Buscar

WEB AULA 2 - HOMEM CULTURA E SOCIEDADE

Prévia do material em texto

ADMINISTRAÇÃO 
WEB AULA 2 
Unidade 1 - A Explicação Antropológica da 
Diversidade Cultural 
1. A teoria do “branqueamento” 
 
Na tese do branqueamento reside a ideia de 
melhoramento genético por meio da mistura 
entre brancos e negros. O branco, sendo uma 
raça superior, seria predominante sobre a 
negra, garantindo a melhoria genética da prole. 
Havia frases do tipo “Ele é branco e belo” e “O 
preto é amaldiçoado por Deus”, que circulavam 
em todas as esferas sociais, construindo uma 
mentalidade preconceituosa no seio da 
população brasileira. 
A teoria do branqueamento foi de tal forma 
imposta que os próprios negros passaram a ter vergonha de si 
mesmo desprezando suas origens. 
A ideologia do branqueamento era uma espécie de darwinismo social que apostava 
na seleção natural em prol da “purificação étnica”, na vitória do elemento branco 
sobre o negro, com a vantagem adicional de produzir, pelo cruzamento inter-racial, 
um homem ariano plenamente adaptado às condições brasileiras (CARONE 1965, p. 
16) 
É a partir da miscigenação que entra em cena a figura do mulato. O 
fato de ser negro no Brasil trazia um estigma negativo e ser branco 
era sinal de que a pessoa podia ter privilégios. O espaço do mulato 
era um pouco melhor do que o do negro porque de alguma forma 
possuía um pouquinho da genética do branco e isso dava a ele o 
estatuto de superior aos negros e a condição de ser inferior aos 
brancos. 
Analise no vídeo a seguir a mistura do preconceito com a religião 
<https://www.youtube.com/watch?v=cUcMlhD9N7Y>. 
 
Fica difícil ser negro num país assim, não é? Pare o vídeo e analise 
profundamente o rosto da senhora negra que está em pé. A cena 
captura o imaginário social desse período com muito acerto. 
2. Ações afirmativas para negros no Brasil: o início de uma 
reparação histórica 
De acordo com Gomes (2003), o racismo produz o preconceito 
racial, que é um julgamento negativo sobre pessoas ou grupo de 
pessoas que, por sua vez, gera a discriminação racial pode ser 
entendida como o racismo na prática. 
Para a autora, o preconceito teoriza e a discriminação executa. 
Assim, o racismo, o preconceito racial e a discriminação racial, criam 
um círculo vicioso que inferioriza e exclui a população negra. Veja o 
que diz Florestan Fernandes: 
A simples negligência de problemas culturais, étnicos e raciais numa 
sociedade nacional tão heterogênea indica que o impulso para a 
preservação da desigualdade é mais poderoso que o impulso oposto, 
na direção da igualdade crescente. [...] Nenhuma democracia será 
possível se tivermos uma linguagem “aberta” e um comportamento 
“fechado” Fernandes (2008, p. 161-162, grifos do autor). 
Veja o vídeo e tire suas conclusões sobre esse assunto 
<https://www.youtube.com/watch?v=yBcajWhOis8>. 
 
