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Cardeno de Civil III - Prof. Flávio

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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
	Conteúdo que será dado em Civil III:
- Manifestações de vontade
- Contratos:
	- Formação dos contratos
	- Proteção do devedor
	- Limites da autonomia privada
	- Contratos em favor de terceiros
	- Fonte e conteúdo dos deveres contratuais
	- Remédios cabíveis ao credor em caso de descumprimento
	Obs.: Estrutura do CC
	- Parte Geral (Negócio Jurídico)
	- Parte Especial (Livro do Direito das Obrigações)
		- Parte geral
		- Parte especial (contratos)
	Obs. 2: há 3 maneiras de surgirem obrigações para o CC 2002:
	- manifestação de vontade (contratos);
	- responsabilidade civil (ato contrário ao direito);
	- enriquecimento sem causa.
	Em regra, todas as normas do Título I ao IV do Livro I do CC aplicam-se a todas as obrigações, independentemente da fonte da obrigação.
	Algumas dessas normas são voltadas para as obrigações oriundas dos contratos, principalmente as normas do título III e IV. Ex.: cláusula penal (título IV) – surge uma manifestação de vontade na qual as partes acordam que se houver descumprimento da obrigação haverá uma multa. Como a cláusula penal depende da manifestação de vontade, ela estaria mais bem localizada na Parte dos Contratos, uma vez que não se aplica às outras formas de obrigação.
	Assim, a cláusula penal deveria ser inserida na categoria dos “remédios cabíveis ao credor em caso de descumprimento”, na qual se inclui a resolução do contrato, o abatimento de preço, etc. A cláusula penal é uma indenização pré-tarifada.
- Outro ponto: “imputação do devedor em caso de descumprimento contratual”
	Não basta apenas o descumprimento do contrato pelo devedor para que este seja responsabilizado. O credor não pode imputar a falta ao devedor.
	Essa responsabilização está prevista no art. 392, CC. Este artigo está no Título IV do CC, na Parte Geral das Obrigações. Ele deveria estar no Título V, na Parte Geral dos Contratos.
	Esse art. 392, CC deveria ser inserido na categoria dos “remédios cabíveis ao credor em caso de descumprimento.
	Outras formas de imputação ao devedor em caso de descumprimento, além do art. 392, CC, estão previstos nos arts. 186, 187 e 927, CC.
- CC, art. 927 – trata de indenizações em caso de culpa.
	O § u trata nos casos de dolo.
	Os critérios de imputação são variados (dolo e culpa). Assim, esses critérios não poderiam estar previstos na Parte Geral das Obrigações, mas sim na Parte Especial. Isso porque não é possível defini-los a partir da fonte da obrigação.
	Isso mostra que as normas que regulam os contratos não estão concentradas no CC. Sua distribuição não foi a melhor possível.
	Uma boa técnica legislativa é a “resolução por onerosidade excessiva” (arts. 478 a 480, CC), que está dentro da Parte dos Contratos e pode ser aplicada eventualmente nos negócios jurídicos, mas por ser aplicada em sua maioria nos contratos, foi inserida na parte que trata destes.
	Estrutura do CC:
- Parte Especial do CC
	- Livro do Direito das obrigações
		- Parte Geral
		- Parte Especial
			- Contratos em geral
				- Disposições gerais
				- Formação dos contratos
				- Estipulação em favor de terceiros
				- Vícios redibitórios e evicção
				- Da extinção do contrato
				- Cláusulas resolutivas
				- exceção de contrato não cumprido
				- resolução por onerosidade excessiva
- “Exceção de contrato não cumprido” (CC, arts. 476 e 477) – provoca a extinção do contrato? Não! De acordo com o art. 477, ela suspende temporariamente o dever de uma das partes de cumprir sua obrigação enquanto a outra parte não cumpria sua obrigação. É uma falha sistemática do CC.
	Mas essa falha foi inevitável para o legislador, porque ele precisava colocar isso em algum lugar e o melhor lugar que tinha era na parte “Da extinção do Contrato”. Isso porque o art. 475, CC já mencionava 3 remédios cabíveis ao credor em caso de descumprimento pelo devedor:
	- resolução do contrato;
	- exigir o cumprimento;
	- indenização
	Aqui o legislador não mencionou todos os remédios que o credor tem a sua disposição (não foi taxativo). Assim, o melhor lugar encontrado pelo legislador para dispor sobre “exceção de contrato não cumprido” foi depois do art. 475.
Manifestação de Vontade
- Contagem de prazos
- CC, art. 132 – o prazo aqui é genérico (não há um tipo de prazo). Serve para qualquer prazo. O erro do art. 132 é não definir qual o dia do começo do prazo, que pode ser o dia em que foi feito o documento, o dia em que o documento foi assinado, o dia em que chegou ao destinatário, o dia em que o destinatário tomou ciência, etc.. Não há, portanto, definição do dia do começo.
	A regra do art. 132, CC é supletiva, ou seja, só é aplicada quando os contratantes não determinarem prazo específico. O art. 132 é uma regra dispositiva, ou seja, pode ser rejeitada, modificada (ao contrário das regras cogentes).
PROBLEMA: qual é a data de início?
Ex.: Digamos que no dia 5 o proponente emita uma proposta. No dia 8 ele a coloca no correio, enviando para o aceitante. No dia 10 a proposta chega à caixa de correio do destinatário. No dia 12, este toma ciência da proposta.
	Da leitura do CC 2002 dá para entender que a data de início para contagem de prazo no caso dos contratos é na data em que o documento chega ao destinatário (data em que o documento é colocado na caixa do correio). Portanto, no dia em que o destinatário recebe a correspondência, começa a contar a data de início, independentemente se há ou não ciência (tese do professor).
	Há uma lacuna no art. 132, CC. Engraçado é que ele é uma regra supletiva e acaba sendo controverso. Na prática, o juiz vai ter que tomar uma decisão (proibição do non liquet).
- Momento em que a manifestação produz efeitos em relação ao declarante e ao declaratário
	Esses efeitos podem ser alguns ou todos aqueles [efeitos] decorrentes de uma manifestação de vontade.
	Primeiro vamos entender a “proposta contratual”. Esta pode ser revogável ou irrevogável.
	Digamos que o proponente tenha feito uma proposta contratual na qual o aceitante tinha um prazo (do dia 5 ao dia 15). O proponente pode revogar a proposta contratual a qualquer momento dentro do prazo estipulado. Suponhamos que a aceitação aconteça no dia 8, no dia 9 o proponente decide revogar a proposta contratual. Qual o momento em que a aceitação produz efeitos ao proponente?
	
	É preciso saber os efeitos da aceitação:
	- a aceitação impede o proponente de revogar a proposta;
	- a aceitação obriga as partes a formar o contrato e cumpri-lo.
	Aqui a manifestação de vontade produz diferentes efeitos em diferentes momentos no tempo. A aceitação produz efeitos no dia 8 e no dia 15: a emissão da aceitação no dia 8 faz com que o proponente fique obrigado a realizar o contrato; ao final do prazo estipulado pelo proponente (dia 15), a aceitação gera a formação do contrato e obriga as partes a cumpri-lo.
	Entretanto, via de regra, as manifestações de vontade geram todos os efeitos num mesmo momento do tempo. O normal é que as manifestações de vontade gerem efeitos a partir do momento em que o documento chegue ao destinatário.
	Obs.: Retratação – impede que a manifestação de vontade comece a surtir efeitos. É feita antes que a proposta comece a gerar efeitos.
Revogação – os efeitos já existem e acontecem a cessação desses efeitos.
	No exemplo, antes do dia 5 o declarante pode se retratar (antes da proposta chegar ao endereço do aceitante). Talvez seja possível a revogação depois desta data, mas com certeza não caberá mais a retratação.
	OBS.: Em geral, as manifestações de vontade são retratáveis e irrevogáveis.
	Vamos analisar dentro dos contratos. No exemplo em que no dia 8 foi emitida a aceitação e no dia 11 a aceitação chegou ao endereço do proponente, o declaratário tem até o dia 11 para se retratar (pois neste dia 11 iria se formar o contrato).
	Depois que houvea formação do contrato, este não pode ser desfeito, devido ao princípio do pacta sunt servanda. Claro que há exceções.
REGRA GERAL:
o momento em que a manifestação produz efeitos em relação ao declarante é o recebimento da proposta pelo declaratário;
o momento em que a manifestação produz efeitos em relação ao declaratário é o recebimento da declaração pelo declaratário (igual). Com exceção tem-se no momento em que a declaração é emitida.
	Essa parte deveria estar na regra geral dos negócios jurídicos. Mas não está.
	Os arts. 428 e 433, CC estabelecem as regras sobre os efeitos da manifestação de vontade:
- CC, art. 428, IV – estabelece a possibilidade de retratação pelo proponente
	Infere-se deste artigo que a retratação produz efeitos a partir do momento em que chega ao destinatário.
- CC, art. 434 – estabelece que os contratos são formados (“tornam-se perfeitos”) no momento que a aceitação é expedida.
	Mas o inciso I desmente isso porque admite a retratação. O inciso II estabelece um acordo entre as partes. O inciso III diz que não vai formar o contrato se a aceitação chegar a outra parte fora do prazo convencionado.
	A partir da aceitação pelo declaratário, a manifestação se torna irrevogável pelo declarante, que não mais pode se retratar. O contrato só vai ser formado se a aceitação chegar dentro do prazo convencionado e não houver retratação por parte do declaratário.
	O legislador consagrou a possibilidade de retratação da proposta (art. 428, IV, CC) e de retratação da aceitação (art. 433 c/c art. 434, I, CC).
- EFEITOS DA ACEITAÇÃO:
gera o impedimento ao declarante de se retratar e o obriga a cumprir sua manifestação de vontade;
gera o direito do declaratário de ao aceitar a proposta e formar o contrato, obrigar o declarante a cumprir o que prometeu (obriga a si próprio também quando aceitação chegar ao declarante sem que haja retratação);
se a proposta for qualificada como revogável, a emissão da aceitação impede a revogação pelo proponente.
