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Resumo Winnicott np2

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Resumo Winnicott np2
Tendência à Integração
A ideia chave na obra de Winnicott é a Integração, o autor propõe que a mente humana estrutura-se e organiza-se aos poucos, a partir de um estado natural de difusão, não integração. Defende a ideia de uma predisposição natural do organismo humano ao desenvolvimento, que, contudo, só ocorre se as condições do meio ambiente em que o indivíduo nasce lhe permitirem. Assim, para que surja um indivíduo humano normal, o fator ambiente tem uma função primordial. A ação do meio deve ser mediada, pois pode impedir, interromper o processo de integração.
Neste sentido, a mãe como representante dos cuidados maternos à criança, tem papel da mãe central, como representante deste “ambiente”. A mãe devotada comum funciona sem qualquer deliberação intelectual de sua parte, proporcionando ao bebê o meio ambiente necessário para que a sua tendência à integração ocorra.
O olhar materno é todo o conjunto de tarefas que a mãe consegue desenvolver para o bebê.
Se o ser humano tem uma tendência inata a se desenvolver e a se unificar/integrar, alia-se a esta tendência o processo de maturação que permite que esta tendência se atualize e se efetive por meio de uma mãe ambiente que permite ou impede o livre desenvolvimento destes processos. O ambiente inicialmente é representado pela continuidade entre mãe e bebê e, inevitavelmente, o ambiente afeta a criança e é afetado por esta.
Saúde mental boa e de qualidade = provisão de um ambiente bom, portanto doenças mentais = falha ambiental.
A história do crescimento emocional do bebê dependerá de uma pessoa que atenda suas necessidades específicas e responsabilize-se por estabelecer condições favoráveis ao amadurecimento.
Assim podemos considerar que na esquizofrenia, segundo a visão Winnicottiana, é uma doença que situa-se nos primórdios da infância pelo déficit no provimento de cuidados dispensados à criança pela mãe, inviabilizando a adaptação ativa da criança.
 A mãe suficientemente boa
Para desenvolver a vida de fantasia, mundo estritamente íntimo e pessoal, palco dos segredos de cada um e que está na base do que denominamos em psicanálise como aparelho psíquico, cuja função é organizar os processos de pensamento, o bebê e o ambiente mantêm uma relação/interação primordial em que a adaptação de um - ambiente/mãe suficientemente boa - deve corresponder às necessidades de outro - criança, sendo que, do primeiro, espera-se um posição mais ativa, enquanto do bebê, sabe-se que depende desta adaptação ativa do meio/mãe para entregar-se à fruição de um movimento espontâneo que culminará - nos casos bem sucedidos - em uma organização própria de si mesmo, o self.
A mãe suficientemente boa soube apresentar-se ao seu bebê como um suporte para seus esporádicos contatos com a realidade e funciona como um ego auxiliar para o bebê, pois ao desenvolver a capacidade identificatória, denominada Preocupação Materna Primária (estado de sensibilidade exacerbada que a mulher desenvolve nos últimos meses de gravidez até os primeiros meses de vida do bebê, devido a uma regressão emocional causada pela sintonia/conexão com o bebê), a mãe terá , recursos para identificar as necessidades do bebê, recursos esses, que tem haver com sensibilidade e não com conhecimentos acadêmicos ou de senso comum. Sendo assim, a mãe tem um papel fundamental na maturidade emocional da criança, favorecendo o surgimento de um psiquismo saudável junto às suas tendências inatas. Independente dos recursos que a criança apresenta para um desenvolvimento sadio, rumo à integração, a mãe continua imprescindível, pois posterior à gestação, sua importância se intensifica, visto o estado de dependência da criança. 
De que a mãe suficientemente boa protege? Das angústias impensáveis...
Angústias impensáveis são aquelas que ocorrem nos estágios mais precoces do desenvolvimento, numa etapa em que o bebê não tem capacidade para compreender ou discriminar sobre quaisquer mecanismos mentais, impulsos instintuais, vivências proprioceptivas, pressões ambientais, independente de ocorrerem em si mesmo ou no ambiente externo, o que amplifica sua intensidade em vivências ansiógenas insuportáveis.
Funções Maternas
Apresentação do objeto (mundo) = acontece de acordo com a necessidade do bebê e sustenta a onipotência dele.
Holding (sustentação, colo) = física e emocional, precisaremos disso a vida toda, faz parte da técnica de maternagem, consiste em devolver a criança o conteúdo que não pode ser absorvido numa situação impactante (tipo, transmitir tranquilidade, calma, conforto).
Handling (manipulação, no sentido tátil) = refere-se a manipulação do bebê enquanto ele é cuidado.
Resumidamente, a criança ao nascer é indefesa, não integrada e desorganizada enquanto a percepção dos estímulos do meio, desta forma situa-se num estado de total dependência do meio, em sua mente criança e meio são uma coisa só, cabendo à mãe oferecer um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento ótimo.
PROCESSO DE AMADURECIMENTO – DA DEPENDÊNCIA À INDEPENDÊNCIA
Para Winnicott a provisão para saúde coincide com saúde mental; enquanto imaturidade corresponde à saúde mental deficiente, pois é pelo desenvolvimento emocional que se estabelecem as bases de uma vida de saúde mental. Portanto, prover condições favoráveis de vida à criança é prover o ambiente para facilitar o desenvolvimento emocional e a saúde mental individual.
O impulso para o desenvolvimento vem de dentro da própria criança, pois são forças no sentido da vida que se direcionam no sentido da integração da personalidade e da independência. Quando as condições não são suficientemente boas, estas forças ficam contidas dentro da criança e tendem a destruí-la, por isso saúde é maturidade e imaturidade é saúde mental deficiente.
Abaixo descrevemos a progressão do desenvolvimento descrito por Winnicott, da dependência para independência:- 
	 
