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1 ÍNDICE Histórico da Previdência Social. Evolução Histórica da Previdência Social ..................... 06 Noções Históricas ............................................................................................................... 13 Antecedentes. .................................................................................................................... 13 Assistencialismo. ............................................................................................................... 13 Mutualismo ......................................................................................................................... 13 Intervencionismo estatal. .................................................................................................... 13 História geral – períodos..................................................................................................... 13 História nacional – precedentes. ........................................................................................ 14 Reforma da Previdência Social. ......................................................................................... 19 Da Seguridade Social.. ....................................................................................................... 22 Princípios Constitucionais.. ................................................................................................. 22 Organização da Seguridade Social .................................................................................... 25 Saúde. ................................................................................................................................ 26 Assistência Social.. ............................................................................................................. 27 Benefícios Assistenciais de Prestação Continuada ............................................................ 29 Benefícios Assistenciais Eventuais .................................................................................... 29 Benefícios Assistenciais Subsidiários.. ............................................................................... 29 Previdência Social. ............................................................................................................. 30 Eventos Sociais.. ................................................................................................................ 31 Previdência Social: Cobertura, princípios e Objetivos, legislação Básica, características, Organização. ...................................................................................................................... 31 Instituto nacional do Seguro Social - INSS ........................................................................ 36 Conselho de Recursos da Previdência Social – CRPS. ..................................................... 37 Juntas de Recursos – JR .. ................................................................................................. 38 Câmaras de Julgamento – CaJ – Conselho Pleno.. ........................................................... 38 Do Conceito de Empresa. ................................................................................................... 39 Conceito de Empregador Doméstico.. ................................................................................ 43 Conceito de Segurados.. .................................................................................................... 43 Segurados Obrigatórios. ..................................................................................................... 44 Sistemas de Financiamento: Capitalização e repartição. ................................................... 50 Financiamento da Seguridade Social ................................................................................. 51 Contribuição da União ........................................................................................................ 52 Contribuições Sociais.. ....................................................................................................... 52 Natureza Jurídica das Contribuições.. ................................................................................ 53 Do Conceito da obrigação previdenciária. Dos sujeitos da obrigação previdenciária . 53 Da definição do fato gerador da contribuição previdenciária. Da ocorrência do fato gerador. ........................................................................................... 54 Contribuição da empresa. ................................................................................................... 55 Contribuições para terceiros.. ............................................................................................. 59 Contribuições sobre a receita de concursos de prognósticos.. ........................................... 71 Outras fontes de financiamento.. ........................................................................................ 72 CPMF ............................................................................................................................... 73 Isenção de contribuições (Imunidade) ................................................................................ 73 Arrecadação das contribuições previdenciárias.. ............................................................... 78 Recolhimento das contribuições.. ....................................................................................... 81 recolhimento das contribuições para terceiros.. ................................................................. 86 Obrigações acessórias das empresas. ............................................................................... 87 2 Responsabilidade solidária.. ............................................................................................... 94 Contribuições e outras importâncias não recolhidas até o vencimento .............................. 96 Créditos da seguridade social vencidos até 31 de dezembro de 1991 e. ........................... 97 Competência para arrecadar, fiscalizar e cobrar. Competência em geral .......................... 98 Exame da contabilidade. .................................................................................................... 98 Inscrição de ofício ............................................................................................................... 98 Aferição indireta (arbitramento). ......................................................................................... 99 Planejamento das atividades da fiscalização dos tributos federais previdenciários ........... 99 Fiscalização das empresas e dos segurados.. ................................................................... 102 Constituição do crédito da seguridade social.. ................................................................ ... 103 Processos de falência, concordata e concurso de credores............................................... 103 Decadência e prescrição.. .................................................................................................. 103 restituição e outras importâncias.. ...................................................................................... 104 Compensação de contribuições e outras importâncias.. .................................................... 105 Reembolso dos pagamentos.. ............................................................................................ 106 Matrícula da empresa ......................................................................................................... 106 Prova da inexistência de débito.. ........................................................................................ 106 Dispensa de apresentação do comprovante de inexistência de débito ..............................109 Expedição de documento comprobatório de inexistência de débito. .................................. 109 Interveniência em instrumento ............................................................................................ 110 Autorização de alienação de bens.. .................................................................................... 110 Alvará. ................................................................................................................................ 110 Infrações à legislação previdenciária .................................................................................. 110 Proibições, restrições e sanções às empresas infratoras.. ................................................. 111 Multa por infração ............................................................................................................... 111 Circunstâncias agravantes da penalidade .......................................................................... 115 Circunstâncias atenuantes da penalidade. ......................................................................... 115 Gradação das multas.......................................................................................................... 115 Auto de infração. ................................................................................................................ 115 Multas e recursos de ofício. ................................................................................................ 