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Poder Constituinte 2

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Poder Constituinte 2.1 – Conceito CONCEITO O poder constituinte é o responsável pela criação, reforma, revisão e mutação das constituições. No século XVIII, desenvolve-se a ideia de “poder constituinte”, na França, a partir de uma profunda mudança de mentalidade que marca o m da Idade Média e o início da Idade Moderna. Capítulo 2: Parte 1 07/03/2019 DIREITO CONSTITUCIONAL I http://portaldoaluno.webaula.com.br/Cursos/ebook/direito_constitucional_i/?capitulo=2 2/8 Há uma gradativa substituição do teocentrismo (doutrina ou crença que considera Deus como o centro de tudo) pelo antropocentrismo (ideia na qual se defende que o homem deve estar no centro das ações, da cultura, da história e da losoa). Essa mudança de paradigma desenvolve o ideal do “racionalismo”, como decorrência da visão iluminista que traz uma concepção organizacional racionalizada da humanidade. Resumindo, a ideia básica é a de que não há mais um ser divino que comanda os ideais humanos, mas o próprio ser humano e sua racionalidade denirão as formas de organização das relações estatais. Esses ideais levam à criação da “Teoria do Poder Constituinte”, idealizada pelo francês Emmanuel Joseph Sieyès, na obra intitulada “O que é o terceiro Estado?”. Na sua publicação, Sieyès questiona o que é o terceiro Estado. O primeiro Estado seria o clero, o segundo, a nobreza, sendo essas as classes que exerciam o poder. Entretanto, Sieyès arma que o terceiro Estado seria o povo, que também deveria exercer o poder. Ele questiona o papel do povo na sociedade e arma que há uma origem popular do poder. O povo se torna o detentor da capacidade de elaborar um documento legal com características de superioridade hierárquica legislativa, que cou intitulado de constituição. O nome constituição explica muito bem o seu ideal, ou seja, ela cria, viabiliza o nascimento das regras às regras vigentes no Estado. Sieyès nomeou esse poder de origem popular e titularidade popular de “poder constituinte”. Entretanto, o poder constituinte não se confunde com os “poderes” constituídos do Estado, ou seja, com o Executivo, Legislativo e Judiciário. O poder constituinte existe a partir da origem popular, sendo um poder de fato. Ele possibilita a elaboração e modicação da constituição. Por outro lado, na constituição existirá o estabelecimento dos “poderes” constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. O poder constituinte é um só e de titularidade do povo. As ideias de Sieyès levam à possibilidade de estabelecimento do Estado Constitucional de Direito, ou seja, o povo, legítimo titular de poder, elaborando a regra máxima que vai vigorar no Estado. O poder constituinte é a energia (ou força) política que se funda em si mesma, a expressão sublime da vontade de um povo em estabelecer e disciplinar as bases organizacionais da comunidade política. Autoridade suprema do ordenamento jurídico, exatamente por ser anterior a qualquer normatização jurídica, o poder é o responsável pela elaboração da Constituição, esta norma jurídica superior que inicia a ordem jurídica e lhe confere fundamento de validade. Por ser um poder que constitui todos os demais e não é por Capítulo 2: Parte 1 07/03/2019 DIREITO CONSTITUCIONAL I http://portaldoaluno.webaula.com.br/Cursos/ebook/direito_constitucional_i/?capitulo=2 3/8 nenhum instituído, é intitulado "constituinte", termo que revela toda sua potência criadora e faz jus à sua atribuição: a criação de um novo Estado (sob o aspecto jurídico), a partir da apresentação de um novo documento constitucional. MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 95. No Brasil, o poder do povo está estipulado no artigo 1o, parágrafo único da Constituição da República de 1988: “Art. 1o - Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Observa-se que no texto do artigo da constituição a palavra “poder” está no singular porque é somente um poder, elementar do Estado. Essa conclusão histórica é fruto do questionamento da Revolução Francesa contra