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Anotações - Direito Civil - 01 de 09

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DIREITO CIVIL – PONTO 01 
 
 
Lei de Introdução ao Código Civil. Pessoas naturais: Personalidade e capacidade. Direitos da 
personalidade. Morte presumida. Ausência. Tutela. Curatela. Pessoas jurídicas: Conceito. 
Classificação. Registro. Administração. Desconsideração da personalidade jurídica. Associações. 
Fundações. 
 
DE MARIA JÚLIA FERREIRA CÉSAR – GRUPO DE ESTUDOS PROCURADOR DO DF 
+ TEXTO GRUPOS TRF5 
ATUALIZADO EM 09/2010 POR RODRIGO PESSOA PEREIRA DA SILVA 
RESUMO ATUALIZADO POR RICARDO LEITÃO - DIA 19.08.2012 
 
LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL 
 
I – NOÇÕES GERAIS 
 
A LICC, atual LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (Lei 12376/2010) é 
uma regra de Superdireito ou sobredireito (E. ZITELMANN utiliza o termo, que é assimilado pelo direito 
hermenêutico). Ou seja, são normas que definem a aplicação de outras normas. É o Estatuto do Direito 
Internacional Privado (conjunto de normas internas de um país, instituídas especialmente para definir se a 
determinado caso se aplicará a lei local ou a lei de um Estado estrangeiro). 
 
As principais funções da Lei são: a) determinar o inicio da obrigatoriedade das leis (art 1º) ; b) regular a 
vigência e eficácia das normas jurídicas (art 1º e 2º); c) impor a eficácia geral e abstrata da obrigatoriedade, 
inadmitindo a ignorância da lei vigente (art.3º); d) traçar os mecanismos de integração da norma legal, para a 
hipótese de lacuna na norma (art.4º); e) delimitar os critério de hermenêutica, de interpretação da lei (art.5º); 
f) regulamentar o direito intertemporal (art.6º); g) regulamentar o direito internacional privado no Brasil (art. 
7º a 17), abarcando normas relacionadas à pessoa e à família (art.7º e 11), aos bens (art 8º), às obrigações 
(artigo 9º), à sucessão (art.10), à competência da autoridade judiciária brasileira (art. 12), à prova dos fatos 
ocorridos em pais estrangeiro (art.13), à prova da legislação de outros países (art. 14), à execução da 
sentença proferida por juiz estrangeiro (art. 15) à proibição do retorno (art. 16), aos limites da aplicação da 
lei e atos jurídica de outro pais no Brasil (art. 17) e, finalmente, aos atos civis praticados por autoridade 
consulares brasileiras praticados no estrangeiro (art. 18 e 19) (CRISTIANO CHAVES – TEORIA GERAL 
– 7º EDICAO) 
 
II – VALIDADE, VIGÊNCIA, VIGOR E EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS 
 
A VALIDADE do ato diz respeito a eficiência com que o seu suporte fático foi preenchido. Se 
houver preenchimento da hipótese de incidência de maneira deficiente surgira defeito que pode autorizar a 
nulificação do ato: destruição de um ato jurídico em razão de um seu defeito. (Pontes de Miranda). 
 
 
 
 
2 
 
2 
 
 
A validade pode ser analisada sob um aspecto: 
 
a) formal (observância das normas referentes ao processo de criação da lei, exemplo: artigo 60, §§ 1º e 2º 
CF); ou 
b) material (verificação da matéria passível da codificação está sendo observada, exemplos: artigos 21 a 24, 
CF/88, artigos que estabelecem as matérias que podem ser objeto de regulação e por quem). 
 
 A VIGÊNCIA é critério puramente temporal da norma, vai desde o início até a perda de sua 
validade. Nesse aspecto, não há que fazer qualquer relação com outra norma. 
 
 A EFICÁCIA refere-se à possibilidade de produção concreta de efeitos. A eficácia pode ser 
classificada pela ineficácia. Por sua vez, pode ser: 
 
a) social (não se confunde com sua efetiva observância,) e 
b) técnica (a possibilidade de produção de efeitos em concreto, EXEMPLO: artigo 7º, I, CF/88, proteção 
contra a despedida arbitrária que deve ser regulada por Lei Complementar, a eficácia técnica está 
comprometida) 
 
 
 O VIGOR está relacionado à realização efetiva e concreta da norma, está relacionado com o conceito 
da ULTRATIVIDADE, ou seja, uma norma que não está mais vigente, mas continua a reger todas as 
relações jurídicas consolidadas em sua vigência. EXEMPLO: alguns artigos do CC/16 . 
 
III – APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS 
 
 Na aplicação das normas jurídicas o operador depara-se com as seguintes atividades: a 
INTERPRETAÇÃO e a INTEGRAÇÃO. 
 
 
– INTERPRETAÇÃO 
A finalidade interpretativa da norma é: a) revelar o sentido da norma e b) fixar o seu alcance. São métodos 
de interpretação (não são excludentes e nem exclusivas entre si) das normas (Caio Mário fala em 
interpretação quanto aos elementos das normas jurídicas): 
 
1. Literal ou gramatical – o exame de cada termo isolada e sintaticamente, na maioria das vezes, não é o 
melhor método; isoladamente nunca satisfaz. 
2. Lógico – utilização de raciocínios lógicos indutivos ou dedutivos. 
3. Sistemático – análise a partir do ordenamento jurídico no qual a norma se insere, a norma não será 
verificada isoladamente, será relacionada com o ordenamento jurídico. 
4. Histórico – verificação dos antecedentes históricos, verificando as circunstâncias fáticas e jurídicas, até 
mesmo o processo legislativo. Caio Mário afirma que esse método não existe, o que há é o elemento 
histórico invocado para coadjuvar o trabalho do intérprete. 
5. Finalístico ou teleológico – análise da norma tomando como parâmetro a sua finalidade declarada, 
adaptando-a às novas exigências sociais; não se analisam somente os aspectos históricos, mas também a 
própria finalidade. 
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3 
 
 
Quanto mais métodos forem aplicados, no exercício da interpretação, melhor resultado será obtido pelo 
intérprete. 
 
• Quanto à origem ou quanto ao intérprete: 
1. Doutrinária 
2. Jurisprudencial – resulta do exercício da função jurisdicional 
3. Autêntica ou pública – a lei interpretativa é considerada como a própria lei interpretada, estando assim, 
também sujeita a processo interpretativo (CAIO MÁRIO). A lei interpretativa tem que ter a mesma 
hierarquia da lei interpetrada. 
 
• Quanto aos resultados do alcance eficacial: 
1. Declarativa 
2. Extensiva 
3. Restritiva 
4. Ab-rogante 
 
Não há hierarquia em relação aos critérios acima, e um não exclui o outro 
 
A interpretação judicial, sempre com fundamento no dispositivo acima, busca também atualizar o 
entendimento da lei, dando-lhe uma interpretação atual que atenda aos reclamos das necessidades do 
momento histórico em que está sendo aplicada. 
 
 
– INTEGRAÇÃO 
 
Quando inexiste lei a ser aplicada diretamente ao caso, deve o magistrado se valer de outras fontes do 
Direito para encontrar a regra que efetivamente deve disciplinar à relação jurídica sujeita à sua apreciação, 
ou seja, para aplicar o Direito (grande desafio do operador do direito). A LICC permite a integração na 
hipótese de lacunas (falta de previsão legal sobre uma matéria), nos termos do artigo 4º (REGRA DE OURO 
para a integração das leis): 
 
Artigo 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito. 
 
Essas são as fontes supletivas do direito, juntamente, com a DOUTRINA, a JURISPRUDÊNCIA e a 
EQÜIDADE, que são também métodos de integração da norma jurídica. 
 
A interpretação pode ocorrer sempre, mesmo que a lei seja clara (isso é um dogma). Já a integração depende 
da existência de lacunas, que, por sua vez, podem ser: 
 
a. AUTÊNTICAS (PRÓPRIAS) – ocorrem quando o legislador não identificou uma hipótese 
b. NÃO-AUTÊNTICAS (IMPRÓPRIAS) – o legislador previu, mas preferiu não tratar sobre o assunto. 
EXEMPLO: cabimento de embargos de declaração contra decisão interlocutória. 
 