116 Parcelamento. .................................................................................................................... 116 Rescisão do parcelamento ................................................................................................. 116 Reparcelamento.. ............................................................................................................... 117 Acordo celebrado com o Estado, o Distrito federal ou o Município. ................................... 117 Execução judicial ................................................................................................................ 118 Restrições e condições impostas aos Estados, Distrito Federal e Municípios. .................. 119 Divulgação da lista de devedores.. ..................................................................................... 120 Reserva técnica de longo prazo ......................................................................................... 121 FUNDACENTRO.. .............................................................................................................. 121 Cadastro Nacional do Trabalhador – CNT.. ........................................................................ 121 Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais .................................................................. 122 Auditorias externas.. ........................................................................................................... 124 Obrigações do INSS.. ......................................................................................................... 124 Aprimoramento do INSS.. ................................................................................................... 124 Prazos prescricionais.......................................................................................................... 125 Tratados, Convenções e outros acordos internacionais ..................................................... 125 Noções gerais de direito penal.. ......................................................................................... 125 Elementos subjetivos especiais.. ........................................................................................ 127 Crime tentado e crime consumado. .................................................................................... 127 3 Sujeito ativo e sujeito passivo. ............................................................................................ 128 Ação penal .......................................................................................................................... 128 Imputabilidade penal........................................................................................................... 129 Extinção da punibilidade.. ................................................................................................... 129 Crimes contra a Previdência Social. ................................................................................... 130 O REFIS e sua interferência na área penal ........................................................................ 131 Microempresa e empresa de pequeno porte ...................................................................... 132 regime previdenciário e trabalhista ..................................................................................... 133 Direito previdenciário: conteúdo, fontes, autonomia e relações com outros ramos de direito 136 Aplicação das normas previdenciárias ............................................................................... 139 Hierarquia ........................................................................................................................... 146 regimes: geral e complementar. ......................................................................................... 146 Manutenção da qualidade de segurado.............................................................................. 148 Perda da qualidade de segurado. ....................................................................................... 149 Restabelecimento da qualidade de segurado. .................................................................... 150 Dependentes ...................................................................................................................... 150 Inscrição de dependentes. .................................................................................................. 152 Perda da qualidade de dependente .................................................................................... 153 Normas especiais sobre os acidentes do trabalho. ............................................................ 154 Conceituação de acidente do trabalho.. ............................................................................. 154 Eventos de causalidade direta ............................................................................................ 154 Moléstias profissionais........................................................................................................ 154 Doenças do trabalho........................................................................................................... 155 Eventos de causalidade indireta ......................................................................................... 155 Concausas. ......................................................................................................................... 155 Lesão exigente de atenção médica.. .................................................................................. 156 Outros eventos sucedidos no local e no horário de trabalho .............................................. 156 Contaminação acidental. .................................................................................................... 156 Eventos ocorridos fora do local e horário de trabalho......................................................... 156 Períodos de refeição ou descanso ..................................................................................... 157 Satisfação de outras necessidades fisiológicas .................................................................. 157 Comunicação dos infortúnios pela empresa ....................................................................... 157 Comunicaçãosubsidiária dos eventos. .............................................................................. 157 Normas sobre prevenção e fiscalização.. ........................................................................... 157 Responsabilidade civil ........................................................................................................ 158 Prestações em geral ........................................................................................................... 163 Benefícios no regime geral ................................................................................................. 164 Características dos benefícios. ........................................................................................... 165 Disposições diversas. ......................................................................................................... 165 Períodos de carência. ......................................................................................................... 165 Prestações que dispensam carência .................................................................................. 168 Salário-de-benefício (RPS, arts. 31 a 34).. ......................................................................... 168 Renda mensal dos benefícios.. .......................................................................................... 172 Reajustamento do valor dos benefícios .............................................................................. 174 Auxílio-doença comum.. ..................................................................................................... 175 Auxílio-doença acidentário.. ............................................................................................... 176 Auxílio-acidente .................................................................................................................. 178 Aposentadoria por invalidez comum ................................................................................... 179 Aposentadoria por invalidez acidentária ............................................................................. 180 4 Aposentadoria por tempo de contribuição .......................................................................... 182 Fator previdenciário.. .......................................................................................................... 186 Tempo de contribuição ....................................................................................................... 186 Aposentadoria especial ...................................................................................................... 190 Aposentadoria compulsória. ............................................................................................... 195 Pensão Comum por morte. ................................................................................................. 195 Pensão acidentária por morte. ............................................................................................ 