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Saúde e meio ambiente

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Saúde e 
Meio Ambiente
Epidemiologia
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Nilza Maria Coradi
Revisão Textual:
 Profa. Ms. Fatima Furlan
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Nesta unidade, abordaremos os conceitos, fundamentos e métodos 
da epidemiologia e suas aplicações no âmbito da saúde coletiva. 
A epidemiologia é uma disciplina que fornece subsídios para a 
construção de conhecimentos em relação à saúde das comunidades 
orientando as ações em populações humanas e seu ambiente.
Epidemiologia
•	Introdução
•	Epidemiologia no Brasil 
•	Epidemiologia e meio ambiente 
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Unidade: Epidemiologia
Contextualização
Nesta unidade, focalizamos resumidamente alguns aspectos da epidemiologia. Diante desse 
vasto campo que é essa disciplina, vamos construir um raciocínio crítico a ser aplicado por 
aqueles que estão trabalhando na área de meio ambiente. 
Enquanto a ciência médica atua principalmente no organismo, a saúde publica é detentora de 
uma visão ecológica, procurando compreender as relações que se estabelecem entre populações, 
comunidades e ecossistemas. Os seres humanos ao interagir com outras espécies e com o ambiente 
recebem as influências que podem definir seu estado de saúde. A forma de interação do homem 
com o meio passa a ter uma relação muitas vezes direta entre saúde-doença.
Diante disso, destaca-se a importância da epidemiologia ambiental, cuja ênfase está na 
discussão dos fatores do meio, físicos, químicos, biológicos e psicossociais que atuam nas causas 
das doenças.
O objetivo é refletir sobre a causa de uma doença, na epidemiologia a questão é ampliada, 
pois a doença é multicausal e a questão da causalidade não é linear ou simplista. Se a ocorrência 
da doença é devido à influência de muitos fatores, então cabe à epidemiologia investigar 
para entender melhor a rede multicausal. Ela pode ser explicada como uma série de fatores 
determinantes que, atuando em determinado espaço e tempo leva a ocorrência do agravo. 
Com o intuito de prevenir as doenças, os estudos devem levar em consideração fatores 
genéticos e a suscetibilidade a exposição de fatores. Ao investigar a etiologia da doença, 
investiga-se o quanto uma doença se deve a fatores genéticos e o quanto a fatores ambientais 
e como essa interação aumenta o risco da doença.
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Introdução
Nesta unidade, serão abordados os conceitos, fundamentos e métodos da epidemiologia 
e suas aplicações no âmbito da saúde coletiva. A epidemiologia é uma disciplina que fornece 
subsídios para a construção de conhecimentos em relação à saúde das comunidades orientando 
as ações em populações humanas e seu ambiente Em uma dinâmica ecológica, a existência 
de alguns seres vivos depende muitas vezes da existência de outros seres vivos. Na saúde, a 
história de cada doença também está atrelada à história de todas as doenças. O ciclo de doenças 
infectocontagiosas coloca em evidência a fragilidade do equilíbrio ambiental. A epidemiologia, 
disciplina que estrutura a saúde pública, ajuda a desvendar as relações ecológicas, reposicionando 
as implicações entre homem e a natureza. 
Em todo o planeta, a área da saúde apresenta fenômenos preocupantes. Além dos riscos 
potenciais, a saúde vem se agravando resultando em riscos cada vez maiores à integridade 
individual e coletiva, causando consequências desastrosas nas populações. Podemos citar o 
retorno de antigas infecções e o aparecimento de novas.
A maior parte desses problemas é consequência da ação do homem sobre o meio ambiente, 
dentre os quais, a exploração de ecossistemas, a migração de homens e mulheres por toda parte 
do planeta, desenvolvimento industrial, resistência a antibióticos etc. Todos esses aspectos fazem 
parte de um quadro complexo da saúde da população e sua relação com o meio ambiente.
É neste contexto que se faz necessário o estudo das intervenções do homem no ambiente e 
nas populações. Uma das formas de compreender o processo são as ações de saúde, aquelas 
voltadas à coletividade. A saúde coletiva é o caminho para entender a ação do ser humano sobre 
populações diversas, tanto humanas com as da natureza: animais, vegetais, vírus e bactérias. A 
saúde une homens e ambiente, natureza e sociedade.
