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-MEDICINA LEGAL- A Medicina Legal - Definições, Relações e Classificações 1. Definições Nério Rojas: “é a aplicação de conhecimentos médicos aos problemas judiciais" Lacassagne: “é a arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da administração da justiça" Bonnet: "É a disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para dar respostas às questões jurídicas” Hélio Gomes: “é o conjunto de conhecimentos médicos e para médicos destinados a servir ao direito, cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais, no seu campo de ação de medicina aplicada“ Genival França: “é a contribuição da medicina, da tecnologia e outras ciências afins, às questões do Direito na elaboração das leis, na administração judiciária e na consolidação da doutrina” Atenção: A medicina Legal foi reconhecida como uma especialidade médica pela CFM (Resolução 1845/2008) Concluindo: é um ramo da medicina que, a partir de conhecimentos técnicos, fornece esclarecimentos sobre assuntos de ordem médica à policia judiciária, ao ministério público e aos magistrados, orientando-os na elaboração e aplicação das leis civis e penais. Direito Medicina Medicina Legal 2. Relações 2.1. Relação da Medicina Legal com o Direito 2.1.1. Direito Penal e Processual Penal - está relacionada aos crimes e suas causas excludentes (lesões corporais, sexualidade criminosa, aborto legal e ilícito, infanticídio, homicídio, emoção e paixão, embriaguez, imputabilidade, etc), bem como aos procedimentos processuais penais adotados (perícias em geral) 2.1.2. Direito Civil - está relacionada à questão de paternidade (por meio de DNA), impedimentos matrimoniais, erro essencial, limitadores e modificadores da capacidade civil, personalidade civil e direitos do nascituro, etc. 2.1.3. Direito do Trabalho - está relacionada com a questão da Infortunística (acidente de trabalho), Insalubridade, Higiene, etc. 2.1.4. Direito Administrativo - está relacionada à questões relativas a atestado médico, envolvendo servidores públicos, bem como a algumas perícias 3. Classificações 3.1. Medicina Legal Geral - É o ramo da Medicina que versa sobre os direitos (Diceologia Médica) e deveres (Deontologia Médica) dos profissionais. - Diceologia Médica – trata dos direitos dos profissionais. Ex: honorários, horário de trabalho, etc. - Deontologia Médica – trata dos princípios e fundamentos do exercício profissional, no que tange à relação médica com pacientes, colegas e a sociedade em geral. Ex: ética, responsabilidade médica, etc. 3.2 Medicina Legal Especial - Trata-se da divisão dada pela doutrina para o conhecimento da medicina legal por subáreas específicas (ramos da Medicina Legal). 3.2.1. Antropologia Forense – Ramo que estuda a identidade e a identificação do homem (identidade Médico-Legal, Policial ou Judiciária), através de métodos, processos e técnicas. 3.2.2. Traumatologica Forense (Lesonologia) - Ramo que estuda, sob a ótica jurídica, os traumas, as lesões corporais em toda sua extensão e os agentes que transmitem as energias causadoras. Obs: A asfixiologia forense é uma divisão da traumatologia forense que tem por objetivo estudar os traumas decorrentes dos diversos tipos de asfixias, bem como os mecanismos e sinais específicos. 3.2.3. Sexologia Forense – Ramo que trata dos aspectos periciais sob a ótica jurídica, referentes aos crimes contra a dignidade e liberdade sexual, bem como dos aspectos da sexualidade (normalidade, anormalidade, desvio) 3.2.4. Tanatologia Forense – Ramo que estuda o morto, a morte e suas consequências jurídicas 3.2.5. Toxicologia Forense – Ramo que estuda as drogas psicoativas ou fármacos e seus efeitos sobre o corpo humano Atenção: Para alguns doutrinadores a Toxicologia Forense também estuda os venenos, envenenamentos, intoxicações médicas legais, além do abuso de drogas, porém didaticamente é mais conveniente tratar o assunto relacionado a veneno inserido no contexto da traumatologia forense, por tratar-se de uma energia de ordem química. 