196 Auxílio-reclusão .................................................................................................................. 197 Abono anual .. .................................................................................................................... 198 Salário-família ..................................................................................................................... 198 Salário-maternidade.. ......................................................................................................... 201 Pagamento e documentação .............................................................................................. 202 Pecúlios.. ............................................................................................................................ 204 Cumulação de benefícios.. ................................................................................................. 204 Da justificação administrativa e da justificação judicial.. ..................................................... 205 Reconhecimento do tempo de filiação. ............................................................................... 206 Contagem recíproca de tempo de contribuição ou de serviço ............................................ 207 Indenização para fins de contagem recíproca .................................................................... 207 Comprovação do exercício de atividade rural.. ................................................................... 207 Serviços.. ............................................................................................................................ 207 Prescrição ........................................................................................................................... 209 Decadência.. ....................................................................................................................... 210 Convênios, contratos, credenciamentos e acordos. ........................................................... 210 Restituição de importâncias recebidas indevidamente.. ..................................................... 210 Pagamento dos benefícios. ................................................................................................ 213 Revisão dos benefícios....................................................................................................... 214 Mandato (procuração). ....................................................................................................... 214 Falecimento de segurado.. ................................................................................................. 215 Reajuste de valores pecuniários ......................................................................................... 215 Servidor do estado, Distrito Federal e do Município. .......................................................... 215 Atos e decisões, na esfera administrativa.. ........................................................................ 215 Divulgação dos atos e decisões. ........................................................................................ 217 Ações e recursos.. .............................................................................................................. 217 Disposições diversas, relativas ao regime geral e outros ................................................... 219 regras gerais para a organização e o funcionamento dos regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da união, dos estados, do distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal.. ...................... 220 5 1. HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 1.1. Evolução histórica da Previdência Social no Brasil 1.2. No Brasil a evolução da proteção social não seguiu um caminho diferente, tendo primeiro passado pela simples caridade, após pelo mutualismo de caráter privado e facultativo, depois pelo seguro social e, atualmente o sistema de seguridade social, como consagrado na Constituição de 1988.1 Apesar de haver previsão constitucional a respeito da matéria, o Brasil só veio a conhecer verdadeiras regras de previdência social no século XX. Antes disso, apenas em diplomas isolados aparece alguma forma de proteção aos infortúnios.2 O primeiro texto que se tem notícia é o Decreto de 1° de outubro de 1821, expedido pelo Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara, que concedia aposentadoria a mestres e professores após 30 anos de serviço e abono de ¼ (um quarto) dos ganhos aos que continuassem na profissão. 3 A Constituição Imperial de 1824 nasceu impregnada de ideais liberais que influenciaram o mundo no final do séculoXVIII, os quais igualmente produziram efeitos no Brasil, principalmente porque o regente D. Pedro I era grande partidário dessa nova ordem. Nela constavam traços fortes de preocupação social, estando esculpido, o primeiro rol de direitos 1 PEREIRA JUNIOR. Aécio. Evolução histórica da Previdência Social e os direitos fundamentais. Jus Navegandi, Teresina. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6881>. Acesso em: 03 set. 2005 2 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr; 2002. p.45 3 OLIVEIRA, Antonio Carlos de. Direito do trabalho e previdência social: estudos. São Paulo, LTr, 1996. p. 91. 6 e garantias individuais, sendo o seu embrião encontrado no inciso XXXI do artigo 179, que mencionava a garantia constitucional dos socorros públicos a todos os cidadãos.4 Em 22 de junho de 1835, apareceu o Montepio Geral da Economia dos Servidores do Estado, a MONGERAL, sendo a primeira entidade de previdência privada a funcionar no país e previa um sistema típico de mutualismo, um sistema por meio do qual várias pessoas se associam e vão se cotizando para a cobertura de certos riscos, mediante a repartição dos encargos com todo o grupo.5 Todavia, o primeiro registro de Previdência Social no Brasil foi o Decreto n. 9.912-A, de 26.03.1888, que criou e regulou o direito à aposentadoria dos empregados dos Correios, fixando como requisitos à sua concessão 30 anos de serviço efetivo e idade mínima de 60 anos. 6 Mais tarde, nesse mesmo ano, e, copiando o modelo adotado pelos Correios, surge em 24.11.1888 a Lei n. 3.397, que trata das despesas gerais da Monarquia para o exercício subseqüente, prevendo a criação de uma Caixa de Socorros para os trabalhadores das estradas de ferro de propriedade do Estado, ou seja, do Império.7 Em 26 de março de 1889, o Decreto n. 9.212, estatuiu o montepio obrigatório para os empregados dos Correios e o Decreto n. 10.269, de 20 de julho de 1889, estabeleceu um fundo especial de pensões para os trabalhadores das Oficinas de Imprensa Nacional.8 Em 1890, o Decreto n. 221, de 26 de fevereiro, instituiu a aposentadoria para os empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil, posteriormente estendida aos demais ferroviários do Estado pelo Decreto n. 565, de 12 de julho do mesmo ano. Na primeira Constituição da República, promulgada em 24 de fevereiro de 1891, o artigo 75 contemplou expressamente o chamado seguro social, instituindo-se aposentadoria por invalidez para os funcionários públicos a serviço da Nação, especialmente aqueles que lutaram na guerra do Paraguai. Ainda não se estava tratando da relação contratual entre o Estado e o segurado.9 Constata-se que a Carta Magna Republicana inaugura a proteção social vinculada a uma categoria de trabalhadores, assegurando uma das principais prestações concedidas pela previdência social até hoje, que é a aposentadoria. Anote-se, ainda, que o referido benefício era concedido aos funcionários públicos independentemente de contribuição, ou seja, a prestação era custeada integralmente pelo Estado.10 Foi a primeira Constituição a conter a expressão ―aposentadoria‖.11 Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari, na obra Manual de Direito Previdenciário, observa que, O peculiar em relação a tais aposentadorias é que não se poderia considerá-las como verdadeiramente pertencentes a um regime previdenciário, já que os beneficiários não contribuíam durante o período de atividade. Vale dizer, as aposentadorias eram concedidas 4 SANTORO, José Jayme de Souza. Manual de Direito Previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Bastos, 2001. p.15. 5 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.23. 6 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência Social: custeio e benefício. São Paulo: LTr. 2005. p. 49 7 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p.18. 8 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.23 9 SANTORO, José Jayme de Souza. Manual de Direito Previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Bastos, 2001. p.16. 10 PEREIRA JUNIOR. Aécio. Evolução histórica da Previdência Social e os direitos fundamentais. Jus Navegandi, Teresina. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6881>. Acesso em: 03 set. 2005 11 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.23. 