Buscar

Técnicas Jurídicas - a arte do convencimento

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Técnicas Jurídicas – linguísticas, discursivas, paráfrases- e tribunal do júri: a 
arte do convencimento 
BARBIERO, Diego Roberto. Técnicas linguísticas-discursivas, paráfrases e tribunal do júri: a arte do 
convencimento. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1328, 19 fev. 2007. Disponível em: 
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/9514>. Acesso em: 12 abr. 2011. 
Introdução. 
 O presente trabalho tem como objetivo elucidar a importância do conhecimento e a 
conseqüente utilização de alguns recursos lingüísticos em situações cujo resultado tende a advir 
de intensa atividade dialética. Nesse liame, encontra-se no tribunal de júri palco perfeito para 
apreciação da aplicação dos conceitos e técnicas discursivas. 
 Far-se-á, primeiramente, uma análise sobre o desenvolvimento da palavra falada e 
escrita; após, breve conceituação sobre as formas de apuração das infrações; até se chegar à 
presente estruturação do Tribunal de Júri no sistema jurídico brasileiro. 
 Em uma última etapa, desenvolver-se-á a temática discursiva, especialmente a utilizada 
pelos atores de acusação e defesa no âmbito dos tribunais, levando-se em conta a forma como 
é dirigida a palavra para o auditório predeterminado e as conseqüências que o bom uso desta 
podem trazer no desfecho do julgamento perante o Tribunal popular. 
 
1. Os humanos, a fala e os tribunais: linguagem, língua e discurso. 
 Antes de adentrar no cosmos jurídico, especialmente no sistema dos tribunais ditos 
"populares", mister se faz atingir um nível satisfatório de compreensão sobre a atuação dos 
personagens que, através de suas ações e omissões, falas e representações, operam e 
constituem o cenário do julgamento, dotando de realidade toda essa reconstrução secular a 
cada dia renovada. 
 Nós, seres humanos, ao longo dos séculos desenvolvemos formas diferentes para 
conseguir um canal eficiente de comunicação com nossos semelhantes. Nos primórdios, alguns 
gestos e ruídos animalescos traduziam as vis idéias que a mente símia conseguia produzir. 
Depois, foram desenvolvidas a palavra falada, a palavra escrita, os meios de comunicação em 
massa e outras fontes tantas cujas citações não se fazem necessárias. Tudo isso com um 
objetivo: transmitir o conteúdo que criamos ou entendemos justo para outros, informando-os ou 
persuadindo-os a se aliarem aos nossos ideais. 
Textos relacionados 
 Prisão preventiva para garantir execução de medida protetiva de urgência nos casos de 
violência doméstica e familiar contra a mulher 
 Aspectos medico-legais do estupro: perícia 
 Considerações acerca da repetição da prova oral no processo penal 
 Progressão de regime de pena de estrangeiro com expulsão decretada ou impossibilitado 
de fixar residência no Brasil 
 Usurpação da função investigativa no Estado do Rio Grande do Sul 
 O tribunal do júri encontra nessa "interpretação teatral" sua fonte de 
subsistência: as alegorias apregoadas pelos advogados de defesa ou pela 
acusação visam convencer um auditório delimitado de que as teses apresentadas 
são as mais corretas entre as possíveis e passíveis de aplicação ao caso 
guerreado. 
 Nesse contexto, desenvolve-se a interlocução: trata-se de um espaço de 
produção da linguagem e de constituição dos sujeitos; uma ação individual com 
finalidade orientada; uma verdadeira e íntima relação entre um "eu" e um "tu". 
Através da interlocução, opera-se uma reconstrução da linguagem, ao mesmo 
tempo em que o sujeito se completa e se constrói nas falas apresentadas. 
 Fenômeno social, a interlocução, como tal, necessita de um palco, de um 
contexto hábil a recebê-la, para que possa produzir os efeitos e atingir os 
objetivos aos quais se propõe. É, pois, a situação histórico social o centro do 
espetáculo onde se processam as interações entre os sujeitos. Interações essas 
incapazes de operarem no campo metafísico sem constrições. A partir disso, o 
sujeito e a linguagem unem-se de distintas maneiras: há a possibilidade daquele 
realizar ações "sobre" a linguagem ou mesmo "com" a linguagem, ora 
produzindo sistemas de referência, ora recebendo ações próprias da linguagem. 
