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EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
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1º PERÍODO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMAS-TO/ 2005 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
Aline Martins Coelho
Publio Borges Alves
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
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APRESENTAÇÃO 
 
 
 
 
 
No estudo de Introdução ao Estudo do Direito pretendemos direcionar 
você, do curso de Práticas Judiciárias, para a compreensão das idéias 
fundamentais da ciência normativa. 
Para isso, iniciaremos nosso estudo aprendendo a definir o que é 
direito para, então, entendê-lo como ciência ético-normativa. 
No intuito de facilitar nosso aprendizado, após a compreensão do que 
sejam fontes do direito é que estudaremos a norma jurídica, sua 
classificação e, posteriormente, sua interpretação e sua aplicação ao caso 
concreto. Com a compreensão deste item, ficará mais fácil visualizar o 
direito como instrumento de aplicação da Justiça. 
Por fim, traçaremos a diferença entre Direito e Moral, a fim de facilitar 
o entendimento do direito como fato social, ou seja, como reflexo das 
relações humanas no convívio em sociedade. 
Vale ressaltar que a prática dos exercícios propostos, bem como a 
leitura dos textos complementares que serão disponibilizados nas web aulas 
é de fundamental importância para o enriquecimento do conhecimento 
adquirido pelo aluno no estudo desta apostila. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
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CURSO: Práticas Judiciárias 
DICIPLINA: Introdução ao Estudo do Direito 
ANO/SEMESTRE: 2005/2 
PROFESSORES: Aline Martins Coelho/ Publio Borges Alves 
 
 
EMENTA 
A teoria dos objetos. Sociedade Humana, Valores Sociais e Regras de 
Conduta. O Valor. A Cultura. O Direito. Disciplinas que estudam o fenômeno 
jurídico. Conceito de lei. A Ciência do Direito. O Direito e os demais sistemas 
normativos. O Direito Objetivo e Positivo. A norma jurídica. O Direito 
Subjetivo e a situação jurídica. A relação jurídica. As fontes do direito. A 
teoria dogmática do direito. A ciência do Direito como teoria da decisão. A 
aplicação das leis. Poder e Direito. Direito e Legitimidade. Os fins do Direito. 
Direito Positivo e Direito Natural. Direito e Justiça. Direito e Moral. 
Segurança Jurídica. Exercício dos Direitos e Dever Jurídico. 
 
 
OBJETIVOS 
Proporcionar ao aluno o conhecimento dos institutos básicos do Direito, para 
que ele possa compreender o direito em todos os seus aspectos, quais 
sejam: o direito como ciência, como norma, como faculdade, como justiça e 
como fato social. 
Conhecer as idéias fundamentais do Direito para facilitar a aplicação do 
mesmo ao caso concreto, bem como no estudo dos outros ramos do Direito. 
 
 
CONTEÚDO 
 
UNIDADE I 
O que é Direito 
A ciência do Direito 
A ciência dogmática do Direito 
Disciplinas que estudam os fenômenos jurídicos 
O direito Positivo e o Direito Natural 
As fontes do Direito 
A Norma Jurídica 
Hermenêutica Jurídica 
Métodos de Interpretação da Norma 
Aplicação da norma 
 
UNIDADE II 
O Direito Subjetivo 
Relação Jurídica 
Pessoa Física e Pessoa Jurídica 
Direito e Justiça 
Segurança Jurídica 
Direito e Equidade 
Direito e Moral 
Sociedade Humana, Valores sociais e regras de conduta 
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O valor, a cultura e o direito 
O Direito como fato Social 
 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
 
DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. RT, São 
Paulo. 
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 17 ª 
edição. SARAIVA. São Paulo. 2005 
FERRAZ Jr., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 4ª edição. 
ATLAS. São Paulo. 2003. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 25ª edição, FORENSE, Rio 
de Janeiro, 2005. 
 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral.5ª ed. São Paulo: Atlas, 
2005. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
 
 
Tema 1 – O que é Direito..............................................................................06 
 
Tema 2 – A ciência do Direito.......................................................................10 
 
Tema 3 – A ciência dogmática do Direito.....................................................15 
 
Tema 4 – Disciplinas que estudam os fenômenos jurídicos.........................19 
 
Tema 5 – O Direito Positivo e o Direito Natural ............................................22 
 
Tema 6 – As fontes do Direito.......................................................................28 
 
Tema 7 – A Norma Jurídica...........................................................................33 
 
Tema 8 – Hermenêutica Jurídica ..................................................................38 
 
Tema 9 – Métodos de Interpretação da Norma............................................42 
 
Tema 10 – Aplicação da norma.....................................................................47 
 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
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O QUE É DIREITO 
 
 
OBJETIVO 
Conhecer o que é o Direito, em dois aspectos principais, quais sejam: 
etimológico e real, para que, assim, possamos observá-lo com clareza nas 
nossas relações diárias. 
 
INTRODUÇÃO 
Caro Estudante, 
Todos os dias de nossas vidas nos deparamos com direitos e 
deveres. A todo momento ouvimos que “todo cidadão tem direito à 
educação”, ou, “eu tenho direito de reclamar o defeito do produto que eu 
comprei”, ou, ainda, “o direito civil estuda as relações entre as pessoas 
individualmente”, entre outras. Mas o que é Direito? A que nos referimos 
quando pensamos em Direito? Você consegue definir o que é Direito? 
Vamos, portanto, nesta aula, definir, de maneira clara, o que é o 
Direito, em seus aspectos etimológico e real, para que possamos entender 
em que momento ele faz parte de nossa vida. 
 
CONCEITO 
1. Significado Etimológico 
A palavra “direito” origina-se do latim “rectum” (reto) ou “directum” 
(direito), que significam “o que é conforme a régua”, ou seja, o que é reto, 
direito, linear, correto. 
Porém, anterior ao surgimento da expressão directum, existe o prefixo 
latino “jus”, do qual derivam diversas palavras ligadas ao direito em nosso 
ordenamento, como por exemplo: jurídico, judiciário, judicial, jurisprudência 
etc. 
Existem duas correntes apontando a origem de “jus” para duas outras 
palavras bem diferentes. A primeira afirma que ele advém do latim “jussum”, 
particípio do verbo “jubere”, que significa “mandar”, “ordenar”. A outra 
corrente de pensamento afirma ser a palavra “jus” derivada de “justum”, ou 
“aquilo que é justo” ou ainda, “conforme a justiça” (MONTORO, 2005, p. 52). 
Apesar dessas duas correntes nos mostrarem origens diversas para a 
palavra “direito”, devemos observar que ambas são latinas, o que nos revela 
a grande influência do Direito Romano sobre o Direito Moderno, inclusive 
sobre o nosso ordenamento jurídico brasileiro. 
 
 
 
TEMA 01
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2. Significado Real 
 
Apesar de esclarecedor, a etimologia da palavra “direito” não nos 
revela seu real significado, isto é, não o remete à realidade do nosso dia-a-
dia. 
No entanto, a palavra “direito” não designa apenas uma realidade, 
mas várias, e todas elas distintas. 
Ferraz Jr (2003, p. 31) afirma que o direito 
 
corresponde a uma certa atitude, uma forma de pensar, uma 
maneira de referir-se às instituições humanas em termos ideais. 
Trata-se de uma exigência do senso comum, profundamente 
arraigada, no sentido de que aquelas instituições de governo dos 
homens e de suas relações simbolizem um sonho, uma projeção 
ideal, dentro de cujos limites funcionam certos princípios, com 
independência dos indivíduos. 
 
 
 
Reale (1999, p. 1) também nos mostra que 
 
o direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatóirias 
que garantem a convivência social graças ao estabelecimento de 
limites à ação de cada um de seus membros. Assim sendo, quem 
age de conformidade com essas regras comporta-se direito; quem 
não o faz, age torto. 
 
 
 
 
Ainda, Venosa (2005, p. 32) diz que 
 
o direito é uma realidade histórica, é um dado contínuo, provém 
da experiência. Só há uma história e só pode haver uma 
acumulação de experiência valorativa na sociedade. Não existe 
Direito fora da sociedade. 
Assim, vemos que a definição de direito é bastante complexa e, por 
isso mesmo, diversos autores constumam destrinchar esse conceito. 
Montoro (2005) traz uma divisão do conceito de Direito bastante clara. Ele o 
analisa em cinco aspectos principais: o direito como norma, como faculdade, 
como justo, como ciência e como fato social. Vejamos cada um desses 
aspectos. 
 
