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Caderno de Direito Penal II - 2014 (Marquinho) Prof. Cléverson

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“VOCÊS DEVERIAM ESTAR ESTUDANDO” 
Prof. Cleverson Raymundo Sbarzi Guedes 
DIREITO PENAL II 
2014 – ATUALIZADO PELA LEI 12.850/13 
 
MARCUS FELIPE DE SOUZA CASTRO 
D i r e i t o P e n a l I I | 1 
 
Sumário 
1. Concurso de Pessoas ................................................................................................................................................................. 6 
1.1. Requisitos do Concurso de Pessoas ........................................................................................................................................ 7 
1.2. Exceções à Teoria Monista ..................................................................................................................................................... 8 
1.3. Formas Tradicionais de Concurso de Pessoas ........................................................................................................................ 9 
1.4. Participação ......................................................................................................................................................................... 10 
1.5. Artigo 29, CP ........................................................................................................................................................................ 11 
1.6. Tipos de Autoria ................................................................................................................................................................... 13 
1.7. Circunstâncias Incomunicáveis ............................................................................................................................................ 14 
1.8. Casos de Impunibilidade ...................................................................................................................................................... 16 
2. Penas ........................................................................................................................................................................................ 19 
2.1. Abordagem Constitucional .................................................................................................................................................. 19 
2.2. Penas de Caráter Perpétuo .................................................................................................................................................. 19 
2.3. Finalidades da Pena ............................................................................................................................................................. 20 
2.4. Penas Privativas de Liberdade ............................................................................................................................................. 20 
2.5. Regimes ................................................................................................................................................................................ 21 
2.6. Regime Inicial de Cumprimento de Pena ............................................................................................................................. 23 
2.6.1. Esquema Didático ............................................................................................................................................................ 25 
2.6.2. Regime dos Crimes Hediondos ........................................................................................................................................ 26 
2.7. Regras do Regime Fechado .................................................................................................................................................. 27 
2.8. Regras do Regime Semi-Aberto ........................................................................................................................................... 28 
2.9. Regras do Regime Aberto .................................................................................................................................................... 28 
2.10. Regime Especial ................................................................................................................................................................... 29 
2.11. Direitos do Preso .................................................................................................................................................................. 29 
2.12. Trabalho do Preso ................................................................................................................................................................ 29 
2.13. Legislação Especial ............................................................................................................................................................... 30 
2.14. Detração .............................................................................................................................................................................. 30 
2.14.1. Prisão em Flagrante ......................................................................................................................................................... 30 
D i r e i t o P e n a l I I | 2 
 
2.14.2. Prisão Temporária ........................................................................................................................................................... 31 
2.14.3. Prisão Preventiva ............................................................................................................................................................. 32 
2.14.4. Detração em Processos Distintos .................................................................................................................................... 34 
2.15. Nova Lei de Detração ........................................................................................................................................................... 35 
3. Penas Restritivas de Direitos ................................................................................................................................................... 37 
3.1. Prestação Pecuniária ........................................................................................................................................................... 41 
3.2. Perda de Bens e Valores ....................................................................................................................................................... 43 
3.3. Prestação de Serviço à Comunidade .................................................................................................................................... 44 
3.4. Limitação de Fim de Semana ............................................................................................................................................... 45 
3.5. Interdição Temporária de Direitos ....................................................................................................................................... 45 
4. Medidas de Segurança ............................................................................................................................................................ 48 
4.1. Prazos da Medida de Segurança .......................................................................................................................................... 51 
4.2. Superveniência de Doença Mental....................................................................................................................................... 52 
5. Pena de Multa ......................................................................................................................................................................... 54 
5.1. Fixação da Multa .................................................................................................................................................................54 
5.2. Aplicação e Execução ........................................................................................................................................................... 55 
6. Teoria das Circunstâncias ........................................................................................................................................................ 58 
6.1. Qualificadoras ...................................................................................................................................................................... 58 
6.2. Causas .................................................................................................................................................................................. 58 
6.3. Circunstâncias Legais ........................................................................................................................................................... 59 
6.4. Circunstâncias Judiciais ........................................................................................................................................................ 60 
7. Aplicação e Cálculo de Pena .................................................................................................................................................... 61 
7.1. Primeira Fase: Pena Base (Art. 59) + Qualificadora ............................................................................................................. 61 
7.2. Segunda Fase: Pena Intermediária ou Pena Provisória (Arts. 61/62 e Arts. 65/66) ............................................................ 63 
7.3. Terceira Fase: Pena Definitiva (Causas de Aumento e de Diminuição) ................................................................................ 68 
7.4. “Quarta Fase”: Complementos da Sentença ........................................................................................................................ 71 
7.5. Reincidência ......................................................................................................................................................................... 71 
8. Concurso de Crimes ................................................................................................................................................................. 75 
D i r e i t o P e n a l I I | 3 
 
8.1. As Penas ............................................................................................................................................................................... 75 
8.2. Espécies de Concurso de Crimes ........................................................................................................................................... 76 
8.2.1. Concurso Material ........................................................................................................................................................... 76 
8.2.2. Concurso Formal ............................................................................................................................................................. 77 
8.2.3. Crime Continuado............................................................................................................................................................ 77 
8.2.4. Cúmulo Material Benéfico (Arts, 70, P.U. e 71, P.U., CP) ................................................................................................ 80 
8.3. Multa ................................................................................................................................................................................... 81 
9. Limite e Unificação das Penas ................................................................................................................................................. 82 
9.1. Limite das Penas em um Único Processo ............................................................................................................................. 82 
9.2. Limite das Penas em Processos Distintos ............................................................................................................................. 83 
9.3. Condenação por Fato Posterior ........................................................................................................................................... 83 
9.4. Condenação por Fato Anterior ............................................................................................................................................. 84 
10. Juizados Especiais Criminais ............................................................................................................................................... 86 
10.1. Lei 9099 ................................................................................................................................................................................ 87 
10.2. Fase Preliminar .................................................................................................................................................................... 90 
10.2.1. Crime de Ação Privada .................................................................................................................................................... 91 
10.2.2. Crime de Ação Pública ..................................................................................................................................................... 92 
10.2.3. Composição Civil dos Danos (Transação Civil) ................................................................................................................. 92 
10.2.4. Efeitos da Transação Civil ................................................................................................................................................ 93 
10.2.5. Aplicação Imediata de Pena (Transação Penal) ............................................................................................................... 93 
10.3. Procedimento Sumaríssimo (Arts. 77 a 83) .......................................................................................................................... 96 
10.4. Sistemática Recursal ............................................................................................................................................................ 97 
11. Suspensão Condicional do Processo (art. 89) ..................................................................................................................... 99 
11.1. Requisitos para a Concessão da Suspro ............................................................................................................................... 99 
11.2. A Proposta da Suspro ......................................................................................................................................................... 100 
11.3. Condições da Suspensão Condicional do Processo: ........................................................................................................... 101 
11.4. Causas de Revogação da Suspro ........................................................................................................................................ 102 
11.5. Extinção da Punibilidade .................................................................................................................................................... 102 
D i r e i t o P e n a l I I | 4 
 