3.2.6. Psicopatologia Forense – É o ramo que estuda as doenças e os distúrbios de natureza mental, observando os aspectos psicopatológicos. Perícia Médico-Legal e Peritos 1. Perícias Médico-Legal 1.1. Definição “É um procedimento médico, realizado através de requisição do Delegado de Polícia ou do Juiz, objetivando esclarecer fatos de interesse da justiça, através da analise médica de vestígios. 1.2. Objetos da perícia a) Pessoas vivas: visa diagnosticar as lesões corporais e suas espécies, determinar idade, sexo, etc. b) Mortos: visa diagnosticar a causa morte, o tempo da morte, identificar o cadáver, etc. c) Esqueletos: visa a identificação da espécie, do sexo e do tempo da morte Atenção: A perícia pode recair sobre fatos a serem analisados tecnicamente pelo perito (perícia percipiendi), bem como sobre outras perícias já realizadas, ou documentos (perícia deducendi). Atenção: A perícia também pode recair sobre analise de fatos anteriores (retrospectiva, como ex: perfil psiquiátrico), bem com sobre fatos futuros (prospectiva, como ex: cessação da periculosidade 2. Exame de Corpo de Delito 2.1. Definição “Trata-se de um exame feito sobre a existência e a realidade do delito, baseado no corpo de delito. Por sua vez, o corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais deixados pelo fato criminoso, o qual pode ser direto, quando persistirem os vestígios da infração, ou indireto, quando os vestígios materiais deixaram de existir ou nem mesmo existiram. 3. Peritos 1.1. Definição “São profissionais com conhecimento técnico-científico em determinados assuntos, os quais atuam na fase de inquérito policial ou processo judicial e são responsáveis por esclarecer pontos de sua área de conhecimento, relacionados a fatos, pessoas ou coisas. a) Perito Oficial - É o profissional concursado e de carreira que exerce função pública b) Perito Nomeado (ad hoc) – É o profissional, portador de diploma superior, designados pelo Delegado de Polícia ou Juiz, para realização de perícia, os quais prestam compromisso para desempenha o encargo Atenção: Para a realização da perícia por perito não oficial, será exigido legalmente a participação de 2 (dois) peritos. (art. 159, §1º, do CPP) Atenção: O perito está passível de suspeição, incompatibilidade e impedimento, quando da sua atuação (vide arts. 112 e 280, do CPP) Documentos Médico-Legais 1. Conceito São todas as informações de cunho médico-legal, através das quais o médico, verbalmente ou por escrito, fornece esclarecimentos de interesse da justiça. 2. Espécies 2.1. Relatório médico-legal É um documento médico-legal que possui uma descrição detalhada de uma perícia, com emissão de juízo valorativo acerca do fato. (art. 160, do CPP) Atenção: O relatório pode apresentar duas formas: Auto (quando o relatório é ditado pelo perito a um escrivão) Laudo (quando o relatório é redigido pelos peritos com base nas suas diligências) 2.1.1. Formalidades (partes) a) Preâmbulo – É a parte introdutória do laudo, constando a data, a hora, o local da realização da perícia, o nome da autoridade requisitante, qualificação do examinado e do perito. b) Quesitos - São as perguntas a serem respondidas pelo perito, de forma afirmativa ou negativa c) Histórico – É o relato dos fatos ocorridos, os quais deram origem à requisição da perícia. (tais fatos são colhidos com base em informações de terceiros ou do próprio examinado) d) Descrição / visum et repertum – É a parte do laudo onde o perito expõe seu convencimento técnico-cientifico, através da descrição minuciosa do que foi visualizado no ato do exame. e) Discussão – É a parte do laudo onde o perito discute todas as hipóteses eventualmente ventiladas na