Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Operações e Logística Livro I Livro 01 - 27_02.indd 1 15/03/2012 17:39:28 Livro 01 - 27_02.indd 2 15/03/2012 17:39:28 Curso de Administração a Distância - UAB/UFMT Operações e Logística Livro I Cuiabá - MT 2011 Livro 01 - 27_02.indd 3 15/03/2012 17:39:28 Livro 01 - 27_02.indd 4 15/03/2012 17:39:28 Iniciando Viagem... Livro 01 - 27_02.indd 5 15/03/2012 17:39:29 Olá! Estamos juntos, novamente, para mais uma etapa de trabalho. Cada vez mais perto da formatura!! Todos já sabem que qualquer organização existe para produzir e vender alguma coisa. Assim sendo, Produção e Vendas são o que chamamos de ‘Áreas Fim’; todas as demais são consideradas “Áreas Meio”. Essas áreas (meio) oferecem suporte para que a organização alcance seus objetivos fundamentais (fins). A disciplina de Operações e Logística estrutura-se em duas partes. No Livro 1 trataremos de uma área meio denominada Administração de Materiais. Transitaremos por assuntos específicos tais como Planejamento de Estoques (também conhecida por Gestão de Estoques), Compras e Almoxarifado. Apresentaremos a você técnicas que visam, em linhas gerais, abastecer e garantir o pleno funcionamento de todos os processos organizacionais. O Livro 2 trata da área fim conhecida como Administração da Produção. Passaremos pelas etapas de Planejamento do Processo Produtivo, depois pelas etapas da Operação do Processo Produtivo e, finalmente, abordaremos a questão Logística enquanto estratégia organizacional que engloba as áreas de materiais e de produção, entre outras. O conteúdo que trabalharemos é longo e esperamos que esta fase seja agradável e leve. A leveza que propomos, longe de ser a banalização dos conceitos, está na forma de apresentarmos definições e conteúdos. E esta é, na verdade, nossa única e real contribuição, já que nada criamos, porque tudo já preexiste eternamente na Mente Divina, uma vez que Deus “... é o Autor único e Insuperável de todas as coisas” (RAMATÍS, 2006). Livro 01 - 27_02.indd 6 15/03/2012 17:39:29 Livro 01 - 27_02.indd 7 15/03/2012 17:39:29 LIVRO I SUMÁRIO CAPÍTULO 01 - INTRODUÇÃO 1.1 Origem e evolução das atividades ligadas à área de materiais ................................................ 14 1.2 A moderna administração de recursos materiais e patrimoniais .............................................. 16 1.3 Conceitos de administração de recursos materiais e patrimoniais ........................................... 17 1.4 Objetivos da área de materiais ........................................................................................................ 18 1.5 Atividades da área de materiais ..................................................................................................... 19 CAPÍTULO 02 - PLANEJAMENTO DE ESTOQUE 2.1 Planejamento de estoques ............................................................................................................... 24 2.1.1 Política de Estoque ........................................................................................................................ 26 2.1.2 Previsão da Demanda .................................................................................................................. 27 2.1.2.1 Natureza da Demanda .............................................................................................................. 28 2.1.2.2 Classificação do Comportamento da Demanda ..................................................................... 30 2.2 Níves de estoque .............................................................................................................................. 35 2.2.1 Outros Conceitos Importantes .................................................................................................... 41 2.3 Mecanismos e instrumentos para acompanhamento e controle de estoques .......................... 43 2.3.1 Custos sobre Estoques ................................................................................................................... 43 2.3.1.1 Custo de Manutenção ............................................................................................................... 43 2.3.1.2 Custo de Obtenção ...................................................................................................................... 44 2.3.1.3 Custo Total ................................................................................................................................... 46 2.3.2 Lote Econômico de Compra – LEC .............................................................................................. 48 2.3.3 Classificação ABC .......................................................................................................................... 52 2.3.3.1 A Curva ABC ............................................................................................................................... 56 2.3.3.2 Caracterização dos itens da Classe A (os VIP’s) ..................................................................... 58 Livro 01 - 27_02.indd 8 15/03/2012 17:39:29 2.3.3.3 Itens Críticos (outro tipo de “VIP”) .......................................................................................... 58 2.3.3.4 Caracterização dos itens da Classe C ........................................................................................ 59 2.3.4 Giro de Estoque .............................................................................................................................. 60 2.3.5 Contabilização de Estoques .......................................................................................................... 61 CAPÍTULO 03 - COMPRAS 3.1 Importância da função da função compras dentro da organização ........................................... 66 3.2 Decisões estratégias relacionadas à área de compras .................................................................. 67 3.2.1 Centralização X Descentralização da Área de Compras ........................................................... 67 3.2.2 Fabricar ou Comprar (Terceirização) .......................................................................................... 69 3.3 Operação do sistema de compra ..................................................................................................... 70 3.3.1 Requisição de Materiais ................................................................................................................ 72 3.3.2 Solicitação de Cotações ................................................................................................................. 74 3.3.3 Avaliação de Cotações .................................................................................................................. 77 3.3.4 Pedido de Compra ........................................................................................................................ 80 3.3.5 Acompanhamento de Entregas .................................................................................................... 81 3.3.6 Recebimento e Inspeção de Materiais ......................................................................................... 84 3.4 Cadastro de fornecedores ................................................................................................................ 86 3.5 Compras públicas ............................................................................................................................. 88 CAPÍTULO 04 - ARMAZENAGEM 4.1 Classificação de materiais ............................................................................................................... 96 4.1.1 Identificação do Material ..............................................................................................................98 4.1.1.1 Nome Padronizado ................................................................................................................. 97 4.1.1.2 Descrição Complementar .......................................................................................................... 97 4.1.1.3 Identificação Auxiliar ................................................................................................................. 97 Livro 01 - 27_02.indd 9 15/03/2012 17:39:29 4.1.2 Codificação do Material ................................................................................................................ 99 4.1.3 Catalogação do Material ............................................................................................................. 100 4.2 Instalações de armazenagem ......................................................................................................... 101 4.2.1 Tipos de Instalações ..................................................................................................................... 101 4.3 Atividades básicas .......................................................................................................................... 101 4.3.1 Recebimento ................................................................................................................................. 101 4.3.2 Estocagem ..................................................................................................................................... 102 4.3.2.1 Unidades de Estocagem ........................................................................................................... 102 4.3.2.2 Localização de Material ............................................................................................................ 