 
	 
NECESSIDADES
 
	 
FALHA AMBIENTAL
 
	DEPENDÊNCIA ABSOLUTA ou EXTREMA
 
	Nesta etapa devido às de dependência absoluta da criança, as condições devem ser suficientemente boas para o lactente iniciar seu desenvolvimento inato.
 
	Deficiência mental não orgânica; esquizofrenia da infância; predisposição para doença mental hospitalizável mais tarde
	DEPENDÊNCIA RELATIVA
	Por falhar as condições de provisão ambiental, ocorrem traumas de fato, mas nesta fase há uma “pessoa” para ser traumatizada.
	Predisposição a distúrbios afetivos; tendência anti-social
 
 
	MESCLAS DEPENDÊNCIA-INDEPENDÊNCIA
 
	A criança nesta fase realiza experimentações rumo à independência, mas precisa novamente experimentar a dependência.
	Dependência patológica.
	INDEPENDÊNCIA-DEPENDÊNCIA
 
	A criança realiza experimentações rumo à independência, ainda precisa vivenciar a dependência, mas há predomínio da independência.
	Arrogância; surtos de violência.
	INDEPENDÊNCIA
 
	Significa um ambiente internalizado em que a criança é capaz de cuidar de si mesma.
 
	Não traz necessariamente prejuízos mais ostensivos.
	SENTIDO SOCIAL
 
	O indivíduo pode se identificar com adultos e com o grupo social sem perda demasiada de sua originalidade.
 
	Falta parcial da responsabilidade do indivíduo como pai ou mãe.
 