descrição. (vale destacar que nesta parteo perito deve ficar atento para não emitir juízo pessoal) f) Conclusão – Nesta parte o perito se posiciona, apresentando tecnicamente o resultado alcançado com base no que foi observado quando da realização do exame. g) Respostas aos quesitos – Após o encerramento do relatório o perito deve responder de forma sucinta e convincente SIM ou NÃO de acordo com o achado constante na descrição. Se por ventura o perito não tiver certeza para responder os quesitos, poderá responder através das seguintes expressões: “sem elementos ou prejudicado”. 2.2. Parecer médico-legal É o documento utilizado para dirimir divergências ou incertezas relacionadas à interpretação de uma perícia. Em regra é solicitado, pela parte interessada, a um profissional de renome, que deve fornecer respostas técnicas em torno do fato. Atenção: Este documento é constituído de todas as partes do Relatório, EXCETO a descrição (visum et repertum), por não haver exame pericial. 2.3. Atestado médico-legal É o documento que apenas afirma pura e simplesmente a existência ou não de um fato de interesse médico-legal e as suas consequências. Os atestados podem ser: - Oficioso – Solicitado por um paciente que possui interesse particular (ex: justificar ausência às aulas). - Administrativo – Solicitado pelo interessado para serviço público (ex: licenças, aposentadoria, abono de faltas, concurso público, etc). - Judicial – Solicitado por interesse da administração da Justiça (ex: para justificar a falta de um jurado em uma audiência, etc). Atenção: Para a confecção do atestado não se exige o compromisso legal de honrar com a verdade, porém, caso o médico exponha falsamente um fato, responderá pelo crime do art. 302 do CP: Falsidade de Atestado Médico. Atenção: O chamado atestado gracioso / complacente / de favor é feito para agradar o cliente, o qual, além de ferir a ética, pode configurar um atestado falso. 2.3.1. Atestado de óbito É o documento expedido pelo médico para atestar, no exercício do seu dever legal, a morte natural (doença ou envelhecimento) de uma pessoa que foi acompanhada ou assistida pelo referido médico. Em alguns casos o médico é impedido de atestar a morte. São estes: - Morte natural em que o médico não tenha dado assistência ao paciente, ou quando não há diagnóstico da causa morte. (nesse caso o atestado dever ser emitido pelo SVO) - Morte violenta – decorrente de energia externa (nesse caso o corpo deve ser encaminhado ao IML para realização de autopsia, que é obrigatória) - Morte suspeita – sem sinais de violência, mas ocorrida em ocasiões estranhas (nesse caso o corpo deve ser encaminhado ao IML para realização de autopsia, que é obrigatória) Atenção: Não necessariamente o atestado de óbito será feito por médico, sendo permitido que 2 pessoas, que tiverem presenciado ou verificado o óbito, atestem o óbito, se não houver médico na localidade do óbito, conforme o art. 77 da Lei n. 6.015/73. 2.4. Notificação compulsória É o documento expedido compulsoriamente pelo médico, às autoridades competentes, por razões sociais ou sanitárias. São casos de notificação compulsória: - Doenças ou agravos, que constam da portaria 104/2011 do ministério da saúde - Constatação de crimes de ação penal pública incondicionada cujo conhecimento deu- se em função do exercício da medicina - Acidente do trabalho (art. 169, da CLT) - Ocorrência de morte encefálica ( art. 13, da 9.434/97) - Lesões ou mortes induzidas ou causadas por alguém não médico ( art. 1º, da Resolução 1.641/02 – CFM) - Violência contra a mulher (art. 1º, da Lei 10.778/03) e maus-tratos contra criança, adolescente (art. 245, da Lei 8.072/90) ou idoso (art. 19, da Lei 10.741/03) - Esterilizações cirúrgicas (art. 16, da Lei 9.263/96) - Constatação do crime de tortura (art. 53, §único, da Resolução 1.246/88 – CEM) 2.5. Depoimento oral São