7 de forma graciosa pelo Estado. Assim, até então não se poderia falar em previdência social no Brasil.12 Em razão da industrialização das grandes cidades e de condições de trabalho que resultaram em acidentes, em 1919 entrou em vigor a Lei n. 3.724, Lei do Acidente do Trabalho, consagrando a responsabilidade objetiva do empregador, ou seja, o empregador passou a ser plenamente responsável por qualquer dano sofrido pelo trabalhador durante o serviço, independente de culpa ou dolo, sendo obrigado em virtude disto a indenizar o empregado.13 Até então, o trabalhador acidentado tinha apenas como norma a lhe proteger o artigo 159 do Código Civil, vigente a partir de 1917, e antes disso, as normas das Ordenações Filipinas.14 E, enfim, o grande marco inicial da Previdência Social, que se implantou, em nosso país, foi através do Decreto Legislativo n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, chamado de Lei Eloy Chaves, determinando a criação de uma Caixa de Aposentadoria e Pensões para os empregados ferroviários. Os beneficiários eram os empregados e os diaristas que executassem serviços de forma permanente, em todo o território nacional. A primeira a ser criada foi a da empresa Great West do Brasil, em 20 de março de 1923. Neste mesmo ano foi criado o Conselho Nacional do Trabalho com atribuição, inclusive, de decidir sobre questões relativas à Previdência Social.15 A Caixa de Aposentadoria e Pensões para os empregados ferroviários visava amparar o trabalhador contra os riscos; doenças; velhice, invalidez e morte. Autorizava cada empresa ferroviária existente no país a criar uma Caixa de Aposentadoria e Pensões, bem como concedia o direito de estabilidade aos ferroviários.16 Foi a primeira vez que trabalhadores obtiveram os benefícios de aposentadoria por invalidez, aposentadoria ordinária (equivalente hoje a aposentadoria por tempo de contribuição, a pensão por morte e a assistência médica.17 A partir daí, começaram a proliferar as caixas de aposentadoria e Pensões, porém, como não havia lei regulando os benefícios mínimos, os trabalhadores das empresas mais fortes sempre estavam mais bem protegidos, pois cada Caixa de Pensões funcionava segundo normas regimentais próprias, o que ocorreu até 1960, quando foi editada a LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social.18. Na época da Revolução, em 1930, o sistema previdenciário deixa de ser estruturado pelas empresas, passando a abranger categorias profissionais. A intensificação do sistema de Previdência Social deveu-se, sobretudo, à criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em fins de 1930, tendo como uma de suas atribuições orientar e supervisionar a Previdência Social, inclusive como órgão de recursos das decisões das Caixas de Aposentadoria e Pensões.19 A Carta Constitucional de 1934 faz a primeira menção expressa aos direitos previdenciários, ou a expressão ―previdência‖, embora não a adjetivasse de ―social‖, referindo-se ao tema 12 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr; 2002. p.46. 13 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p.19. 14 CASTRO, CarlosAlberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr; 2002. p.46. 15 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência social: custeio e benefício. São Paulo: LTr. 2005. p. 50. 16 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p.19-20. 17 PAIXÃO, Floriceno. A Previdência Social em Perguntas e Respostas. 26. ed. Porto Alegre: Síntese, 1996. p. 29. 18 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p. 20. 19 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência Social: custeio e benefício. São Paulo: LTr. 2005. p. 50. 8 proteção social em outros dispositivos; no artigo 121, § 1º, alínea ―h‖, instituindo a forma tríplice de custeio entre empregados, empregadores e Estado, cujos recursos advinham das taxas de importação – vinculação obrigatória ao sistema com gestão estatal.20 O ponto marcante da Constituição de 1934 foi a consagração do modelo tripartite de financiamento do sistema de previdência social, para o qual contribuem tanto o trabalhador, como o empregador e, em igualdade de condições com essas categorias, o próprio Poder Público.21 Com essa carta constitucional, uma outra fase se iniciou com a criação dos grandes Institutos, posteriormente aglutinados num só: O Instituto Nacional de Previdência Social – INPS.22 Assim, a Previdência Social Brasileira foi promovida à condição de disposição constitucional, na qual permanece até os dias atuais.23 Wagner Balera, ao exaltar os benefícios conferidos pela Carta Magna de 1934, assim se refere: Os limites amplos da proteção social conferidos por aquela Lei Magna, aliados ao perfeito comando a respeito do custeio, fizeram da Constituição de 16 de julho o melhor de nossos modelos constitucionais. As conquistas sociais posteriores só vieram a reforçar as diretrizes traçadas por este Estatuto Fundamental.24 A Constituição outorgada em 10 de novembro de 1937, marcadamente autoritária, inspirada nas idéias do fascismo, não se harmonizou com a avançada ordem instituída pela Constituição de 1934. Ela foi muito sintética, não trouxe qualquer progresso em matéria previdenciária, foi omissa quanto à participação do Estado no custeio do sistema, mas apesar disso, não deixou de enumerar os riscos sociais cobertos pelo seguro social, utilizando pela primeira vez a expressão ―seguro social‖, em vez de previdência social. Previa direitos que pela omissão supra mencionada nunca foram implementadas. O Decreto- Lei n. 651, de 26 de agosto de 1938 traz a conceituação do trabalhador autônomo e autoriza seu ingresso no sistema previdenciário. E o Decreto-Lei n. 2.122, de 09 de abril de 1940, estabeleceu para os comerciantes um regime misto de filiação ao sistema previdenciário. Até 30 contos de réis de capital o titular de firma individual, o interessado e o sócio-quotista eram segurados obrigatórios; acima desse limite a filiação era facultativa.25 Em 1945 houve a tentativa de uma profunda reforma do nosso sistema de Previdência Social, com a criação do ―Instituto dos Serviços Sociais do Brasil‖ – Decreto-Lei n. 7.526, de 07 de maio de 1945. Foi a primeira vez que se atacou o problema, em busca na desejada uniformização legislativa e da unificação administrativa da previdência social brasileira. Mas, após a deposição do Presidente Getúlio Vargas, o novo governo que se instalou no País, não concretizou a medida e a uniformização administrativa e do plano único de benefícios para os diversos Institutos se deu muito mais tarde com a promulgação da Lei n. 3.807/60 – Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS.26 20 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p.20. 21 PEREIRA JUNIOR. Aécio. Evolução histórica da Previdência Social e os direitos fundamentais. Jus Navegandi, Teresina. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6881>. Acesso em: 03 set. 2005 22 PAIXÃO, Floriceno. A Previdência Social em Perguntas e Respostas. 26. ed. Porto Alegre: Síntese, 1996. p. 30. 23 SANTORO, José Jayme de Souza. Manual de Direito Previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Bastos, 2001. p.17. 24 BALERA, Wagner. A Seguridade Social na Constituição de 1988. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1989. p.22. 25 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência Social: custeio e benefício. São Paulo: LTr. 2005. p. 52. 26 PAIXÃO, Floriceno. A Previdência Social em Perguntas e Respostas. 26. ed. Porto Alegre: Síntese, 1996. p. 31. 9 Na Constituição de 1946, que foi promulgada em 18 de setembro de 1946, iniciou-se uma sistematização constitucional da matéria previdenciária, que foi incluída no mesmo artigo que versava sobre o Direito do Trabalho, artigo 157. Nesta Constituição aparece pela primeira vez a expressão ―Previdência Social‖, desaparecendo a expressão ―seguro social‖, antes em voga.27 Nesta Constituição já estão presentes todos os ―ingredientes‖ da seguridade social, posicionando-se o Estado, finalmente, como tutelador da Previdência Social, dando relevância constitucional ao pacto entre as partes envolvidas: Estado, empregador e empregado.28 Em 1947, o Deputado Aluízio Alves apresentou projeto de lei que previa a proteção social a toda a população, que após longo período de tramitação resultou na edição da Lei n. 3.807, de 26 de agosto de 1960, Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS, que veio a padronizar o sistema assistencial.29 A Lei Orgânica da Previdência Social foi o maior passo dado rumo à universalidade da Previdência Social, apesar dos trabalhadores domésticos e os trabalhadores rurais não terem sido contemplados pela nova norma. Ela veio uniformizar todo o emaranhado de normas existentes sobre Previdência Social, ampliou os benefícios, criando vários auxílios tais como: auxílio-natalidade, auxílio-funeral, auxílio-reclusão e a aposentadoria especial, e ainda veio estender a área de assistência social a outras categorias profissionais.30 Mais tarde, a Emenda Constitucional nº 11, de 31 de março de 1965, acrescentou um parágrafo ao artigo 157 da Constituição Federal, pela qual se exige uma indissociável contrapartida entre contribuição e as prestações, determinando que nenhuma prestação de serviço de caráter assistencial ou de benefício compreendido na previdência social poderia ser criada, majorada ou estendida sem a correspondente fonte de custeio total e vice e versa. Estava definido, desta forma, o princípio da precedência da fonte de custeio.31 Em 21 de novembro de 1966 o Decreto-Lei n. 72/66 aglutinou os seis Institutos previdenciários com gestão estatal, num só órgão, criando o INPS – Instituto Nacional de Previdência Social.32 A Carta Constitucional de 1967, que foi fruto da ordem revolucionária instaurada no Brasil a partir de março de 1964, com a Emenda n. 1, de 1969, pouco inovou, repetiu disposições da CF/1946, porém, teve como virtude trazer o sistema de seguro de acidente do trabalho para os auspícios do sistema previdenciário público, nos mesmos moldes de financiamento, ou seja, estatizou o seguro contra acidente de trabalho e, em norma infraconstitucional a inclusão do salário-família, no texto fundamental.33 O legislador já andava preocupado com o financiamento das prestações assistenciais e previdenciárias, preocupação essa que veio a confirmar-se posteriormente com os constantes ―rombos‖ observados no sistema 27 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.26. 