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ADULTIZAÇÃO INFANTIL NO SÉCULO XXI

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ 
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO 
CURSO DE PEDAGOGIA 
 
 
 
 
DELCIMARIA DANTAS DE ARAUJO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADULTIZAÇÃO INFANTIL NO SÉCULO XXI: uma abordagem histórica acerca das 
concepções de infância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAICÓ – RN 
2016 
 DELCIMARIA DANTAS DE ARAUJO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADULTIZAÇÃO INFANTIL NO SÉCULO XXI: uma abordagem histórica acerca das 
concepções de infância 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia como 
requisito à obtenção do título de Licenciatura pelo 
Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte. 
 
Orientadora: Profª. Drª. Grinaura Medeiros de Morais. 
 
 
 
 
 
CAICÓ – RN 
2016 
 
 
DELCIMARIA DANTAS DE ARAUJO 
 
 
 
 
 
 
ADULTIZAÇÃO INFANTIL NO SÉCULO XXI: uma abordagem histórica acerca das 
concepções de infância 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia como 
requisito à obtenção do título de Licenciatura pelo 
Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Drª. Grinaura de Medeiros Morais (UFRN) 
Orientadora 
 
Drª. Jacicleide Ferreira Targino Cruz Melo (UFRN) 
Examinadora 
 
Me. Carlos Francisco do Nascimento (UFRN) 
 Examinador 
 
 
Aprovada em ______ de ____________ de 2016 
 
 
 
CAICÓ – RN 
2016 
 DEDICATÓRIA 
 
A Jesus Cristo, toda Glória, Honra e Poder. 
Aos meus pais, Lucinete Maria Dantas e Nelson Dantas de Araujo, que foram meus primeiros 
mentores, que investiram suas vidas em meu benefício, eu os amo. 
A toda minha família, que tão de perto e muitos de tão longe, acompanharam minha trajetória 
acadêmica e torceram por essa conquista em minha vida. 
A todos meus colegas e amigos, que me incentivaram e não me deixaram desistir. 
A todos os educadores que passaram por mim, saibam que sou fruto desse honroso trabalho, 
posso então dar continuidade a essa bela missão, ensinar e educar. 
Aos demais professores que fizeram parte da minha vida acadêmica até hoje, em especial a Drª. 
Grinaura de Medeiros Morais. 
Aos examinadores desse trabalho monográfico, Me. Carlos Francisco do Nascimento e Drª. 
Jacicleide Ferreira Targino Cruz Melo. 
Aos meus avós paternos (In Memorian), Maria Da Mata Dantas e João Pereira Dantas, que com 
simplicidade e honestidade educaram seus filhos e hoje sua neta tem a satisfação de declarar que 
valeu a pena, sou grata. 
Aos meus avós maternos Inácia Maria Dantas e Antônio Higino Dantas, pelo incentivo e 
dedicação em fazer-me prosseguir. 
 
 
A todos estes, dedico o presente trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao longo da minha trajetória enquanto discente, muitos são os nomes a quem quero agradecer. 
Dentre eles, os listados abaixo, pelos quais tenho um carinho especial e, através eles, agradeço a 
todos os outros. 
A todos os professores orientadores, que contribuíram no conhecimento que tenho adquirido na 
Universidade, em especial a professora Drª Grinaura de Medeiros Morais. 
Aos meus pais, Lucinete Maria Dantas e Nelson Dantas de Araujo. 
Aos meus irmãos, Laiany Lídia, Nelson Dantas, Nelton Dantas, Nelcimar Dantas e João Neto. 
À minha sobrinha amada Stephanie Rolim. 
Aos meus tios, Edson Pereira de Araújo e Maria da Guia Dantas. 
Às minhas primas, Danielle Dantas, Emanuelle Cristina e Yasmin Dantas. 
Aos meus líderes eclesiásticos, Edízio do Amaral e Edvânia do Amaral. 
Aos colegas de sala e do curso de Pedagogia. 
Às escolas municipais, Escola Municipal Dom José Delgado, C.M.E.I Terezinha 
Fernandes de Oliveira Castro e a Creche Francisca Pereira Luciano. 
A todos os professores que já passaram em minha vida estudantil. 
Enfim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente com minha formação. 
 
Muito obrigada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(...) querer conhecer mais sobre a trajetória histórica dos 
comportamentos, das formas de ser e de pensar das 
nossas crianças, é também uma forma de amá-las todas, 
indistintamente melhor. 
 
Del Priore 
RESUMO 
 
O presente trabalho monográfico se constitui no produto de uma pesquisa realizada acerca da 
Adultização da Infância nos tempos atuais, uma questão por demais preocupante e presente em 
todos os quadrantes da sociedade. Nele abordamos as concepções de infância em contextos 
distintos, a publicidade infantil, influência da mídia e incentivo ao consumo, e a adultização na 
atualidade: reflexões acerca dos seus impactos na vida da criança e do adolescente. Trata-se de 
uma pesquisa do tipo bibliográfica acerca das concepções de infância, recorrendo-se aos aportes 
históricos, midiáticos e culturais que embasam essa forma de conceber a infância no presente 
momento. Para realizá-la recorremos à produção de Mary Del Piore intitulada História das 
Crianças no Brasil e O Desparecimento da Infância de Neil Postman. Em ambas, procurou-se 
identificar as formas de adultização no momento atual, bem como destacar o papel influenciador 
da mídia sobre a infância, a cultura consumista, a erotização e publicidade infantil, bem como a 
adultização precoce. A monografia está organizada em três (3) capítulos: Concepções de Infância 
em Contextos Distintos, Publicidade Infantil, Influência da Mídia e incentivo ao consumo infantil 
e Adultização na Atualidade e traz reflexões acerca dos seus impactos na vida da criança e do 
adolescente. As notas finais encaminham-se para os resultados conclusivos, ainda que de forma 
aberta, dada à natureza polêmica do tema, sendo que da pesquisa podemos inferir que não há 
conclusões fechadas que abarquem a sua natureza. 
 
 
Palavras-chave: Infância. Adultização. Consumo. Século XXI. 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
FIGURA 1 - Crianças à moda adulta ....................................................................... 41 
FIGURA 2 - Meninas estilosas ............................................................................................ 41 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
ART – Artigo .......................................................................................................................... 11 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente .......................................................................... 12 
PL – Projeto de Lei .................................................................................................................. 12 
D.C – Depois de Cristo ........................................................................................................... 20 
OIT - Organização Internacional do Trabalho ......................................................................... 28 
UNICEF- Fundo das Nações Unidas para a Infância .............................................................. 34 
SÉC. – Século .......................................................................................................................... 37 
ORG. – Organização ................................................................................................................ 38 
ONGS- Organizações Não Governamentais ............................................................................38 
CDC – Código de Defesa do Consumidor ............................................................................... 42 
CONANDA- Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente ......................... 43 
CONAR - Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária ...................................... 47 
WWW- World Wide Web ....................................................................................................... 50 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11 
1 CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA EM CONTEXTOS DISTINTOS ........................... 14 
1.1 O SENTIMENTO DE INFÂNCIA EM MEADOS DO SÉCULO XV ........................... 16 
1.2 A TIPOGRAFIA E O NOVO ADULTO .......................................................................... 20 
1.3 A VIDA DAS CRIANÇAS NAS EMBARCAÇÕES PORTUGUESAS XVI E NO 
BRASIL QUINHENTISTA .............................................................................................. 22 
1.4 SÉCULO XVIII – nova concepção de infância em Rousseau .......................................... 24 
1.5 O NASCIMENTO DA INDÚSTRIA E A RELAÇÃO COM O MUNDO DA CRIANÇA ..... 27 
1.6 SÉCULO XIX: o cotidiano das crianças abastadas durante o império ............................. 29 
1.7 SÉCULO XX: trabalho infatojuvenil no Brasil ............................................................... 32 
1.8 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA – século XX - XXI ........................................................ 35 
2 PUBLICIDADE INFANTIL, INFLUÊNCIA DA MÍDIA E INCENTIVO AO 
CONSUMO INFANTIL .................................................................................................. 38 
2.1 NOVA NOÇÃO DE INFÂNCIA MEDIADA PELO MERCADO DA MODA: 
crianças que se vestem semelhante a adultos. ......................................................... 41 
2.2 PROTEÇÃO À CRIANÇA CONTRA A PUBLICIDADE ABUSIVA E ENGANOSA: 
Código de Defesa do Consumidor e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do 
Adolescente .................................................................................................................. 42 
2.3 NOVAS GERAÇÕES: influência do marketing no comportamento infantil .................. 44 
2.4 IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO COTIDIANO FAMILIAR .................. 45 
3 ADULTIZAÇÃO NA ATUALIDADE: reflexões acerca dos seus impactos na vida 
da criança e do adolescente ............................................................................................. 48 
3.1 IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO FAMILIAR QUANTO AO CONSUMO 
CONSCIENTE. ................................................................................................................. 49 
3.2 CRIANÇA ADULTIZADA E INFÂNCIA EM DECLÍNIO ............................................ 50 
3.3 VULNERABILIDADE INFANTIL: exploração sexual comercial, fatores que 
proporcionam o declínio da infância ................................................................................. 51 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 53 
 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 55 
11 
 
INTRODUÇÃO 
 
É notório que, em pleno século XXI, continua sendo forte a inserção precoce da criança 
no mundo adulto. Ao estudar as concepções teóricas que existem acerca de infância, observa-se 
que apesar dos progressos sociais, a criança ainda é tida em nossa sociedade como um adulto em 
miniatura
1
, pela forma de vestir-se, pelos novos hábitos alimentares, pelo padrão linguístico, 
assim como atitudes e diversas habilidades que um ser pequeno possui, por vezes assemelhando-
se aos adultos, este conceito pode até soar arcaico, mas infelizmente ainda tem estado presente 
em nosso cotidiano. Vítimas de uma sociedade capitalista e altamente consumista, preocupa o 
fato de saber se, de fato há um desaparecimento da infância
2
. O significado etimológico da 
palavra infância, segundo Faria (1956, p.496) é: 
 
Da partícula negativa latina in, „não‟, usada como prefixo, e do latim fans, 
fantis, particípio presente de fari, „falar, ter a faculdade da fala‟, forma-se 
o adjetivo latino infans, infantis, „que não fala, que tem pouca idade, que é 
ainda criança‟. O adjetivo infantilis, „que diz respeito às crianças, 
infantil‟, e o substantivo infantia, „incapacidade de falar, dificuldade em 
se exprimir, meninice, infância‟, são derivados latinos de infans, infantis. 
 