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“SILÊNCIO ELOQÜENTE” – o legislador quis excluir a possibilidade, é a possibilidade de se restringir a 
aplicação da lei com base na LACUNA NÃO-AUTÊNCIA. Exemplo: competência constitucional da Justiça 
Federal não pode ser ampliada pelo legislador, sob a alegação de tratar-se de lacuna. Trata-se de rol taxativo 
(numerus clausus).Aceita-se a integração das lacunas em razão do princípio que determina que o juiz não pode se eximir de 
julgar sob tal alegação (“Princípio do non liquet” que, no Direito Romano, permitia ao pretor eximir-se de 
julgar alegando que o caso não está suficientemente claro). 
 
Analogia pode ser dividida em: 
a. analogia legal – a relação da semelhança toma por base outra lei; 
b. analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em outro caso concreto 
 
Há dificuldade de aplicação dos costumes, já que nosso direito não é costumeiro; a fonte primária, no Brasil, 
é a lei. Costume pode ser: 
a. secundum legem – sua eficácia obrigatória é reconhecida pela lei, como nos casos dos arts. 1297, § 1º, 596 
e 615 do CC 
b. praeter legem – tem caráter supletivo, complementar à lei. 
c. contra legem – de revogação total. Isso é complicado, já que costume é fonte secundária do direito e não 
pode revogar a lei. Mas existem exemplos que demonstram a aplicação do costume contra lei. Ex.: 
reconhecimento jurisprudencial da possibilidade de comprovação de contrato por testemunha no caso de 
venda de gado. Trata-se no máximo de perda da eficácia da lei e não da perda da sua validade (DESUSO) 
 
- APLICAÇÃO TEMPORAL DE NORMAS JURÍDICAS 
 
 
 
A VIGÊNCIA da norma surge com a sua publicação no Diário Oficial quando, em tese, todos tomam 
conhecimento. Por ficção jurídica do artigo 3º, ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a 
conhece. O artigo 1º da LICC trata o início de vigência temporal das leis. 
 
Existem três hipóteses de vacatio legis: 
a) ter sido fixada data posterior para momento de início de efeitos; 
b) dever entrar em vigor 45 após publicada, em face de omissão de norma explícita; 
c) estar pendente de regulamento, explícita ou implicitamente (normas de eficácia limitada). 
 
 
Pergunta: Uma lei em período de vacatio pode ser modificada? A lei já existe, e se ela já existe, só 
pode ser modificada por lei nova. Assim, durante o período de vacatio, ela somente pode ser 
modificada em sua estrutura por uma nova lei. Também as correções feitas à lei já em vigor só 
podem se dar por nova lei (caso em que a vacatio somente valeria para a parte alterada). 
 
 
O princípio básico dessa matéria é o PRINCÍPIO DA NÃO-RETROATIVIDADE DAS LEIS (Tempus 
regit actum), ou seja, a idéia de que a lei nova não atinge os fatos anteriores ao início de sua vigência. Em 
5 
 
5 
 
consequência, os fatos anteriores à vigência da lei nova regulam-se não por ela, mas pela lei do tempo em 
que foram praticados. 
 
Porém, podem existir casos que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei nova, alcançando 
fatos pretéritos ou os seus efeitos. Para disciplinar essas hipóteses, a doutrina efetuou uma clássica distinção 
entre retroatividade máxima, média e mínima (MATOS PEIXOTO), porque a força retroativa da lei não tem 
sempre a mesma intensidade. 
 
RETROATIVIDADE 
MÁXIMA OU RESTITUTÓRIA 
OU RESTITUTIVA 
MÉDIA MÍNIMA OU TEMPERADA 
OU MITIGADA 
A LEI NOVA ABRANGE A COISA 
JULGADA (SENTENÇA IRRECORRÍVEL) 
OU OS FATOS JURÍDICOS CONSUMADOS 
A LEI NOVA ATINGE OS 
DIREITOS EXIGÍVEIS MAS 
NÃO REALIZADOS ANTES DE 
SUA VIGÊNCIA 
A LEI NOVA ATINGE APENAS OS 
EFEITOS DOS FATOS ANTERIORES, 
VERIFICADOS APÓS A DATA EM 
QUE ELA ENTRA EM VIGOR 
 
 
Dessa natureza constitucional do princípio da irretroatividade das leis no direito brasileiro surgem 
importantes conseqüências, como a aplicação deste a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer 
distinção entre lei de direito público e lei de direito privado ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. 
 
É princípio assente também, com base na natureza constitucional da irretroatividade, que a lei nova não 
alcança os efeitos futuros dos contratos celebrados anteriormente a ela, e que só atingirá os facta pendentia 
no que não contrariar DIREITO ADQUIRIDO. 
 
 
DIREITO ADQUIRIDO – direito já incorporado ao patrimônio do particular. Direito adquirido somente tem 
conteúdo patrimonial. Não existe direito adquirido de caráter personalíssimo 
 
DIREITO ADQUIRIDO anteriormente ao surgimento de uma NOVA CONSTITUIÇÃO não estão 
protegidos contra ela, salvo se a própria constituição assim o desejar (ADI 248.RJ). Em relação a emendas 
constitucionais, há posicionamento em ambos os sentido, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, pela 
possibilidade e impossibilidade de flexibilização (Marcelo Novelino, Direito Constitucional, p.93) 
 
O STF afirma que o direito adquirido não poderia ser levado aos extremos, já que se fosse assim não poderia 
ter havido a abolição da escravatura, pois os senhores teriam direito adquirido aos seus escravos. 
A aprovação em concurso público é mera expectativa de direito, já que à Administração caberá 
discricionariamente decidir a contratação, mas o STF entende que se a administração contratar outros, passa 
a ser direito adquirido, durante o prazo de validade do concurso. Em que pese não ser tema de civil, acredito 
ser importante fazer as colocações abaixo: 
 
Questão fundamental sobre a aplicação temporal das leis reside na REVOGAÇÃO, regulamentado pelo 
artigo 2º da LICC: 
 
6 
 
6 
 
A revogação pode ser: 
1) Expressa 
2) Tácita – o artigo 9º da LC 95/98 não acabou com a hipótese de revogação tácita, porque mesmo que a 
nova lei não mencione expressamente a revogação dos dispositivos, o ordenamento jurídico não comporta a 
existência de duas leis antagônicas. PAMPLONA: não é possível esse entendimento, porque significaria a 
revogação da própria LICC, e a LC 95/98 (mesmo com a redação dada pela LC 107) não revogou a LICC, 
até porque também não foi expressa na revogação, assim, também não é válida nesse aspecto, porque 
desobedeceu a sua própria regra. 
 
Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais 
revogadas. 
 
1) Total = Ab-Rogação 
2) Parcial = Derrogação 
 
REPRISTINAÇÃO é a restauração da norma revogada pela revogação da norma revogadora. Há vedação de 
sua existência no ordenamento, por força do §2º do artigo 2º, da LICC. A lei revogada NÃO se restaura pela 
revogação da lei revogadora, SALVO se a nova lei revogadora disser que ocorre (§3º do artigo 2º). 
 
Não se confunde com EFEITO REPRISTINATÓRIO TACITO previsto expressamente no artigo 11,§2º da 
lei 9868/99, bem como nos julgamentos de mérito de ADI e ADPF, que declaram inconstitucionalidade de 
norma, sem modular os efeitos da decisão. 
 
 
APLICAÇÃO ESPACIAL DE NORMAS JURÍDICAS 
 
É pela LICC que serão solucionados os conflitos decorrentes da aplicação espacial de normas, que estão 
relacionadas à noção de soberania dos Estados. Por isso que a LICC é considerada o Estatuto de Direito 
Internacional Privado brasileiro. O Brasil adota o princípio da territorialidade moderada, ou seja, é lei 
brasileira adotada, mas admite-se a aplicação, em certos casos, de lei estrangeira. 
 
Somente se aplica a lei estrangeira excepcionalmente, nos casos previstos em lei. Para tanto é preciso que se 
estabeleça um elo, uma regra de conexão que nos conecte ao direito estrangeiro, quando isso for permitido. 
E o direito brasileiro estabeleceu como regra de conexão principal o ESTATUTO PESSOAL – lei do 
domicílio do interessado (ESTATUTO PESSOAL é fenômeno das normas de um Estado acompanharem seu 
nacional para regular seus interesses em outro país, o Brasil admite isso em algumas situações). 
 
