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A sociologia e a sociedade contemporânea

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1 
A Sociologia e a Sociedade Contemporânea 
Parte I 
 
Rogério Mendes de Lima 
 
 Muitas vezes em nosso cotidiano fazemos comentários ou mesmo afirmações convictas 
sobre os fenômenos que nos cercam. E muitas vezes sem perceber estamos reproduzindo ou 
utilizando conceitos e explicações sobre a sociedade que tiveram sua origem na reflexão 
sociológica. As regras e normas que organizam a nossa vida, as classes sociais com as quais 
compreendemos a nossa realidade econômica, a percepção da subjetividade e da ação individual e 
suas múltiplas motivações como essenciais para a compreensão da sociedade contemporânea e 
mesmo a percepção da cidadania política como condição primeira para a construção de um Estado 
verdadeiramente democrático, são fenômenos que desde o século XIX se constituem em objeto da 
Sociologia, mas que ao mesmo tempo, são parte indissociáveis de nossa própria existência 
enquanto ser social. 
 Esta relação entre as reflexões e pesquisas da Sociologia e a realidade que vemos se 
desenrolar ao nosso redor, não é gratuita. Em verdade, a Sociologia é uma ciência que somente 
pode existir a partir das condições sociais construídas no ocidente com o advento da modernidade. 
Do mesmo modo, a explicação racional da sociedade moderna e contemporânea não estará 
completa se não for de algum modo fruto da reflexão sociológica. Nesse sentido, a Sociologia não 
é apenas mais uma ciência a produzir conceitos e explicações muitas vezes difíceis de serem 
compreendidas acerca das várias esferas da vida humana. Ela pretende, e necessita ser, uma 
ferramenta para que indivíduos e grupos possam dar sentido ao mundo em que vivemos. 
 
1. A Sociedade contemporânea e suas características. 
 
Enquanto instrumento de explicação do mundo, a Sociologia se ocupa dos mais variados 
assuntos. Neste texto procuraremos refletir sobre alguns destes aspectos. As mudanças trazidas 
pela Revolução Industrial e sua importância para o surgimento da disciplina, A nova dinâmica da 
relação entre indivíduo e sociedade, em particular a questão da construção da cidadania, a análise 
do que a literatura sociológica denominou de encaixes e reencaixes (Giddens, Domingues,) e suas 
conseqüências práticas nas ações de indivíduos e coletividades, e por último a proposta de uma 
breve discussão, à luz da teoria sociológica sobre dois temas tão caros à sociedade em que nos 
inserimos, a Desigualdade Social e os direitos humanos. 
 
