simbólico como tal; e é a este 
título que se o consulta, posto que é, ao mesmo tempo, o símbolo de toda potência, é 
uma autoridade, o amo. É nesta perspectiva que o sujeito o encontra, colocando-se em 
uma certa postura que é aproximadamente esta: “é você que tem minha verdade”, postura 
completamente ilusória, mas típica. 
 rI: - depois teremos a realização da imagem. 
 Quer dizer, a instauração mais ou menos narcisista na qual o sujeito entra numa 
conduta que é justamente analisada como resistência. Em virtude de quê? De uma 
relação iI. 
 iI: imaginação 
 imagem 
 É a captação da imagem essencial constitutiva de toda realização imaginária, enquanto 
a consideramos como instintiva; esta realização da imagem é que faz com que a 
espinocha fêmea seja atraída pelas mesmas cores que a espinocha macho e as duas 
entrem progressivamente numa certa dança que as leva vocês já sabem onde. 
 O que é que a constitui na experiência analítica? Coloco-a no momento, dentro de uma 
círculo (cf. mais adiante). 
 Depois disso temos: 
 iR: O que é a continuidade da transformação precedente: I é transformado em R. 
 É o que se faz de resistência, de transferência negativa, ou ainda, no limite, de delírio, 
que há na análise. É de certa maneira o que os analistas tendem a definir: "a análise é um 
delírio bem organizado", fórmula que tenho ouvido da boca de meus mestres, que é 
parcial, porém não inexata. 
 E depois, que acontece? Se o final é bom, se o sujeito não tem todas as div,posições 
para ser psicótico (em cujo caso permanece no estádio iR), passa a: 
 iS: a imaginação do símbolo. 
 Imagina o símbolo. Temos, na análise, mil exemplos da imaginação do símbolo. Por 
exemplo: o sonho; o sonho é uma imagem simbolizada. 
 Aqui intervém: 
 sS: que permite a subversão. 
 Que é a simbolização da imagem. 
 Dito de outro modo, o que denominamos "a interpretação". 
 Isto logo após o franqueamento da fase imaginária que aproximadamente engloba: 
 rI-iI-iR-iS -; começa a elucidação do sintoma pela interpretação (sS). 
 SI - 
 Logo temos: 
 -SR que é, em suma, a meta de toda saúde, e que não consiste (como se acredita) em 
adaptar-se a um real mais ou menos bem definido, organizado, senão em fazer 
reconhecer sua própria realidade; em outras palavras, seu próprio desejo. 
 Como tenho muitas vezes sublinhado, fazê-lo reconhecer por seus semelhantes, quer 
dizer, simbolizá-los. 
 Neste momento, reencontramos: 
 -rR. 
 O que nos permite chegar, afinal, ao: 
 rS. 
 Que é exatamente o ponto de onde partimos. 
 Não pode ser de outra maneira, posto que o analista é humanamente válido, não pode 
ser mais que circular. E uma análise pode percorrer várias vezes este ciclo. 
 iI - é a parte própria da análise, é o que se denomina (sem razão) “a comunicação dos 
inconscientes". 
 O analista deve ser capaz de compreender o jogo que joga seu sujeito. Deve 
compreender que ele mesmo é a espinocha macho ou fêmea, segundo a dança que faz 
seu sujeito. 
 O sS é a simbolização do símbolo. É o analista que deve fazê-la. Não há dificuldade: 
ele mesmo é, desde o início um símbolo. É preferível que o faça com totalidade, cultura e 
inteligência. É por isso que é preferível, que é necessário que o analista tenha uma 
formação tão completa quanto possível na ordem cultural. Quanto mais vocês saibam, 
mais lhes servirá. E isto (sS) não deve intervir senão depois de um certo estádio, depois 
de uma certa etapa franqueada. 
 E em particular, é neste registro (não é à-toa que destaquei) que o sujeito forma 
sempre uma certa unidade mais ou menos sucessiva, cujo elemento essencial se constitui 
na transferência. E o analista vem simbolizar o supereu, que é o símbolo dos símbolos. O 
supereu é simplesmente uma palavra que não diz nada (uma palavra que proíbe). O 
analista não tem nenhuma dificuldade para simbolizá-la. É precisamente o que faz. 
 O rR é seu trabalho, impropriamente designado com a expressão de "benévola 
neutralidade", da qual se fala sempre, e que simplesmente quer dizer que, para um 
analista, todas as realidades são equivalentes; que todas são realidades. Isto parte da 
idéia de que tudo o que é real é racional e vice-versa. É o que lhe deve dar essa 
benevolência contra a qual vem romper-se a resistência e lhe permite levar a bom termo a 
sua análise. 
 Tudo isso foi dito um pouco rapidamente. 
 Poderia ter-lhes falado de outras coisas. Porém, no fim, isto não é mais que uma 
introdução, um prefácio do qual tentarei tratar mais completamente, mais corretamente, o 
informe que espero dar-lhes em Roma, sobre o tema da linguagem na Psicanálise. 
 
 Tradução: Maria Sara I-I. Gomes 
Silvia Mangaravite 
* Este texto foi publicado em Papéis, n.4, abril de 1996

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