11.6. Suspensão da Prescrição .................................................................................................................................................... 103 
11.7. Recusa de Proposta da Suspro ........................................................................................................................................... 103 
12. Sursis ..................................................................................................................................................................................104 
12.1. Condições (Art. 78) ............................................................................................................................................................. 105 
12.2. Revogação (Arts. 81 e 82) .................................................................................................................................................. 106 
13. Livramento Condicional .................................................................................................................................................... 108 
13.1. Requisitos (Art. 83)............................................................................................................................................................. 108 
13.2. Soma de Penas (Art. 84) ..................................................................................................................................................... 110 
13.3. Condições (Art. 85) ............................................................................................................................................................. 110 
13.4. Revogação (Arts. 86 e 87) .................................................................................................................................................. 111 
13.5. Efeitos da Revogação (Art. 88)........................................................................................................................................... 112 
14. Ação Penal ......................................................................................................................................................................... 114 
14.1. Condições da Ação ............................................................................................................................................................. 114 
14.1.1. Legitimidade das Partes ................................................................................................................................................ 114 
14.1.2. Interesse de Agir ............................................................................................................................................................ 115 
14.1.3. Possibilidade Jurídica do Pedido ................................................................................................................................... 115 
14.1.4. Justa Causa .................................................................................................................................................................... 115 
14.2. Espécies de ação penal ...................................................................................................................................................... 115 
14.2.1. Ação Penal Pública ........................................................................................................................................................ 116 
14.2.2. Ação Penal Privada ........................................................................................................................................................ 116 
14.3. Prazos................................................................................................................................................................................. 117 
14.4. Princípios Informadores da Ação Penal Pública ................................................................................................................. 118 
14.5. Princípios Informadores da Ação Penal Privada ................................................................................................................ 119 
14.6. Causas de Extinção da Punibilidade na Ação Penal Privada .............................................................................................. 119 
15. Extinção da Punibilidade ................................................................................................................................................... 120 
15.1. Extinção da Punibilidade Fora do Artigo 107 do CP ........................................................................................................... 120 
15.2. Artigo 107, CP .................................................................................................................................................................... 120 
15.2.1. Morte do Agente ........................................................................................................................................................... 121 
D i r e i t o P e n a l I I | 5 
 
15.2.2. Anistia/Indulto/Graça .................................................................................................................................................... 121 
15.2.3. Abolitio Criminis ............................................................................................................................................................ 122 
15.2.4. Prescrição, Decadência ou Perempção ......................................................................................................................... 123 
15.2.5. Renúncia ao Direito de Queixa ou Perdão do Ofendido ............................................................................................... 123 
15.2.6. Retratação do Agente .................................................................................................................................................... 124 
15.2.7. Inciso VII revogado pela lei 11.106/05 .......................................................................................................................... 125 
15.2.8. Inciso VIII revogado pela lei 11.106/05 ......................................................................................................................... 125 
15.2.9. Perdão Judicial ............................................................................................................................................................... 125 
15.3. Artigo 108, CP .................................................................................................................................................................... 126 
15.3.1. Renúncia ........................................................................................................................................................................ 126 
15.3.2. Perdão do Ofendido ...................................................................................................................................................... 127 
16. Efeitos da Condenação ...................................................................................................................................................... 129 
17. Prescrição .......................................................................................................................................................................... 131 
17.1. Formas e Espécies .............................................................................................................................................................. 131 
17.2. Pretensão Punitiva (“Prescrição da Ação Estatal”) ............................................................................................................ 132 
17.2.1. Propriamente Dita ......................................................................................................................................................... 133 
17.2.2. Superveniente ou Subsequente (art. 110, § 1º) ............................................................................................................ 134 
17.2.3. Retroativa (art. 110, §§ 1º e 2º) .................................................................................................................................... 134 
17.3. Pretensão Executória (“Prescriçãoda Pena”) .................................................................................................................... 134 
17.4. Pena de Multa (art. 114) .................................................................................................................................................... 135 
17.5. Evasão do Condenado ou Revogação do LC (Art. 113, CP) ................................................................................................ 135 
17.6. Diminuição de Prazos (art. 115) ......................................................................................................................................... 136 
17.7. Concurso de Crimes (art. 119) ............................................................................................................................................ 136 
17.8. Termo Inicial (Arts. 111 e 112) ........................................................................................................................................... 137 
17.9. Causas Interruptivas (art. 117) .......................................................................................................................................... 139 
17.10. Causas Suspensivas ou Impeditivas (art. 116) ............................................................................................................... 140 
17.11. Análise da Pena em Perspectiva (Entendimento Doutrinário) ....................................................................................... 142 
 
D i r e i t o P e n a l I I | 6 
 
1. CONCURSO DE PESSOAS 
 
Crimes unissubjetivos: são aqueles que podem ser praticados por uma só pessoa. 
Compreende a grande maioria dos crimes (furto, sequestro, estupro, etc.). Mas também podem ser 
cometidos por várias pessoas, o que configura o concurso de pessoas. 
Crimes plurissubjetivos: obrigatoriamente são praticados por uma pluralidade de pessoas. 
O concurso entre as pessoas é obrigatório, necessário. 
O exemplo mais típico de crime plurissubjetivo é a associação criminosa, que está tipificada 
no art. 288 (“Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”). Um outro 
exemplo é a rixa, que é uma briga em que as partes não podem ser identificadas (“Art. 137 – 
Participar de rixa, salvo para separar os contendores”). Obviamente, numa rixa, deve haver no mínimo 
três sujeitos (se existirem apenas dois lados, eles poderão ser identificados). 
A associação criminosa só é configurada quando é feita a associação para cometer crimes 
(no plural). Isso é verificado de acordo com dados objetivos. 
Exemplos: 
→ Seis pessoas se associam para cometer assaltos. Independentemente de praticarem um 
único assalto, já incorreram no crime de associação criminosa (é um crime autônomo; basta a 
associação). 
→ Seis pessoas resolveram cometer um único sequestro. Assim, não configuraram uma 
associação criminosa. Só tinham a intenção de praticar um crime. 
Como já dito, a associação criminosa é um crime autônomo. 
Exemplo: Quatro pessoas se associaram para cometer furtos de veículos. Um era um exímio 
motorista, outro era especialista em arrombar carros, outro era especialista em fazer ligação direta 
e o outro tinha um trânsito bom nos estacionamentos da cidade. Antes de cometerem qualquer 
furto, já incorreram no crime de associação criminosa (é um crime autônomo). Dez dias depois, 
furtaram três veículos. Portanto, cometeram quatro crimes (associação criminosa e três furtos). 
Exemplos importantes: 
→ Os sujeitos A, B e C se associaram para praticar furtos de automóveis. Eles praticaram o 
núcleo do tipo do crime de associação criminosa (se associaram). 
→ Três sujeitos se juntaram para furtar um carro. Um iria utilizar uma chave falsa, outro 
faria a ligação direta, e os outros dois ficariam vigiando o local. Após o furto, fugiram. Eles 
praticaram um crime unissubjetivo, mas o praticaram em concurso de pessoas. O núcleo do crime 
de furto é “subtrair”. Mesmo que os quatro não tenham agido da mesma forma, todos 
responderão pelo crime de furto, de acordo com a regra do art. 29 (concurso de pessoas – “Quem, 
D i r e i t o P e n a l I I | 7 
 
de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua 
culpabilidade”). É uma regra de extensão dos limites do tipo, que serve para abranger as condutas 
que concorrem para o crime sem que estejam previstas na lei como núcleos de tipos. 
→ Dez pessoas se juntaram para praticar um sequestro. Três dos mais fortes abordaram a 
vítima e a levaram para o cativeiro. Neste cativeiro existiam quatro pessoas que vigiavam o local. 
Um outro sujeito havia alugado a casa. Havia uma cozinheira e um especialista em negociações 
por telefone. Todos os dez responderão por sequestro, de acordo com a regra do art. 29. 
 