	Bastava uma única regra na Parte Geral dos Negócios Jurídicos para regular isso. Mas o legislador colocou na Parte de Formação dos Contratos, o que a torna específica. Isso porque os efeitos valem para toda manifestação de vontade, e não somente nos contratos (uma das espécies de manifestação de vontade).
REGIME JURÍDICO DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
	
	O regime de formação dos contratos do CC de 2002 segue o regime do CC de 1916. Assim, deixou de regular alguns tipos de contratos, como o contrato de massa e o contrato-tipo.
	O regime de formação dos contratos do CC de 2002 baseia-se num modelo [de formação de contratos] empírico, que é como os contratos acontecem na realidade. Porém, no dia a dia, existem outros modelos de contratos que ainda não passaram a ser modelos jurídicos (não tiveram ainda uma regulamentação jurídica).
	O modelo empírico adotado pelo CC pressupõe que o contrato seja formado por meio de uma proposta, seguida de aceitação, sem muita interação entre os contratantes. Porém, muitas vezes, há discussões preliminares que precedem a formação do contrato, saindo do modelo empírico adotado.
	O CC pressupõe que a aceitação é um mero espelho (reflexo) da proposta. E isso, às vezes, não acontece, por ex, contrato entre grandes empresas: há discussões e divergências entre proposta e aceitação.
	Como exemplo, o CC é baseado em contatos como aqueles que fazemos quando vamos instalar um programa no computador e aparece aquele “eu aceito”. A proposta já está ali, fixa, e a aceitação é espelho da proposta (sem divergência). Outro exemplo: contrato de adesão – não vemos uma divergência entre os termos da proposta e os da aceitação.
	Mas, hoje, a formação dos contatos pode se dar de forma dinâmica, dialogada, discutida, por ex, entre grandes empresas. A formação desses tipos de contratos não se dá de forma individualizada, unilateral.
	Existem, portanto, modelos empíricos de formação de contratos que o legislador não tratou de regulá-los. Devemos nos ater para isso, percebendo que o CC contém regras baseadas em um modelo empírico fixo, às vezes não condizente com a realidade.
Formação dos Contratos
- Parte geral: consenso
- Conteúdo mínimo do acordo
- Equivalência entre o conteúdo da proposta e da aceitação
- Disponibilidade dos termos contratuais antes da formação
	Vamos analisar as regras comuns que se aplicam aos vários modelos específicos de formação de contrato, inclusive aquele modelo específico disciplinado no art. 427 a 435, CC. Essas regras não estão no CC. São estabelecidas pela doutrina e pela jurisprudência. 
Para saber se há ou não a formação do contrato, é preciso saber se há consenso entre os contratantes. Esse consenso é visto pelo direito de forma binária (sim ou não)? No modelo empírico seria de forma binária (ou tem consenso ou não). Porém, num modelo genérico devemos entender que o consenso é gradual. Há graus de consenso.
Deve-se perguntar: qual é o grau de consenso satisfatório para se formar um contrato? A resposta depende de 3 fatores:
- CONTEÚDO MÍNIMO DE ACORDO – deve haver um consenso mínimo, ou seja, as partes devem compartilhar de sentimentos idênticos (ainda que mínimos) para formar um contrato.
- EQUIVALÊNCIA ENTRE O CONTEÚDO DA PROPOSTA E DA ACEITAÇÃO – devemos saber qual é o grau de equivalência do conteúdo da proposta e da aceitação capaz de formar um contrato.
- DISPONIBLIDADE DOS TERMOS CONTRATUAIS ANTES DA FORMAÇÃO DO CONTRATO – dependendo do tipo de contrato, não se exige todos os termos contratuais para a formação do contrato. É preciso, então, estabelecer quais são os termos essenciais que ensejam a formação do contrato, bem como aqueles termos acessórios, que não precisam estar presentes para a formação do contrato. Ex : num contrato de compra/venda de passagem área por telefone – muitos termos contratuais que, a princípio, devem estar presentes num contrato, não serão presentes, mas mesmo assim haverá a formação do contrato.
	OBS.: Proposta – é um negócio jurídico pelo qual uma parte concede a outra o poder de se vincular a ela com a aceitação.
Ex de contrato sem proposta: um terceiro cria um documento (minuta) com a ideia de um contrato. Aí as partes assinam esse documento, dando formação de um contrato. Não houve aqui proposta e nem aceitação.
Ex 2: representação convencional (como procuração de um advogado) não é possível identificar uma proposta e/ou uma aceitação.
	OBS.: Consenso é diferente de Consentimento
	Consenso é o mutuo consentimento ou assentimento. É uma noção bilateral.
	Consentimento é uma noção unilateral.
	Será que um consentimento genérico é capaz de formar um contrato? Ex: João faz uma proposta para Zé e diz que haverá termos adicionais. Zé diz que consente com estes termos, que são genéricos. Esse consentimento basta?
	Para haver consenso suficiente para a formação do contrato, deve haver um duplo consentimento (bilateralidade) inequívoco, válido, forte.
	Vamos analisar os 3 aspectos mais detalhadamente:
1.1) CONTEÚDO MÍNIMO DO ACORDO
	A maioria dos autores diz que o conteúdo da proposta deve ser certo, preciso. Eles dizem isso no sentido de que deve haver um conteúdo mínimo capaz de formar um contrato válido. Esse conteúdo mínimo deve ser claro, preciso para dar as partes o conhecimento das obrigações decorrentes do contrato.
	Um macete para conhecer esse conteúdo mínimo é responder: o juiz condenaria as partes se houvesse descumprimento do contrato? Se sim, o contrato possui o conteúdo mínimo.
	Uma outra análise é entender que esse conteúdo mínimo varia de acordo com o tipo e a complexidade do contrato, pois só analisando esses dois fatores é possível determinar quais termos são essenciais para formar um contrato. Ex: Compra/venda de uma coxinha é diferente compra/venda de um avião.
	Não existe uma regulamentação sobre os termos essenciais. 
	A noção de termos essenciais não se confunde com o objeto do negóciojurídico (como o contrato).
	OBS.: CC, art. 104 – validade do negócio.
	Pode haver pontos comuns entre termos essenciais e o objeto do contrato. Ex: objeto de um contrato de compra/venda: o preço e o bem. Pode ser que os termos essenciais sejam o preço e o bem, mas, dependendo do tipo e da complexidade do contrato, sejam exigidos outros termos como esssenciais.
	Portanto, para que os contratantes cheguem a um conteúdo mínimo de acordo devem as partes entrarem num consenso (bilateralidade) sobre os termos essenciais de um contrato.
1.2) EQUIVALÊNCIA ENTRE O CONTEÚDO DA PROPOSTA E DA ACEITAÇÃO
	Será que pode haver divergência entre o conteúdo da proposta e o da aceitação?
	Aqui é preciso diferenciar o modelo tradicional de formação de contrato e os modelos atuais (que não houve regulamentação). Naquele se exige uma correta equivalência entre os conteúdos da proposta e da aceitação; nestes não se exige tal equivalência.
	Em alguns modelos atuais já existe a possibilidade de proposta e aceitação serem divergentes, como, por ex, em alguns casos o aceitante pode incluir na aceitação algumas regras do ordenamento que não foram levantadas na proposta.
	Nestes casos, devemos entender que há apenas uma divergência formal, ou seja, apenas há termos que existem na proposta que não existem na aceitação e vice-versa. Entretanto, não há uma divergência material, em que o conteúdo da proposta e da aceitação são conflitantes, de modo a impedir a formação de um consenso mínimo que possa formar um contrato.
	Se o aceitante acrescenta termos benéficos ao proponente na aceitação, isso também é uma divergência formal, mas não material. Não impede, pois, a formação do contrato.
	O CC/2002 não diz expressamente essas 2 exceções (incluir regras do ordenamento ou incluir termos benéficos ao proponente) a respeito da possibilidade de divergência [formal] entre os contratantes. Contudo, a jurisprudência já as prevê. 
	Mas, implicitamente, é possível deduzir essas exceções. Devemos entender o caráter finalístico do CC: a autonomia privada. Nessas exceções, os contratantes não deixam de exercer a autonomia privada: eles aceitam-nas porque querem, ignorando a divergência entre proposta e aceitação.
	Nos modelos atuais de contrato (nos quais há condições gerais de negócio), nos quais pode haver divergências entre os contratantes, não há violação a autonomia privada, pois os contratantes não dão importância para as questões controversas.
	O que são condições gerais de negócio? São regras genéricas que compõem o contrato (normalmente entre grandes empresas). Não há nesses modelos atuais regras específicas para reger o contrato. Devemos entender que os contratantes ignoram essa especificidade, exercendo sua autonomia privada.
- CC, art. 431 – será que deve ser seguido a risca? Ou pode haver flexibilização, como, por ex, quando o aceitante adiciona dispositivos da lei na aceitação? Será que é preciso encarar como uma nova proposta ou pode encarar que se o proponente (inicial) aceitar, essa adição será válida? O mais adequado parece ser a segunda hipótese, pois, na prática, não há uma “nova proposta”, mas apenas uma adequação entre proposta e aceitação, na qual os contratantes estão apenas exercendo livremente sua autonomia privada.
1.3) DISPONIBILIDADE DOS TERMOS CONTRATUAIS ANTES DA FORMAÇÃO DO CONTRATO
	Será que quando o aceitante dá um assentimento genérico (aceita termos que ainda não foram revelados), será válido para a formação do contrato? Um jurista norte-americano diz que é válido desde que esses termos adicionais não sejam abusivos e nem inesperados.
	Há discussões sobre o tema. Uma das teses é que deve haver na proposta uma advertência a respeito dos termos que não estão a disposição dos contratantes. Esta advertência deve ser específica. A ideia dessa advertência busca garantir a possibilidade do consentimento genérico.