Epidemiologia – conceitos
Existem muitos conceitos sobre epidemiologia girando em torno de uma mesma ideia. Nesta 
disciplina, trabalharemos a epidemiologia como um conjunto de conceitos, teorias e métodos 
que permitam estudar, conhecer e transformar o processo saúde – doença na dimensão coletiva 
(Franco, L. J. et al, 2011).
Outro conceito diz que a epidemiologia tem como objeto de estudos os fenômenos de saúde 
de populações e em populações (Castellanos, 1997 apud Lanni, 2005) e por conta disso tem 
Trocando Ideias
A epidemiologia é uma disciplina que surgiu para cumprir a tarefa de produzir conhecimentos 
científicos acerca da distribuição e determinação do processo saúde-doença em populações humanas 
e fornecer subsídios aos serviços de saúde para o controle de doenças. A epidemiologia fornece 
subsídios para a construção de conhecimentos em relação à saúde das comunidades orientando as 
ações em populações humanas e seu ambiente.
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Unidade: Epidemiologia
sido definida como a ciência que estuda a distribuição das doenças e suas causas em populações 
humanas. A epidemiologia estuda também a ausência ou presença de enfermidades dos seres 
humanos como doenças infecciosas (malária, dengue etc.), não infecciosas (diabetes, obesidade 
etc.) e danos à integridade física (contaminações, homicídios, alcoolismo etc.). Portanto, a 
epidemiologia examina o corpo populacional, apontando as causas e orientando os meios de 
controle e profilaxia.
Desde os primórdios, muitos estudos já demonstraram as relações existentes entre problemas 
de saúde de populações e suas condições de vida, relativos basicamente às condições sanitárias, 
formas de alimentação e condições de trabalho. Na América Latina, por exemplo, podemos citar 
os trabalhos que demonstraram o papel dos mosquitos na transmissão da febre amarela. Esses 
estudos e muitos outros serviram para demonstrar que a relação entre saúde e as condições 
ambientais estão intimamente ligadas.
No século XIX, com as descobertas de Pasteur e o advento da bacteriologia, tornou-se 
possível provar que microorganismos eram responsáveis por doenças nos seres humanos. A 
partir daí, criam-se as bases para a busca incessante dos agentes que causam as doenças e seus 
mecanismos de transmissão.
A medicina cabe à tarefa de resolver os problemas que, direta ou indiretamente, atuam 
no processo saúde-doença do homem, embora, muitas vezes, tanto o problema como a 
solução estejam fora da área médica. Normalmente, esses problemas estão concentrados 
na relação homem-natureza.
Epidemiologia – usos
Com a compreensão do processo saúde-doença, a epidemiologia apresenta vários usos, 
dentre eles:
1 - Estudos históricos;
2 - Diagnóstico de saúde da comunidade;
3 - Identificação de síndromes;
4 - Pesquisa de causas;
5 - Investigação etiológica;
6 - Determinação de riscos;
7 - Determinação de prognósticos.
A epidemiologia tem como base para ser aplicada os seguintes elementos: determinantes, 
distribuição e frequência. A distribuição e a frequência descrevem o estado de saúde das 
populações, essa parte da epidemiologia é chamada de descritiva. Portanto, a epidemiologia 
descritiva investiga o fenômeno de saúde em evidência, realizando uma exploração para entender 
quais grupos o evento em saúde (agravo,
doença, características etc.) está presente, de acordo 
com as diferentes variáveis e também quantos são afetados. A partir disso, são elaboradas 
questões primárias que dão suporte a essa investigação. De acordo com a abordagem escolhida, 
aparecem as proposições com questões relativas à distribuição, como quem, quando e onde.
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Quem . São as pessoas afetadas pelo evento suas características como gênero, grupo
etário, nível educacional, renda etc.
Quando . Período de tempo definido pelo investigador na análise epidemiológica.
Onde . Estabelecimento da relação entre o evento de saúde e o espaço geográfico a ser analisado 
( cidade, país, bairro etc.).