 
Tal concepção é relacionada à criança até os sete anos. Segundo Ariès (2006, p. 6), “A 
primeira idade é a infância que planta os dentes e essa idade começa quando a criança nasce e 
dura até os sete anos, e nessa idade aquilo que nasce é chamado de enfant (criança), que quer 
dizer não-falante, pois nessa idade a pessoa não pode falar bem”. Tendo como critério 
cronológico absoluto, o Estatuto da Criança e do Adolescente/1990
3
 considera faixas etárias para 
classificar criança e adolescente. Com base no Art. 2º, os cidadãos que estiverem inseridos na 
faixa de 12 anos incompletos são considerados ainda criança e de 12 anos a 18 anos incompletos 
são adolescentes, embora já pratiquem muitas atitudes de adultos, atitudes pensadas, incluindo 
atos infracionais. 
Algo que tem impactado de forma significativa o comportamento e a identidade da 
criança contemporânea é o fato de serem feitos altos investimentos em publicidade infantil
4
 e 
 
1
 Adulto em miniatura é uma expressão utilizada por Neil Postman, em sua obra “O Desaparecimento da Infância” 
para enfatizar a transição da criança no mundo infantil para o adulto. 
2
 Segundo o Dicionário Aurélio: Período de crescimento, que vai do nascimento à puberdade. 
3
 Estatuto da Criança e do Adolescente –Art.1º Esta Lei Dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. 
4
 Neste sentido há o PL 5921/2001, o mesmo é um manifesto pelo fim da publicidade e da comunicação 
mercadológica dirigida ao público infantil. Há doze anos encontra-se em tramitação na Câmara dos Deputados. 
12 
 
incentivo à cultura consumista. O Estatuto, por sua vez, protege os mesmos de qualquer tipo de 
publicidade ilícita, conforme o Art. 5° a criança não pode ser submetida a nenhuma forma de 
exploração e o Art. 17 dispõe acerca da preservação da identidade dessas crianças e adolescentes. 
O Art. 71 do ECA, assegura à criança e ao adolescente o direito “à informação, cultura, lazer, 
esportes, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem a sua condição peculiar de 
pessoas em desenvolvimento”. Sendo assim, o que é ofertado às crianças deve ser compatível à 
faixa etária do menor. 
Impulsionadas pela ideia do consumo e envolvidas em um mundo onde o sistema 
capitalista apresenta-se de forma extrema, percebemos que há uma “Adultização Infantil5”, 
motivo pelo qual buscamos neste trabalho trazer uma reflexão acerca do impacto nocivo que essa 
inserção no mundo adulto tem causado às crianças através da alta exposição em publicidade e o 
apelo capitalista. 
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente tem como objetivo estatutário a 
proteção dos menores de 18 anos, assegurando-lhes um desenvolvimento físico, mental, moral e 
social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e da dignidade, preparando-os 
para a fase adulta em sociedade. 
Este trabalho tem uma relevante importância para os dias atuais, por tratar de uma 
questão presente no dia a dia das famílias e da sociedade em geral. Seus resultados poderão servir 
à sociedade como um ponto de reflexão para o aprimoramentoe a melhoria dessa realidade que 
se mostra de forma preocupante, uma vez que se trata da infância. As crianças não se adultizam 
por conta própria, sempre há neste processo um adulto como agente adultizador. Sendo a infância 
um período imprescindível na formação do ser, faz-se necessária a reflexão acerca dos assuntos 
que a envolve, sendo a criança assegurada pela Constituição Federal/1988 e pelo Estatuto da 
Criança e do Adolescente/1990, por sua vez merece a proteção especial da Família, Sociedade e 
do Poder Público. 
 Para realizá-lo, fez-se uma abordagem histórica acerca das concepções de infância, 
recorrendo-se aos aportes históricos, midiáticos e culturais que embasam essa forma de conceber 
a infância no presente momento. O trabalho discorre sobre as concepções de infância a partir da 
 
5
 Adultização: trata-se de um neologismo, está relacionado aos aspectos característicos de um ser adulto. O 
fenômeno da adultização precoce passa não só pela exposição das crianças a determinados temas como trabalho 
infantil, consumo, sexualidade, como também pela própria erotização da imagem da criança, onde a mesma possui 
atitudes e características similares a de uma pessoa em sua fase adulta. 
13 
 
visão de Mary Del Piore, em seu livro História das Crianças no Brasil e Neil Postman, com sua 
obra O Desparecimento da Infância, realçando os principais aspectos desenvolvidos pelos 
autores, situando-os no contexto em que escreveram. O objetivo é identificar as formas de 
adultização no momento atual, bem como destacar o papel influenciador da mídia sobre a 
infância, a cultura consumista, a erotização e publicidade infantil, bem como a adultização 
precoce. 
 A monografia está organizada em três (3) capítulos assim distribuídos e nomeados: O 1º 
capítulo denomina-se Concepções de Infância em Contextos Distintos, nele o leitor poderá 
mergulhar na construção histórica acerca das concepções de infância; o 2º é intitulado 
Publicidade Infantil, Influência da Mídia e incentivo ao consumo infantil, o qual proporcionará ao 
leitor um amplo contato com as leis vigentes que amparam os menores contra as abusividades 
midiáticas, levando-o a uma reflexão acerca do poder influenciador desses meios, bem como o 
impacto nocivo na vida dessas crianças e adolescentes. O último capítulo denomina-se 
Adultização na Atualidade: reflexões acerca dos seus impactos na vida da criança e do 
adolescente; será abordado acerca dos resultados da pesquisa bibliográfica, possíveis formas de 
identificação da adultização infantil nos dias atuais e reflexões acerca do desaparecimento dos 
aspectos peculiares a infância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
CAPÍTULO I - CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA EM CONTEXTOS DISTINTOS 
 
 Atualmente é comum nos depararmos com a seguinte realidade: outdoors com imagens 
de crianças, trazendo assim uma alta exposição; erotização e adultização precoce que veem à tona 
quando pensamos na relação criança, mídia e consumo. Vem crescendo no Brasil o mercado de 
produtos infantis e a cultura consumista tem produzido pequenos compradores e é o fato que o 
comércio e a indústria estão faturando progressivamente com esta vulnerabilidade. 
Podemos fazer uma retrospectiva e observar que, no período colonial, havia um grande 
sentimento de desvalorização da vida infantil, como podemos constatar com o pensamento de 
Ramos, a Coroa Portuguesa no século XV recrutava mão de obra barata, a escritora relata que os 
menores eram tirados das famílias carentes da cidade, iam de órfãos desabrigados a filhos de 
famílias pedintes. Muitos desses meninos eram escolhidos para trabalhar servindo os senhores 
das embarcações lusitanas. Neste período, segundo Ramos (2010, p. 22). 
 
[...] além das crianças serem consideradas como pouco mais que animais, a alta 
taxa de mortalidade em Portugal fazia com que a chance de morrer vítima de 
inanição ou de alguma doença em terra fosse quase igual, quando não maior do 
que a de parecer a bordo das embarcações. 
 
Nesse contexto de alta taxa de mortalidade em Portugal e a bordo dos navios, as crianças 
eram inferiorizadas e lançadas à própria sorte, sendo assim humilhadas e subordinadas aos 
adultos. 
 A autora realça que a expectativa de vida das crianças portuguesas, entre os séculos 
XVIII e XIX, estava em torno dos 14 anos e que a grande maioria morria antes dos 7 anos de 
idade. Trata-se de uma infância desvalorizada, invisível, sem importância para o mundo adulto, 
quase imperceptível, mas quiçá necessária para o modelo de mundo em apreço, uma vez que 
realizavam tarefas que normalmente seriam desempenhadas pelos adultos. Eram entregues a um 
cotidiano de privações e viam-se obrigadas a enfrentar a realidade de uma vida adulta, 
abandonando assim o mundo infantil que sequer chegavam a conhecer. 
Em sua obra História das Crianças no Brasil, Del Priore organiza um capítulo referente à 
história trágico-marítima das crianças nas embarcações portuguesas do século XVI, o mesmo 
relata que nesta época meninas de quinze anos eram vistas como aptas para o casamento, e 
meninos de nove anos tidos como capacitados para o trabalho pesado, sendo assim o cenário a 
15 
 