104 4.3.3 Distribuição .................................................................................................................................. 105 4.4 Inventário físico ............................................................................................................................... 105 4.5 Saneamento de estoques ................................................................................................................ 106 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 110 Livro 01 - 27_02.indd 10 15/03/2012 17:39:29 Livro 01 - 27_02.indd 11 15/03/2012 17:39:29 Livro 01 - 27_02.indd 12 15/03/2012 17:39:29 Livro 01 - 27_02.indd 13 15/03/2012 17:39:30 14 1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS ATIVIDADES LIGADAS À ÁREA DE MATERIAIS Mesmo com muita vontade de ir direto ao ponto, dizendo de forma curta e rápida o que é e do que trata Administração de Materiais – postura típica do Administrador –, mesmo não querendo cansar você, nós precisamos expor alguns fatos históricos para que você conheça a origem de algumas ‘modernas’ técnicas aplicadas no nosso campo de trabalho. Se pensarmos bem, desde que deixamos de ser nômades nós nos organizamos em torno da “produção” e “manutenção” de uma nova forma de viver. Como foram construídas e mantidas grandes civilizações, cidades monumentais, impérios inteiros, se desconsiderarmos o desempenho administrativo das pessoas de então? É claro que também podemos meditar acerca dos motivos (ou falhas administrativas) que levaram à ruína essas mesmas civilizações, cidades e impérios... Segundo o professor Gerson dos SANTOS (2001), no Egito antigo já era possível delinear o perfil de um gerente de materiais. Era José, “provedor da Casa Real do Faraó Queóps...”. Depois de se tornar o homem de confiança do Faraó, interpretou-lhe o sonho a respeito das 7 vacas gordas e das 7 magras, relacionando-as com anos de fartura seguidos por anos de miséria. Assim, como resposta ao problema dos sete anos de fome, José organizou um celeiro com cotas de cereais durante os sete primeiros anos. O alimento estocado serviu para sustentar a população durante os sete anos em que a lavoura foi fraca. Licurgo, em Esparta, considerava como base de seu sucesso contra Atenas a bravura dos seus soldados e a conservação dos seus equipamentos – feita por homens especializados. Quando os árabes invadiram a Península Ibérica (765 dC – 1031 dC) “... a palavra al-xarif designava a pessoa de confiança do Sultão, responsável pela guarda dos bens do seu senhor...”(SANTOS, 2001). Percebe-se, claramente a atividade de almoxarifado sendo exercida. Livro 01 - 27_02.indd 14 15/03/2012 17:39:30 15 Mas a Administração de Material, como é conhecida hoje, é um produto da Revolução Industrial (Taylorismo e Fordismo) e, mais tarde, do Toyotismo. Para se ter uma idéia, já existiam departamentos de compra organizados nas companhias de minério desde 1832 e, nas ferrovias, em 1887 (AMMER, 1979). Esse autor (AMMER, 1979) consegue fazer um resgate histórico muito interessante da evolução da área de materiais dentro das organizações. Diz ele que no início do século XX, apesar de algumas indústrias começarem a apresentar razoável índice de industrialização, a Administração de Material era algo totalmente novo enquanto atividade distinta. Ela existia e era exercida por um homem de confiança - o contramestre. Ele programava, comprava e distribuía aquilo que necessitava para o processo produtivo; também contratava e despedia, tudo de forma muito independente. A Administração de Material estava “diluída” por toda a empresa. Contratar alguém que trabalhasse especificamente com materiais era um gasto totalmente desnecessário, já que os contramestres faziam isto muito bem, até mesmo porque os favores e propinas que vinham da parte dos fornecedores faziam parte do salário deles e não seria nada interessante abrir mão desta complementação de renda. Outras atividades da área de materiais provavelmente nem mesmo existiam nas primeiras fábricas. Controle de estoque significava apenas ter lotes de material à mão quando necessário; controle de produção poderia ter sido simplesmente perguntar ao patrão qual o próximo trabalho a ser feito; o tráfego talvez cuidado pelo carroceiro ou pela estrada de ferro. Mas VIANA (2006) complementa a história com um dado interessante. Em 1915 apareceu o Lote Econômico de Compra (LEC), “... por meio da simples idéia de encontrar uma quantidade para minimizar o custo total de reposição.” Em meados do século passado, o gerente de materiais era aquele homem (também de confiança), com baixo salário que, em fim de carreira, era ‘promovido’ a chefe do material ou do almoxarifado (almoxarifado era sinônimo de depósito de coisa velha). Complementando com as palavras de SANTOS (2001): “... o que vinha à mente era a figura de um velho de óculos, sentado junto a uma mesa, tendo ao lado um fichário ou um “Kardex”, e ao fundo as prateleiras que guardavam os itens de estoque (...) Mas, não se questionava se as quantidades ali armazenadas estavam bem dimensionadas, se o capital investido em estoque era grande ou pequeno; qual fora o critério adotado para a compra dos materiais; se era feito algum inventário periódico naquele almoxarifado; se o espaço físico era Livro 01 - 27_02.indd 15 15/03/2012 17:39:30 16 suficiente; se o salário daquele profissional era compatível com a sua função e a sua responsabilidade, etc.” Nos últimos 70 anos estas atividades de Administração de Materiais - rapidamente mencionadas no último parágrafo - tornaram-se especializadas e amplamente aceitas. No entanto, grande parte das companhias não concentra todas elas sob a responsabilidade de uma única pessoa e a razão disto, para AMMER (1979) é, também, histórica. Argumenta ele que as grandes organizações de hoje evoluíramde um núcleo familiar e que essa resistência é quase inevitável. No pequeno negócio existe pouca especialização funcional. O proprietário faz todos os trabalhos administrativos. Ele é o seu próprio gerente de material, produção, de vendas, financeiro, etc. Não há dinheiro para especialistas em tempo integral - a não ser um contador e um advogado em tempo parcial. Quando o negócio cresce, aumentando o volume de trabalho, o proprietário contrata um assistente. Algumas funções menos importantes são delegadas. Com relação à Gerência de Materiais ele pode guardar para si, por exemplo, a responsabilidade de compra dos materiais mais importantes e também o controle destes estoques, uma vez que isto envolve dinheiro e, conseqüentemente, poder dentro da organização. Assim, neste tipo de empresa, cresça ela o quanto crescer, a Administração de Materiais nunca mais vai ser responsabilidade de uma única pessoa. Estas atividades serão delegadas para gerentes localizados em diferentes níveis da organização que se comunicarão com os outros gerentes interessados em outras funções - principalmente o de finanças e o de produção. E a companhia continua a crescer. Quando atinge os 100 funcionários a estrutura de dois gerentes não mais atende às necessidades. Vão surgindo aos poucos os gerentes de produção, de finanças, de vendas e aparece a necessidade de um departamento de compras, dirigido por alguém que normalmente também exerce outra função - a secretária ou o chefe do escritório, etc. Mas este gerente de compras não é, absolutamente, gerente de materiais. 1.2 A MODERNA ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS Até bem pouco tempo, o currículo dos cursos de Administração trazia a disciplina de Administração de Materiais que abordava os conceitos de gestão de estoques, compras, movimentação interna e armazenagem de materiais. Livro 01 - 27_02.indd 16 15/03/2012 17:39:30 17 Mais recentemente, introduziu-se a Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais e o que “... até então fora coberto pela “antiga” Administração de Materiais passou a ser insuficiente, já que administrar recursos é algo bem mais amplo” (MARTINS, 2000). Qual o “sentido” que tem “Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais” para você? Assim, mesmo que o nome continue o mesmo – Administração de Materiais – ou Suprimentos, o escopo da área aumentou muito. As novidades nas linhas de produção aparecem num espaço de tempo cada vez menor e as campanhas de marketing incentivam o comportamento consumista. Por esse motivo, os grandes estoques representam um perigo para as organizações, uma vez que são muito caros. Como diminuí-los a um nível extremamente baixo e também seguro, mantendo a competitividade e também a qualidade? A abordagem Logística vem se somar às funções dessa gerência. Por tudo isso a Gerência de Materiais é algo bem mais amplo e exige um profissional treinado para o cargo, fazendo-se necessário um sincronismo perfeito entre a área de materiais as demais áreas da empresa. O relacionamento normalmente conflitante entre as áreas de Marketing, Finanças e Produção precisa ser redirecionado, balanceando “... os objetivos conflitantes para minimizar o total dos custos envolvidos e maximizar o serviço ao cliente consistentemente com os objetivos da organização” (ARNOLD, 1999). Como alternativa, o autor propõe “... algum tipo de administração integrada de materiais ou de uma organização logística que seja responsável pelo fornecimento, produção e distribuição.