 Nesse campo, o estudo da análise discursiva costuma classificar as 
atividades da fala, tanto oral quanto escrita: 
 a) atividades lingüísticas: referem-se ao assunto em pauta, há progressão 
do assunto; 
 b) atividades epilinguísticas: operam uma reflexão sobre os recursos 
expressivos; 
 c) atividades metalingüísticas: reconhecem na linguagem o próprio objeto 
de estudo. 
 Classificadas as atividades da fala, passa-se à aplicação de seus conceitos 
no cosmus jurisdicional. 
 
2. O sistema judiciário e sua relação com seus destinatários. 
 Amado, odiado, compreendido ou simplesmente aceito. A visão da 
população é amplamente divergente quando o tema é a justiça ou sua 
administração. Inicialmente, o sistema fora implantado como mecanismo de 
controle: os administrados eram sujeitos passivos, apáticos, excluídos, sem 
interação. A "busca da verdade" rompia a barreira do racional e invocava uma 
suposta intervenção divina como fonte de justiça. E isso não podia causar outra 
coisa se não indignação. A Idade Média, compreendida por alguns como "idade 
das trevas" e por outros como "depressão necessária à iluminação" contribuiu 
amplamente para a construção dessa imagem negativa da justiça que subsiste até 
os dias de hoje. Juntamente com a evolução cultural e racional da sociedade, o 
sistema jurídico buscou também o aperfeiçoamento: não seria mais uma mão 
pesada que abateria inocentes, mas sim um jogo de discursos, saberes e 
pressões, no qual os destinatários das normas não pudessem ser visualizados 
concretamente, numa clara apegação ao princípio romano "in dubio pro reo". 
 A norma jurídica, para KELSEN (2000), era uma prescrição. A lei, por 
outro lado, era a luva que revestia a norma no âmbito de um ordenamento 
jurídico. Nesse sentido, a lei era vista como fonte do direito na medida em que 
traduzia o revestimento estrutural da norma jurídica. Essa norma, na visão de 
FAGUNDES (2001), é bi-direcionada: a) ao próprio grupo legislador (coesão, 
credibilidade interna e eficácia); b) grupos sociais (controle à luz dos valores 
impostos pelos grupos dominantes). 
 Porém, nem tudo é perfeito na linda história da evolução do direito...O 
sistema de normas trouxe consigo uma segurança nunca dantes vista. Mas 
também cedeu espaço para lacunas e antinomias. E é exatamente sobre essas 
que pairam os esforços habilidosos e ardilosos de advogados e acusadores, 
usando o sistema de forma contrária à qual fora (im)posto: abre-se o campo da 
argumentação e subversão; do (des)entendimento e do livre convencimento; do 
justo e do aplicável. 
 BARTHES, deleitando-se sobre o assunto, reforça a diferença entre 
raciocínios argumentativos e meros argumentos: enquanto esses são formas 
públicas de raciocínios impuros e dramatizáveis, opiniões obtidas através de 
uma prévia identificação emocional, valorativa e ideológica, aqueles são 
reflexões processadas a partir de uma ideologia, uma inversão do real suficiente 
para obter a adesão dos interlocutores em relação ao argumentado. 
 Toda essa polêmica, que parece invenção das sociedades pós-modernas, 
teve suas raízes fixadas por ARISTÓTELES, por meio de sua teoria axiológica: 
abandonando o campo do idealismo e adentro no do empirismo, determinava a 
aceitação de princípios iniciais como sendo verdadeiros para poder ao longe 
chegar. Anos mais tarde, PERELMAN (1988) deu nova visão à linguagem e aos 
axiomas aristotélicos: a demonstração passava a travar uma árduabatalha contra 
a argumentação. No intuito de ampliar e melhor fundamentar a base teórica da 
Teoria da Argumentação através do método da Nova Retórica, Perelman passou 
a utilizar como objeto a Razão Prática. Esta estava mais bem relacionada com a 
teoria do direito por mostrar-se dinâmica tal qual este deve ser, extrapolando os 
limites de uma razão analítico-descritiva a fim de se adequar como guia de ação 
do homem. Em torno da razão prática desenvolveu-se a Filosofia Prática, capaz 
de estabelecer parâmetros para o plano de ação da esfera humana. Em 
continuidade, esta filosofia requisitava aprovação, ao invés da prova requerida 
pela razão teórica. A razão prática tinha na razoabilidade o critério da necessária 
aprovação das argumentações. A aprovação era dada pelo consentimento do 
auditório universal, destinatário ideal. 