AGRESSIVIDADE E TENDÊNCIA ANTISSOCIAL
Agressividade para Winnicott
Este autor buscou com muito empenho esclarecer a natureza da agressividade como um elemento inerente à natureza humana. Seu primeiro artigo "A agressão e suas raízes" (1939) já apresenta divergência das concepções freudiana e kleiniana sobre o tema.
Em relação ao pai da Psicanálise, a divergência situa-se na origem da agressividade, se para Freud esta constitui-se na reação às frustrações decorrente do contato do bebê com o princípio de realidade, para Winnicott a agressividade, como reação à frustração exigiria um maior amadurecimento, algo impossível nos primeiros momentos do desenvolvimento precoce do indivíduo. Já com relação aos pressupostos kleinianos, sua divergência manifesta-seem seu questionamento sobre a premissa fundamental de Klein, na qual a agressividade humana, expressa no sadismo e inveja nos momentos precoces do desenvolvimento, é decorrente da pulsão de morte, como elemento constitucional do ser humano.
Para Winnicott (1939) a agressividade faz parte do ser humano, é inata, ou seja, irremediavelmente inerente à natureza humana, se integra à condição do ser humano de “estar vivo”. Para este autor, ainda que inserida como uma “potencialidade”, a agressividade só virá a se desenvolver, tornando-se parte do indivíduo, se este puder experienciar esta agressividade, expressa no começo da vida enquanto motilidade e apetite, ou seja, enquanto movimento para vida.
Aqui novamente destaca-se o papel do ambiente, pois dependendo da forma como os cuidados oferecidos pela “mãe-ambiente” são recebidos pelo bebê, isto é a forma como estes cuidados vão preenchendo as necessidades do lactente, numa íntima sintonia que complementa as expressões livres do bebê, abre-se o caminho à integração destas expressões, tão primitivas de motilidade e apetite, à personalidade, pois estas passam a integrar-se à personalidade total do indivíduo, e simultaneamente, é acionada a capacidade do indivíduo para relacionar-se com os outros e com o mundo.
Quando esta integração não se torna possível, em função do de a mãe não estabelecer a fusão com seu bebê, o caminho desta agressividade será outro, ou seja, a mãe não fusionada não atenderá as necessidades mediatas e imediatas, por não identificá-las, nem complementá-las, e por fim, não permitirá ao bebê a vivência da ilusão, por falta de holding materno. Assim, esta potencialidade – agressividade – não será integrada à personalidade total, tendo para isso os seguintes destinos: ser escondida pela via da timidez e/ou autocontrole; ser cindida do próprio indivíduo; ser expressa como comportamento antissocial (expressos violência e compulsão à destruição).
Isto significa que o pressuposto básico de Winnicott, que qualquer potencialidade do indivíduo só se efetiva se for vivida, experienciada, também é válido no desenvolvimento da agressividade, por isso para este autor a timidez, o retraimento, a omissão são agressivos tanto quanto as expressões abertas de agressividade.
Considerando o desenvolvimento, Winnicott divide três formas de manifestação da agressividade:-
INICIAL (Pré-Concernimento) - PRÉ- INTEGRAÇÃO = Propósito sem piedade
No início do desenvolvimento, nos estágios iniciais ou fase do pré-concernimento, o lactente existe como pessoa e tem propósitos, mas não tem concernimento daquilo que provoca. Nesta etapa do desenvolvimento o bebê impelido à motilidade de seu corpo, expressos pela necessidade de movimentar-se e alimentar-se, não tem uma intenção de agredir/destruir, mas sim, por em ação sua vitalidade, sua impulsividade, sua espontaneidade, por isso não se pode falar de agressividade nesta fase. Winnicott denomina este bebê como “incompadecido”, ou seja, um bebê cuja impossibilidade de reconhecer a noção dos afetos – amor e/ou ódio, já que estes afetos serão conquistados pelo amadurecimento, de forma que tais afetos não estão envolvidos, ainda, na expressão da agressividade. Nesta fase do desenvolvimento agressividade em nada se relaciona com amor ou ódio.
INTERMEDIÁRIA – INTEGRAÇÃO = Propósito com piedade / Culpa
Nesta etapa, se tudo correu bem, o indivíduo se constituiu como um EU, ou seja, ocorreu a integração do ego, de forma que o latente já pode perceber a personalidade da figura materna, separado de si mesmo, conferindo-lhe o desenvolvimento do sentimento de concernimento diante dos resultados das experiências instintivas, físicas e ideativas desferidos à mãe, pois este estágio de concernimento traz consigo a capacidade de sentir culpa.Cabe aqui destacar a raiva que deriva da frustração, impossível de ser evitada nas experiências.
PERSONALIDADE TOTAL - RELAÇÕES INTERPESSOAIS = Situações triangulares, etc... / Conflitos, conscientes e inconscientes.
Crescimento do mundo interno
Neste estágio o desenvolvimento do lactente torna-se mais complicado, pois por um lado a criança preocupa-se com seus impulsos sobre a mãe, bem como vivenciar suas experiências em seu próprio eu, já que por um lado a satisfação do impulso faz o bebê sentir-se bem, sustentando sua confiança em si e esperança na vida, por outro lado terá que reconhecer os seus ataques de cólera, que a faz sentir-se repleta de coisas ruins, malignas ou persecutórias, que podem criar uma ameaça interna à si próprio. Este momento dá início à tarefa de administrar o mundo interno, tarefa que perdurará para toda vida.
Na saúde, a criança dirige seu interesse à realidade externa e ao mundo interno, mas também constrói pontes entre um e outro mundo, pelos sonhos, brincadeiras, etc..., já na doença, a criança realinha o que é bom no mundo interno e projeta no externo o que ruim, passando a viver no mundo interno tornando-se patologicamente introvertida. Quando restabelece-se da introversão patológica, sua relação com o mundo externo permanece cheia de elementos persecutórios, o que a torna agressiva, e a depender da forma inadequada de quem lhe cuida a criança passa a assumir uma postura introvertida.
TENDÊNCIA ANTISSOCIAL
Winnicott, ao trabalhar com crianças antissociais, pode observar a importância do ambiente na constituição do indivíduo. Esta observação levou-o a perceber que a delinquência poderia ser explicada, na sua origem, por uma falha ambiental e não somente por fatores intrapsíquicos.
 