Assim, a regra é a de que ao direito brasileiro se aplica a lei brasileira. Vejamos agora quais são as 7 
exceções previstas em lei em que se aplica a lei estrangeira, pela regra do estatuto pessoal: 
1) Nome; 
2) Personalidade; 
3) Capacidade; 
4) Direito de família; 
5) Bens móveis que a pessoa traz consigo; 
6) Penhor; 
7) Capacidade para suceder. 
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Atenção: a aplicação dessas 7 exceções, contudo, depende da compatibilidade constitucional e com a ordem 
jurídica interna, sob pena de afronta à soberania nacional. Se for incompatível com o nosso sistema, não se 
aplica o estatuto pessoal. 
Ex.: um árabe já casado vem ao Brasil e quer se casar com uma brasileira, alegando que no seu país é 
possível um homem casar-se com mais de uma mulher. Ocorre que o seu estatuto pessoal não valerá 
no Brasil, em relação a essa questão, pois o Brasil veda expressamente a bigamia. 
 
Exceções das exceções: casos em que se aplica a lei estrangeira, mas não submetidas ao estatuto pessoal e 
sim a uma regra própria. São eles: 
1) Bens imóveis: aplica-se a lei do lugar em que estiverem situados; 
2) Lugar da obrigação (internacional): aplica-se a lei do domicílio do proponente; 
3) Regra sucessória mais benéfica: quando se tratar de bens de estrangeiros situados no Brasil, 
aplica-se a regra sucessória mais benéfica. 
 
Além da aplicação da lei estrangeira no Brasil, também se permite o cumprimento da sentença, do laudo 
arbitral ou da carta rogatória estrangeira, desde que tenha sido homologada pelo STJ – o STJ homologa, mas 
a execução será do juiz federal de 1ª instância, seja qual for a matéria. 
Obs.: Para que o STJ homologue uma sentença, um laudo arbitral ou uma carta rogatória estrangeira, exige-
se, além da compatibilidade constitucional, o requisito da Súm. 420, STF, que diz expressamente que só será 
possível homologar no Brasil decisão judicial que tenha transitado em julgado. 
 
O STF vem entendendo que toda e qualquer decisão judicial estrangeira, seja ela condenatória, constitutiva 
ou declaratória, somente pode ser cumprida no Brasil se houver homologação do STJ. Por isso nós podemos 
afirmar que o art. 15, P.U. da LICC foi tacitamente revogado, porque ele dizia que não dependem de 
homologação as sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas. Mas, em razão da superveniência 
dos arts. 483 e 484, CPC, entende o STF que esse disposito foi revogado – toda que qualquer sentença 
estrangeira precisa de homologação do STJ, não estando dispensadas dessa obrigatoriedade as sentenças 
meramente declaratórias. 
 
A decisão proferida em país estrangeiro será homologada desde que não contrarie a soberania nacional e os 
princípios basilares do ordenamento jurídico pátrio (exequatur = autorização para cumprimento, no Brasil, 
da sentença estrangeira). 
 
É bem verdade que a incidência universal da LICC conta com algumas exceções, por ex.: no campo do 
direito penal e no campo do direito tributário somente se admite a analogia como mecanismo de integração 
das normas in bonam partem. 
 
PESSOAS FISICAS ou NATURAIS 
 
 A forma como o CC dispõe sobre a pessoa (art. 1º) indica que a característica desta é a possibilidade 
de ser sujeito de direito. Ter personalidade civil, portanto, significa poder vir a ter direitos. PESSOA É O 
SER HUMANO OU ENTIDADE COM PERSONALIDADE, APTIDÃO PARA A TITULARIDADE DE 
DIREITOS E DEVERES. 
 
 Percebe-se que o conceito de personalidade é construído segundo uma teoria clássica, que a 
identifica com CAPACIDADE DE DIREITO. Tal noção adequa-se não apenas aos homens, mas também às 
8 
 
8 
 
pessoas jurídicas (ou “entes morais”, nos dizeres de Caio Mário). Personalidade seria, então, o atributo 
“jurídico” do fato de ser pessoa, uma projeção social da personalidade psíquica. 
 O segundo sentido de personalidade associa-se ao ser humano e traduz-se como valor ético emanado 
do princípio da dignidade da pessoa humana e da consideração pelo direito civil do ser humano em sua 
complexidade, relacionando-se a direitos que tocam somente à pessoa natural (direitos da personalidade, 
segundo parcela da doutrina que exclui a PJ de seu âmbito). 
 
 AQUISIÇÃO DE PERSONALIDADE: nos termos do art. 2º do CC, ocorre com o nascimento com 
vida, quando há a separação do ventre materno e o ar entra nos pulmões, fazendo com que a pessoa respire 
(o que é aferível pelo exame de docimasia hidrostática de Galeno). Mesmo que morra em seguida, há 
aquisição de personalidade e, conseqüentemente, possibilidade de ser sujeito de direitos que, com a morte, 
serão transmitidos aos herdeiros. Nosso CC adota, como se vê, a TEORIA NATALISTA. 
Conseqüentemente, o natimorto não adquire personalidade. 
 O tema acima sublinhado é polêmico na atualidade, merecendo tratamento especial. 
 
 NASCITURO: é o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. A discussão em 
torno de sua condição jurídica dá-se justamente em razão da delimitação do momento em que se inicia a 
existência humana, conforme exposto acima. A questão polêmica é que CC afirma que os direitos do 
nascituro estão a salvo desde a concepção. Ou seja, não são pessoas, mas têm proteção jurídica, ensejando 
dúvidas sobre o início da personalidade. Várias teorias tentam harmonizar essas regras: (1) NATALISTA 
(Caio Mário, Serpa Lopes, – despreza a existência da personalidade antes do nascimento com vida (esta, por 
sua vez, é considerada independentemente de viabilidade ou de forma humana). Assim, o nascituro tem 
mera expectativa de direito; (2) TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL (Arnold Wald)– a 
personalidade existe desde a concepção, sob a condição de nascer com vida (condição suspensiva); (3) 
CONCEPCIONISTA (Bevilaqua, Teixeria de Freitas, Francisco Amaral) – o nascituro tem personalidade 
jurídica, ele é a pessoa que está por nascer; os direitos que teria, porém, seriam somente os personalíssimos e 
os da personalidade. 
 
Percebemos que aos poucos, a teoria concepcionista vai ganhando mais espaços nos tribunais, inclusive na 
própria legislação brasileira, a exemplo da lei de alimentos gravídicos (lei 11804/2008), e de recentes 
decisões do STJ que admitiram o dano moral ao nascituro (RESP 399028-SP) e até mesmo pagamento de 
DPVAT pela morte de nascituro (noticiário de 15.05.2011) 
 
Teoria adotada pelo CC/2002 
 
E qual das 3 teoria, afinal, foi adotada pelo condigo civil brasileiro? 
Clovis Beviláqua tem um livro, chamado, “COMENTÁRIOS AO CÓDIGO CIVIL DOS ESTADOS 
UNIDOS DO BRASIL”, e ao comentar o artigo do CC/16 sobre o assunto, em posição ainda atual, o Código 
civil aparentemente pretendeu adotar a teoria NATALISTA “por parecer mais pratica”, embora em diversos 
momentos sofra influência concepcionista. 
O CC quis ser mais pratico, adotando a teoria natalista, mas em inúmeros pontos ele, o CC, sofre um 
inequívoco apelo a corrente concepcionista. 
 
 CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO: é a aptidão – em estado potencial – de ser titular de 
direitos patrimoniais e obrigações, tendo por termo inicial o nascimento e perdurando até a morte. Prevista 
no art. 1º do CC, atribui-se capacidade de direito também à PJ. O conceito de capacidade de direito se 
confunde com o de personalidade. 
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A personalidade jurídica é uma aptidão genérica. Toda pessoa tem personalidade, e por consequência 
toda pessoa tem capacidade, seja um adulto, seja uma criança.Capacidade neste sentido se relacionaria com 
a personalidade como faces da mesma moeda. 
 