	Ex: TJMG – um indivíduo fez um contrato de seguro-desemprego com uma seguradora. Esse contrato foi feito por um representante. O indivíduo sabia de alguns termos (quanto pagaria por mês, quanto receberia). Mas alguns termos não foram apresentados, como a exigência de que esse indivíduo ficasse empregado por 12 meses depois de feito o contrato (carência). O indivíduo foi demitido depois de 6 meses. A seguradora alegou que havia aquele termo de exigência no contrato. Quando o indivíduo aceitou a proposta, ele deu um consentimento genérico.
	Segundo nossa aula, quem tem razão é o segurado, pois a advertência sobre a existência de outros termos não foi precisa, clara, específica. O juiz, porém, deu ganho de causa à seguradora, entendendo que era presumível que o segurado tivesse recebido as condições gerais de negócio, pois assinou a proposta e sabia da possibilidade de ligar para esclarecer dúvidas. A decisão fere a inversão do ônus da prova prevista no CDC. Ao invés da seguradora provar que o sentenciado recebeu os termos, coube a este provar que não recebeu. Além disso, contraria essa ideia vista na aula de que os termos acessórios não devem ser abusivos ou inesperados.
Negociações prolongadas ou dinâmicas
	Vamos ver 3 problemas típicos que ocorrem na formação dos contratos. Mas há outros problemas.
	
2.1) Conteúdo mínimo de acordo
	É uma modificação da regra do conteúdo mínimo da formação dos contratos, segundo a qual as partes devem chegar a um acordo quanto aos termos essenciais (que são variáveis).
	Aqui as partes continuam a ter que chegar nesse acordo, mas devem chegar a acordos secundários quanto a determinado termo que uma ou ambas as partes alegam durante o processo de negociação.
	Ex: contrato compra/venda – normalmente o local é um termo secundário, que pode até ser preenchido pelo CC 2002. Mas digamos que uma das partes diz que não há acordo enquanto não se definir o local de pagamento. Assim, esse termo, neste caso, deixa de ser secundário e passa a ter uma importância maior.
	Essa regra não tem previsão no CC 2002. Entretanto, ela está implícita no ordenamento, decorrente do respeito ao p. da autonomia privada, pois o contrato não deve ser tido como realizado até que as partes se manifestem.
	A jurisprudência italiana adotou essa regra, que não está na lei. Assim, a jurisprudência entende que se durante a formação dos contratos (processo de negociação) as partes não disserem nada sobre os termos secundários, para formar o contrato apenas se deve ter acordo entre os termos essenciais. Porém, se alguma das partes mencionar os termos secundários, estes, em princípio, devem ter consenso. Em princípio porque se a(s) parte(s) mencionarem os termos secundários, mas durante o processo de negociação ela(s) não dão importância a esses termos, entende a jurisprudência que o acordo deve se dar apenas sobre os termos essenciais, as partes não podem alegar depois que houve questionamento. Isso se deve ao respeito ao p. da boa-fé e ao p. do venire contra factum proprium, que proíbe condutas contraditórias.
	Dentro do modelo de contrato proposto pelo CC, não há esse problema de acordos por termos secundários, pois o CC vê a formação de contratos como algo estático, em que se faz a proposta e a outra parte aceita ou não essa proposta. Não a interação entre os contratantes. Entretanto, essa visão do CC não condiz com a realidade, pois nesta há esse tipo de problema mencionado.
	OBS.: não há critério objetivo para definir o que é termo essencial e o que é termo secundário. Vai depender de como o intérprete interpreta o ordenamento e o contrato em análise.
2.2) Efeitos da cláusula de “integralidade”
	CLÁUSULA DE INTEGRALIDADE – é uma cláusula que diz que todos os acordos (entendimentos anteriores) à minuta (redação) final do contrato que não foram colocados nela, não pertencem ao contrato. Assim, a inserção dessa cláusula faz com que as partes só possam questionar os termos do contrato definitivo (não podem discutir os contratos, acordos preliminares).
	O contrato é uma manifestação de vontade quanto ao cumprimentode determinados termos e condições. Será materializado por meio de um documento escrito, por ex.
	Pode ser que antes da formação do contrato definitivo haja várias negociações, com varias minutas que foram sendo feitas paulatinamente até o contrato definitivo. No final, por ex, as partes podem redigir um documento único que, teoricamente, engloba todos os termos essenciais e secundários necessários para o contrato. Mas pode ser que as partes tenham se esquecido de redigir neste documento uma determinada condição que fora anteriormente discutida (naquelas minutas). E digamos que neste documento final haja expressamente uma cláusula de integralidade.
	Temos aqui um problema: quais os efeitos dessa cláusula de integralidade? Ela impedirá que aquela condição esquecida, mas já discutida, seja observada?
	É uma questão difícil de ser resolver. Isso porque será que a inserção da cláusula de integralidade foi colocada no contrato de forma intencional a não admitir acordos anteriores, ou será que essa inserção se deu por ser uma prática recorrente na elaboração de contratos e as partes seguirem o costume?
	Na prática, os ordenamentos avaliam se a cláusula de integralidade foi colocada com a manifestação de vontade de todos os contratantes, ou se apenas uma das partes teve a intenção de colocá-la (as chamadas condições gerais de negócio). No primeiro caso, aplica-se a cláusula. Já no segundo caso, ela é ignorada.
	O juiz presume que a cláusula de integralidade é válida se não houver provas robustas que comprovem que pelo menos uma das partes não tinha a completa intenção de inserir tal cláusula. Se houver essa prova, a cláusula é afastada e insere-se o termo que antes fora discutido, em estrito cumprimento ao dever de lealdade decorrente do p. da boa-fé.
	A jurisprudência vê com ceticismo (dúvida) a existência da cláusula de integralidade. Ela avalia se no caso concreto a cláusula mostra-se abusiva e, em caso afirmativo, acaba afastando-a.
	A existência da cláusula de integralidade tem relação com a interpretação dos contratos, uma vez que vai existir num mesmo contrato cláusulas até mesmo contraditórias. É preciso que exista uma interpretação do contrato no sentido de se avaliar qual cláusula prevalecerá. E isso dependerá da interpretação do aplicador a partir de seu sopesamento entre os princípios existentes no ordenamento.
	Os efeitos da cláusula de integralidade são um problema para o CC 2002, porque este não prevê uma grande interação entre as partes, não prevê acordos prévios para depois se chegar a um acordo final. O modelo do CC 2002 é que as partes se manifestam uma única vez (ou poucas vezes) e não há uma discussão para negociar o contrato. As regras do CC são feitas para o modelo não dinâmico (estático) e, por isso, para o CC a cláusula de integralidade deve ser cumprida. Mas, observando os princípios do ordenamento, podemos flexibilizar esse pensamento.
2.3) O problema da responsabilidade civil pré-contratual
	Será que uma ou ambas as partes deve ser responsabilizada(s) pelo não cumprimento do contrato?
	Ex: as negociações acontecem, uma das partes faz investimentos, gastos, e depois não há o cumprimento desse contrato.
	Segundo o art. 422, CC, durante a conclusão do contrato (início das negociações até a conclusão) os contratantes devem observar os princípios da probidade e da boa-fé.
	Mas essa regra é genérica. O legislador não disse se uma das partes desistir de firmar o contrato e isso resultar em perdas para a outra parte, será responsabilizada por essas perdas.
	Isso, então, ficou a cargo da jurisprudência. Os tribunais dizem que não se pode estabelecer uma regra fixa de que sempre haverá a responsabilidade pré-contratual. Deve haver uma flexibilidade na decisão.
	Ex 1: eu vou à feira e pergunto o preço do peixe, o vendedor fala o preço, eu agradeço e viro as costas. Aí ele alega que eu não posso fazer isso porque eu dei início às negociações do contrato.
	Esse exemplo mostra que não pode haver uma regra fixa, pois caso houvesse geraria um sentimento de medo nas partes de iniciarem as negociações de um contrato.
	O ordenamento deve chegar a um ponto de equilíbrio para que as partes possam estabelecer contratos, e ao mesmo tempo para que elas tenham liberdade de desistir do contrato.
	O ordenamento deve servir como um seguro para uma das partes, de modo que uma das partes não seja prejudicada pela outra parte que agiu de forma a criar a real expectativa que haveria a formação de um contrato.
- CASOS EM QUE A RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL NÀO É TUTELADA PELO ORDENAMENTO
	Ex: eu vou fazer um contrato para fazer convite de casamento com uma gráfica. Neste contrato, em geral, a gráfica compromete-se a mandar um projeto do convite para mim sem nenhum custo. A gráfica já tem um gasto pré-contratual que não será defendido pelo direito. Ela já faz uma estatística de quantos projetos são feitos e quantos dentre estes viram um contrato e, por isso, diluem os gastos nesses contratos.
	Não haverá uma responsabilidade pré-contratual para mim. A gráfica, no exemplo acima, não precisa de um “seguro” do ordenamento, pois ela já prevê os possíveis prejuízos que terá pela não conclusão das negociações preliminares em contratos definitivos.
- CASO EM QUE O ORDENAMENTO DETERMINA A RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL
	Ex: caso dos tomates envolvendo a SICA e os plantadores de tomates. A SICA doava sementes de tomates para os produtores, os quais, então, plantavam-nas. Ambas as partes tiveram gastos. Mas os investimentos feitos tanto pela SICA tanto pelos produtores não aconteceriam se houvesse real expectativa de que houvesse o contrato. 
	Aqui se deve observar que ambas as partes tiveram custos e estavam sujeitos a riscos caso não houvesse uma tutela pelo ordenamento. Nesse sentido, como a SICA não quis a formação do contrato, mas em virtude de sua conduta, a jurisprudência entendeu que o ordenamento tutelaria os plantadores, determinando a responsabilidade pré-contratual da SICA pelos danos causados a eles. Entendeu o judiciário que caso os produtores soubessem que não haveria a formação do contrato com a SICA, eles não fariam os investimentos feitos.