A epidemiologia descritiva produz a base para outros fundamentos utilizados em pesquisas 
acadêmicas ou em serviços em saúde. No final do século XX, os conceitos de doenças emergentes e 
reemergentes difundiram-se. As doenças emergentes são aqueles agravos novos que passam a estar 
presentes nas populações como a gripe aviária. É aquela proveniente de um agente de identificação 
recente, antes desconhecido. As reemergentes são as doenças que voltam a estar frequentes nas 
populações depois de estarem ausentes por um período, como a dengue. É aquela que reaparece de 
maneira a atingir outras regiões que antes estavam isentas da sua presença.
A epidemia é o aumento inesperado da frequência de eventos num período e numa 
determinada região, podendo classificar então um surto. Endemia é quando um agravo persiste 
numa região mantendo sua frequência estabilizada quantitativamente. Pandemia é o termo 
utilizado para a ocorrência de muitos casos em grandes proporções territoriais.
Acredita-se hoje que muitos fatores são responsáveis pelos efeitos na saúde. Fatores próximos 
ao indivíduo sempre associado a um determinado ambiente ou cultura podem gerar condições 
favoráveis que influenciam no seu estado de saúde. Esse entendimento, conhecido como 
“determinante social” no processo saúde-doença vai ao encontro da realidade que vivemos 
hoje, pois os estados tem um importante papel no desenvolvimento da saúde das populações. 
A Epidemiologia é constituída de duas etapas principais, a analítica e a descritiva. A etapa 
analítica da epidemiologia se dedica a elucidar os fatores de risco associados aos efeitos em 
saúde, o objetivo é identificar ou destacar aqueles fatores que possam estar ajudando ou 
protegendo o aparecimento de doenças. A etapa descritiva gera os dados acerca das condições 
de saúde das populações. Utiliza dados secundários, geralmente dos sistemas de informação 
em saúde, com o objetivo de construir o perfil de saúde dos indivíduos em seus territórios. Uma 
etapa depende da outra, uma hipótese é gerada na etapa descritiva e testada pela analítica.
Tanto a fase analítica quanto a descritiva empregam a compreensão da noção de risco. Hoje em 
dia, o conceito de risco tem a conotação de ganho ou perda, mas com um sentido negativo do perigo. 
É usual o termo risco nos processos que envolvem saúde-doença, principalmente na mudança do 
estado de ausência para a presença de doença. Essa mudança é conhecida em epidemiologia como 
causalidade. O conceito de causa é utilizado para associar suposta causas a seus efeitos.
Os fatores ambientais são responsáveis por grande parte dos fatores de risco, sendo considerado 
um fator multicausal. É parte de um todo que interage com outros fatores, como a genética, estilo 
de vida, biologia humana, acesso a serviços de saúde, entre outros. O meio ambiente envolve 
um espectro amplo de correlações, como espaço social, economia, infraestrutura urbana entre 
outros. É neste contexto que as ciências da saúde encontram seus principais desafios.
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Unidade: Epidemiologia
Dentre os inúmeros riscos que influenciam as causas das doenças, temos:
Riscos de controle individual, representado pelo estilo de vida.
Riscos conhecidos de controle coletivo, representado pelas 
politicas públicas.
Riscos conhecidos de controle institucional, representados pela 
organização dos serviços de saúde e suas relações com outros serviços.
Riscos conhecidos de ação sinérgica de controle multidimensional, 
representado através de ações individuais, coletivas interssetoriais.
Riscos não conhecidos.
Na busca de categorizar o processo saúde-doença, diferentes campos na saúde são apontados: 
biologia humana, estilo de vida, ambiente e serviços de saúde.
A biologia humana envolve as características imutáveis do individuo, como: idade, sexo, raça, 
patrimônio genético e constituição do individuo. Acredita-se que o individuo não tem controle 
sobre esses fatores de risco. O estilo de vida engloba hábitos e comportamentos adquiridos 
social ou culturalmente, tais como: tabagismo, alcoolismo, alimentação, medicações, drogas, 
falta de exercícios, utilização de proteção no setor ocupacional, adesão ou não de medidas 
preventivas e tratamentos, opção de lazer etc. Acredita-se que os indivíduos tenha controle 
sobre esses fatores. 
O campo da saúde que diz respeito ao meio ambiente implica a parte física, psíquica e social. 