 
3. O Tribunal do Júri no sistema processual penal pátrio. 
 O conselho de sentença, constituído por sete jurados, escolhidos entre 
vinte e um cidadãos de reputação ilibada previamente sorteados dentre os 
catalogados na lista de jurados da comunidade onde residem, juntamente com o 
juiz de direito, apresentam-se como soberanos para proferir o edito aos 
submetidos à sua apreciação. Desta feita, compete ao Tribunal de Júri julgar os 
crimes dolosos praticados contra a vida, tanto em suas formas consumadas 
quanto nas formas tentadas. É essa a informação trazida pelo Código de 
Processo Penal: 
 "Art. 74. A competência pela natureza da infração será 
regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência 
privativa do Tribunal do Júri. 
 § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes 
previstos nos arts. 121, §§ 1o e 2o, 122, parágrafo único, 123, 124, 
125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados". 
 Todo o procedimento relacionado ao julgamento está muito bem 
discriminado no CPP, e não convém, nesse momento, adentrar nos detalhes 
atinentes às regras protocolais desse antigo e resistente instituto. O propósito, 
aqui, é mergulhar nas fábulas criadas; inundar-se na maré argumentativa 
advinda da representação e parafraseamento dos atores envolvidos no espetáculo 
que tende a produzir uma única certeza: a justiça do convencimento! 
 Os principais personagens envolvidos na (re)construção dos fatos figuram 
como adversários no campo oratório: enquanto o representante ministerial opera 
a acusação e tenta convencer a platéia sobre a admissibilidade do emprego de 
uma sanção por parte do estado-juiz, o defensor utiliza-se das mais variadas 
técnicas para desmantelar os fatos narrados na denúncia, peça inicial do 
processo crime instaurado mediante ação pública. Note-se que a platéia 
mencionada é ampla e diversificada; nela estão presentes gabaritados juristas e 
cidadãos de "ilibada reputação", que não necessariamente dispõem de 
conhecimento teórico sobre as instituições jurídicas. 
 Em razão dessa discrepância, o discurso é carregado de figuras que ora 
lhe dão suporte, ora lhe complementam: são jargões, figuras lúdicas, formas 
estereotipadas e paráfrases que "enriquecem" o vocabulário do emissor. Essas 
formas lingüísticas utilizadas pelos interlocutores na construção de seus 
enunciados (recursos expressivos) visam, em um primeiro momento, demonstrar 
habilidades técnicas e domínio do conteúdo e, posteriormente, induzir o público 
a compactuar com a história versada. 
 Uma destas técnicas consiste no emprego do dito "jargão". Em uma 
conceituação semântica, tem-se que se trata de uma terminologia específica da 
profissão que a emprega. Assim como no terreno das ciências médicas o termo 
"cianótico" faz parte do vocabulário diário dos especialistas em salvar vidas, no 
campo do direito há algumas palavras que por si só expressam o conteúdo de 
todo um entendimento prévio, sejam elas vocábulos técnicos ou os chamados 
"brocados jurídicos". 
 A utilização dos brocados traz conseqüências diversas ao interlocutor, 
dado as formas distintas pelas quais serão aceitos pelos receptores. Neste liame, 
observa-se que, no jogo travado perante o Tribunal, duas são as espécies de 
espectadores envolvidos: 
 a) o juiz togado que preside a sessão e o(s) procurador(es) da parte 
contrária; 
 b) os jurados, que não necessariamente detém conhecimento acerca das 
regras e postulados jurídicos perpetrados e consolidados no transcorrer dos anos. 
 Segundo FAGUNDES (2001), são três as implicações ou funcionalidades 
advindos do uso dos jargões: 
 1. mostrar a (b) que eu (a) sei sobre o que estou falando; 
 2. mostrar a (a) que também sou do ramo (a); 
 3. limitar a interpretação de (b) à tese do locutor (a). 