	A responsabilidade pré-contratual surge como um “seguro” para as partes, de modo que essas não sejam prejudicadas por prejuízos causados pela outra parte.
	Tem-se traduzido esse “seguro” para a linguagem jurídica como o dever de negociação de boa-fé, ou seja, as partes devem se esforçar para negociar observando o dever de lealdade, de informação, de honestidade, decorrentes do p. da boa-fé objetiva.
	Surge, assim, questões a serem discutidas:
- quando surge o dever de negociar?
- quando ele é cumprido?
- quais as consequências do descumprimento?
- qual o conteúdo do dever de negociar?
	Ex: vamos supor que no caso da SICA ela tivesse feito o contrato sob a condição de comprar os tomates segundo o preço que quisesse. Se os produtores não aceitassem e quisessem um preço maior e a SICA não realizasse o contrato, não poderia a SICA ser responsabilizada, porque ela cumpriu o seu dever de negociar.
	OBS.: no modelo contratual previsto pelo CC não há regra para responsabilidade pré-contratual. Isso porque nele não há a previsão de gastos iniciais.
	Não há resposta clara sobre essas perguntas sob o enfoque dogmático. Mas o que as explica é o fundamento econômico, que é dar um seguro as partes.
	Do ponto de vista jurídico, traduz-se esse “seguro” como um “dever de negociar de boa-fé”, ou seja, quando a conduta de uma parte gera o dever de negociar à outra parte surge o direito de responsabilização daquela por prejuízos decorrentes da real expectativa da formação do contrato gerada nesta.
- Quando surge o dever de negociar?
	Surge quando uma das partes, por meio da sua conduta, cria na contraparte a real expectativa que haverá a formação de um contrato. Essa contraparte faz investimentos por crer que haverá o contrato, mas acaba surpreendida pela parte. Surge, assim,o dever de negociar para a parte, sob pena de responsabilização pré-contratual.
- Quando ele é cumprido?
	Esse dever de negociar é cumprido por 3 motivos:
Quando por meio de “táticas leais” chega-se a um impasse (não há um acordo).
Quando uma das partes tem um “bom motivo”, ou seja, aquele que mostra que efetivamente a parte cumpriu o seu dever, mas não pode mais ser o contrato realizado (ex: crise econômica, catástrofe, etc.)
Quando há interrupção das negociações pela outra parte, a parte já cumpriu o seu dever de negociar.
Responsabilização pré-contratual (continuação)
 
- Conceituação das manifestações de vontade exaradas durante o processo de negociação
	Muitos juristas falam que as negociações são divididas em fases: há uma negociação anterior a proposta, em que há tratativas, discussões, entendimentos acerca do futuro contrato. Isso pode ocorrer, mas não é sempre. Pode ser que haja essa tratativa e depois a proposta seja feita de acordo com aquela. Entretanto, as vezes, isso não acontece: pode ser que antes da proposta não há nenhuma tratativa, há a proposta formal, mas aí a outra parte pode realizar uma tratativa, uma discussão, ou uma contraproposta.
	Não se pode, assim, dizer que há necessariamente uma fase anterior à proposta, chamada “negociação preliminar”, em todos os contratos existentes. E só na realidade que se sabe as fases da formação do contrato.
	Os tipos de manifestação de vontade emitidos pelas partes durante a formação de contratos podem ser:
	- tratativas;
	- propostas;
	- aceitação de contratos preliminares ou até mesmo uma aceitação final para o contrato definitivo.
	OBS.: proposta é diferente de tratativa
	Proposta cria na outra parte o poder de aceitação na esfera jurídica 
	Tratativa não há a criação desse poder.
- Como pode ser estruturado o processo de negociação?
	A diferença no processo de negociação por meio de tratativas do que por meio de propostas é que naquela há uma maior flexibilização.
	Quando há uma proposta, cria o poder de aceitação na outra parte e, uma vez aceita essa proposta, o proponente não pode retratar-se.
	Por outro lado, em teoria, nas tratativas o proponente pode se arrepender. As partes podem alterar suas manifestações das tratativas. Não há uma vinculação.
	Essa diferença tem sido atenuada na prática quando surge o “dever de negociar de boa-fé”, ou seja, as partes têm o dever de esforçar-se par formar o contrato. Surgido esse dever, desaparece a diferença entre negociação por meio de proposta ou tratativa. Em ambos os casos, o dever de negociar de boa-fé impede que as partes alterem suas tratativas ou propostas.
	É diferente o ambiente de negociação quando se há contratos preliminares ao invés da realização de apenas um contato definitivo. Por ex: um contrato preliminar pode estipular o prazo para se chegar a um contrato definitivo, dando maior segurança. Além disso, o contrato preliminar pode dispor quais os custos serão repartidos entre as partes. Pode também dizer qual o tipo de custo é passível de indenização.
	Ex: num contrato de emprego – uma empresa pode fazer um contrato preliminar dizendo quais os custos ela pagará em virtude de moradia, alimentação, passagem para se fazer uma entrevista na cidade sede da empresa.
	Ex 2: quando você leva uma impressora para consertar. O técnico fala que o orçamento fica em R$20,00. Aqui já é um contrato preliminar, o qual protege o investimento pré-contratual do técnico.
	Ex 3: um contrato preliminar pode dizer que durante o período de negociação entre as partes é proibido (ou é permitido) que elas negociem com terceiros.
	Assim, inúmeras cláusulas podem ser definidas no contrato preliminar, modificando substancialmente o ambiente de negociação, quando se comparado com aquele que haveria sem o contrato preliminar.
	Ex: um contrato preliminar pode estipular quais são as hipóteses em que as partes podem desistir do contrato definitivo.
	Ex 2: um escritor famoso morreu. Uma editora ofereceu à viúva a publicação de uma coletânea da obra do marido. Foram feitos vários contratos preliminares. Um deles foi que a editora tinha a obrigação de indenizar antecipadamente a viúva do montante a ser vendido. Criou a obrigação para a editora de localizar e entregar os escritos do marido para a esposa. No contrato preliminar havia uma cláusula na qual as partes tinham que chegar a um acordo sobre alguns termos futuros (como quais ensaios iriam ser publicados, o preço, o número de páginas, etc.). Entretanto, a viúva descumpriu esses contratos preliminares. Ela interrompeu as negociações (má-fé).
	No caso de descumprimento injustificado do contrato preliminar, havendo investimentos pré-contratuais, pode a outra parte exigir judicialmente:
CUMPRIMENTO DO CONTRATO PRELIMINAR – significa que é obrigar a parte a retomar as negociações. É inviável, pois estar-se-ia obrigando a parte a fazer uma coisa que ela não quer, levando a prosseguir com um contrato no qual não haverá a livre manifestação de vontade.
INDENIZAÇÃO POR DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE NEGOCIAR DE BOA-FÉ – a contraparte fez investimentos decorrentes da conduta da parte (que gerou um dever de negociar de boa-fé). Como esta descumpriu, tem que ser responsabilizada civilmente.
CC: Contrato preliminar – arts. 462 a 466
- CC, art. 462 – se o contrato preliminar já contém os requisitos essenciais para a formação do contrato, não há a necessidade da formação do contrato definitivo. Isso reduz substancialmente a possibilidade das partes de negociarem preliminarmente. Esse artigo reduz o número de contratos preliminares a serem admitidos pelo CC. 
	A disposição desse artigo deve-se a um contexto histórico específico: a regulamentação da “promessa de compra e venda”. É comum na sociedade brasileira que o contrato de compra e venda seja feito no mesmo instante da transferência da propriedade. Entretanto, muitas vezes, devido ao tipo de propriedade, é preciso o registro público para existir o contrato definitivo. Então, surgiu o contrato de “promessa de compra e venda”, um contrato preliminar no qual havia todos os requisitos essenciais do contrato definitivo. Esse contrato era particular e depois era levado ao Cartório de Registro de Imóveis, para se tornar definitivo. Como entre o ato da posse do comprador e o registro no cartório levava tempo, o vendedor tinha medo de transferir a propriedade e não receber o dinheiro. Assim, surgiu o contrato de “promessa de compra e venda”, que, por ter os requisitos essenciais do contrato definitivo, garantia que o vendedor receberia pelo imóvel.
	Uma saída era fazer um contrato de venda com reserva de domínio, ou seja, a propriedade só seria transferida (o domínio) a partir da satisfação de uma condição estabelecida (no caso, o dinheiro).
	Mas, na prática, as pessoas utilizam-se do “contrato de promessa de compra e venda”. Como esse possui os requisitos essenciais de um contrato definitivo, acaba obrigando as partes a cumpri-lo (art. 463, CC).
	OBS.: o CC regulamentou a parte “contrato preliminar” tendo em vista um modelo especifico.
- CC, art. 464 – é uma medida que permite que o juiz transforme o contrato preliminar em um contrato definitivo. Lógico que isso só ocorrerá se o contrato definitivo se aproximar muito do contrato definitivo (tem que possuir os requisitos essenciais), exceto quanto à forma.
	“salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação” – deu a entender que é possível a existência de contratos preliminares que não possuem os requisitos essenciais.
- CC, art. 465 – se a contraparte não cumprir o contrato preliminar, a parte pode se valer de 2 remédios:
	- resolução (art. 475, CC)
	- indenização (art. 475, CC)
	Mas esses remédios não são taxativos. O credor pode também se valer da:
 	- exceção de contrato não cumprido (arts. 476 e 477, CC).
	Não era nem necessário o art. 465, CC. Qualquer remédio cabível em virtude do descumprimento de um contrato definitivo, com as devidas ressalvas,cabe também no descumprimento de contrato preliminar.
- CC, art. 466 – faz referência a um contrato preliminar chamado “contrato de opção”.