explicações dadas pelo perito perante a autoridade policial, durante as investigações, ou autoridade judicial, durante a audiência de instrução e julgamento, acerca de algum relatório apresentado anteriormente, visando prestar esclarecimentos técnicos em torno do fato. 2.6. Prontuário médico É o registro da anamnese do paciente, bem como todo acervo documental padronizado, organizado e conciso, referente ao registro dos cuidados médicos prestados, assim como dos documentos pertinentes a essa assistência. Questões relacionadas 1. (Funcab – Escrivão de Polícia /PA – 2016) No que diz respeito às perícias e aos peritos é correto afirmar que: a) não pode ser realizada perícia em objetos falsificados. b) os peritos estão isentos de responsabilidade civil decorrente de dolo ou culpa. c) armas de fogo com numeração suprimida, raspada ou adulterada são isentas de perícia. d) os peritos podem ser responsabilizados criminalmente por atos no exercício da função. e) o Delegado de Polícia não pode requisitar uma perícia médico-legal. Gabarito: D 2. (Cespe – Delegado de Polícia /PE – 2016) Com relação aos conhecimentos sobre corpo de delito, perito e perícia em medicina legal e aos documentos médico-legais, assinale a opção correta. a) Perícia é o exame determinado por autoridade policial ou judiciária com a finalidade de elucidar fato, estado ou situação no interesse da investigação e da justiça. b) O atestado médico equipara-se ao laudo pericial, para serventia nos autos de inquéritos e processos judiciais, devendo ambos ser emitidos por perito oficial. c) Perito oficial é todo indivíduo com expertise técnica na área de sua competência incumbido de realizar o exame. d) É inválido o laudo pericial que não foi assinado por dois peritos oficiais. e) Define-se corpo de delito como o conjunto de vestígios comprobatórios da prática de um crime evidenciado no corpo de uma pessoa. Gabarito: A 3. (Funcab – Escrivão de Polícia /PA – 2016) Dentre as alternativas a seguir, assinale a que representa, de acordo com a literatura sobre o tema, uma espécie de documento médico-legal. a) Denúncia b) Atestado c) Petição d) Agravo e) Sentença Gabarito: B 4. (UEG– Delegado de Polícia /GO – 2013) A respeito dos documentos médico-legais, tem-se o seguinte: a) relatório médico somente poderá ser elaborado por médico legista. b) laudo e auto são documentos idênticos. c) o atestado de óbito poderá ser assinado por profissional não médico. d) notificação é uma comunicação feita pelo médico ao delegado de polícia sobre um fato relevante na investigação. Gabarito: Letra C. Antropologia Forense 1. Conceito É o ramo da medicina-legal que estuda a identidade e a identificação do homem, através de métodos, processos e técnicas próprias. - Identidade - É o conjunto de caracteres próprios e exclusivos, aptos a individualizar as pessoas, os animais e as coisas. - Identificação – É o processo técnico e científico de individualização, que visa determinar a identidade. Atenção: não podemos confundir reconhecimento com identificação, pois no primeiro caso há uma mera afirmação de um parente ou conhecido do identificado, sem a utilização de método científico, enquanto no segundo há um processo técnico e científico para determinar a identidade. 2. Fundamentos da identificação 2.1. Fundamentos Biológicos a) Unicidade - São elementos identificadores e específico de determinada pessoa ou coisa. b) Imutabilidade – São características que não sofrem alterações ao longo do tempo, ainda que em virtude da idade ou doença do identificado. c) Perenidade – É a capacidade de determinados elementos resistirem à ação do tempo, permanecendo inalterados durante toda a vida e, até certo tempo, após a morte. (esqueleto) 2.2. Fundamentos Técnicos a) Praticidade – É um processo pragmático e fácil de ser obtido e registrado b) Classificabilidade – É um processo de