a) O Direito como norma: o direito é a lei, a regra social obrigatória. 
Assim, se dissermos “o direito nos permite contratar”, estamos relacionando 
uma norma, uma sentença que nos permite ou não praticar determinado ato. 
Hans Kelsen expressa bem a definição enquanto norma quando afirma que 
o direito é: 
uma ordem da conduta humana. Uma ‘ordem’ é um sistema de 
regras. O Direito não é, como às vezes se diz, uma regra. É um 
conjunto de regras que possui o tipo de unidade que entendemos 
por sistema. É impossível conhecermos a natureza do Direito se 
restringirmos nossa atenção a uma regra isolada. As relações que 
concatenam as regras específicas de uma ordem jurídica também 
são essenciais à natureza do Direito. Apenas com base numa 
Tércio Sampaio 
Ferraz Junior é 
advogado em São 
Paulo e professor 
titular do 
Departamento de 
Filosofia e Teoria 
Geral do Direito 
da Faculdade de 
Direito da USP. É 
também professor 
de dos cursos de 
mestrado e 
doutorado da 
PUC-SP
Miguel Reale 
nasceu em São 
Bento de 
Sapucaí-SP. 
Formou-se em 
Direito em 1934, 
se tornando 
Doutor em Direito 
e catedrático de 
Filosofia do 
Direito em 1941, 
fundando o 
Instituto Brasileiro 
de filosofia em 
1949. É membro 
da Academia 
Brasileira de 
Letras desde 
maio de 1975, 
ocupando a 
cadeira 14. 
Silvio de Salvo 
Venosa é diretor 
da FADISP - 
Faculdade 
Autônoma de 
Direito, de São 
Paulo, membro 
da Academia 
Paulista de 
Magistrados, ex-
professor de 
Direito Civil nas 
Faculdades 
Metropolitanas 
Unidas e juiz 
aposentado do 
Primeiro Tribunal 
de Alçada Civil de 
São Paulo. 
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compreensão clara das relações que constituem a ordem jurídica 
é que a natureza do Direito pode ser plenamente entendida. 
b) O Direito como faculdade: quando dizemos: “o Estado tem direito 
de legislar”, estamos revelando a faculdade, a liberdade que possui o Estado 
de criar leis a fim de organizar a convivência em sociedade. Como exemplo, 
podemos observar, na própria constituição federal, em seu art. 22: “compete 
privativamente à União legislar sobre(...)”. 
c) O Direito como justo: o artigo 5º, caput, da Constituição Federal 
afirma que: 
todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade (...) (grifo nosso). 
Se analisarmos o destaque do artigo, podemos observar claramente o 
terceiro aspecto da definição de direito, que é o direito como justo. Este é 
visto como garantidor da justiça, isto é, “o que é devido por justiça”. 
d) O Direito como ciência: direito também significa ciência, uma vez 
que se propõe a estudar, com metodologia e rigor cientifico, os aspectos e 
fenômenos sociais que dão origem ao surgimento do direito como norma e 
da regulamentação das relações sociais. Assim, o direito como ciência tem a 
finalidade de estudar o “dever-ser” jurídico, ou seja, investigar e estudar as 
normas jurídicas situando-as no tempo e no espaço. Ou, como ensina 
Venosa (2005, p. 34): 
Direito é ciência do ‘deve ser’ que se projeta necessariamente no 
plano da experiência. Para cada um receber o que é seu, o Direito 
é coercível, isto é, imposto à sociedade por meio de normas de 
conduta. 
e) O Direito como fato social: por fim, o direito é um fenômeno da vida 
coletiva, já que é um dos setores da vida social, ao lado dos fatos 
econômicos, sociais, culturais, entre outros. Este aspecto do direito sempre 
existiu, uma vez que nas relações humanas sempre existiram regras de 
conduta, ainda que primitivas. Modernamente, é um aspecto do direito que 
vem ganhando força, pela adesão de diversos doutrinadores e juristas, que 
tendem a definir o Direito como fato social, uma vez que estes influenciam, 
consideravelmente, a definição da norma jurídica. Venosa é adepto desta 
corrente e vemos isso quando afirma que o direito: 
refere-se sempre ao todo social como garantia de coexistência. 
Realizar o Direito é realizar a sociedade como comunidade 
concreta, que não se reduz a um conglomerado amorfo de 
indivíduos, mas forma uma ordem de cooperação, uma comunhão 
de fins que precisa ser ordenada. Daí porque só existir Direito em 
sociedade. 
 
CONCLUSÃO 
Podemos concluir que o Direito possui definição complexa, com 
diversos aspectos, mas que não são contraditórios. Pelo contrário: são 
aspectos que se complementam. Importante salientar, no entanto, que cada 
um desses aspectos predominam, individualmente, em épocas diversas, de 
acordo com o grau de evolução da sociedade, a partir da tomada de 
consciência do direito, considerando-o como algo merecedor de estudos 
autônomos. 
Conhecer os cinco aspectos reais da definição do Direito é importante 
porque são estes que o refletem na nossa vida prática. Através deles é que 
podemos observar o direito nas nossas relações diárias. 
André Franco
Montoro
nasceu em São
Paulo-SP, em
1914 e morreu
em 1999.
Formou-se em
Direito pela
USP em 1938.
Foi Procurador
do Estado de
São Paulo, SP
de 1940 a
1950;
Professor
Catedrático
das Instituições
do Direito
Privado, na
USP de 1947-
1970;
Professor de
Teoria Geral do
Direito na UnB
em Brasília-DF
de 1978 a
1982.
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Cumpre destacar que o aspecto do direito como ciência foi um dos 
mais relevantes, bem como o que mais contribuições trouxe à evolução do 
direito como um todo, visto que suas idéias são apregoadas e utilizadas até 
os dias atuais. 
Atenção: estudaremos o Direito enquanto Ciência na próxima aula. 
 
Hoje, podemos observar uma tendência em se considerar “o direito 
como justo”, como definição fundamental da palavra “direito” pois, como 
afirma Gurvitch: 
as normas jurídicas podem ser mais ou menos perfeitas, mas não 
serão ‘direito’ se não estiverem orientadas no sentido da 
realização da justiça”. E Del Vecchio complementa: “presenteem 
todos os momentos da existência do direito, a justiça se encontra 
em todas as leis, mas não se esgota em nenhuma (MONTORO, 
2203, 77p.). 
Ainda há uma maior adesão à definição de direito como fato social, 
visto que o estudo da Sociologia Jurídica vem ganhando força e cada vez 
mais adeptos. Esta concepção está intimamente ligada à idéia do “justo”, 
pois que um dos objetivos da sociedade é garantir a justiça das relações 
sociais. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
1. Agora que você já conhece os cinco aspectos do Direito para a 
definição real, relacione exemplos práticos do seu dia-a-dia que se 
enquadrem na definição de cada aspecto. 
2. Elabore a sua definição de Direito, baseando-se no conteúdo já 
estudado. 
3. Já sabemos que os cinco aspectos reais da definição do Direito se 
complementam. Mesmo assim, cada doutrinador tem o seu entendimento, 
considerando um desses aspectos como o principal. Estabeleça um desses 
aspectos como o mais importante para você e explique o porquê da sua 
escolha. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BARROSO FILHO, José. O enigma do direito. Jus Navigandi, Teresina, a. 4, 
n. 41, mai. 2000. Disponível em: 
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1898>. Acesso em: 19 jun. 
2005. 
FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. Técnica, 
decisão, dominação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 25ª edição rev. e ampl. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. 
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral.5ª ed. São Paulo: Atlas, 
2005. 
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A CIÊNCIA DO DIREITO 
 
 
OBJETIVO 
Entender o conceito de ciência e de senso comum e diferenciá-los. 
Conhecer o Direito como uma ciência normativa. 
 
INTRODUÇÃO 
Na aula anterior estudamos o conceito de Direito por duas 
perspectivas distintas: etimológica e real. Porém, pudemos observar que o 
direito possui uma definição complexa, uma vez que pode ser analisado 
sobre diversos aspectos. 
Vimos também que o direito pode ser visto como ciência. Mas por que 
o direito seria considerado ciência, se não temos nele uma formulação 
lógico-matemática, como vemos na física ou na matemática? 
Nesta aula aprenderemos a visualizar o direito como uma ciência 
normativa, através de um traçado histórico, a fim de compreender sua 
evolução até os dias atuais. 
 
CIÊNCIA X SENSO COMUM 
 
Antes de observarmos o Direito como ciência, é preciso saber 
diferenciar ciência de senso comum. Para tanto, procuraremos definir estas 
duas linhas de conhecimento. 
O senso comum é o produto das inter-relações estabelecidas entre o 
homem e o mundo. É a visão que ele tem do mundo através de suas simples 
observações, sem se preocupar com qualquer tipo de critério ou 
método. Podemos citar como exemplo a crença popular de que chá de alho 
com limão cura gripe. Ninguém fez um estudo para saber se o alho, aliado 
ao limão forma uma substância capaz de curar os sintomas da gripe. Apenas 
se sabe que este chá cura a gripe. 
A ciência, por sua vez, baseia-se em observações metodológicas, isto 
é, a ciência cria uma forma racional de observação da situação real, e 
através dela formula o raciocínio, e, conseqüentemente, comprova o 
resultado. Assim, o conhecimento científico é capaz de mostrar o porque do 
chá de alho com limão conseguir curar os sintomas da gripe. 
 
MÉTODOS DO RACIOCÍNIO CIENTÍFICO 
Antes de adentrarmos no estudo do Direito enquanto ciência, 
devemos conhecer os métodos de formação do conhecimento científico. São 
três: a indução, a dedução e a analogia. 
A indução corresponde a um processo de raciocínio que 
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se desenvolve a partir de fatos particulares, até atingir uma 
conclusão de ordem geral, mediante a qual se possa explicar o 
que há de constante ou de comum nos fatos observados e em 
outros da mesma natureza (REALE, 1998, p. 83). 
Assim, verificamos o método indutivo quando observamos o som, sua 
propagação, quais os ambientes em que ele se propaga, e afirmarmos, 
posteriormente que o som não se propaga no vácuo (na ausência de 
matéria). 
A dedução é o contrário do anterior. No método dedutivo, parte-se de 
um aspecto geral para o particular. Assim, temos: se eu afirmo que todos os 
gatos pertencem à família dos felinos, posso afirmar então que a onça 
pintada é um felino, devido a suas caracteristicas particulares serem 
semelhantes às caracterísitcas do grupo geral, que é a família dos felinos. 
Por fim, a analogia. “O processo analógico é, no fundo, um raciocínio 
baseado em razões relevantes de similitude” (REALLE, 1998, 85p.). ela se 
encontra no meio do caminho entre a indução e dedução, uma vez que se 
trata de aplicar a uma situação ainda não determinada os mesmos preceitos 
de outra situação semelhante já estudada. 
 