“ Entretanto, ele admite que “O conceito de se ter um departamento responsável pelo fluxo de materiais a partir do fornecedor, passando pela produção até o consumidor, é relativamente novo. (...) Se as empresas desejam minimizar seus custos totais nessa área e prover o melhor nível de serviços ao cliente, devem agir desse modo.” 1.3 CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS A Administração de Materiais é um ramo especializado da Administração, que trata especificamente do gerenciamento de artigos contabilizáveis, diretos e indiretos, essenciais à produção. Assim, a sua finalidade é assegurar o contínuo Livro 01 - 27_02.indd 17 15/03/2012 17:39:30 18 abastecimento de artigos próprios, necessários e capazes de atender aos serviços executados por uma empresa (DIAS, 1993). Já para MARTINS (2000), “A administração dos recursos materiais engloba a seqüência de operações que tem seu início na identificação do fornecedor, na compra do bem, em seu recebimento, transporte interno e acondicionamento, em seu transporte durante o processo produtivo, em sua armazenagem como produto acabado e, finalmente, em sua distribuição ao consumidor final.” E os recursos patrimoniais “... podem ser entendidos como as instalações, prédios, terrenos, equipamentos e veículos da empresa.” Você observou que ambos os conceitos chegam ao mesmo ponto? Levar o material necessário, na quantidade necessária, ao local exato, no momento exato para a continuidade das atividades organizacionais. 1.4 OBJETIVOS DA ÁREA DE MATERIAIS Você sabe que os objetivos da área de materiais são divididos em primários e secundários? Sabe o que isso significa? O significado dessa divisão pode ser compreendido a seguir. A área de Administração de Materiais, assim como as demais áreas da empresa, deve contribuir para o alcance das metas da organização. Para DIAS (1993), se a sua contribuição for direta, os objetivos são primários; se indireta, secundários. Objetivos primários: a) preços baixos: menor preço de compra, menos custos operacionais, maior lucro; b) alto giro de estoques: o giro de estoques é determinado pelo resultado da soma das vendas + estoque médio. Se estoque for menor que vendas, ótimo!, pois haverá menor capital investido. Esse menor estoque também significa menores custos de armazenagem e manutenção, o que é melhor ainda; c) baixo custo de aquisição e posse: se a recepção e armazenagem são serviços eficientes, o custo é menor; d) continuidade de fornecimento: as quebras no fornecimento elevam os custos de produção, expedição e transporte; Livro 01 - 27_02.indd 18 15/03/2012 17:39:30 19 e) consistência de qualidade: o departamento de Administração de Materiais é responsável pela qualidade dos materiais comprados (o departamento de Produção é responsável pela qualidade dos processos de fabricação); f) despesa com pessoal: redução de custos x eficiência; g) relações favoráveis com fornecedores: as fábricas dependem muito da cooperação destes agentes no sentido de súbitas mudanças nos fornecimentos, obtenção de serviços extras, trabalho conjunto para redução de custos, etc Objetivos secundários: a) bons registros: (nas fases de compra e tráfego) associados a controles administrativos, inibem a corrupção; b) materiais e produtos novos; c) economia em comprar ou fabricar; d) padronização. Vale destacar que, em se tratando de objetivos, é importante observar o seguinte: 1. Objetivos primários aplicam-se a todas as organizações, mas têm importância relativa, isto é, ‘ajustam-se’ à organização em questão. Por exemplo: um supermercado precisa fazer com que seu estoque gire rapidamente (15 dias em média para total renovação); já numa livraria, o estoque pode levar até 6 meses para girar completamente. 2. Os objetivos (tanto primários quanto secundários) também variam dentro da mesma organização. Exemplo: com as vendas em alta o importante é manter o fornecimento e a qualidade; em tempos de vendas em baixa, evita-se investir em estoques; em momentos de escassez de materiais, por falta mesmo ou por problemas trabalhistas com fornecedores, é importante saber onde localizar o que é necessário; numa pequena empresa talvez não haja dinheiro para estoques - o girodeve ser alto mesmo a custos um pouco maiores. 1.5 ATIVIDADES DA ÁREA DE MATERIAIS As atividades dessa área, classicamente podem ser resumidas em uma célula: Planejamento, Compra e Armazenagem, girando em torno do objetivo Livro 01 - 27_02.indd 19 15/03/2012 17:39:30 20 básico que é custo x confiabilidade. Entretanto, em função da evolução do conceito, outros aspectos foram incluídos. E é importante esclarecer, também, que iremos abordar cada uma das atividades pertinentes em separado, deixando o aspecto Logístico para o final do livro 2, uma vez que ele proporcionará a visão sistêmica do processo. 1.5.1 Planejamento de Estoques “É a etapa do processo que busca gerenciar economicamente aqueles itens que permanecerão no estoque da organização, planejando a sua reposição e controlando seu comportamento e distribuição” (SANTOS, 2001). Para que o Planejamento de Estoques possa ocorrer, ele necessita de uma base de dados. Essa base de dados é fornecida pela previsão da demanda e pelo acompanhamento do consumo dos itens estocados. Ou seja, sem dados históricos, não há como definir níveis de estoque, não há como planejar o momento e as quantidades de reposição, etc, afetando importantes processos como os de produção e vendas. A qualidade desses dados fornecidos para a atividade de Planejamento de Estoques depende da eficiência do Almoxarifado. Quanto mais organizado e operacional for, melhor. Percebe-se aí uma relação muito direta. Obviamente quando os níveis de estoque requerem reposição, entra em cena a atividade de Compras e, por extensão, a Classificação de Materiais. 1.5.2 Compras “É a etapa responsável pela aquisição dos materiais/serviços a serem utilizados no processo produtivo da organização (...), sendo eles estocáveis ou não. As principais etapas deste processo “estão distribuídas entre o Cadastro de Fornecedores, a Aquisição, o Diligenciamento e o Apoio, cuja diversificação depende o tipo de empresa.” Cabe ainda observar que o processo de compras nos órgãos públicos está sujeito “a procedimentos licitatórios de acordo com a legislação vigente”(SANTOS, 1997). 1.5.3 Armazenagem As etapas que compõem este processo são Recebimento, Estocagem e Distribuição. “...atualmente, em face da necessidade de agilização do processo de atendimento ao cliente, [estas etapas] necessitam de um perfeito entrosamento e da adoção de procedimentos modernos de movimentação de materiais e logística de distribuição”(SANTOS, 1997). Livro 01 - 27_02.indd 20 15/03/2012 17:39:31 21 Um Almoxarifado bem organizado, limpo, bem dimensionado é importante fator de redução de custos. E onde estão os desperdícios? Na movimentação e estocagem inadequadas, na falta de controle dos itens que entram e saem do estoque, em inventários mal feitos ou inexistentes, etc. A maioria dos administradores ainda delega esta importante função a pessoas sem qualificação e/ou sem treinamento. A qualidade dos registros de controle, feitos pelo almoxarife, reflete-se, como já vimos, na eficiência do Planejamento de Estoques. EXERCÍCIOS PROPOSTOS. 1. Em função da evolução da área de materiais, muitas vezes ela encontra- se “diluída” pela organização. Por que é difícil encontrarmos todas as atividades ligadas a materiais subordinadas a uma única gerência? E quais vantagens essa postura organizacional traria? 2. Por que áreas de produção, finanças e vendas querem ter influência direta sobre a área de materiais? Como elas exercem esse poder? 3. Alto giro e estoques é um dos objetivos de Administração de Materiais. Explique o que significa e o por quê da sua importância. Relacione-o com todos os aspectos possíveis, dentro e fora de Administração de Materiais. Livro 01 - 27_02.indd 21 15/03/2012 17:39:31 Livro 01 - 27_02.indd 22 15/03/2012 17:39:31 Livro 01 - 27_02.indd 23 15/03/2012 17:39:32 24 2.1 PLANEJAMENTO DE ESTOQUES “É a etapa do processo que busca gerenciar economicamente aqueles itens que permanecerão no estoque da organização, planejando a sua reposição e controlando seu comportamento...”(...) É uma atividade bastante técnica que necessita de conhecimentos estatísticos, matemáticos, contábeis e também o envolvimento de outras áreas da empresa. Naturalmente há, ainda, inter-relação com compras e armazenagem. (SANTOS, 1997) Destaques nossos. Tudo começa com planejamento. Bom, pelo menos deveria... Administrar por tentativa e erro é bastante comum, principalmente nos pequenos negócios e talvez esteja aí uma das causas do elevado ‘índice de mortalidade’ das pequenas empresas (o SEBRAE tem números bastante reveladores). É claro que o pequeno empresário dificilmente se dispõe a elaborar ‘planejamento dos estoques’ ou mesmo definir uma ‘política de estoque’. Mas ele o faz sem perceber, porque sabe o que quer para o seu negócio. Ele pode querer, por exemplo, atender com eficiência e qualidade todos os clientes que procurem o seu estabelecimento – mesmo que seja uma loja virtual. A isso chamamos de Nível de Serviço. Ele que atender 100% das solicitações. Assim, para atingir esse objetivo, mantém estoque de todos os itens. Se um item sai muito, o estoque deve ser maior, se sai menos, pode ser um estoque menor e por aí vai. Lá pelas tantas ele percebe que não tem liquidez, não tem caixa, mas tem um estoque enorme, com itens que demoram para sair (com ‘baixo giro’, em linguagem técnica). Muitas vezes ele não se dá conta de que esse resultado é decorrente de uma idealização – e toda idealização está fora da nossa realidade. Querer oferecer 100% de satisfação está fora da realidade. Ele trabalha muito na correção dos problemas ou procura-os onde não estão: no vendedor