28 SANTORO, José Jayme de Souza. Manual de direito previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Bastos, 2001. p.19. 29 PEREIRA JUNIOR. Aécio. Evolução histórica da Previdência Social e os direitos fundamentais. Jus Navegandi,Teresina. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6881>. Acesso em: 03 set. 2005 30 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p. 26. 31 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.26. 32 PAIXÃO, Floriceno. A Previdência Social em Perguntas e Respostas. 26. ed. Porto Alegre: Síntese, 1996. p. 31. 33 PEREIRA Junior. Aécio. Evolução histórica da Previdência Social e os direitos fundamentais. Jus Navegandi, Teresina. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6881>. Acesso em: 03 set. 2005 10 previdenciário oficial.34 Ainda em relação às atividades rurais, em 1955 foi criado o Serviço Social Rural destinado à proteção de serviços sociais no meio rural, tendo como marco inicial da preocupação com os problemas dos homens ligados à atividade agrícola. Posteriormente, em 02 de março de 1963 a Lei n. 4.214, criou o FUNRURAL – Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural.35 O Decreto-Lei n. 564 de 01 de maio de 1969 estendeu a Previdência Social ao trabalhador rural, especialmente aos empregados do setor agrário da agroindústria canavieira, mediante um plano básico 36, mas foi com a Lei complementar n. 11, de 25 de maio de 1971 que a Previdência Social regulamenta a proteção aos trabalhadores rurais criando o PRO-RURAL – Programa de Assistência ao Trabalhador Rural, alterada posteriormente pela Lei Complementar n. 16 de 30 de novembro de 1973.37 Em 1972, a Lei n. 5.859, de 11 de dezembro, inclui os empregados domésticos como segurados obrigatórios da Previdência Social.38 Já, em 01 de maio de 1974 a Lei n. 6.036 criou o Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS, desmembrado do Ministério do Trabalho e Previdência Social, e a ele subordinando as autarquias e órgãos atuantes nesses dois ramos da ação estatal. Neste mesmo ano, a Lei n. 6.125, de 04 de novembro autorizou o Poder Executivo a constituir a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social – DATAPREV, à qual competia além dos processamentos de dados, tudo mais relacionado com a informática. E no dia 11 de dezembro a Lei n. 6.179/74, instituiu o amparo previdenciário para os maiores de 70 anos ou inválidos, também conhecidos como renda mensal vitalícia.39 Com o Decreto n. 89.312, de 23 de janeiro de 1984, reorganizou-se a nova CLPS – Consolidação das Leis da Previdência Social, consolidando as leis supervenientes, e estabelecendo tipologia mais extensa em relação a vários segurados.40 O vigor legislativo infraconstitucional continuava efervescente em matéria de previdência social, dispensando-se a enumeração cansativa das disposições legais pertinentes, bastando ressaltar a constante ampliação do rol de beneficiários e de qualidade das prestações, traçando o caminho para a construção de um sistema de seguridade social, como pretendido pela Constituição de 1988, promulgada no dia 05 de outubro.41 A Constituição Federal de 1988 surge como ponto culminante da restauração do Estado democrático de direito, rompendo com o autoritarismo do regime militar e estabelecendo o sistema de Seguridade Social no Brasil, como objetivo a ser alcançado pelo Estado brasileiro, prevendo custeio tripartite entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal; trabalhadores e empregadores, atuando simultaneamente nas áreas da saúde, assistência Social e previdência social, que passaram a fazer parte do gênero Seguridade Social, 42 de modo que as contribuições sociais passaram a custear as ações do Estado nestas três 34 SANTORO, José Jayme de Souza. Manual de Direito Previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Bastos, 2001. p. 21. 35 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p. 22. 36 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência Social: custeio e benefício. São Paulo: LTr, 2005. p. 54. 37 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2004. p. 22. 38 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência social: custeio e benefício. São Paulo: LTr. 2005. p. 54. 39 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência Social: custeio e benefício. São Paulo: LTr. 2005. p. 55. 40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.28. 41 PEREIRA JUNIOR. Aécio. Evolução histórica da Previdência Social e os direitos fundamentais. Jus Navegandi, Teresina. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6881>. Acesso em: 03 set. 2005. 42 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.28. 11 áreas e não somente no campo da Previdência Social.43 Mais tarde, o Decreto n. 99.060, de 07 de março de 1990, vinculou o INAMPS ao Ministério da Saúde e o Decreto n. 99.350, de 27 de junho de 1990, criou o INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, autarquia que passou a substituir o INPS e o IAPAS nas funções de arrecadação, bem como nas de pagamento de benefícios e prestações de serviços, sendo até hoje a entidade responsável tanto pela arrecadação, fiscalização, cobrança, aplicação de penalidades (multas) e regulamentação da parte de custeio do sistema de seguridade social, bem como de concessão de benefícios e serviços aos segurados e seus dependentes.44 E finalmente, em 24 de julho de 1991, foi editada a Lei n. 8.212, que dispôs sobre a organização da Seguridade Social, instituindo plano de custeio e outras providências, e a Lei n. 8.213/91, que dispôs sobre os planos de benefícios da previdência social e deu outras providências, leis que até hoje vigoram, mesmo com as alterações ocorridas em diversos artigos.45 Tais normas foram regulamentadas pelos Decretos n. 356 e 357, de 7 de dezembro de 1991, o primeiro dispondo sobre o sistema de custeio e o outro sobre os benefícios. Em 13 de maio de 1992, foi extinto o Ministério do Trabalho e Previdência Social, e criado o Ministério da Previdência Social e o Ministério do Trabalho e da Administração (MTA). Os Decretos n. 611 e 612 de 21 de julho de 1992 fornecem nova redação ao Regulamento da Organização e do Custeio da Seguridade Social, substituindo o regulamento anterior.46 Em 1995 foi extinto o Ministério da Previdência Social e criado em seu lugar o Ministério da Previdência e Assistência Social. Neste mesmo ano foi editada a Lei n. 9.032 de 28 de abril, efetivando uma mini-reforma na previdência, com a extinção de alguns benefícios e a alteração do cálculo de outros. Extinguiu o salário-natalidade, eliminou a figura do dependente designado, alterou as regras do auxílio-acidente unificando suas alíquotas em 50 % do salário-de-contribuição, vedou a contagem como tempo de serviço especial considerado genericamente por categoria, entre outras mudanças.47 Inclusive nesse mesmo ano o Chefe do Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional visando alterar várias normas a respeito do Regime Geral de Previdência Social e da Previdência Social dos servidores públicos.48 Assim, em 15 de dezembro de 1998 foi promulgada a Emenda Constitucional nº 20, que alterou de forma bastante significativa o sistema de previdência social, principalmente quanto à concessão de aposentadorias. Em 06 de maio de 1999 foi publicado o Decreto nº 3.048, novo Regulamento da Previdência Social, e a Lei nº 9.876, de 26 de novembro de 1999, trouxe diversas alterações nas Leis n. 8.212 e 8.213/91, como o critério de cálculo do salário-de-benefício através da criação do fator previdenciário e da utilização de média dos salários-de-contribuição a contar de julho de 1994.49 Enfim, as Leis n.s 8.212 e 8.213 de 1991, ainda vigoram até os dias atuais contendo, cada uma, diversas mudanças, como se fosse ―uma colcha de retalhos‖.43 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr; 2002. p.51. 44 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr; 2002. p.53. 45 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p. 22. 46 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1992. p.28. 47 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin: 2004. p. 24. 48 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr; 2002. p.54. 49 VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência Social: Custeio e Benefício. São Paulo: LTr. 2005. p. 62. 