	O contrato de opção ocorre quando as partes querem dar um prazo de aceitação grande, no qual uma das partes remunera a outra para que ela crie um contrato em que a aceitação da proposta pode ser feita dentro de um prazo maior que o normal. Ex: João quer vender um imóvel para Paulo (faz uma proposta). Só que Paulo oferece um contrato de opção: remunera João por um valor X para que durante um tempo Paulo pense se quer ou não aceitar a proposta.
	Durante um período de tempo grande, provavelmente o proponente não vai fazer uma proposta que seja irrevogável, pois é perigoso para o negócio (ele corre riscos). Ele faria a proposta, mas admitiria que ela fosse revogada. Porém, no contrato de opção, o aceitante remunera o proponente para que a proposta seja irrevogável.
	O art. 466 fala que se o prazo para aceitação não for estipulado no contrato de opção, ele pode o ser depois. Mas isso não faz sentido. É inviável para o proponente (não existe na prática).
- Circunstâncias em que há o dever de negociar de boa-fé
	Há o dever de negociar de boa-fé quando é necessário oferecer um seguro à parte que vai ter investimentos pré-contratuais, sem o qual [o seguro] seria inviável diante do gasto.
	Então, quando houver investimentos pré-contratuais e for preciso oferecer um seguro para a parte, surge o dever de negociar de boa-fé, assegurando que os gastos feitos sejam ressarcidos em caso de descumprimento.
	Mesmo que as partes não estipulem expressamente no contrato preliminar que existe um dever de negociar, está implícito que há esse dever, pois não faria sentido fazê-lo.
- Quando se considera que há o cumprimento do dever de negociar de boa-fé
	Quando acontecer as seguintes hipóteses:
IMPASSE – quando depois das partes se esforçarem para negociar e formar um contrato, elas não chegarem a um consenso ou um acordo. Se acontecer um impasse, está cumprido o dever de negociar de boa-fé. O impasse mostra que é infrutífero que as partes continuem a negociar. Isso se deve à falta de acordo entre eles, mesmo que tenham usado táticas leais.
BOM MOTIVO – quando há um motivo capaz de interromper as negociações entre a(s) parte(s). É algo a ser analisado no caso concreto. Ex: mudança da economia.
INTERRUPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO PELA OUTRA PARTE – quando a parte, tendo negociado de boa-fé, não tem mais condição de negociar em virtude da interrupção das negociações pela outra parte, independente se esta tem ou não razão. Acontecendo isso, a parte cumpriu o seu dever de negociar.
- Consequências de não celebração do contrato
	Se ambas cumpriram o seu dever de negociar de boa-fé, cada parte arcará com seus prejuízos.
	Se ambas as partes não cumprirem com esse dever, cada parte arcará com seus prejuízos.
	Se apenas uma parte descumpriu o seu dever de negociar de boa-fé, caberá a ela arcar com os prejuízos próprios e da outra parte (responsabilização pré-contratual).
- O que deve e o que não deve ser considerado uma violação da boa-fé
	Algumas táticas de negociação são desleais. Ex: negociar ao mesmo tempo com terceiros sem informar a outra parte. Mas se a parte informar, aí já passa a ser uma tática leal e um possível contrato com esse terceiro não é violação ao dever de negociar de boa-fé.
	Ainda, a propositura de termos que gerem uma onerosidade excessiva ou que se mostrem inviáveis com o intuito de prejudicar a outra parte, é tática desleal.
MODELO TRADICIONAL DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS – arts. 427 a 435, CC
REGIME JURÍDICO DA PROPOSTA
	O CC não divide o regime jurídico da proposta do regime jurídico da aceitação, mas o professor dividiu por questões didáticas e pragmáticas. Apesar do CC não fazer essa divisão formal, percebe-se que os arts. 427, 428 e 429 referem-se ao regime jurídico da proposta. Já os arts. 430 ao 435 referem-se ao regime jurídico da aceitação.
	Há, porém, uma grande ressalva: apesar dos arts. 427 a 430 tratarem do regime da proposta, a ordem de apresentação não condiz com a apresentação do professor. Além disso, o CC não trata de todos os pontos apresentados pelo professor.
	
	Dentro do regime jurídico da proposta, devemos entender que existem 2 grupos de normas: 
	- um que trata da identificação da proposta; e 
	- outro que trata da perda da eficácia da proposta.
	O objetivo do primeiro grupo é dar ao intérprete a capacidade de identificar se existe ou não uma proposta. Já o objetivo do segundo grupo é dar ao intérprete a capacidade de saber quando a proposta não gera mais efeitos.
- CC, art. 427​ – trata da perda da eficácia da proposta por meio da revogação por parte do proponente.
Como identificar e interpretar uma proposta
	a.1) requisitos mínimos da proposta
	A proposta tem que conter, no mínimo, os requisitos essenciais do futuro contrato. Se a manifestação de vontade não contiver todos os requisitos essenciais, ela não será qualificada pelo direito como uma proposta, mas sim como uma tratativa.
	O segundo requisito é: intenção do declarante de criar certos efeitos jurídicos. Esses efeitos são:
Criar um poder de aceitação na esfera jurídica da outra parte. Não depende de aceitação. Feita a proposta, cria-se esse poder.
Sujeição do proponente aos termos que ele prometeu na proposta. Depende da aceitação válida.
Obrigação do proponente de cumprir o que declarou.
	A intenção do proponente no caso concreto é aferida por meio de presunções (aspectos objetivos). Se o proponente não fala nada sobre esses efeitos que a proposta gera, há a presunção, por ex, nas relações comerciais, de que haverá esses efeitos.
	No caso, por ex, de relações afetivas, não há a presunção de que a intenção do “proponente” é criar um poder de aceitação e obrigá-lo a cumprir o que prometeu. Ex: se eu dou uma carona para alguém, não há a presunção de que o “proponente” (eu) quer fazer um contrato. Claro se houver menção expressa de se criar um vínculo, aí se presume os efeitos. 
	Existem relações no comércio que são exceções a regra de que se presume que a proposta gera os efeitos supra. Ex: propaganda de aluguel de um apartamento. Há anúncios que falam o preço, o número de quartos, o valor do IPTU, o valor do aluguel. Mesmo que haja os termos essenciais, não é considerado uma proposta, capaz de gerar os efeitos mencionados acima. Isso porque se trata de um costume no meio imobiliário. Se eu quiser alugar o imóvel, eu tenho que ir à imobiliária e lá sim haverá uma proposta [formal] válida, apta a gerar os efeitos de criação do poder de aceitação e a obrigação do proponente de cumprir o que prometeu.
	Resumindo, os requisitos mínimos são:
	- conter, no mínimo, os requisitos essenciais do futuro contrato
	- intenção do declarante de se vincular a proposta feita.
	O CC 2002 não traz esses requisitos mínimos.
	a.2) anúncios dirigidos ao público como propostas
	São considerados propostas? Depende se o anúncio satisfaz aos requisitos mínimos supra.
	Se, por ex, eu faço um anúncio vago, sem a presença de termos essenciais, presume-se que eu não tenho a intenção de criar efeitos jurídicos.
	Por outro lado, pode o anúncio conter os requisitos essenciais (e até mais), mas o declarante deixa claro que não há a intenção de criar efeitos jurídicos.
	Na prática, normalmente, os anúncios são vagos. Assim, a inexistência de termos essenciais pressupõe a inexistência de intenção do declarante.
	Há regras no CC que determinam que se o anúncio for suficientemente preciso, ele será qualificado como uma proposta válida.
- CC, art. 429, caput – diz que a oferta ao público que contém os requisitos essenciais do futuro contrato é considerada uma proposta. O CC pressupõe aqui que há uma intenção do declarante do anúncio de criar efeitos jurídicos. Devemos entender que o art. 429 foca nas relações comerciais.
	A ressalva feita pelo caput do art. 429 diz quea oferta dirigida ao público não será considerada proposta em virtude das circunstâncias do caso (ex: o declarante deixa expresso que não tem a intenção) ou dos costumes (ex: é hábito no comércio aquele tipo de anúncio, sem entendê-lo como proposta).
	
	Existem outras regras de qualificação de uma manifestação de vontade como proposta. Ex: CC, art. 431 – é uma regra de identificação da proposta. É uma regra controversa para o professor.
Perda da eficácia da proposta:
	Para analisarmos a perda da eficácia da proposta, devemos pressupor que a proposta é eficaz, já produz efeitos. E quais são esses efeitos? São 2: o efeito de criar na outra parte o poder de aceitação; e, consequentemente, a submissão do declarante a esse poder.
	OBS. 1: revogação é diferente de perda da eficácia
	Revogação é espécie (privativa do proponente)
	Perda da eficácia é gênero
	OBS. 2: retratação – impede o início da eficácia da proposta. Acontece a retratação antes da aceitação
	Esses efeitos da proposta serão perdidos: por iniciativa do aceitante; por decurso do tempo; por iniciativa do proponente; por outros eventos.
b.1) por iniciativa do aceitante
	Pode se dar por:
	- rejeição
	- contraproposta
	O CC não trata de forma explícita essas 2 maneiras, que não decorrem do art. 431, CC.
	- REJEIÇÃO: é o ato pelo qual o aceitante não aceita a proposta.
	Ex: João faz uma proposta para Toim, o qual diz expressamente que não a aceita. 
	A regra geral é no sentido de que uma rejeição faz com que a proposta perca seus efeitos. Materialmente, isso se deve à proteção da confiança do proponente. A rejeição faz com que o proponente não esteja mais vinculado ao possível aceitante, assim ele pode negociar com um terceiro. Formalmente, a rejeição indica que o aceitante renunciou o seu poder de aceitação.
	A perda de eficácia da proposta por parte da rejeição admite exceções. A doutrina norte-americana, por ex, admite que quando uma rejeição for fraca, houver dúvida (ex: não digo expressamente que rejeito a sua proposta, dou a entender que posso aceitá-la depois), ela não suspenderá os efeitos da proposta.