1.1. REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
OBS.: Nos crimes plurissubjetivos tais requisitos não são necessários, uma vez que cada 
membro pratica o núcleo do tipo. 
→ Pluralidade de condutas (pluralidade de comportamentos) 
Para se enxergar um concurso de pessoas, tem que ser possível enxergar que cada uma das 
pessoas que concorreu para a prática do crime teve um comportamento individual. 
→ Nexo causal 
Nova redação do Art. 288 do Código Penal, modificado pela Lei Nº 12.850 de 2 de agosto de 2013. Seu 
Art. 24 diz: 
Art. 24. O art. 288 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a 
vigorar com a seguinte redação: 
“Associação Criminosa 
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de 
criança ou adolescente.” 
Sendo assim, não existe mais o crime de quadrilha e sim o de associação criminosa. Continua sendo 
um crime autônomo, em que basta a associação com o intuito de cometer crimeS (plural) para que se 
pratique o núcleo do tipo. Além disso, é um crime plurissubjetivo em que necessariamente haverá o 
concurso de pessoas. As alterações feitas foram: 1) número de agentes envolvidos que diminui de no 
mínimo quatro para três; 2) previsão de causa de aumento em caso de participação de criança e 
adolescente. 
D i r e i t o P e n a l I I | 8 
 
Cada uma das condutas deve guardar uma relação de causalidade com o resultado do 
crime. 
→ Vínculo subjetivo (ou vínculo/liame psicológico) 
Entre os vários sujeitos que estão no concurso de pessoas, deve haver este vínculo. Isso 
deve ocorrer porque um deve aderir ao comportamento do outro. O vínculo deve ser válido, isto 
é, juridicamente aceito, voluntário e espontâneo. 
→ Unidade de infração 
Se várias pessoas com várias condutas que guardam nexo causal com o resultado do crime 
têm entre si um vínculo psicológico, desejando a prática do mesmo crime e o alcance do mesmo 
resultado, serão responsabilizados por este crime e responderão por uma única infração. 
Assim, todos os envolvidos no concurso praticam um mesmo delito, devendo, como tal, ser 
punidos da mesma forma – fundamento político criminal de se punir igualmente os que agem da 
mesma maneira. 
Isso acarreta na adoção da teoria monista: quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide 
nas penas a este cominadas (art. 29). A adoção cega da teoria monista pode levar a algumas injustiças 
(por exemplo: o sujeito que utilizaria a chave falsa não teve muita função, pois o dono do carro 
havia deixado o veículo aberto; ninguém incomodou os vigias enquanto os dois indivíduos 
tentavam abrir o carro; a cozinheira estava sendo obrigada pelos sequestradores). No Brasil, ela 
não é adotada cegamente, pois no mesmo artigo 29 já vem escrito “na medida de sua 
culpabilidade”. Isso é um início de mesclana teoria monista. 
Observações 
Ainda no artigo 29: 
§1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. 
Se no cometimento de determinado crime, uma das pessoas teve uma participação de 
menor importância, ela tem sua pena diminuída. É uma maneira de temperar o rigor da punição. 
§2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa 
pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 
 É a chamada cooperação dolosamente distinta. 
Exemplo: Quatro pessoas combinaram de praticar um furto em uma casa. Lá, encontraram o 
proprietário, e um dos criminosos mata o cidadão, mesmo com o repúdio dos colegas, que 
alegaram que aquilo não havia sido combinado. Não é justo que os demais respondam por 
latrocínio. Responderão apenas por furto. 
1.2. EXCEÇÕES À TEORIA MONISTA 
 
D i r e i t o P e n a l I I | 9 
 
Existem essas três regras que quebram o rigor trazido no art. 29: uma no caput, uma no §1º e 
uma no §2º. Existem outras regras trazidas pelo Código Penal, caracterizando as exceções 
pluralistas à teoria monista. 
Com essas exceções pluralistas, tenta-se estabelecer punições diferenciadas para aqueles 
sujeitos que praticam o crime. Então, se ocorre um fato criminoso, podem ocorrer varias formas de 
punição separadas. 
Existem alguns crimes em que o próprio legislador quer tratar diferentemente as pessoas 
envolvidas no crime. 
Exemplos: 
→ “Aborto Provocado pela Gestante ou com Seu Consentimento: Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou 
consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos”. Quem pratica esse crime é a 
gestante (abortando sozinha, ou permitindo que alguém o faça). 
→ “Aborto Provocado por Terceiro: Art. 126 - Provocar Aborto com o consentimento da gestante: Pena - 
reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos”. 
A previsão é diferente, a quantidade de pena é diferente. O legislador se preocupou com o 
crime de aborto, e desejou dar punições diferentes para um e para outro. Por isso ele estabeleceu 
uma exceção pluralista à teoria monista. O caso do aborto é uma exceção: a mulher é punida por 
um artigo, e o médico, ou quem faz o aborto, por outro. 
 Outra exceção envolve a corrupção (passiva e ativa). 
Corrupção passiva: Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que 
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. É um crime praticado por um funcionário público. 
Corrupção ativa: Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo 
a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. É um crime 
praticado pelo particular contra a Administração. 
 O legislador estabeleceu as punições em artigos diferentes porque punem sujeitos 
diferentes. Porém, além disso, há uma razão de sistematização do Código. No art. 312 começam os 
crimes praticados por funcionários públicos, e no art. 328 começam os crimes praticados pelo 
particular contra a Administração Pública. O legislador organiza dois capítulos separados para 
dizer que as pessoas cometem crimes diferentes. 
1.3. FORMAS TRADICIONAIS DE CONCURSO DE PESSOAS 
 
 A teoria restritiva discute as formas de participação no concurso de pessoas e diz que tais 
formas são a autoria e a participação. Autor, segundo a teoria restritiva, será aquele que praticar o 
núcleo/verbo do tipo. Partícipe (participante) será aquele que colabora na prática do crime, mas 
não pratica o núcleo do tipo. 
D i r e i t o P e n a l I I | 10 
 
 Essa definição é muito importante para se ter uma primeira noção sobre as formas de 
concurso de pessoas, mas ela não esgota a matéria. Assim, não se pode partir da premissa de que o 
autor é aquele mais importante, e que partícipe é aquele sujeito acessório. 
Exemplos: 
→ A quer matar B e contrata um matador de aluguel. O matador de aluguel é o autor, e A é 
o autor intelectual. A expressão “autor intelectual” indica que sua participação foi muito grande, 
exercendo um controle da situação (afinal, é ele quem deseja matar B). 
→ Um traficante de drogas deseja vender sua mercadoria. Mas, sendo um bom traficante, 
não põe a mão na droga. Ele utiliza terceiros (menores, inimputáveis) para exercer sua atividade. 
O menor é pego e afirma que só seguia as ordens do tal traficante. Assim, o traficante exerceu o 
crime através do menor (ele é o autor mediato). Autor mediato é aquele que se vale de terceiro 
inimputável (por idade, doença mental, embriaguez, erro, coação) para praticar o crime. 
Na grande maioria das vezes a autoria mediata e a autoria intelectual se identificam, apesar 
de serem coisas distintas. Isso porque o sujeito pode ter o controle da situação em ambos os casos. 
Como nenhum dos dois pratica o núcleo do tipo, o primeiro conceito de autor se mostra 
insuficiente. 
Assim, surge uma posição doutrinária que diz que autor é aquele que tem domínio do fato, 
o controle sobre a situação de fato. Continua sendo uma visão restritiva, pois conserva o conceito 
de partícipe, mas amplia o conceito de autor. 
Tanto será autor aquele que pratica o núcleo quanto será autor aquele que pratica qualquer 
conduta que signifique domínio sobre situação de fato. O autor intelectual e o autor mediato têm 
controle sobre a situação de fato, e por isso são chamados de autores. Isso caracteriza a teoria do 
domínio do fato, que tem duas vertentes: 
Teoria do domínio final do fato: utilizada pelos que adotam a teoria finalista da ação. 
Teoria do domínio funcional do fato: utilizada pelos que adotam a teoria funcionalista da 
ação. 
 Autor, então, seria aquele que tem domínio final ou funcional do fato, ou seja, é aquele 
sujeito que, na realização do crime, tem um controle sobre a situação do fato. 
 Partícipe é aquele que colabora no crime sem ter o controle sobre a situação de fato (é o 
sujeito que empresta a arma, a faca, a chave falsa, que deixa a porta aberta, que instiga o outro a 
praticar o crime, etc.). 
1.4. PARTICIPAÇÃO 
 