que não conseguiu colocar pedidos suficientes, no pessoal da produção, na falta de motivação da equipe como um todo, etc, etc. A saída pode ser aumentar os controles: cortar custos (geralmente os copos e o café); cobrar mais do pessoal de venda; azucrinar a produção; tiranizar o call- center. Tudo isso sem colocar os pés no chão, estabelecendo metas, diretrizes e/ ou políticas mais viáveis Repetimos: tudo começa com o planejamento. Livro 01 - 27_02.indd 24 15/03/2012 17:39:32 25 Estrategicamente, onde a empresa quer chegar? Como vai chegar? Trará para si toda a cadeia produtiva – como planejou Henri Ford? Vai terceirizar toda a produção (‘made in’ China) detendo somente as grifes e marcas? Em quais processos focará para se manter competitiva? Quanto e onde investir? O Planejamento Estratégico, elaborado nos escalões superiores, vai se desdobrando pelos níveis hierárquicos inferiores. Quando alcança a Administração de Materiais, serve como subsídio para o Planejamento dos Estoques, orienta os procedimentos da área de Compras (normatização, código de ética e negociação) e também os procedimentos relativos à Armazenagem (o tripé Planejamento – Compras – Almoxarifado que estudamos presentemente). Planejar Estoque = política de estoque + conhecimento da demanda. Ao planejar estoques, decisões muito importantes são tomadas. • Que nível de serviço será oferecido? • Quanto do seu capital de giro a empresa pode investir em estoques? • Quais serão os níveis máximos e mínimos de cada item estocado? • Qual será o custo para armazenar o estoque? Existem objetivos conflitantes entre as áreas de finanças, marketing e produção. A área financeira pressiona para que os níveis de estoque sejam baixíssimos. Produção pressiona para os estoques de matéria-prima e produto semi-acabado sejam elevados, objetivando manter a operação do sistema sem falhas. O Departamento de Marketing pressiona para que o estoque de produtos acabados seja alto, garantindo entregas rápidas, boa imagem para a empresa e boas vendas. O dimensionamento dos estoques é umproblema que surge da relação entre capital investido, disponibilidade de estoque, custos incorridos e consumo (ou demandas). (DIAS 1995) “O problema é balancear os objetivos conflitantes para minimizar o total dos custos envolvidos e maximizar o serviço ao cliente consistentemente com os objetivos da organização. Isso requer algum tipo de administração integrada de materiais...”. (ARNOLD, 1999) Dizendo de outra forma: o trabalho do administrador de materiais é manter o equilíbrio entre os níveis de estoque (compatibilizando-os com a demanda) e o Livro 01 - 27_02.indd 25 15/03/2012 17:39:32 26 volume de capital investido. Para planejar estoques são necessários dois tipos de informação: as ‘regras’ estipuladas pela Política de Estoques e o conhecimento sobre o Comportamento da Demanda. E o quanto é importante planejar estoques? O que você acha? Por exemplo. Depois que o sistema de ‘manufatura enxuta’ chegou, essa é, definitivamente, uma decisão estratégica. Entenda por ‘manufatura enxuta’ o processo produtivo sem estoques, ou seja, a inexistência de estoques ou, pelo menos, estoques para períodos de tempo muito pequenos (nas empresas de classe mundial, há casos em que o estoque é suficiente somente para 4 horas de produção, isso mesmo, 4 HORAS!). Já pensou na eficiência desse tipo de modelo de produção? Percebeu a precisão do planejamento dos estoques, que opera com quantidades mínimas? Já pensou na confiabilidade desses fornecimentos, especialmente em termos de qualidade e tempo de entrega? 2.1.1 POLÍTICA DE ESTOQUE Obviamente, a Política de Estoque deve estar alinhada com o Planejamento Estratégico da empresa. No nível tático, especificamente para área de materiais, é primordial estabelecer níveis de serviço compatíveis com a realidade financeira da mesma. E ainda mais: quais são os itens mais importantes (do ponto de vista operacional e/ou financeiro) do estoque? Existirão itens de menor importância? Qual deve ser o giro do estoque para que a empresa possa operar com lucro? Parafraseando novamente DIAS (1993), a Política de Estoques precisa definir dois aspectos: até que nível deverão flutuar os estoques para atender a uma alta ou baixa das vendas ou uma alteração de consumo; e qual será a rotatividade dos mesmos. Estes parâmetros não são os únicos, mas são os que merecem maior atenção, porque é através deles que se vai medir o capital investido em estoques. Tudo indica que, atualmente, a Política de Estoque mais adequada é manter níveis mínimos de estoque, comprando somente o necessário. A especulação com estoque é um bom negócio se a inflação for alta; em tempos de estabilidade econômica, mas de tremenda oscilação no comportamento do consumidor, é um risco. Livro 01 - 27_02.indd 26 15/03/2012 17:39:32 27 Mas, objetivamente, que tipo de parâmetro uma Política de Estoque determina? • Define o nível de serviço que será oferecido. • Define níveis de estoque. • Define os parâmetros para a Classificação ABC. • Define qual deve ser o giro dos estoques (ou a rotatividade).Define o tamanho do lote de compra e/ou fabricação e, conseqüentemente, os custos envolvidos. Com essas diretrizes podemos acompanhar e medir a performance dos serviços dessa área, como veremos mais adiante. 2.1.2 PREVISÃO DA DEMANDA O termo ‘demanda’ é utilizado por vendedores, por administradores da produção, por administradores de materiais, por economistas e, para cada um deles, há um detalhe que o diferencia. Às vezes demanda é igual à venda; ou igual à quantidade a ser produzida; ou igual a consumo, etc. Para nós, demanda será igual a consumo. ARNOLD (1999) é mais poético quando afirma que “A previsão é um prelúdio do planejamento.” E de fato é isso mesmo. Qualquer planejamento, em qualquer nível, parte de uma estimativa inicial. Quanto precisamos comprar, estocar, produzir para atender o cliente interno ou externo? E quando o material for adquirido pela primeira vez – um item novo ou uma empresa que dá seus passos iniciais? “Normalmente essa primeira previsão é fixada por estimativa, estando sujeita a distorções pela falta de dados anteriores que o auxiliem [o usuário] a prever com exatidão. Após a ocorrência de movimentação do estoque, a reposição passa a ser automática, com base nos dados de consumo,” tempo de ressuprimento, giro do material, etc. (VIANA, 2006) Para que o Planejamento de Estoques possa ocorrer, ele necessita de uma base de dados. Essa base de dados é fornecida pela Previsão da Demanda e pelo acompanhamento do consumo dos itens estocados. Livro 01 - 27_02.indd 27 15/03/2012 17:39:32 28 Ou seja, sem dados históricos, não há como definir níveis de estoque, não há como planejar o momento e as quantidades de reposição, afetando importantes processos como os de produção e vendas. A qualidade desses dados fornecidos para a atividade de Planejamento de Estoques depende da eficiência do Almoxarifado. Quanto mais organizado e operacional este for, melhor. Percebe-se aí uma relação muito direta. Obviamente quando os níveis de estoque requerem reposição, entra em cena a atividade de Compras (Unidade 3) e, por extensão, a Classificação de Materiais (Unidade 4). Voltando ao assunto, queremos lhe dizer que, para estimar a demanda, existem dois métodos: •Métodos qualitativos – baseados em opiniões e estimativas dos profissionais envolvidos. • Métodos quantitativos – que utilizam ferramentas estatísticas (modelagem matemática). A complexidade do gerenciamento dos estoques e o desenvolvimento de sistemas computacionais fazem com que as previsões, baseadas na intuição, cedam lugar para modelos quantitativos (TADEU, 2010), que são fartamente encontrados em obras focadas em Administração de Materiais, em Administração da Produção e em Estatística Aplicada, motivo pelo qual não serão aqui trabalhados. Mas antes de continuarmos, é importante que você conheça e identifique a natureza da demanda, bem como o seu comportamento. 2.1.2.1 NATUREZA DA DEMANDA • Demanda Independente Quando se refere a um produto final ou a um componente isolado. Numa revendedora de automóveis, por exemplo, há veículos no estoque, mas não há como calcular exatamente quantos veículos venderá. Essa demanda precisa ser prevista e será uma aproximação. Essa mesma revendedora pode, também, estocar para venda direta ao cliente (pneus, lanternas, etc). A demanda neste caso, também é independente porque não é possível uma previsão exata. Não é possível saber exatamente quantos clientes comprarão pneus, por exemplo, e quantos cada cliente comprará. Livro 01 - 27_02.indd 28 15/03/2012 17:39:32 29 • Demanda Dependente É aquela que ocorre num processo de fabricação, onde diversos elementos em quantidades definidas entram na composição de um produto final. No exemplo acima falamos da revendedora. Mas se olharmos para a montadora, os itens ‘pneu’ e ‘lanterna’ apresentarão demandas dependentes. Quantos pneus, lanternas, bancos, etc, serão necessários para montar 1.000 (mil) carros de determinado modelo? A multiplicação simples, direta, fornece a resposta. A quantidade de itens em estoque depende da sua futura utilização. Este tipo de demanda pode ser calculada com exatidão. E qual a utilidade dessa informação? Conhecer a natureza da demanda e gerenciá-la é de importância capital para o Planejamento e Controle da Produção (PCP), assunto do Livro II. Podemos antecipar que esse planejamento (PCP) pode assumir grandes proporções, se considerarmos que ele se ocupa não de um único produto, mas de uma grande variedade deles, ou uma linha inteira ou várias linhas de produtos. Dada essa complexidade, os administradores contam com algumas ferramentas bastante úteis, entre elas o MRP. O Material RequirementsPlanning (MRP) é projetado para realizar estes cálculos. “... é o sistema utilizado para se evitar as peças ausentes. Estabelece um agendamento (plano de prioridades) que mostra os componentes exigidos em cada nível de montagem, com base nos lead times2, calcula quando esses componentes serão necessários” (ARNOLD, 1999). Voltaremos ao MRP no próximo livro. Muito bem. Agora que já fizemos essa ressalva quanto à demanda, vamos falar de consumo de materiais. Para nós, aqui nesse fascículo, o termo “... demanda caracteriza intenção de consumo e tem o objetivo básico de fazer previsões,” levando-se em conta seu comportamento histórico. (VIANA, 2006) Dizendo de outra forma: nos interessa saber como se comporta o consumo (ou demanda) de cada item que temos em estoque. 