 CAPACIDADE DE EXERCÍCIO OU DE FATO: é a aptidão para exercer PESSOALMENTE os 
direitos, de agir juridicamente, por atos próprios ou mediante representante voluntário, praticando atos da 
vida civil. Diferentemente da capacidade de direito, nem todas as pessoas a possuem. É o caso dos 
incapazes, cujos atos jurídicos são praticados por meio de representantes ou assistentes. A capacidade de 
fato é medida de proteção ao incapaz, que, destituído da plenitude de discernimento, necessita de auxílio 
para a prática dos atos da vida civil (representação ou assistência). 
 
A primeira é estática, a segunda, dinâmica. Reunidas as duas, fala-se em CAPACIDADE CIVIL PLENA. 
 
 Ressalte-se que ambas diferenciam-se da LEGITIMAÇÃO ou LEGITIMIDADE.A legitimação 
consiste em se averiguar se uma pessoa, perante determinada situação jurídica, tem ou não capacidade para 
estabelecê-la. Assim é que o cego não pode fazer testamento particular, o juiz não pode comprar bens da 
hasta que presidir, o tutor não pode adquirir bens do tutelado, irmãos não podem se casar, ainda que dotados 
de capacidade civil plena. Portanto, a capacidade é a aptidão para a prática em geral dos atos jurídicos, 
enquanto a legitimidade é específica de determinado ato. 
 
 INCAPACIDADE: A ausência da capacidade de fato (e não a capacidade de direito, que é genérica) 
gera a incapacidade civil. 
Esta incapacidade civil é também desdobrável em: 
a) Incapacidade civil absoluta (artigo 3º) 
b) Incapacidade civil relativa (artigo 4º) 
 
 INCAPACIDADE ABSOLUTA: atinge aqueles listados no art. 3º do CC: 
• Menores de 16 anos: presunção de imaturidade. No entanto,conforme previsão de enunciado 
formulado na III Jornada de Direito Civil do CJF, “a vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do 
inc. I do art. 3o., é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, 
desde que demonstrem discernimento suficiente para tanto.” (importante para o direito de família) 
• Enfermos e deficientes mentais SEM DISCERNIMENTO para prática de atos civis: tal 
incapacidade será declarada por meio de um processo de interdição, que culminará numa sentença 
declaratória (Fredie Didier entende ser constitutiva), pois a falta de discernimento surge com a alienação 
mental. Declarada a incapacidade, não são considerados válidos, inclusive, os atos praticados em intervalos 
de lucidez. 
• Aqueles que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Ex.: ébrio 
eventual. O caráter temporário e a impossibilidade total de expressão da vontade são, simultaneamente, 
elementos essenciais para a configuração dessa forma de incapacidade absoluta. 
 
Os atos praticados pelos absolutamente incapazes são NULOS, não podendo ser ratificados, pois tal 
vício não convalesce, podendo o juiz assim declará-los de ofício. Protege-se, entretanto, a boa-fé de 
terceiros. Os atos civis de seu interesse deverão ser exercidos por seus representantes – pais, tutores ou 
curadores. 
Absolutamente incapazes devem ser REPRESENTADOS por quem de direito. 
 
 
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INCAPACIDADE RELATIVA: zona intermediária entre a incapacidade absoluta e a capacidade plena, 
configurando apenas uma diferença quantitativa. A vontade dos relativamente capazes tem relevância 
jurídica, o que possibilita sua atuação direta nos atos civis, desde que acompanhados de ASSISTENTE, com 
algumas exceções (ser mandatário, testemunhar). É causa de anulabilidade dos atos jurídicos. Atinge 
aqueles arrolados no art. 4º: 
• Maiores de 16 e menores de 18: idade reduzida em relação ao antigo código (16 a 21). Estes 
incapazes não podem eximir-se de uma obrigação se dolosamente ocultaram sua idade quando inquiridos ou, 
ainda, declararam-se maiores. Assim, não lhe aproveitam a possibilidade de anulação do ato jurídico, em 
razão da proteção da boa-fé de terceiro. 
• Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o 
discernimento reduzido: para tais pessoas, será designado um curador, graduado conforme o 
comprometimento mental do agente. Se aniquilar a capacidade, e não apenas reduzir, a incapacidade é 
absoluta. 
 
• os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo: novidade no CC/2002 
 
 
• Pródigo: aquele que desordenadamente gasta e destrói o que é seu, reduzindo-se à miséria 
por sua culpa. A restrição da validade de seus atos à anuência de um assistente refere-se apenas àqueles que 
importem disposição patrimonial e que extrapolem a mera administração de seus bens. Proteção que 
encontra fundamento na “teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo” desenvolvida por Luiz 
Edison Fachin. 
 
Dispõe ainda o parágrafo único do artigo 4º do CC: 
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. 
 
 (Pablo Stolze Gagliano) A disciplina normativa dos silvícolas está, agora, na legislação especial. A 
Lei 6.001/73 considera-o, em princípio, “agente absolutamente incapaz, reputando nulos os atos por eles 
praticados sem a devida representação”. Ressalta a lei, todavia, a hipótese do índio demonstrar 
discernimento, aliado à inexistência de prejuízo em virtude do ato praticado, pelo que, aí, poderá ser 
considerado plenamente capaz para os atos da vida civil (...). Cumpre ainda fixar que a lei determina que 
“os índios, enquanto não integrados, não estão obrigados à inscrição do nascimento”. Este poderá ser 
feito em livro próprio do órgão federal de assistência aos índios.(...) Por isso, não é razoável afirmar-se a 
premissa de sua absoluta incapacidade, como quer a legislação especial. Apenas em hipóteses 
excepcionais, devidamente comprovadas, deve ser reconhecida sua completa falta de discernimento, para 
efeito de obter a invalidade dos atos por si praticados. Assim, acreditamos que a melhor disciplina sobre a 
matéria é considerar o índio, se inserido na sociedade, como plenamente capaz”.... 
Para o autor, situação do índio seria “situação verificável judicialmente”, inclusive com dilação 
probatória de tal condição. 
 
EMANCIPAÇÃO: 
Prevista no artigo 5º do CC, é mecanismo que possibilita que o menor relativamente incapaz torne-se 
plenamente capaz. É, pois, uma antecipação da capacidade de fato (e não da maioridade!). Pode ser de 3 
espécies: 
VOLUNTÁRIA, por ato unilateral dos pais, ou de um deles na falta do outro, sendo ato irrevogável – 
sempre em benefício do menor. Nesse caso, os pais continuam respondendo pelos atos ilícitos dos filhos. 
JUDICIAL, concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos 16 anos 
completos. 
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LEGAL, em decorrência de situação inconciliável com a inaptidão para atos da vida civil, como: 1) 
casamento (a separação, a viuvez ou mesmo a anulação do casamento, para o cônjuge de boa-fé, não geram 
retorno à menoridade), inclusive daquele que não tem 16 anos (para evitar imposição de crime ou em caso 
de gravidez); 2) exercício de cargo ou emprego público efetivo; 3) colação de grau em curso de ensino 
superior; 4) estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego do maior de 16 anos 
que gerem economia própria. 
 
EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE: 
Nos termos do artigo 6º, ocorre com a morte, exclusivamente (não há morte civil), evento que se 
caracteriza pela cessação de toda e qualquer atividade vital do indivíduo (para fins de transplante, considera-
se suficiente a morte encefálica). 
Ela pode ser, no entanto, PRESUMIDA, nos casos: a) de ausência, nas ocasiões em que a lei 
autoriza a abertura da sucessão definitiva (art. 6º), e b) se for extremamente provável a morte para quem 
estava em perigo de vida e, se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado 
até dois anos após o término da guerra (art. 7º). Procede-se mediante JUSTIFICAÇÃO, segundo 
procedimento estabelecido na Lei de Registros Públicos, a fim de se promover o assento de óbito por meio 
de provas indiretas. 
A lei previdenciária traz também uma hipótese de morte presumida. 
 
 COMORIÊNCIA: no caso de não se poder precisar a ordem cronológica das mortes dos comorientes 
(pessoas que morreram em uma mesma situação), a lei firmará a presunção de haverem falecido no mesmo 
instante. Em caso de serem parentes, não sucedem um ao outro, abrindo-se cadeias sucessórias distintas. 
 
