UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE CENTRO DE REPRODUÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO GUIA DE ANESTESIA E ANALGESIA PARA RATOS E CAMUNDONGOS. 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE CENTRO DE REPRODUÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 3 1. Considerações Pré-anestésicas .............................................................................................. 4 2. Anestesia .................................................................................................................................. 5 2.2 Anestesia injetável .................................................................................................................. 6 2.2 Anestesia Inalatória ............................................................................................................. 10 2.3 Anestesia Local .................................................................................................................... 10 3. Analgesia ............................................................................................................................... 12 4. Recuperação Anestésica ....................................................................................................... 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 18 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE CENTRO DE REPRODUÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO 3 INTRODUÇÃO O objetivo deste guia é promover por meio de literatura especializada na área da Ciência de Animais de Laboratório, informações que promovam o bem-estar animal e a qualidade da pesquisa por meio de orientações gerais sobre o uso de anestésicos e analgésicos que atendam os protocolos de pesquisa e assegurem conforto aos animais. Conforme a Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica - DBCA (2), pesquisadores e professores são responsáveis por todas as questões relacionadas ao bem-estar dos animais utilizados em ensino e pesquisa e devem agir de acordo com as exigências desta diretriz. Essa responsabilidade se inicia quando os animais são alocados em um biotério de experimentação para uso em um projeto e se finaliza com o término do mesmo. O papel do médico- veterinário é orientar, promover e assegurar conforto e saúde aos animais em todos os seus aspectos éticos e legais. Procedimentos cirúrgicos ou que induzam dor devem ser realizados por meio de protocolos anestésicos adequados e de correto planejamento cirúrgico (pré, trans e pós-operatório). Pesquisadores que realizam cirurgias devem possuir treinamento específico para que as técnicas propostas sejam executadas corretamente, garantindo menor tempo cirúrgico e menos complicações trans e pós-operatórias. A seleção do protocolo anestésico e analgésico é de grande interesse tanto para o animal, quanto para o pesquisador e dependerá de muitos fatores, tais como: espécie, idade, linhagem, tipo e nível de dor, efeitos prováveis de um agente em particular em órgãos específicos ou sistemas, natureza e duração da cirurgia ou procedimento que induza dor, etc. (8). Lembre-se que a dor e o desconforto (distress) não são avaliados facilmente em pequenos roedores e, portanto, todos os pesquisadores devem considerar que animais sentem dor de forma similar a humanos, a não ser que haja evidência científica do contrário (1,2,8). Segundo a DBCA, o período pós-operatório deve obrigatoriamente proporcionar conforto e analgesia para o animal sempre que a dor não for o escopo do protocolo experimental. Deve-se dar atenção à hidratação, alimentação, higiene, temperatura e ao controle de infecções. Se um animal apresentar sinais clínicos compatíveis com dor intensa e resistente a tratamento analgésico prescrito pelo médico veterinário ele deverá ser submetido à eutanásia. Para as cirurgias em que não houver recuperação, o animal deve permanecer anestesiado até a eutanásia (ponto final experimental). UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE CENTRO DE REPRODUÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO 4 1. Considerações Pré-anestésicas O planejamento geral de um protocolo anestésico baseia-se nos recursos disponíveis, no treinamento das pessoas envolvidas, no monitoramento constante dos animais durante todo o procedimento e, principalmente, na condição clínica dos animais. Para reduzir o risco anestésico e prevenir complicações na recuperação é fundamental que os animais sejam previamente avaliados clinicamente para averiguar seu estado de saúde. O acompanhamento regular dos roedores no projeto de pesquisa permite a familiarização com os padrões normais da espécie. Isso torna a avaliação clínica mais eficiente e permite detectar de forma precoce alterações nos animais. Na tabela 1 estão sumarizados os principais parâmetros fisiológicos de ratos e camundongos. Tabela 1 – Parâmetros fisiológicos do rato e do camundongo9. Parâmetro Rato Camundongo Peso corporal (adulto) (g) 250-520 28 - 40 Temperatura corporal (°C) 35,9-37,5 36,5 – 38 Frequência respiratória (mov.min -1 ) 70-150 80-230 Frequência cardíaca (bat.min -1 ) 250-600 500-700 Consumo alimentar 5-6g/100g de peso vivo/dia* 12-18g/100g de peso vivo/dia Necessidade hídrica 10-12 ml/100g de peso vivo/dia 15 ml/100g de peso vivo/dia *O consumo alimentar em ratos varia drasticamente entre as linhagens e colônias. Fonte: HANKENSON (2013). Aqueles animais que são transportados entre biotérios devem aclimatar no novo alojamento por um período mínimo de 72h a fim de reduzir o estresse do transporte e do novo ambiente (4). Outros cuidados pré-anestésicos importantes incluem a não realização de jejum sólido e hídrico (roedores não vomitam) e o cálculo adequado da dose e do volume dos fármacos a serem administrados em relação ao peso corporal de cada animal (4,5). É importante fornecer uma fonte de aquecimento desde a indução anestésica até a recuperação, pois os roedores possuem grande superfície corporal em relação à sua massa, perdendo calor rapidamente (4). Bolsas e/ou colchões térmicos, bem como lâmpadas incandescentes a uma distância segura podem ser utilizados como fontes de calor, mas tenha atenção para evitar queimaduras no animal. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE CENTRO DE REPRODUÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO 5 2. Anestesia A anestesia consiste na perda parcial ou total dos reflexos sensoriais e motores. A dose e a duração do efeito esperado dos anestésicos variam conforme a linhagem dos roedores, a via de administração, a idade, o sexo, o peso, o temperamento, a associação entre fármacos, as características de cada substância empregada e o estado de saúde dos animais (4). Os pesquisadores devem estar aptos a verificar o plano anestésico de cada animal para evitar sub ou sobredosagem anestésica (4). A medicação pré-anestésica (MPA), embora amplamente utilizada em outras espécies, em pequenos roedores