2 Lead times é o intervalo de tempo decorrido entre a colocação e o atendimento do pedido. Livro 01 - 27_02.indd 29 15/03/2012 17:39:32 30 E para que isso nos serve? Para que a área de materiais possa atender as necessidades da organização. Queremos saber “... a quantidade de material requerido para o atendimento das necessidades de produção, de comercialização, de prestação de serviços, dos programas de investimento, do consumo administrativo, etc, relacionada a uma determinada unidade de tempo” (SANTOS, 1997). 2.1.2.2 CLASSIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO DA DEMANDA O comportamento da demanda apresenta duas classificações: 1ª - Variação ao Longo do Tempo. 2ª – Variação Quanto à Inclinação. PRIMEIRA CLASSIFICAÇÃO: Variação ao Longo do Tempo Observando a movimentação dos itens ao longo das semanas, meses e anos (ao longo do tempo), podemos constatar padrões diferentes no consumo ou demanda. É possível identificar três padrões diferentes: ou um padrão de consumo constante; ou um padrão de consumo irregular: ou um padrão de consumo sazonal. • Consumo Regular ou Constante: caracteriza-se por pequena variação entre os intervalos sucessivos de tempo. Exemplos: pense num supermercado. Os itens da cesta básica apresentam demanda regular. Ou ainda as luvas de látex numa unidade de saúde. Consome muito, o tempo todo. Materiais de escritório apresentam, normalmente, consumo regular. Quando se trata de um item com essa característica de consumo, fica mais fácil planejar a reposição, o ponto de pedido e a manutenção de baixos níveis de Estoque de Segurança. Tudo porque há regularidade no comportamento da demanda, porque há um histórico que confirma essa característica. • Consumo Sazonal: relativo ao que ocorre na sazão ou estação. Sazão é uma oportunidade, um ensejo, uma ocasião. Este tipo de consumo apresenta um padrão que se repete ciclicamente. Este ciclo pode ser marcado por qualquer evento como festas, férias, datas comemorativas, colheita, etc. É possível prever quando o consumo ocorrerá novamente. O período de tempo analisado é, normalmente, anual. O gráfico resultante Livro 01 - 27_02.indd 30 15/03/2012 17:39:32 31 tem forma de “sino”, com “picos” e “vales”. Exemplos: Panetone? Só no Natal. Ovos de chocolate? Páscoa. Na região onde nós moramos (Cuiabá), roupas de meia estação e de inverno apresentam demanda sazonal; (maiôs e biquínis têm demanda regular). No retorno às aulas, a demanda por materiais escolares naturalmente aumenta em qualquer lugar desse país. Então, se é possível saber quando a demanda vai aumentar, o administrador de materiais vai suprir, ou aumentar o nível de estoque, quando for necessário. Se a ‘sazão’ se aproxima (momento de “pico”) e não há estoques, certamente o fornecimento irá falhar. O cliente interno e/ou externo não será atendido, lembrando que há custos com a falta de estoque. Inversamente, quando a procura termina, é necessário esvaziar o estoque, principalmente se forem gêneros alimentícios (data de validade). Depois que passa a Páscoa, alguns supermercados fazem promoção de ovos de chocolate, principalmente se estiverem quebrados/amassados/deformados. O preço dos panetones também cai depois do Natal. É preferível vender com preço menor do que perder tudo. • Consumo Irregular: caracteriza-se por variação (às vezes grande) entre os intervalos sucessivos de tempo. No entanto, NÃO há como prever quando o consumo vai ocorrer. Não tem simetria ou uniformidade; é inconstante, mutável. Não apresenta um padrão que se repete ciclicamente; ocorre sem previsão. Exemplos: pense num hospital de uma grande cidade. Não há como prever quando aparecerá um paciente necessitando de soro antiofídico. É claro que pode aparecer, mas quando? E quanto? Não há um padrão que possa servir de apoio para este tipo de previsão. O estoque para itens de demanda Irregular precisa ser bem pensado. No caso do hospital, oferecer serviços de saúde é seu papel fundamental. Se não houver estoque de soro antiofídico, a pessoa morre. Complicado, não é? Então, mantém estoque de soro (lembrando que tem data de validade), incorrendo nos custos de manutenção e armazenagem. Do ponto de vista financeiro, complicado também, não é? O que fazer? Qual é o Nível de Serviço que a organização quer oferecer, lembrando que se trata de vidas humanas. Continua difícil... Muito importante: quando classificamos o comportamento de um item ao longo do tempo, os tipos de comportamento (regular, sazonal, irregular) são opções mutuamente excludentes. Livro 01 - 27_02.indd 31 15/03/2012 17:39:32 32 Um item, dentro do mesmo horizonte de tempo, não apresenta, simultaneamente, comportamento regular e irregular; comportamento regular e sazonal; irregular e sazonal. É um OU outro. SEGUNDA CLASSIFICAÇÃO: Quanto à Inclinação Nesse tipo de classificação, o consumo pode ter uma inclinação persistente ou uma inclinação tendencial. • Consumo com Inclinação Persistente: caracterizado por pequena variação, mantendo-se de forma mais ou menos constante. • Consumo com Inclinação Tendencial: a variação tendencial pode ser ascendente ou descendente. • Tendencial Ascendente: quando o consumo tem uma tendência ao crescimento. Esse comportamento é típico de itens que se encontram na fase de Crescimento – em relação ao Ciclo de Vida do Produto (CVP). • Tendencial Descendente: quando o consumo tem uma tendência ao declínio. Esse comportamento é típico de itens que se encontram na fase de Declínio – em relação ao Ciclo de Vida do Produto (CVP). Acompanhe o exemplo a seguir: “Uma empresa prestadora de serviços hidráulicos mantém em estoque alguns itens aplicados na maioria dos serviços que executa, tais como: conexões plásticas, alguns tipos de dutos, cola para PVC, sifões para pia, etc. Outros itens mais caros e volumosos ela adquire somente quando vai executar algum serviço de grande porte. Quais os tipos de demanda que ficaram caracterizadas no primeiro e no segundo caso?” (SANTOS, 1997) 1º caso – “itens aplicados na maioria dos serviços que executa” Natureza da Demanda: INDEPENDENTE, porque o cliente compra no balcão da empresa os itens que necessita; aqui ‘as conexões, dutos, cola, etc’ são considerados produtos acabados, prontos para comercialização. Não como controlar de maneira exata. Comportamento da Demanda - Variação ao Longo do Tempo: REGULAR, já que ‘são itens utilizados na maioria dos serviços’, a empresa deve manter um estoque para atender essa demanda constante. Livro 01 - 27_02.indd 32 15/03/2012 17:39:32 33 Comportamento da Demanda - Variação Quanto à Inclinação: PERSISTENTE porque, conceitualmente, estamos falando do mesmo princípio. Dizendo de outra forma: quando um item é classificado como de demanda regular, este terá, necessariamente, uma inclinação do tipo persistente. 2º caso – “itens mais caros e volumosos ela adquire somente quando vai executar algum serviço de grande porte” Natureza da Demanda: DEPENDENTE, porque esses itensmais caros são adquiridos na quantidade exata do serviço que será realizado, porque fazem parte de um serviço acabado. Comportamento da Demanda - Variação ao Longo do Tempo: IRREGULAR porque estes somente são adquiridos ‘quando vai executar algum serviço de grande porte’. No entanto, a empresa não sabe quando um serviço de grande porte aparecerá. Comportamento da Demanda - Variação Quanto à Inclinação: Não é possível classificar o comportamento quanto à Inclinação, por falta de dados. ‘Persistente’ está descartado porque na classificação anterior o comportamento é do tipo irregular, não havendo equivalência conceitual. Poderia ser Tendencial Ascendente se houvesse alguma indicação de que a procura pelos serviços da empresa vem aumentando; por outro lado, poderia ser Tendencial Descendente se houvesse alguma indicação de que a procura pelos serviços da empresa (ou por alguns itens específicos) vem diminuindo. Como não há informação, não há como classificar, nem como planejar. Outro exemplo: considere que um item vem apresentando um comportamento descendente nos últimos meses, atingindo o Ponto de Pedido. O que fazer? Comprar para restabelecer o nível do estoque? Ou, ANTES de comprar, averiguar o motivo do declínio? Talvez seja o caso de excluí-lo do estoque ao invés de fazer a reposição. E como conhecer/levantar o histórico do consumo? Muito simples: cada item em estoque deve possuir uma ficha de acompanhamento, onde são registrados todos os movimentos de entrada e saída do material (todas as ocorrências de movimentação do estoque). Esses registros podem ser feitos manualmente ou via sistema informatizado, não importa. Livro 01 - 27_02.indd 33 15/03/2012 17:39:32 34 LEMBRE-SE DE QUE SEM DADOS