Na base da tendência antissocial, há uma falha ambiental, ou melhor, uma falha da “mãe ambiente”. Winnicott caracteriza a tendência antissocial como um distúrbio, resultado de uma falha ambiental que acometeu a relação mãe-bebê no estágio da dependência relativa.
A falha da mãe para se constituir em um trauma, precisa acontecer de forma sutil ao longo do tempo e se estabelecer como um padrão de comunicação na relação mãe-bebê. A falha se estabelece como trauma, quando interrompe a continuidade de ser do bebê. (WINNICOTT, cf., 1958c).
 
A mãe deve falhar em satisfazer as necessidades instintivas, mas pode ser perfeitamente bem sucedida em jamais deixar que o bebê se sinta desamparado, provendo as suas necessidades egóicas, até o momento em que ele já possua introjetada uma mãe que apoia o ego, e tenha idade suficiente para manter essa introjeção, apesar das falhas do ambiente a este respeito. (WINNICOTT, 1958c).
Todo bebê sofre deprivação instintual. A mãe boa falha necessariamente na sua adaptação em satisfazer as exigências instintuais do bebê. No entanto, a mãe que está em sintonia com o seu bebê, não o desampara; e, ao realizar que errou, oferece alguma reparação, e tudo retorna ao estado de tranquilidade anterior.
Quando ocorre a tendência antissocial, aconteceu uma deprivação propriamente dita (não uma simples privação), ou seja, deu-se a perda de algo bom, de caráter positivo na experiência da criança até certo momento, no qual este elemento positivo foi retirado. (WINNICOTT, 1958c).
A mãe falha com o seu bebê quando retira o elemento positivo da relação por um período longo demais para que fosse capaz de  manter viva a memória da experiência.
 
A tendência antissocial tem, na sua origem, uma deprivação. Diferentemente da privação que ocorre num momento anterior e mais primitivo do amadurecimento emocional, a criança que sofre uma deprivação já tem maturidade de ego suficiente para perceber que a falha é do ambiente. A criança entende que algo lhe foi tirado e que a falha é externa a ela – do ambiente.
 
Esse é o ponto de origem da tendência antissocial, e aí se inicia o que toma conta da criança, sempre que ela se sente esperançosa, e compele a uma atividade que é antissocial, até que alguém reconheça e tente corrigir a falha do ambiente.   (WINNICOTT, 1979).
 A tendência antissocial é, portanto, uma reação da criança à falha ambiental. O comportamento antissocial ocorre quando a criançase enche de esperança, na expectativa por uma reparação proveniente do ambiente pelo dano que lhe foi causado. A deprivação inclui tanto o trauma (quebra na continuidade de ser), como a situação traumática que se prolonga no tempo.
 