12 NOÇÕES HISTÓRICAS ANTECEDENTES A Previdência Social, na sua moderna concepção, surgiu após a Revolução Industrial. Está vinculada historicamente, ao fenômeno da industrialização. Antes disso, as formas de proteção dos indivíduos, quanto ao atendimento de suas necessidades básicas, compreendiam o assistencialismo e o mutualismo. Com o advento do chamado intervencionismo estatal, nasceu a Previdência Social e, mais tarde, a Seguridade Social. ASSISTENCIALISMO Fundado na caridade, na benemerência, no altruísmo. O assistencialismo consiste nos cuidados, na proteção e no auxílio que indivíduos, famílias ou grupos prestam aos necessitados. Entre alguns povos, igualmente, evidenciou-se certa preocupação com os deficientes físicos, idosos, miseráveis e outros carentes de amparo. Consta que havia normas assistenciais, por exemplo, no Código de Manu (Índia), no Código de Hamurabi (Babilônia). No mesmo sentido aponta-se a Lei dos Pobres (Poor Law), editada em 1601, na Inglaterra. Ela impunha às paróquias a obrigação de socorrer aos infortunados de sua jurisdição, arrecadando, para tanto, taxas dos respectivos membros. MUTUALISMO Ligado á solidariedade de grupos de pessoas, na defesa de interesses comuns, o mutualismo consiste no sistema em que os indivíduos se organizam em associações ou entidades (mutualidades), cotizando-se para a formação de recursos, destinados à proteção recíproca ou de familiares, em face de certos eventos, como a doença, a invalidez, a velhice, a morte, e outros. Lembram-se, a respeito, os colégios gregos e romanos, os sodalícios (na Antigüidade); as corporações de ofícios, as guildas ou ligas (na Idade Média), como inspiradores do sistema mutualista. INTERVENCIONISMO ESTATAL Baseado na solidariedade social, o intervencionismo consiste na criação e imposição, pelo estado, do sistema de previdência, assegurando a proteção social, mediante sua intervenção. A maioria dos estudiosos situa a origem da Previdência Social na lei alemã de 1883, que instituiu o seguro-doença obrigatório em favor dos operários (custeado pelos patrões e empregados). HISTÓRIA GERAL – PERÍODOS Divide-se a história da Previdência Social em três fases: da formação, da universalização e da seguridade social. PERÍODO DE FORMAÇÃO Inicia-se em 1883, encerrando-se ao tempo da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). O Chanceler Otto Von Bismarck realizou estudos que, na Alemanha, motivaram a elaboração da lei do seguro-doença, em 1883 (marco inicial da Previdência Pública); da lei 13 do seguro contra acidentes do trabalho, em 1884; finalmente da lei do seguro contra invalidez e velhice, em 1889. Rapidamente, a legislação germânica inspirou a de outros países, na Europa, consolidando- se o seguro social obrigatório, na Inglaterra (1911). PERÍODO DA UNIVERSALIZAÇÃO Corresponde à etapa da denominada expansão geográfica da Previdência Social. Alonga-se do Tratado de Versalhes, de 1919 (que criou a Organização Internacional do Trabalho - OIT), até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Caracteriza-se pela disseminação do seguro social obrigatório pelo mundo todo, abrangendo a América e até mesmo, a Ásia. MARCOS IMPORTANTES A Lei da Seguridade Social, de 1935, nos EUA (Social security Act) – na qual teria utilizado, pela primeira vez, a expressão ―seguridade social‖ – e os planos de Lord Beveridge (de 1942 e de 1944), visando à reformulação da Previdência Social, na Inglaterra. PERÍODO DA SEGURIDADE SOCIAL Principia ―em meio à última grande guerra, em 1941, com a histórica Carta do Atlântico, relativa ao advento da Seguridade Social, cuja filosofia visa tornar cada cidadão titular do direito subjetivo ao bem-estar social‖ (Arnaldo Sussekind). Merecem destaque: em 1942, a Declaração de Santiago (Primeira Conferência Interamericana da Seguridade Social), estabelecendo os objetivos e o conteúdo da Segurança Social; em 1944, a Declaração de Filadélfia, na 26ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho (assentando os princípios e os objetivos da OIT); em 1948, a declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembléia geral da ONU; em 1952, a Convenção nº 102 da OIT, estabelecendo as Normas Mínimas de Seguridade Social (35ª sessão da Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra); em 1974, a Declaração dos Princípios Fundamentais de Direito do Trabalho e de Segurança Social (V Congresso Ibero-Americano de Direito do trabalho e da Segurança Social, no México). HISTÓRIA NACIONAL – PRECEDENTES No Brasil, o fenômeno, em linhas gerais, repetiu-se debaixo de perspectivas semelhantes. Assim, antecipando-se ao seguro social, encontram-se as formas protetivas do assistencialismo (como, por exemplo, a da santa Casa de Misericórdia de Santos, fundada em 1543) e do mutualismo (antigas organizações operárias). Na opinião da maioria dos autores, a Previdência Social, em nosso país, radicaria na conhecida Lei Eloy Chaves, de 24/01/1923. Daí comemorar-se, no dia 14 de janeiro, a data nacional da Previdência Social. PERÍODOS Há divergências em torno dos critérios que orientam a fixação de etapas, no contexto histórico. Propomos uma divisão inspirada nos ensinamentos de especialistas, sugerindo o reconhecimento de cinco fases, a saber: da implantação (formação), da expansão, da unificação, da reestruturação e da seguridade social. 14 PERÍODO DA IMPLANTAÇÃO (FORMAÇÃO) Nasce com a Lei nº 4.682, de 24/01/1923 – Lei Eloy Chaves – que determinou a criação de uma Caixa de Aposentadoria e Pensões para cada empresa de estrada de ferro. Seguiram- se, desde então, dezenas e dezenas de caixas de aposentadorias e pensões, sempre por empresa. Chegaram a atingir o total de 183! Esse período termina em 1933, com o aparecimento do IAPM _ Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos. De importante, nessa etapa, aponta-se o Decreto nº 20.465, de 01/10/1931, que representou o primeiro sistema amplo de seguros sociais, ―cobrindo os riscos da invalidez, da velhice e da morte e concedendo, ainda, o auxílio-funeral, a assistência médico-hospitalar e a aposentadoria ordinária (condicionada ao tempo de serviço e à idade do segurado)‖, consoante elucida Arnaldo Sussekind. PERÍODO DA EXPANSÃO Principia com o Decreto nº 22.872, de 29/06/1933, que criou o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos marítimos (IAPM). Na seqüência, surgiram o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC) e o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários (IAPB), ambos em 1934; o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos industriários (IAPI), em 1936, e outros, sucessivamente. Termina em 1960, com a Lei Orgânica da Previdência Social. Nessa fase, a proteção social leva em conta as categorias profissionais (os marítimos, os comerciários, os bancários, etc.), e não mais as empresas. Comporta alusão, por sua relevância, o Decreto-lei nº 7.526, de 07/05/1945, que procuro reformular profundamente o nosso sistema previdencial, nabusca da seguridade social, ―estendendo o âmbito daquele praticamente a toda a população; ampliando os benefícios numa cobertura geral dos diversos riscos sociais; unificando a gestão administrativa do sistema‖ (Moacyr Velloso Cardoso de Oliveira). Por falta da necessária regulamentação, entretanto, tornou-se inoperante, lamentavelmente. PERÍODO DA UNIFICAÇÃO Situa-se entre 1960 e 1977. A Lei nº 3.807, de 26/08/1960 – a denominada Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) – uniformizou a legislação previdencial, ampliando o rol dos benefícios (introduzindo o auxílio- reclusão, o auxílio-funeral, o auxílio natalidade) e o dos segurados (passando a abranger os empregadores, os profissionais liberais). E o Decreto nº 72, de 21/11/1966, fundiu os Institutos de Aposentadorias e Pensões, gerando o INPS – Instituto Nacional de Previdência Social. O Decreto nº 77.077, de 24/01/1976, implantou a primeira CLPS – Consolidação das Leis da Previdência Social, sistematizando os diplomas legais em vigor. PERÍODO DE REESTRUTURAÇÃO Vai de 1977 a 1988. A Lei nº 6.439, de 01/09/1977, implementou o SINPAS – Sistema Nacional da Previdência e da Assistência Social. Extinguiu o FUNRURAL, absorvido pelo INPS. Criou o IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência Social – e o INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social. Reestruturou fundamentalmente a Previdência Social, inclusive quanto à gestão e administração. 