HISTÓRICOS não é possível conhecer o comportamento da demanda, prejudicando sobremaneira o planejamento dos estoques. Se não houver registros confiáveis não haverá como aplicar os conhecimentos técnicos que vocês estão aprendendo nesse curso superior. SABER MAIS... • Previsão da Demanda: http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/C77827371F14F7400 32570410044B760/$File/NT000A997A.pdf http://ruyalexandre.zzl.org/arquivos/engpcp7prevdema.pdf Neste arquivo, sugerimos que observem com atenção o gráfico da página 19 – “Previsões baseadas em séries temporais”. http://www.logisticadescomplicada.com/controle-de-estoques- logistica-e-previsao-de-demanda/ http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2003_TR0101_0801.pdf Já neste outro arquivo, atenção aos gráficos que indicam o movimento da sazão, que se alteram em função do horizonte de tempo. Gestão de Estoques: fundamentos, modelos matemáticos e melhores práticas aplicadas. Hugo Ferreira Braga Tadeu (org.). São Paulo: Cengage Learning, 2010. Vários autores, 2003. Capítulo 4 - Modelos de Previsão da Demanda Aplicados na Gestão de Estoques. Exercícios propostos. Em quê o conhecimento do comportamento da demanda contribui para uma boa Gerência de Materiais? Sabendo que a demanda do tipo Sazonal é observada no intervalo de tempo de 12 meses e que, nos últimos 10 anos, o consumo é mais ou menos o mesmo, afirmamos que ela pode ser considerada uma demanda de comportamento Regular. Justifique. Quanto à demanda, ela pode se comportar de forma regular, irregular ou sazonal. Procure e apresente exemplos (diferentes daqueles comentados no texto) para cada um desses comportamentos, justificando suas escolhas. Livro 01 - 27_02.indd 34 15/03/2012 17:39:32 35 Imagine que uma empresa utiliza constantemente um certo item e mantém, em média, um estoque de 35 unidades do mesmo por mês. Considerando que há uma pequena variação no consumo, quanto à inclinação, que tipo de demanda ficou caracterizada? E quanto à variação ao longo do tempo? Qual é e por quê? (Adaptação de SANTOS, 1997) 2.2 NÍVEIS DE ESTOQUE Essa história de repor materiais pode parecer uma coisa bastante simples. A organização levanta o quanto de material necessita, verifica disponibilidade financeira, compra, recebe, armazena e utiliza. Imagine que o nível máximo de determinado item é 300 unidades e esse estoque supre um mês de consumo. Todos os dias são consumidas, exatamente, 10 unidades. No último dia do mês, ao mesmo tempo em que o estoque zera, chega um novo fornecimento com 300 unidades, restabelecendo o nível do mesmo. E recomeça o ciclo – idealizado e perfeito – de consumo e reposição. Todos os autores da área apresentam essa situação de consumo e reposição através de um gráfico simplificado chamado Curva Dente-de-Serra, porque o desenho resultante lembra uma ‘lâmina de aço dentada’. Pela descrição acima, perceba que: • Todos os dias o consumo é o mesmo: não se altera – nunca! São 10 unidades por dia, totalizando 300 unidades por mês. Nunca há incremento no consumo – não há promoções, não há pedidos inesperados, não existem picos nem gargalos na produção; • Os responsáveis pelo pedido (Almoxarifado e Compras) são, sempre, extremamente eficientes. Não existe qualquer tipo de falha humana e/ou de sistema; • O fornecedor é eficiente, eficaz e pontual. Assim que recebe o pedido, trata logo das providências necessárias. Ele nunca tem problemas no seu processo produtivo ou com o seu próprio abastecimento, nem dificuldades no transporte ou com procedimentos alfandegários; •A qualidade do pedido é sempre adequada. Nada é rejeitado pelo Controle de Qualidade, tudo chega em perfeitas condições de uso e na quantidade correta. Livro 01 - 27_02.indd 35 15/03/2012 17:39:32 36 Mas no cotidiano é assim? Com toda essa previsibilidade e certeza? Que bom se fosse! Realizaríamos o sonho do estoque zero, proposto pela Filosofia Just-in-Time. Na prática, todas as contingências citadas acima são perfeitamente normais e até corriqueiras. Assim, quando uma ou mais dessas situações ocorre (alteração no consumo, falhas administrativas, atraso do fornecedor, rejeição do lote pelo Controle de Qualidade), acontece o que se chama de Ruptura de Estoque. A ruptura ocorre quando o estoque, que não foi reposto por algum motivo, não atende a solicitação do cliente (interno e/ou externo). Não atender às solicitações leva a empresa a ter prejuízos com a possível paralisação do processo produtivo, a perda de clientes, problemas com a imagem da empresa, perda de vendas, etc. Considerando, então, que as ocorrências que levam o estoque a zerar são normais e que é preciso evitar os custos envolvidos nessa ruptura, conclui-se que é preciso criar algum mecanismo que absorva as possíveis falhas e impeça o estoque de zerar. A primeira coisa em que se pensa é em elevar o nível do estoque, o que não é a solução mais adequada. A saída, então, é determinar uma quantidade que fique de reserva e que suporte os imprevistos já comentados. Aparece o que se chama de Estoque Mínimo (EMín) ou Estoque de Segurança (ES). Antes de ir em frente com o conteúdo, acesse o endereço indicado para visualizar os gráficos citados. Leia com atenção as informações, localizando- as nos gráficos apresentados. http://quelquechoise.blogspot.com/2010_08_12_archive.html Importante! O movimento de consumo e reposição flutua acima do Estoque de Segurança. Isto ocorre porque ele é um estoque inoperante, e é imprescindível que seja determinado com a maior exatidão possível, para que a imobilização seja a menor possível. Repetindo: O Estoque Mínimo é INOPERANTE! Ou seja, está lá para não ser utilizado. Ele NÃO GIRA. É capital parado, que não traz retorno. Sua função Livro 01 - 27_02.indd 36 15/03/2012 17:39:33 37 é cobrir eventuais falhas. Significa que o Administrador de Materiais fará o que for possível para evitar tais falhas, para evitar que se utilize o Estoque Mínimo ou Estoque de Segurança. O Estoque Mínimo (EMín)poderia ser tão alto que cobriria todas as eventualidades, entretanto isso não é viável. E se for pequeno demais não cumpre a sua função de proteção. Há duas formas de determinar o Estoque Mínimo (EMín): 1. Projeção (projeção mínima estimada de consumo). 2. Modelos Matemáticos. Projeção: deve-se fixar, por meio da Política de Estoques, o grau de atendimento desejado para cada item, classe ou grupo de materiais. Deste modo define-se o Estoque Mínimo (EMín), que será tanto maior quanto maior for o grau de atendimento. Então: Emín = CMM x K, onde CMM = Consumo Médio Mensal K = fator de segurança arbitrário, com o qual se deseja uma garantia contra o risco de ruptura. Ex.: Se queremos que uma determinada peça tenha um grau de atendimento de 90%, significa que queremos uma garantia de que em somente 10% das vezes, o estoque desta peça chegue a zero. Sabendo que o CMM é de 60 unidades, o Emín será: Emín = CMM x K Emín = 60 x 0,9 Emín = 54 unidades Se for possível prever com exatidão o consumo do item e também o grau de atendimento, esta forma de cálculo é bastante eficaz. Na prática, obter 100% neste dos fatores é mais difícil. Modelos Matemáticos Sobre Modelos Matemáticos para o cálculo do Estoque Mínimo (EMín): ‘Método da Raiz Quadrada’, ‘Método da Porcentagem de Consumo’ e ‘Modelo Matemático para Quando Houver Alteração no Consumo e no Tempo de Livro 01 - 27_02.indd 37 15/03/2012 17:39:33 38 Ressuprimento’ indicamos a leitura do capítulo 2, subitem 2.4 – Níveis de Estoque - da obra de Marco Aurélio P. Dias (1993). Os outros autores citados ao longo do fascículo também apresentam modelagem matemática. No próximo SABER MAIS... também há indicação de material sobre Modelos Matemáticos. Se você ainda não acessou o endereço já indicado, agora também é um bom momento, pois o material disponibiliza diferentes simulações para definição do EMín. Já que Estoque Mínimo é “intocável” quando, devemos fazer um novo pedido? Devemos ter em mente que o novo lote de compra deve chegar no Almoxarifado a tempo de preservar o Estoque de Segurança. Então, o fator “tempo” é fundamental... Tempo de Ressuprimento é o tempo gasto desde a verificação de que o estoque precisa ser reposto até a chegada efetiva do material no almoxarifado – também conhecido por Lead Time. Este tempo divide-se em: 1. Emissão do pedido: tempo decorrido entre a emissão do pedido pela empresa e o recebimento deste pelo fornecedor; 2. Preparação do pedido: tempo que o fornecedor leva para fabricar os produtos, faturá-los e deixá-los em condições de transporte; 3. Transporte: tempo gasto desde a saída dos materiais do fornecedor até o momento em que a área de Recebimento da empresa compradora der o “aceite” para os itens fornecidos. (Ver Unidade 3 – Compras, - Recebimento e Inspeção de Materiais). Assim, o Tempo de Ressuprimento (TR), é a soma dos tempos de cada uma destas etapas (FRANCHISCHINI, 2002). Muito importante! Se for definido um espaço de tempo maior que o real, haverá aumento de estoques com os conseqüentes custos. Se o Tempo de Ressuprimento (TR) for menor que o real, pode haver ruptura, com os respectivos custos. Livro 01 - 27_02.indd 38 15/03/2012 17:39:33 39 O Tempo de Ressuprimento (TR) é uma variável que faz parte das fórmulas matemáticas para cálculo do Emín, e também é necessário à determinação do Ponto de Pedido (PP). Então, sabendo-se o tempo que um pedido leva para chegar, determina-se o Ponto de Pedido (PP). Ponto de Pedido indica um determinado saldo em estoque. Quando o PP é atingido, inicia-se o processo de compra. Ou seja, um novo suprimento deve ser pedido quando o