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 Um sujeito pode participar de um crime livremente. Está escrito na lei: “quem de qualquer 
modo”; não há maneiras de esgotar as formas de participação. Mas a doutrina afirma que a 
participação pode ser material ou moral. 
Participação material: a participação será material quando for possível 
materializar/enxergar a forma de participação de um sujeito. Essa forma de participação é 
chamada por alguns autores de cumplicidade. 
Exemplo: Um sujeito pode participar materialmente de um homicídio emprestando uma 
faca. É uma participação palpável, capaz de ser exteriorizada. 
Participação moral: é uma participação mais livre. Pode ser feita através de instigação e de 
determinação. 
Exemplo: Um sujeito está com raiva do indivíduo B, e é instigado por um terceiro a cometer 
um homicídio. Este terceiro fez crescer no sujeito a vontade de praticar o crime, vontade esta que 
já existe (ele já tinha a intenção). Isso caracteriza a instigação. Na determinação, um terceiro faz 
nascer e alimenta a ideia de cometer um crime na cabeça do indivíduo, que ainda não tinha a 
intenção de praticá-lo. 
 Todas essas formas são livres, tanto na participação material quanto na participação moral; 
não há meios de esgotar essas formas. 
OBS. 1: O prefixo “co” nas expressões co-autor e co-partícipe apenas indica que são dois 
sujeitos. Não há diferença entre o autor e o co-autor; entre o partícipe e o co-partícipe. 
OBS. 2: No crime culposo, a doutrina toda admite a possibilidade de co-autoria (quando 
dois sujeitos praticam a conduta descritano tipo). A grande maioria da doutrina acha que não 
cabe na forma de participação; isso porque não há a visão do alcance do resultado. Assim, como 
admitir a participação, que é uma forma de aderir ao comportamento do outro visando o 
resultado, se o próprio autor não visa o resultado? 
1.5. ARTIGO 29, CP 
 
 As três regras (caput, §1º e §2º) do art. 29 merecem ser interpretadas com um pouco de 
cuidado. 
Art. 29, caput: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, 
na medida de sua culpabilidade. 
Culpabilidade, aqui, seria a reprovabilidade de uma conduta por parte do ordenamento. 
Exemplo: O sujeito A é motorista profissional e transporta uma carga, diariamente, para 
Caxambu. Em uma de suas inúmeras viagens, ele atropela uma pessoa e ela morre (a causa foi um 
defeito no freio). O sujeito B vai raramente para Caxambu, e em uma de suas viagens, atropela 
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uma pessoa, que morre (a causa foi a mesma). Quem teria uma maior culpabilidade? Se A é 
profissional, ele teria que cuidar mais de seu veículo, fazendo uma manutenção mais constante. 
Existirão casos em que um sujeito pode ter mais reprovabilidade, e casos em que ele poderá 
ter menos reprovabilidade. Portanto, há meios de medir a maior ou menor reprovabilidade. Isso 
serve para o momento da aplicação da pena, que também será maior ou menor. 
 A medida da culpabilidade está expressa no artigo 59. 
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos 
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme 
seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a 
quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de 
liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 
 A culpabilidade do caput do art. 29 será importante na hora da aplicação da pena, que será 
maior se sua culpabilidade for maior, ou menor se sua culpabilidade for menor. 
Art. 29, §1º: Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a 
um terço. 
Quem enxerga a participação de menor importância é o juiz, no caso concreto. Ele pode 
enxergar um partícipe de grande importância e um partícipe de pequena importância. Este poderá 
ter a sua pena reduzida de um terço a um sexto. É uma forma de quebrar o rigor da teoria 
monista. 
OBS.: Não há autor de menor importância, apenas partícipe. 
Art. 29, §2º: Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a 
pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 
É a cooperação dolosamente distinta (alguns autores chamam de “desvio subjetivo”). 
Exemplo: Quatro pessoas decidem cometer um furto (sem violência). O primeiro que entra 
na casa, que esperava estar abandonada, avista o proprietário. Ele não pensa duas vezes e a mata, 
caracterizando um latrocínio. Aqui, não era previsível que haveria alguém na casa, e, portanto, 
apenas o indivíduo que disparou a arma responderá pelo latrocínio. 
 O §2º dá muito mais importância ao que as pessoas combinaram previamente ao 
cometimento do crime. O vínculo subjetivo é o requisito mais importante do concurso de pessoas 
(é a união de vontades dirigida a um resultado). 
Exemplo: Quatro pessoas combinaram um roubo (com violência). Combinaram que 
entrariam no banco e não matariam ninguém; apenas retirariam as armas dos vigias e deixariam 
as pessoas em um mesmo local, “confinadas”. Entretanto, na hora do crime, um vigia reagiu e um 
dos indivíduos atirou no vigia, o matando. Aqui, era previsível que o vigia reagisse, afinal, era sua 
obrigação (estava de serviço no banco). Portanto, como era um fato previsível, todos responderão 
por latrocínio, pois o disparo no vigia é benéfico para o cometimento do crime como um todo. 
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Se combinaram furto, como no primeiro exemplo, mas na hora um dos sujeitos se desviou e 
cometeu um latrocínio, os outros serão punidos pelo furto. Se combinaram uma coisa menor, é 
justo que sejam punidos por uma coisa menor. Entretanto, num roubo armado ao banco, isso não 
poderá ser aplicado pela previsibilidade. 
Exemplos: 
→ A, B e C foram praticar um furto (não se passava pela cabeça de A aplicar violência). 
Entretanto, C levou uma arma escondida, e atirou numa pessoa, que morreu. B já conhecia C, e 
sabia que ele era muito violento. Era previsível, para o indivíduo B, que C aplicasse violência. 
Assim, a pena do furto será aplicada ao indivíduo B aumentada até a metade, pois apesar de ele 
não ter tido a vontade de cometer um latrocínio, ele conhecia a personalidade de C, e tinha a 
previsibilidade de que ele pudesse aplicar violência. 
→ Quatro indivíduos planejam praticar um roubo, mas sem matar ninguém. Um deles não 
resiste à tentação, e mata uma pessoa. Caso não haja um rigor muito alto, os outros três serão 
punidos apenas pelo assalto, e o outro será punido por latrocínio. Entretanto, há uma 
previsibilidade para os três de que haja a utilização da arma de fogo (os quatro sempre foram 
violentos e já haviam cometido diversos tipos de crimes deste mesmo tipo). Portanto, para eles, 
serão aplicadas a pena de roubo aumentada até a metade. 
 
1.6. TIPOS DE AUTORIA 
 
→ Autoria mediata 
O autor mediato se utiliza de um autor imediato para a prática do crime. Um doente mental 
será absolvido, mas pegará uma medida de segurança. Um coagido moralmente será absolvido 
puro. Um embriagado será absolvido puro. Um adolescente pegará uma medida sócio-educativa. 
Entre autor mediato e autor imediato não existe vinculo subjetivo válido. Portanto, não existe 
concurso de pessoas. Quem será punido é o autor mediato. 
→ Autoria colateral 
Exemplo: Dois sujeitos, A e B, têm um inimigo em comum: C. Entretanto, eles não se 
conhecem. O sujeito A espera C de tocaia no ponto X, e o sujeito B o aguarda no ponto Y, sem 
estarem em concurso (não apresentam vínculo subjetivo). O disparo de A lesionou C na perna, 
enquanto o tiro de B atingiu C no peito, o matando. O sujeito A será punido por tentativa de 
homicídio, e B por homicídio. Entretanto, caso não haja possibilidade de definir qual disparo 
matou C, a solução é a aplicação da tentativa de homicídio para A e também para B. Caso ambos 
fossem punidos por homicídio, seria uma injustiça. A solução menos ruim, portanto, é punir 
ambos por homicídio tentado. 
 Quando estamos diante de uma autoria colateral, não há vinculo subjetivo entre os autores, 
e, portanto, não há concurso de pessoas. A punição não é feita pelo conjunto da obra, mas sim pelo 
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que cada autor fez. Caso a perícia não consiga definir quem fez o que, há o que se chama de 
autoria incerta. 
→ Autoria ignorada 
É caracterizada pela não definição de quem praticou determinado crime; não se sabe quem 
praticou a ação. 
1.7. CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS 
 