O DIREITO COMO CIÊNCIA 
Se no senso comum não há uma sequência lógica de observação e 
construção do conhecimento, não podemos dizer então que o direito faça 
parte deste senso comum. Isto porque o direito é analisado e estudado com 
metodologia e rigor científico. 
Cumpre-nos ressaltar, entretanto, que nem sempre foi assim. Nos 
tempos primitivos, o homem não tinha a capacidade de aprimorar seu 
conhecimento através do método científico. Mas o direito já dava sinais de 
sua existencia, ainda que primitivamente. Assim como a ciência surge com o 
progresso da humanidade, o direito também passa por esta evolução. 
A Ciência pode ser vista sobre três aspectos principais: o teórico, ou 
especulativo, que se limita a conhecer “o que é”; o ético ou moral, que nos 
revela “como agir”; e o técnico ou artístico, que indica “como fazer”. Também 
o Direito pode ser visto sobre estes três aspectos, de tal maneira que 
surgiram três correntes principais que tentam explicar o direito como ciência, 
cada uma a seu modo: o naturalismo jurídico, o formalismo jurídico e o 
culturalismo jurídico. Analisemos cada uma delas. 
 
1. O Naturalismo Jurídico 
O Direito é algo natural, físico, uma força da natureza. Assim afirma 
Pontes de Miranda: 
O Direito não é fenômeno peculiar ao homem, nem mesmo ao 
mundo orgânico. Podemos mostrá-lo entre sólidos inorgânicos, 
bem como no mundo das figuras bidimensionais (PONTES DE 
MIRANDA, citado por. MONTORO, 2005, p. 113). 
Dentro do Naturalismo existem quatro correntes principais: 
- a fisicista, afirmando que o Direito surge de fenômenos físicos e 
mecânicos. Neste sentido: Haret, Pontes de Miranda etc.; 
- a corrente biologista, onde o Direito seria reduzido à fenômenos 
biológicos. É defendida por Darwin, Lilienfeld, Lombroso etc.; 
- a corrente psicológica: tende a explicar a vida social através de 
fenômenos psicológicos, ou seja, o direito advém desses fenômenos 
psicológicos. Principais defensores: Gabriel Tarde, George Mead etc; 
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- a corrente sociológica: resume todas as outras escolas naturalistas, 
quando afirma que os fenômenos sociais são fenomenos naturais e devem 
ser estudados por uma ciência natural. Estes fenômenos sociais podem ser, 
portanto, físicos, biológicos ou psicológicos. Principais defensores: Comte, 
Duguit, Durkheim etc. 
Enfim, o naturalismo jurídico, ou jusnaturalismo, reduz o direito aos 
fenômenos naturais, o que é um erro, uma vez que o Direito vai além desses 
fenômenos e se traduz ainda na norma e na sua valoração. 
 
2. O Formalismo Jurídico 
Tem como principaldefensor Hans Kelsen em Teoria Pura do Direito. 
Ele retira da ciência jurídica “todos os elementos sociológicos ou 
dados da realidade social”, uma vez que estes constituem objeto da 
Sociologia do Direito, bem como todas as consideraçoes sobre valor, justiça, 
segurança, bem comum, elementos estes pertencentes ao estudo da 
Filosofia do Direito. Assim, fica restrito à ciência do direito a equação lógica: 
 
 
“se A é, deve ser B” 
 
 
onde A é a condição jurídica e B a consequência jurídica. Então, não 
há mais, para Kelsen, no Direito o “ser” e sim, um “dever-ser”. Deste modo, 
pode-se retirar mais uma sentença, complementar àquela, qual seja: 
 
 
“Dada a não P, deve ser S” 
 
 
em que P é a prestação e S, a sanção. Temos portanto: se o 
contratante era menos, deve ser anulado o contrato, se o inquilino não 
pagou o aluguel, deve ser despejado. 
 
 
 
 
 
 
 
3. O Culturalismo Jurídico 
Parte-se de uma distinção preliminar entre natureza e cultura, 
afirmando ser esta última a história, a economia, a sociologia, enfim, todas 
as transformações ou realizações do espírito humano. 
Para esta corrente de pensamento, a natureza seria mero suporte 
físico para a expressão cultural do ser humano, de tal modo que não poderia 
o Direito ser uma ciência natural, nem uma mera realidade formal, uma vez 
que estes não possuem um suporte e uma significação. Seu maior 
doutrinador é Carlos Cóssio, que nos ensina ser o “suporte” (ou substrato) 
um objeto físico ou a própria conduta humana subjetiva, “egológica”. “O 
objeto é sempre o sujeito de um juízo lógico. É o ser a quem se atribui ou se 
nega alguma coisa” (NADER, 2005, 63p.). 
Hans Kelsen 
viveu entre 
1881 e 1973. 
Foi fundador 
da Escola 
Normativista, 
ou Escola de 
Viena. Foi 
professor nas 
Universidades 
de Viena, de 
Colônia, de 
Barcelona, de 
Genebra e de 
Berkeley. 
(IMPORTANTE) Esta corrente por si só também
não é satisfatória porque restringe o direito a
uma concepção puramente formal, deixando de
lado o aspecto sociológico do direito. 
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Conforme preleciona em sua Teoria Egológica, existem diversos 
modos de se distinguir os objetos em função de suas características, isto é, 
do modo como apreendemos os diferentes tipos de objetos e o respectivo 
método de conhecimento, de tal modo que o objeto da ciência do direito não 
é a norma objetiva, mas a conduta em interferência intersubjetiva. 
Assim, temos: 
- Objetos Ideais: são irreais (não são verificáveis no tempo e no 
espaço); não estão na experiência e são neutros ao valor. Apreendemos os 
objetos ideais por intelecção, através do método Racional-dedutivo. 
- Objetos Naturais: são reais, estão na experiência, mas são neutros 
ao valor. Estes objetos são apreendidos por explicação, segundo o método 
empírico-indutivo. 
- Objetos Culturais: os objetos culturais têm existência espaço-
temporal, estão na experiência e são valiosos positiva ou negativamente. O 
ato gnoseológico de que nos valemos para conhecer os objetos culturais é a 
compreensão, segundo o método que Cossio denomina Empírico-dialético. 
- Objetos Metafísicos: estes são reais, ou seja, têm existência, mas 
não estão na experiência, conquanto sejam valiosos positiva ou 
negativamente. 
Para Cóssio, 
a lei em seu aspecto gramatical não passa de um mero objeto 
mundanal. Como já foi dito, também a norma é composto de 
elemento lógico, estimativo e dogmático, portanto, egológico. A 
norma em si traz valorações sobre a conduta a que se refere 
(ANDRADE, 2005). 
Teoria esta que também não nos é satisfatória isoladamente, porque 
desconsidera a influência das forças naturais, bem como o formalismo da 
norma jurídica, que também são elementos da ciência do direito. 
 
O DIREITO COMO CIÊNCIA NORMATIVA ÉTICA 
 
Parece-nos mais acertado posicionar o Direito como objeto da ciência 
normativa ética, uma vez que os três aspectos científicos – natural, formal e 
cultural – se complementam e não se excluem. Assim, torna-se importante o 
conhecimento teórico do Direito para compreender a norma, que é sua 
expressão formal, e poder aplicá-la de maneira ética em cada caso. 
Podemos afirmar, então, que o Direito é uma ciência tríplice, uma vez 
que possui três aspectos a serem considerados. Pois, como afirma Montoro, 
a finalidade do direito é dirigir a conduta humana na vida social. É 
ordenar a convivência de pessoas humanas. É dar normas ao 
‘agir’, para que cada pessoa tenha o que lhe é devido. É, em 
suma, dirigir a liberdade, no sentido da justiça (MONTORO, 2005, 
p. 113). 
 
CONCLUSÃO 
Podemos concluir, após este estudo, que o Direito é uma ciência que 
estuda a norma e que deve respeitar os princípios éticos estabelecidos pela 
sociedade: daí ser chamada de Ciência Normativa Ética. 
E ainda vimos também os métodos de produção do conhecimento 
científico que pela reflexão ali realizada, podemos concluir que para 
estudarmos a ciência jurídica, podemos nos utlizar dos três métodos 
principais aqui trabalhados. Assim, no momento da elaboração da norma 
jurídica, o método mais utilizado é o indutivo; quando o legislador analisa a 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 14 
norma vigente para depois criar uma lei nova, está se utilizando do método 
dedutivo; e quando aplica a norma jurídica existente a um caso concreto que 
não possui regulamentação, mas que é semelhante àquela norma, está ele 
utilizando-se da analogia. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
1. Explique por que o Direito é visto como uma Ciência Normativa 
Ética. 
2. Qual o método de produção do conhecimento científico mais 
indicado para analisar um caso concreto de “crimes de sequestro 
relâmpago”, já que este tipo penal não está previsto no nosso Código Penal 
vigente? 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ANDRADE, Ronald Castro de. A Teoria Egológica de Carlos Cossio sob uma 
perspectiva Sociológica da Aplicação do Direito. Disponível em: 
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4309>. Acesso em: 07 jun. 
2005. 
FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. Técnica, 
decisão, dominação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 25ª edição rev. e ampl. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. 
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 
 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CIÊNCIA DOGMÁTICA DO DIREITO 
 
 
OBJETIVO 
Visualizar a ciência dogmática do Direito como método 
contemporâneo de interpretação. 
 