1.1 A Revolução Industrial e o surgimento de um novo padrão econômico. 
 
A Revolução industrial alterou de modo profundo à organização econômica das sociedades 
ocidentais. E por mais incrível que possa parecer num mundo dominado pela tecnologia e pela 
transformação incessante, não por ter sido uma grande revolução de técnicas de produção ou 
marcada por grandes invenções. De certo modo, pode-se dizer que apesar do termo, a Revolução 
Industrial é o ápice de um conjunto de mudanças que vinha perpassando toda a sociedade, 
afetando desde a religião até a visão política, sem deixar nenhuma esfera da vida social intacta. 
De qualquer maneira, cem anos após o seu início, o mundo não era mais o mesmo. Uma nova 
ideologia e uma nova organização da cultura se fazem presentes ( Hobsbawn). Entretanto, é no 
campo da organização econômica que estas transformações mais se fazem sentir. O panorama 
econômico é completamente diferente de tudo que a humanidade havia experimentado. Um 
contingente de trabalhadores de grande monta, circulava pelas cidades em luta pela sobrevivência, 
tornando-se pela “tortura da fome” ( Weber), mão de obra barata e abundante para as fábricas cada 
vez mais presentes no espaço urbano. 
 2 
As condições de trabalho insalubres e exaustivas, com jornadas de até 14 horas diárias, sem 
nenhum tipo de proteção contra acidentes, sem salário fixo e até sem garantia qualquer de 
emprego, formam um quadro terrível no que se refere à experiência no “mundo do trabalho”. 
Acrescente-se a isso, a utilização em larga escala do trabalho feminino e infantil, pelo simples 
motivo de ser mais barato, mas nem por isso menos explorado, e se tem um quadro quase “infernal” 
da vida nas fábricas. 
Mas fora delas a realidade não é muito diferente. A inexistência de políticas de habitação, 
saneamento e educação para atender a um número cada vez maior de pessoas, transforma o 
cotidiano fora da fábrica em uma experiência tão terrível como aquela. Casas pequenas, sem 
janelas, onde o casal e um sem número de filhos se amontoam para dormir. Onde a água potável é 
um sonho, onde a comida é pouca e de baixa qualidade nutritiva, além de ser dividida em muitas 
bocas, onde as doenças se proliferam e ceifam vidas sem que nada se consiga fazer para impedir, 
compõem um quadro aterrador da realidade dos trabalhadores na primeira metade do século XIX 
nas grandes cidades industriais da Europa. 
Por outro lado, a burguesia industrial que consolida seu poder econômico e político representa a 
ostentação e o luxo. Casas enormes, roupas caras, grande bailes e uma condenação da conduta 
dos operários, a quem culpam por seu próprio destino, são a realidade destes grupos sociais. A 
desigualdade econômica se reflete no “cheiro” de cada um. Um industrial norueguês afirmou em 
certo momento que ele reconheceria um operário apenas pelo seu cheiro, sem precisar vê-lo. O 
novo panorama econômico é sobretudo um reflexo da imensa desigualdade social reinante naquele 
contexto histórico e cultural. 
São os médicos os primeiros a denunciarem esta situação. Chamados às pressas em situações 
em que nada podem fazer, constatam o que a burguesia finge não ver, ou seja, as condições sub-
humanas em que vivem e se reproduzem os responsáveis pela produção da riqueza ostentada pela 
burguesia.1 
 A chamada “questão social” ( Castel, 1998), se torna o problema a ser resolvido na sociedade 
da segunda metade do século XIX. Por alguns motivos. O primeiro deles é que a própria base das 
revoluções que levaram a burguesia ao poder político tinham como uma de suas demandas centrais 
a construção de uma sociedade de homens livres e sem privilégios de nenhuma espécie. Funda-se 
ainda na concepção de que os homens livres podem resistir à opressão2. Como a posse da 
propriedade é a geradora da desigualdade, estabelece um paradoxo, e assim sendo precisa de uma 
resposta, que no contexto da sociedade moderna somente pode ser dado por uma ciência. 
 Por outro lado, as demandas dos trabalhadores começam a ser mais bem organizadas nos 
movimentos sociais e nos partidos. As greves se multiplicam, bem como as revoltas do proletariado. 
A violência também cresce nos centros urbanos, atingindo também membros da burguesia que, 
assustados, começam a buscar uma solução que lhes agrade. Do lado oposto intelectuais, médicos 
e trabalhadores também tentam construir uma alternativa ao mundo em que vivem. A epidemia de 
cólera ocorrida na Europa3 vai tornar urgente a aplicação de um remédio para impedir que a 
Questão social destrua a própria sociedade. 
 
1
 Para maiores informações sobre realidade dos trabalhadores neste período, ler A Situação da Classe Operária na Inglaterra de F. 
Engels, disponível no endereço eletrônico www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/biblioteca/geral/hg_contemporanea/hg_contemporanea. 
 
2
 Sobre este assunto ler Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, disponível em 
www.educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/declaracao. 
 
3
 Para mais informações sobre a epidemia de cólera e sua importância na busca pela solução do problema da desigualdade social, ver EPIDEMIOLOGIA E 
SISTEMAS DE SAÚDE de (Eleonor Minho Conill), disponível em www.saudepublica.bvs.br/itd/legis/curso/html/a07.htm 
 
 3 
Neste contexto, a criação de uma ciência da sociedade é uma das alternativas consideradas. 
Comte de um lado, e Marxde outro irão criar formas de explicação da sociedade européia do século 
XIX. Comte, considerado como o fundador formal da Sociologia a pensa como a ciência que irá 
produzir um remédio para a desordem reinante e que, na visão que ele defende, impedem o 
progresso e a resolução progressiva dos problemas sociais. Marx vê em seu Materialismo Histórico 
e Dialético, a ciência que transcendendo a filosofia e o socialismo utópico irá não somente 
desvendar os mistérios do capitalismo, mas promover a sua superação, reorganizando o sistema 
econômico e acabando com a desigualdade. 
 
