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Aula 05 - Polifonia e Intertextualidade na Construção do Discurso - Narrativa Jurídica

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EXERCÍCIOS 
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Curso de Direito
 
Teoria e Prática da Narrativa Jurídica
 
 
 
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POLIFONIA E INTERTEXTUALIDADE NA CONSTRUÇÃO DO 
DISCURSO JURÍDICO 
 
 
Todo texto é produto de uma criação coletiva, tem a propriedade intrínseca de se constituir a partir de outros textos. Desse modo, um discurso é sempre a materialização de uma maneira social de se considerar uma questão. 
Todo discurso tem uma fonte, uma matriz, uma formação ideológica a que se subordina. 
Assim, o sujeito tem a ilusão de produzir um discurso, ou seja, considera-se autor do discurso, mas, na verdade, ele retoma um sentido preexistente. 
Frequentemente incorporamos ao nosso discurso fragmentos do discurso alheio. Por isso dizemos que o discurso é POLIFÔNICO, já que, além da voz do autor, nele ressoam outras vozes, provenientes dos discursos alheios. 
Especificamente na NARRATIVA JURÍDICA, a polifonia pode se manifestar quando, além da voz do narrador, outras pessoas falam no texto, como os depoentes, as testemunhas, as autoridades, as partes envolvidas. 
A forma como essas vozes se fazem presentes pode ser: 
A) CITAÇÃO LITERAL: que consiste na transcrição exata , sem alterações, do que foi dito. Deve vir entre aspas e na sequência do texto, desde que não ultrapasse três linhas. Citações literais com mais de três linhas vêm em destaque, em outro parágrafo, iniciando-se a 4cm da margem e com tamanho de letra menor, conforme normas da ABNT. 
 
Outra forma é através da PARÁFRASE. Nela, o autor do texto reproduz o sentido do que foi expresso por outra pessoa, mas usando um vocabulário e estrutura próprios. A paráfrase, porém, favorece a manipulação do discurso, pois nela poderão ser utilizados os recursos da modalização, traduzindo, assim, uma apreciação subjetiva. 
Nas narrativas jurídicas a preferência é pelo uso da paráfrase, pois ela permite uma igualdade do nível de linguagem, que deve sempre ser o nível culto. 
A polifonia pode ser facilmente detectada pela presença de determinados vocábulos que a introduzem, tais como: 
a) Conjunções conformativas : SEGUNDO, CONFORME, COMO etc. 
b) Verbos introdutores de vozes: DIZER, FALAR ( mais neutros), ENFATIZAR, AFIRMAR, ADVERTIR, PONDERAR, CONFIDENCIAR, ALEGAR. 
Assim, ocorre a INTERTEXTUALIDADE toda vez que se utiliza ou reaproveita ideias de outra pessoa, sem, todavia, haver elementos linguísticos que indiquem essa utilização. O reconhecimento da Intertextualidade depende do repertório do receptor, de sua bagagem cultural. A intertextualidade ocorre por meio de citações, paráfrases, (que podem ser ideológicas ou estruturais), ou pela paródia. 
 
Na paráfrase estrutural, busca-se imitar a sintaxe, a forma de construção do texto. 
Ex: “O Direito é, por excelência, entre as que mais o sejam, a ciência da palavra” ( Ronaldo Caldeira Xavier – texto matriz) 
a- A Equidade é, por excelência, a prática do ideal da Justiça.( paráfrase) 
Na paráfrase ideológica, busca-se apenas reproduzir as ideias de outra pessoa, sem se preocupar com a forma linguística original. 
Ex: Pedro Sérgio Steil afirmou: “O Promotor tem de preservar o sigilo e não pode repassá-lo a ninguém. Há impossibilidade de exercício profissional de uma pessoa cega.” ( citação literal original) 
a- Nas palavras de Sérgio Steil, um cego não tem condições de assumir o cargo de promotor, uma vez que o exercício dessa profissão exige o sigilo das informações e um cego teria de contar, em determinadas circunstâncias, com o auxílio de terceiros. ( paráfrase) 
Na paródia, há uma reaproveitamento da estrutura e das ideias, mas a intenção do emissor é de deturpar o sentido original, imprimindo-lhe um tom de crítica ou de brincadeira. 
Ex: “Minha terra tem palmares/ onde gorjeia o mar/ os passarinhos daqui/ não cantam como os de lá” ( Oswald de Andrade) 
 