 A tendência antissocial e a delinquência
Segundo Winnicott, a tendência antissocial não é uma categoria, mas sim um distúrbio psíquico, relacionado a dificuldades inerentes ao desenvolvimento emocional, podendo vir acompanhado às psicoses, às depressões ou às neuroses.
A tendência antissocial não é um diagnóstico. Não se pode compará-la, diretamente, com outros tipos de diagnósticos, tais como neurose ou psicose. Pode ser encontrada tanto em indivíduos normais quanto em neuróticos ou psicóticos. (1958c p. 408)
É denominada de tendência porque pode não ocorrer se for compreendida logo no início, isto é, se a mãe entender como uma falha sua e corrigir. Neste caso, a tendência não se concretiza.
Quando o ambiente não reconhece a falha e não oferece uma reparação, o comportamento antissocial se cristaliza, e a tendência se transforma em delinquência. A psicopatia seria um nível mais avançado da doença.
O ato antissocial é um pedido de ajuda da criança, quando ela volta a ter esperança na capacidade de reparação do ambiente.
O ato antissocial, portanto, vem carregado de esperança nas provisões do ambiente. A criança faz um movimento em direção à cura.
Ao cometer o ato antissocial a criança tem esperança no retorno dos cuidados do ambiente. Ela sente que o ambiente tem uma dívida para com ela e busca uma reparação dele.
O momento de esperança é para a criança, sem este sentimento, a luz no final do túnel, é a possibilidade de retomar o processo de se sentir inteira; é uma tentativa de voltar a um tempo anterior à situação traumática. 
Na delinquência, o ambiente fracassa em não entender o pedido de socorro da criança. Uma vez não compreendida, ela se afasta do trauma inicial, e passa a desenvolver habilidade e ganhar experiência na ação resultante do ato antissocial.
Na delinquência, a criança já fez uma “carreira” e desenvolveu uma “expertise”, ou seja, os chamados ganhos secundários, os quais afastam a criança do trauma, dificultando o tratamento.
O desafio do tratamento consiste em estabelecer contato com a parte saudável da criança, que ainda tem esperança na reparação da falha ambiental. No entanto, na presença de um ambiente suficientemente bom, a esperança sempre retorna.
Para se aprofundar no tema: https://terapiadefamilia.wordpress.com/2010/12/14/aspectos-da-tendencia-antissocial-a-luz-da-teoria-winnicottiana/ 
Objetos e fenômenos transicionais
Até aqui vimos que até aproximadamente os seis meses de vida, o bebê se encontra em uma condição de absoluta dependência do cuidado materno. Essa circunstância associada à preocupação materna primária, o estado psicológico particular experimentado pela mãe logo após o nascimento do bebê, faz com que o infante tenha todas as suas necessidades satisfeitas de modo quase perfeito. Por conseguinte, ainda não é capaz de reconhecer a existência do mundo externo, pois os objetos que satisfazem suas necessidades parecem surgir magicamente à sua volta, como se fossem produzidos por seu próprio desejo.
Mais ou menos após os seis meses, a mãe sai do estado de preocupação materna primária, o que ocasiona o surgimento de um descompasso entre o surgimento das necessidades do bebê e o atendimento dessas necessidades por parte do ambiente. Nesse sentido, a realidade externa não mais se adapta aos desejos da criança de maneira imediata e com a quase perfeição de outrora. Em decorrência, o bebê é forçado a reconhecer o mundo externo, até porque já não bastará esperar pela vinda da mãe, mas será preciso chamar a atenção dela.
Em sua experiência como pediatra, Winnicott observou que coincidentemente nesse mesmo período em que a criança está “descobrindo” a realidade externa, o bebê geralmente se apega intensamente a um determinado objeto (o qual geralmente lhe é oferecido pela própria mãe) e/ou passa a repetir com frequência determinados comportamentos (como, por exemplo, a emissão de determinados sons com a boca). No caso do apego a objetos, Winnicott notou ainda outra particularidade: o bebê só consegue dormir levando-o consigo para o berço. Como exemplo, podemos citar os casos bastante comuns de crianças que passam o dia todo segurando (e, em muitos casos, cheirando) pedaços de pano – o que demonstra que tais objetos não precisam ser necessariamente brinquedos.