15 PERÍODO DA SEGURIDADE SOCIAL Começa em 1988, germinado pela Constituição da República. A Assembléia nacional Constituinte, reunida para instituir um estado democrático, promulgou, no dia 05/10/1988, a Constituição da República Federativa do Brasil. De acordo com seu preâmbulo, visou a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias. Estabeleceu, no artigo 6º, que constituem direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e á infância, a assistência aos desamparados (redação dada pela Emenda Constitucional nº 26, de 14 de fevereiro de 2000). Tratou dos Direitos Sociais, no Capítulo da Ordem Social, tendo por base o primado do trabalho e como objetivos o bem-estar e a justiça sociais (art. 193). E instituiu a Seguridade Social, destinada a assegurar os direitos relativos á Saúde, à Previdência Social e à Assistência Social (art. 194). REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL A Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, objetivou implantar a chamada ―Reforma da Previdência Social‖, modificando profundamente o sistema previdenciário brasileiro. Leis complementares e ordinárias deverão ser editadas, disciplinando as significativas alterações ocorridas na matéria. O texto da apostila já incorpora as inovações ocorridas até a presente data. Recomenda-se a leitura da aludida Emenda Constitucional nº 20/98. OBJETIVOS, METAS E MUDANÇAS A proposta de Emenda à Constituição Federal (PEC) nº 33-A, de 1995, após vários anos de discussão no Congresso Nacional, resultou na Emenda Constitucional nº 20, publicada no Diário Oficial da União de 16 de dezembro de 1998, deu substancial impulso à chamada ―Reforma da Previdência Social‖. Abrangeu os regimes de previdência dos servidores públicos civis (da administração direta, autárquica e fundacional), nos âmbitos federal, estadual e municipal. Compreendeu ainda o regime geral da Previdência Social, a cargo do INSS e, também, cuidou da previdência complementar. Sustenta-se, há décadas, a inviabilidade do regime de repartição, no tocante ao financiamento da Previdência Social, apregoando-se as vantagens do regime de capitalização. Alega-se o desequilíbrio financeiro da Previdência Social, decorrente de fatores estruturais, ligados às características do mercado de trabalho nacional (com elevado índice de informalidade nas relações de emprego), às tendências demográficas (aumento populacional e maior longevidade das pessoas) e às distorções nos benefícios pagos – além de fatores conjunturais. Argumenta-se que a reforma possibilitaria combater a exclusão social, e também a recuperação da capacidade de investimento da União, dos Estados e dos Municípios, cujos recursos estariam fortemente comprometidos com o pagamento de funcionários ativos e inativos. 16 Ela propiciaria, igualmente, o estímulo à poupança por meio da previdência complementar – a qual, por sua vez, financiaria investimentos expressivos, como sucederia em todo o mundo. A previdência básica deveria situar-se em faixa não-excedente de dez vezes (ou menos) o valor do salário mínimo. OBJETIVOS Trataremos apenas da reforma atinente ao regime geral da Previdência Social. A Emenda Constitucional nº 20/98 trouxe, em si mesma, inovações e alterações substanciais e ensejou outras significativas mudanças na legislação infraconstitucional, através de diversas leis editadas subseqüentemente. Ao que consta, a Reforma visou a alcançar principalmente os seguintes objetivos: a) a ampliação do financiamento – equiparado ao empregador toda empresa ou entidade, estendeu a incidência das respectivas contribuições sociais aos rendimentos do trabalho, pagos ou creditados a qualquer título, à pessoa física que lhes prestar serviço, mesmo sem vínculo empregatício. Possibilitou a adoção de base de cálculos e de alíquotas diferenciadamente, em razão da atividade econômica ou da utilização intensiva de mão-de- obra. Estabeleceu que a contribuição social das empresas e equiparados, incida também sobre a receita (além do faturamento e do lucro, já previstos); b) a uniformização dos critérios utilizáveis para a concessão dos benefícios de natureza previdenciária – vedou a adoção de critérios e requisitos diferenciados para fins de concessão de aposentadoria, ressalvando casos como os das atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física (a serem definidos em lei complementar), e os de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio; c) a ―desconstitucionalização‖ de várias normas relativas aos benefícios – retirou preceitos que figuravam no texto constitucional, remetendo a disciplina da matéria para leis complementares ou para leis ordinárias, conforme o caso. Dentre elas, por exemplo, havia a previsão do cálculo da aposentadoria (na redação original do art. 202 da CF) sobre a média dos trinta e seis últimos salários de contribuição, corrigidos monetariamente mês a mês; d) a substituição da aposentadoria por tempo de serviço pela aposentadoria por tempo de contribuição, extinguindo-se também a aposentadoria proporcional – atingiu de plano os segurados que viessem a ingressar no regime a partir de 16/12/1998. Deverá ser extinto, mediante lei complementar, o denominado tempo ficto de serviço (na hipótese da contagem do período durante o qual o segurado recebeu auxílio-doença, ou prestou serviço militar obrigatório, por exemplo); e) a cobertura concorrente do risco de acidente do trabalho, pelo regime geral de previdência social e pelo setor privado – o INSS destina o monopólio do seguro contra acidentes do trabalho, quebrado pela Emenda Constitucional nº 20/98 (a matéria deverá ser disciplinada por lei ordinária, ainda não editada); f) a vedação ao recebimento cumulativo de benefícios – respeitados os direitos adquiridos, não se admite a percepção de mais de uma aposentadoria, por exemplo; 17 g) a reestruturação da previdência complementar– de acordo com a Comissão Especial destinada a apreciar a proposta de emenda à Constituição nº 33-A, de 1995, um dos objetivos da reforma seria a reestruturação da previdência complementar, ―baseando-se em imposição de limites de participação dos entes públicos em seu custeio e na readequação dos planos de benefícios à capacidade de financiamento dos fundos que a administram‖ (relatório do Deputado Euler Ribeiro); h) a vedação à concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, a e II do art. 195 da Constituição federal para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar. METAS As metas devem ser consideradas consoante o tempo previsto para a implantação da Reforma e, também, os objetivos finais a serem atingidos. Quanto ao tempo, há alterações imediatas (diversos preceitos, por serem auto-aplicáveis, valem desde a publicação da Emenda Constitucional nº 20, em 16/12/1998 e, atualmente, pela EC nº 41/2003) e alterações mediatas (dependem da edição de leis complementares ou de leis ordinárias, conforme o caso). Existem, por outro lado, regras de caráter permanente e, outras de caráter transitório (fixando-se um período de tempo para a passagem de uma situação para outra. Por exemplo, a extinção gradual da escala dos salários-base; o cômputo dos salários de contribuição do segurado, para se apurar o valor do salário-de-benefício, desde a competência julho de 1994 até a data em que se requerer o benefício, de tal sorte que se terá, a longo prazo, o cálculo dos benefícios tomando-se por base o valor das contribuições dos segurados durante toda a sua vida; Quanto aos objetivos últimos, caminha-se para a unificação dos regimes previdenciários existentes, dos servidores públicos (federais, estaduais e municipais) e dos trabalhadores em geral – excetuando-se os militares. MUDANÇAS O ex-Secretário da Previdência Social do MPS, Marcelo Estevão de Moraes, escreveu artigo estampado na Revista da Previdência Social, que nos parece bastante esclarecedor a respeito das mudanças advindas da Reforma, comportando reprodução no seguinte trecho: ―Relativamente à Previdência Social, alguns pontos da Emenda merecem destaque: Veda a utilização (art. 167, XI) dos recursos provenientes das contribuições previdenciárias para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social; Conceitua de modo mais claro a base de incidência da contribuição previdenciária (195, I, a); Redefine o caput do art. 201, introduzindo os conceitos de organização em regime geral, filiação obrigatória e preservação do equilíbrio financeiro e atuarial; Introduz o pagamento seletivo do salário-família e do auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda (201, IV); Muda o conceito de tempo de serviço para o de contribuição, para fins de aposentadoria dos trabalhadores vinculados ao regime geral e dos servidores; Redefine o regime de previdência privada (art. 202), de caráter complementar, voluntário e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, extensivo aos trabalhadores dos setores público e privado; Estabelece como limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de previdência social R$ 2.400,00, devendo, a partir da data de publicação da Emenda Constitucional nº 41, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor 18 real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social; A Emenda Constitucional nº 41/2003, dispõe sobre sistema especial de inclusão previdenciária para trabalhadores de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário-mínimo, exceto aposentadoria por tempo de contribuição. A Emenda Constitucional nº 20/98, em razão das alterações promovidas, estabeleceu a especialização de fontes. No caso do regime geral de previdência social (art. 201), ao seu financiamento foram vinculadas as contribuições sobre a folha (art. 195, I, a, II), mediante criação de fundo específico. Posteriormente, em razão da desconstitucionalização da forma de cálculo do benefício, a aprovação da lei nº 9.876/99 ampliou o período de contribuição a ser computado e introduziu o fator previdenciário, estabelecendo uma correlação entre o valor do benefício, a aporte contributivo e a expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria. Acrescente-se, ainda, que a previdência privada, de caráter complementar, prevista no art. 202, foi regulada mediante a aprovação das Leis Complementares nºs. 108/2001 e 109/2001. Quanto à previdência complementar do servidor público foi promulgada a Emenda Constitucional nº 41/2003 que trata da reforma previdenciária para os servidores públicos. DA SEGURIDADE SOCIAL Expressões sinônimas: Segurança Social, Bem-Estar Social, Proteção Social. Para a OIT, a Seguridade Social consiste na ―proteção que a sociedade proporciona a seus membros mediante uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais que de outra