 Previsão no Código: art. 30 (“Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, 
salvo quando elementares do crime”). 
 Circunstâncias de um crime são dados acessórios que circundam o tipo. A tipicidade é 
composta por elementos normativos, subjetivos, descritivos. São circunstâncias que circundam o 
núcleo do tipo. 
 Circunstâncias de caráter pessoal (circunstâncias subjetivas) são aquelas que dizem respeito 
à pessoa que comete o crime. 
Exemplo: O sujeito A (reincidente) se une ao sujeito B (primário) para cometer um furto. Há 
uma unidade de crime. Ambos serão punidos por um furto (um único crime). A circunstância da 
reincidênciade A não se comunica a B. 
 As circunstâncias impessoais (objetivas), a contrario sensu do que está escrito na lei, 
comunicam-se, desde que seja do conhecimento de todos. Há essa exigência para que se evite a 
responsabilidade penal objetiva. 
 
Lembrete: É vedada a responsabilização pela mera produção de resultado. Ninguém responderá 
por um resultado absolutamente imprevisível, se não houver obrado com dolo ou culpa. 
 
Exemplo: A e B vão cometer um roubo. A vai armado, e B não. O roubo é com o emprego de 
arma para os dois. É uma circunstancia objetiva, impessoal, do fato. Não diz respeito apenas a 
pessoa de A, mas sim ao fato em si. 
→ Circunstâncias elementares 
 Existem alguns crimes que trazem algumas circunstâncias elementares. São circunstâncias 
situadas ao redor do núcleo do tipo tão importantes que, caso sejam retiradas, ele não existirá 
como antes. Às vezes nem existirá mais tipo penal. 
Exemplos: 
D i r e i t o P e n a l I I | 15 
 
→ O sujeito A, professor de Direito da UFJF, recebe da faculdade um laptop para que possa 
trabalhar. Em razão de ter esse laptop e da facilidade de transportá-lo, o professor o leva para casa 
e o vende posteriormente. Ele cometeu o crime de peculato (art. 312 - Apropriar-se o funcionário público 
de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou 
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio). 
→ O sujeito B, aluno da faculdade, entra no gabinete do professor e se apropria do laptop, o 
levando para a casa. Ele cometeu o crime de furto. 
→ O professor de Direito empresta o laptop para o sujeito C, pedindo-lhe que faça um 
trabalho de campo. O sujeito C, então, vende o laptop. Ele cometeu o crime de apropriação 
indébita (art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção). 
No crime de peculato, o fato de ser funcionário público é uma circunstância elementar. 
Caso essa característica pessoal seja extraída do tipo, há uma modificação. Pode se transformar em 
furto, apropriação, estelionato. Só se pratica peculato sendo funcionário público. 
Diante das circunstâncias elementares, se elas forem do conhecimento das pessoas 
envolvidas, elas se comunicam. 
Exemplo: O sujeito A, professor da UFJF, quer vender o laptop concedido pela faculdade. 
Ele, então, pede uma carona para o sujeito B, seu aluno, para que possa encontrar o comprador, e 
ainda afirma dar um percentual do valor da venda para B. O sujeito B sabia que o laptop não era 
de A. Assim, o crime praticado foi o de peculato, para ambos. É uma circunstância elementar e o 
sujeito B tinha conhecimento do fato. Caso o sujeito B não soubesse que A era funcionário público, 
ele responderia por furto. 
Um outro exemplo diz respeito ao crime de condescendência criminosa, descrito no art. 320 
(“Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo 
ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente”). 
 No crime de condescendência criminosa, ser funcionário público é uma circunstância 
elementar do tipo. Caso ela seja retirada, a conduta passa a ser irrelevante. 
Exemplos: 
→ O sujeito A é policial militar. A carreira dele é organizada hierarquicamente. Caso ele 
veja o sujeito B cometendo uma infração, é obrigação dele levar o fato ao conhecimento do 
delegado, pois ele deve satisfação a ele. Caso ele não faça isso, ele comete o crime de 
condescendência criminosa. Assim, para os funcionários públicos, há uma obrigação de punir 
(caso seja o superior) ou de dedurar a um superior. 
→ O sujeito A é professor de inglês. Entre ele e seus colegas de trabalho não existe relação 
hierárquica. Caso ele veja seu colega cometendo uma falta funcional, ele não é obrigado a dedurá-
lo para o seu superior. 
Outro exemplo diz respeito ao crime de infanticídio, que está no art. 123 (“Matar, sob a 
influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”). 
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 As circunstâncias que se encontram no crime de infanticídio são elementares. Se for retirada 
qualquer uma delas, se trata de um homicídio. 
Exemplos: 
→ Se a mãe, sob a influência do estado puerperal, logo após o parto, mata a enfermeira, é 
homicídio. 
→ Caso a enfermeira mata a criança, se trata de um homicídio. 
→ Se a mãe, mata o filho logo após o parto, mas sem a influência do estado puerperal, é 
homicídio. 
→ A mãe, sob a influência do estado puerperal, logo após o parto, deseja matar o seu filho e 
pede a enfermeira um instrumento cortante capaz de fazer isso. A enfermeira entrega a ela um 
bisturi e a mãe mata o filho. A enfermeira responderá por infanticídio. Como são circunstâncias 
elementares, do conhecimento da enfermeira, comunicam-se, mesmo que ela não seja mãe e não 
esteja o estado puerperal. 
OBS.: Assim, a lei alivia neste tipo de crime (infanticídio), ao contrário do que faz no crime 
de peculato. 
 
1.8. CASOS DE IMPUNIBILIDADE 
 
A princípio, os atos da fase interna do iter criminis não são puníveis (são irrelevantes 
penais). São os atos de cogitação e preparação. Na fase externa, ou há a consumação do crime, ou 
há a tentativa. 
Lembrete: 
Fase de cogitação: Não existe lesividade. A fase das ideias, como não possui exterioridade e 
alteridade, é um irrelevante penal. Corresponde à definição da infração que o sujeito deseja 
praticar, bem como a representação e antecipação mental do resultado. 
Fase de preparação: Esta fase constitui a eleição dos meios que o indivíduo fará uso para 
alcançar o resultado. Em regra, os atos preparatórios são também irrelevantes penais. 
A transição da fase interna para a fase externa se dá quando há a prática do ato capaz de 
produzir o núcleo do tipo. 
Exemplo: Um crime de homicídio se inicia quando há a prática do ato capaz de matar. 
Entretanto, há alguns crimes que são punidos já na fase de preparação. São fatos relevantes, 
que constituem crimes autônomos. 
D i r e i t o P e n a l I I | 17 
 
Exemplos: 
→ Associação criminosa: Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de 
cometer crime 
→ Petrechos para falsificação de moeda: Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou 
gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à 
falsificação de moeda. 
Transportando este assunto para o concurso de pessoas: 
Exemplos: 
→ O sujeito A empresta uma arma para o sujeito B matar o sujeito C. Entretanto, no 
momento do início da execução do crime, enquanto A ainda apontava a arma para a futura vítima, 
a polícia aparece e impede o homicídio. Não houve a prática do ato capaz de matar (não houve 
início da execução; não houve tentativa). Não responderão por nada. 
→ Um empréstimo de uma arma para o cometimento de um crime só ganha relevância se 
há a ocorrência do ato capaz de produzir o núcleo do tipo. Caso o sujeito A mate o sujeito B com a 
arma emprestada pelo sujeito C, A e C responderão por homicídio. 
→ Quatro indivíduos vão praticar um furto de um carro. Não há associação. Após o carro 
ser arrombado, eles se arrependem e vão para suas casas. Ocorreu uma desistência voluntária. 
Eles podem responder por dano, mas o furto não ocorreu. 
 