O ambiente físico abrange entre outras coisas o relevo, a hidrografia, o clima, os poluentes 
ambientais do ar, água e do solo. Na dimensão social incluem-se as múltiplas causas das doenças 
crônicas não transmissíveis como: nível sócio econômico, escolaridade, processo de migração 
etc. A psíquica envolve as tensões sociais e individuais que inclui as relações, a informação, o 
preconceito e todos os componentes da sociedade moderna que refletem na saúde mental dos 
indivíduos. No campo ambiental estão os eventos externos ao corpo sobre os quais o individuo 
tem pouco ou nenhum controle. É importante ressaltar que quando o impacto ao meio ambiente 
é revertido é porque houve alguma forma de controle mesmo que coletivo.
Epidemiologia e riscos
Conforme observamos, o risco está diluído nos meandros da sociedade. Como saber se a 
exposição a um risco especifico é suficiente para um efeito nocivo ao meio ambiente ou à saúde? 
Como isolar um possível fator causal dos demais? Usando a epidemiologia como exemplo, 
conclui-se que uma doença não pode ser causada por um fator de risco apenas, sendo resultado 
de um conjunto multicausal de fatores, acentuado por um fator de risco, mas não apenas ele. A 
epidemiologia faz a análise comparativa entre indivíduos ou grupos expostos e não expostos ao 
fator de risco, mas quando se trata de elucidar questões como o aquecimento global, mostra-se 
limitada, sem dispor de meios comparativos entre os grupos expostos e não expostos.
Em um entendimento mais amplo da saúde humana, em que as doenças e os agravos são 
apenas uma faceta do processo saúde – na doença, observamos que os determinantes sociais 
incluem o meio ambiente, as relações econômicas, o desenvolvimento, os meios de produção etc. 
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Então a saúde não se restringe a ação curativa e sim é um resultado das macro relações globais 
que incidem sobre o local e o individual, portanto um processo multifatorial, que engloba, entre 
outros o meio ambiente.
Nas discussões ambientais e de saúde, medidas de controle são compensatórias e a relação 
saúde e ambiente é deixada de lado, por isso, o sistema deve incorporar uma nova articulação 
entre natureza, ciência e sociedade.
Metodologia epidemiológica
A epidemiologia nasceu com uma forte ênfase nas doenças transmissíveis e com a evolução 
dessa disciplina foi incorporado elementos das doenças não transmissíveis, causas externas, 
ocupacionais, entre outras. 
Essa transição da epidemiologia mostra que a frequência das doenças e das mortes ao longo do 
tempo foi mudando de acordo com fatores econômicos, sociais, ambientais e comportamentais. 
Peste e fome matavam mais pessoas que outras etiologias, doenças infecto contagiosas 
predominavam no século XIX, diferente do final do século XX e inicio do século XXI, onde 
predominam as doenças
produzidas pelo homem e as doenças não transmissíveis. A transição 
demográfica também tem seu papel nesta mudança, se no passado o contingente de população 
jovem era maior, hoje houve um aumento significativo da população idosa, com isso os agravos 
referentes a essa população passam a figurar outro perfil. Algumas mudanças como a nutricional e 
a de risco também aparecem à medida que a sociedade obtém novos índices de desenvolvimento.
Em relação à transição nutricional, existem pontos relevantes como o aumento do consumo 
de alimentos industrializados, com maior concentração de conservantes, acidulantes, colorantes, 
sódio etc. Isso trouxe novos hábitos de dietas e consumo. Como resultado, temos uma 
desproporção entre obesos e desnutridos com um aumento nos dois grupos.
As transições não devem ser analisadas separadamente, pois a sociedade vive também 
em transição. A sociedade convive com riscos antigos e modernos, riscos identificáveis e não 
identificáveis riscos conhecidos e riscos desconhecidos.
O pesquisador precursor da epidemiologia John Snow experimentou um método de teste 
para verificar o risco do adoecimento por cólera, com isso nasceu a hipótese epidemiológica 
para relacionar a água a essa doença. Utilizando o elemento contraste a comunidade foi exposta 
a água limpa ou contaminada para concluir que o fator de risco estava associado ao efeito 
saúde. A partir dai estabeleceu-se uma ordem de investigação respaldando metodologicamente 
a epidemiologia a partir do método cientifico. As etapas da investigação são:
1 - Detectar o efeito em saúde;
2 - Estabelecer o perfil epidemiológico;
3 - Formular a hipótese;
4 - Testar a hipótese;
5 - Concluir.
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Unidade: Epidemiologia
Nesta primeira etapa, temos a detecção do agravo sugerindo a necessidade de investigação para 
detectar o efeito em saúde. Passamos então para a segunda etapa onde o perfil epidemiológico 
se estabelece. A partir deste perfil, os grupos de interesse se definem em um espaço e num 
período determinado. Todos esses elementos são a base para identificar as propriedades em 
saúde e com essa informação tomar a melhor decisão. A partir deste momento, se pergunta 
onde e quando acorreu o evento e qual a população mais afetada, essa etapa cabe também 
identificar a magnitude do evento e o quanto se é afetado. 
Os indicadores em epidemiologia são divididos em absolutos e relativos, sendo os relativos mais 
apropriados à comparação. Esses indicadores se dividem em dois tipos: índices de distribuição 
proporcional e os coeficientes de probabilidade de risco. Esses coeficientes se agrupam em:
 · Incidência – probabilidade do risco de adoecer;
 · Prevalência – probabilidade do risco do agravo se instalar;
 · Mortalidade – probabilidade de risco de morrer na população geral;
 · Letalidade – probabilidade do risco de morrer entre os doentes.
A terceira etapa acontece após o perfil estar estabelecido pela frequência e distribuição 
oferecendo subsídios para uma hipótese. O grupo mais afetado pode acrescentar elementos 
comuns podendo ser o fator de risco o que gera uma relação causal. Nesta etapa, os estudos 
descritivos apresentam maior utilidade, de modo a estabelecer, uma relação causal entre os 
fatores de risco e os efeitos em saúde, embasando assim uma hipótese. 
A Quarta etapa concentra-se no teste da hipótese causal a partir dos elementos das investigações 
anteriores. A última etapa do estudo são as conclusões acerca das relações causais, que não 
devem ser restritas a um estudo, mas a um conjunto de resultados. É sempre importante manter 
uma postura crítica com relação a uma conclusão de relação direta entre causa e efeito e adotar 
uma visão mais ampla, questionando tanto os resultados como os métodos e o processo.
A Epidemiologia é uma ciência importante para estudar, quantificar e tabular, no entanto 
não deve reduzir-se a conceitos e métodos, deve abrir-se em direção às necessidades globais, ao 
desenvolvimento e à sociedade.
No Brasil, a epidemiologia originou-se a partir dos naturalistas e da medicina tropical, que de 
forma sistemática, descreveram a ocorrência de diversas doenças infecciosas, vetores e agentes. 
Em meados do século XIX, três médicos estrangeiros criaram a Escola Tropicalista Baiana, 
embora não sendo uma instituição formal de ensino, a escola se dedicou à prática médica e à 
pesquisa da etiologia das doenças tropicais que acometiam os homens livres e os escravos. 
Epidemiologia no Brasil 
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A metodologia utilizada pelos pesquisadores da escola compreendia as mais modernas 
técnicas da medicina cientifica europeia. Esse grupo de pesquisadores rejeitou o determinismo 
racial e de clima das doenças, pois acreditavam na universalidade das doenças e que a umidade 
e o calor apenas conferiam características peculiares a elas. Os tropicalistas associavam as 
doenças tropicais à pobreza, desnutrição, falta de saneamento e às péssimas condições de vida. 
Esses pesquisadores desenvolveram importantes trabalhos sobre a ancilostomíase, tuberculose, 
hanseníase, entre outras.
No final do século XIX, houve várias tentativas de análise quantitativas de ocorrência de 
doenças no Brasil, sem empregar técnicas estatísticas já utilizadas na Europa e nos Estados 
Unidos. Foi em 1903, que o presidente da República Rodrigues Alves nomeou o médico Oswaldo 
Cruz para a diretoria da saúde pública. A tarefa inicial era sanear o Rio de Janeiro e combater 
as epidemias que tomavam a cidade como a febre amarela, peste bubônica e a varíola. Houve 
uma campanha bem rigorosa para combater a febre amarela com medidas como aplicação 
de multas, intimação aos proprietários de imóveis insalubres etc. Na sequência, Oswaldo Cruz 
começou a trabalhar para combater a peste bubônica, com notificação compulsória dos casos, 
combate aos ratos da cidade, entre outras medidas de saneamento. Em 1904, o Rio de Janeiro 
é acometido por uma epidemia de varíola, fazendo com que o governo obrigue por meio de um 
projeto de lei que a população se vacine, com pena de sanções para quem não cumprisse a lei. 
Isso gerou muita insatisfação popular originando a Revolta das Vacinas, deixando um saldo de 
30 mortos em uma semana, tempo que durou a revolta.
Outro médico, Carlos Chagas em 1905 conseguiu controlar um surto de malária no interior 
de São Paulo, tornando uma referência para o combate desta doença no mundo todo. Esse 
mesmo médico descobriu o protozoário causador da tripanossomíase americana, denominada 
por ele como tripanossomíase Cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. Essa é conhecida como 
doenças de chagas. 
Após o termino da segunda guerra mundial, surgiu a ideia de que as doenças endêmicas 
poderiam ser controladas e até erradicadas. Durante a guerra, os sanitaristas norte americanos 
usavam essa ideia como um trunfo na busca de aliados. Desta forma, com o incentivo do 
governo norte americano, a organização Pan-Americana de Saúde e a Organização Mundial 
da Saúde empreenderam muitas ações globais com o objetivo de erradicar diversas doenças. 
No Brasil, houve duas campanhas de erradicação da malária com um sucesso parcial e da 
erradicação do Aedes Aegypti, com um sucesso pleno, embora não definitivo.
Na organização do ensino, duas instituições de pesquisa e formação na área da saúde 
coletiva foram criadas na metade do século XX: Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro e a 
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Em 1942, após um acordo com o governo americano criou-se o Serviço Especial de Saúde 
Pública (SESP). O SESP priorizava ações para o controle da malária e outras doenças endêmicas 
da região amazônica, posteriormente esse serviço se expandiu para outras regiões. Após 1960, o 
SESP se transformou em fundação exercendo um importante papel na normatização de muitas 
atividades de saúde e saneamento até o final da década de 1970.
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Unidade: Epidemiologia
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica no Brasil se consolidou a partir das 
campanhas de erradicação da varíola na década de 1960 e da poliomielite na década de 1970. 
Foi na década de 70 que houve um esforço para construir novas teorias, enfoques e métodos 
da epidemiologia, buscando aplicar métodos da planificação da saúde, que no Brasil ganhou o 
nome de saúde coletiva.
No processo de desenvolvimento da saúde coletiva, vários núcleos de pesquisas foram criados 
e consolidados nas principais instituições de ensino e pesquisa do país. A pesquisa epidemiológica 
no Brasil vem se consolidando de forma muito consistente, ganhando respeitabilidade no cenário 
mundial. A pesquisa brasileira tem dois conjuntos temáticos que lhe conferem uma identidade, 
como o desenvolvimento de aplicações para o planejamento e a gestão de sistemas e serviços 
de saúde e a investigação de problemas de saúde de grande importância social com ênfase nos 
determinantes políticos, sociais, econômicos e culturais dos fenômenos da saúde-doença.
Epidemiologia e meio ambiente
Objetivos de aprendizado
Neste item, vamos focalizar resumidamente alguns aspectos da epidemiologia. Diante deste vasto 
campo que é essa disciplina, vamos construir um raciocínio crítico a ser aplicado por aqueles que 
estão trabalhando na área de meio ambiente.
Enquanto a ciência médica atua principalmente no organismo, a saúde pública é detentora 
de uma visão ecológica, procurando compreender as relações que se estabelecem entre 
populações, comunidades e ecossistemas. Os seres humanos ao interagir com outras espécies 
e com o ambiente recebe as influências que podem definir seu estado de saúde. A forma de 
interação do homem com o meio passa ter uma relação muitas vezes direta entre saúde-doença.
Diante disso, destaca-se a importância da epidemiologia ambiental, cuja ênfase está na 
discussão dos fatores do meio, físicos, químicos, biológicos e psicossociais que atuam nas causas 
das doenças.