Ausência 
É o desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio, sem dar notícias do lugar onde se encontra, 
nem deixar procurador para administrar seus bens, acarretando, por essa razão, dúvida a respeito de sua 
sobrevivência. Esse estado precisa ser declarado judicialmente.No ACC, o ausente era considerado absolutamente incapaz, o que não foi repetido pelo NCC, afinal, 
só por estar desaparecida, a pessoa não deixa de ter capacidade para a vida civil onde esteja. O fato de ter 
um representante (curador) decorre da impossibilidade de administrar seus bens. 
No que diz respeito à tutela dos bens, o instituto da ausência é tratado em três etapas: 
• Curadoria do ausente: inicia-se com a petição inicial de qualquer interessado (parentes 
sucessíveis, sócios, credores, pessoas que têm pretensão contra o ausente) ou do MP. O juiz deverá, em 
seguida, arrecadar os bens abandonados e nomear curador. Isso ocorrerá, ainda que o ausente tenha deixado 
procurador, se este não puder ou não quiser exercer o mandato. O curador será, em primeiro lugar, o cônjuge 
do ausente, desde que não separado judicialmente ou de fato, por mais dois anos. Subsidiariamente, serão 
nomeados os ascendentes e, em seguida, os descendentes. Não havendo nenhuma dessas pessoas, o juiz 
escolherá um curador. Este, nomeado, receberá do juiz poderes e obrigações especiais, ficando responsável 
pela administração e conservação do patrimônio do ausente, pelo que receberá uma gratificação e terá 
ressarcido o que gastou no exercício da curadoria. É vedado ao curador adquirir bens do ausente. Depois da 
arrecadação, serão publicados editais de dois em dois meses, durante um ano, para chamar o ausente a 
retomar seus bens, cessando a curadoria caso reapareça (1), caso compareça seu procurador (2) ou, ainda, 
haja notícia inequívoca de seu óbito (3). 
• Sucessão provisória: Ocorre após 01 ano da arrecadação ou, caso o ausente tenha deixado 
procurador, passados 03 anos. Consiste em uma administração (não mero depósito) para preservar os bens 
do ausente, de modo que não sejam alterados mais do que o necessário, já que o desaparecido pode estar 
vivo. Depende de pedido dos interessados. Não havendo qualquer dos interessados mencionados, o MP pode 
requerer a sucessão provisória. A sentença que a determina produz efeitos depois de 180 dias de sua 
publicação; mas, tão logo transite em julgado, ocorre a abertura do testamento e do inventário, como se o 
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ausente fosse falecido. Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer a abertura do 
inventário, após 30 dias do trânsito em julgado, a massa de bens do ausente será considerada como 
herança jacente. Os herdeiros que se imitirem na posse dos bens devem prestar garantia pignoratícia ou 
hipotecária, com exceção do cônjuge, dos ascendentes e dos descendentes. Aqueles que não puderem ter a 
posse dos bens, por não prestarem a devida garantia, receberão a metade dos rendimentos da cota de seus 
bens. Cônjuges, ascendentes e descendentes receberão a integralidade dos frutos produzidos pelos bens 
que administram. Os outros herdeiros, a metade. Reaparecendo o ausente e provado que a ausência foi 
injustificada e voluntária, ele perderá os frutos em favor do sucessor. Não se poderá alienar os imóveis do 
ausente. 
• Sucessão definitiva: após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a abertura da 
sucessão provisória. Na mesma oportunidade, levantam-se as garantias prestadas. Ela ocorre em menor 
prazo, caso o ausente tenha 80 anos e esteja sumido há, pelo menos, cinco anos. Após o trânsito em 
julgado da sentença que concede a sucessão definitiva dos bens, declara-se a morte 
presumida.Retornando o desaparecido ou algum de seus descendentes ou ascendentes, nos 10 anos 
seguintes à abertura da sucessão definitiva, receberá os bens nos estado em que se encontrarem, os sub-
rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido. 
Efeitos familiares da ausência: se o ausente deixar filhos menores e outro cônjuge tiver falecido ou 
não tiver direito de exercer o pátrio poder, eles serão considerados órfãos. Se os pais estiverem ausentes, os 
menores devem ser postos em tutela. Após a declaração de morte presumida, o casamento resta dissolvido – 
consequência inovadora, não tratada no ACC nem tampouco admitida anteriormente pela doutrina. 
 
1. DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 
 Uma das principais inovações do NCC é a existência de um capítulo próprio dos direitos da 
personalidade. Retrata a mudança axiológica da codificação, de um código agrário e conservador (que só 
abarcava os direitos subjetivos reais e obrigacionais) para outro que se preocupa substancialmente com o 
indivíduo, em sintonia com CF/88. Sua localização, no NCC, mostra, ainda, que o ser humano é o 
protagonista do novo sistema. É o fenômeno da despatrimonialização ou repersonalização do direito 
privado. 
Conceito: são aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e 
em suas projeções sociais, com o fim de proteger a essência e a existência do ser humano. A idéia que 
norteia sua disciplina é a de uma esfera extrapatrimonial do indivíduo, tutelada pela ordem jurídica com 
respaldo em uma série de valores não redutíveis pecuniariamente, como a vida, a integridade física, a 
intimidade, a honra etc. 
Direitos da personalidade vs Liberdade publicas. Os direitos da personalidade situam-se acima do 
direito positivo, sendo considerados inerentes ao homem; as liberdades públicas, por sua vez, dependem 
necessariamente de positivação para assim serem consideradas. Quanto ao conteúdo, estas se inserem em 
categorias transindividuais (econômicas e sociais, por ex.), enquanto aqueles têm caráter individual. 
Natureza: trata-se de poderes que o homem exerce sobre sua própria pessoa. É um tertium genus 
de direito subjetivo, de índole fundamental (vide art. 5º, § 2º, e art. 1º, III, da CF). Diga-se, ainda, que o seu 
objeto não é a própria personalidade, mas sim as MANIFESTAÇÕES ESPECIAIS DE SUAS 
PROJEÇÕES (físicas, psíquicas e morais), consideradas dignas de tutela jurídica, principalmente no 
sentido de que devem ser resguardadas de qualquer ofensa. 
Sobre seus fundamentos jurídicos, há duas correntes: a positivista (ou tipificadora), que identifica 
como direitos da personalidade somente aqueles reconhecidos pelo Estado, que lhes daria força jurídica, não 
aceitando, assim, a existência de direitos inatos à condição humana. A norma jurídica seria seu único 
fundamento, pois ética, religião, história, política, ideologia não passam de aspectos de uma mesma 
realidade. Por sua vez, a corrente jusnaturalista relaciona os direitos da personalidade às faculdades 
exercitadas naturalmente pelo homem, pois são atributos inerentes à condição humana. 
 
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Origem e Evolução 
Três elementos históricos contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento da teoria dos 
direitos da personalidade: 
• O advento do cristianismo, por ressaltar a dignidade do homem filho de Deus, reconhecendo um 
vínculo interior e superior, acima das circunstâncias políticas que determinavam em Roma os 
requisitos para o conceito de pessoa (status libertatis, status civitatis e status familiae). Exaltava 
o indivíduo, distinguindo-o da coletividade e dotando-o de livre arbítrio. 
• A Escola do Direito Natural, por assentar a concepção de direitos inatos ao ser humano, unidos à 
sua natureza de forma absoluta. 
• A filosofia iluminista, por enfatizar a valorização do indivíduo em face do Estado. 
 
