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Biometria Florestal 27 4.2 A altura das árvores A altura, tal como o diâmetro, é uma característica importante da árvore e/ou povoamento, necessária para a determinação do volume. A altura de uma árvore, na sua expressão mais simples, é definida como a distância linear entre o nível do solo e o ápice (altura total). No entanto, podem ser definidas outras alturas ao longo do tronco, dependendo do tipo de estudo a ser realizado. A variável altura adquire também importância fundamental no estudo de sítios, ou seja, quando se deseja conhecer o comportamento de uma espécie em um determinado local, ao longo do tempo. Para o manejo florestal, é importante o conhecimento desta variável, pois traduz as respostas em crescimento das árvores segundo os fatores do meio em que vegetam. 4.2.1 Tipos de altura De acordo com o demonstrado na Figura 12, podem ser definidas as seguintes alturas teóricas: a) Altura total: é a distância tomada ao longo do eixo da árvore compreendida entre o nível do solo e o seu ápice ou a extremidade superior da copa; b) Altura do fuste: é a distância tomada ao longo do eixo da árvore definida entre a superfície do solo e a base da copa; c) Altura comercial: é a distância tomada ao longo do eixo da árvore, entre o nível do solo e a porção superior utilizável do tronco. Esta porção é determinada por bifurcação, galhos de grande porte, tortuosidade, forma irregular, defeitos ou por um diâmetro mínimo utilizável. O diâmetro mínimo utilizável é variável de acordo com o uso da madeira, com as condições de mercado e com o tipo de equipamento disponível na indústria. Assim, por exemplo, o diâmetro mínimo para uso na produção de celulose, na indústria “A”, é 7 cm sem casca e, na indústria “B” é 4 cm. Já o diâmetro mínimo para serraria é 12 cm na indústria “C’’; Biometria Florestal 28 d) Altura dominante: é a altura média das árvores mais altas de um povoamento. Segundo cada autor que a definiu, terá diferentes formas de cálculo e interpretação (veja capítulo 11.2.6); e) Altura do primeiro galho vivo: é a distância tomada ao longo do eixo da árvore, entre o nível do solo e o ponto de inserção do primeiro galho vivo; f) Altura do toco: é a distância entre a superfície do solo e a porção do tronco deixada no campo após o corte da árvore; g) Comprimento comercial: é a distância, ao longo do eixo da árvore, entre a altura do toco e a última porção utilizável do tronco; h) Comprimento de defeito: é a soma das porções de comprimento comercial que não podem ser usadas devido a defeitos; i) Comprimento comercial líquido: é igual ao comprimento comercial menos o comprimento defeito; j) Comprimento da copa: é a distância ao longo do eixo da árvore, entre o ponto de inserção e a extremidade superior da copa. Biometria Florestal 29 FIGURA 12 - As alturas de uma árvore e as classificações de comprimento 4.2.2 Medição da altura De modo geral, os processos de medição de altura podem ser classificados em diretos e indiretos. Biometria Florestal 30 Os processos diretos são aqueles em que o operador se apóia na habilidade pessoal, a fim de obter estimativas a olho desarmado e sem usar nenhum instrumento. Algumas vezes, o operador recorre a uma vara graduada de comprimento variável, que é encostada à árvore e serve como referencial. Assim, o operador, a uma distância determinada, efetua a estimativa da altura tendo a vara como unidade de medida. A precisão fá-se em função de vários fatores, entre eles a capacidade do observador em realizar a estimativa, o que decorre de zelo, experiência e da distância entre o observador e a árvore. Outros procedimentos para estimar a altura são baseados no uso do braço e uma vara. Para isso, o observador se afasta da árvore até enquadrá-la no tamanho da vara conforme o esquema da Figura 13. Figura 13 - Determinação da altura da árvore com o emprego de um bastão como referencial. Sendo oab ≅ oAB oa oA ab AB = logo oa abxoAABh == Onde: ao = distância horizontal entre o observador e árvore; Ao = comprimento do braço do observador; Biometria Florestal 31 Ab = comprimento da vara. Logo, se ab = 20 cm tem-se: braçocompx dist oa oAh oa xoAh .5 . 5 1 . 