1.1.1 – Karl Marx 
Nesse sentido, a Sociologia em quatro autores, apontará teses que explicam a existência da 
desigualdade social, a interpretam e apontam quase sempre, soluções para que ela se reduza. Em 
comum estes autores têm a percepção que a vida econômica é o elemento central de explicação da 
desigualdade e que o modelo liberal de algum modo precisa ser repensado, sob pena de produzir 
um rompimento da sociedade capitalista. 
De acordo com Karl Marx, a desigualdade é inerente ao sistema capitalista. A desigualdade 
econômica é produzida nas relações de produção e explica todas as demais desigualdades 
observadas nas sociedades humanas. O conflito de interesses entre as classes dirigentes e as 
classes subalternas é o motor da história. “ A história das sociedades é a história da luta de 
classes”. ( Marx e Engels, in O Manifesto Comunista). Como Classe Social, ele entende um grupo 
de indivíduos que ocupam a mesma posição na esfera econômica. 
A desigualdade social é resultado não da vontade individual, mas de uma necessidade de 
sobrevivência do próprio sistema. Ricos e pobres são produtos da dinâmica das relações 
econômicas, sendo o proletariado miserável o contrário do burguês opulento. A solução, que ele 
não chega a definir estrategicamente como será implementada, é a transformação do sistema 
econômico capitalista com a extinção da propriedade privada dos meios de produção.4 
Como exemplo da extensão das relações econômicas para o restante da sociedade, podemos 
pensar o fato de que aqueles que controlam o sistema econômico no capitalismo, controlam direta 
ou indiretamente todas as outras esferas e instituições relevantes para a sociedade. Quando um 
membro dessas classes comete um crime semelhante são de um membro da classe operária, a 
probabilidade de que eles sofram as mesmas punições é remota. Ao contrário é quase sempre 
provável que aquele representante das classes subalternas, seja condenado a uma pena maior que 
o outro, mesmo sabendo-se que o representante das classes dirigentes teve muito mais acesso à 
informação e conhecimento das conseqüências do descumprimento da lei pelo outro. 
Um outro exemplo pode ser pensado a partir da questão da redução da maioridade penal. A 
violência cometida por adolescentes vem crescendo nos últimos anos em todas as classes sociais. 
Gangues as mais diversas, filhos que assassinam os pais ou jovens de classe média alta que se 
envolvem com a criminalidade deixaram, infelizmente, de serem casos esporádicos. Contudo, a 
discussão da redução da maioridade somente ganhou corpo quando os jovens de classes pobres 
cometeram crimes igualmente bárbaros. Ou seja, a violência das classes dominantes é pensada 
como menos grave do que a violência das classes populares. 
Ainda refletindo sobre a realidade brasileira. Uma suspensão de obra pública por uma empresa 
privada por falta de pagamento é anunciada nos meios de comunicação com todas as explicações 
necessárias para que se compreenda o acontecido. Entretanto, uma greve de trabalhadores é 
apontada por estes mesmos meios como baderna, desordem e como algo que prejudica a 
população, raramente se explicando as causas que levaram os trabalhadores aquele gesto, muitas 
vezes a mesma falta de pagamento por parte do Estado. 
 