arquivamento que visa a facilidade e agilidade na busca dos registros. Atenção:Com base nos fundamentos vistos, o processo de identificação possui três fases. São estas: 1- Registro do elemento característico; 2 - Registro do mesmo elemento no momento em que se quer identificar; 3 - Comparação dos dois registros Atenção: Se não houver registro prévio do elemento característico, ou, se esse elemento não puder ser obtido a partir de algum material da própria pessoa ou de familiares (como no exemplo do exame de DNA), para servir de 1º registro, não servirá para identificação por não haver possibilidade de comparação. 3. Identificação Médico-Legal 3.1. Identificação quanto à espécie É procedida através do estudo do sangue e dos ossos, possibilitando a diferenciação entre seres humanos e outras espécies. 3.1.1. Identificação pelos ossos a) Macroscopicamente – Ocorre visivelmente pela morfologia dos ossos ou dos dentes. (a clavícula é um grande indicativo, pois sua forma em “S” não se repete em nenhuma outra espécie animal) b) Microscopicamente – Ocorre pela mensuração dos canais de Havers (e dos osteoplastos. Atenção: Os canais de havers nos seres humanos são ovalados, mais largos e menos densos, enquanto nos animais são circulares , mais estreitos e mais denso. 3.1.2. Identificação pelo sangue Após identificado que a substância coletada trata-se de sangue, este deve ser submetido aos procedimentos necessários e quando houver indicativo do tipo sanguíneo, há a conclusão que se trata de sangue humano. Atenção: para o procedimento de verificação do sangue pode ser utilizada a técnica de Teichmann, através da utilização de ácido acético glacial. Atenção: também pode ser utilizada a técnica de Uhlenhuth (método mais fidedigno), através da albuminorreação (reação biológica de soro de precipitação) 3.2. Identificação da raça É o procedimento que busca identificar a raça humana (tipos étnicos fundamentais), através da classificação de vários tipos humanos. 3.2.1. Classificação quanto à raça - Segundo Ottolenghi: - Caucásico - Pele branca ou trigueira; cabelos lisos ou crespos; louros ou castanhos; íris azuis ou castanhas; contorno crânio facial anterior ovoide ou ovoide-poligonal; - Mongólico - Pele amarela; cabelos lisos; face achatada de diante para trás; fronte larga e baixa; espaço interorbital largo; maxilares pequenos e mento saliente; - Negróide - Pele negra; cabelos crespos, em tufos; crânio pequeno; perfil facial prognata; fronte alta e saliente; íris castanhas; nariz pequeno, largo e achatado; perfil côncava e curto; narinas espessas e afastadas, visíveis de frente e circulares; - Indiano - Não se afigura como um tipo racial definido. Estatura alta; pele amarelo- trigueira, tendente ao avermelhado; cabelos pretos, lisos, espessos e luzidios; íris castanhas; crânio mesocéfalo; supercílios espessos; orelhas pequenas; nariz saliente, estreito e longo; barba escassa; fronte vertical; zigomas saliente e largos. - Australóide - Estatura alta; pele trigueira; cabelos pretos ondulados e longos, nariz curto e largo; arcadas zigomáticas largas e volumosas; prognatismo Atenção: No Brasil, visto a miscigenação de raças, temos as seguintes misturas: 1- mulato (branco com negro); 2- mameluco (branco com índio); 3- cafuso (negro com índio) . - Segundo Oswaldo Arbenz - Leucodermos - indivíduos brancos; - Faiodermos – indivíduos mulatos / morenos; - Xantodermos – indivíduos amarelos; - Melanodermos – indivíduos negros. 