20 === . O emprego de uma vara “ab” com comprimento igual ao comprimento do braço do observador “ao”, resulta que a altura da árvore será igual à distância do observador, pois: oA oa aboAABh =×== . Onde ab = ao; h = oA = distância do observador à árvore. A altura da árvore estimada, por exemplo, com um bastão de 20 cm, ficará determinada dividindo-se a distância horizontal pelo valor correspondente a cinco vezes o comprimento do braço do observador. Esses processos tornam-se inviáveis quando se trabalha com um grande número de árvores, pois, além da menor acuracidade, demanda muito tempo na procura do ponto ideal de medição. Os processos indiretos são realizados com o auxílio de aparelhos chamados dendrômetros e, mais especificamente, de hipsômetros. Muitas vezes povoamentos jovens ou que apresentam árvores não muito altas têm as alturas mais facilmente medidas com o emprego de uma régua graduada. Uma dessas réguas, de grande facilidade de transporte e de manuseio, é a Régua Altimétrica Retrátil Durkon. Trata-se de uma régua de alcance total de 6,50 m, composta de quatro secções quadradas, que podem ser retraídas telescopicamente para 1,80 m (Figura 14). Biometria Florestal 32 A régua possui janela visora, colocada entre 1,60 e 1,70 m, o que permite as leituras sempre ao nível dos olhos do operador. As medidas inferiores a 1,80 m são feitas diretamente na lateral da primeira secção do instrumento. FIGURA 14 - Detalhe de medição com régua telescópica. Dentre os aparelhos existentes, muitos são semelhantes quanto ao princípio de funcionamento, embora difiram quanto a aparência. Mesmo com o grande número existente no mercado, nenhum reúne as características de um aparelho ideal: a) fácil e rápido manuseio; b) grande precisão; c) baixo custo; d) longa durabilidade. Em medições da altura de árvores em pé, não é possível obter resultados exatos, quer pela natureza do aparelho, quer pela condição do povoamento, onde, muitas vezes, não é possível visualizar o ápice e a base da árvore com nitidez a partir de um mesmo ponto. Bruce e Schumacher (1950), constataram erros entre 0,30 a 0,60 m na medição das alturas em condições ideais de trabalho. Nas melhores condições de funcionamento, são esperados erros da ordem de 1 a 2%. Biometria Florestal 33 Comparações entre o Blume-Leiss, Haga, Weise e a prancheta dendrométrica, em povoamentos de Eucalyptus saligna, não mostraram diferença significativa quando comparados com medições feitas com trenas nas árvores abatidas. O princípio do funcionamento dos hipsômetros baseia-se na semelhança de triângulos (princípio geométrico) ou na tangente de ângulos (princípio trigonométrico). 4.2.2.1 Aparelhos baseados na semelhança de triângulos Os instrumentos baseados na semelhança de triângulos são facilmente construídos, em geral não requerem o conhecimento da medição da distância horizontal entre o observador e a árvore e, ainda, a altura determinada por aparelhos deste princípio não é influenciada pela declividade do terreno. Entretanto, os aparelhos assim construídos precisam ser cuidadosamente manejados,pois somente com uma mão firme pode-se evitar sérios erros de interpretação, uma vez que em povoamento denso, é freqüentemente difícil encontrar o ponto de observação desejado para a medição. 4.2.2.1.1 Hipsômetro de Christen I É um instrumento simples, de fácil construção e manuseio, usado na medição de árvores em pé. Tem a vantagem de dispensar a medição da distância horizontal do observador até a árvore, evitando-se, desse modo, erros de medição das distâncias. O instrumento é construído sobre uma régua de madeira, metal ou acrílico, com comprimento total variável, a qual apresenta uma reentrância de 30 cm, na qual está gravada a escala para leitura das alturas da árvore, obtidas por cálculos, como mostra a Figura 15a. Para a medição da altura da árvore, o operador deve ficar a uma distância tal que a base e o ápice da árvore estejam perfeitamente encaixados dentro da reentrância de 30 cm do aparelho (Figura 15b). Nessas condições, a altura será Biometria Florestal 34 determinada pela interseção do raio visual que, partindo do observador, tangencia a parte superior de uma vara que serve como escala encostada à árvore. Ainda sob essas condições, o operador faz a leitura na escala graduada do hipsômetro, determinando diretamente a altura da árvore. FIGURA 15 - Medição da altura com hipsômetro de Christen I. Considerando os triângulos OAB e OA’B’ obtém-se a seguinte relação: 'OC OC 'B'A AB = A semelhança entre os triângulos OAC e OA’C’ permite a seguinte proporcionalidade: 'OC OC 'C'A AC = Sendo quantidades iguais entre si, tem-se: 'C'A AC 'B'A AB = ou Biometria Florestal 35 'C'A AC.'B'AAB ×= , portanto: 'C'A 'B'AACABh ×== Observa-se que a altura independe da distância entre o observador e a árvore. Para esse instrumento, os comprimentos AC e A’B’ são fixos e representam a altura da vara encostada à árvore (2,0 a 4,0 m) e a reentrância de 0,30 m, respectivamente. Deve