saldo disponível estiver abaixo ou igual ao PP. PP = CMM x TR + Emín Ex.: uma peça é consumida a razão de 30 unidades/mês e seu TR é de 2 meses. Qual é o PP, uma vez que o Emín é de um mês de consumo? PP = CMM x TR + Emín PP = 30 x 2 + 30 PP = 90 unidades O endereço abaixo indicado abre um arquivo do tipo ‘PPS’. Está muito bem explicitado. No 2º slide vocês poderão ver o movimento de consumo e reposição através da Curva Dente-de-Serra; no 4º slide aparece a Curva Dente- de-Serra com Ruptura de Estoque; o 5º slide mostra a Curva Dente-de-Serra com utilização do EMín; o 7º slide apresenta o Tempo de Ressuprimento (TR) e o Ponto de Pedido (PP). Endereço: administracaounesc.files.wordpress.com/.../niveis-de-estoque.ppt Agora que você voltou, leia com atenção o enunciado abaixo. Vamos supor que a nossa empresa tenha um sistema informatizado para gestão de materiais. A entrada e saída de materiais é otimizada por leitora ótica. Os níveis dos estoques são acompanhados em tempo real. Ao atingir o Ponto de Pedido o sistema, de alguma forma, sinaliza que é o momento de comprar. Imediatamente encaminhamos o pedido para o fornecedor. Certo? ERRADO!!! Antes de comprar, é muito importante que o administrador de materiais – ou o sistema, não importa – verifique o saldo do Estoque Virtual. Vamos ver o que é isso. Livro 01 - 27_02.indd 39 15/03/2012 17:39:33 40 Estoque Virtual = (Estoque físico – Consumo empenhado) + (Entregas pendentes – Estoques em inspeção) • “Estoque físico”: Quantidade física armazenada disponível para consumo. • Consumo empenhado: Quantidade que, embora não tenha sido fisicamente consumida, já possui previsão de consumo em um futuro próximo, formalmente documentada pela requisição de materiais. • Entregas pendentes: Quantidade já solicitada aos fornecedores por um pedido de compra, mas ainda não entregues. • Estoques em inspeção: Quantidades já entregues, mas que aguardam a liberação para consumo pelo Controle de Qualidade.” (FRANCISCHINI, 2002) FRANCISCHINI (2002) orienta da seguinte forma: “Com uma peridiocidade adequada, diária, semanal ou mensal, a área de estoque deve fazer uma verificação para saber se o estoque virtual está igual ou abaixo do ponto de pedido.” Então, se o item atingiu o PP, antes de iniciar o processo de compra, verifique o Estoque Virtual, pois poderá haver pedidos em aberto. SABER MAIS... • Sobre principais modelos matemáticos utilizados na gestão dos níveis de estoque: http://www.amplittude.com.br/jbj/estudos/modelo_estoque.pdf • Sobre como calcular EMín, EMáximo, Ponto de Pedido: http://prof-hira.blogspot.com/2009_08_01_archive.html (Neste endereço há duas vídeo-aulas, excelentes, postadas pelo professor Alexandre Hirayama. As referidas aulas também podem ser acessadas pelo YouTube). Livro 01 - 27_02.indd 40 15/03/2012 17:39:33 41 2.2.1 OUTROS CONCEITOS IMPORTANTES Consumo Médio Mensal (CMM): média aritmética das retiradas mensais em estoque. C = consumo n = número de meses do período Estoque Médio (EM): nível médio de estoque, em trono do qual as operações de compra e consumo se realizam. EM = Q÷2 Q = Quantidade a ser comprada para consumo (se o Estoque Mínimo for excluído). Se o considerarmos agregado ao Estoque temos: EM = Emín + (Q÷2) Emín = constante Q = variável que oscila entre um máximo e um mínimo. Estoque Máximo (Emáx): quantidade máxima em estoque. Emáx = Emín + lote de compra Intervalo de Ressuprimento (IR): intervalo de tempo entre dois Pontos de Pedido (PP’s). Ao finalizarmos esta etapa queremos chamar sua atenção para algumas coisas. Você percebeu que, de maneira direta ou indireta, a variável Consumo (ou Consumo Médio Mensal) está sempre presente? Essa observação tem por objetivo lembrá-l@ de que sem dados históricos confiáveis, não há como gerenciar de maneira científica – e também eficiente e eficaz – a área de materiais. Sim, nós já o dissemos, mas fazemos questão de repetir. A maioria das pequenas empresas, apresenta grande resistência no sentido de registrar, “de colocar nopapel”, os dados referentes à movimentação dos estoques. Não percebem o valor que essas informações podem ter. E o prejuízo é grande, embora aconteça discretamente. Livro 01 - 27_02.indd 41 15/03/2012 17:39:33 42 Se você estiver à frente da área de materiais de uma organização qualquer e não possuir dados e informações precisos e/ou confiáveis, sugerimos o seguinte: faça Inventário Físico (Unidade 4); faça Saneamento de Estoque (Unidade 4); faça uma ficha de controle para cada item estocado; faça, rigorosamente, os registros. Depois de algum tempo, com as informações geradas, será possível determinar com mais exatidão os níveis dos estoques, minimizando desperdícios aumentando o retorno desse capital investido. SABER MAIS... • Sobre os conceitos acima expostos: http://www.portaladm.adm.br/AM/AM16.htm Exercícios propostos. 1. Comente a respeito da importância da correta definição/manutenção dos níveis de estoque. No seu comentário fale das forças contrárias que atuam, dos custos envolvidos, etc. 2. Analisando o funcionamento da Curva Dente-de-Serra, explique: a) a situação de ruptura de estoque, considerando na resposta as conseqüências deste fato; b) a finalidade do estoque mínimo e por que é importante dimensionar seu tamanho com a maior exatidão possível; c) a importância do TR para a determinação do PP e como este (PP) funciona. 3. O consumo e o tempo de ressuprimento são informações importantes para que possamos determinar quando pedir o material. Explique detalhadamente, relacionado a resposta aos níveis de estoque. Livro 01 - 27_02.indd 42 15/03/2012 17:39:33 43 2.3 MECANISMOS E INSTRUMENTOS PARA ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DE ESTOQUES 2.3.1 Custos Sobre Estoques Se há estoques numa organização, necessariamente há custos envolvidos. E esses custos aumentam em função da quantidade estocada e do tempo de permanência em estoque. A pergunta é: qual é quantidade mais econômica que a empresa deve comprar? Qual deve ser o tamanho do Lote Econômico de Compra (LEC)? Para determinar essa quantidade ideal, é preciso levantar primeiramente os custos envolvidos (Custo de Manutenção do Estoque, Custo de Obtenção do Estoque e o Custo Total). (DIAS, 1996) 2.3.1.1 Custo de Manutenção Ou Custo de Armazenagem. Quanto a empresa gasta para manter itens estocados? Quanto mais itens em estoque, maior o custo, já que as variações das despesas ocorrem em função do valor e do tamanho do estoque. Para SANTOS (2001) o Custo de Manutenção é composto por despesas fixas e despesas variáveis. • Despesas fixas: mão-de-obra, aluguel, taxas e impostos. • Despesas variáveis: juros de capital (juros de financiamento de estoque), seguros, obsolescência, expedição, recebimento, movimentação, imobilização e despesas diversas. Estes componentes geram um montante que, relacionado com o valor médio em estoque, indica um valor percentual - a taxa de custo de manutenção de estoques. Veja o exemplo. Despesas Fixas e Variáveis - Custo de Manutenção CUSTOS VALORES % Mão-de-obra 240.000,00 5,25 Juros pagos 110.000,00 2,40 Seguros 32.000,00 0,70 Livro 01 - 27_02.indd 43 15/03/2012 17:39:33 44 Fonte: Santos, 1997 * Valor médio do estoque no período: R$ 4.573.333,30 A partir do total dos custos de manutenção (R$ 1.372.000,00) pode-se chegar diretamente à taxa do referido custo: Valor Médio do Estoque R$ 4.573.333,30 = 100% Valor total do CM R$ 1.372.000,00 = X% Taxa de Custo de Manutenção = 30% (em um determinado período) Obs.: os percentuais parciais você encontra da mesma forma. Lembre-se de quanto maior o estoque, maior será o custo para mante-lo. Assim, do ponto de vista da manutenção dos estoques, a política mais adequada é manter estoques baixíssimos. O ideal é comprar pequenas quantidades com freqüência. “O Administrador de Materiais é o responsável por manter esse custo [de manutenção] no nível mais baixo possível, pois trata-se de um dos itens que mais oneram a empresa em sua lucratividade” (FRANCISCHINI, 2002). 2.3.1.2 CUSTO DE OBTENÇÃO Sempre que uma ordem de compra é emitida, há um custo para a empresa. Este custo engloba mão-de-obra, impostos e taxas, aluguel, correio, diárias e CUSTOS VALORES % Aluguel 360.000,00 7,87 Luz, telefone 95.000,00 2,08 Transporte,embalagem, etc 220.000,00 4,81 Diversos 120.000,00 2,62 Outros 195.000,00 4,26 TOTAL 1.372.000,00 30,00 Livro 01 - 27_02.indd 44 15/03/2012 17:39:33 45 despesas gerais. “Custo de pedido é o valor gasto pela empresa para que determinado lote de compra possa ser solicitado ao fornecedor e entregue na empresa compradora. (...) o custo do pedido refere-se aos custos administrativos e operacionais da área de compras. Além desses custos, “... o fornecedor pode cobrar fretes adicionais e/ ou a empresa incorrer em custos de inspeção para lotes parcelados de um mesmo pedido” (FRANCISCHINI, 2002). Destaques do autor. A composição do custo anual de compras está relacionada com o número de pedidos emitidos no período; o resultado é o custo de um pedido de compra. Assim, você já percebeu que cada vez que o processo de compra é acionado, esse custo se concretiza. Vamos ao exemplo. Composição do Custo Anual de Compras Fonte: Santos, 1997 * Número total de pedidos no período ‘X’ = 3.245 Custo de Obtenção R$ 649.000,00 Nº total de pedidos 3.245 Custo de Obtenção R$ 200,00 (para cada pedido realizado em um período) Do ponto de vista dos custos de obtenção (Compra), a política mais adequada para minimizá-los é emitir poucos e grandes pedidos. CUSTOS VALORES Mão-de-obra 310.000,00 Luz, correio, telefone, outros 50.000,00 Aluguel 200.000,00 Despesas Gerais 80.000,00 Taxas 120.000,00 TOTAL 649.000,00 Livro 01 - 27_02.indd 45 15/03/2012 17:39:33 46 Se forem feitos poucos pedidos (com o objetivo de minimizar o custo de obtenção), eles deverão ser, necessariamente, mais volumosos. No entanto, quanto maior for a quantidade do pedido, maior será o estoque médio e maior será o custo de manutenção. (BALLOU in CHING, 1999) Dizendo de outra forma: • Se comprarmos com freqüência, em pequenas quantidades de cada vez, o custo de manutenção (ou de estocagem) diminui, mas gastamos mais na obtenção; • Se comprarmos poucas vezes e em grandes quantidades de cada vez, o custo de obtenção diminui, mas gastamos mais para armazenar! (SANTOS, 1997) Perceberam o conflito de interesses? O ponto crítico é encontrar o equilíbrio entre o custo de pedir e o custo de manter estoques. Na simulação matemática há um ‘ponto ótimo’, um ponto onde esses dois custos alcançam valores mínimos, indicando a quantidade ideal de pedidos a serem efetuados no período. O objetivo é minimizar ambos os custos envolvidos! 