3.2.2. Elementos identificadores da raça a) Formato do crânio - traz alguns detalhes que podem contribuir com a identificação da raça; a.1) Índice cefálico (relação largura-comprimento do crânio) – a capacidade do crânio é maior na raça branca, seguindo-se em ordem decrescente, a amarela e a negra. b) Ângulo facial (projeção da mandíbula ou maxilar para frente) – é máximo nos brancos e mínimo nos negros Atenção: podemos encontrar as seguintes referências de ângulo facial : Jacquart (tem como ponto a base da fenda nasal); 2- Cloquet (tem como ponto a linha de implantação dos dentes); 3- Curvier (tem como ponto a borda dos dentes) c) Envergadura - os negros comumente tem os membros superiores mais longos em relação aos inferiores. Assim, os índices tibiofemoral e radioumeral tem importância para a identificação racial. d) Tipo de cabelo e) Cor da pele 3.3. Identificação quanto ao sexo É o procedimento que visa identificar o sexo humano através de alguns elementos indicativos. Vale destacar que tal processo, quando feito em seres vivos ou em cadáveres recentes e sem mutilações do aparelho reprodutor, não oferece grandes dificuldades, porém, quando versa sobre cadáveres em avançado estado de putrefação, corpos carbonizados ou em esqueletos, será exigido conhecimentos técnicos, através de elementos indicativos. Atenção: Em alguns casos de cadáver em avançado estado de putrefação ou carbonizado, é possível encontrar o útero preservado, identificando facilmente o sexo. 3.3.1. Elementos identificadores do sexo a) Pelve (bacia) - possui os caracteres diferenciais mais relevantes (elementos de certeza) que diferenciam o homem da mulher, no seguintes aspectos: Mulher (mais frágil, com diâmetros transversais maiores; a grande e a pequena bacia é mais largas; o sacro é mais baixo e côncavo somente na sua metade inferior; o ângulo sacrovertebral é mais fechado (107º); o forame obturador maior e triangular e o ângulo subpubiano amplo, com cerca de 110º; a inclinação da sínfise vertical é menos pronunciada). Homem (as dimensões verticais da bacia masculina são maiores que as referidas dimensões na bacia feminina) b) Crânio e tórax – possuem caracteres diferenciais menos relevantes (elementos de presunção), levando em consideração que o primeiro, nas mulheres, tem a fronte mais vertical, a articulação frontonasal curva, saliências ósseas e apófises mastoides e estiloides menos desenvolvidas que o crânio dos homens. Já o tórax feminino tende à forma ovoide, mais achatado no sentido anteroposterior, enquanto no homem tende à forma conoide. Atenção: As partes que mais fornecem subsídios de valor, encontram-se na seguintes ordem: pelve, crânio e tórax. Podemos citar também, seguindo a mesma sequência: fêmur, úmero e a primeira vertebra cervical. 3.4. Identificação quanto à idade É o procedimento que visa identificar a idade humana, quando prejudicada a identificação por meio documental. Atenção: Podemos classificar as fases etárias da vida humana da seguinte forma: vida intrauterina (embrião até o 3º mês e feto até o parto); infante nascido (nascido que ainda não recebeu cuidados higiênicos); recém-nascido (já recebeu cuidados higiênicos); primeira infância (até os 7 anos – Lei 13.257/16); segunda infância (dos 8 aos 11 anos); Adolescência (dos 12 aos 18 anos);Mocidade (dos 19 aos 21 anos); Idade adulta (dos 22 aos 60 anos); Velhice (dos 61 aos 80 anos); Senilidade (depois dos 80 anos) Atenção: No feto, a identificação é feita pelo aspecto morfológico e pela estatura. Do primeiro ao terceiro mês de vida intrauterina, o crescimento é de 6 cm por mês. A partir do quarto mês, é de 5,5cm por mês. Atenção: o método mais eficiente para a identificação da idade, quando não se tem outros elementos, é a radiografia dos ossos, mais especificamente a do punho do identificado. 3.5. Identificação quanto à determinação da estatura Em pessoas vivas é obtida na posição vertical, com os pés descalços, enquanto nos cadáveres as medidas são tomadas em decúbito dorsal, por dois planos verticais que passam pelo vértice e pela planta dos pés. Em se tratando de fragmentos de ossos, a estimativa de estatura tradicionalmente baseia-se na antropometria através da medição de ossos longos (fêmur, tíbia, fíbula, úmero, ulna e rádio). 