INTRODUÇÃO 
Vimos na aula anterior as diversas escolas que estudam a ciência 
jurídica. Mas observamos também que algumas dessas não consideram a 
influência do meio social no estudo da ciência normativa. 
Hoje, o que percebemos é o grande controle exercido pelo meio social 
sobre o estudo, criação, interpretação e aplicação da norma jurídica, de tal 
modo que o aplicador da mesma passa a ser visto como um técnico, 
cujo acesso ao Direito se faz somente pelo manejo de ferramentas 
– regras de interpretação – sem as quais não tem como realizar 
seu trabalho, que desempenha depois de aceitar os pontos de 
partida (dogmas) estabelecidos pela escola jurídica (NUNES, 
2005, p. 44). 
De tal modo que o bom cientista dogmático do direito seria aquele que 
já absorveu todas as regras pré-establecidas pela sociedade, e consegue 
orientar a ação dos outros de maneira clara, justamente por já as conhecer. 
Ferraz Jr (2005, p. 83) afirma que 
o saber jurídico é mais amplo que um estrito saberdogmático. No 
entanto, sobretudo no último século e até meados deste, vem 
prevalecendo a idéia de que o direito-ciência é constituído de 
teorias sobre os ordenamentos jurídicos vigentes e suas 
exigências práticas. Em conformidade com isso havia e há a idéia 
de que o direito-objeto deste conhecimento é basicamente um 
fenômeno de disciplina social sob a forma repressiva, punitiva. 
A ciência dogmática, portanto, tem o caráter de ensinar, disciplinar os 
demais. O cientista conhece e orienta, de maneira impositiva. 
As questões que ela levanta nunca são deixadas em aberto, já que 
buscam sempre um resultado. Há sempre uma resposta ao 
problema dado, resposta esta que será encontrada (NUNES, 2005, 
p. 46). 
Assim, preocuparemo-nos com a análise da ciência dogmática do 
Direito, e seus principais aspectos, visto se tratar de uma moderna visão da 
ciência do direito, que é utilizada nos dias atuais. Importante ressaltar que 
utilizaremos, para fins didáticos, o roteiro de estudo proposto por NUNES 
(2005) em seu livro “Manual de Introdução ao Estudo do Direito”. 
 
 
TEMA 03
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 16 
A INSTRUMENTALIZAÇÃO 
A linguagem utilizada pela ciência dogmática é prescritiva, ou seja, do 
“dever-ser”. Ela orienta, ordena uma determinada ação. Não há, aqui, uma 
descoberta do saber, devido ao que chamamos de “fenômeno da ocultação”: 
à pessoa a quem é dirigida a norma cabe apenas obedecer, sem questionar. 
É, portanto, um ato de poder, do cientista que a analisa. 
O Enfoque primordial da dogmática é lançar direções para o agir; 
prescrever condutas, portanto (NUNES, 2005, 47p.). 
Assim, podemos dizer que a ciência dogmática do direito em muito se 
confunde com a hermenêutica jurídica, uma vez que ambas utilizam-se dos 
mesmos métodos de investigação e análise da norma jurídica. Apesar disso, 
a hermenêutica é estudada em capítulo separado dentro da dogmática, uma 
vez que seus cientistas não conseguem visualizar esta semelhança. 
 
A DOGMÁTICA E A TECNOLOGIA 
Ferraz Jr (2005) faz uma comparação entre a dogmática jurídica e a 
tecnologia. Para ele, este modelo de ciência nada mais é do que uma 
tecnologia a ser aplicada na interpretação da norma jurídica. 
(...) Pode-se dizer que a ciência dogmática do direito cumpre as 
funções típicas de uma tecnologia. Seu pensamento é conceitual 
e vinculado ao Direito posto – normas jurídicas escritas. Com isso, 
pode instrumentalizar-se a serviço da ação sobre a sociedade 
(NUNES, 2005, 50p.). 
Dessa forma, cumpre-nos ressaltar que a dogmática jurídica cria 
condições para a ação, portanto, com pensamento fechado à 
problematização de seus pressupostos, ou seja, ela cria condições básicas 
para decidir o caso concreto. É, então, muito mais ligada à questão da 
interpretação da norma jurídica. 
Ainda, a dogmática funciona como agente pedagógico, uma vez que 
orienta os agentes jurídicos (estudantes, juízes, promotores, advogados 
etc.), criando uma verdadeira “tradição” jurídica de dogmas. 
O objetivo principal a ser alcançado pelos cientistas dogmáticos é a 
solução, a qualquer preço, do caso concreto, de modo a saná-lo por 
completo. 
 
CRÍTICA À CIÊNCIA DOGMÁTICA 
Em nome da eficiência, o cientista dogmático perde a consciência do 
todo, uma vez que os métodos colocados à sua disposição conseguem fazê-
lo chegar ao ponto de partida da norma jurídica. O que significa afirmar que 
a dogmática traz junto a ela um comodismo muito grande, já que não é 
necessário pensar e agir antes de decidir. Tudo já vem pronto. Aos 
aplicadores da norma basta o domínio da técnica, o conhecimento dos 
métodos e pressupostos para conseguir alcançar esta eficiência. Eles se 
tornam meros repetidores das fórmulas pré-existentes. 
Assim é que se faz necessário a complementação deste aspecto da 
ciência jurídica com outros ramos da ciência, quais sejam, a Filosofia e a 
Sociologia do Direito. Observe que falamos aqui em complementação, e não 
em abandono. A técnica é importante no momento da interpretação e 
aplicação do conhecimento jurídico no momento da solução do caso 
concreto, mas o Direito não é só isso. E a ciência do direito necessita de 
outras visões para alcançar a amplitude de conhecimento desejada. 
 
 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 17 
MODELOS DA CIÊNCIA DOGMÁTICA DO DIREITO 
1. A Dogmática como Teoria da Norma 
Hans Kelsen traça um roteiro de análise da norma jurídica em “Teoria 
Pura do Direito”. Nesta teoria ele desenvolve um modelo formal de criação 
da norma, isto é, isola-a das influências não-jurídicas, que são a moral, o 
social, a religião, entre outros. 
Kelsen afirma que, para toda prestação existe sempre uma sanção. 
Ou, como afirma Reale (1998, p. 93), “a norma jurídica é sempre redutível a 
um juízo ou proposição hipotética, na qual se prevê um fato (F) ao qual se 
liga a uma consequência (C), de conformidade com o seguinte esquema: Se 
F é, deve ser C”. 
Se a dogmática cria o roteiro de interpretação para a decisão do caso 
concreto, precisa ela antes, criar a norma que irá embasar essa decisão. 
Assim é que Ferraz Jr (2005, p. 98) afirma: 
ao distinguir definir, classificar, sistematizar, a ciência dogmática 
está às voltas com a identificação do direito, tendo em vista a 
decidibilidade de conflitos. Estudar a ciência jurídica é aprender a 
elaborar esses sistemas, é dominar-lhes os princípios de 
construção, é saber distinguir para depois integrar de forma 
coerente. Para realizar essa construção é que o jurista elabora 
seus conceitos, que têm ostensiva função operacional. Eles 
servem para operacionalizar a tarefa de sistematização. São por 
isso conceitos operativos: com eles se operam definições, 
classificações, sistemas. 
 
 
 
 
 
 
2. A Dogmática como Teoria da Interpretação 
Se o objetivo da dogmática jurídica é dar o roteiro para o aplicador da 
norma resolver o conflito existente, necessário se faz interpretar essa norma. 
Assim, surgem diversas teorias de interpretação da norma jurídica, no 
sentido de estabelecer as diretrizes para a melhor solução do caso concreto. 
Com relação à dogmática, a interpretação da norma faz-se 
necessária, uma vez que seu objetivo primordial é a solução para o caso 
concreto. E uma vez encontrada essa solução, a questão é abandonada, já 
que não mais é necessário refletir sobre ela, ou seja, aquela questão já 
possui seu roteiro interpretativo. 
 
3. A dogmática como Teoria da Decisão 
Ferraz Jr (2003) trabalha a questão da decisão jurídica definindo-a de 
maneira complexa, uma vez que, “em sentido amplo, pode ser chamado de 
aprendizagem”. Ele divide a decisão em quatro aspectos fundamentais, a 
saber: impulso, motivação, reação e recompensa. 
- O Impulso seria o conjunto de possibilidades frente a uma mesma 
situação. 
- A Motivação seria o conjunto de expectativas que nos faz exigir uma 
resposta. 
- A Reação é, propriamente, a resposta. 
Teremos mais adiante uma aula específica sobre a 
norma jurídica, momento em que analisaremos suas
definições, elementos e teorias. 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 18 
- A Recompensa é o objetivo, a situação final na qual se alcança uma 
relação definitiva entre a questão conflitiva gerada pelo impulso e pela 
motivação e a resposta. 
Assim, pode-se afirmar que a decisão é a resposta para o caso 
concreto. E justificar a resposta é, portanto, o mesmo que legitimá-la. Por 
esta teoria, a decisão encontra-se intrinsecamente ligada ao conflito, pois 
aquela tem o poder não de transformá-lo. Uma vez não existindo o conflito, 
não mais se fará necessária a existência de uma decisão. 
 