4
 Uma discussão mais aprofundada sobre as teses de Marx pode ser feita em diversas obras de fácil acesso. Em particular a leitura do 
Capital, caps 1 e 2. Do Manifesto Comunista e da coletânea grandes economistas sobre Marx, em especial o prefácio de Jacob 
Gorender. A obra de F. Engels, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, é também um bom material de referência para os 
interessados. 
 4 
Um exemplo de como esta questão é abordada a partir da inserção econômica, é que em 
relação à postura das empresas se discute a aplicação de multas de modo genérico, sem nenhuma 
cobrança de que isto seja realizado imediatamente pelo Estado, que mesmo em casos em que tem 
razão demora anos na Justiça até que a questão seja decidida. No caso dos servidores públicos, 
discute-se abertamente a restrição do direito de greve, tornando uma lei, aplicável imediatamente. 
Isso reflete exatamente a extensão da dominação de classe do campo econômico para as outras 
esferas da sociedade. Para encerrar, o recente caso da obra do Metrô de São Paulo, onde a perícia 
constatou uma falha das empresas responsáveis pela obra nos fatos que levaram até aquela 
tragédia, até o momento resultou apenas no cancelamento do contrato, mas em nenhuma pena 
efetiva para os dirigentes da empresa. As famílias dos falecidos, pessoas das classes subalternas, 
saíram do noticiário e provavelmente terão de se empenhar muito para serem indenizadas por suas 
perdas. Ou seja, tratamento diferenciado para ricos e pobres. 
A análise marxista da sociedade consegue como nenhuma outra dar conta da explicação 
econômica do capitalismo. Difundida na sociedade contemporânea, está presente em grande parte 
das interpretações que partem da economia para explicar a sociedade. É uma das vertentes mais 
significativas do pensamento político do século XX. Mesmo para os que não se consideram 
adeptos da prática política defendida por esta vertente, não é possível negar os méritos e a 
influência que o pensamento de Marx tem sobre os próprios adversários. 
1.12 – Aléxis de Tocqueville 
Aléxis de Tocqueville, discute a desigualdade pelo seu viés político. Para ele democrática é a 
sociedade onde Democrática é a sociedade em que “Não subsistem de ordens e de classes; Em 
que todos os indivíduos que compõem a coletividade são socialmente iguais o que não significa que 
sejam intelectualmente iguais, o que é absurdo, para Tocqueville”.(Nogueira, 2004) Para ele a 
igualdade deve ser entendida como igualdade de oportunidades independente da origem social ou 
religiosa. A busca pela igualdade social deve ser o norte para o qual se orientam as sociedades 
humanas. 
 Desse modo, a desigualdade social é sempre um problema, pois contradiz o que deve ser a 
essência de uma sociedade democrática. Todas as decisões devem ser tomadas pela coletividade 
em condições iguais de expressão, esta é a única maneira de evitar a existência de uma tirania ou 
qualquer tipo de governo despótico, que aja em função de interesses de alguns e não da 
coletividade. Sua análise está presente na defesa e na construção do chamado Estado Democrático 
e no desenvolvimento de uma correta e construtiva cidadania política. 
A partir das discussões de Tocqueville é possível realizar uma crítica inclusive do modelo de 
Estado Democrático existente em alguns países como o Brasil, que amplia a exclusão ao invés de 
reduzi-la, ou da concepção neoliberal de Estado e de sociedade que tem na desigualdade 
econômica um princípio. Por isto pode se entender e ter em Tocqueville um dos autores fundadores 
das Ciências Sociais. 
1.13 – Émile Durkheim 
Émile Durkheim pode ser considerado o primeiro autor a claramente procurar organizar a 
Sociologia como disciplina. Se em Comte, Marx e Tocqueville a reflexão sociológica está presente, 
nestes autores ela não se encontra sistematizada como uma disciplina científica por excelência. 
Diferentemente em Durkheim pela primeira vez os estudos transcendem a necessidade de explicare transformar a sociedade para se organizar de modo lógico a disciplina que se propõe a fazê-lo. 
A definição do objeto de estudo da Sociologia, a proposição de um método e sua aplicação 
concreta em um caso real, são características que fazem deste autor, um clássico da disciplina e 
referência obrigatória. 
Paralela à preocupação de inserir de modo definitivo a Sociologia no campo das ciências, 
Durkheim se preocupou em analisar os fenômenos sociais típicos da sociedade de seu tempo. Para 
ele a vida social é possível em virtude da existência de um conjunto de normas e regras coletivas 
que orientam e condicionam as ações individuais. A estas normas e regras ele denomina Fato 
Social. 
 5 
Os Fatos Sociais se caracterizam por serem exteriores, coercitivos e gerais. Exteriores porque 
são criados a partir da vontade coletiva e não das preferências individuais. Existem fora de nossas 
consciências e sua existência independe da minha concordância individual. São Coercitivos porque 
para cada norma ou regra criada pela coletividade, há uma punição prevista para aqueles que as 
descumprirem. Nesse sentido, os fatos sociais exercem sobre os indivíduos uma “pressão” pelo 
cumprimento das decisões coletivas. São gerais porque são aceitos pela maioria da sociedade e 
suas normas e regras são colocadas em prática por esta mesma maioria. 
Sendo assim, é a sociedade quem determina a conduta individual. Quando imagino uma ação 
ou quando digo em uma conversa que gosto de uma coisa ou de outra ou que tenho uma opinião 
sobre um assunto, estou em verdade reproduzindo o que a minha experiência social me levou a 
considerar certo ou errado. A percepção de que estas são idéias exclusivamente individuais são 
resultado de um processo de introjeção das normas e regras coletivas de minha sociedade ou grupo 
social. É resultado do processo de socialização5. 
Como exemplos concretos da existência do fato social e de sua importância na explicação da 
vida social, temos o exemplo das Leis e da Educação. Nos dois casos estamos diante de normas e 
regras que se sobrepõem às vontades individuais, exercem coerção sobre os indivíduos e são um 
padrão para toda a sociedade. As leis de trânsito existem independente da minha vontade 
individual, prevêem uma punição para o seu descumprimento e são gerais porque se referem à 
conduta da maioria dos indivíduos. 
A sociedade é para Durkheim uma entidade moral. É nesse sentido que ele irá identificar e 
explicar o problema da desigualdade. Polemizando com o Marxismo, Durkheim entende que não é a 
economia o centro dinâmico que explica tudo o que acontece na sociedade, são as normas e regras 
e sua aplicação na vida social quem dão conta de explicar a sociedade. 
Dessa maneira, a desigualdade social não deve ser explicada pela existência do capitalismo. A 
Divisão do Trabalho6, característica central da sociedade industrial é o que mantém a própria 
coesão social. É porque dependemos uns dos outros, já que não conseguimos apreender tudo o 
que nos cerca ou porque nossos valores são diversificados na medida em que os grupos sociais 
também se multiplicam, que continuamos a viver em sociedade. Nesse sentido, a divisão do 
trabalho e a alienação, diferente do que defendia Marx, podem ser vistas como parte do cimento 
social que gera a interdependência entre os indivíduos e os mantém juntos. É o que ele denomina 
solidariedade social7 
Segundo ele, durante períodos de transição podem ocorrer “falhas” no sistema social e estes 
podem gerar distorções que precisam ser corrigidas. No caso da sociedade européia do século XIX, 
duas mudanças produzem problemas no organismo social, não por serem ruins ou inadequadas, 
mas por ainda estarem carentes de uma regulamentação social. Primeiramente o Indivíduo eleito 
pela sociedade como um valor coletivo acima de qualquer outro. A liberdade, a racionalidade, a 
cidadania política e social, seriam exemplos desta nova condição, que não será encontrada em 
outras sociedades historicamente conhecidas. Contudo, muitas vezes isto é confundido como uma 
predominância da vontade individual sobre a coletiva, fazendo com que interesses particulares se 
sobreponham aos coletivos, gerando conflitos que prejudicam a coesão social. 
Em segundo lugar, ele analisa a economia. A esfera econômica é entre as novas áreas 
desenvolvidas pela divisão do trabalho, aquela de maior impacto sobre a vida social. Porém se 
 