 Assim, um jargão muito comum e quase sempre presente nos debates 
orais perante o Tribunal do Júri é o que se liga ao princípio da presunção de 
inocência, pilar basilar que, juntamente com o princípio da legalidade, 
sustentam o aparato repressivo estatal, que tem na justiça criminal sua 
conseqüência natural. Desta feita, enquanto cabe à acusação provar de forma 
inequívoca e inconteste os fatos articulados na denúncia e no libelo-crime 
acusatório, à defesa cabe tão-somente desconstruir a possibilidade de 
reconhecimento da autoria do denunciado no crime a ele imputado, sem a 
necessidade de fazer prova do contrário. Resta, portanto, a alegação da dúvida; 
e, em havendo dúvida, esta deve ser resolvida em favor do réu. Isto porque o 
direito penal tem incidência sobre o bem maior do ser humano, qual seja, sua 
liberdade. Imortaliza-se, então, dessa forma, o uso do postulado "in dubio pro 
reo"! 
 São inúmeros os julgados que acolhem essa tese defensiva, que culmina 
com a absolvição do denunciado e a conseqüente improcedência da peça 
vestibular. A titulo de exemplo, transpõe-se aqui um julgado proferido pelo 
egrégio Superior Tribunal de Justiça: 
 "PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ESTUPRO 
TENTADO. AUSÊNCIA DOS ELEMENTOS DA TENTATIVA. 
DÚVIDA QUANTO À OCORRÊNCIA DA CONDUTA TÍPICA. 
ILEGALIDADE DA CONDENAÇÃO. OFENSA AO PRINCÍPIO 
IN DUBIO PRO REO. AUSÊNCIA DE EXAME DE CORPO DE 
DELITO. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO 
RECONHECIDA NA SENTENÇA E NO ACÓRDÃO. 
RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA. ORDEM 
CONCEDIDA. 
 1. Não cabe condenação por tentativa, sob pena de configurar 
constrangimento ilegal, quando não se demonstram – com base no 
conjunto probatório produzido durante a instrução criminal – os atos 
de execução, a não-consumação do crime por circunstâncias alheias à 
vontade do agente e o dolo do delito consumado. 
 2. A dúvida quanto ao efetivo início da execução do 
comportamento punível não autoriza a condenação por tentativa, 
tendo em vista que sua presença sempre se resolve em favor do 
agente, em observância ao princípio in dubio pro reo. 
 3. Ordem concedida para restabelecer a sentença do Juízo de 1º 
grau" (HC 41621 / RJ; 2005/0019019-0. Data da decisão: 
6/12/2005). 
 O supracitado julgado demonstra, de forma clara e límpida, o largo uso 
desse recurso, mesmo em não se tratando de delito sujeito ao rito especial do 
júri; porém, em virtude disso, não há um tratamento próprio aos jurados: há 
apenas a aplicação de conceitos estritamente focados na literalidade 
argumentativa da linguagem jurídica. 
 É nesse ponto que nasce a especialidade e a diferenciação do julgamento 
perante um tribunal popular formador de um conselho de sentença: não basta ao 
advogado ou ao acusador despejar conhecimentos adquiridos ao longo da 
experiência jurídica em um papel destinado a outro jurista: além de demonstrarconhecimento na área, o locutor deve fazer-se entender pelos interlocutores que 
povoam a platéia (b). Nessa árdua tarefa, o emprego de um recurso lingüístico 
estereotipado faz-se mister: trata-se da paráfrase. 
 Diferentemente da ironia, que busca a desconstrução do sentido para 
constituição da linguagem, ou da paródia, que consiste na produção de novos 
sentidos tendentes a desestruturar a prática jurídica através de uma espécie de 
imitação, a paráfrase tem como função primordial a supressão das ambigüidades 
decorrentes da livre interpretação de uma tese pré-existente, através de sua 
retomada e releitura por um outro viés, o qual tende induzir o interlocutor a 
receber de forma pacífica e sem restrições a nova tese criada pelo locutor. Nesse 
sentido, a paráfrase jurídica não se conceitua como mera reforma do pré-dito ou 
simples exclusão de outros já-ditos possíveis: trata-se de uma forma de trabalho 
discursivo responsável pela multiplicação dos enunciados em circulação; opera 
uma reconstrução do já-dito. 