2.3.1.3 CUSTO TOTAL “Toda teoria de dimensionamento e controle de estoque baseia-se em minimizar o custo total dado pela equação [do Custo Total].” (DIAS, 1996) Custo Total = Custo de Manutenção + Custo de Obtenção Para encontrar esse ponto, pode-se aplicar a fórmula abaixo até encontrar o custo mínimo ou usar o método da tentativa até obter o menor Custo Total. • Aplicação da Fórmula do Custo Total (DIAS, 1993) CT = (C ÷ Q) x B + ([PxQ] ÷ 2) x I C = Consumo total anual Q = número de peças compradas no pedido B = Custo unitário do pedido P = preço unitário da peça Livro 01 - 27_02.indd 46 15/03/2012 17:39:33 47 I = Taxa de armazenagem anual • Método da Tentativa (SANTOS, 1997) Freqüência Econômica De Pedidos N = Número de Pedidos (ou Freqüência) Q = Quantidade D = Demanda C = Custo unitário J = Juros (4,35%) Observe que se for feito um único pedido (N) de 96.000 unidades, o custo de aquisição é o menor de todos (1.450). Issose dá porque a área de Compras pode negociar preço e desconto. Mas, o custo de armazenagem (ou manutenção) N. DE PEDIDOS (F) VALOR DO PEDIDO QUANTIDADE (DC)/F =Q ESTOQUE MÉDIO Q/2 CUSTO DE MANUTENÇÃO EM X J CUSTO DE AQUISIÇÃO CUSTO TOTAL CA + CM 1 96.000 48.000 208.800 1.450 210.250 2 48.000 24.000 104.400 2.900 107.300 3 32.000 16.000 69.600 4.350 73.950 4 24.000 12.000 52.200 5.800 58.000 5 19.200 9.600 41.760 7.250 49.010 6 16.000 8.000 34.800 8.700 43.500 7 13.714 6.857 29.828 10.150 39.978 8 12.000 6.000 26.100 11.600 37.700 9 10.666 5.333 23.600 13.050 36.650 10 9.600 4.800 20.880 14.500 35.380 11 8.727 4.364 18.982 15.950 34.932 12 8.000 4.000 17.400 17.400 34.800 13 7.384 3.692 16.061 18.850 34.911 14 6.857 3.429 14.914 20.300 35.214 15 6.400 3.200 13.920 21.750 35.670 Livro 01 - 27_02.indd 47 15/03/2012 17:39:33 48 é o mais elevado (208.800). Isto ocorre porque mais recursos são necessários para guardar e movimentar esse volume de itens estocados. O inverso também pode ser observado. Se forem feitos 15 pedidos (15 N’s) de 6.400 unidades cada, o custo de aquisição sobe para 21.750 e o custo de armazenagem cai para 13.920. A meta do administrador de materiais é minimizar ambos os custos. Quando a freqüência atinge 12 pedidos (‘N’ ideal – Número Ideal de Pedidos), temos o menor Custo Total envolvido. O ‘N’ ideal informa quantos pedidos de compra podem ser feitos num período. Mas e o ‘tamanho’ de cada um desses pedidos? Exercícios propostos. 1. Muitas empresas fazem o levantamento dos seus custos operacionais. Especificamente em Administração de Materiais, trabalha-se com o custo de manutenção e com o custo de obtenção de materiais. Depois de analisados esses custos, que tipo de decisão o gerente de materiais pode e deve tomar? Que conseqüências estão relacionadas com este tipo de decisão? Quais áreas da empresa são mais diretamente afetadas por essas conseqüências? 2. Se, numa área de gestão de estoques, as compras forem realizadas com pouca freqüência e em grandes quantidades (comprarmos poucas vezes e muita coisa de cada vez), que tipo de custo aumentará e por quê? 2.3.2 LOTE ECONÔMICO DE COMPRA – LEC “... o custo do pedido e o custo de armazenagem do estoque dependem ambos da quantidade pedida. Idealmente, as regras de decisão referentes a pedidos utilizadas devem minimizar a soma desses dois custos. O sistema mais conhecido é a quantidade econômica de pedido” (ARNOLD, 1999). O primeiro passo nós já vimos: encontrar o ‘N’ ideal (número ideal de vezes que se compra – 12, no exemplo acima). Mas quanto comprar (LEC - Lote Econômico de Compra) ou fabricar (LEF - Lote Econômico de Fabricação) em cada uma dessas 12 vezes? A fórmula mais simples que encontramos para lhes apresentar foi encontrada Livro 01 - 27_02.indd 48 15/03/2012 17:39:33 49 em SANTOS (1997). Diz o autor: “Dedutivamente, com os custos conhecidos, temos a seguinte fórmula para cálculo: QE = Quantidade Econômica ou LEC CO = Custo de Obtenção D = Demanda C = Custo Unitário CM = Custo de Manutenção” (SANTOS, 1997). Reproduzimos, também, o exemplo: Dados: CO = R$ 2.500,00 D = 500 peças C = R$ 12,00 CM = R$ 800,00 QE = ? (SANTOS, 1997). Os autores FRANCISCHINI (2002), DIAS (1996), VIANA (2006) demonstram com riqueza de detalhes a dedução e aplicação da fórmula, bem como o gráfico resultante. Livro 01 - 27_02.indd 49 15/03/2012 17:39:34 50 No entanto, na prática, utiliza-se muito pouco o LEC porque, na prática, ele não funciona tão bem assim. Existem algumas restrições como: • O espaço de armazenagem (maior ou menor do que o LEC, acaba forçando uma compra diferente daquela determinada matematicamente; • variações no preço do material (com o mercado repleto de concorrentes há muita oferta, muitas facilidades, levando a uma compra diferente daquela determinada matematicamente; • dificuldades de aplicação (como vocês perceberam, são necessários dados confiáveis para aplicação da fórmula. Sem esses dados a compra é baseada na experiência e no feeling do comprador e, provavelmente, comprar-se-á uma quantidade diferente daquela determinada matematicamente; • natureza do material (pode ser um item crítico, pode ser um item com vida útil muito curta {como leite, pescado, alfaces} que acabam forçando uma compra diferente daquela determinada matematicamente; • natureza do consumo (pode ser um item de demanda sazonal sendo este um momento inadequado para comprar um LEC inteiro ou pode ser um item de demanda irregular; essas contingências acabam forçando uma compra diferente daquela determinada matematicamente; • quantidades mínimas vendidas pelo fornecedor (é muito comum a comercialização de lotes ou de fardos), que acabam forçando uma compra diferente daquela determinada matematicamente; • restrições de investimento em estoques (se não há disponibilidade financeira, é óbvio que a organização se vê forçada uma compra diferente daquela determinada matematicamente. E é possível comprar uma quantidade diferente daquela determinada matematicamente através do LEC, sem aumentar demais os custos? Volte até a planilha que apresenta o Método da Tentativa. Observe em torno do 12º número de pedidos. Percebe que entre o 10º e 14º número de pedidos os custos totais envolvidos pouco se alteram? A isso chamamos de “Sensibilidade do Lote”. Em termos de custos totais, o LEC é pouco sensível nas suas “adjacências”; sofre pouca variação em torno da quantidade ideal. Livro 01 - 27_02.indd 50 15/03/2012 17:39:34 51 Assim, se houver necessidade, pode-se comprar ou fabricar uma quantidade diferente (a mais ou a menos) da ideal, uma vez que os custos não se alteram significativamente! Depois disso tudo, você deve estar se perguntando: ‘Mas, no final das contas, para que serve o LEC? Primeiro é excelente porque reduz os custos totais e é isso que se deseja. Depois não serve mais, porque além de apresentar ‘um monte’ de restrições, ainda é possível comprar uma quantidade diferente daquela indicada como ‘ideal. Então, para quê serve? Bom, segundo VIANA (2006), o método é preciso, desde que não haja nenhum tipo de alteração, que seja uma situação perfeita, como aquela em que aparece a Curva Dente-de-Serra, o que na vida real, não existe... É também indicado para a aquisição de itens pertencentes à Classe C (Classificação ABC que veremos a seguir). O LEC é apenas um simulador, não um otimizador. É um parâmetro que você, futur@ administrad@r utiliza para melhorar o desempenho da área de materiais; é mais uma ferramenta para que você encontre onde incorrem os custos e possa minimizá-los e isso, por si só, já é muito importante. SABER MAIS... • Lote Econômico de Compra – LEC: http://www.logisticadescomplicada.com/entendendo-o-lote- economico-de-compras-lec-ou-eoq/ http://www.portaladm.adm.br/AM/AM17.htm Exercício proposto. 1. A área de gestão de estoques de uma loja de departamentos planeja a aquisição de alguns de seus itens através do lote econômico. Em algumas épocas do ano, em função de restrições de capital, necessita adquirir quantidades menores do que aquelas que o cálculo do lote recomenda. Levando em conta que este procedimento não altera muito os custos totais, diga em qual instrumento gerencial a empresa tem se baseado para tomar essa decisão. (SANTOS, 1997) Livro 01 - 27_02.indd 51 15/03/2012 17:39:34 52 2.3.3 CLASSIFICAÇÃO ABC Este método baseia-se nas conclusões do economista italiano Wilfredo Pareto (1842-1923) que, ao estudar a distribuição de renda entre a população do sistema econômico em que vivia, estabeleceu um princípio pelo qual o maior segmento da renda nacional concentrava-se em pequena parcela
Compartilhar