bordo das embarcações portuguesas era de calamidade. As crianças ainda não eram adultas, mas 
eram tratadas como se fossem; em um contexto de gente grande, os pequenos não tinham espaço, 
eram forçados a se adaptar ou perecer, perdendo sua inocência para mais nunca recuperá-la. 
Tratando da história da infância de uma forma mais ampla, Philippe Ariès, em sua obra 
História Social da Criança e da Família, vem abordar que, até por volta do século XII, a arte 
medieval desconhecia a infância ou pelo menos não tentava representá-la. Possivelmente não 
valorizava essa fase pois, dificilmente, essa ausência se devesse à incompetência, sendo mais 
provável subentender que não havia lugar para a infância neste período; a mesma desapareceu da 
icnografia
6
. 
As obras de artes
7
 que reproduziam uma criança eram totalmente desconexas do que 
realmente as identificavam, ou seja, a criança que era pintada em uma tela não tinha 
peculiaridades de uma, percebe-se pelas roupas, que eram semelhantes as dos adultos, a 
expressão facial pouco lembrava uma criança. “No mundo das fórmulas românticas, e até o fim 
do século XIII, não existiam crianças caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens 
de tamanhos reduzidos” (ARIÈS, 2006, p.18). 
Na sociedade medieval, o sentimento de infância não existia, sendo assim a criança 
introduzia-se no cotidiano dos adultos e não se distinguia mais destes, assemelhando-se em tudo. 
Em meados do século XVI, um novo olhar a respeito da infância surgiu, a criança com toda sua 
graça tornava-se para os adultos uma forma de distração, um sentimento que Ariès (2006, p.100) 
chama de paparicação
8
, uma vez que a maneira de ser dos pequenos encantavam as mães e as 
amas. Por volta do século XVIII, não apenas o futuro da criança, mas também tudo que a 
envolvia, era digno de preocupação, de forma que a criança passa a assumir um lugar central no 
âmbito familiar. 
A passividade que as crianças eram submetidas se mesclava a um sentimento superficial 
presente na época. Sentimento que os estudiosos da área denominam de “paparicação”, ou seja, 
ocorriam demonstrações de carinho, mesmo que por um breve período na vida das crianças. 
 
6
 Icnografia é uma forma de linguagem visual que utiliza imagens para representar determinado tema. A iconografia 
estuda a origem e a formação das imagens. Na indústria editorial, a iconografia é a pesquisa e seleçãodas imagens 
que serão publicadas em um livro, seja como tema principal da obra ou como complemento de um texto. A 
iconografia de uma obra editorial é o conjunto das imagens que integram essa obra, seja um livro, série ou coleção. 
7
 Segundo Ariès (2006, p.17), no fim do século XI, as três crianças que São Nicolau ressuscita estão representadas 
numa escala mais reduzida que os adultos, sem nenhuma diferença de expressão ou de traços. 
8
 Expressão utilizada por Ariès (2006), paparicação era um sentimento de infância pertencente às mães e amas, onde 
a criança tornava-se fonte de distração e relaxamento para o adulto. 
16 
 
Essas manifestações de “afeto“ eram vivenciadas apenas nos primeiros meses de vida. Os 
pequenos acabavam se tornando um meio de diversão, um passatempo. 
Neil Postman, autor do livro já mencionado “O desaparecimento da Infância” relata que 
foram os gregos que nos deram um prenúncio da ideia de infância. Segundo o autor, 
 
Eles certamente não inventaram a infância, mas chegaram suficientemente perto 
para que dois mil anos depois, quando ela foi inventada, pudéssemos 
reconhecer-lhe as raízes. Os romanos, é claro, tomaram emprestado aos gregos a 
ideia de escolarização e ainda desenvolveram uma compreensão da infância que 
superou a noção grega. A arte romana, por exemplo, revela uma “extraordinária 
atenção à idade da criança pequena ocidental e em crescimento, que só seria 
encontrada novamente na arte ocidental no Período da Renascença” 
(POSTMAN, 2012, p. 22). 
 
 
Faz-se necessário entender todo percurso histórico acerca das concepções de infância, 
visto que, a realidade que estamos vivenciando possivelmente não é nova, mas apenas 
modernizou-se, a adultização vai além de um ser pequeno, semelhante a um adulto, refere-se 
também ao que este adulto tem feito desta criança, pois se enfrentamos tal cenário é porque, 
possivelmente, nós adultos temos colaborado com ele, sendo participador direta ou indiretamente. 
 
1.1 O SENTIMENTO DE INFÂNCIA EM MEADOS DO SÉCULO XV 
 
 A Idade Média é um período histórico entre os séculos X e XV, marcado pelo forte 
crescimento do Cristianismo. Segundo Neil Postman (2012, p.12), “a ideia de infância como uma 
estrutura social não existiu na Idade Média; surgiu no século dezesseis e está desaparecendo 
agora”. Desta forma, pode-se concluir que a ideia de infância não está ligada a algo arcaico, pelo 
contrário é sem sombra de dúvidas moderna e que a ideia do amor materno bem como a infância, 
não são inatas ao ser humano, mas foram desenvolvidas e construídas no decorrer do tempo. 
 Por meados do século XV, tem-se o cenário onde a infância é inexistente. As 
crianças estavam presentes na maioria dos locais que os adultos estavam, não havia censura 
quanto aos assuntos abordados mediante ao menor, não havia naquela época um conceito de 
espaço privativo que nossa sociedade tem hoje, não sentiam vergonha por fazer 
necessidades fisiológicas em vias públicas, sendo assim não há como ficar perplexo ao 
saber que nesse período não existia sequer indícios de hábitos de higiene nos primeiros 
17 
 
meses da vida do bebê. Também não havia, 
 
[...] nenhuma relutância em discutir assuntos sexuais na presença das crianças. A 
ideia de esconder impulsos sexuais era estranha aos adultos, e a ideia de esconder 
os impulsos sexuais era estranha aos adultos, e a ideia de proteger as crianças dos 
segredos sexuais, desconhecida. “Tudo era permitido na presença delas: 
linguagem vulgar, situações e cenas escabrosas; elas já tinham visto e ouvido 
tudo”. Realmente, na Idade Média era bastante comum os adultos tomarem 
liberdades com os órgãos sexuais das crianças. Para a mentalidade medieval tais 
práticas eram apenas brincadeiras maliciosas (POSTMAN, 2012, p.31). 
 
 Decorrente do cenário de miséria e falta de saneamento básico na população da Idade 
Média, a taxa de mortalidade infantil era elevada. Quando uma criança chegava a óbito, a mesma 
não era vista com desespero. O pranto era breve e em um período curto um recém-nascido 
tomava o lugar daquela criança. Dessa forma, pode-se constatar que a mortalidade infantil no 
mundo medieval, entre as diversas classes sociais, revelava a indiferença e descaso pelas 
crianças. O historiador francês Philippe Ariès, em sua obra História Social da Criança e da 
Família, aborda acerca da arte, que por sua vez desconhecia a infância, não se via na icnografia 
resquícios de crianças, o que demonstra a ausência dos menores na participação na sociedade 
medieval. Quando começaram a ser representadas nas obras de arte, eram assemelhadas a mini 
adultos e por diversas vezes tinham as mãos dadas com a representação da “morte” em alusão a 
alta mortalidade infantil existente naquele cenário histórico. 
 
Até o final do século quatorze as crianças não são nem mesmo mencionadas em 
legados e testamentos, um indício de que adultos não esperavam que elas tivessem 
muito tempo. De fato, provavelmente por causa disso, em algumas partes da 
Europa as crianças eram tratadas como se pertencessem ao gênero neutro. Na Itália 
do século quatorze, por exemplo, o sexo de uma criança que tivesse morrido nunca 
era registrado. Mas acredito que seria um erro dar importância demasiada à alta 
taxa de mortalidade infantil como meio de explicar a ausência da ideia de infância 
(POSTMAN, 2012, p.32). 
 
 Sabendo assim que a concepção de infância inexistia até o fim da Idade Média, surge 
então, em pleno século XXI, o receio que retrocedamos e que cheguemos a um declínio 
progressivo da mesma. Segundo Ariès, 
 
O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: 
corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que 
18 
 
distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência 
não existia (ARIÈS, 1981, p.156). 
 
 Dessa forma a sociedade medieval tinha o pequeno como um adulto em miniatura, as 
crianças eram tratadas como um maior, procedimento este que reduzia esse belo período da vida, 
pois logo se conglomeravam ao mundo dos adultos e suas peculiaridades. Envolviam-se em todos 
os assuntos desse meio e logo estavam engajadas socialmente pela convivência cotidiana. Esse 
cenário é bem refletido na arte medieval, que tratava de temas relacionados à infância, faziam uso 
de imagens de crianças reproduzindo homens em miniatura; os quadros de Brueghel
9
 representam 
bem esse período. 
Assim como disse Ariès, a infância não é caracterizada apenas por um sentimento de 
afeição, afeto e carinho para com as crianças, ela vai muito além disso. É necessário haver uma 
distinção maior, uma consciência para saber que um menor, apesar de estar inserido no contexto 
social, não está preparado psicologicamente para participar e receber tudo dessa esfera social, 
pois como se sabe, a criança medieval tinha acesso às diversas formas de comportamento comuns 
à cultura. Segundo Postman (2012, p.30) “o menino de sete anos era um homem em todos os 
aspectos, exceto na capacidade de fazer amor e guerra”. Os pequenos partilhavam os mesmos 
jogos, brinquedos, histórias e linguagem; não havia uma dissociação entre esses mundos. 
 Somos naturalmente propensos a neutralizar certos sentimentos que foram construídos 
socialmente. Segundo Postman (2012, p. 31) “A falta de alfabetização, a falta de conceito de 
educação, a falta de conceito de vergonha – estas são as razões pelas quais o conceito de infância 
não existiu no mundo medieval”. Ou seja, o que para nossa sociedade hoje é inadmissível, como 
por exemplo, falar de assuntos de conteúdo erótico perto de criança, na sociedade medieval era 
comum, pois esse sentimento de vergonha não era vivenciado. 
 Pode-sedizer que, no mundo medieval, não existia nenhuma concepção de 
desenvolvimento infantil, muito menos algum tipo de escolarização voltada à criança, como 
preparação para a vida adulta. Assim, em uma sociedade letrada, ser adulto implicaria em ter 
admissão aos segredos culturais, 
 
 
9
 Pieter Brueghel (1525 - 1569) - Pintor, escultor, arquiteto e decorador de tapeçarias e vitrais flamengo nascido em 
Breda, no Ducado de Brabant, Países Baixos, hoje uma província da Bélgica, que criou uma rica pintura narrativa, 
documentando costumes de época, tornando-se um dos mais representativos pintores flamengos do período 
Cinquecento (1500-1599) do Renascimento. 
19 
 
Num mundo letrado, as crianças precisam transformar-se em adultos. Entretanto 
num mundo não letrado não há necessidade de distinguir com exatidão a criança 
e o adulto, pois existem poucos segredos e a cultura não precisa ministrar 
instrução como entendê-la (POSTMAN, 2012, p. 27). 
 