	Outra exceção fundamenta-se no p. da autonomia privada. Por ex: o proponente coloca na proposta uma cláusula expressa que diz que mesmo que o aceitante rejeite a proposta, este terá um tempo para desistir da rejeição e aceitar a proposta (o proponente deixa em aberto).
	Tanto a regra de que a rejeição faz perder os efeitos da proposta quanto as regras das exceções não estão previstas no CC 2002.
	- CONTRAPROPOSTA: o aceitante, ao receber a proposta, faz uma nova proposta para o proponente.
	Uma contraproposta do aceitante é ainda menos claro do que uma rejeição, pois não é possível saber se o aceitante aceita ou não a proposta. O aceitante pode ou não ter a intenção de rejeitar, mas deixar isso implícito ou explícito.
	Pelo fato do aceitante fazer uma contraproposta não se sabe se ele aceita ou não se submeter aos termos da proposta inicial. Pode ser que ele aceite ou não.
	Ex: João faz uma proposta para Toim, dizendo que ele tem 15 dias para a aceitação. Toim faz uma contraproposta, mas João rejeita essa contraproposta, dizendo que só haverá o contrato de acordo com a sua proposta original. Aí Toim desiste da sua contraproposta e aceita a proposta original de João.
	O art. 431, CC trata de uma resposta ambígua. Não se sabe se a intenção da rejeição (ou da contraproposta) é acabar com os efeitos da proposta. O CC entende que a resposta ambígua gera uma nova proposta, mas não fala nada da perda da eficácia da proposta inicial.
	Ex: Pedro faz uma proposta a Manoel, que dá uma resposta ambígua (“nova proposta”, na visão do art. 431, CC): diz que não vai aceitar a proposta original naquele instante, mas que vai assiná-la depois. Para o professor, não se trata de uma nova proposta, porque a proposta original continua valendo.
	Apesar do CC não falar nada sobre a perda da eficácia da proposta por parte da rejeição ou da contraproposta, infere-se isso a partir do p. da proteção da confiança do proponente.
	
	b.2) por decurso do tempo
	Se o proponente deu um prazo para que o aceitante dê uma resposta à proposta, findo este prazo a proposta perde a eficácia.
	No caso em que o proponente não fixou um prazo para a aceitação, cabe ao ordenamento fazê-lo. Temos 3 possibilidades: o prazo infinito; a proposta perde a eficácia imediatamente após o proponente fazer a proposta e não houver aceitação; uma posição intermediária na qual o ordenamento prevê um tempo razoável (ex: 10 dias, 15 dias...) ou deixar a cargo do juiz fixá-lo em virtude do caso concreto (ex: os contratantes moram em lugares distantes; a complexidade da proposta; se o bem negociado é perecível ou não; se o bem possui valor de mercado volátil; enfim, qualquer critério que interfira de maneira substancial no contrato).
- CC, art. 428:
	
	Inciso IV – não trata da perda da eficácia. Não há nem o início da eficácia da proposta;
	Inciso III – é uma regra desnecessária (já tem o art. 434, III, CC);
	OBS.: “ausente” aqui não é aquele relacionado ao instituto da ausência. Ausente aqui é aquele que não está no local, ao vivo, fazendo o contrato.
	Inciso I – quando os contratantes tiverem presentes, a proposta perde a eficácia imediatamente após ter sido feita, se não houver a aceitação.
	Inciso II – quando os contratantes tiverem ausentes, a proposta perde a eficácia depois de decorrido tempo suficiente para chegar a aceitação ao conhecimento do proponente. Aqui o legislador pensou no tempo que demora para a proposta chegar ao aceitante mais o tempo para que a aceitação chegue ao proponente. Para o professor, essa regra não condiz com a realidade atual. Primeiro, porque é muito difícil de ter contrato entre ausentes e também porque é preciso analisar outras coisas além do tempo que demora a troca de informações. 
	Para o professor, independentemente do contrato entre presentes ou ausentes, deve-se observar certos critérios importantes para se chegar a um tempo suficiente. Por ex, deve-se analisar a complexidade do bem; se é perecível ou não; se o seu valor é volátil, etc.. Assim, é no caso concreto que se chegaria a um tempo suficiente, razoável.
	Claro que em determinados contextos é razoável que se aplique o inciso I.
	Ex: feira da avenida Brasil – eu chego lá na muamba, vejo uma câmera fotográfica e pergunto ao vendedor o preço. Como não há um preço prefixado, o vendedor dá o preço que ele quiser, de acordo com o freguês. Aí ele fala um preço (proposta) e eu devo aceitar ou não imediatamente após. Não faz sentido ter um prazo posterior para que haja a aceitação, em virtude da informalidade, da instabilidade desse mercado específico.
	Ex 2: contrato de compra/venda de uma câmera fotográfica nas Casas Bahia – já existe uma proposta fixa, não precisa o aceitante dizer que aceita ou não logo após a proposta. Este é um contrato mais formal, estável. Neste caso, não é preciso que a aceitação seja emitida logo após a chegada da proposta ao aceitante.
	O fator determinante, assim, não é a proposta feita entre presentes ou ausentes. Vai depender do tipo de negociação.
	Nosso ordenamento, em caráter excepcional, acolhe a regra de que permanece aberta a proposta por tempo indeterminado, mas no instituto da promessa de recompensa (é um ato unilateral – art. 854 e ss., CC). Formalmente, ela é um ato unilateral, mas é muito parecida com o contrato. A diferença é que para que haja a vinculação naquela é preciso apenas a palavra do proponente.
	Ex: eu prometo que pago R$1000,00 para quem trazer meu cachorro.
	Assim como numa proposta contratual, o promitente pode estipular um tempo na promessa de recompensa para que ela tenha eficácia. 
	Mas se o proponente fixou um prazo certo, será que ela perde eficácia de forma imediata? Ou será que fica vigente por tempo indeterminado até que o proponente a revogue?
	Em regra, o proponente (no caso do contrato) fixa umprazo para que haja a aceitação, pois, caso contrário, ele correria riscos relativos à mudança de valor do bem, ou ficaria impedido de negociar com terceiros.
	Esse tipo de problema não afeta tanto a promessa de recompensa, pois o bem presumivelmente tem um valor constante, muitas vezes até um valor emocional (ex: promessa de recompensa se for achado um cachorro). Assim, não há necessidade de proteção pela perda de eficácia com o decurso do tempo, pois não há riscos, como a modificação do preço.
	No caso de uma promessa de compra/venda. Ex: eu prometo comprar um notebook X se custar até R$2000,00. Não estipulo prazo. Nesse caso pode-se aceitar que a proposta produzirá seus efeitos até que o promitente a revogue, porque o valor do bem é constante, não sofrendo alterações com a mudança de mercado.
- CC, art. 856 – é uma qualificação da promessa de recompensa como irrevogável quando se estipula um prazo certo. A contrario sensu, a promessa de recompensa será revogável se não for estipulado prazo certo, desde que feito com a mesma publicidade.
	Não há no CC nada previsto sobre o tempo que a promessa de recompensa produz efeitos, como há com os contratos (CC, art. 428). O professor entende que o prazo é indeterminado, baseando-se em previsões do direito comparado. Além disso, o prazo tem o fim de proteger o proponente, como no caso de promessa de recompensa não há perigo para o proponente (o valor é constante), não há necessidade de prazo.
	b.3) por iniciativa do proponente
	O ato do proponente que faz com que a proposta perca a eficácia é a revogação. 
	Primeiro, é preciso saber as regras de qualificação da proposta como revogável ou irrevogável.
	b.3.1) Regras de qualificação da proposta
	As regras de qualificação da proposta podem ser: iniciais ou após a emissão de uma aceitação.
	- Regra de qualificação inicial
- CC, art. 427 – estabelece uma presunção da irrevogabilidade da proposta, exceto nos casos previstos neste artigo.
	A presunção surge no caso de haver dúvida sobre a natureza da proposta. Se não houver nenhuma qualificação, presume-se que a proposta é irrevogável.
	OBS.: CC, art. 427 – traz uma terminologia ambígua. O sentido de “obrigatório” no art. 427 não é igual ao do art. 428.
	No art. 428 a palavra “obrigatória” significa: se cria ou não um poder de aceitação na contraparte. Já no art. 427 significa: obrigatório tem a ver com o fato de a proposta ter natureza irrevogável ou revogável.
	Se a proposta for revogável, ela será obrigatória no sentido do art. 428; se for irrevogável, o sentido é do art. 427.
	Há ainda um terceiro sentido: obrigar o proponente a cumprir o que prometera no caso de uma aceitação válida.
- Exceções do art. 427,CC:
Se o proponente qualificar a proposta como revogável;
Se a natureza do negócio objeto do contrato determinar ser a proposta revogável. Ex: contrato de mandato de advogado – eu faço uma proposta para uma pessoa, mas devido ao fator confiança que se espera da contraparte, eu posso revogar a proposta se achar por bem.
Se as circunstâncias do caso determinarem a revogabilidade da proposta. Circunstâncias do caso quer dizer as peculiaridades do caso concreto devem dar a entender que é mais justo que a proposta seja revogável. Ex: contrato de opção sem remuneração. É perigoso para o proponente que a proposta seja irrevogável.
	- Regras de qualificação da proposta após a emissão de uma aceitação
	Há casos em que no momento da criação da proposta esta seja revogável, mas ela pode vir a se tornar irrevogável com a emissão de uma aceitação.
	Ex: o aceitante emite a aceitação no dia 8. No dia 9 chega ao endereço do aceitante uma notificação de revogação da proposta. Apenas no dia 10 chega a aceitação ao proponente. E aí? A partir do momento em que é emitida, a aceitação já gera efeitos e transforma a proposta em irrevogável.
	A regra que fundamenta esse exemplo é o p. da proteção da confiança do aceitante.