CONCLUSÃO 
Podemos concluir que a ciência dogmática do direito traz uma solução 
eficazpara a problemática da resolução de conflitos, mas deixa de lado 
aspectos importantes da norma jurídica, quais sejam, o social, o moral. Além 
disso, não se preocupa com a evolução da sociedade e a influência que isto 
traz ao ordenamento jurídico, uma vez que os modelos trabalhados são 
imutáveis e, ainda, baseiam-se na tradição. 
Ademais, importante ressaltar que a dogmática jurídica é um modelo 
criado para satisfazer os anseios do Estado, agora prestador de serviços à 
sociedade, frente ao capitalismo. É através do dogmatismo que se justificam 
todos os atos do Estado enquanto “empresário”, uma vez que é ele quem 
detém o poder de legislar. Assim, pode o Estado criar leis, não satisfatórias 
à sociedade, mas sim, capazes de satisfazer os anseios econômicos do 
próprio Estado. 
Vale ressaltar, ainda, que muitos juristas, advogados e auxiliares da 
justiça, acabam levando à vida profissional toda essa carga de formalismo e 
apego aos códigos e à lei. Isso ocorre devido à sua formação dogmática, 
emperrando a justiça como um todo e prejudicando a sociedade, que fica à 
mercê dos dogmas e tradições jurídicas levados aos tribunais de todas as 
instâncias. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Explique, de acordo com o seu entendimento, o que seria a Ciência 
Dogmática do Direito, procurando fazer uma crítica à sua aplicação pelos 
juristas nos tribunais de justiça, em todas as instâncias. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. Técnica, 
decisão, dominação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 25ª edição rev. e ampl. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. 
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 
 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISCIPLINAS QUE ESTUDAM OS FENÔMENOS JURÍDICOS 
 
 
OBJETIVO 
Conhecer as diversas disciplinas que estudam os fenômenos 
jurídicos. 
Compreender que cada uma das disciplinas estuda o Direito sobre um 
aspecto diferente, e que elas se complementam. 
 
INTRODUÇÃO 
Sabemos que o direito é de definição complexa, e que é também 
ciência normativa. Assim, não há como existir uma única ciência capaz de 
comprender o direito sob todos os aspectos possíveis. Surge, então, a 
necessidade de separar esses aspectos para estudá-lo, a fim de formar o 
conhecimento necessário da ciência normativa ética. 
Iremos observar que cada uma dessas disciplinas possui o mesmo 
objeto material: o direito. A diferença irá se encontrar no objeto formal de 
cada uma delas, que poderá ser filosófico, social ou dogmático. 
Quais seriam então essas disciplinas? Cada doutrinador de Direito 
traz um rol de disciplinas que julgam ser importantes. Nós estudaremos 
aquelas que para nós, são as fundamentais, no sentido de que são elas as 
capazes de construir o nosso conhecimento científico da doutrina normativa, 
quais sejam: a Ciência do Direito, a Filosofia do Direito e a Sociologia do 
Direito. Vejamos cada uma delas. 
 
1. Ciência do Direito 
A Ciência do Direito traz um enfoque dogmático a normativização 
jurídica. Isso porque ela traz consigo o dever de conhecer, interpretar e 
aplicar a norma jurídica com exatidão, aos casos concretos, de tal maneira 
que o jurista seria visto como o “técnico da lei” (MONTORO, 2005, p. 597). 
É ela que estuda o fenômeno jurídico tal qual ele se realiza no tempo 
e no espaço, através de método e observação. Por isso a denominação 
“Ciência”. 
Nader (2005, p. 10) afirma que o papel da Ciência do Direito é “revelar 
o ser do Direito, aquele que é obrigatório, que se acha posto à coletividade e 
que se localiza, basicamente, nas leis e nos códigos”. 
A Ciência do Direito, como vimos na aula anterior, é ciência social, 
normativa, uma vez que estuda as relações sociais de um determinado 
grupo de pessoas, localizado no tempo e no espaço, a fim de averiguar e 
identificar os fenômenos jurídicos capazes de gerar as normas que 
regulamentarão essas relações. 
TEMA 04
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 20 
Portanto, o “homem existencial” é pressuposto da ciência jurídica, 
uma vez que esta é uma ciência de investigação de condutas que possuem 
um dever-ser jurídico, ou seja, atos que possuam uma regra de conduta. 
A ciência do direito ganha força a partir dos estudos de Hans Kelsen, 
que culminou na publicação do “Teoria Pura do Direito”. A partir daí, o direito 
passa a ser visto como ciência normativa e com rigor formal. 
 
2. Filosofia do Direito 
Reale (1998, p. 14) afirma que a Filosofia do Direito seria “uma 
perquirição permanente e desinteressada das condições morais, lógicas e 
históricas do fenômeno jurídico e da Ciência do Direito”, ou seja, seria uma 
reflexão das relações humanas, da expressão normativa dessas relações e, 
principalmente, da liberdade humana. É uma disciplina de reflexão sobre os 
fundamentos do Direito. 
Nader (2005, p. 11) afirma que o jusfilósofo deve se preocupar com o 
dever-ser, com o Direito justo e, para tanto, se torna indispensável o 
conhecimento tanto da natureza humana quanto do teor das leis. 
O papel, ou seja, o objetivo principal desta disciplina é questionar o 
Direito. É aqui que se pergunta: “o que é o direito?”. É através de 
indagações que se poderá adquirir um conhecimento mais completo e mais 
justo da interpretação, e conseqüentemente, da aplicabilidade da norma 
jurídica num dado contexto. 
 
3. Sociologia do Direito 
A Sociologia do Direito é um dos últimos ramos de disciplina jurídica a 
surgir, ganhando ares de ciência humana apenas no século XX. Até então, a 
sociologia jurídica não era considerada importante, uma vez que, para os 
doutrinadores da época, os fatos sociais exerciam pouca ou nenhuma 
influência na normativização das relações jurídicas. E justamente por ser 
uma disciplina nova é que ainda se encontra em formação. 
É considerada uma disciplina importante porque visa estudar os 
fenômenos jurídicos do ponto de vista social, ou seja, observa a adequação 
da ordem jurídica aos fatos sociais, com relação aos seguintes aspectos: 
adaptação do Direito à vontade social; cumprimento pelo povo das leis 
vigentes e a aplicação destas pelas autoridades; correspondência entre os 
objetivos visados pelo legislador e os efeitos sociais provocados pelas leis 
(NADER, 2005, 11p.). 
Mas observa-se aqui uma tendência em diminuir o direito a um mero 
fato social, supervalorizando a sociedade e os fenômenos sociais e 
colocando o direito em plano secundário. A Sociologia do Direito conhece a 
sociedade, o que permite ajustar os desequilíbrios existentes entre a 
sociedade e o direito. Daí sua importância. 
 
CONCLUSÃO 
Com base no conteúdo acima exposto, vimos que o Direito possui 
vários ramos de estudo, dentre os quais demos importância às três 
principais, por sua contribuição à evolução do normativismo ético. A ciência 
jurídica, vista em um conceito mais amplo, que engloba todas as ciências 
jurídicas, não é nada se analisada por apenas um desses aspectos, uma vez 
que os três se complementam e não se excluem. Enquanto a Sociologia do 
Direito se procupa com os fatos sociais e como o direito influencia nos 
mesmos, a ciência do direito, em sentido estrito, se preocupa com os 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 21 
dogmas, com a análise pura e simples da norma jurídica. E a Filosofia do 
Direito vem completar esse tripé analisando o dever-ser, o porquê da 
existência do direito e o critério de justiça adotado nas normas jurídicas. 
 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
1. Quala importância do estudo da Sociologia do Direito para o 
Direito? 
2. Na sua opinião, o estudo isolado da Filosofia do Direito contribui 
para o desenvolvimento da norma jurídica em que proporção? Por que? 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. Técnica, 
decisão, dominação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 25ª edição rev. e ampl. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. 
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 
REALLE, Miguel. Liçoes Preliminares de Direito. 24ª ed. São Paulo: Saraiva, 
1998. 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 22 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DIREITO POSITIVO E O DIREITO NATURAL 
 
OBJETIVO 
Conceituar e diferenciar Direito Positivo e Direito Natural, através da 
análise histórica dos mesmos. 
 
 
INTRODUÇÃO 
Podemos definir Direito Positivo como sendo o conjunto das normas 
jurídicas escritas e não-escritas vigentes em determinado ordenamento 
jurídico; e o Direito Natural seria o ordenamento ideal, abstrato. Mas apenas 
uma definição básica não é capaz de nos revelar toda a complexidade e 
importância de se conhecer estes institutos. 
Portanto, nesta aula procuraremos diferenciar o Direito Positivo do 
Direito Natural, analisando suas correntes histórico-doutrinárias, a fim de 
comprender o que seja cada um desses institutos e o que eles significam 
para o nosso ordenamento jurídico. 
 
 
DIREITO POSITIVO 
GOUVEIA (2005) afirma que “Direito positivo é o ordenamento jurídico 
em vigor em determinado país e em determinada época. É o direito posto”. 
Assim, é direito Positivo toda norma jurídica vigente num determinado grupo 
social, podendo ser elas leis, decretos, costumes, entre outras. Necessário 
se faz então, que a norma tenha força, isto é, seja exigível para ser 
considerada positivada, como bem afirma Julius Móor (cit. por MONTORO, 
2005, p. 305): 
o positivismo jurídico é uma idéia segundo a qual o direito é ditado 
pelo poder dominante na sociedade, em um processo histórico. 
Segundo essa concepção, só é direito aquilo que o poder 
dominante determina, e o que ele determina só é direito em 
virtude dessa circunstância mesma. 
Surge então diversas correntes positivistas (correntes de Direito 
Positivo), a saber: a teoria geral do direito positivo, a Teoria Pura do Direito, 
a Doutrina das Decisões Judiciárias, a Doutrina da Linguagem Jurídica, a 
Doutrina da Autonomia da Vontade e a Doutrina do Positivismo Jurídico-
Moral. Vejamos cada uma delas. 
 