Titularidade: por excelência, é do ser humano, mas alcança também os nascituros, que, embora 
sem personalidade, têm direitos ressalvados desde a concepção. As pessoas jurídicas também o são, no que 
diz respeito ao nome e à imagem, que acabam por atingir os valores societários. A CF não faz distinção 
entre pessoa natural e pessoa jurídica ao dispor sobre o direito à honra e à imagem, não podendo haver 
restrição na sua interpretação. A abrangência indistinta também ocorre no inciso V do art. 5º do texto 
constitucional (indenização por dano moral e à imagem). Assim, apesar de uma concepção originalmenteantropocêntrica dos direitos da personalidade, são eles aplicáveis à PJ quanto aos atributos que lhe 
são reconhecidos (nome e outros sinais distintivos, segredo, criações intelectuais e outros). Tal 
entendimento já estava consagrado na jurisprudência, por Súmula do STJ (nº 18: “A pessoa jurídica pode 
sofrer dano moral”) e agora o NCC põe fim à polêmica, com o art. 52: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no 
que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. 
A corrente doutrinária divergente (Gustavo Tepedino, Cláudia Lima Marques) restringe a 
titularidade dos direitos da personalidade ao ser humano, por três motivos: (1) a origem de sua 
positivação está na Constituição Alemã, que dispõe expressamente que “a dignidade da pessoa humana é 
inviolável”; (2) a lesão a nome de PJ configura um dano patrimonial, não moral, pois ela só tem honra 
objetiva (externa ao sujeito – consiste no respeito, consideração, apreço) e o prejuízo é unicamente material; 
(3) estender os direitos da personalidade a ecossistema, animais e PJ significa desmerecê-los, desvalorizá-
los. Tal corrente defende que, apesar de serem a pessoa natural e a PJ sujeitos de direito, seus fundamentos 
são diversos. Ademais, essa extensão não se adapta à trajetória e à função dos direitos da personalidade no 
ordenamento. 
. 
Características: 
• Caráter absoluto: são oponíveis erga omnes. A pretensão é que será dirigida a certa(s) pessoa(s). 
Não quer dizer que são ilimitáveis. Nesse aspecto, eles são relativos, incidindo a razoabilidade, em caso de 
colisão. 
• Generalidade (caráter necessário dos dir. da personalidade): são outorgados a todas as pessoas, 
nunca podem faltar-lhes. 
• Extrapatrimonialidade: ausência de conteúdo patrimonial direto, aferível objetivamente, ainda 
que sua lesão gere efeitos econômicos (dano moral) 
• Indisponibilidade: decorre de seu caráter essencial. Abrange tanto a 
INTRANSMISSIBILIDADE (não se admite a cessão do direito de um sujeito para outro) como a 
IRRENUNCIABILIDADE (ninguém pode dispor de sua vida, sua intimidade, sua imagem). No entanto esta 
indisponibilidade é relativa, já que o artigo 11 admite restrição voluntaria, desde que atendidas os seguintes 
requisitos: 1) não pode ser permanente; 2) não pode ser genérico; 3) não pode violar a dignidade do titular 
Enunciado da jornada de direito civil(dez/2004),: “Art. 11 - Os direitos da personalidade podem sofrer 
limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de 
direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.” 
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• Impenhorabilidade: A ausência de conteúdo econômico impede a penhora. Estes não podem ser 
penhorados, mas o crédito deles decorrentes sim. Da mesma forma, deve-se admitir a penhora dos créditos 
da cessão de uso do direito à imagem. 
• Vitaliciedade: os direito da personalidade se extinguem com a morte . O art. 12, parágrafo único, 
do NCC prevê o dano reflexo aos direitos da personalidade dos membros da família, em caso de lesão ao 
que seriam os direitos da personalidade da pessoa morta. A verdade é que não se trata de sucessão, em 
exceção ao princípio da indisponibilidade, mas de proteção aos direitos da personalidade dos parentes, que 
são lesados indiretamente. Os legitimados para requerer o dano são, subsidiariamente: cônjuges e 
descendentes; ascendentes; colaterais. 
• Imprescritibilidade: não existe prazo para seu exercício, não se extinguindo pelo não-uso. 
 
Espécies: 
Os direitos personalíssimos não são enumeráveis, porém, entre os mais importantes, destacam-se: 
• Vida: o mais precioso direito do ser humano. Trata-se de direito à vida e não sobre a vida, de 
modo que seu titular não pode cercear esse direito. 
• INTEGRIDADE FÍSICA: sobre esse direito, têm o CC as seguintes disposições: 
1. Princípio do consentimento informado (art. 15): o paciente tem direito de saber qual é 
o tratamento ou a cirurgia recomendada pelo médico e quais são suas conseqüências, para que a opção seja 
feita com consciência. A responsabilidade do médico, assim, não é só quanto à técnica, mas também 
quanto à informação. 
2. Limites à disposição do corpo: só pode haver a diminuição permanente da integridade 
física se houver exigência médica, que pode ser por motivo de saúde física ou psíquica, o que abrange as 
cirurgias plásticas e as lipoaspirações. Nesse sentido, confira-se o Enunciado nº 6 do CJF. A disposição do 
corpo, além de proibida quando há diminuição permanente da integridade física, não pode, ainda, ser 
contrária aos bons costumes (salvo exigência médica). 
Após a morte, pode haver disposição do corpo para objetivos altruísticos ou científicos, 
gratuitamente, no todo ou em parte (ex. de disposição parcial: doação para banco de esperma). Havendo 
suspeita de morte violenta em decorrência de crime, a lei obriga à realização de necropsia. 
• INTEGRIDADE PSÍQUICA: incluem-se nessa classificação o direito à liberdade, inclusive de 
pensamento, à intimidade, à privacidade, ao segredo e o direito referente à criação intelectual. O direito à 
liberdade é tratado no art. 5º da CF, sendo objeto de estudo do direito constitucional, motivo por que deixará 
de ser abordado neste resumo. 
1. Direito às criações intelectuais: é manifestação direta da liberdade de pensamento. 
Também é abordado na CF – art. 5º, XXVII a XXIX. Regula-se, ainda, pela Lei 9.610/98 (direitos autorais) 
e Lei 9.279/96 (propriedade intelectual). Nos direitos autorais, há duas classes de interesse: os morais e os 
patrimoniais. Os primeiros é que configuram efetivos direitos da personalidade e que, por isso, não se 
transmitem a nenhum título. 
2. Direito à privacidade: art. 5º, X/CF. Relaciona-se à vida particular da pessoa natural. O 
direito à intimidade é uma de suas manifestações. Este difere daquele porque está ligado à não intrusão, ao 
direito de estar só; é um ambiente da vida privada mais profundo que a privacidade (nesta se insere a 
família). É como se esta fosse um círculo grande que abrangesse o círculo, menor e concêntrico, da 
intimidade. O elemento fundamental do direito à intimidade é a exigibilidade de respeito ao isolamento de 
cada ser humano, que não pretende abrir certos aspectos de sua vida a terceiros. É o direito de estar só. O 
direito à privacidade é tratado no art. 21 do CC, que garante ao lesionado a adoção, pelo juiz, de 
providências necessárias para impedir ou estancar a violação à vida privada. Tal inviolabilidade é 
garantida somente às pessoas naturais. 
3. Direito ao segredo: seria um círculo, também concêntrico, intermediário entre a 
intimidade e a privacidade. Abrange três esferas: segredo das comunicações (correspondência, telefone e 
comunicação telegráfica); segredo doméstico (reservado aos recônditos do lar e da vida privada; relaciona-
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se também à inviolabilidade do domicílio); segredo profissional (protege-se a pessoa que revelou algum 
segredo a terceiro, por circunstância de sua atividade profissional). 
• INTEGRIDADE MORAL: nela se inserem: 
1. Direito à honra: umbilicalmente associada à natureza humana, manifesta-se sob duas 
formas: (1) objetiva – reputação, bom nome e fama que a pessoa possui na sociedade – e (2) subjetiva – 
sentimento pessoal de estima, consciência da própria dignidade. 
2. Direito à imagem: protege a forma plástica da pessoa natural, mais os seus reflexos, 
principalmente quando há violação, são sentidos mais no âmbito moral que no físico. É também um direito 
fundamental (art. 5º, X, CF). O NCC contém previsão (art. 20) de indenização para o caso de exposição ou 
utilização da imagem de uma pessoa quando houver proibição sua e lhe atingirem a honra ou se destinarem a 
fins comerciais. Tratando-se de morto ou ausente, podem pedir a devida tutela o cônjuge, os ascendentes ou 
os descendentes1. O desvio de finalidade do uso autorizadotambém caracteriza violação ao direito à 
imagem. Como se vê, esse direito admite cessão de uso, porém seus limites devem ser rigidamente fixados 
pela autorização expressa do seu titular. 
3. Direito ao nome: tutela o sinal exterior mais visível da pessoa natural. Compreende o 
prenome e o sobrenome (patronímico2). Pode, ainda, ser integrado pelo pseudônimo (codinome), que é 
aquele escolhido pela própria pessoa para o exercício de uma atividade específica. Ainda que não o integre, 
goza da mesma proteção (desde que usado para atividade lícita), tutelando, assim, um verdadeiro direito à 
identidade pessoal. 
 Por ser marca indelével do ser humano, o nome só pode ser alterado em situações 
específicas. É necessária a mudança em caso de alteração do estado de filiação (adoção, reconhecimento de 
paternidade) ou do próprio nome dos pais. É voluntária em caso de casamento e, ainda, dependendo de 
autorização judicial, quando é imotivada (1 ano após a maioridade), em caso de inclusão de pseudônimo, de 
substituição do prenome em razão de proteção à testemunha de crime, de facilitação de identidade no setor 
profissional, de erro de grafia e de exposição ao ridículo. A jurisprudência consagra, também, a hipótese de 
mudança de sexo. 
 O NCC tutela o nome na medida em que proíbe o seu uso em propaganda comercial sem 
autorização (art. 18). Como dito antes, o art. 17, quando proíbe o emprego do nome de modo a expor seu 
titular ao desprezo público, protege, em verdade, a honra. Aquele outro dispositivo, de certa forma, também 
objetiva tutelar a honra. 
 