POLIFONIA E INTERTEXTUALIDADE 
POLIFONIA E INTERTEXTUALIDADE 
 
1-Baseando-se no texto a seguir, identifique as polifonias presentes e o efeito que elas produzem. 
TEXTO 1 
Antônio Carlos Barbosa sofre de doença denominada “adenocarcinoma colorretal” e o tratamento que lhe foi recomendado pelo Doutor José Andrade Miranda foi quimioterapia com o esquema FOLFOX4 (De Grammont). 
Ele é beneficiário de contrato de saúde firmado pela empresa X – onde trabalha – e a Golden Saúde, ou seja, trata-se de contrato empresarial, precedido de negociação, na qual são estipuladas as cláusulas de cobertura e valores de reembolso, ao contrário dos contratos de adesão individuais. 
A indicação é sustentada pelo alto risco de o paciente apresentar recidiva, em função do quadro agudo apresentado quando do diagnóstico e, sobretudo, da peritonite associada. A sustentação científica, entretanto, não é de todo sólida, com resultados discordantes em alguns estudos (IMPACT B2 e NSABP C01 A C04). 
Seu advogado afirma: ‘Nos Estados Unidos e em países da Comunidade Europeia, se considera que esse tratamento é o padrão para pacientes como Antônio’. Ademais, o médico afirmou que é consenso entre os especialistas o benefício potencial, em termos de ganho de sobrevida global, àqueles pacientes que se apresentam com quadros obstrutivos, perfurações, peritonites associadas, tumores, entre outros casos. 
 
 
Acontece que a Golden Saúde negou-se a cobrir o tratamento, asseverando que o tratamento pleiteado – quimioterapia pelo esquema FOLFOX 4 – é experimental, ainda não regulamentado. Alega, ainda, que a negativa está fundamentada em cláusula contratual de exclusão de cobertura desse tipo de tratamento e que esses recursos não fazem parte da análise atuarial dos contratos, porque não aprovados e regulamentados pelos órgãos médicos competentes, não têm reconhecimento no Brasil; não cabe, portanto, às operadoras custeá-los. 
O advogado de Antônio reiterou que as cláusulas estabelecidas entre a empregadora de Antônio e a Golden Saúde são abusivas, ao que a seguradora de saúde rebateu com a alegação de que a empregadora de Antônio não fez a migração do contrato e, portanto, este não estava regulado pela Lei nº 9.656/98. Além disso, o segurado não tem sequer legitimidade para discutir a legitimidade de cláusula contratual estabelecida pela empresa e seguradora. 
Tendo em vista tal conflito, Antônio pleiteia em juízo a antecipação de tutela. 
 
 
2- Faça a paráfrase dos seguintes textos: 
A- . Segundo entendimento de Cândido Rangel Dinamarco, "a exigência de prova inequívoca significa que a mera aparência não basta e que a verossimilhança exigida é mais do que o fumus boni juris (Boa fumaça da justiça) exigido para a tutela cautelar. Isso significa que o juiz deve buscar um equilíbrio entre os interesses do litigante. Não se legitima conceder a antecipação da tutela ao autor quando dela possam resultar danos ao réu, sem relação de proporcionalidade com a situação lamentada. A irreversibilidade da situação criada, como fator impeditivo da antecipação, é um dado a ser influente mas não exaure o quadro dos elementos a considerar." (In: A reforma do Código de Processo Civil. 4. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 1997)." 
B- . Art. 273 Código Civil - O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: 
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação

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