o Absolutismo, colocando limites à atuação do Estado, em prol do interesse popular. No Brasil, portanto, “todo poder emana do povo”, mas quem é o “povo”? Segundo a doutrina clássica o povo é constituído por aqueles elencados no artigo 12 da Constituição que trata de nacionalidade, ou seja, o povo são os nacionais de um Estado. No artigo 2º da Constituição trata-se dos poderes constituídos, Legislativo, Executivo e Judiciário, que não são objeto de trata 07/03/2019 DIREITO CONSTITUCIONAL I http://portaldoaluno.webaula.com.br/Cursos/ebook/direito_constitucional_i/?capitulo=2 4/8 A convocação para o exercício do poder constituinte se dá, via de regra, por meio da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Observe o preâmbulo da constituição se referindo a essa hipótese: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacíca das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Senado, 1988, grifo nosso. Assim sendo, o povo brasileiro tem o seu poder constituinte reunido na Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo de elaborar uma nova constituição. 2.2 Espécies de poder constituinte Há uma divisão dicotômica do poder constituinte em: Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado. A primeira categoria é chamada de “Poder Constituinte Originário”, “Poder Constituinte Inaugural” ou “Poder Constituinte Genuíno”. A segunda categoria recebe o nome de “Poder Constituinte Derivado”, “Poder Constituinte Secundário”, “Poder Constituinte de Segundo Grau” ou “Poder Constituinte Remanescente”. 2.2.1 Poder constituinte originário O poder constituinte originário é o poder constituinte que tem a capacidade de criar uma constituição, documento que organiza juridicamente um Estado. A constituição é um documento jurídico normativo que fará nascer um novo Estado do ponto de vista jurídico-formal. Ou seja, o exercício desse poder faz surgir, inaugurar, um novo Estado. O Estado nasce do documento editado pelo poder constituinte originário. Capítulo 2: Parte 1 07/03/2019 DIREITO CONSTITUCIONAL I http://portaldoaluno.webaula.com.br/Cursos/ebook/direito_constitucional_i/?capitulo=2 5/8 A organização da sociedade, realizada pelo poder constituinte originário, não deriva de uma norma jurídica, mas sim de um fato social que exige a elaboração de uma nova constituição. Portanto, a natureza do poder constituinte originário é fática ou extrajurídica; somente a consequência do exercício desse poder que é jurídico ou normativo, pois produz uma nova constituição. Na verdade, portanto, o poder constituinte é um poder fático, pois não se baseia no direito, mas em fatores político, sociais e econômicos. O Poder Constituinte originário estabelece a Constituição de um novo Estado, organizandoo e criando os poderes destinados a reger os interesses de uma comunidade. Tanto haverá Poder Constituinte no surgimento de uma primeira Constituição, quanto na elaboração de qualquer Constituição posterior. A ideia da existência de um Poder Constituinte é o suporte lógico de uma Constituição superior ao restante do ordenamento jurídico e que, em regra, não poderá ser modicada pelos poderes constituídos. É, pois, esse Poder Constituinte, distinto, anterior e fonte da autoridade dos poderes constituídos, com eles não se confundindo. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p.55. Quando o poder constituinte originário se manifesta surge, portanto, a constituição.Do ponto de vista jurídico-formal, um novo Estado surge do exercício do poder constituinte originário. O Estado nasce juridicamente do exercício do poder constituinte originário. As características desse poder constituinte originário são: INICIAL É o ponto de partida do regramento de um Estado, ou seja, inaugura a existência do ordenamento jurídico e o Estado do ponto de vista jurídico-formal. SOBERANO AUTÔNOMO INCONDICIONADO Capítulo 2: Parte 1 07/03/2019 DIREITO CONSTITUCIONAL I http://portaldoaluno.webaula.com.br/Cursos/ebook/direito_constitucional_i/?capitulo=2 6/8 ILIMITADO JURIDICAMENTE ATENÇÃO Atualmente há uma forte corrente doutrinária que questiona a característica da