Através da observação direta dos bebês articulada à compreensão do desenvolvimento infantil, Winnicott interpretou o significado desses objetos e comportamentos da seguinte forma: se o bebê se apega de forma tão vigorosa ao objeto e precisa dele para dormir, isso mostra que o objeto está exercendo uma função fundamental no psiquismo do bebê. Que função seria essa? Ora, quando se leva em conta que o grande “problema” com o qual o bebê está tendo que lidar após os seis meses de vida diz respeito ao afastamento gradual da mãe e, por consequência, o reconhecimento dela como uma pessoa, logo a função do objeto ao qual o infante se apega se torna mais clara. Se até então a mãe era tudo para o bebê (dependência absoluta), agora que ela começa a “falhar” (dependência relativa), eis que um dado objeto adquire para a criança um significado curiosamente absoluto – tanto é que o bebê precisa dele para sentir-se seguro e dormir. O objeto, portanto, parece exercer, para o infante, a função de substituto da mãe.
Nesse sentido, o pedacinho de pano que a criança segura e cheira não é, para ela, apenas um pedacinho de pano, mas uma espécie de “encarnação” da mãe. Em outras palavras, embora se trate de um objeto externo ao bebê, com todas as características materiais próprias de um pedaço de pano, ele é ao mesmo tempo, um objeto interno, na medida em que subjetivamente o bebê o experimenta como personificação do cuidado materno. O objeto não é meramente externo porque, caso o fosse, não teria tamanha importância para a criança, afinal, do ponto de vista de um observador externo, trata-se tão somente de um simples pedaço de pano. Por outro lado, o objeto também não é totalmente interno, pois apresenta toda uma materialidade que os objetos internos não possuem.
Estamos, portanto, diante de um paradoxo: como o pedaço de pano pode ser um objeto externo e interno ao mesmo tempo? Em vez de tentar resolver essa aparente contradição, Winnicott preferiu enxergar o fenômeno do ponto de vista do bebê e simplesmente aceitar o paradoxo, criando o conceito de objeto transicional. Mas onde estão situados os objetos e fenômenos transicionais? Se eles são simultaneamente externos e internos, logo não podem estar localizados nem na realidade interna nem na realidade externa, não é mesmo? Por isso, Winnicott precisou forjar um segundo conceito: o de espaço transicional, um território intermediário entre os mundos interno e externo.
O psicanalista inglês também chamou o espaço transicional de espaço potencial porque, para ele, é essa a área em que se desenvolve a criatividade e a produção cultural enraizadas nas brincadeiras de criança. Para Winnicott, o brincar seria a evolução natural do uso que os bebês fazem dos objetos e fenômenos transicionais. Nas brincadeiras, as crianças investem conteúdos de seu mundo interno em objetos externos, fazendo, por exemplo, de um simples pedaço de madeira um guerreiro valente. A partir de então, já não existem o pequeno pedaço de madeira na realidade externa e nem a fantasia de guerreiro valente no mundo interno da criança. Ambos estão amalgamados em um objeto único ao mesmo tempo interno e externo, um objeto transicional.
Para Winnicott, um brinquedo como esse vem à luz no mesmo espaço potencial em que um quadro, uma música ou um livro são produzidos, território em que o interno e o externo se encontram e se fundem. Portanto, a criação e a produção cultural podem ser vistas como brincadeiras de gente grande.
E pensar que tudo começou por saudade da mãe…Falso e verdadeiro self
A mãe que não é capaz de fazer a sua parte nesta onipotência infantil, por exemplo, quando não responde ao gesto da criança, mas ao contrário, coloca o seu próprio gesto, suprimindo a possibilidade de ilusão, instaura uma situação cujo sentido será vivido pela criança como o de ter que se submeter ou acatar algo imputado à criança para que possa sobreviver. É, então, a incapacidade materna de acolher e interpretar as necessidades da criança que gerará a primeira etapa do falso self. Neste sentido, a vivência - subjetiva - da criança é a de que suas percepções e atividades motoras são, tão somente, a resposta diante do perigo a que está exposta.