	No CC 2002 essa regra é colocada indiretamente por uma ficção jurídica, segundo a qual há a formação do contrato a partir da expedição da aceitação (art. 434, caput, CC).
- CC, art. 434 – prevê também exceções à ficção de que a chegada da aceitação enseja a formação do contrato. Mas o CC é prolixo.
	Inciso III - Ex: o proponente estipula até o dia 15 para que chegue a aceitação, mas esta só chega no dia 18.
	b.3.2) Formalidade exigida para a revogação
	Nos casos em que o proponente tem o direito de revogar a proposta, tem que existir alguma formalidade? Sim! Está prevista no art. 429, par. único, CC.
	Mas é preciso diferenciar as propostas dirigidas a um particular e as propostas dirigidas ao público em geral. No primeiro caso, a revogação pode ser feita por qualquer meio, independentemente do meio usado na publicação da proposta. No segundo caso, a revogação só pode ser feita pelo mesmo meio utilizado para publicar a proposta.
	Ex do primeiro caso: a proposta é feita por escrito, mas a revogação é feita por telefone.
	Ex do segundo caso: a proposta é feita pelo rádio, a revogação só pode ser feita por rádio. Presume-se que o público que toma conhecimento da proposta, tomará conhecimento da revogação.
	A exigência da publicidade da revogação baseia-se no p. da confiança dos potenciais aceitantes.
	Em alguns casos, quando o proponente pode saber quem do público tem interesse em aceitar a proposta, ele precisaria revogar pelo mesmo meio e ainda emitir uma notificação. Ex: participação em competição – o proponente pode saber parte das pessoas que tem interesse em aceitar a proposta: aquelas que já se inscreveram na competição deveriam ser notificadas pessoalmente, além da revogação pelo mesmo meio.
	Alguns ordenamentos já prevêem esse complemento. No direito brasileiro essa complementação também é possível com base no p. da boa-fé objetiva.
	OBS.: CC, art. 429, par. único – o “pode” está incorreto. O certo é “deve”. Mas o legislador foi obrigado a fazer isso, pois há 2 regras dentro desse dispositivo bem diferentes: uma regra é a da formalidade exigida na revogação; já a outra é a de qualificação inicial da proposta (prevista no art. 427, CC). O legislador foi redundante,
Ele utilizou o “pode” porque o proponente tem a faculdade de revogar ou não a proposta se esta for revogável.
- Consequências da revogação
	Sempre que a revogação for permitida, uma consequência inexorável da revogação é fazer com que a proposta perca a eficácia. Se a revogação não for permitida, mas for feita, não gerará efeitos, será nula.
	Em alguns casos, além de retirar a eficácia da proposta, a revogação obriga o proponente a indenizar o aceitante em razão de prejuízos por este ter confiado na proposta.
	Ex: casos em que a aceitação ocorre pela realização de um ato, como o indivíduo que se inscreve na competição e paga uma taxa ou compra uma passagem.
	Ex 2: proposta de um contrato para a venda de um bem qualquer. O proponente estipulou que só consideraria como aceitação válida o efetivo pagamento. O valor do bem era R$20.000,00 e o aceitante, como não tinha esse valor, pediu um empréstimo para aceitar a proposta. Com a revogação, que era possível porque foi prevista, o proponente deve indenizar o aceitante que, embora não tenha depositado o dinheiro ainda, teve gastos com a taxa de abertura de crédito e eventuais juros de amortização (mesmo que ele devolva todo o valor emprestado).
	Essa regra não está prevista expressamente no regime jurídico de formação dos contratos, mas pode ser adotado como analogia ao art. 856, par. único, CC do regime da promessa de recompensa. É possível estender essa regra porque a promessa de recompensa é extremamente parecida com o contrato quando a aceitação depende da prática de um ato.
por outros eventos
	A proposta pode perder a eficácia em virtude da morte de um dos contratantes. Por ex: em obrigações personalíssimas somente a parte pode cumprir o contrato, assim se ela morrer, não será maispossível o cumprimento da obrigação (nem por terceiros), logo a proposta perde a eficácia. 	
	No caso, por ex, de uma proposta de venda de um bem. Se o proponente (vendedor) morre, depois de já ter feito a proposta, esta poderá gerar efeitos, pois não se trata de uma obrigação personalíssima (os herdeiros podem realizar o contrato).
	Outra hipótese é a onerosidade excessiva superveniente. Isso será regulado na parte do regime de proteção do devedor. Assim, se sobrevier um fato fortuito que cause uma onerosidade excessiva ao proponente (como uma catástrofe, crise econômica), a proposta pode perder seus efeitos.
REGIME JURÍDICO DA ACEITAÇÃO
	
	Os tipos de aceitação mais comuns são: (não exaure todos os tipos. Esse esquema não deve ser encarado como uma lista que engloba todos os tipos de aceitação)
Aceitação promissória (ou pela promessa) – é aquela em que o aceitante se compromete a realizar a prestação no futuro. Pode ser:
 	a.1) Expressa – é aquela em que o aceitante diz claramente, expressamente que aceita a proposta.
 	a.2) Tácita – é aquela em que o aceitante não diz expressamente que aceita a proposta, mas em virtude de um ato (comissivo ou omissivo) infere-se que ele aceitou a proposta. Pode ser: pela conduta ou pelo silencio.
Aceitação pelo cumprimento da prestação devida ​– é aquela em que o aceitante cumpre a prestação prevista na proposta, dando a entender que quis a aceitação da proposta.
	O fundamento das aceitações promissória e pelo cumprimento da prestação é que ambas exprimem o sentimento do contratante de aceitar a proposta e se vincular a ela. 
	A diferença é que na aceitação promissória o aceitante forma o contrato num momento, mas somente posteriormente ele cumprirá com a prestação devida. Já na aceitação pelo cumprimento da prestação devida o aceitante forma o contrato e ao mesmo tempo ele já cumpre a prestação por ele devida.
	Ex.: um banco ou uma operadora de cartão manda para o meu endereço um cartão de crédito bloqueado. Eu posso eventualmente desbloquear aquele cartão e passar a usufrui-lo. Digamos que eu o faça. Que tipo de aceitação será essa? Certamente, está havendo a formação de um contrato, no qual teve-se uma aceitação tácita pela conduta, pois efetivamente a prestação devida seria pagar a anuidade do cartão mais os gastos que eu tive. O mero fato de eu desbloquear não é a obrigação que eu devo. A conduta que gera a aceitação é o fato de ir ao banco e desbloquear o cartão.
	Muitas vezes dá para confundir a aceitação tácita pela conduta com a aceitação pelo cumprimento da prestação devida. Uma forma de distingui-las é observar o tipo de aceitação que o proponente exigiu. Se ele não exigir nada, o melhor é entender que é uma aceitação promissória tácita pela conduta. Se ele exigir uma prestação, é melhor entender como uma aceitação pelo cumprimento da prestação devida.
	Ex: eu fiz uma proposta de venda de um bem. Eu dei o numero da minha conta. Ai o comprador vai e deposita o dinheiro na minha conta. E aí? É uma aceitação tácita pela conduta ou aceitação pelo cumprimento da prestação devida. Nesse caso há uma dúvida. Aqui é melhor observar a exigência do proponente.
	Na aceitação promissória o aceitante promete cumprir o contrato e efetivamente o faz expressamente (apõe a assinatura) ou tacitamente (dependendo das circunstâncias do caso a conduta do agente indica que ele aceita a proposta). Ex.: quando eu faço um sinal para o taxista, essa conduta é tácita de aceitação da proposta daquele contrato de prestação de serviços. Quando o taxista para o carro e abre a porta, é também uma conduta tácita.
	A aceitação tácita pode ser pela conduta ou pelo silêncio. A pela conduta pressupõe-se uma conduta ativa por parte do aceitante; já pelo silêncio não há qualquer tipo de conduta por parte do aceitante, este fica inerte, com a passagem do tempo, o fato dele não recusar a proposta, infere-se tacitamente que ele aceitou a proposta (neste caso, “quem cala, consente”).
	2.1) Tipos de aceitação válida
	- Tipos de aceitação e o interesse do proponente
	Em virtude do princípio da autonomia privada o proponente pode regular na proposta o tipo de aceitação que ele considerará válida. Ele pode dizer, por ex, que só aceita a aceitação que concorde com as questões x, y e z da proposta. O proponente, então, pode determinar qual a formalidade da aceitação que ele considerará válida (por ex: se for por escrito; o tipo de escrito – carta registrada, por formulário próprio; ele diz que não aceita uma carta do aceitante; ele pode estipular que na aceitação o aceitante tem que preencher alguns tópicos do formulário). Isso são opções dadas ao proponente em virtude do princípio da autonomia privada.
	Uma discussão interessante é: será que a formalidade exigida pelo proponente pode ser desconsiderada no caso concreto se ele tacitamente renunciar a formalidade que exigiu para formar o contrato? Ex: o proponente diz que só aceita a aceitação se tiver o preenchimento de alguns quesitos do formulário. Mas depois ele acaba prosseguindo na formação do contrato sem questionar a aceitação.
	Outro problema: quando a aceitação foi colocada para beneficiar o aceitante e não o proponente, ela será válida? Ex 1: no caso de locação de imóvel. O empresário (seguradora) me coloca como proponente, mas é ele quem redige a proposta e, portanto, sou eu que formalmente a faço. Uma das cláusulas diz respeito ao tipo de aceitação que será considerada válida. Digamos que o proponente (eu) aceite essa proposta. Aí a empresa não cumpre a formalidade que ela mesma colocou. Ela está tacitamente renunciando aquela proteção que colocou para si ao redigir a proposta? Algumas jurisprudências têm aceitado essa aceitação tácita válida, pois esse tipo de aceitação foi colocado no interesse do aceitante que redigiu a proposta, e não do proponente. Se ele não a cumpre, está aceitando tacitamente.
Ex 2: seguradora que redigi a proposta e fala que a aceitação deve ser feita por formulário, mas depois faz a aceitação por email. É válida tacitamente.