5
 Por socialização entende-se o processo pelo qual as pessoas aprendem a sua própria cultura. ( Hamlim, 2006). Ele é essencial para 
a nossa construção efetiva como seres humanos. É o processo de socialização quem determinará os valores e crenças e minha 
integração ou não à sociedade. 
6
 Para Durkheim, a Divisão do Trabalho, presente na sociedade industrial, decorre de uma evolução que passa a segmentar cada vez 
mais o trabalho, não é fonte de conflito, mas de coesão social. 
7
 Para Durkheim existem dois tipos de solidariedade, a mecânica e a orgânica. A primeira se refere à uma consciência coletiva que 
perpassa toda a sociedade e se cristaliza em um conjunto de crenças e valores comuns a todos. A orgânica está relacionada às 
características da sociedade industrial moderna que constrói estes valores e crenças a partir dos diferentes grupos sociais existentes. 
Em ambos os casos, ela gera coesão social, seja pela semelhança, seja pela interdependência entre as partes. 
 6 
caracteriza sob o liberalismo clássico pela ausência de regras coletivas. Desse modo, as condutas 
de cada um nessa área não são marcadas pela ação comum, mas pela vontade individual, levando 
ao surgimento de situações que colocam em risco a convivência social, além de gerar os problemas 
ligados à desigualdade social. Não há problema em haver diferentes formas de inserção no sistema 
econômico, desde que a remuneração e as condições de trabalho sejam justas. 
A ausência de normas conduz a uma situação crítica em dois sentidos. A econômica, 
questionada pelos sindicatos e principal causa da desigualdade social, e à falta de reconhecimento 
da importância do organismo em relação ao todo, levando apenas à percepção da atividade 
profissional apenas pelo viés individual, origem das reivindicações socialistas. 
Para solucionar esta questão é necessária a introdução de normas e regras na vida econômica. 
Nesta proposta Durkheim deixa clara duas críticas. Uma ao socialismo, que ele entende não 
compreender que a vida social tende a harmonia e não ao conflito. E a segunda mais significativa, 
ao liberalismo clássico que defende uma ausência do Estado na economia. Segundo nosso autor, é 
o Estado quem deve assumir a tarefa de organizar a vida econômica para superar os problemas 
derivados da desigualdade social8. 
1.14 – MAX WEBER 
Max Weber é o quarto autor da Sociologia que pode ser considerado uma referência para as 
reflexões sociológicas contemporâneas. Do ponto de vista da disciplina, assim como Durkheim, 
procurou estender-se em suas análises para além das explicações do cotidiano. Na verdade ele 
buscou fazer uma clara distinção entre a percepção científica e a não científica. No âmbito das 
ciências sociais, Weber trará uma contribuição significativa ao apontar que não existe 
unicausalidade. Ou seja, um fenômeno social pode ter várias causas que o expliquem e cabe ao 
sociológico dar conta delas. Mas as conclusões deverão sempre apontar claramente sob qual 
perspectiva o fenômeno está sendo analisado. Nesse sentido, não cabe às ciências sociais 
produzirem leis gerais que dêem conta da totalidade. Mas explicar cada um a partir de seu próprio 
contexto. 
Outra novidade em relação aos autores anteriormente abordados é que ele tem como unidade 
mínima de análise o indivíduo. Enquanto Marx e Durkheim compreendem que o comportamento 
individual será determinado pelo grupo.Seja como determinação de classe ou pela predominância 
do fato social, Weber parte do princípio de que assim como o caráter específico de cada sociedade 
deve ser considerado numa investigação científica, também o indivíduo deve ser compreendido em 
suas especificidades. 
Assim, o objeto de investigação sociológica deve ser a conduta humana dotada de sentido, Istoé 
com uma justificativa subjetivamente elaborada. ( Costa, 2005). Para explicar esta conduta Weber 
cria o conceito de Ação Social. Esta consiste em toda ação realizada pelo indivíduo levando em 
consideração a ação dos outros atores sociais. Pode ser classificada em quatro tipos. 
A ação Tradicional é aquela que se realiza orientada pelo hábito e pela tradição arraigada. A 
ação Afetiva é aquela motivada pela emoção ou pelo afeto. A ação racional com relação a valores, 
consiste na conduta humana motivada por um valor percebido como essencial, independente do 
êxito deste valor na realidade. Por último, a ação racional com relação a fins que é determinada 
pelo cálculo racional que estabelece os objetivos a serem alcançados e define os fins para que eles 
sejam atendidos. 
Um exemplo de ação tradicional é o ato de escovar os dentes pela manhã e o dos católicos de 
ser benzer ao passar em frente a uma igreja. O indivíduo não reflete a cada momento sobre esta 
ação. Ela já se transformou em um costume, estando consolidado em seu cotidiano. No caso da 
ação afetiva podemos pensar em um indivíduo que reage a uma agressão ou a um xingamento, 
 