Num segundo momento, a proteção que é sentida como ausente vai sendo substituída por uma “fabricada” pela própria criança, um envoltório que serve de base para o desenvolvimento do self, agora e neste sentido, resultado ou consequência do ambiente sentido como algo de que é preciso arduamente se defender. Esta espécie de “casca” é o falso self que, nos melhores casos, tem tarefa ou função de proteger o verdadeiro self, no entanto, sem substituí-lo. Nos casos em que há uma substituição do self verdadeiro pelo falso, considerados casos com uma conotação patológica mais evidente, o que ocorre é um constante estado de defesa, originado pela experiência das intrusões maternas e que impossibilita um contato com processos primários.
Mas é prudente lembrar que não existe uma exclusão radical do falso self, ele estará sempre presente, na medida em que a mãe suficientemente boa é, necessariamente, aquela que falha e, inevitavelmente, as falhas são vividas de forma muito singular pelos sujeitos, o que demandará recursos defensivos, mais ou menos arcaicos, dependendo de onde as situações vividas tocam no seu mundo interno.
O núcleo do self verdadeiro emana da vida, já que é decorrente do corpo e da ação das funções corporais. Podemos entender o falso self como uma defesa que oculta e protege o verdadeiro self. Na medida em que o verdadeiro self é a fonte dos impulsos pessoais, o indivíduo cuja existência ocorre pelo um falso self torna a vida esvaziada de sentido e percebida como irreal. O gesto espontâneo é o self verdadeiro em ação, só o verdadeiro self pode ser criador e só o verdadeiro self pode ser sentido como real.
Winnicott postula vários níveis de falso self, desde uma atitude social (não patológica) até o falso self que se implanta como real, em total submissão do verdadeiro self.
Situação de extremo à Falso self se implanta como real e o verdadeiro self permanece oculto;
Menos extremo à Falso self defende o self verdadeiro, de modo que o self verdadeiro é percebido como potencial e é permitido a ele ter uma vida secreta;
Mais para o lado da normalidade à O falso self tem como interesse principal a procura de condições que tornem possível ao self verdadeiro emergir;
Ainda mais para o lado da normalidade à O falso self é construído sobre identificações;
Na normalidade à O falso self é responsável pela organização integral da atitude social polida e amável.
A diferenciação destes graus de falso self traz consequências importantes ao trabalho clínico, seja no diagnóstico e na intervenção psicoterapêutica.
A clínica winnicottiana
A clínica em Winnicott tem princípios diferentes daqueles que regem a clínica psicanalítica tradicional, pois seu enquadre deve dispor as condições emocionais para o acontecer humano.
O que guia a ação terapêutica é a teoria do amadurecimento, segundo esta teoria a natureza do distúrbio estará relacionada com as condições da criança na etapa de ocorrência que surgiu o fracasso ambiental. Winnicott (1955) distingue três variedades de clínica, tendo como base os diferentes momentos de falhas no processo maturacional e que demandam modos distintos e específicos de trabalho clínico.
A primeira clínica é relativa aos pacientes que funcionam como pessoas inteiras, suas dificuldades situam-se no âmbito dos relacionamentos interpessoais. Para estes, a técnica de trabalho é a mesma desenvolvida por Freud, o setting é o clássico freudiano, uso da interpretação da transferência buscando revelar o material inconsciente recalcado.
A segunda clínica refere-se aos pacientes que iniciaram seu processo de integração, mas ainda são instáveis enquanto unidade, apresentando dificuldades na vivência amor - ódio e reconhecimento da dependência. Para
Winnicott, a técnica aqui não é diferente da primeira categoria, com cuidados de manejo.
A terceira clínica relaciona-se aos pacientes que vivenciaram traumas, intrusões e falhas ambientais em momentos anteriores ao estabelecimento da personalidade como uma entidade, numa estrutura pessoal não integrada como unidade pessoal em espaço e tempo. Nesta forma clínica de tratamento o manejo clínico e o estabelecimento do setting são indispensáveis e necessários, caracterizados numa delicada organização de holding, que ofereça um ambiente/setting que sustente e permita o processo de integração do sujeito.
 Regressão