O que achou do vídeo? Seria inadequado promover ações afirmativas 
do tipo cotas para negros? O que você pensa sobre esse assunto? 
Ações afirmativas e cotas para negros 
Frente a tantas injustiças e desigualdades raciais, o que fazer para 
interromper esse processo que já vem de tanto tempo? Para intervir 
nesse processo, o Brasil aderiu ao programa de ações afirmativas 
criado em 1963 pelo J. F. Kennedy. Mas, o que são ações 
afirmativas? 
Podem ser definidas como: 
[...] um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, 
facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate da discriminação de 
raça, gênero etc., bem como para corrigir os efeitos presentes da discriminação 
praticada no passado (GOMES, 2001, p. 27). 
As ações afirmativas nos Estados Unidos não são uma estratégia 
nascida em gabinetes governamentais pensando no povo negro. Na 
verdade, trata-se de uma conquista pelo movimento negro, depois de 
muitas lutas pelos direitos civis. 
Segundo Gomes (2001, p. 6-7), os objetivos das ações afirmativas 
são: 
[...] induzir transformações de ordem cultural, pedagógica e psicológica, visando a 
tirar do imaginário coletivo a idéia de supremacia racial versus subordinação racial 
e/ou de gênero; coibir a discriminação do presente; eliminar os efeitos persistentes 
da discriminação do passado, que tendem a se perpetuar e que se revelam na 
discriminação estrutural; implantar a diversidade e ampliar a representatividade 
dos grupos minoritários nos diversos setores; criar as chamadas personalidades 
emblemáticas, para servirem de exemplo às gerações mais jovens e mostrar a elas 
que podem investir em educação, porque teriam espaço. 
A discriminação pode ter sua origem tanto em aspectos psicológicos, 
culturais e comportamentais. 
No Brasil, já existe lei fundamentada nas ações afirmativas que 
reconhecem o direito à diferença de tratamento legal para grupos que 
foram discriminados negativamente, sendo desfavorecidos na 
sociedade brasileira. 
3. A Lei 10639 e a questão do preconceito racial e 
discriminação cultural negra e resistência social 
Com a promulgação da Lei n. 10.639, aprovada em nove de janeiro 
de 2003 pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, que altera a Lei n. 
9.394, de 20 de dezembro de 1996 e estabeleceu as Diretrizes e 
Bases da Educação nacional, a discussão acerca das questões étnicas 
no Brasil teve mais respaldo. 
Com essa lei, torna-se obrigatório incluir no currículo oficial da Rede 
de Ensino a temática História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas de 
ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, instituindo 
também a data de 20 de novembro no calendário escolar, como dia 
da consciência negra (BRASIL, 2003). 
O estabelecimento de ensino deverá proceder da forma mais 
adequada possível na correção das distorções ideológicas, 
mentalidades discriminatórias e preconceituosas, com a firme 
intenção de reconhecimento da participação da população negra na 
cultura nacional, fugindo de estereótipos construídos. 
Espera-se que com essas ações tais gerações sejam fortalecidas, 
escrevendo um futuro diferente para si e para os seus. 
Políticas de Reparações, de Reconhecimento e Valorização, de 
Ações Afirmativas de acordo com: PARECER N. 
CNE/CP 003/2004 
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações 
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e 
Africana. 
A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade tomem 
medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos 
danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais 
sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas 
explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção 
de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de 
influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a 
que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao 
racismo e a toda sorte de discriminações (BRASIL, 2004). 
Ainda segundo o PARECER CNE/CP 003/2004 (CONSELHO NACIONAL 
DE EDUCAÇÃO (BRASIL, 2004), a valorização da identidade, da 
cultura e da história dos africanos e afrodescendentes, prevista pela 
Lei, depende necessariamente de condições físicas, materiais e 
intelectuais favoráveis ao ensino-aprendizagem em que alunos(as) 
negros(as) e não-negros(as), juntamente com seus(as) 
professores(as) deverão se sentir valorizados(as) e apoiados(as). 
Para isso, precisa-se revisar e adequar os currículos a essa temática e 
oferecer aos professores qualificação e aperfeiçoamento pedagógico. 
Cabe ressaltar que trazer conteúdos referentes à temática para o 
currículo visa dar visibilidade à população negra e sua contribuição 
para a cultura nacional. 
Para finalizar nosso diálogo, vamos ouvir o professor do vídeo. 
Ele fala além do lugar de intelectual faz menção ao lugar do negro 
discriminado na nossasociedade. 
https://www.youtube.com/watch?v=KnchE82Bo_E&feature=related 
 
Bom, pessoal, vimos os efeitos negativos que a escravidão provocou 
na sociedade brasileira. Além de ter desenvolvido uma mentalidade 
preconceituosa em relação ao negro, criou-se o racismo “a brasileira” 
ou o que alguns autores vão chamar de falsidade da democracia 
racial. Na perspectiva política, tiraram-se dessas pessoas os direitos 
de cidadania (direito ao voto) e na dimensão econômica restou 
apenas o trabalho compulsório. 
PARA O NOSSO FÓRUM 
Analise o caso abaixo: 
Em abril de 2011, a revista Veja, da Editora Abril, apresentou o caso 
dos irmãos Alan e Alex, de Brasília, gêmeos idênticos, classificados 
como sendo de raças diferentes pela Universidade de Brasília, quando 
concorriam ao sistema de cotas para negros nos cursos de 
graduação. 
Leia a reportagem da veja: 
<http://veja.abril.com.br/060607/p_082.shtml>. 
A partir dos dados da Lei 10639 apresentados e da 
reportagem, defenda seu ponto de vista nesse caso. 
 