8
 Toda a discussão presente na obra durkheimiana perpassa diversas obras entre as quais Da Divisão do Trabalho Social; As Regras 
do Método Sociológico; Do direito, Da moral e do Estado. Interessante para aqueles que quiserem entender a aplicação do método, 
podem fazer a consulta do livro O Suicídio, onde o autor aplica com sucesso seu método à explicação de um fenômeno social. 
 7 
respondendo do mesmo modo. Ela consiste numa reação momentânea a uma situação 
inesperada. Em outro contexto, a reação poderia ser completamente diferente. 
No caso da ação racional a valores, podemos citar alguém que age motivado por um sentimento 
religioso ortodoxo ou a partir de uma convicção política da qual não abre mão, mesmo que na 
prática isto não produza o efeito desejado pelo autor da ação. No entanto, é racionalmente 
elaborada, pois o ator social considera os pontos positivos e negativos, mas opta a partir de seus 
valores essenciais e não pelos problemas que possa vir a ter. 
A ação racional a fins, se exemplifica, por exemplo, quando traço uma estratégia para passar 
numa prova ou no vestibular. Defino a partir daí as estratégias necessárias para atingir o meu 
objetivo e as organizo racionalmente, pesando prós e contras e optando por aqueles que considero 
mais adequado ao meu caso. 
No que se refere à desigualdade, Weber considera que não pode ser explicada somente por 
uma causa. Assim estabelece um debate com a tradição marxista. Para ele apesar da inegável 
contribuição para a explicação da sociedade capitalista, o marxismo se equivoca ao considerar a 
esfera econômica como a única maneira de explicar os fenômenos sociais. Segundo Weber outros 
fatores tiveram influência na constituição deste sistema social. Para provar a sua tese ele realiza um 
estudo chamado A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Conforme ele demonstra nesta 
análise, os fatores religiosos surgidos a partir da Reforma Protestante, levaram a outras 
conseqüências. Uma delas a adoção de uma forma de conduta peculiar por algumas religiões 
protestantes, e que em muito se assemelham a conduta de um burguês. 
Weber demonstra que nas regiões onde ocorreu este fenômeno, a implantação do capitalismo 
ocorreu com maior facilidade do que em regiões católicas por exemplo. Ou seja, em determinadas 
partes da Europa, o surgimento do Capitalismo não possui somente uma causa econômica, mas 
também religiosa. 
Ele defende ainda que o desenvolvimento do capitalismo e a questão da desigualdade social, 
não levariam necessariamente ao Socialismo, pois as transformações na estrutura estatal, com a 
progressiva burocratização e outros fatores como o desenvolvimento tecnológico ou a ação política 
poderiam levar a um outro caminho. Nesse sentido, a contribuição maior de Weber é demonstrar 
que a história não tem um curso previamente definido e que os indivíduos têm um papel 
fundamental na construção e na definição dos rumos da sociedade. A sociedade, a estrutura social 
e suas regras são produto das conseqüências não intencionais das ações dos indivíduos. 
Um exemplo a ser pensado pode ser a deposição de Fernando Collor nos anos 90. Duas 
motivações centrais estiveram presentes nos movimentos sociais e entidades da sociedade 
responsáveis por aquele fato histórico. A moralidade da administração pública e a luta contra o 
neoliberalismo. Entretanto, a deposição de Collor, e a ascensão à presidência de Itamar Franco 
possibilitou a chegada de Fernando Henrique Cardoso ao poder, inicialmente como ministro da 
fazenda e posteriormente como presidente eleito. Foram exatamente a partir do seu governo que o 
neoliberalismo mais avançou no Brasil, e foi também da estrutura política de alianças que 
possibilitaram a aprovação das leis necessárias à implementação do modelo neoliberal que tiveram 
origens os diversos escândalos vividos na política brasileira nos últimos anos. Este é um exemplo 
de como nossas ações podem ter conseqüências sociais não previstas e até contrárias aos motivos 
que originaram a primeira ação. 
Entretanto, deve se ressaltar que em nenhum momento Weber afirma que o individuo faz o que 
quiser, que não sofre influência da sociedade. Em outras palavras, a tese de Weber não pode ser 
confundida como uma defesa do individualismo, como às vezes é relacionada. A teoria sociológica 
weberiana é uma percepção interacionista da sociedade9. É fundamental na compreensão de 
fenômenos não oficiais ou não vistos pela maioria da sociedade como positivos e aceitáveis. 
 
 
9
 Segundo o Interacionismo, A vida social somente é possível na medida em que as pessoas atribuem significados subjetivos às 
coisas e aos contextos sociais em que estão inseridos. ( Goffman citado por Hamlin, 2006) 
 8 
2. A Aplicação das Teorias Sociológicas na construção da sociedade contemporânea. 
 
As diferentes teorias e interpretações da realidade social da sociedade industrial capitalista, 
realizadas pela Sociologia, tiveram significativa influência no modo como a mesma se desenvolveu 
a partir do final do século XIX. Primeiramente estaremos discutindo aquelas que se relacionam com 
a questão da desigualdade social. 
 
2.11- As Teorias Sociológicas e a evolução histórica da compreensão e tratamento da 
desigualdade. 
 
 A incorporação das abordagens sociológicas à prática social ocorreu de diversas maneiras, 
principalmente nas ações do Estado para tentar resolver a “questão social”. Nesse sentido, as 
teorias sociológicas em muitos casos foram combinadas para tornar real as propostas de 
transformações sociais imprescindíveis para a consolidação da sociedade contemporânea. 
 Uma dos diagnósticos mais significativos dos sociólogos foi a percepção de que o 
Estado precisava modificar sua forma de ação perante a sociedade, abandonando boa parte dos 
pressupostos contidos no liberalismo clássico. Desse modo, a crítica sociológica à falta de 
regulamentação da vida econômica, da falta de instrumentos para o processo de socialização das 
classes proletárias, da superação da desigualdade política e da necessidade de alteração radical do 
padrão econômico se tornaram em diversos momentos do século XX, alternativas concretas para 
combater a questão da desigualdade. 
 Cabe ressaltar que a pressão exercidapelos movimentos sociais, grande parte deles das 
tradições teóricas da Sociologia, fez com que a política do Estado para a sociedade, em especial na 
ação diante da questão social se modificasse e que algumas propostas já existentes deixassem de 
ser ignoradas pelas classes dominantes, gerando alternativas ao liberalismo clássico, como o 
populismo ou a social democracia. 
 A construção do sistema público de educação é uma destas alternativas. A montagem de um 
sistema educacional cuja finalidade central é socializar os indivíduos, tornando-os indivíduos 
capazes de conviver e compreender as regras e valores básicos de sua sociedade, consiste em 
uma inclusão das idéias que apontavam a ausência de uma formação adequada para os indivíduos 
independente da posição ocupada na sociedade, como uma das causas da desigualdade. 
 As próprias características das instituições educacionais apontam nessa direção. A 
padronização do currículo mínimo, a utilização de uniformes e em certo sentido as avaliações 
globais como, vestibular, ENEM e outras do gênero são uma forma de “medir” o grau de 
padronização. Desse modo, os que conseguiram chegar mais próximo do padrão considerado ideal 
pela sociedade, obterão as melhores notas. O oposto ocorrerá com os que obtiverem resultados 
inversos. A caracterização de boa ou má escola, bons ou mal alunos feita pela sociedade, é uma 
demonstração de que o sistema hegemônico tem por objetivo esta padronização. 
 Obviamente que o sistema educacional em que pese ser uma tentativa de criar um processo 
de formação das novas gerações, não está imune de críticas e problemas. Ele pode ser visto como 
uma forma de controle das classes subalternas, visto que o conteúdo a ser aprendido pelos alunos 
é decidido pelas classes dirigentes. Se considerarmos que estes dirigentes representam ou estão a 
serviço das classes que dominam a economia, a educação pode ser uma maneira de manter o 
status quo, formando indivíduos alienados e sem consciência crítica para perceber as relações de 
poder existentes na sociedade. Numa linha funcionalista, o sistema pode ser considerado causa de 
boa parte dos problemas sociais vividos e criados pelos jovens, na medida em que revela uma falha 
no processo de socialização realizado por estas instituições. 
 Não pode se negar, no entanto, o papel que em diversos países o sistema educacional teve 
na redução das desigualdades sociais e na abertura de possibilidades menos limitadas para a 
ascensão social das classes trabalhadoras. 
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 A ação do Estado como agente de combate às desigualdades sociais não se restringiu ao 
sistema educacional. Em diversas áreas, o chamado Estado social em suas diferentes versões, teve 
um papel importante na discussão deste problema. Exemplo disso, é a construção de um sistema 
público de previdência social para minimizar a situação de desproteção dos trabalhadores. Da 
saúde pública, objetivando estender o tratamento e reduzir os problemas médicos das classes 
pobres. A criação de obras de infra estrutura que tiveram o duplo objetivo de resolver problemas 
