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DOSSIE HIPNOSE (GUIA DEFINITIVO)

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC 
 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
HELENO FELIX TORRES 
 
 
 
 
 
A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009
 
 
HELENO FELIX TORRES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado 
para obtenção do grau de bacharel no curso de 
Psicologia da Universidade do Extremo Sul 
Catarinense -UNESC. 
 
Orientador: Prof. Jeverson Rogerio Costa 
Reichow 
 
 
 
 
 
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009 
11 
 
 
HELENO FELIX TORRES 
 
 
 
 
A HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela 
Banca Examinadora para obtenção do Grau de 
Bacharel no Curso de Psicologia da 
Universidade do Extremo Sul Catarinense - 
UNESC, com Linha de Pesquisa em Neuro 
Psicologia. 
 
 
Criciúma, 22 de Junho de 2009. (data da defesa) 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Prof. Jeverson Rogerio Costa Reichow – Mestre - (UNESC) - Orientador 
 
Dr. Antonio Carlos Althoff – Especialista em Reumatologia 
 
Profª. Elenice De Freitas Sais – Especialista - (UNESC) 
 
 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Se você quiser comer hoje, cultive arroz. 
Se você quiser comer amanhã, cultive árvores frutíferas. 
Se você quiser que seus filhos e netos comam, cultive homens”. 
 
ConfúcioConfúcioConfúcioConfúcio 
 
13 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Rever conceitos tão antigos e tão atuais sobre a prática hipnótica implica 
necessariamente em revisitar os nomes que figuram na sua história. Das antigas 
práticas ritualísticas pagãs, do culto aos deuses, passando por Mesmer, Freud e 
Erickson, apenas entre os mais expressivos, chega-se ao presente com os 
ultramodernos exames de tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância 
magnética do fluxo sanguíneo e seus proeminentes executores. À luz de novos 
achados científicos, a hipnose se renova e reforça uma posição que já conquistou na 
comunidade médica, a saber o expressivo relato de casos que dão conta da sua 
eficácia na prática clínica, indo mais pontualmente esclarecer o funcionamento do 
cérebro humano quando ativado pelo estado hipnótico. Especificamente na clínica 
psicológica, a hipnose vem sendo utilizada com grande sucesso nos casos em que 
trata de ansiedade, fobias, traumas, drogadição, dependência em seus vários níveis, 
apenas para citar algumas desordens, razão pela qual o presente trabalho se 
inscreve, num esforço de resgatar a história da hipnose no mundo desde a 
Antigüidade até os dias atuais, os caminhos e descaminhos que percorreu para que 
hoje pudesse ocupar o lugar que ora ocupa: revestir-se da capa protetora da ciência 
e colocar-se a serviço do homem enquanto possibilidade de reduzir sofrimentos. 
 
 
Palavras-chave: Hipnose. Indução Hipnótica. Psicologia. Prática Clínica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1 – Divisão do Sistema Nervoso .................................................................... 36 
Figura 2 – Subdivisão do córtex cerebral .................................................................. 39 
Figura 3 – Áreas do cérebro e suas respectivas funções .......................................... 40 
Figura 4 – Modelo utilizado nos experimentos de Kosslyn & Col. ............................. 42 
Figura 5 – Variação da atividade normal de um recém-nascido................................ 43 
Figura 6 – Imagem de cérebro estimulado pela Serotonina ...................................... 43 
Figura 7 – Imagem do cérebro durante exame de IRMf ............................................ 44 
Figura 8 - Estimulação do cérebro sob efeito de sugestões pós-hipnóticas .............. 82 
 
 
15 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 01 - Aspectos da sugestão .......................................................................... 48 
Tabela 02 - Fatores da relação especialista-paciente ..................................................... .... 49 
Tabela 03 - Influência do meio ambiente e a relação especialista-paciente ......................... 50 
Tabela 04 - Classificação das sugestões ............................................................................. 51 
Tabela 05 - Tipos de temperamento .................................................................................... 53 
Tabela 06 - Características do paciente hipnotizado ........................................................... 54 
Tabela 07 - Alterações observáveis durante a hipnose ........................................................ 55 
Tabela 08 - Características psicológicas do estado hipnótico .............................................. 56 
Tabela 09 - Alterações em pacientes com ou sem sugestão hipnótica ................................ 57 
Tabela 10 - Escala De Torres Norry (mod. Por Moraes Passos) .......................................... 78 
Tabela 11 - Características a observar no estado hipnótico ................................................. 79 
Tabela 12 - Atribuições do Odontólogo ................................................................................ 84 
 
 
 
 
 
16 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
CFP – Conselho Federal de Psicologia......................................................................32 
SNA – Sistema Nervoso Autônomo...........................................................................35 
SNC - Sistema Nervoso Central.................................................................................36 
SNP – Sistema Nervoso Periférico.............................................................................36 
SNPS – Sistema Nervoso Periférico Somático..........................................................36 
SNPA – Sistema Nervoso Periférico Autônomo.........................................................36 
SNAS – Sistema Nervoso Autônomo Simpático........................................................37 
SNAP – Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático...............................................37 
PET – Tomografia por emissão de pósitrons ............................................................37 
MAT/URFGS – Matemática – Universidade Federal do Rio Grande do Su...............42 
FSCr – Fluxo sanguíneo cerebral regional ................................................................44 
IRMf – Ressonância Magnética Funcional.................................................................44 
EEG – Eletroencefalograma.......................................................................................44 
SHCL- Stanford Hypnotic Clinical Scale.....................................................................79 
SSTA - Sugestões para sintonização, treinamento e aproveitamento......................79 
AAC – Córtex anterior cingulado................................................................................82 
CFO – Conselho Federal de Odontologia..................................................................83 
CFM – ConselhoFederal de Medicina........................................................................97 
AMB – Associação Médica Brasileira.......................................................................100 
DOU – Diário Oficial da União..................................................................................110 
 
 
 
17 
17 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................10 
2 HISTÓRIA DA HIPNOSE ................................................................................................. 12 
2.1 As Origens .................................................................................................................. .13 
2.2 Hipnose na Era Moderna ........................................................................................... .23 
2.3 Hipnose no Brasil ...................................................................................................... .28 
2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil ..................................................................... .30 
3 HIPNOSE E CIÊNCIA ..................................................................................................... .33 
3.1 Neurofisiologia da Hipnose ....................................................................................... .35 
3.2 Consciência, Transe e Hipnose ................................................................................ .45 
3.3 Sugestão .................................................................................................................... .47 
3.4 Métodos/técnicas de Hipnoterapia com Hipnose ..................................................... 58 
3.5 Fenômenos Hipnóticos ............................................................................................. .66 
3.6 Técnicas Hipnóticas .................................................................................................. .70 
3.7 Estágios da Hipnose .................................................................................................. .77 
4 O USO DA HIPNOSE NA PRÁTICA CLÍNICA ............................................................... .80 
4.1 Hipnose na Clínica Médica ........................................................................................ .80 
4.2 Hipnose na Clínica Odontológica ............................................................................. .82 
4.3 Hipnose na Clínica Psicológica ................................................................................ .84 
5 METODOLOGIA ............................................................................................................. .87 
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ .88 
7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. .90 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. .91 
ANEXOS ........................................................................................................................... .97 
ANEXO I ............................................................................................................................ .97 
ANEXOII...............................................................................................................................107 
ANEXO III............ ........................................................................................................... ..108 
 
 
18 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Ao longo dos séculos, a hipnose foi sendo revelada por diferentes lentes, 
de acordo com cada momento histórico, mas ainda hoje guarda ranços de antigas 
concepções acerca de sua significação e efetiva contribuição para a prática clínica, 
tanto médica quanto psicológica. 
A associação com espetáculos de variedades, em que um convidado 
realizava ações incomuns e surreais induzido supostamente por hipnose, faz com 
que ainda nos tempos modernos ela sofra suas conseqüências. 
Iniciada muito antes da existência de relatos escritos da história humana, 
a hipnose já podia ser encontrada nas cerimônias religiosas e de cura de muitos 
povos primitivos, os quais se utilizavam dela para induzir seus participantes ao 
transe hipnótico. Sua importância não está em chamar estas cerimônias de 
religiosas, curandeirismo, ou alguma outra combinação que seja, mas sim que o 
estado de transe com características hipnóticas já existia, muito embora o termo 
tenha sido cunhado apenas no século XIX, com James Braid. 
Não é sem razão que o final do século passado e início deste também 
tenha sido muito fértil quanto à discussão da dimensão social da ciência, no sentido 
de que a compreensão da prática hipnótica não poderia passar distanciada dos 
processos comuns a uma comunidade científica que prima pelo conhecimento como 
forma de dar ao homem o melhor dos dois mundos, buscando a teoria para aplicar a 
prática. 
A preocupação com o bem-estar do homem num mundo cada vez mais 
agitado, onde as pessoas se veem acossadas pela matéria, faz a Psicologia voltar 
os olhos à humanidade como forma de buscar outros recursos que a faça conseguir 
um equilíbrio entre as exigências da vida moderna e o equilíbrio emocional, 
consequentemente procurando reduzir sofrimento. 
Nesse sentido, a hipnose tem se mostrado uma valiosa ferramenta, 
justificando o presente trabalho ao buscar responder por qual modo, como terapia 
complementar, atua na mente humana mudando comportamentos e favorecendo a 
remissão de patologias, físicas e ou emocionais, como insônia, enxaqueca, 
alcoolismo, no alívio da dor, para citar alguns, bem como sua importância. 
19 
 
 
Embora tenha sido apresentada sob diferentes conceitos ao longo de sua 
evolução, Barber a entende como um comportamento hipnótico sugerido a partir de 
atitudes positivas, motivações ou expectativas que predispõem o indivíduo a pensar 
e ou imaginar de boa vontade os temas sugeridos (FERREIRA, 2006). 
Na visão do próprio Ferreira, hipnose médica é “[...] essencialmente um 
estado da mente no qual as sugestões são mais profundamente aceitas do que no 
estado de vigília, mas também agem mais poderosamente do que seria possível 
durante o estado de vigília” (2003, p. 155). 
Para a Associação Americana de Psicologia, Divisão de Hipnose 
Psicológica, a hipnose consiste em 
 
 
 
[...] um procedimento durante o qual um profissional de saúde ou 
pesquisador sugere que um cliente, paciente, ou um sujeito experimente 
mudanças de sensações, percepções, pensamentos e comportamentos. O 
contexto hipnótico é geralmente estabelecido por um procedimento de 
indução. Embora haja muitas induções hipnóticas diferentes, a maioria inclui 
sugestões de relaxamento, calma e bem-estar. Instruções para pensar 
sobre experiências agradáveis são também comumente incluídas em 
induções hipnóticas (TIBÉRIO; de MARCO & PETEAN, 2004). 
 
 
Pela consciência dos inúmeros benefícios que a hipnose é capaz de 
apresentar, o objetivo geral deste trabalho está em destacar a importância da 
hipnose como terapia complementar em processos terapêuticos físicos e 
psicológicos. Começando por uma revisão bibliográfica sobre o assunto, passa a 
investigar e descrever a história da hipnose no Brasil e no mundo, além de 
esclarecer seu uso eficaz na prática clínica, bem como o estado legal em que se 
encontra atualmente junto aos profissionais na área das ciências da saúde e 
humanas. 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
2 HISTÓRIA DA HIPNOSE 
 
 
Etimologicamente, a palavra hipnose tem uma origem grega, cujo termo 
Hypnos significa sono, significado esse que provocou uma ligação com o ato de 
dormir e que perdura até os tempos atuais. Entretanto, é pertinente esclarecer que o 
estado hipnótico é muito mais do que isso, pois libera o paciente para a indução do 
transe, conduzindo-o a um estado de relaxamento semiconsciente, mas com 
manutenção do contato sensorial deste com o ambiente. 
Pelos conceitos desenvolvidos por Milton Erickson, um dos maiores 
expoentes em hipnose no mundo, o ser humano tem como característica a 
habilidade de responder às sugestões e aceitá-las. Com a utilização de técnicasde 
hipnose, o terapeuta dá ao paciente a chance de escutar realmente os conceitos 
mentais, de modo que este se torna receptivo aos padrões, às associações e aos 
modelos de funcionamento que conduzem à solução de problemas (ERICKSON, 
HERSHMAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006). Na visão dos autores, “[...] transe 
é um estado psicológico determinado da consciência [...] e que ele difere do estado 
comum da consciência” (p. 53). 
No entanto, embora aponte para a inexistência de estudos que 
comprovem a existência do transe, Ferreira (2006) considera um desserviço à 
indução hipnótica não reconhecer tal estado. Segundo ele, “[...] não havendo um 
estado para o paciente entrar, por que fazer o processo de indução?” (p. 54). 
Segundo Stark (apud FERREIRA, 2006), a influência da hipnose se liga à 
alteração do autocontrole na medida em que, ao prestar atenção a um determinado 
aspecto ou senti-lo, este se configura como “estado alterado”, e o fato de se esperar 
modificações a partir do que se pretenda que aconteça, produz alterações nos 
pensamentos, atos e sentimentos do indivíduo. 
Para William Edmonston Jr, o termo para descrever hipnose seria anesis, 
uma vez que o autor considera que o relaxamento é condição essencial para que o 
indivíduo responda melhor às sugestões (apud FERREIRA, 2006). 
 
 
 
21 
 
 
2.1 As Origens 
 
 
Embora a palavra hipnose tenha sido revelada ao homem apenas no 
século XVI, desde a Antiguidade esta se achava representada através de desenhos 
em cavernas, nas cerâmicas, por assírios e egípcios. Pincherle & Colaboradores 
(1985 apud ANDRADE FARIA, 1961) referem que em Tebas foi encontrado um 
baixo-relevo num sarcófago, cujo desenho denota um sacerdote induzindo um 
paciente. Conforme sustenta Bauer (2002), os homens primitivos registravam 
situações de sua vida cotidiana através de desenhos e outras simbolizações que 
tinham por objetivo representar seu modo de comunicação. No Talmude se faz 
alusão ao encantamento de serpentes, enquanto que os gregos antigos usavam o 
sono hipnótico para a cura de diversos males nos chamados “templos do sono”. 
O mais antigo relato de transmissão de fluidos através de passes foi 
registrado entre os sacerdotes caldeus há cerca de 2400 a.C. Entre os gregos e 
indianos, a hipnose apresentava-se sob a face de “milagres” operados por 
sacerdotes, bruxos ou feiticeiros, os quais se designavam mensageiros de Deus 
(AKSTEIN,1973, apud FERREIRA, 2006). 
Entre os egípcios, há registros de curas através da hipnose nos Papiros 
de Ebers (datado aproximadamente entre 1536-1534 a.C., nono ano do reinado de 
Amenophis I na XVIII Dinastia e publicado em 1875, em Leipzig, pelo egiptólogo 
George Ebers, segundo BAPTISTA e colaboradores, 2003, os quais dão uma idéia a 
respeito da teoria e prática da medicina egípcia antes de 1552 a.C., cujas culturas, 
regidas por um pensamento mágico-religioso, dão conta de que a atividade médica e 
seus médicos se encontravam sob a proteção divina (GARCIA-ALBEA, 1999). 
Considerado um dos precursores da hipnose, Franz Anton Mesmer, 
discípulo do padre Maximiliano Hehl - professor de astronomia na Universidade de 
Viena, ajudava seu mestre a aplicar magnetos que tinham as formas de vários 
órgãos humanos, utilizando-os de acordo com o local onde se alojava a doença do 
paciente. 
Sobre o assunto, Shrout (1985) comenta que padre Hehl sabia que suas 
curas tinham muito mais um cunho psicológico do que físico, pois se o poder de cura 
estivesse realmente nos magnetos, seriam indiferentes as formas, de onde se infere 
que a crença em talismãs ou amuletos sempre esteve presente entre os homens. 
22 
 
 
Como Hehl, Padre Gassner (SHROUT, 1985) também usava os 
magnetos, cujo ritual começava por deixar seus pacientes no centro de uma sala a 
sua espera, momento em que Gassner chegava até eles portando nas mãos 
estendidas ao alto um crucifixo negro. Seus pacientes eram antecipadamente 
avisados que de quando fossem por ele tocados com o crucifixo, deveriam cair 
imediatamente ao chão, numa espécie de morte, enquanto o padre expulsaria os 
demônios para devolver-lhes a saúde (BRYAN, 2009). Shrout (1985) também 
comenta sobre a dramaticidade que envolvia as sessões de cura de Padre Gassner, 
a qual envolvia o uso de mantos esvoaçantes, expressando-se em latim e com um 
crucifixo enfeitado com pedrarias. Entretanto, isso não impediu que o padre 
obtivesse uma média de cura de cerca de setenta e cinco por cento dos casos que 
atendeu (idem). 
Se Mesmer já se encontrava fascinado com os trabalhos de Hehl, depois 
de assistir várias performances do Padre Gassner, por volta de 1775, decidiu-se a 
estudar o assunto. Embora mais tarde se tenha comprovado a puerilidade de seu 
método, Mesmer conseguiu um sucesso considerável numa época em que sangrias 
e amputações eram as práticas médicas mais usadas, cujo caso de cura mais 
notável foi o de Maria Theresa Paradis, uma jovem pianista curada de cegueira em 
1777(FERREIRA, 2006). 
Aprimorando esta linha de trabalho, os apontamentos de Erickson, 
Hershman & Secter, (2003) referem os postulados de Mesmer, em que “[...] um certo 
fluido que circulava no corpo era influenciado por forças magnéticas originadas a 
partir dos corpos astrais” (p. 20). Os dados disponíveis na época davam 
credibilidade científica a sua teoria, coincidindo com o descobrimento da eletricidade 
e mais alguns avanços na astronomia. 
Dado o sucesso do método por ele empregado, Mesmer passou a 
acreditar que o poder de cura estava antes na pessoa do “magnetizador” do que no 
próprio instrumento, passando então a aplicar seu tratamento a várias pessoas ao 
mesmo tempo. Para tanto, idealizou uma grande tina (baquet em francês), 
distribuindo dentro dela garrafas de vidro com as bocas voltadas para o centro, 
cobertas com limalha de ferro e vidro moído, completando o restante do espaço com 
água. A séance (reunião) tinha início então com as pessoas alinhadas ao redor 
desta tina (comportava 130 pessoas de cada vez) segurando as garrafas de vidro, 
onde deveriam tocar a pessoa mais próxima. Entrando de modo impactante no 
23 
 
 
recinto, Mesmer ia de um em um aplicando passes até que eles caiam num transe 
cataléptico (SHROUT, 1985; FERREIRA, 2006). 
O alcance de suas curas deu-lhe uma reputação memorável, espalhando 
o Mesmerismo rapidamente pela Europa, ao mesmo tempo em que fez provocar em 
seus colegas uma grande animosidade, fazendo com que a Academia Francesa 
designasse uma comissão especial para investigá-lo, a qual foi composta por 
Benjamin Franklin, Lavoisier e Dr. Guillotin (o inventor da guilhotina), entre outros 
(ERICKSON, HERSHAN & SECTER, 2003; FERREIRA, 2006; SAURET, 2008). 
 
 
Una de las comisiones de investigación - la encabezada por Benjamin 
Franklin- estaba formada por miembros de la Facultad de Medicina -Borie, 
Sallin, DArcet y Guillotin -, y de la Academia de Ciencias - Le Roy, Bailly, 
Lavoisier-, mientras que la segunda estaba formada sólo por miembros 
notables de la Sociedad Real de Medicina - Possonier, Caille, Mauduyt, 
Audry y Laurent de Jussieu. Sus frutos fueron dos amplios informes 
(Commissaires de lAcadémiee de Sciences et la Faculté de Médecine, 
1784; Commissaires de la Société Royale de Médecine, 1784), 
reproducidos en forma amplia en la documentada obra editada por Burdin y 
Dubois (1841) (TORTOSA, GONZÁLEZ-ORDI e MIGUEL-TOBAL, 1999, 
p.8) 
 
 
As conclusões da comissão apontaram Mesmer como uma fraude, ao 
verificar que algumas pessoas eram sensíveis ao magnetismo animal e 
experimentavam uma reação convulsiva quando tocadas pelos objetos, porém sem 
conseguir identificar quais objetos tinham sido magnetizados, a menos que os 
vissem no momento do acontecido: “A imaginação sem magnetismo provoca 
convulsões, o magnetismo sem imaginação não provoca nada” (SAURET, 2008, p.27). 
Estas conclusões, seus acertos e desacertos foram brilhantemente 
tratados por Chertok & Stengers (1990), no livro O coração e a razão, a hipnose de 
Lavoisier à Lacan. 
Pincherle & Colaboradores (1985) sustentam que desde a Antiguidade o 
fenômeno mesmérico já era utilizado por sacerdotes egípcios, nos templos hindus, 
por gregos, por Paracelso no século XV, Van Helmont e Valentin no século XVI, 
Greatrakes no século XVII, Cagliostro no século XVIII, porém circunscritos à religião. 
O que Mesmer postulava com seus achados era uma explicação científica para tais 
ocorrências. 
24 
 
 
Entretanto, a originalidade do trabalho de Mesmer e que não teve o 
reconhecimento devido na época estava em que os pacientes eram capazes de 
alterar comportamentos mediante a sugestão dada por ele. É por esta razão que 
Erickson, Hershman & Secter (2003) apontam como base da psiquiatria dinâmica 
moderna o trabalho de Mesmer e sua teoria do magnetismo animal, além de que tais 
trabalhos permitiram que se aperfeiçoasse a percepção existente entre sugestão 
hipnótica e psicoterapia. 
Neubern (2008) aponta duas grandes consequências históricas para que 
o Mesmerismo fosse desqualificado enquanto ciência como foi. Primeiramente, o 
esquecimento de grandes nomes do magnetismo, não obstante “[...] suas 
contribuições para a construção da psicologia (p. 444)”. Num segundo plano, 
embora a hipnose “[...] fosse herdeira histórica do mesmerismo, seus promotores 
buscaram concebê-la como um método legitimamente científico, desvencilhado de 
noções místicas, como fluidos e imaginação, para se fundamentar nas estruturas 
nervosas do cérebro” (CARROY, 1991; MÉHEUST, 1999 apud NEUBERN, 2008, p. 
445). 
Armand Marie Jacques Chastenet de Puységur, Marquês de Puységur, foi 
seu discípulo mais aplicado, descobrindo o sonambulismo artificial em 1784, 
segundo Ferreira (2006) e Sauret (2008), professor titular da Universidade de 
Tolouse, que esteve no Brasil a convite de Universidades do Rio de Janeiro em 
2005. 
Sobre o assunto, Woznyak (2009) comenta que Puységur tratou Victor 
Race, um trabalhador de sua fazenda. Abaixo a tradução em espanhol da versão 
original inglesa: 
 
 
Cuando Victor, quien en condiciones normales nunca se habría atrevido a 
confiar sus problemas personales al señor de la casa, admitió en el 
transcurso del sueño magnético que estaba disgustado por una pelea que 
había tenido con su hermana, Puységur le sugirió que hiciera algo para 
resolver la querella y, después de despertar, sin recordar las palabras de 
Puységur, Victor obró de acuerdo con la sugestión del marqués (trad. 
VIVES, 2009). 
 
 
 
O sono lúcido apontado pelo Abade Faria, um sacerdote português, nada 
mais era do que “[...] a vontade do paciente”, afirmando que os determinantes de 
25 
 
 
cura eram a perfeita sintonia entre paciente e hipnotizador e a vontade de curar-se 
(FERREIRA, 2006, p.11). 
Em Londres, o Mesmerismo renovou-se com os estudos de um professor 
de Medicina da Universidade de Londres, o médico e professor Elliotson, o qual 
publicou suas descobertas no jornal intitulado Zoist (ERICSON, HERSHMAN & 
SECTER, 200; FERREIRA, 2006), com edição trimestral destinada a expor temas 
referentes ao Mesmerismo em1855. 
Os fenômenos hipnóticos foram investigados pela Associação Médica 
Britânica em 1891, cujo relatório apresentado no ano seguinte pode ser assim 
resumido: 
� Pleno convencimento quanto ao fenômeno; 
� O termo “hipnose” não é representativo do que ela seja, uma vez que o sono 
fisiológico e a hipnose não são a mesma coisa; 
� Eficaz no alívio das dores, embriaguez, na realização de atos cirúrgicos; 
� Deve ser usada exclusivamente por médicos para fins terapêuticos, apenas 
em homens. Quando em mulheres, diante de familiares ou pessoas do 
mesmo sexo; 
� Condenação para fins recreativos (FERREIRA, 2006). 
Simultaneamente aos estudos de Elliotson, James Braid usou o termo 
“Hipnose” e mesmo depois de arrepender-se do nome, este já se encontrava de tal 
modo associado à prática que não foi mais possível mudá-lo (ERICSON, 
HERSHMAN & SECTER, 2003). Contudo, o prefixo hypn- já havia sido grafado 20 
anos antes pelo francês Etienne Felix d’Henin de Cuvillers (FERREIRA, 2006). 
A concepção de Braid acerca da hipnose e dos mitos que já naquela 
época a circundavam ficam bastante explícitas a partir da tradução de um excerto 
retirado do seu livro Neurypnology Or The rationale of nervous sleep considered in 
relation with animal magnetism (FERREIRA, 2006): 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
Estou ciente do grande prejuízo que foi levantado contra o Mesmerismo a 
partir da idéia que poderia estar voltado para fins imorais. No que respeita 
ao estado Neuro-hipnótico, induzido pelo método explicado no presente 
tratado, estou certo de que tal não merece censura. Eu tenho provado por 
experiências, tanto em público como privado que, durante o estado de 
excitação, o julgamento é suficientemente ativo para os pacientes, se 
possível, ainda mais fastidioso no que diz respeito à sobriedade de conduta, 
do que na condição de vigília; [...] E, finalmente, o estado não pode ser 
induzido, em qualquer fase, a não ser com o conhecimento e consentimento 
do paciente. Isto é mais do que se pode dizer a respeito de uma grande 
parte dos nossos mais valiosos medicamentos, [...] Ela nunca deveria ser 
perdido de vista, pois que existe o uso e abuso de qualquer coisa na 
natureza. Trata-se do uso, e apenas da utilização judiciosa do Hypnotismo, 
que eu defendo. (BRAID, 1843,pp.10-11 ) 
 
 
 
Shrout (1985) sustenta que a descoberta de que algumas pessoas tinham 
a capacidade de entrar em transe hipnótico ao fixar o olhar em um ponto de luz fez 
Braid ir mais adiante, testando sugestões para apressar o processo. Em seus 
estudos, percebeu que a concentração do próprio paciente em um objetivo 
determinava o processo hipnótico, sendo que em 1847 relatou fenômenos de 
catalepsia, anestesia e amnésia, os quais eram possíveis mesmo sem o paciente 
dormir (FERREIRA, 2006). 
Embora seus estudos pouco tenham influenciado os ingleses, estes foram 
retomados “[...] como técnica anestésica, pelos médicos franceses como Azam, 
Broca, Cloquet, Velpeau”, (SAURET, 2008, p. 28), cuja prática anestésica a partir da 
hipnose se mantém até o uso do clorofórmio. 
Na Índia, o Mesmerismo chegou através de James Esdaile, um cirurgião 
escocês que fez inúmeras cirurgias utilizando anestesia mesmérica, inclusive com a 
publicação em 1850 do livro Mesmerism in Indian and its Practical Aplication In 
Surgery and Medicine e em 1918 pela Harvard College Library. Abaixo, a tradução 
de um pequeno trecho prefaciado pelo autor e retirado do livro no original: 
 
 
O que eu agora ofereço ao público é o resultado de apenas oito meses de 
prática do Mesmerismo em um hospital de caridade, mas foi suficiente para 
demonstrar a singular mais benéfica influência que o Mesmerismo exerce 
sobre a constituição do povo de Bengala, e que intervenção médico-
cirúrgica indolor, entre outras vantagens, são um direito natural; [...]. 
Hooghly, Fevereiro, 1 º, 1846. (ESDAILE, 1847, p.7) 
 
 
No entanto, mais detalhadamente pode se analisar sua prática pela 
descrição feita a partir de alguns atendimentos que realizou: 
27 
 
 
13 de julho – 4 homens e 1 mulher deram entrada hoje: 
Nº 1 – lumbago 
Nº 2 – ciático 
Nº 3 – dor ao longo do nervo crural (parte da frente da coxa nos quadríceps, 
tendo por origem uma agressão do nervo entre a 3ª e a 4ª vértebra lombar) 
Nº 4 - reumatismo sifilítico 
Nº 5 - ditto (sem tradução – grifo meu) 
Todos foram usualmente manipulados, observando-se a respiração. Depois 
do primeiro dia, todos foram induzidos a beber água “mesmerizada” 
diariamente, até o 17º dia, [...] no caso do sifilítico, os benefícios não foramos esperados; aqueles que constituíam uma doença específica continuaram 
em tratamento; as dores locais foram atenuadas [...] (ESDAILE, 1847, p.7) 
 
 
 
A valiosa contribuição de James Esdaile ao estudo da hipnose faz desse 
livro um importante documento científico, pois tal como os atuais pesquisadores, ele 
observou “[...] que havia uma sensível diminuição do trauma cirúrgico em seus 
pacientes hipnotizados. Ele ou seus auxiliares nativos mesmerizavam pacientes pela 
manhã e os deixavam em estado cataléptico” (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 
2003, p. 21). As cirurgias eram realizadas mais tarde, cujos casos eram 
documentados e observados por médicos e autoridades do local. 
Em Nancy, na França, Ambroise-Auguste Liebeault foi quem levou a 
termo os estudos sobre o tema, afirmando que os fenômenos do hipnotismo eram 
subjetivos em sua origem, pois era a sugestão verbal que representava o fator 
hipnotizante (SAURET, 2008). Lendo sobre os trabalhos de Braid, foi aplicando a 
hipnose por mais de vinte anos de forma quase gratuita para evitar a pecha de 
charlatão; porém, seu trabalho só foi reconhecido quando tratou de um caso enviado 
por um colega neurologista e professor da faculdade de Medicina, Bernheim. 
Em tratamento há seis anos sem lograr êxito, nas mãos de Liebeault o 
paciente curou-se após algumas sessões de hipnose. Daí em diante, os dois, 
Liébeault e Bernheim, trataram cerca de dez mil pacientes (ERICKSON, 
HERSHMAN & SECTER, 2003), o que permitiu à Bernheim elaborar o primeiro 
tratado sobre hipnose – Suggestive therapeutics em 1886, publicando também o 
livro De la suggestion et de sés applications a la therapeutique (FERREIRA, 2006). 
Seus trabalhos criaram um referencial em hipnose, ficando conhecido como Escola 
de Nancy e chamando a atenção de especialistas no mundo inteiro. 
Sua obra, Confesiones de un medico hipnotizador, contém uma descrição 
de como sua técnica evoluiu: 
 
28 
 
 
Hice uso del método mas empleado para producir el sueno artificial, el de 
Dupotet y La Fontaine [...] De este procedimiento clásico, al que encontré 
inconvenientes, pasé a ensayar el de Braid [...] al procedimiento es 
conocido por los magnetizadores durante largo tiempo, añadimos la 
sugestión del sueno, ya utilizada por el abate Faria [...] A partir de esta 
reforma capital em mi manera de hipnotizar mis enfermos si durmieron 
tranquilamente y con mucha más rapidez.(In Lièbeault 1891, 290-293 apud 
TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI, 1999, p. 14) 
 
 
 
Enquanto Liebeault só teve seu trabalho reconhecido após a associação 
com Bernheim, este publicou diversos trabalhos sobre hipnose. Em 1891 publicou 
Hipnose, sugestão e psicoterapia (SAURET, 2008). Bernheim (apud TRIPICHIO, 
2009) afirmava que o sono hipnótico ou provocado era uma condição fisiológica 
possível de ser alcançada por qualquer pessoa, alguns mais facilmente que outros e 
que o estado hipnótico não era uma condição inerente à histeria. 
Ferreira (2006, p. 13; TRIPICHIO, 2009) comenta que Bernhein 
acreditava que a capacidade “[...] do cérebro de receber ou evocar idéias e sua 
tendência a realizá-las ou transformá-las em atos” era dada pela sugestão. 
A repercussão dos estudos realizados sobre hipnose estimulou outro 
francês, um fisiologista, a percorrer os caminhos do hipnotismo: Charles Richet, que 
por sua vez, levou Jean Martin Charcot, neurologista em Salpêtriêre, a focalizar a 
hipnose, afirmando que “[...] a hipnose era apenas uma outra forma de histeria” 
(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003, p. 22; FERREIRA, 2006). Acreditava 
Charcot que somente as pessoas histéricas poderiam ser hipnotizadas (SHROUT, 
1985). 
Segundo ele, o entendimento clínico para ocorrências de traumas 
psíquicos, comportamentos hipnóides, sugestão e representação inconsciente 
divergia daquelas até então aceitas pelos estudiosos da época, os quais 
acreditavam que tais problemas localizavam-se no cérebro ou eram provocados por 
alterações em seu funcionamento (FULGÊNCIO, 2006). 
Esta oposição de idéias entre as duas escolas deu início a uma longa luta 
(ANDERSSON, 2000 apud FULGÊNCIO, 2006), durando cerca de dez anos, mesmo 
após a morte de Charcot. 
Jean Martin Charcot ficou muito bem conhecido pelos profissionais de 
medicina por tantas e variadas realizações, como o banho de Charcot, pela doença 
de Charcot, pela junta de Charcot, pela síndrome de Charcot, microaneurisma de 
29 
 
 
Charcot-Bouchard, esclerose lateral, entre muitos outros, além de seu trabalho com 
a atrofia muscular neuropática progressiva, de conhecimento de todos os estudantes 
de medicina, conforme aponta Teixeira (2001). A neurologia se colocou como uma 
especialidade médica na segunda metade do século XIX em decorrência de seus 
estudos e de seus discípulos em Salpêtrière. 
Em 1878, Charcot apresentou a teoria de três estágios hipnóticos: 
catalepsia – fixação do olhar do paciente num determinado objeto luminoso, 
produção de um som abruptamente; letargia - paciente de olhos fechados ou cessar 
o objeto luminoso; sonambulismo – pressão ou fricção no alto da cabeça 
(FERREIRA, 2006). 
No entanto, mesmo sua fama não o poupou de ver enfraquecida sua 
reputação quando defendeu, contra as teorias da Escola de Nancy, que a hipnose 
seria um estado patológico capaz de enfraquecer a mente humana, situação que 
muito se agravou após sua morte quando um colaborador direto, Babinski, deu 
declarações sobre falsas curas sustentadas por Charcot. Além disso, Janet, seu 
aluno e Dubois, aluno de Bernheim, viriam mais tarde a concordar com os preceitos 
da Escola de Nancy (SAURET, 2008). 
Um dos colaboradores de Charcot, Pierre Janet, publicou sua tese de 
doutorado sob o título “L'Automatisme psychologique” em 1889 na Sorbonne, a 
primeira de uma série de tratados sobre as manifestações do inconsciente, estudos 
que serviram de base para reputá-lo como o fundador da moderna psicologia 
dinâmica (THEÓPHILO ROQUE, 2009). 
Neste tratado, Janet reorganizou a consciência sob três aspectos: 
catalepsia (consciência puramente afetiva, reduzida às sensações e às imagens), a 
sugestão (consciência desprovida de controle, orientação e percepção) e o 
sonambulismo, como um campo de consciência comparável ao estado vígil 
(CHERTOK & STENGERS, 1990). 
Muito natural então que a ampla divulgação na comunidade científica 
sobre a hipnose chamasse a atenção daquele que é considerado o fundador da 
psicanálise. Junto com Breuer, Freud havia usado a hipnose para ajudar pessoas 
com distúrbios emocionais (ERICKSON, HERSHAMN & SECTER, 2003). No 
entanto, como quisesse desenvolver técnicas próprias, em 1890 Freud foi para 
Nancy, através de uma bolsa de estudos do governo, passar algumas semanas na 
30 
 
 
Salpêtrière, em Paris, estudar com Jean-Martin Charcot, o qual realizava 
experiências com doentes mentais, principalmente a histeria, utilizando a hipnose. 
Para Breuer, as doenças mentais provinham de conflitos que estavam 
localizados na mente da pessoa, e não necessariamente biológicos. Breuer 
acreditava que através da hipnose a pessoa poderia driblar censuras que a 
impediriam de lembrar certos fatos (os traumas) e assim livrar-se dos males que as 
incomodavam. Freud depois descreveu esse estado como catarse. 
Seu caso mais famoso e para o qual contou com a ajuda de Freud foi a 
paciente cujo pseudônimo era Anna O, uma moça de 21 anos, depressiva e 
hipocondríaca (quadro na época denominado "histeria"); ela se acreditava paralítica 
em algumas ocasiões, ou não conseguia beber água mesmo estando com sede, e 
se sentia incapaz de falar seu próprio idioma, o alemão, recorrendo ao francês ou 
inglês para se comunicar. Breuer submeteu-a à hipnose e ela relatou casos de sua 
infância, o que lhe causava enorme bem-estar após o transe hipnótico. 
Freud (1888 apud GOMES, 2005, p. 149) refere, aoprefaciar a tradução 
do livro de Bernheim, De la suggestion, que a questão a colocar seria “[...] saber se 
todos fenômenos da hipnose devem passar em algum lugar através da esfera 
psíquica [...] se as mudanças de excitabilidade que ocorrem na hipnose afetam 
invariavelmente apenas a região do córtex cerebral”. Aqui se encontram as primeiras 
indicações de uma preocupação bastante atual, que é a de investigar as bases 
neurais da hipnose. 
Embora a hipnose fosse o tema em voga no meio científico, Freud a 
descartou como técnica de cura, passando a usar a técnica desenvolvida por ele de 
“associação de idéias”, convencido que estava de que ao induzir o paciente a um 
estado de total relaxamento, este recordava emoções recalcadas e que eram a 
causa de seus distúrbios. Esta convicção, conforme sustenta Cobra (2009) fez Freud 
formular a teoria 
 
 
[...] de que os sintomas histéricos teriam origem na energia dos processos 
mentais os quais, impedidos de influenciar a consciência, são desviadas 
[sic] para a inervação do corpo e convertidos nesses sintomas. Devido à 
natureza das experiências traumáticas recordadas pelos pacientes, ficou 
convencido de que o sexo tinha parte dominante na etiologia das neuroses. 
Logo passou a considerar o desejo sexual como motivação praticamente 
única do comportamento humano, quer direta, quer indiretamente. Essa 
ênfase foi a principal causa do afastamento de Breuer, e do rompimento que 
ocorreria no futuro com vários de seus colegas. (COBRA, 2009) 
31 
 
 
Nos anos subsequentes, especialistas de várias partes do mundo, entre 
eles Bramwell e Moll da Grã-Bretanha (apud BRYAN, 2008), Morton Prince (apud 
PINCHERLE & COLABORADORES, 1985), McDougall (apud ERICKSON, 
HERSHMAN & SECTER, 2003) dos Estados Unidos e Pavlov na Rússia 
(FERREIRA, 2006), continuaram a fazer uso do hipnotismo, especialmente os 
neurologistas, uma vez que a maior parte das doenças mentais era estudada à luz 
da neurologia, os quais foram influenciados diretamente pelos trabalhos de Freud. 
 
 
2.2 Hipnose na Era Moderna 
 
 
Outro nome referenciado em hipnose, Pavlov (Escola de Reflexologia) 
teceu suas teorias sobre o tema quando começou a trabalhar com reflexo 
condicionado, as quais originaram Sobre a fisiologia no estado hipnótico do cão. 
Suas anotações o levaram a afirmar que os reflexos condicionados respondem pela 
adaptação do homem ao meio, cujos estímulos podem vir do ambiente ou do próprio 
organismo. 
Ferreira (2006) considera que durante a ocorrência da hipnose, segundo 
a teoria de Pavlov, a partir de um estímulo inicial no córtex cerebral atuando 
repetidamente (que pode ser visual, tátil, auditivo, cinestésico), este provoca uma 
ação inibidora reflexa em todos os estímulos iniciais, embora o paciente continue em 
estado de vigília. A seguir, assertivas quanto ao cansaço das pálpebras produz o 
fechamento dos olhos. Neste exemplo, o estímulo é auditivo, uma vez que é pela 
fala que o hipnotizador mantém o hipnotizado em estado hipnótico. 
Em estudos conduzidos por Fernandes-Guardiola (2005), os 
experimentos de Pavlov mostraram novos caminhos para tratar os fenômenos 
psíquicos ao considerar os reflexos do meio sobre o organismo humano: 
 
 
? é características diferenciales hay entre estos nuevos fenômenos en 
comparación com l os fisiológicos? [...] la diferencia consiste em que, 
mientras em La forma fisiológica la sustância entra em contacto directo con 
el organismo, em la psíquica actúa a distancia [..]; cuantos reflejos 
fisiológicos desencadenan la nariz, los ojos y los oídos, reflejos que son, 
por consiguiente, reflejos a distancia! (PAVLOV 1903/1968 apud 
FERNANDES-GUARDIOLA: 2005, p. 57). 
32 
 
 
Com o advento da Primeira Guerra Mundial e o grande número de 
pessoas com traumatismos, tanto físicos quanto psicológicos, o assunto voltou à 
tona com o psicanalista alemão Ernst Simmel, que desenvolveu a técnica chamada 
hipnoanálise. Durante a Segunda Guerra, Grinker e Spiegel utilizaram barbitúricos 
para induzir a hipnose através de medicamentos (ERICKSON, HERSHMAN & 
SECTER, 2003). 
O interesse dos americanos foi despertado por Clark L. Hull, com suas 
observações registradas no livro Hypnosis and suggestibility, em que o autor, em 
comentários de Horton & Crawford no Jornal Americano de Hipnose (2009) conclui 
que “[...] a única coisa que parece caracterizar a hipnose como tal e que dá qualquer 
justificativa para a prática de chamar-lhe um "estado" é a sua 
hipersugestionabilidade generalizada”. 
A guerra da Coréia entre os anos de 1950 a 1953 foi mais um dos 
momentos em que se fez ressurgir a prática da hipnose nos Estados Unidos e na 
Inglaterra, o que fez a British Medical Association e a American Medical Association 
decidirem pela inclusão da hipnose nos currículos dos cursos de medicina 
(ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003), tendo em vista sua reconhecida 
eficácia no tratamento de várias patologias, tanto físicas quanto psicossomáticas. 
Estas aprovaram também oficialmente o uso do método hipnótico como tratamento 
auxiliar em 1955 e 1958, respectivamente, segundo os apontamentos de Horton & 
Crawford (2009). 
Apontado como uma das maiores autoridades em hipnoterapia e 
psicoterapia breve, Milton Erickson é considerado dentro dos estudos em hipnose o 
que foi Freud para a psicanálise. 
A hipnoterapia Ericksoniana, assim chamada em razão de ter sido 
elaborada por Milton Hyland Erickson (1901 - 1980), psiquiatra americano do início 
do século XX, passou a ser considerada uma divisora de águas entre a hipnoterapia 
clássica, estabelecida à época da experimentação científica, e o modelo vigente na 
atualidade. Coautor de cinco livros sobre o assunto, Erickson publicou mais 130 
artigos, a maioria deles versando sobre as aplicações da hipnose, buscando 
expandir e reformular a forma pela qual se compreendia a hipnose e a forma de 
trabalhar os fenômenos a ela associados. 
No prefácio de Hipnose Médica e Odontológica, Aplicações Práticas, 
Jeffrey Zeig afirma que Erickson criou um modelo de tratamento em que procurou 
33 
 
 
utilizar recursos do próprio paciente, mudando com isso o curso da hipnose, pois até 
então esta era praticada a partir de sugestões dadas ao paciente pelo hipnotizador, 
mas sem considerar suas motivações intrínsecas. As anotações de Erickson, 
Hershman & Secter (2003, p. 9) dão conta de que “O trabalho de Erickson parte de 
dentro para fora (inside out) e métodos indiretos eram utilizados para despertar 
forças do paciente, ao invés da aplicação de sugestões poderosas dirigidas contra 
um paciente passivo”. 
Pelas palavras de Zeig (ERICKSON, HERSHMAN & SECTER, 2003) se 
depreende o quanto o trabalho de Milton Erickson influenciou a comunidade 
científica, ao elaborar uma teoria que prometia desvelar os meandros da mente 
humana, ajudando o indivíduo a encontrar dentro de si mesmo a resposta para os 
seus males. 
Zeig (2003) considera que uma razão bastante plausível para o sucesso 
dos estudos de Erickson tenha sido o fato de ter usado em sua própria vida seus 
ensinamentos, uma vez que usava a hipnose para controlar a dor praticamente 
todos os dias. Pela citação abaixo, é possível entrever uma fração de sua técnica: 
 
 
 
Quando Erickson realizava auto-hipnose [sic] para controlar o sofrimento, 
ele não se programava; ao invés disso, deixava seu inconsciente trabalhar a 
idéia de conforto e então seguia as sugestões que recebia. [...] prestava 
atenção na posição do polegar entre seus dedos, logo que levantava da 
cama. Se estivesse entre seus dedos mínimo e anular, isto significava que 
tinha controlado bastante a dor durante a noite. Caso estivesse entre o 
anular e o médio, tinha controlado menos dor; e se estivesse entre o médio 
e o indicador, ainda menos. Dessa forma, ele tinha uma idéia de quanta 
energia disponívelteria para o trabalho daquele dia e então sabia que o 
inconsciente pode funcionar de forma autônoma e benigna (ZEIG, 2003, p. 
52) 
 
 
 
Um outro ponto que o autor considera essencial ao sucesso de Erickson 
era o seu lado humano, capaz de dedicar uma preocupação e uma generosidade 
genuína a quem viesse em busca de auxílio, sem poupar tempo ou esforço. 
Embora não fosse um intelectual no sentido acadêmico, sua fala era 
extremamente clara e correta, com uma atenção especial à linguagem, 
preocupando-se em se fazer entender de forma cristalina a quem quer que o ouvisse 
(ZEIG, 2003). Não raro utilizava seus conhecimentos em literatura, agricultura e 
antropologia para lidar com os pacientes. 
34 
 
 
A comunicação de múltiplos níveis idealizada por Erickson se estabelece 
a partir de conteúdos verbais e comportamentos não-verbais e as implicações 
decorrentes de ambos os processos (ZEIG, 2003). 
Erickson estudou profundamente a hipnose e seus fenômenos durante 
toda sua vida, demonstrando-a como um fenômeno natural da mente humana, bem 
como sua existência e efeitos no cotidiano. Utilizou a hipnose em praticamente todos 
os problemas psicológicos, sendo autor de inúmeros artigos, livros e pesquisas 
científicas na área. Dentre as diversas contribuições de Erickson para o campo da 
Psicologia pode-se citar o conceito de utilização da realidade individual do paciente, 
a Terapia Naturalista, as diferentes formas de comunicação indireta, a técnica de 
confusão e de entremear. É considerado o maior hipnoterapeuta do século XX 
devido a sua abordagem breve, estratégica e voltada para a solução de problemas 
(ZEIG, 2003). 
Em 1941, White expôs sua teoria do comportamento dirigido, onde o autor 
teorizou que o objetivo principal é conduzir a ação do paciente a um comportamento 
previamente determinado pelo hipnotizador, mas que também ele, paciente, entenda 
o objetivo do trabalho (FERREIRA, 2006). 
A complexidade do transe hipnótico levou Wolberg a afirmar que o transe 
se refere tanto a elementos psicológicos quanto fisiológicos e por esse motivo não 
pode ser explicado de uma forma excludente (FERREIRA, 2006). 
Australiano, mas que estabeleceu sua prática clínica na Inglaterra, 
Sydney J. Van Pelt foi outro médico a utilizar largamente a hipnose em seus 
pacientes, além de difundir o conhecimento científico adquirido por meio do seu 
trabalho. Sobre o assunto, Ferreira (2006, p.16-17) tem a comentar que Van Pelt 
considerava que hipnose seria uma “[...] ‘superconcentração da mente’ [...]”, uma 
vez que durante o processo hipnótico, “[...] ‘as unidades de poder mental’ [...]” 
convergem para um foco específico, quando então seriam afetadas pela sugestão. 
A teoria da exclusão psíquica relativa da mente sustenta a premissa de 
que o indivíduo tem duas mentes: a mente objetiva, que age indutiva e 
dedutivamente e a subjetiva, que só raciocina dedutivamente. Quando a pessoa 
entra em estado hipnótico, dá lugar à mente subjetiva (FERREIRA, 2006). 
A entrada definitiva da hipnose nos laboratórios experimentais inicia no 
período denominado Hipnose Científica, cujos fundamentos se assentam sobre os 
trabalhos de três grandes laboratórios, cada um com visões particulares. O de 
35 
 
 
Hilgard, fundado em 1957, na Universidade de Stanford, estuda as relações da 
hipnose com variáveis como idade, sexo, características da personalidade, etc. 
(Idem, 2006). 
Kihlstron (2004) aponta que Stanford Hipnótico Susceptibility Scales, o 
método de escala de suscetibilidade hipnótica, concebido por Hilgard e 
Weitzenhoffer no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, começa com um 
procedimento padronizado de indução hipnótica seguido por uma série de sugestões 
para experiências imaginativas. O tema da resposta a cada uma dessas sugestões 
é classificada então de acordo com um critério objetivo-comportamental. 
O referencial de Barber, na Fundação Medfiels do Hospital de 
Massachusets, tinha por objetivo estudar o papel e os efeitos da imaginação, 
expectativas, crenças, motivações e da emoção sobre a capacidade de 
hipnotização. Segundo Chaves (2006), nos últimos anos Barber teria se empenhado 
em encontrar um terreno comum entre as perspectivas teóricas da hipnose. Em seus 
estudos, aponta três tipos diferentes de classificação hipnótica: um tipo seria 
constituído por indivíduo com alta taxa de motivação, com atitude positiva em 
relação à hipnose. Outro tipo seria o indivíduo mais propenso à fantasia. O terceiro 
tipo incluiu o virtualmente propenso à sugestão hipnótica, o qual exibe várias formas 
de amnésia infantil. 
Por último, fundado em 1960 na Universidade de Harvard, o laboratório 
de Orne, dedica-se a estudar os fatores motivacionais da hipnose e os diferentes 
fenômenos hipnóticos como regressão hipnótica, produção de amnésia e 
hipermnésia. De seus primeiros trabalhos sobre hipnose, a grande maioria versa 
sobre técnicas de autorregulação hipnótica, de modo a reduzir estresse e fadiga 
(KIHLSTRON & FRANKEL, 2000). 
 
 
2.3 Hipnose no Brasil 
 
 
Do mesmo modo que a hipnose foi introduzida nos círculos médicos 
mundiais, no Brasil não foi diferente. Na época em que Freud e a Escola de Nancy 
estudavam-na cientificamente, em solo brasileiro estes estudos receberam o nome 
de método hipnótico-sugestivo, tal como preconizado por Bernheim. Um dos 
36 
 
 
primeiros a documentar e publicar um livro sobre o assunto em terras brasileiras foi 
Francisco Fajardo (CÂMARA, 2009), onde este afirma que quem trouxe a hipnose à 
corte brasileira foi o médico Érico Coelho, apresentando à Academia Imperial de 
Medicina em 1887 estudos sobre a cura do beribéri. Esta foi a primeira vez a se 
demonstrar o uso da hipnose como ato médico, obtendo aprovação da Academia. 
A procura pelas publicações estrangeiras sobre hipnose e suas 
aplicações práticas despertou um crescente interesse não apenas na classe médica, 
mas também entre os intelectuais da época, além de provocar inúmeras polêmicas, 
inclusive com a igreja. O médico Érico Coelho foi injuriado pelo jornal católico “O 
Apóstolo”, que contestava a prática hipnótica. Em sua defesa saiu um artigo no 
jornal leigo da época, “O Paiz”, ao qual Érico Coelho dirigiu uma carta de 
agradecimento, citada abaixo por Câmara (2009): 
 
Amigo Sr. Redator – Acabo de saber, lendo O Paiz, numero [sic] de hoje, 
que tomastes o trabalho de referir-vos aos impropérios que O Apostolo [sic] 
se dignou despejar ontem contra mim, a pretexto de vos contestar as 
virtudes da medicina sugestiva. Relevai, prezado Sr. redator, que eu vos 
não gabe o gosto e a paciência [...] Entretanto devo dizer que vos fico muito 
grato, e de mais a mais obrigado me fareis, se acaso conseguirdes indagar 
da Santa Madre Igreja por que regra a psicoterapia ofende a moral de O 
Apostolo [sic], quando é certo que o próprio Padre Eterno (no tempo em que 
foi moço) praticou o hipnotismo; haja exemplo a célebre ablação de costela 
que Adão sofreu durante o sono, tudo segundo reza o versículo, [...] que, 
apoiado em autor de tão boa nota, acalmeis as iracundas susceptibilidades 
de O Apostolo. [sic] Caso, porém, não possais ainda assim chama-lo [sic] à 
razão, o melhor será deixa-lo [sic] em liberdade. (CÂMARA, 2009) 
 
Na atualidade, a produção científica elaborada por estudiosos do tema 
aqui no Brasil vem crescendo, os quais, embora amparados em estudos por 
especialistas do mundo inteiro, estão aplicando a hipnose em pacientes e criando 
um referencial teórico para servir de guia a quem deseja se aprofundar no tema e 
buscar subsídios para novos trabalhos. Nomes como Antonio Carlos de Moraes 
Passos, Marlus Vinicius Costa Ferreira, Maurício Neubern, Célia Martins Cortez, 
Carlos Roberto Oliveira são alguns dos pesquisadores sobre a hipnose em diversas 
áreas do conhecimento. 
A pesquisadora, professora,doutora e psicóloga Yedda Costa dos Reis 
lançou em 2008 o livro Construindo Caminhos com a Hipnose Terapêutica: 
Hipnobiodramaturgia. Segundo nota da autora no site da Universidade Federal do 
37 
 
 
Rio de Janeiro, Hipnobiodramaturgia refere-se a uma nova abordagem 
psicoterápica, cujo campo de conhecimento foi aprovado e considerado um 
precursor, não apenas no Brasil como também no exterior: 
 
 
 
A Hipnobiodramaturgia nasceu da integração ou fusão das técnicas de 
psicodramaturgia, técnicas da hipnose e do programa Stressless. Os 
benefícios imediatos trazidos pela nova técnica são uma psicoterapia ao 
alcance de todos que necessitam de tratamento em curto prazo (REIS, 2009 
apud NOGUCHI, 2009). 
 
 
 
Em artigo publicado no site da Associação de Hipnose do Estado de São 
Paulo, o Dr. Joel Priori Maia (2009) considera como melhor denominação para a 
hipnose hoje praticada é a que chama de Hipnose Contemporânea. Segundo ele, a 
extensa variedade de teorias e procedimentos que tiveram como foco esclarecer 
mais pontualmente questões relativas à prática hipnótica fez com que a hipnose 
aplicada hoje ao campo da ciência apresentasse diferenças em relação ao que ele 
chama de Hipnose Clássica. 
Apresentada no IV Seminário São Paulo - Rio de Janeiro de Hipnose e 
Medicina Psicossomática, que se realizou em novembro de 1990 na cidade de São 
Paulo, o tema Hipnose Contemporânea foi debatido em mesa redonda pelos Drs. 
Álvaro Badra, Antonio Rezende de Castro Monteiro, David Akstein, Joel Priori Maia e 
José Monteiro. A mesa foi coordenada pelo Prof. Dr. Antonio Carlos de Moraes 
Passos. 
Uma outra abordagem em hipnose é praticada sob a denominação de 
Hipnose Condicionativa, cujo autor, Luiz Carlos Crozera, defende que esta não se 
trata de uma junção de outras técnicas, mas sim uma nova elaboração, em que o 
paciente é passivamente tratado através da hipnose clínica, para tanto se utilizando 
de um mecanismo de ordens e comandos diretos à mente humana. Nesta nova 
proposta, não existe a escuta terapêutica, mas apenas a voz do hipnólogo 
(CROZERA, 2009). 
 
 
 
 
 
38 
 
 
2.3.1 Cronologia do Hipnotismo no Brasil 
 
 
Conforme estudos apontados por Fernando Portela Câmara (2009), a 
hipnose encontrou em solo brasileiro um terreno fértil onde aplicar tais estudos. 
Abaixo, um resumo cronológico: 
1823 – O médico pernambucano João Lopes Cardoso Machado publica Dicionário 
Médico-Prático – Para Uso dos que Tratam da Saúde pública, Onde Não Há 
Professores de Medicina. 
1853 – Tradução portuguesa do livro de Du Potet, Prática Elementar do 
Magnetismo. 
1857 – O Dr. José Maurício Nunes Garcia, professor da Faculdade de Medicina do 
Rio de Janeiro, edita Estudos Sobre a Fotografia Fisiológica. 
1861 – Fundada a Sociedade Propaganda do Magnetismo e o Júri Magnético do Rio 
de Janeiro por D. Pedro II, com pesquisa e tratamento pelo magnetismo animal. 
1876 – Publicação do trabalho "Memória Sobre o Fluido Universal ou Éter", onde, 
entre outras coisas, prefigura a idéia de bioeletrogênese, de autoria de Melo Moraes. 
Dias da Cruz. Ferreira de Abreu, Gama Lobo e Gonzaga Filho pesquisavam o 
magnetismo animal e o seu potencial terapêutico, ainda desconhecendo os 
trabalhos de Braid sobre hipnotismo. 
1887 – O Dr. Érico Coelho apresenta um caso de cura de beribéri pela hipnoterapia 
sugestiva à Academia Imperial de Medicina. Ainda segundo o autor, é a primeira 
apresentação da psicoterapia à medicina brasileira. 
1888 – Francisco de Paula Fajardo Júnior é doutorado em medicina com a 
dissertação "Hipnotismo" (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), Cunha Cruz 
com a tese "Hipnotismo e Sugestão – Sua Aplicação à Tocologia", e Peixoto de 
Moura, com a dissertação “Fisiologia Patológica dos Fenômenos Hipnóticos". Na 
Bahia, Affonso Alves é doutorado com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento 
das Moléstias Psíquicas". 
1889 – Publicação do livro de Fajardo baseado na sua tese de doutoramento. Neste 
mesmo ano é apresentado, juntamente com Alfredo Barcellos, Aureliano Portugal e 
Érico Coelho, trabalhos sobre hipnose psicoterápica no II Congresso Brasileiro de 
39 
 
 
Medicina e Cirurgia, além de também representarem o Brasil os doutores Joaquim 
Correia de Figueiredo e Siqueira Ramos no I Congresso Internacional de Hipnose 
Clínica e Terapêutica (8-12 de outubro) em Paris, presidido por Charcot. 
1891 – Doutorado Alfredo F. de Magalhães pela Faculdade de Medicina da Bahia 
com a dissertação "O Hipnotismo e a Sugestão – Aplicações Clínicas". 
1892 – José Alves Pereira é doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da 
Bahia com a dissertação "Das Sugestões no Tratamento das Moléstias Psíquicas". 
1895 – Apresentação da dissertação do Dr. José Alcântara Machado sobre 
hipnotismo ("Ensino Médico-Legal") para a vaga de lente substituto na cadeira de 
Medicina Legal e Higiene Pública da Faculdade de Direito de São Paulo. 
1896 – Publicação em segunda edição do livro de Fajardo, ampliado e atualizado 
com o título Tratado de Hipnotismo. A excelência da obra é digna de nota de 
especialistas na Europa como Charles Richet, Hack Tuke, Azam, Delbouef, 
Brouardel, Féré, Dujardin-Beaumetz, Babinski, entre outros. 
1916 – A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro premia Carlos de Negreiros 
Guimarães com a dissertação "Do Conceito Moderno do Hipnotismo em Medicina". 
1919 – Medeiros e Albuquerque publica no Brasil o livro O Hipnotismo, prefaciado 
pelos eminentes médicos Miguel Couto e Juliano Moreira. 
1957 - Fundada, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Hipnose Médica. 
 
Das informações relacionadas a seguir, algumas foram obtidas de artigos 
científicos e estão relacionadas nas referências. As demais foram obtidas a partir do 
site da Sociedade Brasileira de Hipnose e Hipniatria (2009), o qual também se 
encontra devidamente referenciado ao final deste trabalho. 
 
1961 – I Congresso Brasileiro de Hipnologia, I Congresso PAN AMERICANO DE 
HIPNOLOGIA e a II Reunião da Sociedade Internacional de Hipnose Clínica 
Experimental, no Rio de Janeiro, na Faculdade Nacional de Medicina (ALAKIJA, 
1992). Regulamentação da hipnose através do decreto presidencial nº 51.009 de 
22/07/1961, proibindo seu uso em espetáculos, clubes, auditórios, palcos, ou 
estúdios de rádio ou tevê. 
1964 – Regulamentação da profissão de Psicólogo e permissão para uso da hipnose 
através do decreto 53.464, de 21/10/1964. 
40 
 
 
1966 – Regulamentação da hipnose em Odontologia pela lei nº 5.081 de 24/08/1966. 
Conselho Federal de Medicina inclui o emprego da Hipnose no "Código de Ética 
Médica" no capítulo VI, art. 62, 63 e 64. 
1971 – II Congresso Brasileiro de Hipnologia em João Pessoa, PB. 
1991 - Fernando Collor revoga o uso terapêutico da hipnose através do decreto º 11 
de 19/01/1991. 
1999 - Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo obtém parecer de aprovação do 
Conselho Federal de Medicina quanto ao uso do termo Hipniatria. 
2000 – CFP (Conselho Federal de Psicologia) aprova e regulamenta o uso da 
Hipnose como recurso auxiliar de trabalho do Psicólogo através da resolução nº 
013/00 em 20 de dezembro. 
2004 – 1º Congresso Brasileiro de Psicoterapia Breve e Hipnoterapia é realizado em 
São Paulo. 
2008 – XI Congresso Brasileiro de Hipnologia no Rio de Janeiro. 27º Congresso 
Internacional de Odontologia de São Paulo discute práticas complementares e 
integrativas; entre elas a hipnose.* 
Através destes esclarecimentos, em que não se teve a pretensão de 
nomear todos os eventos relacionados à hipnose, buscou-se delinear como esta 
chegou até o Brasil e os caminhos que seguiu até a atualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
* Esta última informação retirada da página da internet do CIOSP – Congresso Internacional de 
Odontologia de São Paulo. 
413 HIPNOSE E CIÊNCIA 
 
 
Muito embora o termo hipnose já venha sendo grandemente utilizado na 
época atual, ainda há quem não consiga traduzir em palavras o que ela realmente 
significa, seu significado variando conforme seus idealizadores. 
Para Sofia Bauer (2002), a hipnose é um estado de consciência diferente 
do estado de vigília e pode ocorrer no dia-a-dia, quando se está acordado, diferindo, 
no entanto, de estar simplesmente em vigília, haja vista que nesse processo o foco 
de atenção se volta para a realidade interna criada pela pessoa. 
Sydney J.Van Pelt (1949 apud FERREIRA, 2006) considera que a 
hipnose nada mais é do que uma superconcentração da mente. 
Já para Sarbin (1950 apud PINCHERLE & COL., 1985), o hipnotizado 
representa um papel, em que este tão-somente obedece às ordens do 
hipnoterapeuta. 
Embora se apresentem diferentes posições quanto à hipnose, Ferreira 
(2006) pontua que este estado que alguns autores reportam como alterado é de 
difícil precisão, uma vez que a percepção humana varia de pessoa para pessoa. 
Então, a definição preferida pelo autor para o que seja estado alterado de 
consciência é aquele onde há “[...] uma modificação temporária no padrão total da 
experiência subjetiva, tal que o indivíduo acredita que o seu funcionamento mental é 
distintamente diferente de certas normas gerais do seu normal estado de 
consciência de vigília” (TART, 1972; NEWMAN, 1997; LUDWIG, 1966 apud por 
FERREIRA, 2006, p.55). 
Sobre este estado de atenção concentrada, Vale (2006) argumenta que é 
precisamente este fato que permite à pessoa a reação ao trabalho do 
hipnoterapeuta ou à auto-hipnose, defendendo, entretanto, a idéia de que 
 
 
O desconhecimento pleno da mente humana dificulta a conceituação e 
explicação dos mecanismos através dos quais a hipnose produz seus 
efeitos. Ao contrário do que parece, durante a sessão hipnótica o encéfalo 
está em plena atividade. (VALE, 2006, p. 539) 
 
 
 
42 
 
 
O estado de vigília, por sua vez, é o oposto do sono, em que a atividade 
de despertar corresponde à propagação cortical da excitação. Para Pavlov, é pela 
palavra que os estímulos dos reflexos condicionados são criados, sendo que estas 
apresentam dois conjuntos de estímulos diferentes: um sonoro, que é o primeiro 
sistema de sinalização, e um outro conjunto de idéias e imagens, que é o segundo 
sistema de sinalização, conforme refere Ferreira (2006). 
Considerando a evolução da hipnose até os dias atuais, Tortosa, Miguel-
Tobal & González-Ordi (1999) referem a existência de uma dicotomia entre os 
teóricos, embora apontem que os caminhos seguem em direção a um consenso. De 
um lado os teóricos del estado e os teóricos del no estado, e de outro, a hipnose 
clínica e a hipnose experimental. Na visão dos autores, a divergência entre as 
escolas provoca a incongruência e a não-uniformidade entre os dados apresentados 
pelos diferentes aportes, não obstante a produção científica recente venha aparando 
arestas rumo a uma convergência entre estas teorias, referindo que a sugestão 
direta ou indireta se encontra circunscrita aos fenômenos hipnóticos. 
 
 
 
Parece existir una tendencia hacia la superación de la clásica controversia 
entre teóricos del estado y teóricos del no estado, aproximando estas 
posturas bajo la concepción de La hipnosis como un conjunto de 
procedimientos que potencian certas capacidades preexistentes em los 
indivíduos (TORTOSA, MIGUEL-TOBAL & GONZÁLEZ-ORDI,1999, p. 20). 
 
 
 
De expressão pouco comum e bastante controversa, a hipnose forense 
tem sido utilizada para resgatar memórias adormecidas, de modo a intervir na 
solução de casos legais. Com esta prática, o hipnoterapeuta acessa a mente 
inconsciente do indivíduo com vistas a recuperar informações importantes acerca de 
crimes ou criminosos (TIBÉRIO, de MARCO & PETEAN, 2004). 
Seguindo por esse viés, cumpre destacar o trabalho elaborado por Sousa 
(2000) em sua dissertação de mestrado sobre a persuasão, em que o autor não 
menciona a factibilidade do processo hipnótico. Nele, Sousa dispõe sobre os 
caminhos que a mente humana elabora para tomar decisões, a certo ponto 
relacionando a arte da persuasão com a hipnose. Toma ele por base a definição de 
hipnose aceita pela Comissão da British Medical Association, que em 1959 
estabeleceu hipnose como sendo 
43 
 
 
[...] um estado passageiro de atenção modificada no sujeito, estado que 
pode ser produzido por uma outra pessoa e no qual diversos fenômenos 
podem aparecer espontaneamente ou em resposta a estímulos verbais ou 
outros. Estes fenómenos [sic] compreendem uma modificação da 
consciência e da memória, uma susceptibilidade acrescida à sugestão e o 
aparecimento no sujeito de respostas e ideias que não lhe são familiares no 
seu estado de espírito habitual (CHERTOK, 1989, apud SOUSA, 2000, p. 
140). 
 
 
Partindo desta premissa, Sousa (2000) pontua a grande semelhança que 
existe entre os dois processos, pois à exemplo da hipnose, a persuasão também 
trata de modificar pensamentos e atitudes de outra pessoa a partir de um conteúdo 
verbalizado, variando em intensidade quanto aos contextos, tipos de relação 
estabelecida e os efeitos que se deseja produzir. Frisa o autor: 
 
 
A relação orador/auditório não pode pois [sic] deixar de ser igualmente 
compreendida à luz da modificação do estado de consciência que nela e por 
ela se opera, ainda que sem a profundidade que caracteriza a relação 
hipnotizador/hipnotizado (SOUSA: 2000, p. 141). 
 
 
 
No tópico que se segue, contudo, o que se pretende discutir é a hipnose 
sob o ponto de vista de seus mecanismos fisiológicos, cuja eficácia pode ser 
explicada a partir de algumas reações físicas observáveis no corpo, quando 
metabolismos complexos são ativados através do Sistema Nervoso Simpático e 
Parassimpático (FERREIRA, 2009). 
 
 
3.1 Neurofisiologia da Hipnose 
 
 
O corpo humano é um complexo sistema interligado que detém o perfeito 
controle de suas funções, mantendo o delicado equilíbrio entre todas as suas partes 
e o meio ambiente. A esse equilíbrio, denominado homeostasia, o fisiologista Walter 
Cannon chamou de a “sabedoria do corpo” (LENT, 2005), o qual assim permanece 
por meio do funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA), um conjunto de 
neurônios localizados na medula e no tronco encefálico, cuja comunicação com o 
restante dos órgãos e tecidos acontece por meio dos axônios. Segundo o autor, o 
44 
 
 
SNA não é um órgão totalmente autônomo, pois suas ações são orientadas através 
de regiões superiores do SNC - Sistema Nervoso Central. 
Ferreira (2006) sustenta que o SNA é o órgão responsável em regular o 
metabolismo, a temperatura do corpo, os sistemas circulatório, respiratório, 
endócrino, urinário, genital, cujas funções “[...] não são necessariamente 
conscientes” (p. 264). 
Numa explicação mais resumida e simplificada, Esperidião-Antônio et al 
(2007) propõem: 
 
 
Diferentes estímulos (aferências) – térmicos, táteis, visuais, auditivos, 
olfatórios e de natureza visceral (como alterações da pressão arterial) – 
chegam a diferentes partes do SNC por vias neuronais envolvendo 
receptores e nervos periféricos. Respostas (eferências) adequadas a esses 
mesmos estímulos são programadas em determinadas áreas corticais, as 
quais incluem desde circuitos simples – envolvendo poucos segmentos – 
até complexos, exigindo refinamento funcional por parte de cada uma. 
(ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al, 2007, p.64) 
 
 
 
Bastante pertinente, portanto, a analogia de Lent (2006) ao comparar o 
SNA ao maestro dos órgãos, em que estes, embora saibam tocar sozinhos, 
precisam de um regente que lhes dêem “[...] o ritmo certo, a afinação adequada, a 
sincronia de pausas e entradas, a emoção” (p. 475). 
Na figura abaixo está representadoo modo pelo qual o sistema nervoso 
se divide: 
 
 
Fig. 1 
Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp 
 
 
 
45 
 
 
Classicamente, o Sistema Nervoso Autônomo divide-se em Sistema 
Nervoso Simpático (SNAS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNAP), os quais 
agem de modo antagônico. Em situações de luta ou fuga, o SNS é ativado e gera 
um aumento do hormônio adrenalina no organismo. Esta substância é um 
neurotransmissor excitatório que aumenta a frequência cardíaca pelo aumento do 
fluxo sanguíneo muscular. Assim, estimulando-se a cauda do hipotálamo, aumenta-
se a atividade simpática, que por sua vez produz aumento do neurotransmissor 
adrenalina, que atua sobre órgãos como coração, pulmões, vasos sanguíneos, 
órgãos genitais, etc. A adrenalina é liberada como fator responsivo ao stress físico 
ou mental, ligando-se um grupo especial de proteínas - os receptores adrenérgicos 
(QMCWEB, 2009). 
A estimulação do Sistema Parassimpático, por sua vez, que se dá através 
da estimulação da parte anterior do hipotálamo, tem como consequência 
 
 
[...] a diminuição da pressão arterial, da freqüência [sic] cardíaca, do 
metabolismo basal, da secreção de adrenalina, do volume respiratório, 
dilatação dos vasos sangüíneos [sic], sudorese, salivação, contração da 
bexiga, contração das pupilas (miose) (FERREIRA, 2006, p. 265). 
 
 
 
Tanto Machado (1993) quanto Serratrice et al (1995 apud ARAÚJO, 1997) 
consideram que os dois centros suprassegmentares mais importantes para o 
controle do SNA são o hipotálamo e o sistema límbico, ambos com extensas 
projeções para a formação reticular. 
Ferreira (2006) aponta estudos de Szechtman et al (1998), em que 
pessoas altamente suscetíveis à hipnose e à alucinação ativam durante estes 
processos uma região na área chamada Broadman (parte anterior do giro do 
cíngulo), a qual foi detectada por exame de PET (tomografia por emissão de 
pósitrons). Este exame permite mapear a atividade cerebral determinando o fluxo 
sanguíneo. Os pacientes submetidos a este exame recebem uma injeção com 
substância radioativa que vão ajudar a produzir as imagens cerebrais, marcando as 
áreas ativadas em vermelho. 
Situando especialmente as vias de estimulação visual, Ferreira (2006) 
sustenta que primeiramente o indivíduo percebe o objeto, sua forma, movimento e 
cor através do córtex primário visual (área de Broadman), informação que segue até 
o córtex parietal posterior. A integração entre a representação do objeto com as 
46 
 
 
informações gravadas na memória faz o autor afirmar, sobre a conexão existente 
entre estes dois processos, que “[...] envolve uma complexa rede relacionando o 
córtex peririnal, entorinal e o hipocampo” (p. 190). Segundo ele, os componentes 
emocionais decorrentes do estímulo são avaliados pela amígdala. 
Em outro estudo realizado por Machado (1993), o autor sustenta que a 
estimulação elétrica em determinadas áreas do hipotálamo é responsável por 
respostas típicas dos sistemas simpático e/ou parassimpático, sendo que o 
hipotálamo anterior é o responsável pelo controle principalmente do sistema 
parassimpático, e o hipotálamo posterior coordena principalmente o sistema 
simpático. 
A neurobiologia da motivação, desde os mais incipientes estudos, 
apontou o hipotálamo como um centro integrador fundamental, sendo este também 
o receptor das informações vindas do sistema límbico, definido por Lent (2006) como 
“[...] o conjunto de regiões neurais dedicadas a interpretar e responder aos estímulos 
externos e internos de caráter emocional” (p. 491). 
Sabe-se que o corpo humano tem diferentes necessidades e age por 
diferentes motivações ou estados motivacionais, e seus comportamentos motivados 
(LENT, 2005) estão dispostos em três classes. Na primeira, estão aqueles exigidos 
por forças fisiológicas definidas, como a fome, a regulação corporal, entre outros. 
Uma segunda classe é aquela que tem como guia um fisiologismo não tão bem 
definido como o primeiro, e cujo melhor exemplo o autor aponta o sexo, pois a 
procura pela satisfação sexual não se dá unicamente pelo desejo de perpetuação da 
espécie, mas também pelo puro prazer. No terceiro grupo e mais complexo, e que 
interessa especificamente ao presente trabalho, estão aqueles realizados sem uma 
decisão biológica clara, motivados pela subjetividade inerente ao ser humano. 
Para a consecução dos comportamentos motivados, Lent (Idem) sustenta 
que duas forças fundamentais agem, que são a homeostasia e a busca do prazer, 
sendo o hipotálamo o centro que integra fundamentalmente estes estudos, uma vez 
que se comunica com inúmeras regiões do SNC e com diversos órgãos periféricos 
por meio do SNA e sistema endócrino, além de receber informações de todos os 
demais órgãos por ele controlados, inclusive o sistema imunológico, embora 
indiretamente. 
Segundo o autor, estas informações provêm também do sistema límbico, 
conjunto de regiões neurais localizadas nas regiões corticais e subcorticais do 
47 
 
 
cérebro (Ibidem). Este sistema é em grande parte o responsável pelas emoções, 
que embora sejam muitas e de difícil classificação, Lent (Ibidem) considera que três 
aspectos são constantes: um sentimento (positivo ou negativo), um comportamento 
(atos motores específicos das emoções) e ajustes fisiológicos de acordo com o 
sentimento e o comportamento. 
Para o autor, uma das estruturas que apresenta extrema importância no 
tocante às experiências emocionais é a amígdala, a que ele refere como “[...] botão 
de disparo [...]” (LENT, 2006, p.659) das situações que envolvem a emoção, 
recebendo estímulos através do tálamo, e outras mais complexas por meio do 
córtex. 
O córtex é a parte mais desenvolvida do cérebro humano, além de ser 
também o órgão responsável pelos pensamentos, percepção, produção e 
compreensão da linguagem, entre outras, cada uma de suas partes respondendo 
por funções específicas. O córtex se subdivide em lobo frontal, parietal, temporal e 
occipital (VILELA, 2009). 
 
 
 
Fig. 2 
Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso3.asp 
 
 
Sobre a complexidade que permeia as emoções do ser humano, observe-
se que no início do século XX, William James e Karl Lange (BARRA et al, 2008; 
LENT, 2005, LEDOUX, 1999), já propunham que “Ficamos tristes porque choramos, 
zangados porque agredimos, e com medo porque trememos, e não choramos, 
48 
 
 
agredimos ou trememos porque estamos tristes, agressivos ou com medo, conforme 
o caso (LEDOUX, 1999, p.40)." 
Na atualidade, o termo sistema límbico designa o “[...] circuito neuronal 
que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais” (LENT, 2005, 
p. 657). Em suas experiências, o autor foi levado a crer que só após o córtex ser 
informado de que o organismo produziu alterações fisiológicas é que se dá a 
experiência consciente da emoção. 
Contudo, foi com o anatomista americano James Papez que a 
neurociência mudou novamente os modelos aceitos até então. Foi ele a apresentar 
a teoria de que havia na verdade um “circuito” ou sistema de regiões que juntas 
disparavam o sentimento, as reações e por consequência o retorno à situação de 
equilíbrio. Esta rede neural ficou conhecida depois como Circuito de Papez e só 
mais tarde é que o conceito Sistema límbico, criado pelo fisiologista francês Paul 
Broca, passou a ser utilizado (idem, 2005). 
Sobre Broca, este descobriu que a incapacidade para a fala não exclui a 
compreensão da linguagem, fato que o fez anunciar em 1864 que o ser humano fala 
através do hemisfério esquerdo e razão pela qual há no cérebro humano uma 
porção denominada área de Broca (KANDEL, 1985, trad. MARIA CAROLINA 
DORETTO). 
Na figura abaixo, é possível visualizar as áreas do cérebro e as 
respectivas funções referentes à linguagem. 
 
 
 
Fig.3 
Fonte: Postner

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