 Sendo assim, é notório que não há necessidade de discernir com precisão o papel da 
criança e do adulto, pois eram poucos os segredos que havia entre eles. No mundo oral não há 
explícito um conceito de adulto, nem de criança, esse é um dos motivos que a história revela que 
no mundo medieval a infância findava-se aos sete anos e imediatamente começava a idade adulta, 
pois era a partir desse período que ela tinha o domínio da palavra, considerada pela Igreja 
Católica a idade da razão, fase essa que supostamente o menor entenderia o que era certo ou 
errado. Como precocemente o menor via-se inserido nesse meio, não há nessa época registros de 
livros sobre criação de filhos, poucos eram os sobre papel de mães, é inexistente qualquer tipo de 
literatura infantil, bem como livros de pediatria. Segundo Tuchman (apud POSTMAN, 2012, 
p.33), “de todas as características que diferenciam a Idade Média da Moderna, nenhuma é tão 
contundente quanto a falta de interesse pelas crianças”. 
 Na Idade Média não havia termos que fossem específicos para crianças ou que as 
caracterizassem. A palavra criança vem do Latim creare, “produzir, erguer”, relacionado à 
crescere, “crescer, aumentar”, do Indo-Europeu ker-; no período medieval o termo Child 
(criança) denotava apenas um grau de parentesco, não uma idade ou alguém que carece de 
cuidados diferenciados. Posteriormente esse termo foi muito usado para designar alguns adultos 
que não eram capazes de ler, os mesmos eram considerados infantis. Somente através de diversos 
concílios a Igreja foi concedendo algumas medidas protetivas aos menores e aplicando penas 
espirituais e corporais para aqueles pais que abandonassem seus filhos. Em contrapartida, os 
filhos nascidos fora do matrimônio eram discriminados pela sociedade, pois segundo Amin: 
 
[...] a doutrina traçada no Concílio de Trento, a filiação natural ou ilegítima – 
filhos espúrios, adulterinos ou sacrílegos – deveria permanecer à margem do 
Direito, já que era a prova viva da violação do modelo moral determinado à 
época (AMIN, 2006, p.4). 
 
 A escola que era reservada à formação dos Clérigos não tinha como função a instrução 
da criança. Segundo Piletti e Piletti (2011, p.57) “a igreja, como piedosa mãe, teria a obrigação de 
prover os pobres, que não podiam ter o apoio dos pais, para que, assim, não fossem privados da 
20 
 
oportunidade de ler e progredir no estudo”. Surgia então uma nova definição de idade adulta, 
baseada na competência de leitura e consequentemente, surge uma nova concepção de infância 
baseada na incompetência da leitura. A Idade Média foi marcada por muitas mudanças sociais, 
mas nada que mudasse a concepção da vida adulta. Neste mesmo período inventaram a impressão 
com caracteres móveis, surgiu então a prensa tipográfica e atrelado veio, segundo Postman (2012, 
p.34), um novo mundo simbólico, por sua vez, uma nova concepção de idade adulta. 
 
1.2 A TIPOGRAFIA E O NOVO ADULTO 
 
 Uma das invenções da Idade Média foi a impressão com caracteres móveis. A origem do 
termo tipografia vem do grego, onde TYPOS = Marca ou Impressão e GRAFÉ = escrita, o 
referido termo refere-se à arte de compor e imprimir com tipos móveis. Mas no decorrer do 
tempo sua abrangência aumentou, pois novas técnicas e novos estudos foram elaborados. Hoje o 
termo refere-se a estilos, caracteres, formatos e tamanhos, os mesmos fazem parte de uma 
constituição de textos utilizados em projetos gráficos, seja ele impresso ou não. 
 Durante o período medieval, a Igreja mantinha mosteiros disseminados pela Europa, 
com monges copistas, onde os mesmos eram responsáveis por copiar as sagradas escrituras e 
outros textos antigos. Por volta de 1.400 d.C. nasce o competente artesão e fundador de metais, 
Johann Gutenberg, que criou a imprensa, onde as letras fundidas nos metais pelo mesmo tinham 
objetivo de chegar o mais próximo de um manuscrito copiado a mão por um escriba; a mesma 
ficou conhecida como blackletter ou letras negras em português, sendo considerada a primeira 
fonte
10
. Segundo Postman (2012, p.34), a tipografia criou um novo mundo simbólico que exigiu, 
por sua vez, uma nova concepção de idade adulta. 
A nova idade adulta, por definição, excluiu as crianças. Com base nesse fato, os 
pequenos foram expulsos do mundo adulto, tornando imprescindível um novo lugar para as 
crianças, um novo mundo para elas fez-se necessário, surgindo, dessa forma, a infância. 
 Antes da prensa tipográfica, escritores tinham liberdade para escreverem, reescreverem, 
acrescentarem o que quisessem aos seus textos, mas depois dessa invenção, tornou-se necessário 
saber sobre a autenticidade da obra. Outro fato posterior à mesma é que toda comunicação 
 
10
 Na tipografia fonte é o conjunto de todos os caracteres, incluindo, maiúsculas, minúsculas, números, sinais em um 
único tamanho e tipo. 
21 
 
existente no mundo medieval era feito numa esfera social, ou seja, quando eram feitas leituras de 
distintos assuntos, as mesmas eram feitas em lugares públicos, o leitor pronunciava palavras em 
voz alta, enquanto os ouvintes acompanhavam, dentre esses ouvintes, estavam adultos como 
também crianças. Segundo Postman (2012, p.41), com o livro impresso iniciou-se outra tradição: 
o leitor isolado e seu olho pessoal. A oralidade emudeceu e o leitor e sua reação ficaram 
separados de um contexto social. 
 Postman, em sua obra O desaparecimento da Infância, não está afirmando que a infância 
surgiu do dia pra noite, este foi um processo que durou séculos. Ele ressalta fatos que culminaram 
no surgimento da infância. Neste período surgiu uma divisão social, os que sabiam ler e os que 
não sabiam; os que sabiam eram inseridos num mundo de novos fatos e percepções e os que não 
liam, considerados inferiores. Surge nesse período uma infinidade de livros, com variados 
ensinamentos e instruções; a própria ideia de língua materna derivou-se da tipografia, bem como 
a ideia de protestantismo. 
 A tipografia foi altamente favorável à Reforma Protestante, pois graças a ela, várias 
versões foram feitas da Bíblia, que foi o primeiro livro da história a ser impresso por Gutenberg. 
O mesmo está entre os dez maiores best-seller
11
 e traz grandes ensinamentos acerca da vida 
cotidiana, bem como instruções de como se deve educar crianças. Outras publicações também 
tomaram destaque. 
 
A publicação de livros de pediatria e também de boas maneiras é um forte indício 
de que o conceito de infância já começara a se formar, menos de um século 
depois da prensa tipográfica. Mas o ponto a salientar aqui é que a prensa 
tipográfica gerou o que chamamos hoje "explosão de conhecimento”.Ser um 
adulto em pleno funcionamento exigia que o indivíduo fosse além do costume e 
da memória e penetrasse em mundos não conhecidos nem contemplados antes. 
Pois além da informação geral, como era encontrada em livros de “como fazer” e 
guias e manuais variados, o mundo do comércio era, cada vez mais, constituído 
de papel impresso: contratos, escrituras, notas promissórias e mapas 
(POSTMAN, 2012, p.43). 
 
 A forma de livro impresso trouxe uma nova forma de organização de conteúdos, uma 
reorganização de assuntos. Sendo assim, surge também um novo modo de organizar o 
pensamento, surgindo então novas áreas de estudo. A tipografia possibilitou uma extensa 
variedade de textos clássicos que muitos medievais não conheciam ou não tinham acesso. Novas 
 
11
 Livro que alcança grande êxito nas vendas. 
22 
 
formas de literatura, estudos sobre astronomia, anatomia estavam disponíveis, enquanto isso 
aparecia uma nova forma de pensar, o homem letrado tinha surgido, enquanto a oralidade 
medieval retrocedia. 
Segundo Postman (2012, p.50), antes desses acontecimentos não havia necessidade da 
ideia de infância, porque todos compartilhavam o mesmo ambiente informacional e, portanto, 
viviam no mesmo mundo social e intelectual. Mas foi só depois dos séculos XVI e XVII que se 
reconheceu a existência da infância. 
 