Lembrete: 
A desistência voluntária (ponte de ouro) ocorre quando o sujeito está executando o crime. Antes 
de findar os atos de execução, ele desiste voluntariamente. Não há necessidade de ser uma 
desistência espontânea (pode haver, por exemplo, um aconselhamento). 
 
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se 
produza, só responde pelos atos já praticados. 
O benefício da desistência voluntária é que o sujeito deixa deresponder pela tentativa do 
crime, mas responderá apenas pelos atos anteriores já praticados. 
Exemplo: Quatro indivíduos vão furtar uma casa. Eles levam várias ferramentas e, instantes 
antes de começarem o arrombamento, a polícia os impede. Eles não responderão por nada, pois 
não houve início da execução. 
Dentro do concurso de pessoas, há crimes que são punidos já na fase de preparação. 
Exemplos: 
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→ Associação criminosa. 
→ Associação para o tráfico. 
→ Incitação ao crime: Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime. 
Exemplo: Um artista incita a plateia para destruir o teatro. Só o fato de ele ter incitado, ele já 
responderá pelo crime. Não precisa ocorrer o que o artista queria. É um ato preparatório punível. 
Caso a plateia destrua o teatro, o artista responderá por incitação e por dano, e os que destruírem 
o teatro, por dano. 
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2. PENAS 
 
2.1. ABORDAGEM CONSTITUCIONAL 
 
Existem princípios constitucionais em matéria penal e matéria processual penal. 
Quando o legislador trouxe os princípios penais e processuais penais para o corpo da 
Constituição, ele quis fortalecer as instituições que cuidassem da liberdade do cidadão. Assim, 
esses princípios são supervalorizados para evitar qualquer deslize das autoridades no que se trata 
da liberdade individual. 
Dessa forma, dentro de um Estado Constitucional de Direito, embora o Estado tenha o 
dever/poder de aplicar a sanção penal àquele que, violando o ordenamento jurídico-penal, 
praticou determinada infração penal, a pena a ser aplicada deverá observar os princípios 
expressos, ou mesmo implícitos, em nossa Constituição Federal. 
2.2. PENAS DE CARÁTER PERPÉTUO 
 
No Brasil, adotou-se a limitação das penas (prazo limitado); existe um mínimo e um 
máximo (30 anos) para a fixação de penas. 
Quando se fala em medidas de segurança, que é a outra espécie de sanção penal, o 
legislador pecou. As medidas de segurança têm prazo indeterminado, pois estão calcadas na 
periculosidade do agente, tendo um aspecto muito mais tratativo do que retributivo. Se um dia 
acabar a periculosidade, o que pode não acontecer, acabaram os motivos para a aplicação da 
medida de segurança. 
A grande crítica que se faz é que esse prazo indeterminado é também ilimitado; durará 
enquanto persistirem os sintomas da periculosidade do sujeito. 
Uns dizem que a Constituição proibiu as formas punitivas de caráter perpétuo, e outros 
afirmam que proibiu apenas as penas. A base do primeiro argumento é a seguinte: só se aplica 
medida de segurança para doente mental que delinquiu; assim, as formas punitivas de caráter 
perpétuo seriam proibidas no que tange a todas as espécies de sanções penais. Por isso, deve 
haver um limite, um teto. As medidas de segurança, assim, deveriam ser limitadas e 
indeterminadas. 
Exemplo: Um doente mental brigou com o seu colega, desferiu um soco nele (lesão corporal 
de natureza leve). Um sujeito normal brigou com o seu colega e também desferiu um soco contra 
ele (lesão corporal de natureza leve). O sujeito normal e o doente mental responderão pelo caso. 
Pode não acontecer nada com o sujeito normal, caso não haja representação contra ele. Se houver 
representação, ele pode receber uma transação penal; se ele não aceitar a transação, pode ter uma 
suspensão do processo; se ele não aceitar a suspensão, ele pode, no final, ser absolvido ou 
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condenado; se ele for condenado, pode pegar uma pena restritiva, uma pena privativa ou uma 
multa. Existem várias oportunidades para ele. O sujeito que é doente mental não tem direito a 
transação, a suspensão, e vai responder o processo; será absolvido e receberá uma medida de 
segurança (sentença absolutória imprópria). A pena prevista para esse tipo de crime é de detenção 
de 3 meses a 1 ano. Esse sujeito pegará uma internação por prazo indeterminado e ilimitado. 
 É por este motivo que algumas pessoas pensam que a fixação da medida de segurança por 
prazo indeterminado é inconstitucional, pois poderia levar a uma punição perpétua. 
2.3. FINALIDADES DA PENA 
 
Na nossa legislação aparecem três espécies de penas: privativas, restritivas e multa. Com 
essas espécies, o legislador tem alguns objetivos declarados, quais sejam: 
Finalidade Retributiva: é prevista em lei. Em primeiro lugar vem um castigo pelo mal 
causado individualmente ou coletivamente. É uma punição, em sentido estrito. Por isso, sempre se 
tem em mente que as penas guardam uma proporcionalidade quantitativa com a gravidade da 
conduta cometida. 
Finalidade Preventiva: quando o sujeito vai ser punido, a punição pode servir de exemplo 
para ele e para os outros. O aspecto pedagógico dessa punição pode atingir o criminoso (com 
vistas a não mais delinquir) e pode atingir os indivíduos que conhecem esse sujeito ou que vieram 
a ter conhecimento do caso. A punição, aqui, seria um exemplo para os demais. 
Entretanto, o exemplo da punição pode ocorrer de forma inversa. A impunidade caminha 
em sentido oposto da prevenção. Quando um sujeito comete um crime e sai impune, ele percebe 
que poderá cometer mais crimes. Quando as demais pessoas percebem que o autor de um crime 
saiu impune, percebem que podem passar a cometer crimes, pois também sairão impunes. 
 Finalidade de Ressocialização do Preso: se o sujeito foi condenado, se o juiz já mediu a 
quantidade de pena necessária para que se efetive a retribuição e prevenção, há uma outra 
preocupação, à luz da ressocialização. A Lei de Execução Penal diz que o sujeito deve ter 
condições para ser reintegrado socialmente. A ressocialização está calcada em dois pilares: 
trabalho e educação. Com estas duas ferramentas restaria alguma chance de o preso ser inserido 
novamente no seio social. 
2.4. PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE 
 