1. Teoria Geral do Direito Positivo 
Defendida por Bonnard e outros publicistas, defende a idéia de que as 
regras do Direito Positivo são apenas conseqüências lógicas dos princípios 
gerais de direito. 
 
TEMA 05
Publicista:
pessoa
estudiosa do
Direito
Público. É o
doutrinador
que direciona
suas idéias
para uma
concepção
pública do
Direito.
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 23 
 
2. Teoria Pura do Direito 
Defendida por Hans Kelsen, é uma das mais estudadas e aceitas. 
Como o próprio autor defende, é uma “teoria” que objetiva responder “o que 
é o direito”. Assim, ele se preocupa exclusivamente com a norma jurídica 
positivada, sem a interferência de outras ciências, tais como a moral, a 
sociologia, a psicologia. Daí a idéia de “purificação” do Direito. Em seus 
estudos, há a preocupação apenas com o aspecto formal da norma. Não 
importa o conteúdo desta, nem análise de seu valor ou justiça. Importa 
apenas a verificação da subordinação da norma à uma norma fundamental, 
que “é a constituição ideal aceita pela opinião pública da nação” 
(MONTORO, 2005, p. 307). 
 
3. Doutrina das Decisões Judiciárias 
John Chipman Gray é seu principal defensor e ela surge nos países 
anglo-saxões, onde o sistema jurídico é o consuetudinário, ou seja, baseado 
nos 
Nesse sistema não há uma preocupação com a existência de norma 
escrita, porque, para eles, a fonte principal do Direito é o costume. Assim, 
faz-se necessário a interpretação dos juristas para a construção de uma 
jurisprudência segura e garantidora da aplicação desses costumes. Assim é 
que “o direito emanado do poder legislativo só adquire sentido e realidade 
depois de interpretado pelos juízes, ao aplicá-lo aos casos concretos. Os 
tribunais comunicam vida às palavras inanimadas da lei” (MONTORO, 2005, 
307p.). 
 
4. Doutrina da Linguagem Jurídica 
Corrente moderna que se preocupa principalmente com a 
interpretação semântica, sintática e pragmática do direito. Seu principal 
defensor é Probert e ele define o direito como “a procura de uma orientação 
verbal que ajuda a selecionar proposições compatíveis” (MONTORO, 2005, 
p. 308). Isto porque ele acredita que a análise crítica da linguagem é capaz 
de eliminar os conflitos que surgem na sociedade. 
 
5. Doutrina da Autonomia da vontade 
Fouillée , baseado nos preceitos de Rousseau e Kant, defende a idéia 
de que o contrato e a lei são os fundamentos de toda a ordem jurídica, uma 
vez que “o homem, essencialmente livre, não pode depender senão de sua 
vontade” (MONTORO, 2005, p. 308). 
 
6. Doutrina do Positivismo jurídico-moral 
Por fim, a teoria defendida por Ripert quer nos mostrar que a lei, por si 
só, é obrigatória, mas durante sua elaboração pelo legislador, devem ser 
considerados os fatores sociais, econômicos e morais predominantes na 
sociedade. 
 
7. Crítica às teorias apresentadas 
Não podemos deixar de ressaltar aqui, que todas essas teorias, no 
intuito de explicar o positivismo jurídico, esquecem-se de outras idéias 
fundamentais e, conseqüentemente, garantidoras da ordem social, quais 
sejam: a moral, a justiça, os princípios fundamentais do homem. 
Países Anglo-
saxões são os 
que foram 
colonizados 
pelos saxões 
(bárbaros). 
Alguns 
exemplos de 
países: 
Estados 
Unidos, 
Austrália, 
Inglaterra. 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 24 
Ora, defender a aplicação do direito tão somente através da força é 
concordar com atentados constantes à dignidade humana, como ocorreu 
durante a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha entre nazistas e judeus. 
Todos os atos ali praticados eram legais, porque o ordenamento jurídico 
alemão permitia, no momento da guerra, as práticas de tortura. 
As idéias de justiça e moral servem como equilibradores do 
ordenamento jurídico, e não podem ser abandonados. O direito deve sim, 
possuir força coercitiva, pois é assim que garante sua aplicação, mas sem 
abandonar os valores sociais que garantem o bom convívio e a aproximação 
do Direito aos ideais de justiça. 
 
8. Classificação do Direito Positivo 
NUNES (2005, p. 116) divide o Direito Positivo em Direito Objetivo, 
Direito Subjetivo e Dever Subjetivo. 
Por Direito Objetivo, entende-se o “conjunto, em si, das normas 
jurídicas escritas e não-escritas, independentemente do momento do seu 
exercício e aplicação concreta”. Isto significa excluir os direitos e deveres 
subjetivos, uma vez que a soma destes três elementos formam o Direito 
Positivo. 
O Direito Subjetivo é “a prerrogativa colocada pelo direito objetivo, à 
disposição do sujeito de direito” (NUNES, 2005, p. 117). Ou seja, o direito 
subjetivo é o exercício ou simplesmente a expectativa de exercício do direito 
colocado à disposição do sujeito da relação jurídica. Como exemplo, vamos 
analisar a seguinte situação: João é proprietário de um terreno que foi 
invadido por José. Neste caso, a lei coloca a ação Possessória à disposição 
de João. Ele pode utilizar deste instrumentoou não para reclamar seu direito 
de propriedade. É um direito subjetivo de João, uma vez que cabe a ele a 
decisão de utilizar ou não deste recurso. 
Por fim, o dever subjetivo consiste na contrapartida gerada pela 
existência do direito subjetivo. Assim, no exemplo acima, se João tem o 
direito subjetivo de propor a ação de reintegração de posse, José tem o 
dever subjetivo de não invadir a propriedade alheia, sob pena de sofrer uma 
sanção. Isto é, o direito subjetivo é limitado pelo dever subjetivo a ele 
inerente. 
Atenção: existem direitos que não possuem um dever subjetivo por se 
tratarem de direitos fundamentais inerentes à pessoa. São eles: o direito à 
vida, à honra, à imagem etc. 
 
DIREITO NATURAL 
Direito Natural é a “idéia abstrata do direito, o ordenamento ideal, 
correspondente a uma justiça superior” (GOUVEIA, 2005). É como afirmar 
que o direito positivo surge de exigências elementares da natureza humana, 
isto é, a base de toda a ciência do direito está no homem em sua forma mais 
natural. Este pensamento surge na Grécia antiga, na “Antígona”, de 
Sófocles. Conta a história que o rei Creon proíbe o sepultamento de 
Polínice, irmão de Antígona, mas esta, desobedecendo a ordem real, o 
enterra mesmo assim, sob a premissa de que acima da ordem real havia 
uma lei não escrita eterna, 
que não são nem de hoje, nem de ontem (...) nem poderia eu 
desafiá-las a enfrentar a vingança divina (...) por temer a cólera de 
qualquer homem (MONTORO, 2005, p. 310). 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 25 
Assim é que além do Direito personificado, positivado em cada 
sociedade, existe um direito decorrente da natureza humana, chamada de 
“direito natural”. E este tem como principal precursor Santo Tomás de 
Aquino, que contribuiu de maneira expressiva para o Direito com a 
publicação de suas obras e influenciou grandes doutrinadores, quais sejam, 
Ihering, Duguit, entre outros. 
 
1. A Concepção Clássica do Direito Natural 
Tomás de Aquino se propôs a analisar a lei sobre quatro aspectos 
fundamentais, que ele chamou de características essenciais da lei: a 
ordenação da razão, a lei para o bem comum; a lei promulgada; e a lei 
produzida pela autoridade competente. Desta maneira, poderiam existir três 
tipos de lei: a lei eterna, ou seja, a lei divina ou o plano de Deus a respeito 
da criação e da ordem universal; a lei natural, que seria a lei inerente ao 
homem, independentemente de qualquer revelação sobrenatural, ou de 
estar ou não escrita ou discutida por um grupo; e a lei positiva, que seria 
fruto do trabalho do legislador humano. Esta última deveria se ater à lei 
natural, sempre de acordo com esta e, conseqüentemente, sempre de 
acordo com a lei divina, que é superior às demais. 
Ainda, para ele, os princípios fundamentais da lei natural são 
imutáveis, mas aquelas normas secundárias variam de acordo com as 
condições do meio social, ou à medida que a humanidade vai caminhando 
para a perfeição. 
Outra idéia desenvolvida por ele foi a do Tratado da Justiça. Esta 
pode ser resumida por cinco postulados básicos, a saber: 
a essência da justiça consiste em dar a outrem o que lhe é devido, 
segundo uma igualdade; há uma justiça geral ou social, cujo 
objeto é o bem comum, e uma justiça particular, que tem por 
objeto o bem dos particulares; o fundamento das obrigações de 
justiça é a própria natureza humana; o direito é o objeto da justiça 
(MONTORO, 2005, 317p.). 
 