doutrina clássica que diz que o poder constituinte originário é totalmente incondicionado. As condições a que o poder constituinte originário deve se submeter são documentos internacionais, como, por exemplo, tratados de direitos humanos raticados pelo Brasil. O Brasil, por exemplo, que raticou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, não poderá atuar de forma ilimitada no exercício do poder constituinte originário, suprimindo os direitos humanos que se comprometeu a obedecer e efetivar. Esse princípio que protege a não violação de direitos humanos já conquistados pelo povo é consagrado pela doutrina com o nome de “Princípio da Vedação do Retrocesso”. 2.2.1.1 Espécies de poder constituinte originário O poder constituinte originário histórico (ou fundacional) será aquele que cria a primeira constituição do Estado, no caso do Brasil efetivou-se com a elaboração da Constituição Imperial de 1824. Todas as demais constituições serão criadas por meio do poder constituinte originário revolucionário, que é o poder que cria uma nova constituição, em substituição à anterior, gerando uma profunda ruptura com a ordem jurídica anterior do Estado. 2.2.2 Poder constituinte derivado O poder constituinte derivado é também chamado de poder constituinte instituído, secundário, de 2o grau ou remanescente. O poder constituinte derivado tem esses sinônimos porque tecnicamente ele não é um poder constituinte, mas um poder constituído, uma vez que no momento da elaboração da constituição o legislador constituinte irá determinar juridicamente como o poder Capítulo 2: Parte 1 07/03/2019 DIREITO CONSTITUCIONAL I http://portaldoaluno.webaula.com.br/Cursos/ebook/direito_constitucional_i/?capitulo=2 7/8 constituinte derivado será exercido. Portanto, a própria constituição estabelecerá como deverá ser exercido, daquele momento em diante, quando se desejar alterá-la. É exatamente por essa característica que recebe o nome de poder constituinte “derivado”, pois deriva do exercício do poder constituinte originário, que traça suas características na constituição. 2.3 Espécies de poder constituinte derivado O poder constituinte derivado se divide em três espécies: Decorrente, Reformador e Revisor. As três espécies de poder constituinte derivado são previstas e estipuladas pelo próprio texto da constituição, tendo características próprias. As características do poder constituinte derivado são: SUBORDINADO Sujeita-se a uma ordem jurídica implementada, na constituição, justamente porque é instituído, juridicamente, pelo poder constituinte originário. É, portanto, um poder jurídico e não de fato. LIMITADO CONDICIONADO Portanto, na edição original da constituição (poder constituinte originário) não há limites, mas todas as alterações feitas a esse texto serão limitadas no aspecto formal e material e estarão condicionadas a situações e regramentos estabelecidos originariamente no texto constitucional. 2.3.1 Poder constituinte derivado revisional A revisão é ampla e genérica, sendo exceção, pois é via extraordinária de modicação da constituição. A revisão constitucional se dá por meio de emendas constitucionais amplas, chamadas de revisionais, que possuem o intuito de analisar a adaptação do novo texto constitucional à sua aplicação prática, fazendo-se ajustes. A revisão constitucional está prevista no artigo 3o do ADCT: “Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”. Assim sendo, a revisão só pode ocorrer 5 anos após a edição da constituição (limitação temporal) e em sessão unicameral do Capítulo 2: Parte 1 07/03/2019 DIREITO CONSTITUCIONAL I http://portaldoaluno.webaula.com.br/Cursos/ebook/direito_constitucional_i/?capitulo=2 8/8 Congresso Nacional, sem distinguir Câmara dos Deputados de Senado Federal. Além disso, o quórum de aprovação da emenda constitucional revisional deve se dar pela maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, ou seja, "mais que a metade" do número total de indivíduos que compõe o Congresso Nacional.  CAPÍTULO 2 Poder Constituinte Clique sobre os ícones abaixo.  1 

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