3.6. Identificação quanto à arcada dentária É utilizada especialmente nos corpos carbonizados ou esqueletizados, sendo viável a identificaçãoquando há uma ficha dentária prévia, que permita uma confrontação. Destaca-se que os dentes também podem fornecer material para a análise do DNA. 3.7. Identificação quanto ao DNA O DNA é uma molécula orgânica transmitida de maneira hereditária a cada espécie, sendo passível de confrontação com 99,99% de certeza. Atenção: diferentemente dos outros métodos de identificação que exigem um registro prévio, no DNA, a ausência de material do próprio indivíduo pode ser suprida pela análise de material dos familiares. 3.8. Sinais específicos que auxiliam a identificação a) sinais individuais: a presença de sinais pessoais auxiliam na identificação, como, por exemplo, a forma e a disposição dos olhos, a forma e a implantação das orelhas, os nevos, os desgastes, as cáries, as próteses dentárias, a consolidação viciosa das fraturas, as cicatrizes etc. b) malformações: Anomalias congênitas (presentes no nascimento), como lábio leporino, pé torto, dedos supranumerários, bem como anomalias adquiridas, como calos de fraturas antigas, podem ajudar na identificação. c) sinais profissionais: as unhas dos fotógrafos, a calosidade labial dos sopradores de vidro, a calosidade na mão dos sapateiros, os resíduos perduráveis corporais, as ulcerações e os vestígios de doenças peculiares às indústrias insalubres. d) cicatrizes: traumáticas (ação de agentes mecânicos, queimaduras), patológicas (vacinas) ou cirúrgicas, além das resultantes de fraturas (calo ósseo). e) Tatuagens: são sinais de identidade particular, podendo indicar informações raciais, regionais, afetivos, criminais. f) Superposição de imagem: é a superposição de fotos do indivíduo tiradas em vida sobre a foto do esqueleto do crânio. Destaca-se a altura de implantação das orelhas. 4. Identificação Judiciária Ao lado da identificação médico-legal encontramos a identificação judiciária ou policial, a qual independe de conhecimentos médicos e se utiliza de dados antropométricos e antropológicos para a identidade civil e caracterização dos criminosos. 4.1. Assinalamento sucinto É um método onde se realiza uma anotação da estatura, da raça, da idade, da cor dos olhos e do cabelo do identificado. 4.2. Fotografia simples (3x4) É um método utilizado nas cédulas de identidade, porém apresenta dois pontos negativos no que tange à perenidade e unicidade: 1- alterações dos traços fisionômicos em virtude da idade (não perenidade); 2- gêmeos (não unicidade). 4.3. Fotografia sinaléptica É um método que consiste em uma fotografia comum, com redução fixa de 1/7 de frente e de perfil direito, mantendo exata distancia focal, permitindo calcular o tamanho exato do indivíduo. (método de Alphonse Bertilon) 4.4. Retrato falado É um método resultante da descrição analítica, feita por testemunhas ou vitimas, dos caracteres antropológicos, morfológicos e cromáticos da face, em assinalamento sucinto de frente e de perfil direito da fronte, nariz e orelha, supercílios, cabelo, barba, bigode, rugas, tatuagens e demais características, sempre definidas por expressões convencionais: pequeno, médio e grande, que permite ao perito traçar o retrato falado do investigado. Atenção: o retrato falado não constitui meio de prova, mas um método auxiliar nas investigações. 4.5. Sistema datiloscópico de Vucetich Trata-se do método mais eficiente ao lado do DNA, o qual busca identificar pessoas, através do estudo das digitais, consubstanciadas através de desenhos característicos, individuais, formados pelas cristas papilares na derme. Atenção: A datiloscopia não se confunde com a papiloscopia, pois este é a ciência que estuda as papilas, que podem está presentes nas impressões palmares (Quiroscopia), plantares (podoscopia) e digitais (datiloscopia). Assim, a datiloscopia é uma espécies da papiloscopia. 