 Nos primórdios, a vingança privada não era vista com maus olhos. Se um sujeito matasse, o 
certo seria matá-lo, se ele roubasse, teria suas mãos cortadas. 
 Depois, essa vingança privada foi dando espaço para a vingança pública. Mais ainda 
existiam sanções cruéis. Houve apenas uma substituição do autor da punição. 
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 Isso deu lugar a mecanismos menos cruéis e mais humanizados de punição. Houve uma 
preocupação um pouco menor com a retribuição e um pouco maior com a ressocialização. No 
Brasil isso funciona dessa maneira. 
 Para muitos países, entretanto, isso não ocorre dessa forma. No Irã, por exemplo, se um 
sujeito cometer um furto, terá suas mãos cortadas. Na China, se cometer um estupro, será 
castrado. 
 Com essa evolução das sanções penais, encontrou-se uma forma de efetivar a vingança 
pública, sem que ela passasse por um aspecto de crueldade: é a pena privativa da liberdade. O 
Estado encontrou um jeito de punir o agente (retribuição do mal praticado e até mesmo de 
ressocialização) sem passar pela crueldade. Legitimou-se, assim, a pena privativa da liberdade 
como resposta a um ilícito penal. Na grande maioria dos países do mundo, o Estado trouxe para si 
a hegemonia de aplicação da pena privativa da liberdade (o Estado possui o monopólio do jus 
puniendi). 
 Assim, o Estado também passou por modificações: no século XVI, por exemplo, os 
infratores eram jogados em masmorras escuras, calabouços inóspitos, etc. No século XVIII, 
apareceram algumas prisões nos Estados Unidos e na Inglaterra, que não exploravam apenas o 
aspecto punitivo dos encarcerados. Começaram a explorar o trabalho interno dos prisioneiros, 
para que não ficassem ociosos. Visou-se, dessa forma, o retorno dos prisioneiros às ruas. 
Entretanto, ainda existiam solitárias, castigos; o aspecto retributivo prevalecia. 
 Depois disso, na Grã Bretanha, surgiu um modelo que preconizava o fim da pena. Ela 
deveria passar por algumasetapas que implicassem em uma progressão de diversos estágios pelos 
quais o sujeito passaria dentro do cárcere, visando a sua saída. É uma ideia muito próxima da que 
temos da ressocialização. No início do cumprimento da pena, haveria uma dose maior de privação 
da liberdade, mas ela iria diminuindo com o passar do tempo (havia uma progressão). Surgiram 
algumas ideias boas de valorizar o trabalho do preso, de ensinar o preso, etc. Isso foi se 
difundindo e foi copiado pelo mundo inteiro. 
 O Brasil, em 1890, começou a copiar esse modelo com nossa legislação. Depois, ainda 
timidamente, em 1942. E, finalmente, adotamos esse modelo textualmente em 1984. Há uma 
tentativa de equilibrar a retribuição (condenação) e a ressocialização (execução penal). Além disso, 
se trabalha com a progressão de regime no cumprimento da pena. 
2.5. REGIMES 
 
 Indicam os estágios de cumprimento desse sistema progressivo. O sujeito pode progredir 
porque ele está caminhando para o fim da pena e merece progredir. 
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em 
regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. 
 
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Lembrete: Diferença entre crime e contravenções penais 
A diferença está na punição, mas ambos são infrações penais. Os crimes são punidos com 
reclusão, detenção e multa, isoladamente ou cumulativamente. As contravenções são punidas com 
prisão simples, de tempo máximo de cinco anos, cujo rigor penitenciário é suavizado, mínimo. 
Entretanto, em regra geral, toda contravenção vai para o Juizado Especial Criminal, ou seja, não há 
prisão. Contravenção não gera reincidência, e também não se pode punir tentativa de 
contravenção. 
 Na Lei de Introdução do Código Penal, em seu art. 1º: “Considera-se crime a infração penal que a 
lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de 
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, 
alternativa ou cumulativamente”. 
 
A distinção entre prisão simples e reclusão e detenção está no rigor penitenciário. Prisão 
simples é prisão (pena privativa de liberdade). Reclusão e detenção também, sendo a primeira 
mais grave do que a segunda. Um preso condenado por uma prisão simples irá cumprir sua pena 
num estabelecimento diferente do que um sujeito que for condenado por reclusão. 
A melhor forma de distinguir contravenção e crime é fazendo a leitura do tipo. O tipo pode 
falar em contravenção ou em crime, dependendo do tipo de legislação (como, por exemplo, na lei 
de contravenções contra a fauna e flora). 
É o tipo que traz qual será o tipo de punição, na parte da pena. A utilidade da separação 
entre reclusão e detenção é, primeiramente, o tipo de regime (art. 33). Outra utilidade é a seguinte: 
quando o sujeito for condenado por detenção, o próprio advogado poderá arbitrar fiança, o que 
não acontece na reclusão. 
Art. 33, §2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito 
do condenado. 
Para o sujeito progredir, ele deve apresentar mérito (aspecto subjetivo). Além de mérito, ele 
deve cumprir um pedaço da pena (um sexto). Se o sujeito tiver mérito, ele pode progredir; se tiver 
demérito, pode regredir (é o sistema progressivo regressivo). 
Exemplo: Um sujeito começa a cumprir sua pena em regime semi-aberto (foi condenado à 
detenção), mas pratica uma falta grave: tenta fugir. Assim, ele irá para o regime fechado. Houve, 
assim, uma regressão de regime. 
Art. 33, §1º - Considera-se: a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou 
média; b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; c) regime 
aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. 
OBS.: Diferença entre cadeia e penitenciária: cadeia (presídio) é um lugar de presos 
provisórios, enquanto o sujeito está respondendo pelo processo. Penitenciária é o local onde o 
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indivíduo cumpre sua pena. A acomodação, na penitenciária, obrigatoriamente deve ser melhor 
do que na cadeia. 
Regime semi-aberto: a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento 
similar. O regime semi-aberto é uma transição para o regime aberto. A Lei de Execução preconiza, 
como já dito, o trabalho e a educação. E nada melhor do que uma colônia para que o sujeito possa 
trabalhar e retornar à sociedade. Na colônia o sujeito é obrigado a estudar; caso não haja uma 
escola, o sujeito é autorizado a sair para estudar fora, e voltar. 
Regime aberto: a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. É a 
última etapa do cumprimento da pena no sistema progressivo. No regime aberto eles podem 
trabalhar fora; a casa de albergado serve apenas para os condenados dormirem. Ele não pode ir 
para sua própria casa pois ainda está cumprindo sua pena. 
2.6. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA 
 
 Uma das principais tarefas do juiz ao dar uma sentença condenatória, impondo ao sujeito 
uma pena privativa de liberdade, é fixar o regime inicial do cumprimento da pena. Esse regime irá 
definir para o sujeito o local de cumprimento da sua pena (regime inicial fechado, penitenciária; 
semi-aberto, colônia agrícola; aberto, casa de albergado). Entretanto, essa tarefa de fixar o regime 
inicial não é tão simples. Mas a lei traz algumas indicações. 
Art. 33, §2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito 
do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: 
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; 
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde 
o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; 
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, 
cumpri-la em regime aberto. 
Alínea a: É uma regra impositiva. O regime inicial do cumprimento da pena é fechado para 
penas superiores a oito anos. 
Alínea b: O legislador cometeu um erro grave. Primeiramente, ele substituiu o verbo 
“deverá” por “poderá”. Em segundo lugar, adiciona o termo “reincidente”. E se o sujeito for 
reincidente? Numa interpretação contrario sensu do que está escrito na alínea b, ele não poderá 
começar no semi-aberto. Se ele não pode começar no semi-aberto, começará no fechado. 
Alínea c: O legislador repetiu a construção da alínea b. Se um sujeito for condenado a três 
anos, sendo réu primário, poderá iniciar o seu cumprimento de pena em regime aberto. Mas e se 
ele for reincidente? Não pode ser no regime aberto. Caso seja uma pena de detenção, iniciará no 
regime semi-aberto. Mas e se for de reclusão? Será semi-aberto ou fechado? A maioria da 
jurisprudência afirma que se o sujeito é reincidente, ainda que a pena seja menor do que quatro 
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anos, como a alínea b trata do semi-aberto, afirmando que o sujeito não pode ser reincidente, o 
regime será fechado. Entretanto, isso, em alguns casos, pode ser muito rigoroso. 
O próprio artigo 33 nos remete para um outro artigo. 
Art. 33, §3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios 
previstos no Art. 59 deste Código. 
Fixação da Pena 
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos 
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme 
seja necessário e suficientepara reprovação e prevenção do crime: 
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; 
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; 
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; 
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 
O juiz irá analisar as circunstâncias do art. 59 e também do art. 33, §2º e irá fixar o regime 
inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade. 
Exemplos: 
→ Sujeito pega uma pena de três anos pela pratica de apropriação indébita, e é reincidente. 
O regime inicial não pode ser aberto. O réu é filho único e cuida dos seus pais que estão doentes 
com o seu dinheiro, fruto de seu trabalho. Fazendo uma interpretação de todo o caso, o regime 
mais adequado seria o semi-aberto, para que ele pudesse continuar a trabalhar e continuar a 
cuidar de seus pais. Um regime fechado seria algo muito rigoroso, nesse caso. 
→ Sujeito pega uma pena de três anos e é reincidente. Entretanto, não faz nada da vida. É 
um completo vagabundo. Isso já é suficiente para mandá-lo para o regime fechado. 
A atividade do juiz deve ser norteada por uma sensibilidade. Ele deve ter uma 
discricionariedade, mas sua decisão deve ser norteada pelas circunstâncias descritas no artigo 59. 
Exemplo: Sujeito pega uma pena de cinco anos, reclusão, e é réu primário. Seu regime 
poderá ser semi-aberto. Mas também poderá ser fechado, segundo as circunstâncias do art. 59, 
caso elas sejam desfavoráveis para ele. 
 Em matéria de regime, como o legislador trocou os parâmetros das alíneas b e c, há uma 
série de dúvidas. A única certeza é a seguinte: mais do que oito anos, regime fechado. 
 