2. A Concepção Racionalista do Direito Natural 
Apesar de manter o nome de “direito natural”, esta concepção, que 
surge a partir do século XVII, com Rousseau, Kant, Hobbes e outros, é 
totalmente contrária à doutrina clássica de Direito Natural. 
Todos estes doutrinadores criaram sua própria teoria do direito 
natural, mas todas elas baseando-se em um ponto comum. O homem 
primitivo era livre, e deseja continuar livre. E para alcançar essa liberdade 
que lhe foi tolhida pela associação com os outros homens, ele necessita 
realizar um “contrato social”. MONTORO (2005, p. 326) complementa: 
O homem nasceu livre, mas em toda a parte ele está prisioneiro 
(...). Renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de homem e 
aos direitos da humanidade. Daí a necessidade de encontrar uma 
forma de associação em que cada um se unindo a todos não 
obedeça, entretanto, senão a si mesmo e permaneça tão livre 
como antes. 
Podemos observar, portanto, que todas as normas do ordenamento 
jurídico passam a ter o mesmo valor absoluto e universal. Não há aqui a 
distinção de lei divina, natural e positiva, proposta por Tomás de Aquino, 
tampouco a divisão da lei natural em imutável e variável. 
O direito natural, em lugar de ser um corpo restrito de princípios, a 
serem utilizados como fundamento e critério no trabalho de 
Santo Tomás 
de Aquino 
nasceu em 
1225 e 
abandonou o 
estudo de artes 
liberais e 
filosofia em 
Nápoles (Itália) 
para estudar 
Teologia na 
Universidade 
de Paris. Foi 
professor de 
teologia e 
filosofia. 
Dedicou-se 
ainda à Corte 
Papal, na Itália.
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 26 
elaboração jurídica, passa a constituir um Código completo de 
regras, que servem de modelo ao direito positivo (MONTORO, 
2005, p. 327). 
Necessário se faz uma crítica a esta concepção. O homem não é 
imutável, consequentemente, suas relações também não o são. Assim, 
como falar na existência de todo um ordenamento jurídico absolutamente 
imutável? 
Historicamente, as sociedades mudam, sofrem transformações 
profundas na maneira de pensar e agir. Portanto, não há como falar em leis 
que não se alteram. 
 
CONCLUSÃO 
Neste estudo, pudemos observar que as idéias apregoadas pelas 
correntes positivistas não são satisfatórias, uma vez que se baseiam tão 
somente na força coercitiva da norma jurídica, e deixando de lado outros 
aspectos importantes da mesma, quais sejam, a moral, e o aspecto social da 
norma. 
Outrossim, é importante esclarecer que a visão positivista (que 
estudamos no item “Direito Positivo”) do Direito contribuiu muito para o 
avanço da ciência do Direito, pois foi através das correntes positivistas que 
os ordenamentos jurídicos ganharam ordem, método e rigor científico. 
Assim é que GOUVEIA (2005) informa: 
A formalidade, a abordagem valorativa do direito, a coação, a lei 
como única fonte de qualificação do direito, a idéia imperativa da 
norma, o ordenamento jurídico, o Estado como ente maior do 
monopólio da legislação e jurisdição, enfim toda ideologia 
desenvolvida pelo direito positivo, encontram-se presentes na 
formação dos juristas pátrios que de uma forma ou de outra 
aceitam esses dogmas. 
Mas devemos observar também, que aplicação das idéias positivistas 
isoladamente, abandonam o direito ao formalismo exagerado, ao 
tradicionalismo e conservadorismo de dogmas, muitas vezes ultrapassados 
e abandonados pela sociedade, deixando o Direito ultrapassado. Isto porque 
o positivismo não considera as relações sócias em suas análises. Kelsen, 
em Teoria Pura do Direito, fez uma análise meramente formal da norma 
jurídica, no intuito de “purificar” a ciência normativa. Assim, o positivismo 
jurídico, por si só, não satisfaz os anseios sociais em busca do ordenamento 
jurídico ideal. 
O direito natural, por sua vez, analisa os fatores sociais que 
influenciam a lei. Mas é necessário diferenciar as duas concepções aqui 
trabalhadas. Enquanto na concepção clássica verificamos a existência de 
princípios naturais imutáveis, e de uma norma variável, de acordo com as 
relações sociais que se firmavam no tempo, na concepção racionalista todo 
o ordenamento jurídico era imutável. O racionalismo jurídico desconsidera 
todo o caráter da natureza humana, que é variável. A concepção clássica é a 
que se adequa melhor àrealidade do homem, uma vez que leva em 
consideração essa natureza humana. 
Mas, ainda assim, não há que se falar em utilizar a corrente positivista 
ou a corrente naturalista isoladamente, porque ambas se completam. 
Gouveia (2005) defende a idéia de que o direito positivo e o direito natural 
devem existir em consonância: 
Onde, o direito positivo busca no natural, solução para o conflito 
de normas e litígios existentes. Acredito ainda na existência de 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 27 
uma lei natural que os homens respeitam, por se tratar de 
determinadas uniformidades na conduta humana e de uma força 
divina. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
 
1. Estabeleça a diferença entre Direito Positivo e Direito Natural. 
2. Qual a importância do Direito Natural para a formação do 
conhecimento jurídico? 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. Técnica, 
decisão, dominação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
GOUVEIA, Alexandre Grassano F. Direito Natural e Direito Positivo. 
Disponível em :< http://cristianemarinho.vilabol.uol.com.br/4.html>. Acesso 
em: 21/06/2005. 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 25ª edição rev. e ampl. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. 
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 
 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS FONTES DO DIREITO 
 
OBJETIVO 
Conhecer as fontes do Direito. 
Verificar quais as fontes do direito em nosso ordenamento. 
Compreender que elas podem variar em grau de importância 
dependendo do ramo de direito que estiver sendo estudado. 
 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula conheceremos as fontes do direito, e por que assim são 
consideradas. Para tanto, precisamos primeiramente compreender o que é 
fonte de direito, e o porque da utlilização desta terminologia,. Vamos então, 
antes de conhecer especificamente as fontes do direito existentes, entender 
o que é fonte de direito. 
Após esta análise, visualisaremos a importância das fontes do direito 
para o nosso ordenamento, bem como para o ramo de direito que estiver 
sendo estudado. 
 
O QUE É FONTE DO DIREITO? 
Fonte do direito pode ser entendida como a base, o local de onde se 
origina o direito. “Fonte”, do latim “fons” ou “fontis”, significa “nascente de 
água”. Podemos observar, portanto, que se trata de uma expressão 
metafórica, como bem observa Du Pasquier, citado por Nader (2005, p. 141): 
remontar à fonte de um rio é buscar o lugar de onde suas águas 
saem da terra; do mesmo modo, inquirir sobre a fonte de uma 
regra jurídica é buscar o ponto pelo qual sai das profundidades da 
vida social para aparecer na superfície do Direito. 
E Nunes (2005, p. 71) completa: 
a fonte é reveladora do que estava oculto, daquilo que ainda não 
havia surgido, uma vez que é exatamente o ponto de passagem 
do oculto ao visível. 
Temos que a fonte do direito é a origem do mesmo, a procedência, o 
que forma sua base. 
 
ESPÉCIES DE FONTES DO DIREITO 
São várias as classificações existentes de fontes do direito. Nader 
(2004, p. 141) divide as fontes do direito em históricas, formais e materiais. 
Nunes (2005, 72p.) fala em fontes estatais e não-estatais. Reale, por sua 
vez, (1998, p. 139) afirma que a divisão de fontes em materiais e formais 
está totalmente equivocada, “tornando-se indispensável empregarmos o 
termos fonte do direito para indicar apenas os processos de produção de 
normas jurídicas”. Ele propõe uma outra classificação baseando-se na 
relação entre o direito e o poder, qual seja: 
TEMA 06
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 29 
(...) quatro são as fontes de direito, porque quatro são as formas 
de poder: o processo legislativo, expressão do Poder Legislativo; 
a jurisdição, que corresponde ao Poder Judiciário; os usos e 
costumes jurídicos, que exprimem o poder social, ou seja, o poder 
decisório anônimo do povo; e, finalmente, a fonte negocial, 
expressão do poder negocial ou da autonomia da vontade. 
Assim, para maior compreensão do estudo, discorreremos sobre 
essas duas classificações, lembrando que a classificação trabalhada por 
Montoro e Nunes são mais atuais, portanto, merecem maior destaque. 
 
FONTES FORMAIS 
Para Nader (2005, p. 142), as fontes formais “são os meios de 
expressão do Direito, as formas pelas quais as normas jurídicas se 
exteriorizam, tornam-se conhecidas”. Ou seja, o fenômeno jurídico somente 
será considerado fonte se ele possuir o poder de “criar” o direito. Assim, a 
lei, o decreto, o regulamento, o costume, a jurisprudência e a doutrina são 
fontes formais, porque dão a uma regra o caráter de direito positivo e 
obrigatório. 
 
FONTES MATERIAIS 
As fontes materiais são constituídas pelos conflitos que surgem na 
sociedade, e que são medidos pelos “fatores de direito”, como bem ensina 
Paulo Nader. Isto porque 
o Direito não é um produto arbitrário da vontade do legislador, 
mas uma criação que se lastreia no querer social. É a sociedade, 
como centro das relações de vida, como sede de acontecimentos 
que envolvem o homem, quem fornece ao legislador os elementos 
necessários à formação dos estatutos jurídicos (NADER, 2005, p. 
142). 
Portanto, são fontes materiais os valores que o direito procura realizar 
e a realidade social, porque concorrem para a formação do conteúdo ou 
matéria da norma jurídica. São fontes que não possuem o poder direto de 
criar a norma jurídica, mas que norteiam e justificam a sua criação. 
 
FONTES ESTATAIS 
Fontes estatais são as que advêm do Estado. São elas: a lei e a 
jurisprudência. Vejamos cada uma em separado. 
 