O objetivo é refletir sobre a causa de uma doença, na epidemiologia, a questão é ampliada, 
pois a doença é multicausal e a questão da causalidade não é linear ou simplista. Se a ocorrência 
da doença é devido à influência de muitos fatores, então cabe a epidemiologia investigar 
para entender melhor a rede multicausal. Ela pode ser explicada como uma série de fatores 
determinantes que, atuando em determinado espaço e tempo leva à ocorrência do agravo. 
Com o intuito de prevenir as doenças, os estudos devem levar em consideração fatores 
genéticos e a suscetibilidade a exposição de fatores. Ao investigar a etiologia da doença, 
está investigando o quanto que uma doença se deve a fatores genéticos e o quanto a fatores 
ambientais e como essa interação acaba aumentando o risco da doença.
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Com a evolução da epidemiologia, chegou-se a três fatores principais: agente, hospedeiro e 
ambiente. Entende-se que a saúde e a doença estão na dependência das interações estabelecidas 
entre esses fatores. Acredita-se que o equilíbrio dessas três partes leva à saúde, no entanto, 
qualquer desequilíbrio no sistema seria suficiente para gerar um estado de doença.
Na epidemiologia, o hospedeiro que ocupa a discussão central é o homem. Muitas 
características do ser humano ajudam a constituir os fatores que podem levar à doença como o 
sexo, a idade, condições de vida, raça, credo, entre muitas outras.
Diante disso, o ambiente é um importante componente do sistema. Entre o agente, o 
hospedeiro e o ambiente qualquer desequilíbrio pode gerar consequências, fatores ambientais 
associados a doenças podem ser de origem física, biológica e social. 
Variações anuais de temperatura podem influenciar várias doenças. As transmitidas por 
vetores têm nos períodos mais quentes do ano um aumento da transmissão. Insetos proliferam-
se mais em temperaturas elevadas. Agentes patogênicos são transmitidos com mais facilidade 
em razão do maior contato do homem e desses vetores, isso normalmente acontece quando 
as temperaturas são mais elevadas. Muitos agentes responsáveis por infecções respiratórias tem 
seu aumento no inverno. Em temperaturas baixas, a tendência é das pessoas ficarem mais 
fechadas e ambientes sem circulação de ar favorecem a transmissão dos agentes biológicos. Até 
as doenças não infecciosas tem relação com a temperatura. Nos trópicos, onde as temperaturas 
são mais elevadas, as pessoas normalmente se expõem mais ao sol, podendo desenvolver, por 
exemplo, câncer de pele. Nas regiões onde o inverno é muito prolongado, as pessoas podem 
estar sujeitas a outros tipos de agravos, inclusive de ordem psicológica, pois ficam muitos meses 
sem a luz do sol e em ambientes confinados. A pluviosidade também influencia no aparecimento 
ou não de certas doenças. Em ambientes antrópicos, sem saneamento adequado, pode ocorrer 
maior contaminação das fontes de água. Águas contaminadas colocam a população em risco 
de diversas enfermidades. Chuvas intensas também podem provocar inundações nas áreas 
urbanas, muitas doenças se proliferam nessa situação, podemos citar o caso da leptospirose, 
uma zoonose que contamina os ratos que eliminam o agente através da urina. A inundação 
espalha o agente pela área e o homem se contamina ao entrar em contato com essa água 
através de algum ferimento na pele. É uma doença bem característica das áreas de inundação. 
Outro fator que pode influenciar o aparecimento de determinadas doenças é a topografia. A 
malária, por exemplo, está ligada aos charcos que se formam próximos ao leito dos rios. Esses 
charcos são criadouros dos mosquitos vetores da doença. As montanhas com altitude elevada, 
onde a pressão atmosférica é menor, favorecem as pessoas que sofrem de pressão baixa, já os 
terrenos baixos, com uma maior pressão atmosférica, favorecem a saúde dos hipertensos.
No mundo contemporâneo, a preservação do meio ambiente já é vista como um fator 
importante para a sobrevivência humana. Muitos esforços foram e são feitos no sentido da 
preservação da biodiversidade. Nas áreas urbanas, a manutenção dos espaços verdes torna-se 
cada vez mais necessária para contribuir com o equilíbrio do clima e da poluição. 