 
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2.6.1. ESQUEMA DIDÁTICO 
 
O esquema é composto por quatro quadros que tomam por base a quantidade de pena 
fixado na sentença, a espécie de pena privativa cominada no tipo penal (detenção ou reclusão), o 
fator reincidência e os correspondentes regimes possíveis. A letra “S” marca a possibilidade do 
correspondente regime, enquanto a letra “N” mostra a impossibilidade do correspondente regime. 
Na eventual possibilidade de opção entre dois ou mais regimes, essa escolha será feita pelo juiz da 
condenação com base nas circunstâncias descritas no artigo 59 do Código Penal. 
Reclusão - Não havendo reincidência 
 Fechado Semi-aberto Aberto 
Pena de até 4 anos SIM SIM SIM 
Pena maior que 4 anos 
e menor ou igual a 8 
SIM SIM NÃO 
Pena maior que 8 anos SIM NÃO NÃO 
 
Reclusão - Reincidente 
 Fechado Semi-aberto Aberto 
Pena de até 4 anos SIM SIM OU NÃO* NÃO 
Pena maior que 4 anos 
e menor ou igual a 8 
SIM NÃO NÃO 
Pena maior que 8 anos SIM NÃO NÃO 
 
Detenção - Não havendo reincidência 
 Fechado Semi-aberto Aberto 
Pena de até 4 anos NÃO** SIM SIM 
Pena maior que 4 anos 
e menor ou igual a 8 
NÃO SIM NÃO 
Pena maior que 8 anos NÃO SIM NÃO 
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Detenção - Reincidente 
 Fechado Semi-aberto Aberto 
Pena de até 4 anos NÃO SIM NÃO 
Pena maior que 4 anos 
e menor ou igual a 8 
NÃO SIM NÃO 
Pena maior que 8 anos NÃO SIM NÃO 
 
Observações relevantes: 
* Na hipótese de reclusão com reincidência, em caso de pena não superior a 4 anos, existem 
duas vertentes. Uma vertente entende ser possível o regime semi-aberto, enquanto outra acredita 
não ser possível. Entretanto, a opção mais coerente constitui a segunda doutrina (só é possível o 
regime fechado), pois as alíneas b e c do artigo 33 não seriam compatíveis com a reincidência. 
** Nunca se deve esquecer que a espécie detenção nunca se iniciará em regime fechado 
(pode ocorrer a regressão em caso de demérito, mas nunca se inicia em fechado) por força do 
artigo 33 do Código Penal. 
2.6.2. REGIME DOS CRIMES HEDIONDOS 
 
A lei de crimes hediondos (1990) veio regulamentar um dispositivo do art. 5º da 
Constituição que fala que uma lei iria estabelecer os crimes insucetíveis de uma série de benefícios. 
A lei 8072 criou a lei dos crimes hediondos, os definindo. São eles: estupro, atentado 
violento ao pudor, sequestro, extorsão mediante sequestro, envenenamento de água potável, 
latrocínio. Em 1994, após o movimento da Glória Peres, o crime de homicídio qualificado foi 
adicionado a este rol de crimes hediondos. 
Foram equiparados aos crimes hediondos outros três crimes: tráfico de drogas, tortura e 
terrorismo. 
Um outro artigo da lei disse que os crimes hediondos e os crimes equiparados a eles nao 
teriam uma série de benefícios legais. Outro dispositivo disse que a prisão temporária, que para os 
crimes comuns é de cinco dias, nos crimes hediondos e assemelhados é de trinta dias. Em outro 
dispositivo, houve a fixação de que o regime para esses crimes seria integral fechado. 
Quando a lei disse que o regime seria integral fechado, várias pessoas afirmaram que feria a 
individualização da pena. 
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A discussão sobre a constitucionalidade ou não chegou ao STF em 1993. Os juízes faziam 
controle caso a caso. Por tradição, no Sul existem mais tribunais abolicionistas, e por isso 
começaram a lançar uma série de decisões que permitiam a progressão de regime nos crimes 
hediondos. Isso acarretou numa ADIN que chegou ao Supremo, que decidiu, com unanimidade, a 
constitucionalidade da lei. Isso porque, quando a lei estabelecia que uns crimes eram hediondos e 
outros não, e quando o juiz condenava alguem por um crime hediondo, na verdade, já estava 
ocorrendo uma individualização da pena e, portanto, atendendo ao preceito constitucional. 
Em 1997, o Congresso Nacional elaborou a lei de tortura. Essa lei veio para regulamentar 
este crime. Em um de seus dispositivos, veio o texto: “A pena do crime de tortura será cumprida, 
inicialmente, em regime fechado”. Com isso, aquelas pessoas que afirmavam a 
inconstitucionalidade da lei dos crimes hediondos acordaram novamente. Já que a tortura é 
assemelhada aos crimes hediondos, estes também poderão conter a progressão. 
Em 1999, outra questão chegou ao Supremo. O STF afirmou que as situações não se 
confundem: tortura é tortura, hediondo é hediondo. Foi uma decisão muito política, para manter o 
rigor dos crimes hediondos. Entretanto, muitos ainda continuaram insatisfeitos, e como nao houve 
uma ADIN, não houve vinculação aos juízes, que continuaram com as decisões em contrário. 
 Em 2006, chegou nas mãos do Supremo um debate sobre a constitucionalidade de um 
habeas corpus. Neste HC declarou-se a inconstitucionalidade por seis a cinco da lei de crimes 
hediondos no que tange a impossibilidade de progressão de regime. Em uma decisão muito 
questionada, o STF emprestou a esta interpretação dele no HC, efeito erga omnes, para que valesse 
para todos os casos. Não se tinha feito essa experiência de emprestar a um instrumento de controle 
difuso (HC), um efeito erga omnes, que normalmente se dá através de uma ADIN. 
Rapidamente, o Governo enviou um projeto de lei para o Congresso Nacional propondo a 
permissão da progressão de regime, já que o STF tinha dito que impedir a progressão era 
inconstitucional. Para os crimes comuns, a progressão já existia (1/6 de pena). Para os crimes 
hediondos, o governo propôs 1/3 se o sujeito for primário. Se for reincidente, iria progredir com 
metade do cumprimento da pena. Quando o projeto passou pelo Senado, houve uma modificação: 
deixou de ser 1/3 e metade para ser 2/5 (primário) e 3/5 da pena (reincidente). 
2.7. REGRAS DO REGIME FECHADO 
 
Art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de 
classificação para individualização da execução. 
§1º - O condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. 
§2º - O trabalho será em comum dentro do

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