A clínica winnicottiana valoriza vários aspectos no processo de análise, como o holding, a regressão à dependência e o uso de objetos, destacando a importância do papel do analista para além da interpretação. A ocorrência da regressão na relação transferencial só se dá depois de estabelecido holding no setting analítico, o que significa que o paciente é capaz de confiar no analista, como alguém presente, mas não intrusivo, aguardando e respeitando o tempo do paciente. Para ele, em análise, quando o paciente apresenta-se regredido, sua capacidade de regressão representa a vívida esperança de que seja realizada uma nova maternagem, para que enfim possa viver esta “falha” num setting amparado por um analista que forneça o holding necessário. Pelo fato de que a regressão não representa um problema que obstrui o progresso do paciente em análise, nesta abordagem, caberá ao analista mais do que interpretar, buscar uma aproximação do paciente mostrando-lhe sua capacidade de compreendê-lo, para que na situação analítica possa reviver os momentos angustiantes que o impediram de desenvolver-se.
Transferência e contratransferência
A transferência e a contratransferência na clínica winnicottiana, assim como muitos outros aspectos desta forma de trabalhar, estão estreitamente vinculadas aos princípios e conceitos que tratam da possibilidade da criação do objeto subjetivo (dentro e fora da análise), portanto a base do trabalho clínico encontra-se na elaboração de Winnicott sobre as relações mãe-criança, a saber, o movimento vital da criança quando “cria” sua mãe, ou em outras palavras, do surgimento do fenômeno de ilusão. Este é o ponto de partida do analista, será preciso que ele reconheça, a partir daí, qual a busca única, singular de cada paciente; ele precisará realizar um trabalho, desde o começo, desde as primeiras entrevistas que leve em conta a organização única do self do paciente, que lhe é transmitido no modo como ele - paciente - se apresenta na sua fala, no seu modo de agir e viver nos detalhes idiossincráticos de sua existência. Portanto, a transferência diz respeito ao movimento do paciente em direção ao analista que, por sua vez, deixar-se-á encontrar por este paciente em particular, em sua singularidade, nos modos próprios de seu viver/existir. É, por assim dizer, uma forma de brincar, tal como compreendida por Winnicott: instaura-se a possibilidade de brincar, o analista deixa-se usar, aceita ser “criado” pelo paciente, assim como, ser destruído, coloca-se, em suma, no lugar de objeto subjetivo. Sendo a relação mãe-bebê o lugar privilegiado no pensamento winnicottiano onde se desdobram as possibilidades de existir e de constituição do psiquismo, a clínica psicanalítica beneficia-se distoe da ideia de “holding”: a atenção do analista e o trabalho interpretativo criam o ambiente que propiciará a evolução do tratamento, em outras palavras, reproduz-se em certa medida o ambiente de holding dos cuidados maternos tal como apresentado por Winnicott. 
Sobre as questões do módulo 8:
O papel do psicanalista varia de acordo com a necessidade apresentada pelo paciente
É possível valer-se da contratransferência como um meio de aproximação ao sofrimento do paciente.
O ambiente deve reproduzir situações traumáticas para que elas sejam interpretadas. Assim, o analista oferece deliberadamente alguns desapontamentos em relação às idealizações do paciente e este tem a oportunidade de rever seus traumas, dando-lhes novo sentido.
A clínica winnicottiana acredita que o tratamento analítico é indicado principalmente para aqueles pacientes que querem uma análise, mas é importante saber se o paciente necessita e se ele pode tolerar tal procedimento terapêutico.
Para o autor, tanto o papel do analista quanto o uso das interpretações variam segundo a idade emocional do paciente.
O trabalho psicanalítico winnicottiano visa o crescimento e o desenvolvimento emocional, para isso a principal premissa é a compreensão do processo de amadurecimento emocional do paciente, independente de sua idade cronológica.
Pacientes psicóticos despertam fortes sentimentos contratransferenciais nos analistas devido ao impacto diante das manifestações primitivas do paciente ou por se deparar com a parte psicótica do paciente em seu self.
a análise winnicottiana considera que sua eficácia depende da capacidade de maternagem do analista.
Para o autor o setting é uma “metáfora” daquilo que associa aos cuidados maternos.

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