ser observado que quanto menor o comprimento dessa vara, mais agrupadas estarão as alturas na escala do aparelho, o que traz dificuldades de gravação, bem como de medição a campo. Desse modo, a graduação do instrumento, em função da altura da régua, é obtida através da seguinte expressão: h 'B'AAC AB 'B'AAC 'C'A ×=×= Onde: A’C’ = distância tomada a partir da base da reentrância onde será gravada a altura; AC = altura da régua a ser encostada à árvore; AB = h = altura da árvore; A’B’ = comprimento da reentrância (0,30 m) Pela variação da altura AB na equação consegue-se graduar o aparelho, independente da distância. Biometria Florestal 36 4.2.2.1.2 Hipsômetro de Christen II É uma derivação do primeiro modelo, que dispensa o uso da régua auxiliar encostada na árvore, e , possui uma ranhura a 3 cm da reentrância inferior em vez de apresentar a escala graduada, para a determinação das alturas, como mostra a Figura 16a e b. O princípio de construção é o mesmo do Christen I. Assim, a altura da árvore fica determinada pela linha de pontaria que, passando pela ranhura do instrumento, intercepta o tronco em qualquer altura. Esta altura deve ser medida para determinar a altura da árvore. A partir das relações dos triângulos semelhantes descritos no Christen I, tem-se: 'C'A 'B'AACh ×= Sendo: A’B’ = 30 cm A’C’ = 3 cm Logo: 10ACh ×= . Portanto, a altura da árvore é obtida multiplicando-se a altura do ponto interceptado pelo raio visual no tronco pela constante instrumental 10. Nesse caso, há necessidade da recorrer a um auxiliar de campo para marcar o ponto de interseção da linha de visada no tronco da árvore. 4.2.2.1.3 Prancheta dendrométrica Compõe-se de uma régua de madeira, alumínio ou acrílico, com comprimento de 30 cm e altura entre 10 a 15 cm. A leitura das alturas é determinada por um pêndulo colocado no centro da prancheta, fixado no seu bordo superior. O bordo inferior é graduado em milímetros, a partir do centro, onde se situa o ponto zero da escala. Quando a prancheta está na posição horizontal, o pêndulo sobrepõe o ponto zero da escala. Biometria Florestal 37 FIGURA 16 - Medição da altura com o hipsômetro de Christen II. A Figura 17 mostra o princípio de construção e funcionamento da prancheta dendrométrica. FIGURA 17 - Medição da altura com a prancheta dendrométrica. Biometria Florestal 38 Observa-se, na Figura 17, que o triângulo EBC é semelhante ao triângulo ebc, na posição correspondente à visada do ápice da árvore, onde se obtém a seguinte relação: ec bc EC BC = ; por tanto, ec 'bc.ECBC ×= . Onde: BC = altura 1h ; EC = distância do observador ao objeto; bc = leitura na escala graduada; ec = (altura da prancheta). Sendo ec = 10 cm, EC = leitura na prancheta e OC = D, tem-se: 11 l10 Dh ⋅= . Ao visar a base da árvore, obtém-se, pelo mesmo raciocínio, a seguinte relação: ec acECAC ×= . Sendo A’C’ = 2l = leitura da base do tronco, tem-se: 22 l10 Dh ⋅= Logo, a altura total será determinada adicionando ou subtraindo as alturas parciais 1h e 2h de acordo com a posição relativa do observador em relação à árvore (veja Figuras 18,19 e 20), ou seja: Biometria Florestal 39 21 hhh ±= ( )21 ll10 Dh +⋅= As leituras I1 e I2 devem ser feitas em centímetros e a distância horizontal (D) em metros, para que a altura da árvore resulte em metros. Observa-se, neste caso, que a determinação da altura depende da distância do observador à árvore, sendo pertinente verificar a necessidade de correção da altura, que ocorre caso a distância entre o observador e a árvore não ser a distância horizontal. Para maiores esclarecimentos, veja 4.2.2.2.1. 4.2.2.2 Aparelhos baseados em tangentes de ângulos Os instrumentos baseados na tangente de ângulos são aparelhos que se operados em condições ideais apresentam estimativas mais confiáveis do que as obtidas por aparelhos de princípio geométrico e permitem ainda maior rapidez nas operações a campo. A altura da árvore será conhecida pelo somatório de duas alturas parciais e ainda influenciada pela declividade do terreno; a medição da altura só pode ser realizada com o conhecimento prévio da distância do observador à árvore; e, a deficiência de luz dentro do povoamento, pode impedir a visada dos objetos e tornar difícil à determinação ótica das alturas e das distâncias. Muito embora exista um grande número de hipsômetros deste tipo, o princípio de funcionamento é o mesmo para todos. Nestes instrumentos a altura será determinada por duas leituras, sendo uma na base da árvore e outra no ponto superior desejado, como mostra a Figura 18.
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