1.3 A VIDA DAS CRIANÇAS NAS EMBARCAÇÕES PORTUGUESAS XVI E NO BRASIL 
QUINHENTISTA 
 
 A trajetória trágico-marítima das crianças nas embarcações portuguesas do século 
dezesseis traz uma série de acontecimentos que hoje são considerados inadmissíveis e que 
infringiram os direitos constitucionais das crianças, mas para aquela época, tais situações eram 
consideradas normais e cotidianas. A história nos conta que, em meados do século XVI, o Brasil 
começou a receber embarcações lusitanas, nas quais vinham mulheres, homens e crianças. 
 As crianças portuguesas dos séculos XIV a XVIII tinham uma expectativa de vida muito 
baixa, em torno de 14 anos no máximo. Nessa época o sentimento de desvalorização da infância 
era muito presente, sentimento este que fazia a Coroa Portuguesa recrutar mão de obra barata 
entre as famílias mais pobres. Como os adultos estavam ocupados dentro das embarcações, eram 
recrutados órfãos e menores filhos de famílias carentes, cujos pais os entregavam, pois era uma 
das formas de aumentar a renda familiar e assim teriam menos despesas em casa. 
Outra forma atroz de recrutamento era o rapto de judias, tiradas à força dos pais. 
Segundo Ramos (2010, p.22) este era, “um meio de obter mão de obra e de manter sob controle o 
crescimento da população judaica em Portugal”. 
Os grumetes
12
 eram crianças que tinham as piores condições de vida dentro das 
embarcações, faziam vários serviços pesados. Os mesmos eram entregues a um cotidiano cruel e 
repleto de privações. Segundo Ramos (2012, p.27), “os grumetes viam-se obrigados a abandonar 
rapidamente o universo infantil para enfrentar a realidade de uma vida adulta”. 
 
12
 Grumete: Primeira graduação na hierarquia da Marinha Brasileira. 
23 
 
Além de tudo eram forçados a ter relações sexuais com os marujos e outros pedófilos, 
homens bastante violentos. Quando os pequenos eram estuprados, raramente faziam denúncias 
aos oficiais, até porque muitos desses ocorridos eram consentidos e praticados por eles, sendo 
assim os pequenos não tinham a quem recorrer. Apesar de poucos relatos, sabe-se que essa 
prática era corriqueira nas embarcações, pois na Idade Média era uma prática comum. A 
violência sexual enfrentada pelos grumetes era das mais bárbaras possíveis, segundo Ramos, 
 
Muitos grumetes eram sodomizados por marujos inescrupulosos – categoria 
classificada nos documentos, como formada por “criminosos da pior espécie”, 
tais como “assassinos, incendiários, (e) sediciosos”, cuja pena por “decapitação 
ou enforcamento” havia sido comutada “pelo serviço marítimo” – de evidente 
superioridade física sobre meninos. Relatos de viajantes estrangeiros que 
passaram por Portugal no século XVIII dão conta de que a pedofilia homoerótica 
era muito comum (RAMOS, 2010, p.27). 
 
 Nessas embarcações marítimas, as crianças desempenhavam funções de adultos e logo 
cedo estavam envolvidos em grandes responsabilidades. Mesmo que involuntariamente, a bordo 
elas aprendiam a prática da profissão marítima. 
 É importante também ressaltar acerca da vida de outras crianças que vivam a bordo, que 
recebiam tratamento diferenciado dos grumetes. Os Pajens eram rapazes serviçais, muitos deles 
ainda eram crianças que, assim como os grumetes foram recrutados entre famílias portuguesas 
pobres. Todavia, a maioria deles pertencia a famílias protegidas pela nobreza. A bordo, tinham 
um cotidiano mais leve e, devido ao seu envolvimento com a nobreza, tinham mais chances de 
engajaram-se em melhores cargos da Marinha. 
Segundo Ramos (2012, p. 30), “aos pajens eram confiadas tarefas mais leves e menos 
arriscadas do que as impostas aos grumetes, tais como servir à mesa dos oficiais e providenciar 
tudo que estivesse relacionado ao conforto dos oficiais da nau”. Eram raros os dias que sofriam 
algum castigo severo, ao contrário dos grumetes, que além de todo serviço árduo que a eles era 
destinado, em caso de desobediência às ordens dos oficias, recebiam chicotadas, eram 
ridicularizados e ameaçados de morte. Apesar de toda proteção e melhor alimentação que os 
pajens tinham a bordo, eles não eram isentos de abusos sexuais. 
 Neste tópico foi abordado acerca da vida de dois tipos de crianças: os grumetes e os 
pajens. Mas, segundo Ramos, não somente estas, mas órfãos, crianças embarcadas como 
passageiros, crianças acompanhadas dos pais, eram postas nas embarcações. Sujeitas a 
24 
 
naufrágios, doenças como sarampo e caxumba, fome, inanição e diversos outros fatos, que foram 
responsáveis pelo alto índice de mortalidade a bordo. 
 
Em uma época em que meninas de 15 anos eram consideradas aptas para casar, e 
meninos de nove anos plenamente capacitados para o trabalho pesado, o 
cotidiano infantil a bordo das embarcações portuguesas era extremamente penoso 
para os pequeninos. Os meninos não eram ainda homens, mas eram tratados 
como se fosse, e ao mesmo tempo eram considerados como pouco mais que 
animais cuja mão de obra deveria ser explorada enquanto durasse sua vida útil. 
As meninas de 12 a 16 anos não eram ainda mulheres, mas em idade considerada 
casadoura pela Igreja Católica, eram caçadas e cobiçadas como se o fossem. Em 
meio ao mundo adulto, o universo infantil não tinha espaço: as crianças eram 
obrigadas a se adaptar ou perecer (RAMOS, 2010, p.48). 
 
 
De acordo com a historiografia, a criança que viveu e veio para o Brasil nesse período, 
foi vítima de distintas formas de violência. Ao analisarmos a conjuntura histórica e os processos 
de civilização existente no Brasil, vemos que as crianças, principalmente as negras e indígenas, 
eram rejeitadas, sofriam humilhações, desrespeito. As crianças vindas nas embarcações também 
sofreram preconceito por suas peculiaridades e vivenciaram a bordo e em terra vários tipos de 
privações e hostilidade. Ainda no que diz respeito à infância, verificamos que esta não era 
relevante para a sociedade da época, as crianças não eram priorizadas por suas famílias e eram 
postas em segundo plano. Por esta razão, é imprescindível entendermos os momentos históricos e 
socioculturais que a nação brasileira vivenciou até chegarmos a uma melhoria da infância no 
Brasil. 
 
1.4 SÉCULO XVIII – nova concepção de infância em Rousseau 
 
 Filho do relojoeiro Isaac Rousseau ede Suzanne Bernard a qual perde em seu 
nascimento, Jean-Jacques Rousseau nasceu em 1712, em Genebra-Suíça. Em sessenta e seis anos 
de vida, destacou-se como pensador, escritor, filósofo e teórico. Conceituado como um dos 
principais filósofos revolucionários do Iluminismo e precursor do Romantismo. Pai de cinco 
filhos, todavia não proporcionou educação a nenhum, pois os abandonou; o remorso e a culpa 
possivelmente foi um dos motivadores a escrever sobre Emílio; justifica-se ao enfatizar que “Não 
escrevo para desculpar meus erros, mas para impedir meus leitores de os imitar” (ROUSSEAU, 
2004, p.VIII). 
25 
 
 Emílio é uma ótima proposta quanto ao ensino e cuidados que se deve ter com os filhos. 
Emílio ou Da Educação, é considerada uma das obras mais revolucionárias dos últimos séculos, 
por tratar da infância sob uma nova ótica, respeitando seu tempo, sentimentos, desejos. Consiste 
em um tratado pedagógico onde integra política, educação e ética, aconselhando adultos como 
pais e mestres sobre como educar e criar de forma natural/espontânea o homem ideal. A obra traz 
saberes acerca do avanço cognitivo e moral da criança, bem como seu processo de socialização, 
considerando sua relação com o mundo adulto. Apesar de Rousseau ser alvo de críticas e tido 
com defensor de medidas verticais do adulto para com a criança, ele ao tratar sobre infância, traz 
o saber pedagógico de respeito pelo mundo da criança. 
 Emílio é um novo paradigma, onde Rousseau descreve as peculiaridades infantis. A obra 
deixa explícito o descaso que era vivido na época quanto às pertinências da infância. A inserção 
adulta no universo da criança preocupava Rousseau, que entendia que os adultos deveriam 
interferir somente quando necessário, para que tentando protegê-las, pais e mestres não 
bloqueassem o desenvolvimento natural dos pequenos. 
 Surge então um dos maiores desafios quanto à educação natural, que os adultos sejam 
presentes na vida da criança, mas ausentes o suficiente, para que ela seja autônoma e cresça 
saudavelmente, sem prejuízo a sua formação. Não significa apologia ao, 
 
“espontaneísmo pedagógico” que culminaria na “desresponsabilização” do 
adulto em relação à criança. Ao contrário disso, o respeito pelo mundo da 
criança exige a intervenção do adulto no sentido de ser condutor do processo 
educativo e conduzir significa intervir deixando que o desenvolvimento natural 
da criança aconteça” (DALBOSCO, 2007, p. 316). 
 
 
 Rousseau foi um dos pioneiros a compreender e estudar acerca da infância, vendo-a 
como um período singular, distinto do mundo adulto. Entende-se então a infância como um 
período de dependência, por tratar-se de uma fase que carece de cuidados, onde é importante essa 
mediação do adulto, para que paulatinamente ela socialize-se. 
 O autor aborda as seguintes fases da vida do homem: primeiro, a idade da natureza – o 
bebê (infans), que traz tópicos como: a importância e objetivo da educação e sobre um aluno 
imaginário que é Emílio, o órfão. A segunda fase é a idade da natureza, que estende dos dois anos 
aos doze (puer), onde ele aborda acerca da educação da sensibilidade, moral, intelectual, do 
corpo, sensorial. A terceira fase é a idade da força, dos doze aos quinze anos, na qual o autor 
26 
 
disserta acerca da educação intelectual, manual e social, culmina com algumas conclusões acerca 
de Emílio. A quarta fase é a idade da razão e das paixões, de quinze a vinte anos, que fala acerca 
de educação sexual e religiosa, paixões. O livro V traz a quinta etapa da vida que, segundo 
Rousseau, é a idade da sabedoria e do casamento, entre vinte a vinte e cinco anos; o tema 
principal dessa narrativa é o romance de Emílio e Sofia. 
 O livro tornou-se então um paradigma para educação do século XVIII, opondo-se ao 
sistema elitista da educação, tido como privilégio de algumas camadas sociais, afirmando ser um 
direito de todos, onde Rousseau critica fortemente a igreja e sua pedagogia jesuítica, rígida, mera 
transmissora de conhecimentos memorizados, que tratava as crianças como mini adultos. O 
mesmo traz “educação natural”, como princípio fundamental, onde a educação deve acontecer de 
forma “natural”, longe das influências corruptas da sociedade, valorizando a espontaneidade das 
crianças. 
 Rousseau modifica a visão da infância da época, deixando nítido que a criança tem um 
mundo próprio, cabendo aos adultos apenas compreendê-la. 
 
[...] elabora uma pedagogia que celebra a naturalidade e a autenticidade da 
criança, e sua inocência em oposição ao mundo adulto pervertido pelas 
convenções sociais. Assim, até Rousseau, a criança era considerada um pequeno 
adulto, um adulto em miniatura, a ser tratada por padrões adultos, vestindo-se 
com roupas de adultos, aprendendo coisas de adultos. Rousseau foi praticamente 
o primeiro a considerar a criança enquanto tal, com idéias próprias, diferentes do 
adulto, e a partir dele intensificou-se a tendência a ver a educação a partir da 
criança, da sua natureza, dos seus instintos, das suas capacidades e tendências, 
em oposição aos padrões e normas impostos pela sociedade (FURLANETTO, 
2006, p. 2709- 2710). 
 
 
 A criança então passa a ser valorizada em suas especificidades e passa a ser vista como 
sujeito aprendiz, que precisa se desenvolver no meio social, sendo respeitada. Entre as propostas 
educativas que embasam esse novo pensamento acerca dessa concepção de infância, encontramos 
as compreensões de infância preconizadas por Pestalozzi, Comenius, Froebel e Rousseau, como 
acabamos de ver, que evidenciam que a criança, assim como Emílio, é uma pessoa em 
desenvolvimento, que precisa aprender com seus próprios erros e cujo aprendizado deve ser 
construído conforme seu interesse, de forma natural e espontânea, sem que seja necessário 
adiantar nenhuma etapa de sua vida. 
27 
 
 “Viver é o oficio que quero ensinar-lhe. Ao sair de minhas mãos, concordo que não será 
nem magistrado, nem soldado, nem padre; será homem, em primeiro lugar” (ROUSSEAU, 2004, 
p.15). A criança precisa viver seu mundo próprio, fazer o que lhe é próprio à idade, cabendo ao 
adulto compreendê-la. 
 
1.5 O NASCIMENTO DA INDÚSTRIA E A RELAÇÃO COM O MUNDO DA 
CRIANÇA/ADOLESCENTE 
 
 Em meados do século XIX, as primeiras indústrias começaram a surgir na Inglaterra, 
juntamente veio a Revolução Industrial
13
. Até o fim do século XVII, a população europeia, em 
sua maior parte, concentrava-se no campo; para obtenção de renda trabalhavam em atividades 
agrícolas e pastoris e toda produção dava-se de forma artesanal. Só em alguns países como 
Inglaterra e França é que a produção era organizada em manufaturas
14
. 
 Segundo Decca e Meneguello (1999, p.14 apud COTRIM, 2005, p.275), 
 
Antes desse período, a maioria das pessoas vivia no campo ou em vilarejos. 
Trabalhavam em pequenos grupos e produziam, em pequena escala, aquilo de 
que precisavam – alimentos, roupas e objetos. Havia grandes cidades, porém 
eram cidades comerciais e principalmente cidades capitais, ou seja, centros do 
poder político dos reinos. 
 
 A Revolução Industrial iniciou-se a partir da criação da máquina a vapor, que 
possibilitou a mecanização dos produtos. Sendo assim, houve um grande crescimento na 
produção, outrora artesanal, personalizada e limitada e que passa a ser padronizada e fabricada 
em larga escala, permitindo assim a comercialização nacional e internacional. As relações de 
trabalho também mudaram na Inglaterra. Muitos camponeses saíram do campo para a cidade em 
busca de uma vaga de emprego nas fábricas e junto com essas famílias iam também as crianças e 
adolescentes. 
Dessa forma, a Revolução Industrial possibilitou a inserçãodas crianças e adolescentes 
no mundo do trabalho e adulto. Segundo Cotrim, 
 
13
 Conjunto de transformações ocorridas na Europa Ocidental (Séc. XVIII-XIX) diretamente relacionadas à 
substituição do trabalho artesanal, que utilizava ferramentas, pelo trabalho assalariado, em que predominava o uso 
das máquinas. 
14
 Nas manufaturas, foi implantado um processo de divisão do trabalho que deu origem às linhas de produção e 
montagem. Cada trabalhador cumpria uma tarefa específica. 
28 
 
 
Mulheres e crianças operárias recebiam salários inferiores àqueles pagos aos 
homens adultos. [...] Com o objetivo de aumentar os lucros, o empresário 
industrial pagava aos operários salários muito baixos, enquanto explorava ao 
máximo sua capacidade de trabalho. Os salários eram tão reduzidos que, para 
sobreviver, toda a família do operário, incluindo mulheres e crianças, era 
obrigada a trabalhar nas fábricas (COTRIM, 2005, p.278). 
 
 Dessa forma, o trabalho de crianças e adolescentes começou a ser objeto de crítica 
somente a partir da Revolução Industrial, no final do século XIX. Segundo Moura (2010, p.280), 
“A crítica ao trabalho infanto-juvenil não estava somente no mundo proletário”, as precárias 
condições de trabalho que os menores eram submetidos tornou-se notícia na imprensa, não 
somente no Brasil, mas na Europa também, tendo em vista que essa exploração atingiu patamares 
tão elevados que vários países começaram a legislar
15
 e a limitar a idade mínima para se 
começar a trabalhar. Sabemos que o exercício de atividades trabalhistas por crianças e 
adolescentes é física e psicologicamente nociva aos mesmos, fazendo-os ter responsabilidades e 
obrigações naturais a um adulto, comprometendo assim toda infância/adolescência. 
 Surge então na Revolução Industrial uma nova identidade da infância que se refere a 
criança que passa a ser reconhecida como filho/aluno; esta nova identidade de infância 
institucionalizada, onde apesar de muitas estarem no mercado de trabalho, as mais privilegiadas 
apropriavam-se do direito de ser criança, gozava de atenções, gratificações por parte dos adultos, 
tinham agora jogos industrializados, feitos para elas e também brincadeiras próprias para sua 
idade. 
 
No final do século XIX, pequenas indústrias começaram a se estabelecer 
também no Brasil e o objeto-brinquedo-mercadoria passa a fazer parte do 
universo infantil. Surgem carrinhos de madeira, as bonecas de materiais cada 
vez mais sofisticados, os trenzinhos de metal, objetos de consumo que 
despertam na criança o sentimento de posse, o desejo de ter, dificultando o 
prazer de inventar e construir (ALTMAN, 2010, p.254). 
 
 As cantigas de rodas, as brincadeiras nas ruas, as adivinhas, são parte agora do universo 
infantil, e aqueles que não tinham condições de ter brinquedos industrializados, confeccionavam 
 
15
 Organização Internacional do Trabalho (OIT) - Convenção nº 138 de 1973, no Art. 2º, item 3, determina-se como 
idade mínima para começar a trabalhar 16 anos. Nesse mesmo documento, é considerado que o exercício de alguma 
atividade econômica entre a faixa etária de 13 e 15 anos pode ser permitido somente quando não prejudica a saúde e 
o desenvolvimento do jovem, destacando ainda que as autoridades devem especificar as atividades permitidas e o 
tempo máximo de trabalho diário. 
29 
 
ao seu modo, com materiais simples que tinham. Brincavam nas ruas, nas praças, em casa, com 
amigos ou sozinhos, mas agora tinham reais motivos para brincar e desfrutar do prazer que é a 
infância proporciona. 
 
Atenta também a essa visão social da infância, para Godoi (2004, p.31), a 
criança brasileira não está tendo oportunidade de vivenciar plenamente sua 
infância devido à sua inserção precoce no mundo adulto, visando ao trabalho 
produtivo: tanto as crianças ricas quanto as pobres, acabam tendo que assumir 
muito cedo responsabilidades que são dos adultos. Em função dos valores e 
ideais capitalistas, a visão social da infância acaba negando sua especificidade e 
preparando-a cada vez mais cedo para ser um indivíduo produtivo e consumidor 
(FURLANETTO, 2006, p.2712). 
 
 
 Podemos perceber que, apesar dos avanços, ainda está implícita uma preocupação acerca 
do presente e futuro da criança, pois se de um lado a criança pobre precisa trabalhar para ajudar 
na renda mensal da família, tendo que sair da escola para tal exercício, por outro, temos a criança 
abastada com diversas responsabilidades extraescolares, tendo que aprender outras línguas e 
outros ofícios, principalmente tratando-se das meninas. Assim, essas crianças possuem algo em 
comum, comprometidas com muitas atividades, tendo pouco tempo para dedicar-se ao seu real 
oficio, de ser criança. 
 
1.6 SÉCULO XIX: o cotidiano das crianças abastadas durante o império 
 
 Neste período, o mundo adulto continuava ligado à criança e ao adolescente, dentro de 
um contexto com um pouco mais de restrições. Comparado ao período medieval, aqui já havia 
limites de espaços que os pequenos poderiam frequentar, bem como instrução dos princípios 
morais que norteavam a educação. Segundo Mauad (2010, p.140), “era a rotina do mundo adulto 
que ordenava o cotidiano infantil e juvenil”. 
 
O século XIX ratifica a descoberta humanista da especificidade da infância e da 
adolescência como idades da vida. Os termos criança, adolescente e menino, já 
aparecem em dicionários da década de 1830. Menina surge primeiro como 
tratamento carinhoso e, só mais tarde, também como designativo de “crença ou 
pessoa do sexo feminino que está no período da meninice”. Criança, nesse 
momento, é a cria da mulher, da mesma forma que os animais e plantas também 
possuem suas crianças. Tal significado provém da associação da criança ao ato 
de criação, onde criar significa amamentar, ou, como as plantas não 
amamentam, alimentar com sua própria seiva (MAUAD, 2010. p.140) 
 
30 
 
 Foi a partir desse século que os dicionários começaram a usar o vocábulo criança como 
tendo sentido de espécie humana. Já a definição de infância ainda não era muito clara, pois ainda 
distinguia a capacidade física da intelectual; nessa época a infância restringia-se ao fato que, a 
primeira idade era marcada pela ausência e/ou imperfeição na fala. A segunda fase era a puerícia, 
segundo Mauad (2010, p.141), “tanto a infância quanto a puerícia16 estavam relacionadas 
estritamente aos atributos físicos, fala, dentição, caracteres secundários femininos e masculinos, 
tamanho, entre outros. Ainda estava em construção uma ideia de infância voltada a criança como 
ser em desenvolvimento e não apenas ao que remetia-se aos aspectos físicos, que distinguia-as 
dos adultos. 
 O vestuário dos meninos e meninas da elite era feito conforme os modelos franceses que 
seguiam toda uma etiqueta estilística, elas possuíam roupas em excesso, uma para cada ocasião. 
Segundo Mauad (2010, p.146), “Em 1826, a relação de roupas da princesa imperial Dona 
Januária, filha de Dom Pedro I, contava com 306 peças indispensáveis ao guarda-roupa de uma 
menina nobre de sete anos de idade”. Todas as roupas dessas crianças eram produzidas com 
riquezas de detalhes, todas bem elaboradas. Com cerca de doze anos, as crianças já começavam a 
deixar as calçolas e vestidos de lado e gradualmente iam adaptando-se as vestimentas adultas. 
 Algo que era de privilégio dos filhos da Elite era a educação. As escolas que essas 
crianças e adolescentes frequentavam ofertavam um ensino enciclopédico, onde desde cedo já 
eram submetidos a sabatinas. Segundo a mentalidade da época, a educação vinda dos lares era 
imprescindívelpara que a escola desempenhasse um trabalho de excelência, voltada aos 
princípios morais. Segundo Mauad, 
 
Portanto, estabelecidos os devidos papéis sociais, caberia à família, educar e à 
escola, instruir. Com isso estavam supostamente garantidas a manutenção e 
reprodução dos ideais propostos para a constituição do mundo alto. Dentro desta 
perspectiva, a criança era uma potencialidade, que deveria ser responsavelmente 
desenvolvida. Mas até chegar a ser uma potencialidade, a criança era uma 
expectativa que, devido às condições de saúde da época, geralmente se frustrava 
(MAUAD, 2010, p.154). 
 
 Também é importante ressaltar que os meninos e meninas tinham instruções diferentes. 
Aos meninos era dada uma educação civil e militar, ensinando-os uma postura viril e poderosa, 
para que fosse garantido um desenvolvimento intelectual. As meninas estavam entre o ambiente 
 
16
 Segundo Mauad (2010, p. 140), essa fase da vida ia dos três ou quatro anos de idade até os dez ou doze. 
31 
 
doméstico, onde eram ensinados princípios de maternidade e incentivo aos cuidados com o lar e 
entre o ambiente que exigia sua presença na vida social, segundo Mauad (2010, p.154), “Na 
Corte Imperial, das meninas da alta sociedade, exigia-se perfeição no piano, destreza em língua 
inglesa e francesa, e habilidade no desenho, além de bordar e tricotar”. 
 Nesta época, a falta de vacinas e o limitado saber acerca das doenças contagiosas que 
rondava a sociedade, bem como as precárias condições de higiene, deixavam as crianças 
vulneráveis a diversos tipos de enfermidades. No decorrer do século XIX, cautelas quanto à 
higiene infantil foi crescendo gradativamente e começou-se a seguir conselhos das literaturas 
médicas, quanto à prática do banho frio para bebês, bem como o uso do pente fino nas crianças 
da Corte, pois como afirma Mauad (2010, p.162), “O piolho era uma verdadeira praga 
democrática”. 
 
Conforme o sentimento de pesar pela perda de uma criança se desenvolvia, 
crescia também a preocupação em cuidar para a sua sobrevivência. Desta 
tendência surgiu uma série de procedimentos para as diferentes etapas da 
infância, com ênfase especial nos recém-nascidos e crianças até sete anos. No 
entanto, diante de tantos personagens que povoavam o universo infantil, durante 
o século XIX, numa sociedade como a brasileira, fica a pergunta: de quem era a 
responsabilidade de cuidar das crianças? A resposta da sociedade para a 
pergunta era uníssona: a mãe (MAUAD, 2010, p.160). 
 
 
 Mas não somente às mães estava atribuída tal responsabilidade. Pai, avó, tias, 
preceptoras, amas e etc., também estavam envolvidos na criação dos pequeninos. Segundo 
Mauad (2010, p.160), “Quanto mais ricos e nobres, na escala social, tanto mais distante dos pais 
estavam as crianças”. Pois o trabalho de cuidar e proteger era “terceirizado”, os pais envolvidos 
em outras atividades da Corte, não tinham tempo e nem necessidade de estar junto aos filhos. As 
crianças imperiais foram criadas por amas, conforme o costume obtido da tradição lusitana, pois 
algumas mães das mais elevadas classes, muitas vezes não queriam amamentar seus filhos. 
Contrapondo essa tradição oitocentista tinha-se disponível, como falado anteriormente, literaturas 
médicas que incentivavam as mães a criar os pequeninos com o leite materno, sendo que tais 
obras afirmavam que esta prática era fundamental para um crescimento infantil saudável. 
 De forma geral, pode-se observar que comparada vida dos filhos de escravos e das 
crianças pobres, os filhos da elite tinham um tratamento privilegiado, possuíam as melhores 
formas de ensino da época, vestiam-se com os melhores linhos disponíveis, estavam cobertos por 
32 
 
vários tipos de cuidados higienistas, tinham a disposição não somente as mães, mas as amas, 
preceptoras que as instruíam, enfim, estavam cercados por conforto e oportunidades de se 
ascender na vida. Segundo Del Priore (2010, p.168), ”Pedro, Luiz, Antonio, Isabel, Leopoldina, 
Bernadina, Aracy, Benjamim, entre outros, deixaram vestígios da sua existência em memórias, 
diários, fotografias e documentos diversos”. Sem sombra de dúvidas, esse acervo histórico narra 
suas experiências cotidianas, realidade oitocentista que melhor seria, se fosse a mesma vivida por 
todas as crianças e não somente por estas da elite. 
 
1.7 SÉCULO XX: trabalho infantojuvenil no Brasil 
 
 Infelizmente, o trabalho infantil continua sendo uma realidade lastimável de muitas 
regiões brasileiras e de outros países, especialmente nos subdesenvolvidos. São vários os fatores 
que podem levar uma criança e um adolescente a começar a trabalhar. A pobreza e a má 
qualidade da educação são um dos principais, concomitante à falta de perspectivas dadas pela 
escola e a disponibilidade de mão de obra infantil barata. Estes são poucos dos diversos fatores 
que estimulam a inserção dessa criança e adolescente no mercado de trabalho. 
 Segundo Rizzini (2010, p.376), “O Brasil tem uma longa história de exploração da mão 
de obra infantil. As crianças pobres sempre trabalhavam”, possivelmente por pertencerem a uma 
classe social menos favorecida, sentiam a necessidade de contribuir com a renda familiar, 
privando-se assim dos estudos. Surge então um questionamento, mas pra quem elas trabalhavam? 
 