	????Enfim, quando a aceitação que se considera válida for benéfica ao aceitante (por ter este redigido a proposta), é necessário preservar os interesses do proponente. Para saber se a aceitação é válida, devemos ver se materialmente o aceitante ignorou a formalidade para aceitação. Se sim, deve-se preservar o proponente, de modo a entender que está formado o contrato, pois a cláusula foi colocada em prol do aceitante, e validar a aceitação é agir injustamente com o proponente. ???? 
	2.2) Como os tipos de aceitação afetam o regime da formação dos contratos
	Afetam em alguns aspectos. Ex.: a aceitação pelo silêncio, por ser excepcional, é a única que recebe uma regulamentação mais detalhada. Não temos dispositivos que tratam diretamente dos outros tipos de aceitação (porque não precisa, as outras não tem caráter excepcional).
	Outro impacto é a questão das conseqüências da revogação da proposta (revogabilidade da proposta contratual). Lembrar das aulas anteriores. No caso de aceitação pelo cumprimento da prestação devida, a revogação da proposta gera a obrigação ao proponente de indenizar o aceitante pelos prejuízos eventualmente causados, pois a conduta do proponente criou uma real expectativa no aceitante de que, cumprida a prestação, o contrato seria formado. Portanto, pelo fato da conduta do proponente ter criado um dever de negociar de boa-fé, ele terá que indenizar o aceitante (responsabilidade pré-contratual). ????
	Outro impacto diz respeito ao momento da formação do contrato: dependendo do tipo de aceitação, haverá diferentes momentos na formação do contrato. No caso da aceitação expressa, o momento é um; no caso da aceitação tácita é divergente.
	2.3) retratação da aceitação
	Há uma discussão se configura abuso de direito o abuso do exercício do direito de retratação na aceitação. 
	O art. 433, CC permite a retratação da aceitação. Antes de a aceitação chegar ao endereço do proponente, o aceitantetem o direito de se retratar e impedir a formação do contrato, mas, para isso, a retratação tem que chegar ao mesmo tempo ou antes da aceitação. Ex.: aceitação feita por carta; retratação feita por email.
	O problema surge quando o aceitante abusa do direito de retratar-se. Ele abusa quando, por ex, o proponente espera ter um aceitação rápida (venda de bens perecíveis) e o aceitante não o faz. Digamos que o aceitante dá uma aceitação por um meio bem lento, agindo de má-fé, de modo que ele possa esperar a mudança do mercado e, se for prejudicial, ele manda uma retratação por um meio mais rápido (na prática o aceitante está apenas especulando, agindo de má-fé).
	Uma maneira possível de resolver a questão no ordenamento é invalidar a retratação tendo em vista que ele agiu com abuso de direito, violando o princípio da boa-fé (art. 187, CC).
	2.4) O silêncio como aceitação
	Apenas em caráter excepcional o silêncio do aceitante pode ser considerado uma aceitação válida. É excepcional porque se não fosse assim haveria uma bagunça. Ex.: teríamos que passar a escrever carta, a recusar expressamente a proposta. Isso até violaria o princípio da autonomia privada, pois o “aceitante” estaria vinculado a vários contratos que ele não quis. Ele não teria uma liberdade de contratar.
	Como identificar esses casos excepcionais?
	Em primeiro lugar temos que fazer uma distinção entre os casos de aceitação tácita pela conduta e os casos de aceitação tácita pelo silêncio. Ex.: as partes têm uma relação duradoura (um comerciante e um fornecedor). Um já sabe mais ou menos a demanda do comerciante. Antes de o comerciante pedir o produto, o fornecedor já o envia por contra própria. Nesse caso não há uma aceitação pelo silêncio do comerciante. É uma aceitação pela conduta do comerciante, por receber o produto (ele não é inerte). Aqui também a proposta é tácita pela conduta do fornecedor.
	Em alguns outros casos não vai haver a formação do contrato e pode ser visto sobre o tema do enriquecimento sem causa. Ex.: Larenz – havia um terreno baldio que normalmente as pessoas utilizavam-no como estacionamento. Um dia o terreno foi cercado e uma pessoa (o dono ou um comprador) começou a explorar comercialmente aquele terreno como um estacionamento. Um fulano que acostumava parar o seu carro nesse terreno, sentiu-se no direito de continuar a parar o carro ali sem pagar. É possível construir um contrato aqui? Não! Porque não há um acordo de vontades (não há um consentimento recíproco). O fulano disse expressamente que não estava de acordo com a proposta. A Jurisprudência alemã não deu fundamento para o caso, ela apenas disse que fulano teria que pagar. A jurisprudência alemã elaborou uma teoria das relações contratuais de fato. Para o professor, dizer que há um contrato é ultrapassar os limites da noção de contrato. O assunto pode ser resolvido sobre a idéia do enriquecimento sem causa. Se o fulano para o seu carro, usufrui dos benefícios daquela propriedade e não paga nada, ele esta se enriquecendo sem causa. Ele está obrigado a pagar porque ele se apropriou de um beneficio que ele não tinha direito sem o pagamento. Ele se beneficiou de um direito alheio que ele não tinha direito de gozar. Aqui não há a aceitação tácita.
	Existem algumas situações que alguns autores dizem que é aceitação pelo silêncio que não é propriamente aceitação pelo silêncio. Ou é aceitação por um conduta ou casos de enriquecimento sem causa (em que não há aceitação e nem formação de um contrato, pois não há uma manifestação de vontade bilateral).
	
	Em tese, o assunto da aceitação pelo silêncio é regulado pelo art. 432, CC.
- CC, art. 432 – parece colocar duas hipóteses em que o silêncio da parte poderia configurar-se aceitação. 
	Uma das hipóteses diz respeito ao costume nas relações comerciais em que o silêncio configura aceitação. O professor desconhece essa hipótese e entende que é difícil que ela exista na prática. Os autores dão como exemplo aqueles casos em que há relações comerciais duradouras (comerciante e fornecedor). O professor acha que é uma aceitação tácita pela conduta (porque o comerciante tem uma conduta: aceitar o produto).
	A segunda hipótese é aquela em que o proponente dispensa expressamente a aceitação. Isso não é muito claro. Essa regra precisa ser complementada, é preciso que o proponente dispense e no caso concreto o aceitante tenha uma real intenção de formar o contrato. Não basta apenas a dispensa expressa, porque presumir-se-ia que o silêncio do aceitante enseja a aceitação da proposta, o que nem sempre é verdade. Viola-se o princípio da autonomia privada do aceitante, além deste ter o incômodo de ter que rejeitar toda proposta que tenha essa cláusula que dispense a aceitação.
	
	
	Para o professor, o art. 432, CC faz uma descrição imprecisa das hipóteses de aceitação pelo silêncio que o ordenamento brasileiro aceita como válidas. 
	O professor vê uma explicação para o legislador ter criado o art. 432, baseada no direito comparado. O modelo de formação do contrato brasileiro baseou-se no modelo suíço. Mas neste não se trata da aceitação tácita pelo silêncio. Ele trata dos tipos de aceitação considerados válidos e o interesse do proponente. Ex.: fiz a proposta de vender um bem, dei o preço e o número da conta bancária. O aceitante vai e deposita o dinheiro. Para ser considerada válida, é preciso que a aceitação seja comunicada ao proponente ou ela é válida tacitamente pelo cumprimento da prestação devida. O CC suíço fala que se houver um costume dizendo que não é preciso que haja a comunicação para a aceitação ser válida ou se o proponente dispensar a aceitação, esse ato será considerado uma aceitação válida. Mas no CC suíço não está tratando de aceitação tácita pelo silêncio, mas sim de aceitação pela conduta (ou aceitação pelo cumprimento da prestação devida). 	O legislador brasileiro de 1916, ao incorporar os modelos de formação do contrato, fez uma leitura errada dessa regra do cc suíço e transformaram-na numa regra de aceitação pelo silêncio. Mas isso gerou problema, pois essa regra não está adaptada para tratar da aceitação pelo silêncio. 
	
	Por isso, o professor dividiu assim:
	2.4.1) Proteção do proponente (casos em que a aceitação protege o proponente)
	- o proponente tem urgência em receber a resposta e há incentivos econômicos (especulação) para que o aceitante retarde a emissão dessa resposta
	Caso típico: um agricultor quer fazer um contrato de seguro para a sua plantação quanto a determinados riscos (geada). Há uma possibilidade que ocorra nos próximos dias uma geada que arrase sua plantação. Aí ele envia uma proposta para a seguradora. Ele tem urgência em receber a aceitação da proposta por causa da geada, por isso se ela não aceitar ele vai correr atrás de outra seguradora. E há uma regra no CC que diz que é proibido fazer 2 contratos de seguro simultaneamente. Ele, então, quer saber logo. Por sua vez, a seguradora tem incentivos econômicos para esperar a aceitação. Há indícios metereológicos que não vai ocorrer a geada. Aí ela atrasa a emissão da reposta. Os ordenamentos consideram que o silêncio das seguradoras depois de um tempo é considerado uma aceitação. Caso ela não queira se vincular aquela proposta, ela precisa recusá-la rapidamente.
	Ex.2: previsto no art. 303, CC – aqui há uma proposta para formação de um contrato de assunção de dívida. Imagine que A é credor de B. Digamos que B deu um imóvel como garantia de pagamento da dívida (hipoteca). A é credor hipotecário. Digamos que B vende o imóvel para C. Se o B não pagar a divida, A poderá executar o imóvel. C tem o interesse de que B pague a divida. Alguns institutos permitem que C pague a dívida de A. Um instituto é a assunção de dívida (art. 303, CC). Outro instituto é o pagamento por terceiro (art. 304, CC). Neste caso, só se admite quando há o vencimento daquela dívida. C não assume a divida de B. No caso da assunção de dívida, C assume a dívida de B antes mesmo do vencimento. Se C

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