4.5.1. Principais características a) Unicidade b) Imutabilidade - mesmo submetida à queimaduras de 1.º e 2.º grau, à corrosivos, limagem dos dedos, ainda sim é imutável, bastando 48 horas de repouso para que as impressões reapareçam, sem que tenham sofrido qualquer alteração. c) Perenidade - O desenho digital se forma no sexto mês de vida intrauterina e se mantém inalterado durante toda a vida, inclusive após a morte, até o estado de putrefação. d) Classificabilidade - cria uma sequência alfanumérica, que possibilita a busca em arquivos com milhões de fichas. 4.5.2. Sistemas de linhas e classificação Vucetich idealizou seu sistema de identificação em três formas de linhas: 1- basilares (base da digital), marginais (contornam a digital) e nucleares (reside entre as duas anteriores) e quatro figuras de classificação: arco, presilha interna, presilha externa e verticilo. Atenção: No tocante às quatro figuras de classificação, Vucetich se baseia na presença ou ausência de delta, que constitui uma figura triangular formada pelo encontro das linhas diretrizes, com a função de separar os três sistemas de linhas. Sistemas de linhas e classificação a) Arco: ausência de delta (representado pela letra A nos polegares e nº 1 nos demais). b) Presilha interna: apresenta um delta à direita do observador (representada pela letra I e pelo nº 2) c) Presilha externa: apresenta um delta à esquerda do observador (representada pela letra E e pelo nº 3) d) Verticilo: apresenta dois deltas (representado pela letra V e pelo nº 4) V E I A – 4 - 3 - 2 - 1 / Amputações – O / Defeituosos - X Questões relacionadas 1. (Funcab – Delegado de Polícia /PA – 2016) No que se refere ao tema “identificação", os ângulos de Jacquart, Cloquet e Curvier são verificados: a) no tórax. b) nas pernas. c) nos braços. d) na bacia. e) no crânio. Gabarito: E 2. (Funcab – Papiloscopista/PA – 2016) Quanto às características morfológicas de identificação, nas perícias antropológicas em esqueletos ou em ossos isolados, é preciso inicialmente determinar: a) a estatura. b) o gênero. c) a raça. d) a idade. e) se o material e humano ou não. Gabarito: E 3. (Funcab – Delegado de Polícia / RO – 2009) Identidade médico-legal é o conjunto de características apresentadas por um indivíduo que o torna único. Assinale a opção INCORRETA acerca da identificação médico-legal. a) O sistema de identificação dactiloscópica de Vucetich é um processo de grande valia e de extraordinário efeito, porque apresenta os requisitos essenciais para um bom método: unicidade, praticabilidade, imutabilidade e classificabilidade; só não apresenta o requisito de perenidade. b) Identificação médico-legal pode ser realizada em um indivíduo vivo ou em cadáver, inteiro, espostejado ou reduzido a ossos. c) Na identificação médico-legal, são considerados os seguintes parâmetros: idade, sexo, raça, estatura e peso, pois, partindo-se do geral, chega-se ao particular, ao indivíduo. d) Características ocasionais, tais como a presença de tatuagens, calos de fraturas ósseas e próteses dentárias, ósseas ou de outros tipos, não possuem valor para a antropologia forense. e) Medidas de dimensões de ossos longos e comparações com tabelas podem dar ideia da estatura de indivíduos quando vivos. Gabarito: D 4. (Funcab – Papiloscopista/PA – 2016) Ao analisar a fórmula dactiloscópica de Vucetich, abaixo descrita, é correto afirmar que a impressão digital do dedo: F.D = E 4 3 3 3/ V 4 4 4 0 a) anular da mão esquerda apresenta o desenho do arco. b) indicador da mão direita apresenta o desenho da presilha interna. c) polegar da mão direita apresenta o desenho da presilha externa. d) mínimo da mão esquerda apresenta uma cicatriz deformante. e) polegar da mão esquerda apresenta o desenho do arco. Gabarito: C
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