Pra quem? Para seus donos, no caso das crianças escravas da Colônia e do 
Império; para os “capitalistas” do início da industrialização, como ocorreu com 
as crianças órfãs, abandonadas ou desvalidas a partir do final do século XIX; 
para os grandes proprietários de terras como boias-frias; nas unidades 
domésticas de produção artesanal ou agrícola; nas casas de famílias; e 
finalmente nas ruas, para manterem a si e as suas famílias 
(RIZZINI,2010,p.376). 
 
 
 A abolição da escravatura em 1888 foi, segundo (RIZZINI, 2010, p.376) “um divisor de 
águas no que diz respeito ao debate sobre trabalho infantil; multiplicaram-se, a partir de então, 
iniciativas privadas e públicas” referentes ao preparo desses menores na indústria e na 
agricultura. Muitos destes eram levados a asilos de caridade, os quais posteriormente deram lugar 
a escolas e institutos, com o intuito de capacitar essa mão de obra barata. 
33 
 
 A Organização Internacional do Trabalho
17
 por meio da Convenção nº 182, Art.3º, 
dispõe o seguinte: 
 
“Para efeitos da presente Convenção, a expressão "as piores formas de trabalho 
infantil" abrange: 
a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, tais como a 
venda e tráfico de crianças, a servidão por dívidas e a condição de servo, e o 
trabalho forçado ou obrigatório, inclusive o recrutamento forçado ou obrigatório 
de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; 
b) a utilização, o recrutamento ou a oferta de crianças para a prostituição, a 
produção de pornografia ou atuações pornográficas; 
c) a utilização, recrutamento ou a oferta de crianças para a realização para a 
realização de atividades ilícitas, em particular a produção e o tráfico de 
entorpecentes, tais com definidos nos tratados internacionais pertinentes; e, 
d) o trabalho que, por sua natureza ou pelas condições em que é realizado, é 
suscetível de prejudicar a saúde, a segurança ou a moral das crianças”. 
 
 Dessa forma, podemos reconhecer que existem várias formas de exploração 
infantojuvenil, dos serviços mais precários como os exercidos em lixões, no campo de grandes 
empresários e nas ruas, à exploração sexual de crianças e adolescentes. São atividades que 
causam danos ao desenvolvimento físico, psíquico e social das crianças e adolescentes, e o pior é 
que são de difícil erradicação.Os artigos da Convenção nº 182 são bem claros, em especial temos 
o art. 3º, que dispõe de várias medidas em favor ao combate a qualquer tipo de exploração 
infantojuvenil. 
 Atualmente temos no Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, que 
também ampara esse menor, conforme dispõe o Art. 60 “É proibido qualquer trabalho a menores 
de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”, 
assegurando-lhes total proteção, pelo menos é o que está regimentado; se a prática não condiz 
com o mesmo, deve-se pelejar pela efetivação do referido estatuto. 
 
É cena do cotidiano dos moradores das grandes cidades grupos de crianças 
pequenas esmolando, faça sol ou chova. Estas crianças têm jornadas estafantes 
de trabalho, não vão à escola e muitas vezes estão longe de suas famílias, sendo 
exploradas por terceiros. Pesquisa realizada no Rio de Janeiro mostrou 65% das 
crianças que viviam nas ruas em 1996 não frequentavam a escola. A ajuda 
dessas crianças em casa é importante: em 1997, de 2.097 crianças de dez 
 
17
 A Organização Internacional do Trabalho é uma agência multilateral da Organização das Nações Unidas, 
especializada nas questões do trabalho, especialmente as normas internacionais do trabalho (convenções e 
recomendações). 
34 
 
municípios do estado do Rio de Janeiro, 57% levavam sempre dinheiro para 
casa. Gerar renda é prioridade em suas vidas. A escola é uma realidade distante, 
inatingível para a maioria dos pequenos trabalhadores (RIZZINI, 2010. p. 391). 
 
 Como relata Rizzini, as crianças e adolescentes são altamente prejudicados pelo trabalho 
em detrimento da escolarização. Quando os mesmos estão trabalhando, passam a dedicar todo seu 
tempo a atividades muitas vezes de risco, interferindo assim em seu desenvolvimento, sofrendo 
desgaste físico e psicológico. Dessa forma, o trabalho infantil impacta negativamente suas vidas, 
deixando-os à própria sorte e nas mãos dos aliciadores. Vemos surtir esse efeito negativo no 
rendimento estudantil, quando vão à escola. É fato que quando se ausentam por um período do 
ambiente escolar, devido o trabalho, vemos refletir tal impacto nas notas, apresentando assim 
elevadas taxas de repetências e de evasão. Segundo Rizzini (2010, p. 381), “O trabalho acaba por 
afastar a criança e principalmente o adolescente da escola. A longa jornada de trabalho é um dos 
fatores que os leva a desistir dos estudos”. 
 No Brasil várias ações foram desenvolvidas para se chegar a uma erradicação do 
trabalho infantil. Pensando nessa situação, o Governo, juntamente com a Unicef, Organizações 
não governamentais e algumas instituições privadas, começaram a desenvolver campanhas de 
conscientização e mobilização social, passando assim a desenvolver medidas legais que 
regulamentam políticas públicas no intuito de erradicar tal problema. Em 1990, o Governo 
Federal criou melhores possibilidades para amenizar o impacto do trabalho infantil, a mais 
significante de todas foi a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), seguida de 
outras ações e programas como o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho 
Infantil (1994), Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (1996), O Programa Brasil Criança 
Cidadã (1997), Programa Bolsa Escola (2001), o Programa Bolsa Família (2003), além de 
parcerias do setor privado, como o Criança Esperança, bem como o apoio da Fundação Abrinq, 
que juntamente com o Programa Empresa Amiga da Criança, mobilizaram mais de mil empresas, 
comprometendo-se com a eliminação do trabalho infantil. 
 A erradicação do trabalho infantil é um trabalho conjunto, que não se refere apenas às 
esferas politicas, mas à sociedade em geral. Todos precisam sentir-se corresponsáveis por tal 
situação, não podemos ser agentes exploradores, nem tão pouco aliciadores. Há uma necessidade 
de denunciarmos e não fecharmos os olhos para tal realidade, terceirizando a responsabilidade. 
Quando nossas crianças e adolescentes forem efetivamente tratados como dispõe o ECA, 
35 
 
avançaremos. Os mesmos são vulneráveis às violações de direitos, à exploração trabalhista e 
sexual, bem como à pobreza e à violência em nosso país, portanto como sujeitos em 
desenvolvimento, carecem de proteção e de cuidados especiais. 
 
1.8 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA – século XX - XXI 
 
 O século XX consagra agora a criança como sujeito de direito. A infância é um assunto 
que há anos vem sendo discutido e estudado, são inúmeros os historiadores e educadores que tem 
dedicado uma vida para compreender as entrelinhas e nuances de uma longa história de 
sobrevivência das crianças. A mesma continua sendo uma temática preponderante nos centros 
acadêmicos, pedagógicos e familiares. Concepções acerca da infância modificam-se no percurso 
histórico, visto que os menores estão em contínua transformação. 
 Segundo a Lei 8.069/90
18
 em seu artigo 2º, “Considera-se criança, para efeitos desta Lei, 
a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de 
idade.” Outra mudança histórica é também a palavra “menor”, a mesma por diversas vezes foi 
usada de forma pejorativa, rotulava crianças que viviam à margem da sociedade e alvos da 
marginalização. Tal expressão foi substituída por “criança e adolescente”. Hoje em dia, a criança 
se configura na sociedade como um sujeito histórico-social e está presente nos diversos eventos 
de adultos, como formaturas, festas de aniversário e também em locais como cinema, teatro, 
praças; são poucos os lugares que o menor é privado de frequentar. Essa criança tem um grande 
poder de persuadir os adultos para obtenção do que deseja, sendo amplamente influenciada pelas 
vias midiáticas e apelos consumistas nelas embutidas. 
 As crianças sempre estiveram presentes nas mais diversificadas esferas sociais, das 
situações mais favoráveis às mais hostis, sempre se constatou a presença dos mesmos. Esse fato 
tem sido objeto de estudo de muitos pesquisadores, professores, sociólogos e antropólogos; 
muitos projetos de pesquisa, documentários e livros já foram produzidos com o intuito de 
registrar e buscar respostas para muitas lacunas da história das crianças. Del Priore (2010, p.17) 
ressalta na apresentação de seu livro “História das Crianças no Brasil” que, querer conhecer mais 
sobre a trajetória histórica dos comportamentos, das formas de ser e de pensar das nossas 
crianças, é também uma forma de amá-las todas, indistintamente melhor. 
 
18
 Estatuto da Criança e do Adolescente. 
36 
 
Percebe-se que apesar dos estudos voltados para o bem-estar infantil e de todas as 
políticas públicas que a beneficiam, ainda é necessária uma constante reflexão sobre o que as 
crianças têm reproduzido e vivido. É necessário um senso crítico para entender que não é próprio 
da criança dedicar-se a jornadas de trabalho camufladas por holofotes ou até mesmo crianças 
exploradas braçalmente por falta de uma assistência financeira digna; o comum seria vê-la se 
divertindo, estudando, participando de sua comunidade espontaneamente, sem ser persuadida por 
adultos, deixando-a livre para gozar de sua liberdade e seus direitos constitucionais. 
Tratando-se da mídia, observa-se que ela tem produzido um público infantil altamente 
consumista, influenciado por propagandas, desenhos, comercias, entre outros, interferindo direta 
e indiretamente com sua subjetividade, no que se refere ao seu modo de ser e viver no seu 
contexto social. Donizeti (2004) traz comentários acerca dos direitos fundamentais da criança e 
do adolescente, o mesmo diz o seguinte:

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