forma derivariam no desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência como conseqüência de enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional, desemprego, invalidez, velhice e morte e também a proteção em forma de assistência médica e de ajuda às famílias com filhos‖ (Convenção nº 102, de 1952). Na opinião de DUPEYROUX, mostra-se impossível conceituar a Seguridade Social; ela varia de acordo com a política de cada nação, ditada por fatores econômicos, sociais, etc. No Brasil, compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar os direitos relativos à Saúde, à Previdência Social e à Assistência Social (Constituição Federal, art. 194; Lei nº 8.212/91, art. 1º). PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS A Lei Maior, em seu art. 194, parágrafo único, estatui que compete ao Poder público organizar a Segurança Social com base nos seguintes princípios: I – universalidade da cobertura e do atendimento A universalidade da cobertura significa a sua extensão a todos os eventos sociais, vale referir, a todos os fatos e situações que geram as necessidades básicas das pessoas (universalidade objetiva). A universalidade do atendimento consiste na abrangência de todas as pessoas, indistintamente (universalidade subjetiva). II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais A uniformidade das prestações implica a concessão dos mesmos benefícios e serviços a todas as pessoas, nos âmbitos urbano e rural. 19 A equivalência das prestações obriga à concessão de benefícios de igual valor econômico e de serviços da mesma qualidade (Marly Cardone). III – seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços A seletividade compreende o atendimento distintivo e prioritário dos mais carentes, segundo a lição de Rui Barbosa, no sentido de que a verdadeira igualdade está na desigualdade das desigualdades: cumpre tratar desigualmente os desiguais. Por exemplo: o salário-família, concedido apenas em favor dos beneficiários de baixa renda. A distributividade tem por objetivo a redistribuição de renda. Há a redistribuição entre regiões ou entre gerações; nesta, os trabalhadores válidos contribuem para a manutenção dos que ainda não trabalham (menores) e dos que já não trabalham (aposentados). E há redistribuição, ainda, entre classes sociais: os de maior renda contribuem em favor dos que não dispõem de recursos suficientes para enfrentarem as situações de necessidade vital (Feijó Coimbra). IV – irredutibilidade do valor dos benefícios As prestações, por sua natureza, constituem dívidas de valor. Não podem sofrer desvalorização; precisam manter seu valor de compra,acompanhando a inflação. V – eqüidade na forma de participação no custeio Quem ganha mais deve suportar ônus maior, para que ocorra a justa participação no custeio da Seguridade Social. Assim, a contribuição dos empregadores recai sobre o faturamento e o lucro, além da folha de pagamento. Quanto aos empregados, a alíquota varia de acordo com o valor da remuneração. VI – diversidade da base de financiamento O custeio provém de toda a sociedade, de forma direta e indireta. A Seguridade Social deve buscar recursos em fontes diversas, como: Orçamentos públicos. Contribuições dos empregadores, das empresas e entidades a elas equiparadas, incidindo sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhes prestar serviços, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro Contribuições de trabalhadores e demais segurados da previdência social. Obs.: A lei maior proíbe, expressamente, a incidência de contribuição sobre determinados benefícios, concedidos de acordo com o regime geral de previdência social de que trata o art. 201: aposentadorias e pensões. Receita de concursos de prognósticos. VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo, nos órgãos colegiados. Cabe à sociedade civil participar da administração da Seguridade Social, através de representantes indicados pelos empregadores, pelos trabalhadores e pelos aposentados 20 (caráter democrático). Objetiva-se, também, enfatizar a atuação administrativa baseada nas prioridades e necessidades regionais e locais (caráter descentralizado). O art. 195, em seus parágrafos, acrescenta outros princípios, a saber: VIII – a vinculação das receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, destinadas à Seguridade Social, aos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União (§ 1º). IX – a elaboração da proposta orçamentária da Seguridade Social integrada pelos órgãos responsáveis pela Saúde, previdência Social e Assistência Social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias (§ 2º). Convém registrar que a lei orçamentária anual compreenderá o orçamento da Seguridade Social, abrangendo todas as entidades a ela vinculadas, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo poder público, (Constituição federal, art. 165, § 5º, III); X – a gestão própria de seus recursos pela Previdência Social, pela saúde e pela Assistência Social (§ 2º, parte final); XI – a vedação à pessoa jurídica em débito com o sistema da Seguridade Social, conforme a lei estabelecer, de contratar com o Poder público, ou dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios (§ 3º); XII – a instituição, através de lei complementar, de outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou a expansão da Seguridade Social, desde que sejam não-cumulativas e tenham fato gerador inédito e base de cálculo inédita (§ 4º); XIII – a precedência do custeio em relação aos benefícios e serviços (nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total - § 5º); XIV – a exigibilidade das contribuições sociais no mesmo exercício em que instituídas, respeitada a vacatio legis de 90dias (§ 6º); XV – a imunidade assegurada às entidades beneficentes de assistência social que atenderem às exigências da legislação (§ 7º); XVI – o tratamento específico ao produtor rural, parceiro agrícola, meeiro, arrendatário rural e pescador artesanal bem como aos respectivos cônjuges que exercerem suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes. De acordo com a lei maior, esses segurados devem contribuir para a Seguridade Social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da sua produção, fazendo jus aos benefícios legais. XVII – a possibilidade de diferenciação de alíquotas ou bases de cálculo, nas contribuições sociais a cargo de empregadores, empresas ou entidades a elas equiparadas, em razão da atividade econômica ou da utilização intensiva de mão-de- obra (§ 9º). 21 XVIII – definição, por lei própria, dos critérios de transferência de recursos para o SUS e a Assistência Social da união para os Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos (§ 10). XIX – Vedação à remissão ou anistia das contribuições sociais, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar, a cargo de: a) empregador, empresa ou entidade a ela equiparada, incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho, pagos ou creditados a qualquer título, às pessoas físicas que lhes prestarem serviços, mesmo sem vínculo empregatício; b) trabalhador e demais segurados da Previdência Social (§ 11). Vale observar que a Lei maior veda a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, ―a‖ e ―II‖, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201. ORGANIZAÇÃO DA SEGURIDADE SOCIAL As ações nas áreas da Saúde, da Previdência Social e da Assistência Social serão organizadas em Sistema Nacional de Seguridade Social, conforme dispuser a legislação. Os arts. 6º e 7º da Lei nº 8.212/91 – que tratavam da instituição, da composição, das atribuições e do funcionamento do Conselho Nacional de Seguridade Social – foram revogados pela Medida Provisória nº 1.799/99 e, depois, pela Medida Provisória nº 1.999-16, de 10/03/2000, e suas reedições, e, finalmente, pela Medida Provisória nº 2.216-37, de 31/08/2001. A estrutura do MPS constante da Lei 10.683, de 28/05/2003, alterada pela Lei nº 10.869, de 13/05/2004, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, não prevê a existência do CNSS. Não há mais, portanto, o Conselho Nacional de Seguridade Social. Na forma da Lei nº 8.212/91, as propostas orçamentárias anuais ou plurianuais da Seguridade Social serão elaboradas por comissão integrada por 3 (três) representantes: um da área da Saúde, um da Previdência Social e um da Assistência Social (art.8º). Na realidade, a organização e o funcionamento de cada área obedecem a leis próprias, específicas para a Saúde, como para a Previdência Social, e também para a Assistência Social, respectivamente. SAÚDE A Saúde constitui ―direito de todos e dever do estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação‖ (CF art. 196). A Carta Máxima estabelece o Sistema Único de Saúde (SUS), baseado em três diretrizes: descentralização, atendimento integral, e participação da comunidade (art. 198). O financiamento do SUS dar-se-á com recursos do orçamento da Seguridade Social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (art. 198, § 1º). Compete ao Sistema Único de Saúde (art. 200, CF): 1. Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; 22 2. Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; 3. Ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde; 4. Participar da formulação política e da execução das ações de saneamento básico; 5. Incrementar em
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