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RESENHA O ARCO E O CESTO

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
Escola de Serviço Social 
Introdução a Filosofia – 1º Período
Prof. Eduardo Cruz
Andrieli Cristina Farias de Araujo
O Arco e o Cesto
CLASTRES, em o Arco e o Cesto, relata como é a cultura da tribo Guayaki. Existe uma forte divisão de trabalho na tribo entre homens e mulheres. De modo que o trabalho, que pela tribo é considerado pesado, por exigir um forte esforço físico fica a cargo dos homens. Estes são os produtores, e por isso tem a função de caçar e coletar. São responsáveis por colher o alimento na selva. Já as mulheres, por não poderem exercer trabalho braçal ficam responsáveis pelo acampamento, são elas que cozinham e cuidam das crianças. De tal forma que nenhum pode invadir o espaço do outro, os homens pertencem a selva assim como as mulheres ao acampamento.
“Existe entre os Guayaki um espaço masculino e um espaço feminino, respectivamente definidos pela floresta onde os homens caçam e pelo acampamento onde reinam as mulheres.”
Os objetos, o Arco e o Cesto servem para reforçar a ideia dos sexos. O arco é o único utensílio que vai acompanhar o homem até o final de sua vida, ele o faz após o ritual de passagem. Em tal ritual, o então agora homem, aprende as doutrinas da tribo, o ato de sentir dor faz com que cristalize o que ele aprendeu. Então ele mesmo produz seu arco, e torna-se então um verdadeiro caçador. 
O cesto, Utensílio das mulheres, já começa a ser reproduzidos em sua infância, ao observar sua mãe, as pequenas já o reproduzem. Após sua primeira menstruação, por volta dos 12, 13 anos elas também passam por um ritual de passagem, o qual sanciona sua feminilidade. Assim elas já produzem seu cesto, peça fundamental para sua participação na tribo.
“E cada um dos dois, rapaz e rapariga, ao mesmo tempo senhores e prisioneiros, um da cesta, o outro do arco, acede assim à idade adulta.”
Se um homem toca o cesto de uma mulher, ele será amaldiçoado, e sua caça ira ser prejudicada chamada de pané pela tribo. E ainda tem a vergonha, nenhum índio Guayaki aceitaria passar pela vergonha de ter carregado ou tocado em um cesto. As mulheres provocariam uma maldição até pior, caso tocassem no arco do homem. Esse perderia sua própria natureza, que é a caça tornando-se incapaz de cumprir sua função. Em um sistema de proibição recíproca. 
“Um caçador não suportaria vergonha de transportar uma cesta enquanto que a mulher temeria tocar o arco.”
Existe uma forte divisão sexual na hora do canto, as mulheres são proibidas de cantarem sobre coisas boas, felizes. Suas manifestações artísticas acontecem em som de lamentação, como se elas chorassem. São cantigas que já existiam e por isso, elas só as reproduzem. Já os homens, são os únicos que possuem a liberdade de criação, sendo assim, só fala pra si, exaltando seus feitos dentro da selva. São cantigas totalmente individualistas. 
“ único elemento realmente ‘’produtor‘’ da sociedade Guayaki, o caçador tem no plano da linguagem uma liberdade de criação que a situação de ‘’grupo consumidor ‘’ proíbe ás mulheres.”
O homem é proibido de consumir o produto de sua caça, pois isso pode lhe trazer malefícios, como a pané, para que isso não ocorra, os caçadores redistribuem entre si a caça. Acreditam que forçando o homem a se separar de sua caça ira fazer com que ele confie no outro, pois cria um processo de dependência mutua. Esse é o primeiro suporte fundamental para a afirmação da cultura dos Guayakis: A troca de bens.
Com o tempo, percebeu-se que havia um excesso de homens em relação as mulheres. Foi preciso recorrer a um novo método, para que tal excesso não ocasionasse a extinção da tribo. Foi então que instituíram um sistema poliândrico. Nele as mulheres poderiam ter mais de um marido, assim, os homens da tribo tinham também como obrigação dividir suas mulheres com outros homens da tribo. Esse é o segundo suporte fundamental: A troca das esposas.
O índio Guayaki nunca viu a troca de alimentos como uma obrigação, não via tal atitude como algo que lhe foi instituído. Era algo necessário para impedir o pane. Já o ato de “trocar” sua esposa com outro era algo que ele tomava como obrigação. Não se sentia confortável para fazê-lo, mas era seu dever e assim o cumpria. 
“a dádiva da caça e a partilha das mulheres remetem respectivamente para dois dos três suportes fundamentais sobre que repousa o edifício da cultura: a troca dos bens e a troca das mulheres.”
Durante o canto os homens não usam o sinal da linguagem somente para a comunicação, usam para valorizar seu Ego. As palavras deixam de ser só palavras e passam a ter valor. Sendo assim o canto é usado para fugir da vida social, e recusar as trocas que lhe são impostas.
 “Do canto de alguns selvagens ensina-nos que na verdade se trata de um canto geral e que nele se acorda o sonho universal de não ser mais aquilo que se é.”
Percebe-se que na tribo a sociedade ocorre sem o poder coercitivo. As ordens acontecem por um mecanismo político. Como a chefia que se utiliza de palavras apaziguadoras.

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