EAKINS, Thomas. Um negress. 7 out. 2009. Disponível em: 
<http://commons.wikimedia.org/wiki/File:A_negress.png?uselang=pt
-br >. Acesso em: abr. 2013. 
BRASIL. Lei n. 4 de 10 de junho de 1835. Determina as penas com 
que devem ser punidos os escravos, que matarem, ferirem ou 
cometerem outra qualquer ofensa física contra seus senhores, etc.; e 
estabelece regras para o processo. Disponível em: 
<http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104059/lei-4-35 >. Acesso 
em: 17 out. 2012. 
BRASIL. Lei n. 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Inclui a 
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no 
currículo oficial da rede de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, 
2003. 
BRASIL. Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004. Disponível em: 
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf >. Acesso em: 
19 out. 2012. 
CARONE, E. Revolução do Brasil republicano: 1922 – 1938. São 
Paulo: Buriti, 1965. 
FERNANDES, Florestan. Mudanças sociais no Brasil. 4. ed. São 
Paulo: Global, 2008. 
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 20 ed. São 
Paulo: Paz e Terra, 1991. 
GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa e princípio 
constitucional da igualdade: o direito como instrumento de 
transformação social. A experiência dos EUA. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2001. 
GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de 
professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o cabelo 
crespo. Educação e Pesquisa, v. 29, n. 1, p. 167-182, 2003. 
Disponível em: 
< http://www.scielo.br/pdf/ep/v29n1/a12v29n1.pdf >. Acesso em: 
abr. 2013. 
_______. Descolonizar os currículos. Um desafio para as pesquisas 
que articulem a diversidade étnico-racial e a formação de 
professores. In: trajetórias e processos de ensinar e aprender: 
sujeitos, currículo e culturas. Texto apresentado no XIV ENDIPE, Rio 
Grande do Sul, 2008. 
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2005. 
HENSCHEL, Alberto. Homem nd liteira, Bahia. 30 mar.2008. 
Disponível em: 
< http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alberto_Henschel_-
_Homem_na_liteira,_Bahia.jpg?uselang=pt-brr >Acesso em: abr. 
2013. 
MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de 
raça, racismo, identidade e etnia.In: BRANDÃO, André Augusto 
P. Programa de educação sobre o negro na sociedade 
brasileira. Rio de Janeiro: EDUFF, 2004. 
RIBEIRO, D. O povo brasileiro. São Paulo: Atlas, 1996. 
WIKIMEDIA. Les laveurs de diamants. 1set. 2011. Disponível em: 
<http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Autor_desconhecido_-
_Les_laveurs_de_diamants.jpg?uselang=pt-br >Acesso em: abr.. 
2013. 
WIKIMEDIA. Pikiwiki Israel 7782 acampamento de imigrantes 
ilegais. 16 mar. 2010. Disponível 
em:<http://commons.wikimedia.org/wiki/File:PikiWiki_Israel_7782_Il
legal_immigrants_camp._Atlit.jpg?uselang=pt-br >. Acesso em: abr. 
2013. 
SUGESTÕES DE LEITURA 
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O Racismo na história do Brasil: 
mito e realidade. 7. ed. São Paulo: Ática, 1998. 
CARONE, E. A primeira república: 1989 à 1930. São Paulo: DIFEL, 
1969. 
CAVALLEIRO, Eliana. Valores Civilizatórios: dimensões históricas para 
uma educação anti-racista. In: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E 
CULTURA.. Orientações e Ações para a Educação das Relações 
Étnico-Raciais. Brasília, 2006. 
CUNHA Júnior, Henrique. Nós, afro-descendentes: história africana 
e afro-descendentes na cultura brasileira. In: MINISTÉRIO DA 
EDUCAÇÃO E CULTURA. História da educação do negro e outras 
histórias. Brasília: SECAD/MEC, 2005. p. 249-273. 
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São 
Paulo: Difusão Européia do Livro,1983 (Coleção Corpo e Alma do 
Brasil). 
_______. Significado do protesto negro. São Paulo: Cortez, 1989. 
FORQUIN, J. C. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas 
do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. 
FREIRE, Paulo. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma 
experiência em processo. 4. ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1984. 
GUIMARÃES, Antônio Sérgio A. Racismo e anti-racismo no Brasil. 
São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; Ed. 34, 
1999. 
GUIMARÃES, Sérgio. Classes, raças e democracia. São Paulo: 
Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo: Editora 34, 2002. 
HERINGER, Rosana. Desigualdades raciais no Brasil: síntese de 
indicadores e desafios no campo das políticas públicas. Cadernos de 
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, p.57-65, 2002. 
MORAIS, Edenilson. Mestres da história. [s.l.], 21 maio 2011. 
Disponível em: 
<http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2011/05/confira-
correcao-das-avaliacoes-de.html >. Acesso em: 17 out. 2012. 
MUNANGA. K. Lei n. 10.639/03: depoimento. São Paulo, fevereiro 
2005. Entrevistador: Fábio de Castro. Disponível 
em:< http://www.reportersocial.com.br/entrevista.asp?id=60 >. 
Acesso em: 13 ago. 2011. 
_______. Negritude: usos e sentidos. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998. 
_______. Negritude afrobrasileira: perspectivas e 
dificuldades. Revista de Antropologia da Faculdade de Filosofia 
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, n. 
33, São Paulo, 1980. 
_______. Revista Educação. 2002. Disponível em: 
<http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_revistas/revista_educacao/sete
mbro02 >. Acesso em: agosto de 2012. 
RATZEL, Friedrich. La géographie politique. Paris: Fayard, 1987. 
ROCHA, Luiz Carlos Paixão da. Políticas afirmativas e educação: a 
Lei 10.639/03 no contexto das políticas educacionais no Brasil 
Contemporâneo. 135f. Tese (Mestrado em Educação e Trabalho) - 
Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006. 
Disponível em: <http://dominiopublico.qprocura.com.br >. Acesso 
em: 6 jul. 2012. 
SASTURAIN, Juan. Mafalda em três cuestiones e Mafalda sin 
Libertad. In: El domicílio de la aventura. Buenos Aires: Colihue, 
1995. p.167-177. 
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes