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Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 TEORIA GERAL DO ESTADO ORIGEM, FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DO ESTADO O termo Estado foi usado pioneiramente por Maquiavel em “O Príncipe”, escrito em 1513, do latim status = estar firme, significando situação permanente de convivência e ligada à sociedade política, passando a ser usado pelos italianos sempre ligado ao nome de uma cidade independente. Definição abrangente de Estado “uma instituição organizada política, social e juridicamente, ocupa um território definido e, na maioria das vezes, sua lei maior é uma Constituição escrita. É dirigido por um governo soberano reconhecido interna e externamente, sendo responsável pela organização e pelo controle social, pois detém o monopólio legítimo do uso da força e da coerção.”1 De forma geral e preliminar, pode-se definir Estado como uma instituição política e jurídica, organizada, que ocupa território definido e possui uma lei maior, normalmente, uma Constituição. Porém, para que se torne possível, definir efetivamente o que é o Estado, necessário se faz abordar sua origem, história (filosofia grega, os contratualistas, etc ...) para então analisar os elementos constitutivos do Estado. 1 DE CICCO, Cláudio; GONZAGA, Álvaro de Azevedo. Teoria geral do Estado e ciência política. 4.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 47. Porém, para que se torne possível, definir efetivamente o que é o Estado, necessário se faz abordar sua origem, história (filosofia grega, os contratualistas, etc ...) para então analisar os elementos constitutivos do Estado. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 Origem histórica e causas da formação do Estado2 Sob o ponto de vista da época do aparecimento do Estado, as inúmeras teorias existentes podem se resumir da seguinte forma 1) O Estado sempre existiu: desde que o homem vive sobre a Terra acha-se integrado numa organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo. 2) A sociedade humana existiu sem o Estado durante um certo período. Depois, por motivos diversos, este foi constituído para atender às necessidades ou às conveniências dos grupos sociais, não havendo concomitância na formação do Estado em diferentes lugares, uma vez que este foi aparecendo de acordo com as condições concretas de cada lugar. Esta posição é defendida pela maioria dos autores. 3) Só é admitido como Estado a sociedade política dotada de certas características muito bem definidas. Justificando esse ponto de vista, um dos adeptos dessa tese, Karl Schmidt, diz que o conceito de Estado não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas é um conceito histórico concreto, que surge quando nascem a idéia e a prática da soberania, o que só ocorreu no século XVII. Sob o ponto de vista da formação originária do Estado: 1) Teorias que afirmam a formação natural ou espontânea do Estado, não havendo entre elas uma coincidência quanto à causa, mas tendo todas em comum a afirmação de que o Estado se formou naturalmente, não por um ato puramente voluntário. 2 Baseado em DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 2) Teorias que sustentam a formação contratual dos Estados: crendo que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os homens, que levou à criação do Estado. * De maneira geral, os adeptos da formação contratual da sociedade é que defendem a tese da criação contratualista do Estado. Sob o ponto de vista das causas determinantes do aparecimento do Estado: 1) Teoria da origem familiar ou patriarcal: para esta teoria, a primeira organização social humana é a família. A origem do Estado seria, então, uma ampliação da família patriarcal. 2) Teoria da força: “[...] a superioridade de força de um grupo social permitiu que este submetesse um grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados.3” 3) Teoria da origem patrimonial: Os homens vivem em sociedade porque precisam uns dos outros para sobreviver. O Estado nasce para proteger os homens e suas propriedades. Além disso, o Estado teria sido formado para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho, integrando-se as diferentes atividades profissionais, caracterizando-se, assim, o motivo econômico. 4) Teoria do desenvolvimento interno da sociedade: aquelas sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento e alcançam uma forma complexa têm absoluta necessidade do Estado, e então ele se constitui. É o próprio desenvolvimento espontâneo da sociedade que dá origem ao Estado. 3 DALLARI, p. 54. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 Além das teorias abordadas sobre a formação originária do Estado, a criação deste pode se dar por formação derivada, mediante: (i) Fracionamento quando uma parte do território se desmembra e passa a constituir um novo Estado, seja por meios pacíficos ou violentos; (ii) ou União quando há uma união de Estados, constituindo-se apenas um. * São várias teorias fundamentam a origem das primeiras sociedades politizadas e, por consequência, do Estado. * Ocorre que o surgimento do Estado pode não ter origem em apenas uma teoria. * É da essência do ser humano viver em sociedade, que se mantém a partir de uma organização, de forma que as teorias e justificativas não raro dialogam. Evolução histórica do Estado Com pequenas variações, a maior parte dos autores aborda esta questão a partir da seqüências cronológica: Estado Antigo, Estado Grego, Estado Romano, Estado Medieval e Estado Moderno. ESTADO ANTIGO * Também denominado de Estado Oriental ou Teocrático, os autores definem aquelas formas de Estado “mais recuadas no tempo, que apenas começavam a definir- se entre as antigas civilizações do Oriente propriamente dito ou do Mediterrâneo”4. * caracterizado pela religiosidade e natureza unitária, podendo-se apontar, ainda, como características: Organização econômica confusa, sem diferenciação aparente; Sem diferenciação entre o pensamento político, religião, moral, filosofia, doutrinas econômicas 4 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. p; 62. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 Natureza unitária sem divisões interiores (permanente, durando todo o período da antiguidade), nem territorial, nem de funções. Formação monárquica – combinada com a teocracia (religiosidade) o monarca é adorado como um deus. Religiosidade marcante – a força da religião nesse período levou alguns autores a chamarem o Estado Antigo como “Estado Teocrático”. A influência religiosa é vista sobre os governantes e normas, que refletem a vontade do poder divino. Em razão dessa religiosidade: o Em certos casos, o governo é unipessoal governador é considerado, também, representante do poder divino. o Em outros casos, o poder do governo é limitado pelo poder divino, pela classe sacerdotal, existindo dois poderes, um humano e um divino, variando sua influência de acordo com as circunstâncias. ESTADO GREGO Caracterizado pela existência da polis, poder absoluto e unitário, cujo ideal visava a auto-suficiência. “Embora seja comum a referência ao Estado Grego,na verdade não se tem notícia da existência de um Estado único, englobando toda a civilização helênica”5. Os costumes adotados em Atenas e Esparta, dois Estados gregos, eram profundamente diferentes, mas sua concepção como sociedade política era muito semelhante, o que permite a generalização, ao se falar em um Estado Grego. A característica fundamental era a cidade-Estado (polis), como a sociedade política de maior expressão. 5 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. p. 63. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 A polis grega de acordo com Aristóteles era uma sociedade constituída por diversas aldeias (ou burgos), formando uma cidade completa, com todos os meios de abastecer-se a si mesma. Há, com relação a polis grega, uma noção de autossuficiência, de forma que, ainda que houvesse a busca pela conquista e dominação de outros povos, não havia a integração entre vencedores e vencidos, já que não havia uma efetivação da expansão territorial. O Estado Grego tem como principal característica a difusão da democracia, mas não nos termos que se tem hoje, já que apenas uma elite poderia compor a classe política e participar das decisões do Estado. Havia uma democracia restritiva no Estado Grego, mas participativa, já que os cidadãos (grupo restrito – elite) podiam participar das assembleias, que decidiriam importantes questões políticas da cidade-Estado. Democracia era direta exercida em praça pública. A contribuição dos Sofistas * O termo “sofista” significa “sábio” ou “mestre da sabedoria”, mas acabou adquirindo uma conotação pejorativa, acabando por desqualificar o pensamento daqueles filósofos, em razão da metodologia utilizada nos seus ensinamentos – a retórica, enquanto arte de persuadir. Por isso, o principal legado deixado pelo Estado Grego foi a noção de participação política, a cidadania e a democracia. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 * Para os Sofistas existem dois juízos sobre cada coisa, cada um com possibilidade de ser verdadeiros, dependendo do ponto de vista. Contudo, só com a argumentação e a persuasão é que o mais forte prevalecerá. * Os sofistas eram poetas, matemáticos, astrólogos, historiadores. Não possuíam uma escola, mas possuíam em comum o pensamento crítico. * Os sofistas se compunham de grupos de mestres gregos que viajavam de cidade em cidade realizando aparições públicas para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecer-lhes educação. * O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no discurso, com foco em estratégias de argumentação. * Os sofistas ensinavam que a partir do uso da palavra, dos argumentos, do discurso e da retórica, não existiam verdades absolutas, mas relativas, já que poderiam ser refutadas por outros argumentos. * Os mestres sofistas alegavam que podiam “melhorar” seus discípulos, ou, em outras palavras, que a “virtude” seria passível de ser ensinada. * Trata-se de Escola que traz uma visão de direito natural posto a serviço da mudança, um direito centrado na natureza humana e fruto das relações entre os homens, não uma obra dos deuses. * Seus argumentos eram em torno da realidade natural, proclamando a natureza comum de todos os homens, e direitos comuns a todos os homens. Para eles a lei humana era produto do arbítrio, uma convenção a fim de satisfazer os interesses Principais sofistas conhecidos: Protágoras (481 a.C.-420 a.C.), Górgias (483 a.C.-376 a.C.), e Isócrates (436 a.C.-338 a.C.). Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 particulares daquele que as elaborou. Assim, a natureza estava em posição superior a lei. * Na natureza a regra é a desigualdade e só por convenção é que os homens reivindicam uma distribuição igualitária. * Para eles o justo legal não corresponde ao justo natural, com isso a moral, a ética e o Direito perdem suas características divinas para se instalarem no homem. * O direito não é obra dos deuses é fruto das relações entre os homens, respaldando-se no poder e nas convenções aceitas. * Sofistas: “Enquanto uma escola filosófica grega denominada de sofistas vê a autoridade governamental como um meio para assegurar a autossatisfação dos governantes, Platão ensina que por meio da justiça (enquanto qualidade espiritual em virtude do qual os homens se afastam do desejo de provar todos os prazeres e de extrair uma satisfação egoísta de todas as coisas), os homens se acomodam ao exercício de uma função determinada para o benefício geral, postulando ainda que a cidade não é objeto de autossatisfação do Estadista, mas um organismo do qual participa e no qual exerce uma atividade definida”6. Sofistas: se Deus é bom, porque a diferença social, porque é só para uma minoria que existe?Os sofistas dizem que a lei é uma ficção, é porque um homem de carne e osso quis. * Os sofistas vêem a autoridade governamental com meio que assegura a autossatisfação dos governantes. A lei para os sofistas é uma invenção da inteligência do rei. * Assim, o Estado surge da impossibilidade de cada indivíduo bastar para si próprio, ou seja, como o indivíduo tem necessidade de uma série de coisas e como cada indivíduo nasce com um dom (da caça, da força, do trabalho, da intelectualidade,...), há a necessidade de se reunirem, a fim de que uns supram a necessidade dos outros. * E essa organização de pessoas para suprir as necessidades uma das outras é que constitui a Cidade. E, para regular todas as situações que passa a ocorrer na cidade há a criação das leis pelo Estado. 6 LEAL, Rogério Gesta. Teoria do Estado: cidadania e poder político na modernidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 19. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 Entendiam os sofistas que todos os homens nascem iguais, mas as leis introduzem a desigualdade e a escravidão, contra a qual lutavam tentando aboli-la. Para os sofistas a autoridade governamental é um meio para assegurar a autossatisfação dos governantes, ao passo que Platão estabelece que por meio da justiça os homens assumem funções governamentais com o objetivo de contribuir para o benefício geral. Pelo fato de que suas ideias possuíam um teor revolucionário, crítico, foram extremamente combatidos por Sócrates, Platão e Aristóteles. ESTADO ROMANO * Semelhante ao Estado Grego. * Roma constituiu-se pelo grupamento de famílias (as gens)7. * Expandiu seu domínio por uma grande parte do mundo, aspirando até mesmo um império mundial. * Por mais que se possa falar na existência de um Império Romano, o Estado Romano teve sua origem em um pequeno agrupamento humano. * Assim como no Estado Grego, o povo participava do governo de forma direta, porém a noção de povo era muito restritiva. * Aos poucos, de forma lenta, outras camadas sociais foram adquirindo direitos, até o desaparecimento da base familiar e ascendência de uma nobreza tradicional8. * “ [...] verifica-se que só nos últimos tempos, quando já despontava a idéia de Império, que seria uma das marcas do Estado Medieval, foi que Roma pretendeu realizar a integração jurídica dos povos conquistados, mas, mesmo assim, procurando manter um sólido núcleo de poder político, que assegurasse a unidade e a ascendência da Cidade de Roma.” 9 7 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. p. 65. 8 Ibidem, p. 65.9 Ibidem, p. 65. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 * Mais ou menos nos anos de 212 a.C., com o edito de Caracala é que se fez a referida integração, de forma que seriam naturalizados todos os indivíduos pertencentes aos estados dominados pelo Império Romano. * Com o Edito de Milão, Constantino, por volta do ano 313 a.C., assegurou a liberdade religiosa em Roma, o que foi determinante para o início da queda do Império. * A cidadania romana era restrita estrangeiros e escravos estavam excluídos e, dentre os cidadãos romanos, somente uma parte podia participar das decisões políticas – classes restritas. * Poder político era exercido pelos governantes supremos, os magistrados e, “durante muito tempo as principais magistraturas foram reservadas às famílias patrícias”10. Nesse período surgiu o Cristianismo, abalando as concepções sociais romanas, reconhecendo a pessoa uma posição nova na comunidade política e contestando o caráter sagrado do Imperador. * A decadência do Império Romano ocorreu com as invasões bárbaras, que selou o fim do Estado na Europa ocidental. * Como consequência da invasão dos bárbaros, houve a descentralização política, administrativa e econômica do Estado. 10 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. p. 65. A pessoa passa a ser um valor em si mesma, criada a imagem e semelhança de Deus. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 * Devido à instabilidade política e econômica interna e às migrações dos povos bárbaros, a parte ocidental do império dividiu-se em reinos independentes no século V. Esta desintegração é o marco que se usa para dividir a Antiguidade da Idade Média. ESTADO MEDIEVAL * A Idade Média ou Medievo é o período compreendido entre a queda do Império Romano (séc. V, 476, a. C.) e a queda de Constantinopla (1453) ou a descoberta das Américas (1492). Não há homogeneidade – séculos V a XV. * Quanto ao Estado, trata-se de um período dos mais difíceis, instáveis e heterogêneos, de modo a não ser fácil caracterizar o Estado Medieval. Segundo Dallari, é possível apontar “os principais elementos que se fizeram presentes na sociedade política medieval, conjugando-se para a caracterização do Estado Medieval, que foram o cristianismo, as invasões dos bárbaros e o feudalismo”11. O Cristianismo – é a base da aspiração à universalidade. Visa a igualdade entre os homens. Buscava a unidade política, pois a Igreja concluiu que todos os cristãos deveriam ser integrados em uma só sociedade. Contudo, a existência de multiplicidade de centros de poder (reinos, senhorios, comunas, etc) fizeram com que existisse uma autoridade política (Imperador) e uma autoridade eclesiástica (Papa), que permaneceram até o final da Idade Média em disputas pelo poder. Somente com o nascimento do Estado Moderno, com a supremacia dos monarcas é que terminará esta disputa. As invasões bárbaras – foram incursões de hordas armadas pelo território do Império Romano, que acabaram por transformar a ordem estabelecida. Os bárbaros incluíam povos de toda a Europa (especialmente do norte – 11 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. p. 66. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 germanos, eslavos, godos, etc) e acabaram por modificar as regiões invadidas, introduzindo novos costumes e influenciando-as a constituírem-se de unidades políticas independentes. A partir das invasões bárbaras começaram a surgir inúmeros Estados. O Feudalismo – a influência do feudalismo caracterizou o Estado Medieval. Com as invasões e as guerras internas, o desenvolvimento do comércio tornou- se mais difícil. Houve uma valorização maior da terra, de onde todos (ricos, pobres, poderosos ou não) deveriam tirar seu sustento. A situação patrimonial passou a ser mais considerada, pois quem tinha propriedade (terra) passava a se utilizar da mão de obra de quem não a detinha, para cultivo. Assim, havia um senhor feudal – proprietário de terras; vassalos – proprietários menos poderosos que estavam a serviço do senhor feudal, dando-lhe apoio nas guerras e pagando uma contribuição pecuniária, em troca de proteção; servos – o chefe de família que não possuía terra recebia uma faixa do senhor feudal para cultivar, extraindo da terra o sustento de sua família, devendo entregar ao senhor uma parcela da produção (contrato que se denominava benefício). O senhor feudal tinha o direito de vida e de morte sobre o servo e sua família; imunidade – era um instituto pelo qual era concedida isenção de tributo às terras sujeitas ao benefício. * dissolução da idéia de Estado pois há uma hierarquia de titularidade e exercício do poder político numa cadeia de soberanos e vassalos, ligados por vínculos contratuais. Trata-se, pois, de uma espécie de descentralização do Estado e o poder é privatizado. * Cada “feudo” era considerado um centro de poder (sistema de poderes superpostos) e por vezes havia colisão de interesses entre o poder real e o poder do senhor feudal, que ditava as regras e ditava a vida dos vassalos dentro de seus limites territoriais. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 * A jurisdição, a aplicação do direito pertencia ao senhor feudal e era exercida sobre todas as pessoas que viviam sob sua autoridade. * Igreja católica ao tempo que impõe limites ao poder do senhor feudal, caracteriza-se como a principal rival do feudalismo. No período do Estado Medieval, direito e justiça continuam a ser tratados como sinônimos, como dados postos pela natureza, onde se agrega o fator teológico, notadamente a partir da obra de Santo Tomas de Aquino: “O direito natural (natureza física e social) é justo por ser a natureza obra da criação de Deus, que possibilita ao homem pela sua própria natureza racional, facilmente conhecê-lo, embora não alterá- lo”12. * Por volta dos séculos XI e XII, a Europa feudal entra na fase decisiva de seu desenvolvimento, por diversos motivos: aumento da produtividade econômica dos feudos; expansão das vilas e cidades; dinamização das atividades e da vida social, resultando num crescimento do comércio e a organização dos ofícios em Corporações. Surge uma nova categoria social, caracterizada pela atividade do comércio e circulação de mercadorias: A BURGUESIA. Aspectos sociais Desenvolvimento e fomento do intercâmbio com o oriente; O clero vai firmando sua hegemonia política; Um período de esclarecimento vai tomando conta do cotidiano das cidades; Surgem os primeiros centros de reprodução do conhecimento: Universidade de Oxford, Cambridge, Bologna, Salerno, Paris e Coimbra. 12 CORRÊA, Darcísio. A construção da cidadania: reflexões histórico-políticas. 4.ed. Ijuí: Unijuí, 2006, p. 43. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 Aspectos políticos Com esse desenvolvimento há um fortalecimento do Estado Monárquico na França, surgimento do Parlamento na Inglaterra e fragmentação do Sacro Império Romano-Germânico. Direito Canônico Durante esse período, na Europa vige o Direito Canônico, com a primazia da autoridade espiritual. Vige na Europa o Direito Canônico: regulando a conduta da Igreja, fixando suas relações hierárquicas, seus tribunais. Exerce uma censura rigorosa sobre os costumes, aparentemente fundada nas divindades, incutindo elementos da moral religiosa no Direitoe nas leis que até hoje existem. Por fim, o Grande Cisma (1378 a 1417) - divide a cristandade, mina as bases do poder clerical, oportunizando o surgimento de um pensamento mais mundano e próximo da realidade terrena. A expressão Grande Cisma pode referir-se a dois momentos de grande cisão dentro do Cristianismo: o Grande Cisma do Ocidente (1378-1417), período durante o qual a Igreja Católica se cindiu em duas facções, uma fiel ao Papa de Roma, outra ao de Avinhão. o Grande Cisma do Oriente (1054), que ditou a excomunhão mútua entre o Papa e o Patriarca de Constantinopla, donde resultou a separação definitiva das Igreja Católica e Ortodoxa; A Igreja firma acordo com os Estados, reconhecendo sua soberania (dos Estados) – a sociedade começa a movimentar-se com suas próprias pernas, independente do auxílio de Deus. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 Afirmação da Monarquia Surge na Inglaterra a preocupação de limitar o poder absoluto do Rei e da Igreja, através de instrumentos de mediação à organização política e do governo. Com o tempo a Igreja reconhece a soberania dos Estados. A Inglaterra firma seu poder através da Monarquia, regulada pela tradição legislativa, essencialmente costumeira e superior a vontade particular do Rei; A França tem seu governo caracterizado pela exteriorização do livre arbítrio do Rei, em forma de lei. Nesse período se consolida a formação de um Estado-nação, necessariamente MONÁRQUICO. É a época do RENASCIMENTO, rompendo o dogmatismo em favor da critica lúcida e científica substitui-se a fé pela razão. A figura do Estado confunde-se com a pessoa do rei. A Europa do século XVI * A partir do século XV a economia europeia sofre grandes transformações em decorrência do grande desenvolvimento comercial da segunda parte da Idade Média. A economia européia transforma-se drasticamente: decorrência do desenvolvimento comercial, das descobertas do novo mundo (Américas por Colombo, e a rota das índias por Vasco da Gama). Encontra-se um movimento de natureza política e econômica chamado de Revolução Comercial. A revolução é promovida pelos grandes impérios (Espanha e Portugal, por exemplo), que procuram construir expansão de suas fronteiras e de suas economias. É aí que se começa a divisão da Idade Média para a Idade Moderna. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 * Com isso uma série de medidas econômicas e políticas são instauradas, quando os reis procuram aumentar o absolutismo monárquico. O governo monárquico controla todos os ramos da atividade econômica e neles interfere e recebe os lucros. * Mas um grande setor da economia não se agrada dessa postura do governo e pretende ter a garantia das liberdades comerciais, sem ter de pagar boa parte dos lucros para o governo. * No fim da Idade Média, o comércio desenvolveu-se especialmente na região da Itália, beneficiada por sua situação geográfica, às margens do Mediterrâneo. * Surge a burguesia, que, com dinheiro, patrocina as artes. O interesse é pela produção da antigüidade clássica, pelas tradições grega e romana. É esse o contexto do período conhecido como RENASCIMENTO. Como diz a origem da palavra, o movimento renascentista fez ressurgir o interesse da Europa pela cultura e pelos valores da Antigüidade clássica. * Essa corrente de pensamento colocava o homem como centro do universo (antropocentrismo), em oposição à cultura medieval, teocêntrica. O Renascimento movimento cultural surgido entre os séculos XIV e XVI. A classe Burguesa emerge. Surgem também conhecimentos técnicos, isto é, aqueles que sabem construir navios, armas, estratégias militares, navais, que sabem se localizar em termos de navegação espacial. Surge um pensamento crítico; percebe-se um progresso da ciência que motiva o surgimento de pesquisas, contestação e experimentação. Surge a mecânica de Kepler (1571-1630), Heliocentrismo de Copérnico (1473- 1543) e sua comprovação por Galileu Galilei (1564-1642). Começa a haver uma decomposição dos alicerces da Idade Média. Material de Apoio – Teoria do Estado 2015/1 O poder medieval, fundado sobre a dupla autoridade do Papa espiritual e do Imperador no temporal, desaba definitivamente, dando lugar à profanização da filosofia, rompendo dessa forma com a escolástica, doutrina oficial da Igreja católica. Pensamento crítico o homem não é mais visto como criatura, mas como criador. * Esse movimento refletiu diretamente na arte, na arquitetura, na cultura * Humanismo: dele advêm características como racionalidade, dignidade do ser humano, rigor científico e reutilização da estética greco-romana. Ocorre a Reforma Protestante. O homem deixa de ser visto como criatura. Ele é visto como criador, ante a natureza, na qual se encontra; dela se distingue, enquanto racionalidade; sobre ela deve atuar, celebrando assim sua liberdade. Novos valores surgem: individualidade, liberdade, criatividade, participação e enriquecimento. A natureza não vai mais ser considerada como objeto de medo e de contemplação, mas como campo de estudo e de atuação do homem, convidado a aperfeiçoá-la; Assim, enquanto na Idade Média as concepções eram sacrais e teológicas, na Idade Moderna as teorias passam a ser baseadas no instinto e na racionalidade, na lei natural, na liberdade do homem.
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