Proteção: pode ser preventiva, fazendo cessar a ameaça (por meio de cautelar ou ordinária com multa 
cominatória)3 ou repressiva (por meio de imposição de sanção civil – indenização – ou ainda penal). O CC 
prevê tais formas de tutela (art. 12)4. A CF, por sua vez, consagra garantias específicas (remédios) daqueles 
direitos da personalidade que configurem liberdades públicas. Por fim, o Pacto de São José da Costa Rica 
determina que os Estados se comprometam a respeitar e garantir os direitos da personalidade. 
 
 
 
 
 
1
 O Enunciado nº 5 da Jornada de Direito Civil prevê em sua segunda parte: “2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm 
a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos 
expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas 
subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.” 
2
 Apelido: sinônimo de patronímico ou, ainda, de cognome (Xuxa, Pelé, Didi Mocó); Agnome: sinal distintivo acrescentado ao 
nome para diferenciá-lo do de parentes mais próximos (Filho, Neto, Júnior). 
3
 III Jornada de Direito Civil, Enunciado: “A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, 
aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo.” 
4
 O Enunciado nº 5 da Jornada de Direito Civil prevê em sua primeira parte: “1) As disposições do art. 12 têm caráter geral e 
aplicam-se inclusive às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as 
medidas nele estabelecidas”. 
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3. PESSOAS JURÍDICAS 
 
Homem é ser gregário por excelência – tende a agrupar-se, por diversas razões. 
CONCEITO: Pessoa jurídica é o grupo humano criado na forma da lei e dotado de personalidade 
jurídica própria, para a realização de fins comuns. É entidade a que a lei empresta personalidade, 
capacitando-a a ser sujeito de direitos e obrigações. A sua principal característica é a de que atuam na vida 
jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem (CC, art. 50, a contrario sensu). 
NATUREZA JURÍDICA: Várias teorias procuram explicar o fenômeno pelo qual um grupo de 
pessoas passa a constituir uma unidade orgânica, com individualidade própria reconhecida pelo Estado e 
distinta das pessoas que a compõem. Podem ser reunidas em dois grupos: o das teorias negativistas e o das 
teorias afirmativas. 
Teorias negativistas: Em geral não admitiam a existência da personalidade da pessoa jurídica, 
considerando-a como uma massa de bens objeto de propriedade comum. O direito positivo se afasta desta 
corrente, 
 
Teorias afirmativas, realistas ou organicistas: 
1. Teorias da ficção: podem ser da ficção legal e da ficção doutrinária. Para a primeira, desenvolvida 
por Savigny, a pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei. Para a segunda, uma criação dos 
juristas, da doutrina. A crítica que se lhes faz é a de que as pessoas jurídicas não são criadas pelo Estado, 
mas confirmadas por ele. 
2) Teorias da realidade: dividem-se em: 
2.1) Teoria da realidade objetiva – pessoa jurídica é tão pessoa quanto as pessoas naturais, do ponto 
de vista objetivo, a pessoa jurídica é uma realidade sociológica, ser com vida própria, que nasce por 
imposição das forças sociais. A pessoa jurídica não é abstrata, mas formada de corpus (conjunto de bens) e 
animus (vontade do instituidor). A crítica que se lhe faz é a de que os grupos sociais não têm vida própria, 
personalidade (no sentido de valor), que é característica do ser humano. 
2.2) Teoria da realidade técnica – (Ihering): mais aceita hoje em dia. A personificação dos grupos 
sociais é expediente de ordem técnica, a forma encontrada pelo direito para reconhecer a existência de 
grupos de indivíduos, que se unem na busca de fins determinados. A pessoa jurídica tem existência real, não 
obstante sua personalidade seja conferida pelo Direito. Esta é a teoria adotada no ordenamento pátrio. 
COMPLEMENTAÇÃO GAGLIANO: art. 18 cc 1916, e art. 45 CC-02 – tais dispositivos prevêem 
expressamente que a existência da pessoa jurídica se inicia com a inscrição de seus atos constitutivos no 
respectivo registro. Prova esta cabal de que a personificação da pessoa jurídica e construção da técnica 
jurídica (tanto que seus efeitos podem ser suspensos em casos determinados, através da desconsideração) 
 
CARACTERÍSTICAS 
1. PERSONALIDADE PRÓPRIA, que não se confunde com a de seus criadores. 
2. PATRIMÔNIO PRÓPRIO e independente; 
3. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL PRÓPRIA 
4. OBJETIVOS COMUNS DE SEUS MEMBROS 
5. PUBLICIDADE DE SUA CONSTITUIÇÃO 
 
Requisitos para a constituição da PJ: São três: vontade humana criadora (não pode surgir de 
imposição do Estado; intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros), observância das 
condições legais e liceidade dos seus objetivos (a autonomia da vontade é limitada pela lei). 
A vontade humana materializa-se no ato de constituição, que se denomina estatuto, em se tratando 
de associações (sem fins lucrativos); contrato social, em se tratando de sociedades simples ou empresárias 
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(anteriormente denominadas civis e comerciais); e escritura pública ou testamento, em se tratando de 
fundações (NCC, art. 62). 
REGISTRO: O ato constitutivo deve ser levado a registro para que comece, então, a existência legal 
da pessoa jurídica de direito privado (NCC, art. 45). 
Algumas pessoas jurídicas precisam, ainda, de autorização ou aprovação do Poder Executivo (NCC, 
art. 45), como as seguradoras, as instituições financeiras, as administradoras de consórcio etc. Os partidos 
políticos, além do registro civil, devem registrar-se no TSE (obs.: com o registro civil, já adquirem 
personalidade). Os sindicatos, por sua vez, para adquirirem personalidade, além do registro civil, devem 
registrar-se no Ministério do Trabalho (Súmula nº 677/STF). 
No que diz respeito à anulação do ato constitutivo por defeito no próprio ato, a Lei Civil estabelece 
prazo decadencial de 3 anos contados da publicação de sua inscrição no registro (NCC, art. 45, parágrafo 
único).O cancelamento do registro da pessoa jurídica, nos casos de dissolução ou cassação da autorização 
para seu funcionamento, não se promove, mediante averbação, no instante em que é dissolvida, mas depois 
de encerrada sua liquidação (NCC, art. 51). 
 
 
GRUPOS DESPERSONALIZADOS: conjunto de direitos e obrigações, de pessoas e de bens, sem 
personalidade jurídica, mas com capacidade processual, mediante representação. Ex: massa falida (síndico), 
herança jacente/vacante (curador), espólio (inventariante), sociedade sem personalidade jurídica (a quem 
couber a administração dos bens) e condomínio (síndico ou administrador). 
 
CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA: 
• Quanto à nacionalidade: nacional e estrangeira. 
• Quanto à estrutura interna: 
Corporação (universitas personarum: conjunto ou reunião de pessoas): as corporações visam à 
realização de fins internos, estabelecidos pelos sócios. Os seus objetivos são voltados para o bem dos seus 
membros. As corporações dividem-se em associações e sociedades (simples ou empresárias). As 
ASSOCIAÇÕES não têm fins lucrativos (mais tecnicamente correto dizer que tem fins não econômicos), mas 
religiosos, morais, culturais, desportivos ou recreativos5. Finalidade não econômica não significa não poder 
auferir lucro, mas sim destinar eventual lucro auferido em benefício da própria pessoa jurídica (ao contrário 
da sociedade, cuja destinação do lucro é a partilha entre os sócios). 
“A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, obedecido o disposto no estatuto e o 
direito de ampla defesa; sendo este omisso, poderá também ocorrer se for reconhecida a existência de 
motivos graves, em deliberação fundamentada, pela maioria absoluta dos presentes à assembléia geral 
especialmente convocada para esse fim” (NCC, art. 57). 
Disciplina legal: Arts. 53 a 61 
 
As SOCIEDADES têm fim econômico e visam a lucro, que deve ser distribuído entre os sócios. As 
SIMPLES constituídas, em geral, por profissionais de uma mesma área ou por prestadores de serviços 
técnicos. Mesmo que eventualmente venham a praticar atos próprios de empresários, tal fato não altera a sua 
situação, pois o que se considera é a atividade principal por eles exercida. As EMPRESÁRIAS também 
visam a lucro, e distinguem-se das simples porque têm por objeto o exercício de atividade própria de 
empresário sujeito ao registro previsto no art. 967 do NCC. 
FUNDAÇÃO (universitas bonorum: reunião de bens): as fundações têm objetivos externos, 
estabelecidos pelo instituidor. Nas corporações também existe patrimônio, mas é elemento secundário, 
 
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 III Jornada de Direito Civil do CJF, Enunciado: “Os partidos políticos, sindicatos e associações religiosas possuem natureza 
associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil.” 
 
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apenas um meio para a realização de um fim. Nas fundações o patrimônio é elemento essencial. Diz-se que a 
fundação é um patrimônio personificado. 
As fundações constituem um acervo de bens, que recebe personalidade jurídica para a realização de 
fins determinados. Compõem-se de dois elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor e não 
lucrativo). Somente poderão constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. A 
limitação, inexistente no antigo CC, tem a vantagem de impedir a instituição de fundações para fins menos 
nobres ou fúteis. A sua formação passa por quatro fases: 
Ato de dotação ou de instituição: reserva de bens livres, com indicação dos fins a que se destinam. 
Faz-se por escritura pública ou por testamento. 
Elaboração dos estatutos: A elaboração pode ser direta ou própria (pelo próprio instituidor) ou 
fiduciária (por pessoa de sua confiança, por ele designada). 
Aprovação dos estatutos: os estatutos são encaminhados ao Ministério Público para aprovação. 
Registro: indispensável, fazendo-se no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Só com ele começa a 
fundação a ter existência legal. 
As fundações extinguem-se em dois casos: se se tornar ilícita (nociva), impossível ou inútil a sua 
finalidade; se se vencer o prazo de sua existência. Nesses casos, o patrimônio terá o destino previsto pelo 
instituidor, no ato constitutivo. 
Disciplina legal: arts. 62 a 69 
 
Com a edição da Lei nº 10.825, de 22 de dezembro de 2003, também passaram a ser consideradas 
pessoas jurídicas as ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS e os PARTIDOS POLÍTICOS. Em relação a essas 
entidades, estabelece o NCC que “são livres a criação, a organização, a estruturação interna e o 
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou 
registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.” E ainda: “Os partidos políticos serão 
organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica.” 
 
• Quanto à função (ou à órbita de sua atuação, ou regime): 
PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO: podem ser: de direito público externo (Estados 
estrangeiros, inclusive a Santa Sé, bem como todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional 
público, inclusive organismos internacionais); de direito público interno (administração direta – União, 
Estados, Distrito Federal, Municípios e administração indireta – autarquias, fundações públicas e demais 
entidades de caráter público criadas por lei – são órgãos descentralizados, com personalidade própria para o 
exercício de atividade de interesse público. Serão assim classificadas, ainda que tenham estrutura de direito 
privado – fundações públicas e entes de fiscalização do exercício profissional). 
PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO: são as corporações (associações, sociedades 
simples e empresárias, partidos políticos, organizações religiosas6 e sindicatos7) e as fundações particulares 
(NCC, art. 44; CLT, arts. 511 e 512; CF, art. 8º). As empresas públicas e as sociedades de economia mista, a 
despeito de fazerem parte da administração indireta, são dotadas de personalidade jurídica de direito privado 
(DL 200/67), sujeitando-se ao regime próprio das empresas privadas (CF, art. 173, § 1º). 
 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
 
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 III Jornada de Direito Civil: “A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e 
legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame, pelo Judiciário, da compatibilidade de seus atos com 
a lei e com seus estatutos.” 
 
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 Não estão relacionados no art. 44 do CC, mas como diz um recente enunciado da III Jornada de Direito Civil do CJF: “A relação 
das pessoas jurídicas de direito privado, estabelecida no art. 44, incisos I a V, do Código Civil, não é exaustiva.” 
 
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O ordenamento jurídico confere às pessoas jurídicas personalidade distinta da dos seus membros. Tal 
regra, contudo, tem sido mal utilizada por pessoas cuja intenção é a de prejudicar terceiros, dando origem à 
teoria da desconsideração da personalidade jurídica, ou disregard of the legal entity. 
A doutrina da desconsideração pretende o afastamento temporário da personalidade jurídica da 
entidade, para permitir que os credores prejudicados possam satisfazer os seus direitos no patrimônio 
pessoal do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo. 
Esta teoria permite que o juiz, em casos de fraude e de má-fé, desconsidere o princípio de que as 
pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros e os efeitos dessa autonomia para atingir e 
vincular os bens particulares dos sócios à satisfação das dividas da sociedade. 
Dentre as regras disciplinadoras da vida associativa em geral, previstas no NCC, destaca-se a que 
dispõe sobre a repressão do uso indevido da personalidade jurídica, quando esta for desviada de seus 
objetivos socioeconômicos paraa prática de atos ilícitos ou abusivos. Prescreve, com efeito, o art. 50 do CC: 
“Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão 
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público quando lhe couber intervir 
no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens 
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.” 
Sobre a matéria, há dois enunciados do CJF. O nº 7: “Art. 50: só se aplica a desconsideração da 
personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular, e limitadamente, aos administradores ou 
sócios que nela hajam incorrido”, e um outro recente, formulado na III Jornada de Direito Civil: “Nas 
relações civis, os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de 
finalidade social ou confusão patrimonial) interpretam-se restritivamente. Observação da comissão: Este 
enunciado não prejudica o enunciado n. 07, da 1a. Jornada de Direito Civil do CEJ/CJF.” 
Como se vê, a desconsideração da personalidade jurídica não decorre somente do desvio dos fins 
estabelecidos no contrato social ou nos atos constitutivos, podendo o abuso também consistir na confusão 
entre o patrimônio social e o dos sócios ou administradores. Os seus efeitos são meramente patrimoniais e 
sempre relativos a obrigações determinadas, pois a pessoa jurídica não entra em processo de liquidação. O 
emprego da expressão “relações de obrigação” demonstra que o direito do demandante tanto pode ser 
fundado em contrato como em um ilícito civil. 
 
O STJ subdivide a teoria nas vertentes FORTE (MAIOR) ou FRACA (MENOR), sendo a primeira 
adotada pelo Código Civil, a exigir prova do abuso (seja por desvio de finalidade ou confusão patrimonial), 
não se contentando com a mera insolvência da pessoa jurídica. Para a segunda teoria (fraca), a simples 
insolvência é suficiente para autorizar a desconsideração (Adotada pelo CDC). 
 
Há, também, a DESCONSIDERAÇÃO INVERSA, que vem sendo reconhecida pelo STJ 
principalmente em casos de direito de família, a autorizar o juiz desconsiderar a pessoa natural para atingir o 
patrimônio da pessoa jurídica da qual ele seja sócio (provado o abuso, por óbvio). 
 
É importante lembrar que a desconsideração, à luz do Princípio da Continuidade da Empresa, tende a 
admitir a mantença posterior de suas atividades. Diferentemente, a despersonificação aniquila a pessoa 
jurídica, cancelando o seu registro. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
Gonçalves, Carlos Roberto – Direito Civil – Parte Geral - Coleção Sinopses Jurídicas. Editora Saraiva, 2004. 
Gagliano, Pablo Stolze e Pamplona Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral. Saraiva, 2003. 
Tepedino, Gustavo. A Parte Geral do Novo Código Civil: estudos na perspectiva civil-constitucional. 
Renovar, 2003. 
Anotações pessoais do Curso “Parte Geral do CC” ministrado por Nelson Rosenvald. 
Anotaçòes pessoais do curso LFG ministrado por Pablo Stolze Gagliano

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