1. As Leis 
A lei “é a forma moderna de produção do Direito Positivo” (NADER, 
2005, p. 146). É, indiscutivelmente, a mais importante das fontes de Direito 
existentes no direito moderno, uma vez que é criada por órgãos especiais, 
destinados a este fim, e constituídos pelo povo, de modo a representar toda 
a sociedade. O próprio art. 5º, inciso II da Constituição Federal afirma que 
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em 
virtude de lei”; e o art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil complementa 
dizendo que somente “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de 
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”, o que 
nos revela o tamanho da importância desta fonte de direito para o nosso 
ordenamento. 
Montoro (2005, p. 383) diz que “é a lei que fixa as linhas fundamentais 
no sistema jurídico e serve de base para a solução da maior parte dos 
problemas do direito”. 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 30 
Mas “lei” pode ter diversos significados, como podemos observar nas 
seguintes sentenças: “leis de Deus”, “leis da física”, “leis do consumidor”. 
 
 
 
 
Para delimitar nosso estudo, precisamos analisar o conceito de lei me 
seus diversos sentidos. 
O primeiro aspecto que trabalharemos é o da definição etimológica da 
palavra “lei”. Neste sentido de interpretação existem três correntes que 
tentam explicar a origem da palavra “lei”. A primeira diz que vem do latim 
“legere” (ler). A segunda informa que vem do latim “eligere” que significa 
“escolher”, porque o legislador escolhe, entre todas as proposições 
normativas possíveis, uma para ser lei. E a terceira, que nos parece mais 
acertada, afirma que “lei” vem do latim “ligare” (ligar), no sentido de que 
vincula duas ou mais pessoas, a uma impondo o dever e à outra atribuindo 
poder. Como diz Tomáz de Aquino, “lei vemde ligar, porque obriga a agir” 
(NADER, 2005, p. 147). 
Em sentido amplíssimo, “lei” seria sinônimo de norma jurídica, ou 
seja, qualquer regra de conduta escrita, ou não-escrita. Assim, o costume 
também seria uma lei. Podemos dizer, então, que lei é 
a norma de conduta do homem no seu relacionamento com seus 
semelhantes, garantida pela eventual aplicação da força social, 
tendo em vista a realização da justiça (MONTORO, 2005, p. 384). 
Em sentido amplo, a palavra “lei” é utilizada para definir qualquer 
regra de conduta escrita, não se incluindo aí os costumes e a doutrina, por 
exemplo. São “leis”, portanto, a lei ordinária, o decreto e o regulamento. 
Por fim, em sentido estrito, “lei” é a norma jurídica escrita e aprovada 
pelo Poder Legislativo. Nader (2005, p. 148) afirma que lei é “o preceito 
comum e obrigatório, emanado do Poder Legislativo, no âmbito de sua 
competência”. Assim, os decretos, os regulamentos, as portarias, as 
medidas provisórias, entre outras, não são leis, porque não são elaboradas 
pelo Poder Legislativo. 
 
 
 
 
2. A Jurisprudência 
Nunes (2005, p. 87) define jurisprudência como “o conjunto das 
decisões dos tribunais a respeito do mesmo assunto”. E Nader (2005, p. 
171) completa: “reunião das decisões judiciais, interpretadoras do Direito 
vigente”. Montoro (2005, p. 410) ensina que jurisprudência é “o conjunto 
uniforme e constante de decisões judiciais sobre casos semelhantes”. 
Assim, se houver apenas uma decisão sobre uma determinada 
situação jurídica, não é jurisprudência, uma vez que esta tem como requisito 
a repetição. Faz-se necessário, portanto, a existência de vários casos 
semelhantes e, conseqüentemente, de várias decisões semelhantes. Assim, 
o conjunto dessas decisões é que forma a jurisprudência. 
Ela se coloca como fonte do direito, em grau de importância, devido a 
sua repetição longa, uniforme e constante e, ainda, porque a opinião do 
jurista é necessária. 
Então, a qual “lei” queremos 
nos referir aqui? 
Importante: para facilitar nosso estudo, na aula 7 estudaremos 
de maneira mais aprofundada a Norma Jurídica. Agora vamos 
ao estudo da Jurisprudência. 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 31 
E o próprio Supremo Tribunal Federal reconhece essa importância 
quando afirma que “a invariável seqüência dos julgamentos torna-se como 
que o suplemento da própria legislação” (Revista dos Tribunais, 199/608). 
 
FONTES NÃO-ESTATAIS 
São fontes não-estatais o costume jurídico e a doutrina. 
 
1. O Costume Jurídico 
Trata-se de uma norma não-escrita, colocada na prática longa e 
reiterada de determinado ato pela sociedade. Importante diferenciá-lo dos 
costumes de cunho moral, social e religioso (por exemplo: ir à igreja, vestir a 
roupa da moda, etc), uma vez que estes não são de cunho obrigatório como 
o é o costume jurídico. 
Nader (2005, p. 157) conclui que o costume é “uma prática gerada 
espontaneamente pela forças sociais”. E continua: ”a formação do costume 
é lenta e decorre da necessidade social de fórmulas práticas para 
resolverem problemas em jogo”. 
Montoro (2005, p. 405) afirma que o costume 
é a norma jurídica que resulta de uma prática geral, constante e 
prolongada, observada com a convicção de que é juridicamente 
obrigatória (...) relativa a determinada situação de fato e 
observada com a convicção de corresponder a uma necessidade 
jurídica. 
Tal fonte do direito tem, antes de mais nada, uma importância 
histórica, visto que foi a fonte originária de todo o direito. O costume é a 
fonte de Direito mais antiga existente. Ainda hoje é considerada fonte de 
direito, embora seu grau de importância seja ditado pela matéria tratada (ex: 
o direito comercial tem o costume como fonte primária) e do sistema jurídico 
adotado pelo Estado (ex: nos EUA, o sistema jurídico é o consuetudinário, 
que se baseia principalmente nos costumes jurídicos). 
 
2. A Doutrina 
A doutrina é considerada fonte de direito, uma vez que é capaz de 
investigar, analisar o ordenamento jurídico de uma determinada sociedade, 
localizada no tempo e no espaço, de maneira crítica, independente e com 
rigor científico. Montoro (2005, p. 415) afirma que 
a doutrina é o estudo de caráter científico que os juristas realizam 
a respeito do direito, seja com o propósito puramente especulativo 
de conhecimento e sistematização, seja com a finalidade prática 
de interpretar as normas jurídicas para sua exata aplicação. 
Nunes (2005, p. 103), concordando com esta definição, afirma que 
doutrina “é o resultado do estudo que pensadores – juristas e filósofos do 
Direito – fazem a respeito do Direito”. 
A doutrina é importante fonte do direito, não só para a elaboração da 
norma jurídica, mas também para a sua interpretação e aplicação. 
 
CONCLUSÃO 
Podemos concluir que as fontes do direito são de grande valia para a 
formação do ordenamento jurídico de um determinado grupo social, bem 
como para a sua interpretação e conseqüente aplicação. 
Isto porque a lei, por si só, não consegue solucionar todos os casos. 
Assim, necessário se faz recorrer a outros meios complementares, mas não 
menos importantes do que a lei, quais sejam, os costumes jurídicos, a 
Sistema 
Consuetudinário: 
é o sistema 
jurídico que adota 
os costumes 
jurídicos como 
principal fonte de 
Direito. Neste, 
não há 
codificações, ou 
seja, não há 
códigos escritos, 
com ovemos no 
nosso sistema 
jurídico (Código 
Civil, Código 
Penal etc.). Existe 
apenas algumas 
leis esparsas e a 
maioria dos casos 
concretos é 
decidido 
baseando-se nos 
costumes 
jurídicos daquela 
sociedade e das 
jurisprudências. 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 32 
Doutrina e a Jurisprudência. São estes em conjunto que irão formar a 
opinião do jurista, para que ele alcance uma decisão mais próxima da justiça 
para o caso concreto. 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Relacione quais são as fontes formais e quais são as fontes materiais, 
destacando a importância de cada uma delas para o ordenamento jurídico. 
Por que o nosso ordenamento jurídico recorre às fontes do Direito se 
ele já possui inúmeras leis vigentes, com regras apontadas para a solução 
do caso concreto? 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. Técnica, 
decisão, dominação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 26ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 25ª edição rev. e ampl. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. 
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 5ª ed. rev. e 
ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. 
EaD UNITINS – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 
 33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A NORMA JURÍDICA 
 
 
OBJETIVO 
Entender o que é norma jurídica e o que é lei. 
Relacionar os tipos de norma jurídica. 
Classificar a norma jurídica. 
 
INTRODUÇÃO 
Vimos que a sociedade organizada necessita estabelecer regras de 
conduta com força coercitiva, baseada nas relações sociais, a fim de 
proporcionar o bom convívio social. 
Para tanto, é necessário que exista todo um conjunto de regras, as 
quais denominamos “normas jurídicas”. 
 
 
 
 
É o que vamos esclarecer nesta aula. 
 
A NORMA JURÍDICA 
A norma jurídica é a regra criada para regular a conduta social. 
Montoro (2005, p. 361) afirma que o objetivo da norma jurídica é regular a 
atividade dos homens em suas relações sociais. Norma jurídica é, portanto, 
gênero, já a lei é espécie. 
São também espécies de norma jurídica, além da lei, os costumes e a 
jurisprudência. Mas a norma jurídica é sempre acompanhada de uma força 
coercitiva que a faz ser exigível.

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