Quando o ambiente natural é modificado por ações antrópicas, geralmente com a exploração 
de recursos naturais e desmatamentos ocorre a quebra do equilíbrio aumentando a possibilidade 
de transmissão de agentes que causam doenças. Desta maneira podem surgir novas doenças. 
Nesses ambientes impactados pela ação do homem é comum haver o desequilíbrio do 
componente biológico. Espécies antes raras podem se tornar abundantes e vetores como os da 
malária, quando proliferam aumentam o risco de transmissão. 
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Unidade: Epidemiologia
No ambiente antrópico rural, o homem acaba facilitando o aparecimento de riscos 
epidemiológicos por meio das suas atividades. Na agricultura, para manter a plantação produtiva, 
aduba o solo com produtos químicos e combate às ervas daninhas com herbicidas e para 
evitar o ataque dos insetos usa os inseticidas. Ao manter sua plantação produtiva, o agricultor 
acaba contaminando seriamente o meio ambiente colocando em risco a sua saúde, de seus 
trabalhadores e de toda a população que vai ingerir o alimento contaminado. Situação parecida é 
observada na pecuária intensiva, com os animais confinados há o acúmulo de esterco e com um 
manejo inadequado ocorre a proliferação das moscas, que acabam chegando às comunidades 
humanas. Muitas espécies dessas moscas servem de vetor a inúmeras infecções. Para combater 
esses insetos que atacam os rebanhos, venenos são aplicados contaminando os animais e seus 
produtos. Nas áreas urbanas, outros riscos relacionados ao meio ambiente surgem como a 
falta de áreas verdes, por exemplo. Em áreas de clima quente, o calor torna-se insuportável e a 
radiação do calor liberado pelas superfícies pavimentadas eleva a temperatura em vários graus, 
provocando
as ilhas de calor. As altas temperaturas contribuem para a multiplicação de insetos e 
outras pragas urbanas. As áreas verdes por sua vez, ajudam amenizando a poluição, diminuindo 
o ruído e melhorando a qualidade de vida. 
Nosso meio urbano comporta muitas espécies indesejáveis chamadas de pragas. São animais 
que evoluíram, passando a viver no próprio ambiente humano, essas espécies quase sempre 
representam riscos à saúde. É o caso de ratos, pombos, baratas, aranhas, escorpiões, mosquitos, 
moscas etc. Toda essa fauna está relacionada com doenças como leptospirose, infecções diversas, 
acidentes por picadas etc.
A humanidade vive, em sua quase totalidade, em um meio modificado. O ambiente antrópico 
exerce uma notável influência sobre a saúde e o bem estar dos seres humanos. A melhora da 
qualidade de vida, e isso inclui claro ter saúde, tem muito a ver com a consciência, valores, 
atitudes e ações frente aos problemas ambientais que se apresentam na modernidade.
Portanto, no cenário atual o homem convive com as doenças infecciosas e as não infecciosas; 
com um agravamento das doenças ligadas aos hábitos de vida. Nesse quadro, o entendimento 
da saúde da população torna-se complexo, temos então como instrumento de planejamento e 
gestão do ambiente a Epidemiologia.
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Unidade: Epidemiologia
Referências
Ianni, A. M. Z. Biodiversidade e saúde pública: questões para uma nova abordagem. Saúde. 
Soc. v. 14 n. 2 São Paulo. 2005
Almeida, N; Barreto, M. L. Epidemiologia e saúde: fundamentos, métodos e aplicações. Rio 
de Janeiro. Ed. Guanabara Koogan, 2011.
Franco, L. J. et al. Fundamentos de epidemiologia. 2. ed. Barueri: Manoele, 2011.
Philippi, A; Pelicioni, M. C. F. Educação ambiental e sustentabilidade. 2. ed. Barueri: 
Manoele, 2014.
Philippi, A. Saneamento, saúde e ambiente. Editor. Barueri: Manoele, 2014.
Battaglin, P. et al. Saúde coletiva: um campo em construção. Curitiba: Ibpex, 2006.
Rosa, A. et al. Meio ambiente e sustentabilidade (recurso eletrônico). Porto Alegre: 
Bookman, 2012.
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Anotações
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