 Nesse liame, aplica-se à paráfrase o conceito de transposição de sentido, 
que para PARRET nada mais é do que indispensável condição de possibilidade 
do próprio sentido. Situando a paráfrase nesse campo interpretativo, PARRET 
cria seguinte esquema de transposições: 
 a) discursiva: paráfrase ("atividade natural onde a semelhança do sentido 
transposto e do sentido transpositor está mais ou menos intuitivamente posta"); 
 b) hermenêutica: interpretação (saber de um texto); 
 c) científica: metalinguagem (conhecimento da ciência). 
 No transcorrer de uma sessão de julgamento, facilmente identificam-se as 
três formas de transposições preconizadas pelo citado autor: no momento em 
que o acusador aplica conceitos concernentes à ciência jurídica para induzir o 
auditório leigo a acatar sua tese discursiva, como, por exemplo, diferenciar dolo, 
culpa, legítima defesa direta e legítima defesa putativa, aplica ao seu discurso 
uma transposição cientifica; por outro lado, quando interpreta a lei geral e 
aplica-a ao caso em deslinde, faz uso de uma transposição hermenêutica 
reducionista; mas quando, diferentemente das ações anteriores, cria um embate 
com o defensor, utilizando as próprias teses daquele para fazer valer as 
articuladas pelo órgão de acusação, emprega a transposição discursiva. 
 A paráfrase, no cenário do julgamento, pode adquirir quatro funções: 
 a) função didática: explica o funcionamento judicial e os episódios do 
processo, tendo como destinatário o conselho de sentença; 
 b) função definitória: dirigida ao juiz presidente e ao advogado da parte 
contrária, aproxima-se da metalinguagem, pois direciona a argumentação a uma 
interpretação que antecede a própria definição; 
 c) função explicativa: explica os fatos elucidados em (b) para os mesmos 
destinatários de (a); não há confusão entre a forma (a) e a forma (c): enquanto 
esta "traduz" conceitos jurídicos aplicáveis ao caso sub judice, aquela leciona 
conceitos básicos sobre o funcionamento do julgamento pelo tribunal popular; 
 d) função explicitativa: conduz o interlocutor ao sentido que interessa ao 
locutor. 
 Dentre as funções acima apontadas, a que maior influência opera sobre o 
resultado final do julgamento é a elucidada na letra "d". Ao se apropriar do 
discurso alheio, o interlocutor, numa ação não destruidora, mas sim 
reconstrutiva, busca, com fundamento no próprio enunciado anterior, apontar 
seus defeitos e, dentre as possibilidades existentes, escolher a que melhor se 
encaixa à situação guerreada, apoiando sobre ela toda sua tese argumentativa. O 
uso desse mecanismo tem por escopo principal convencer a platéia de que a tese 
anterior apresenta irregularidades e, ao mesmo tempo, soluções diversas das 
inicialmente pretendidas. Num mecanismo de explicitação, reconstrói a própria 
tese fundante da argumentação apropriada de forma que aquela se adapte aos 
anseios pretendidos pelo locutor apropriante. 
 Toda essa dialética desenvolve-se na fase dos debates orais, em que as 
partes conflitantes utilizam-se de todos os meios disponíveis para obter o apoio 
do conselho de sentença às teses apresentadas. Findo os debates, com base nas 
alegações sustentadas e nas hipóteses criadas, o juiz presidente elaborará os 
quesitos de julgamento, que serão submetidos à votação do conselho. Os 
quesitos devem reproduzir fielmente os argumentos elencados pelas partes, sob 
pena de invalidar-se todo o procedimento judicial, consoante dispõe o art. 563, 
III, "k", do Código de Processo Penal. 
 Votados os quesitos e não existindo regularidades, publica-se a sentença 
em audiência, cujo resultado "premia" quem melhor desempenhou as ações de 
convencimento dos jurados e (re)construiu a história passada da forma mais 
próxima à realidade plausível. 
 
Referências bibliográficas 
 FAGUNDES, Valda de Oliveira. A Espada de Dâmocles da Justiça: O 
Discurso no Júri. Itajaí: Univali, 2001. 
 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 
2000. 
 MONTEIRO, Cláudia Servilha. Teoria da Argumentação Jurídica e Nova 
Retórica. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2003. 
 PERELMAN, Chaïm. [Logique Juridique]. Lógica Jurídica. Tradução de 
Vergínia Pupi. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

Outros materiais