básicos de saneamento e moradia, mas também funcionar como fonte de emprego para as classes 
populares e a criação de empresas públicas como forma de gerar empregos e atuar em setores 
essenciais para o desenvolvimento econômico, podem também ser incluídos no rol das ações do 
Estado no sentido de interferir no problema. 
 Não se pode omitir a ação do Estado como regulador das atividades econômicas, outras das 
teses defendidas pelos sociólogos clássicos. A criação de diversas leis transformaram o cenário da 
relação entre patrões e empregados, permitindo a estes últimos, a ampliação da inserção e ao 
mesmo tempo transformando-a em alguma coisa mais segura em todos os aspectos. 
 Desse modo, pressionado por um lado pelos movimentos sociais e por outro, pelas críticas 
das ciências sociais, e justiça seja feita, que apesar de sua origem sociológica, ultrapassaram os 
limites da Sociologia, atingindo os mais diferentes campos do saber, o Estado teve de agir para, 
mesmo que em defesa da manutenção e crescimento da sociedade capitalista enfrentar o problema 
da desigualdade social. 
 Outra das alternativas de solução para o problema da desigualdade passou pela tentativa de 
superação das relações capitalistas de produção, cristalizada no Estado Socialista. A partir das 
idéias e interpretações realizadas por diversos atores políticos, culturais e econômicos, realizaram 
revoluções que a partir de 1917 trouxeram para a realidade uma nova forma de Estado. Com uma 
proposta de gestão coletiva e sem divisão de classes no sistema econômico, estes Estados 
procuraram implementar ações com o sentido de construir uma sociedade sem desigualdades. 
Vários sucessos foram alcançados neste sentido. 
 Entretanto, por diversas questões essas experiências na maior parte do mundo vêm sendo 
desmontadas nos últimos anos com um retorno ao sistema capitalista de produção. Sem entrar no 
mérito das críticas dirigidas ao socialismo, o mais significativo do ponto da crítica sociológica é que 
a ausência de uma teoria do Estado na obra de Marx, pode ter sido decisiva nos problemas 
enfrentados por esta vertente política. A crítica sofrida pela teoria marxista original de pensar a 
economia como única forma de explicar a luta de classes e de resolvê-la, mais do que nunca se 
revelou correta, visto que grande parte dos equívocos cometidos estiveram relacionados à uma 
manutenção da desigualdade em outros níveis, como os culturais e políticos. Pesando ainda que a 
construção destes Estados não passou pela incorporação de uma cidadania política de fato à 
prática cotidiana. Não deve se negar a importância do socialismo na sociedade contemporânea, até 
nas sociedades capitalistas, porquanto a criação do Estado de Bem Estar Social é uma resposta 
direta à existência do Estado e da propostas socialista. 
 A extensão da cidadania política é outra das características da sociedade contemporânea 
que são tributárias das teorias sociológicas. A construção das sociedades democráticas seguiu em 
grande medida o modelo proposto por Tocqueville ao observar os EUA do século XIX. A ampliação 
dos canais de participação democrática, principalmente pela tomada de consciência e pela luta 
promovida pelos diversos movimentos sociais, significou de certo modo uma redução da 
desigualdade política, cultural, religiosa e étnica. 
 Em nossos dias, os movimentos sociais em suas diferentes manifestações e aspectos, as 
organizações não governamentais, a existência de partidos fora da esfera das classes dominantes e 
a extensão do direito de voto a todos os cidadãos sem distinção, é um exemplo de como a 
assimilação das teses das ciências sociais foram importantes para a consolidação da sociedade em 
que vivemos. 
 Procuramos assim, demonstrar como a Sociologia representa uma forma de pensar a 
sociedade moderna que foi assimilada de muitas formas, ajudando a contribuir para a construção e 
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consolidação de nossa sociedade. Mais que isso, as críticas das ciências sociais ajudam ainda 
hoje a pensar a sociedade. Como veremos em outro texto, fenômenos sociais os mais diversos 
relacionados ao processo de transformações que geram a sociedade da informação, são hoje um 
campo frutífero para que a ciência da sociedade possa exercer o seu papel ao mesmo tempo 
esclarecedor e crítico, propondo talvez as soluções necessárias para a compreensão do mundo em 
que vivemos e como já disse certa vez Marx, não apenas explicando, mas transformando-o. 
 
Rio de Janeiro, maio de 2007 
 
 
 REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA 
 
Tomazi, Nelson D. Iniciação à Sociologia, Atual Editora, 2ª edição, SP, 2000 
 
Hamlin, Cynthia L. e outros. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. Editora Thomson, 2006. 
 
Costa, Cristina. Sociologia, introdução à ciência da sociedade. Editora Moderna, 2003.

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